Domingo, Maio 5, 2024

Livro: “Como defender a fé sem levantar a voz”, de Austen Ivereigh

Existem ocasiões em que você se vê sob os holofotes simplesmente por ser católico. Elas surgem do nada, nos mais diferentes lugares: no trabalho, nos jantares de família, na faculdade, etc. As pessoas olham para você e começam “Você que é católico…”, para em seguida disparar: “Como a Igreja Católica pode ser contrária ao divórcio nos dias de hoje?” ou “O que o papa quis dizer com aquilo?”.

Às vezes, você até consegue explicar mais ou menos o que a Igreja pensa, mas sem convencer muito. Outras vezes, você perde a cabeça, e os resultados são catastróficos…

Este livro propõe um novo tipo de apologética, pensado exatamente para essas situações que existem respostas prontas. Mais do que réplicas para toda e qualquer pergunta “polêmica”, você encontrará aqui conselhos práticos para estabelecer um verdadeiro diálogo com as pessoas. A ideia é reafirmar as posições da Igreja, mas sem deixar de compreender os argumentos contrários, o seu contexto e até os seus eventuais aspectos positivos. Trata-se de remover obstáculos e “preparar o terreno” para que as pessoas possam abrir seus corações e suas mentes à verdade. Trata-se de ganhar amigos, não discussões.

Considerando o que foi dito anteriormente, nós do site Apologistas Católicos, com a devida autorização da Editora Quadrante, resolvemos publicar a introdução do livro “Como defender a fé sem levantar a voz – respostas educadas para questões polêmicas sobre a Igreja Católica”, em vista de apontar fontes bibliográficas nas quais nossos leitores possam adquirir uma sólida formação católica no que diz respeito a questões candentes e contemporâneas com as quais nos deparamos quotidianamente.

A INTRODUÇÃO

Sabemos bem como é: subitamente, você se vê “nomeado” porta-voz da Igreja Católica enquanto espera a sua vez na filado xérox, toma tranquilamente uma bebida no bar, ou quando um grupo de pessoas para de repente e fixa os olhos em você:

– Você é católico, certo? – alguém pergunta.

– Hum… Sou – você confessa, olhando nervosamente para o que agora mais se assemelha a uma turba pronta para o linchamento.

Um deles diz que o Papa fez um pronunciamento simplesmente ultrajante; outro levanta a questão da AIDS e dos preservativos; talvez um terceiro puxe o assunto do casamento gay. E lá está você, convocado a defender a Igreja Católica em virtude do seu batismo, sentindo-se tão preparado para a tarefa quanto Daniel na toca dos leões.

– Vamos! – parecem dizer-lhe, sem pôr as coisas nesses termos. – Justifique o que a Igreja ensina!

Juntando alguns pensamentos a esmo, você se sai com uma defesa corajosa, que as pessoas recebem compreensivelmente. Você contextualiza, chama a atenção para x e y, faz algumas observações de que eles nunca se deram conta, traz um pouco mais de perspectiva para a questão. A turba se desfaz; todos sorriem. Não se mostram persuadidos, mas não desejam criar uma situação desconfortável.

Ou não aconteceu nada disso? Talvez você tenha ficado um tanto agitado e dito um monte de coisas que soaram pouquíssimo convincentes – até mesmo para você. Provavelmente, irritou-se ao observar uma vez mais que a Igreja é constantemente forçada a defender-se em processos inquisitoriais instaurados por humanistas laicos; que é acusada de conspirações malucas por gente que leu Dan Brown demais. O certo é que você ficou com muita raiva e saiu dos eixos. O sentimento de perseguição levou a melhor e, ao final da sua furiosa defesa, o abismo entre você e o restante das pessoas se alargou de maneira intransponível – e alguém, rápida e nervosamente, mudou de assunto.

Em qualquer caso, eis o que não aconteceu: você não conseguiu “reenquadrar” a questão. As pessoas mantiveram a mesma visão da Igreja que já tinham antes de você ter tomado a palavra: uma instituição dogmática, autoritária, antidemocrática, hipócrita, inumana. Você não “virou o jogo”, não reformulou a questão, não abriu as mentes e os corações, mas ficou preso nas malhas lançadas pelo oponente.

