INTRODUÇÃO
Primeiro, começaremos com a frase, tão frequentemente usada por católicos: “Roma locuta est, Causa finita est”, traduzido: “Roma falou, a causa está encerrada.”. Esta frase é usada a séculos, e conhecida por muitos católicos e não católicos. Porém mais recentemente como uma descoberta a um tesouro, alguns protestantes estão bradando aos montes como seres “iluminados” afirmando que “Agostinho não disse isso”, e que isso “é falsificação católica”. Eu já citei essa frase em latim várias vezes, e de repente encontro protestantes protelando, afirmando que isso não é verdade. É realmente uma falsificação?
A VERDADE
De fato Santo Agostinho não “usou essas palavras”, pelo menos não todas elas, mas o seu discurso em si realmente quer diz isto. A frase que vem do Sermão 131,10 de Santo Agostinho, no latim é:
“jam enim de hac causa duo concilia missa sunt ad sedem apostolicam; inde etiam rescripta venerunt; causa finita est”
Traduzido, lê-se:
“. . . pois sobre este assunto dois concílios já foram enviados à Sé Apostólica, de onde também rescritos [relatórios] chegaram. A causa está encerrada.”
O QUE SANTO AGOSTINHO REALMENTE DISSE?
Santo Agostinho estava dizendo que as atas de dois Concílios (dos bispos africanos) tinham sido enviadas para Roma (a Sé Apostólica) e Roma respondeu enviando relatórios (rescritos – em outras palavras, “falou”), e sobre isso a causa estava encerrada. Ou seja depois que Roma enviou a resposta a causa se deu por encerrada, pois ali estava a autoridade final. Isto é uma PARAFRÄSE, que já foi explicada pelo falecido Dom Estevão Bitencourt antes mesmo de iluminados protestantes acharem que os católicos estão falsificando algo.
“sedem apostolicam” (Sé Apostólica) = Roma
“inde etiam rescripta venerunt” (Enviou rescritos) = Locuta est (falou)
“causa finita est” = causa finita est (a causa está encerrada)
Assim, mesmo que Santo Agostinho não tenha usado todas “essas palavras”, ele realmente quis dizer isto. Os católicos que desejam usar a paráfrase de “roma locuta est, Causa finita est”, podem usar normalmente, mas devem, então, estar cientes de que é uma paráfrase para não ser pego de surpresa, por alegações protestantes.
RENOMADOS HISTORIADORES PROTESTANTES ADMITEM A FRASE
Sendo essa frase um resumo preciso, embora não uma citação direta das palavras de Santo Agostinho, é totalmente admitida nas notas da edição Padres da Igreja feitas por um dos mais conhecidos historiadores protestantes, Philip Schaff:
“Daí a famosa palavra: ‘Roma locuta est, Causa finita est’, o que é frequentemente citado como um argumento para o moderno dogma do Vaticano da infalibilidade papal. Mas ela não é encontrada desta forma, embora possamos admitir que é uma condensação epigramática das sentenças de Agostinho. A abordagem mais próxima a isso esta em seu Sermão CXXXI [131] ….”(NPNF Série 1, Volume 1, página 21, nota 64)
Outro protestante renomado é J.N.D. Kelly, que é dos maiores estudiosos patrísticos do século XX, e anglicano, escreve em seu clássico trabalho “Doutrina Cristã” (Harper San Francisco, 1978):
“Segundo ele [Santo Agostinho], a Igreja é o reino de Cristo, o Seu corpo místico e sua noiva, a mãe dos cristãos [Ep 34, 3; SERM 22, 09] Não há salvação fora dela; Cismáticos podem ter a fé e os sacramentos… mas não podem ter um uso benéfico, pois o Espírito Santo só é concedido na Igreja [de bapt 4, 24; 7:87; anúncio Serm Caes 6]… Isto vai sem dizer que Agostinho identifica a Igreja com a Igreja Católica universal de seu tempo, com sua hierarquia e os sacramentos, e com seu centro em Roma… Por meio do século V a Igreja Romana tinha estabelecido, de jure, bem como de facto, uma posição de primazia no Ocidente, e as reivindicações papais a supremacia sobre todos os bispos da cristandade havia sido formulada em termos precisos …. o estudante traçando a história dos tempos, particularmente dos donatistas, Arianos, pelagianos e as controvérsias cristológicas, não pode deixar de ficar impressionado com a habilidade e persistência com que a Santa Sé [de Roma] ia continuamente avançando e consolidando as suas reivindicações. Desde que seu ocupante foi aceito como o sucessor de São Pedro, e príncipe dos apóstolos, era fácil tirar a conclusão da única autoridade que Roma, de fato tinha, e o que os papas viram concentrados em suas pessoas e seu ofício, não era mais do que o cumprimento do plano divino.” (Kelly, página 412, 413, 417)
De acordo com as declarações de JND Kelly, podemos tirar as seguintes conclusões, sobre o pensamento de Santo Agostinho:
1) o Bispo de Roma, como sucessor de São Pedro, tem a primazia jurisdicional da Igreja;
2) o Papa nesta posição tem a palavra final em questões de doutrina, e foi de fato o árbitro final da verdade e, portanto, infalível;
3) A frase “Roma falou, a causa está encerrada” é de fato um resumo preciso de sua crença sobre o assunto (de seu Sermão 131, 10);
Assim, duas das maiores autoridades do meio protestante sobre a Igreja Primitiva, admitem categoricamente que Santo Agostinho realmente queria falar “Roma Locuta est, Causa Finita Est”.
CONCLUSÃO
Agora entramos em um dilema: Em quem acreditar? Em protestantes anti-católicos que despejam desinformação em blogs com textos copiados e requentados, ou em dois dos mais mais renomados estudiosos, tradutores e historiadores do meio protestante? Que o leitor decida.
PARA CITAR
RODRIGUES, Rafael. Apologistas Católicos:“Roma Locuta est, Causa Finita Est” – Santo Agostinho não disse isto? . Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com/index.php/patristica/estudos-patristicos/562-roma-locuta-est-causa-finita-est–santo-agostinho-nao-disse-isto> Desde: 15/02/2013.