Sábado, Dezembro 21, 2024

Relação da Igreja de Cristo com as confissões religiosas não cristãs

O Concílio Vaticano II expôs magistralmente as relações entre a Igreja Católica e as confissões religiosas não cristãs (cf. LG  14-16). A seguir, seguem integralmente os ensinamentos do Concílio a esse respeito. 

“Todos os homens são chamados a esta unidade católica do Povo de Deus, a qual anuncia e promove a paz universal; a ela pertencem, de vários modos, ou a ela se ordenam, quer os católicos quer os outros que acreditam em Cristo quer, finalmente, todos os homens em geral, pela graça de Deus chamados à salvação”.

 

1. Os fiéis Católicos



O Sagrado Concílio concentra sua atenção, em primeiro lugar, nos fiéis Católicos. E, baseado nas Sagradas Escrituras e na Tradição, ensina que esta Igreja peregrina é necessária a Salvação. O único mediador e caminho de Salvação é Cristo que se faz presente para nós em seu Corpo, que é a Igreja. Ele mesmo, ao inculcar com palavras explícitas a necessidade da fé e do Batismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), confirmou também a necessidade da Igreja, para a qual os homens entram pela porta do Batismo. Pelo que não se poderiam salvar aqueles homens que, não ignorando que a Igreja Católica foi fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, e sabendo-a necessária, contudo, ou não querem entrar nela ou nela não querem perseverar.

A esta sociedade da Igreja estão incorporados plenamente aqueles que, possuindo o Espírito de Cristo, aceitam a totalidade de sua organização e todos os meios de salvação nela estabelecidos, e em seu corpo visível estão unidos com Cristo, o qual rege-a mediante o Sumo Pontífice e os Bispos pelos vínculos da profissão de fé, dos sacramentos, do governo e comunhão eclesiástica. Não se salva, contudo, ainda que esteja incorporado à Igreja, aquele que, não perseverando na caridade, permanece no seio da Igreja “com o corpo, mas não com o Coração” (Santo Agostinho). Mas não se esqueçam os filhos da Igreja que sua extraordinária condição não deve ser atribuída aos méritos próprios, mas a uma graça singular de Cristo, à qual, se não respondem com pensamentos, palavras e obras, longe de se salvarem, serão julgados com maior severidade.

Os Catecúmenos que, unidos pelo Espírito Santo, solicitam com vontade expressa ser incorporados À Igreja, por este mesmo desejo já estão vinculados a ela, e a mãe Igreja os abraça com amor e solicitude como seus.

 

2. Vínculos da Igreja com os cristãos não católicos


A Igreja, por uma série de razões, reconhece-se unida àqueles homens que, batizados, recebem o louvável nome de Cristãos, embora não professem a fé em sua totalidade ou não estejam em comunhão com o sucessor de Pedro. Pois há muitos que tomam as Sagradas Escrituras como norma de fé e vida , mostram seu sincero zelo religioso, crêem com amor em Deus Pai Todo-poderoso e em Cristo, Filho de Deus Salvador, estão selados com o batismo, pelo qual se unem a Cristo e além disso, aceitam ou recebem outros sacramentos em suas próprias igrejas ou comunidades eclesiásticas. Muitos dele possuem um episcopado, celebram a sagrada Eucaristia e fomentam a piedade para com a Virgem Mãe de Deus. Acrescente-se a isso a comunhão de orações e outros benefícios espirituais e inclusive uma verdadeira união no Espírito Santo, em certo grau, já que Ele exerce neles sua virtude santificadora com os dons e graças, e a alguns deles chegou a fortalecer até o ponto de derramarem seu sangue. Desta forma, o Espírito Santo suscita em todos os discípulos de Cristo o desejo de que todos estejam pacificamente unidos, do modo determinado por Cristo, como um só rebanho e um só Pastor. Para consegui-lo a mãe Igreja não cessa de orar, esperar e trabalhar, e exorta seus filhos à purificação e à renovação, a fim de que o sinal de Cristo resplandeça com mais clareza na face da Igreja

 

3. os não Cristãos


 

Por último, aqueles que ainda não receberam o Evangelho estão ordenados ao Povo de Deus de diversas maneiras. Em primeiro lugar, aquele povo que recebeu os testamentos e promessas e do qual Cristo nasceu segundo a carne (cf. Rm 9, 1-5). É um povo amadíssimo, porque foi o povo escolhido: e Deus não se arrepende de suas escolhas, nem dos dons e vocações que distribui (Rm 11,28ss).

Mas o desígnio de salvação abarca também os que reconhecem o Criador, entre os quais estão em primeiro lugar os muçulmanos que, confessando aderir à fé de Abraão, adoram conosco um só Deus, misericordioso, que julgará os homens no derradeiro dia.

Deus tampouco está distante de outros que buscam em sombras e imagens do Deus desconhecido, pois todos recebem dele a vida, a inspiração e todas as coisas (cf. At 17, 25-28) e o Salvador quer que todos se salvem (cf. 1 Tm 2, 4). Mas aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo e sua Igreja, buscam a Deus com um coração sincero e esforçam-se, por obra da graça, em cumprir com obras Sua vontade, conhecida mediante o juízo da consciência, podem conseguir a salvação eterna. E a divina Providência tampouco nega os auxílios necessários para a salvação àqueles que não por culpa própria ainda não chegaram a um conhecimento expresso de Deus e esforçam-se por levar uma vida reta, sem prescindir da graça de Deus. Tudo o que nestes homens há de bom e verdadeiro, a Igreja julga-o como uma preparação para o Evangelho, outorgada por Aquele que ilumina todos os homens no intuito de dar-lhes a vida. Mas com muita freqüência, os homens, enganados pelo Maligno, aviltaram-se em suas fantasias e trocaram a verdade de Deus pela mentira, servindo à criatura mais do que ao Criador (cf. Rm 1,21-25) ou, vivendo e morrendo sem Deus neste mundo, expõem-se à desesperação eterna. Portanto, recordando o mandato do Senhor, que disse “Pregai o Evangelho a toda a criatura”, a Igreja procura com grande solicitude fomentar as missões para promover a glória de Deus e a salvação de todos estes.

 

FONTE


MARÍN, Pe. Antonio Royo. Sentir com a Igreja, ano 2003, p. 39-42.

 

PARA CITAR


 MARÍN, Pe. Antonio Royo. Relação da Igreja de Cristo com as confissões religiosas não cristãs <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/concilio-vaticano-ii/religioes/772-relacao-da-igreja-de-cristo-com-as-confissoes-religiosas-nao-cristas> Desde 18/03/2015. Transcrição: Luiz Felipe Nanini.

 

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