Como dizíamos no princípio, nós compreendemos. Não é fácil defender a Igreja. As questões tendem a ser complexas, ao passo que as manchetes são de uma simplicidade grotesca. Além disso, às vezes é difícil saber exatamente qual é o pensamento da Igreja acerca de determinado assunto. Pode ser que você tenha ouvido um bispo ou teólogo responder no rádio precisamente a essa questão; ou que tenha lido alguma coisa a esse respeito. Mas o mais provável é que não tenha tido tempo para estudar a fundo as questões que parecem brotar a todo o instante nas conversas. Você é inteligente e um católico esforçado; mas também é uma pessoa muito ocupada.

O que você gostaria era de ter um conselheiro. Alguém que pudesse convocar para uma rápida prévia, que pudesse oferecer-lhe (a) um pouco de contexto; (b) um panorama das principais questões em debate; (c) algumas sugestões sobre como reformular a questão; e (d) alguns pontos para abordar da próxima vez em que o tema surgir.

Bem, aqui estamos. Não um conselheiro propriamente dito, mas a segunda melhor opção: um livro cheio desses conselhos. Conselhos práticos.

Nas páginas que se seguem, você encontrará o resultado dos esforços de um grupo de católicos reunidos para preparar-se precisamente para esse tipo de situações de alta pressão, em que se exigem explicações “a jato” e definições simples: não apenas para aquela conversa informal na pausa para o café, mas também para curtas entrevistas ao vivo na TV. A experiência dessas pessoas, condensada aqui, vai ajudá-lo a “reenquadrar” as questões candentes que vêm à tona com frequência nos noticiários e provocam discussões acaloradas.

Dizemos que essas questões são “nevrálgicas”, porque tocam terminações nervosas, aqueles lugares do corpo que, quando pressionados, fazem as pessoas gritar. Nas nossas conversas diárias, há temas que se situam em zonas fronteiriças, onde o pensamento em voga habita (ou ao menos parece habitar) num universo diferente daquele dos católicos. Mencione-os, e as pessoas ficarão visivelmente incomodadas. “Como você pode acreditar numa coisa dessas?”, perguntarão.

Por outro lado, este livro não lhe mostrará o que dizer em resposta a toda e qualquer pergunta. Cada diálogo é diferente. Ele também não poderá ajuda-lo a prever o que aparecerá na TV cada dia; nem mesmo os repórteres e redatores de jornais conseguem prevê-lo. Mas há uma grande probabilidade de que você se veja, dentro em breve, envolvido numa discussão em torno de assuntos relacionados com a Igreja que aparecem no noticiário. São questões que, na sua maioria, tocam algum ponto nevrálgico. De fato, é isso que costuma fazer de um acontecimento uma notícia. Foi o que se passou, por exemplo, com algumas observações que o Papa Bento XVI fez de improviso em setembro de 2009 a propósito da posição da Igreja sobre o tema dos preservativos e da AIDS: a imprensa achou-as completamente absurdas e fez delas uma manchete de repercussão internacional. A repercussão foi tão vasta não tanto pelas observações em si, mas por causa do ponto nevrálgico que tocavam.

Portanto, embora não possamos prever cada reportagem, podemos ter uma boa ideia desses pontos nevrálgicos. Este livro vai ensiná-lo a identificar os dez mais comuns (e difíceis), a entender de onde vem a crítica e a pensar no modo de expor a posição da Igreja sem aceitar os pressupostos dos críticos. Ao final de cada capítulo, mencionaremos uma série de “pontos-chave” que resumirão essa posição e servirão de ajuda, esperamos, da próxima vez em que você se deparar com um desafio neste terreno.

Há alguma coisa mais. É melhor explicarmos o método e a abordagem utilizados aqui, de onde vêm e quais são as nossas expectativas.

Este livro é fruto de um projeto chamado Catholic Voices (“Vozes Católicas”, em inglês), criado com vistas à visita do Papa Bento XVI ao Reino Unido em setembro de 2010, e que inspirou grupos similares na Espanha, Irlanda, México e outros países. Formou-se uma equipe de palestrantes amadores, composta por católicos “comuns” (em outras palavras, católicos com emprego, filhos e contas a pagar), dispostos a explicar as posições e ensinamentos da Igreja no rádio e na TV antes – e durante – a visita papal. Apresentamo-nos à mídia como pessoas “prontas a interagir com os meios de comunicação, que se sentem à vontade nos estúdios e sem grande preocupação com a própria imagem”, o que quer dizer: abertos a questionamentos e compreensivos em relação aos objetivos da mídia e à sua razão de ser; habituados às exigências de entrevistas ao vivo de, em média, três minutos e às limitações e possibilidades do rádio e da TV; resignados quando o ciclo de notícias muda de direção e ninguém mais quer saber de nós. Fomos descritos como “peritos extraoficiais”: procurávamos informar-nos a fundo dos ensinamentos consolidados da Igreja e tornar-nos bem articulados, confiáveis e dotados de capacidade de comunicação. Mas, apesar de termos a bênção dos bispos, não falávamos por eles. Se alguém desejasse saber como os bispos reagiriam a tais e quais notícias do dia, tinha de entrar em contacto com os seus porta-vozes. Porém, se desejava saber em que a Igreja cria e o que ensinava, podia chamar-nos.

O projeto foi um sucesso. Os membros do Catholic Voices participaram de dezenas de debates e programas de notícias, apareceram nos principais canais de TV britânicos e foram elogiados tanto pelos bispos como pelas emissoras.

Talvez o fruto mais importante do Catholic Voices tenha sido o “método” que desenvolvemos ao longo da preparação intensiva que levamos a cabo nos meses que antecederam à chegada do Papa, um método que cremos funcionar para qualquer pessoa que tenha que sair em defesa do pensamento da Igreja – não apenas em breves entrevistas televisivas, mas também em conversas sápidas num bar ou numa discussão inesperada, provocada por um artigo no jornal. Afinal, as duas situações não são tão diferentes. Se você não conseguir posicionar-se de maneira sucinta e convincente (e soar como um ser humano racional), já terá perdido o interesse e a empatia das pessoas. Pode não ser um desastre, mas com certeza é uma oportunidade perdida.

O que descobrimos foi uma nova forma de pensar que nos mostrou como evitar a posição defensiva ou agressiva, e nos habilitou a “reenquadrar” a crítica. Resumimos essa abordagem numa série de princípios que talvez venham a ser um meio de fazer reviver a antiga arte da apologética na nossa era: uma era de notícias 24 horas. Esses princípios aparecem listados no último capítulo, para que você possa consulta-los sempre que estiver prestes a entrar num ambiente em que será desafiado.

No coração desta abordagem está o que chamamos “intenção positiva”. Por trás de toda crítica à Igreja, mesmo que se mostre hostil e preconceituosa, há um valor ético; o crítico faz, consciente ou inconscientemente, um apelo a esse valor. Na verdade, certas questões tornam-se nevrálgicas justamente por darem a impressão de que um desses valores fulcrais está sob ameaça. De maneira muitas vezes surpreendente, percebe-se que o valor em que se escora a crítica em questão é um escrúpulo válido, e até mesmo cristão – ou ao menos derivado de um valor cristão.

Não se trata de um fenômeno inesperado, visto que vivemos em culturas cristãs – ou, como alguns dizem, “pós-cristãs”. O que a palavra “secularização” realmente quer dizer é que as pessoas abandonam a Igreja, mas continuam, inconscientemente, a aderir aos seus valores, e até recorrem a eles, mais uma vez inconscientemente, quando criticam a Igreja. É bem mais fácil persuadir o oponente se você puder lançar mão dos mesmos valores em que ele se apoia, ou mostrar que concorda com eles. Ao mesmo tempo, você se colocará numa posição menos defensiva. A empatia é o início do diálogo. “Diálogo” não significa acomodar ou abandonar os valores próprios, mas sim construir relações de confiança entre pessoas de convicções diversas. Este livro ensina a arte dessa espécie de diálogo, cujo objetivo não é defender uma posição, mas explica-la e capacitar os outros a entende-la.

Atentando para a intenção positiva por trás da crítica, fomos capazes de nos desvencilhar daquela forma de pensar que dizia “Como posso justificar isto?” e, em vez disso, perguntar: “Qual é a verdadeira fonte de discordância aqui?”. Por exemplo: o desejo pela legalização do suicídio assistido baseia-se na intenção positiva de que o ser humano deve ser poupado de um sofrimento desnecessário. Ora, nós católicos concordamos em que, muito embora o sofrimento esteja inevitavelmente vinculado ao envelhecimento e à morte, ninguém deveria ter de resignar-se a uma dor ou solidão insuportável, razão por que tantas casas de repouso especializadas em cuidado paliativo foram fundadas e são administradas por católicos. Pois bem, uma vez que estejamos de acordo nesse ponto, podemos analisar os casos em que discordamos: o significado da morte, a questão da autonomia, etc. – e, só então, considerar a questão prática acerca do impacto que uma lei de suicídio assistido teria na saúde pública, na visão que se tem dos idosos, e assim por diante. Dessa forma, a discussão será mais racional e proveitosa, pois não estaremos discutindo com seres de outro planeta, mas com pessoas que fazem parte da mesma cultura de valores que nós.

Por isso, no início de cada capítulo, você encontrará uma pequena secção que exporá a intenção positiva por trás da crítica e a perceber que temos um trabalho de esclarecimento a fazer. Você descobrirá como deixar de sentir-se intimidado por ele ou ela e, em lugar disso, pensar: “Como posso exprimir com sucesso o que pretendo?”

No início de cada capítulo, você encontrará também uma lista de “perguntas desafiadoras”. Como já dissemos, ninguém consegue prever com exatidão que perguntas serão feitas a respeito de um determinado ponto nevrálgico. As notícias sempre variam, as, como os pontos nevrálgicos permanecem os mesmos, os questionamentos serão consideravelmente previsíveis. Os integrantes do Catholic Voices ficaram surpresos ao constatar que as perguntas que lhes eram feitas em entrevistas eram quase sempre variações daquelas que eles já se haviam preparado para enfrentar – isso porque a intenção positiva por trás da crítica gera uma série natural de perguntas. Mas não pense que as nossas listas de perguntas desafiadoras serão exaustivas; com certeza você se lembrará de algumas que não levamos em conta aqui.

Depois de termos exposto alguma coisa sobre a nossa abordagem, gostaríamos agora de falar um pouco sobre a ideia de “escândalo”, e de estender um convite feito pelo Papa Bento XVI.

A fé católica “escandaliza”. Provoca reações fortes e suscita questionamentos difíceis. Agradecemos a Deus por isso, pois é o que o Evangelho propõe Bem-aventurado aquele que não se escandalizar em mim, diz Jesus, referindo-se àqueles que não se afastam dEle com repulsa ou incompreensão (Mt 11,6).Aliás, é o próprio Jesus quem lança as pedras de tropeço – os skândala, como se chamam em grego. Um skândalon é um obstáculo que uma pessoa encontra no caminho e que a faz parar e refletir, mostrando-lhe que a sua forma de pensar está ameaçada. Isso pode constituir o início de um caminho novo, que leve potencialmente a uma nova visão a respeito de alguma coisa. Ou pode levar ao “afastamento” escandalizado a que Jesus se refere.

Esse afastamento, essa rejeição furiosa, é inimigo da verdadeira comunicação. Porém, até se chegar a esse ponto, em que a pessoa se sente escandalizada e compelida a fazer novas perguntas – ainda que sejam perguntas em forma de acusações –, a verdade é que o interlocutor ainda não se afastou; ainda está aberto a escutar o outro ponto de vista. Portanto, toda a pergunta difícil feita durante uma entrevista, toda discussão acalorada num bar, toda a situação “pesada” em reuniões familiares é uma oportunidade. Chamamos a isso evangelização? Parece-nos antes que é “varrer os obstáculos que impedem a evangelização”. Trata-se de esclarecer mal-entendidos, de lançar um feixe de luz onde grassam o mito e a confusão, e de adotar uma prática que poderá levar as pessoas a reconsiderar as suas objeções ao que a Igreja ensina. Não importa o nome que se queira dar a essa tarefa “apologética”, “comunicação”: é um testemunho, e um testemunho vital.

No jargão da mídia, é “começar pelo começo”, quer dizer, é moldar a notícia já no instante em que ela surge. Alguns chamam a isso spin-doctoring, um termo que data da década de 1980 e que caiu em descrédito por parecer a aludir a técnicas escusas de manipulação dos meios de comunicação. É por isso que preferimos o termo “reenquadrar”.

O “reenquadramento” conta uma história diferente da que circula por aí. Não é um procedimento escuso ou manipulador, se o que você faz é contar a verdade: com efeito, o reenquadramento só funciona se o que você diz for verdade. “As ideias falsas, podem, sem dúvida, ser refutadas pela argumentação – disse o Beato John Henry Newman, nosso maior modelo para este projeto –, mas somente as ideias verdadeiras podem repeli-las”.

Trata-se de um testemunho, e também de uma vocação. Fica aqui o convite. Esperamos que este livro venha a ajudar católicos “comuns” – e, provavelmente, isso quer dizer você – a ver-se como comunicadores. Há indivíduos (mais uma vez, talvez este seja o seu caso) que têm um dom natural para isso. São o tipo de pessoas que adoram destrinçar um determinado assunto, ou então que gostam de elucidar temas e construir pontes. Há muitos tipos de comunicadores católicos: alguns deleitam-se em explorar conceitos, outros lançam mão da sua própria experiência; alguns são oradores apaixonados, outros são calmos, introspectivos e gentis. Mas todos são motivados por um desejo de comunicar a sua fé de maneira humana e bem articulada – e se mostram um pouco impacientes por sair pelo mundo corrigindo alguns erros de percepção mais frustrantes que escutam todos os dias a respeito da Igreja que tanto amam.

Ninguém está excluído desta vocação, mas ela é preeminente uma missão de leigos, como disse o Papa Bento na sua homilia em Glasgow, após chegar à Escócia:

Faço um apelo especial a vocês, fiéis leigos, bem de acordo com a sua vocação e missão batismais: que vocês não se limitem a ser publicamente exemplos de fé, mas também trabalhem para a promoção da sabedoria e visão da fé no debate público”.

Num discurso de janeiro de 2012 aos bispos dos Estados Unidos, o Papa Bento repetiu a mesma exortação. Alertando para a pressão de um novo e radical laicismo e para as ameaças à liberdade religiosa, pediu que os católicos se prontificassem a enfrentar tais desafios:

Aqui vemos novamente a necessidade de que se forme um laicato católico comprometido, articulado e bem organizado, dotado de um forte senso crítico ante a cultura dominante e de coragem para opor-se a um secularismo reducionista que pretende deslegitimar a participação da Igreja no debate público sobre questões que determinarão o futuro da sociedade americana. O trabalho de preparar líderes leigos com sentido de compromisso e de oferecer uma articulação convincente da visão cristã acerca do homem e da sociedade continuam a ser uma tarefa prioritária para a Igreja no seu país”.

É uma tarefa mais ampla do que “defender a Igreja”. Em resposta ao discurso do Papa, o arcebispo José Gomez, de Los Angeles, disse:

Agora é a hora de uma ação católica e de vozes católicas. Precisamos de líderes leigos que não se esquivem à sua responsabilidade para com a missão da Igreja, que não somente se prestem a defender a nossa fé e os nossos direitos de católicos, mas também sejam líderes de uma renovação moral e cívica – líderes que ajudem a moldar os valores e as bases morais para o futuro da América”.

É a tarefa de aprender a articular o que é um tesouro para a sociedade como um todo: o princípio da liberdade religiosa, da qual emanam todas as outras liberdades; um pluralismo autêntico que possibilite a existência de uma sociedade civil vigorosa, fundada em famílias fortes e em casamentos compromissados, e constituam as pedras fundamentais com que se constrói “uma sociedade verdadeiramente justa, humana e próspera”, nas palavras do Papa Bento. Isso significa, diz ainda o pontífice, “propor argumentos racionais em praça pública”, aplicando as diretrizes das grandes encíclicas sociais, salientando as privações por que passam os pobres e marginalizados, exortando à virtude na vida pública e nas instituições, e contribuindo para uma melhor definição da relação entre o Estado, o mercado e a sociedade civil. Trata-se de trazer à luz uma visão de sociedade que defenda a vida, por mais frágil ou imperceptível que possa ser, e a dignidade de todo ser humano – e de ajudar a construir uma civilização de amor.

Daí a necessidade de contar com católicos que, para usarmos as palavras do Bem-aventurado Cardeal Newman, “conheçam o seu credo tão bem que possam explica-lo”. A opinião pública é, em grande medida, moldada pela mídia. É esta que está na boca da gente, e é nessa feira de ideias que os católicos têm de aprender a sentir-se em casa, falando de forma sucinta e atraente sobre a visão que a Igreja tem dos problemas em debate. Mas a praça pública também é o lugar onde você está, onde você topa comas outras pessoas e interage com elas nas muitas esquinas da sociedade contemporânea.

Os romancistas falam com frequência do momento em que cada personagem encontra a sua própria voz, daquele momento em que a figura que vinham criando e desenvolvendo ganha vida e começa a falar com coerência. Isso é algo que a Igreja precisa fazer sempre, a cada geração: encontrar a sua v

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