DEFINIÇÃO DE PECADO ORIGINAL (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA)
“Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. É São Paulo quem o afirma: «pela desobediência de um só homem, muitos [quer dizer, a totalidade dos homens] se tornaram pecadores» (Rm 5, 19): «Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram» (Rm 5, 12). A universalidade do pecado e da morte, o Apóstolo opõe a universalidade da salvação em Cristo: «Assim como, pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só [Cristo], virá para todos a justificação que dá a vida» (Rm 5, 18).
Como é que o pecado de Adão se tornou o pecado de todos os seus descendentes? Todo o género humano é, em Adão, «sicut unum corpus unius hominis – como um só corpo dum único homem» (294). Em virtude desta «unidade do género humano», todos os homens estão implicados no pecado de Adão, do mesmo modo que todos estão implicados na justificação de Cristo. Todavia, a transmissão do pecado original é um mistério que nós não podemos compreender plenamente. Mas sabemos, pela Revelação, que Adão tinha recebido a santidade e a justiça originais, não só para si, mas para toda a natureza humana; consentindo na tentação, Adão e Eva cometeram um pecado pessoal, mas este pecado afecta a natureza humana que eles vão transmitir num estado decaído (295). É um pecado que vai ser transmitido a toda a humanidade por propagação, quer dizer, pela transmissão duma natureza humana privada da santidade e justiça originais. E é por isso que o pecado original se chama «pecado» por analogia: é um pecado «contraído» e não «cometido»; um estado, não um acto.
Embora próprio de cada um (296), o pecado original não tem, em qualquer descendente de Adão, carácter de falta pessoal. É a privação da santidade e justiça originais, mas a natureza humana não se encontra totalmente corrompida: está ferida nas suas próprias forças naturais, sujeita à ignorância, ao sofrimento e ao império da morte, e inclinada ao pecado (inclinação para o mal, que se chama concupiscência). O Baptismo, ao conferir a vida da graça de Cristo, apaga o pecado original e reorienta o homem para Deus, mas as consequências para a natureza, enfraquecida e inclinada para o mal, persistem no homem e convidam-no ao combate espiritual.
A doutrina da Igreja sobre a transmissão do pecado original foi definida sobretudo no século V, particularmente sob o impulso da reflexão de Santo Agostinho contra o pelagianismo, e no século XVI, por oposição à Reforma protestante. Pelágio sustentava que o homem podia, pela força natural da sua vontade livre, sem a ajuda necessária da graça de Deus, levar uma vida moralmente boa; reduzia a influência do pecado de Adão à de um simples mau exemplo. Os primeiros reformadores protestantes, pelo contrário, ensinavam que o homem estava radicalmente pervertido e a sua liberdade anulada pelo pecado das origens: identificavam o pecado herdado por cada homem com a tendência para o mal («concupiscência»), a qual seria invencível. A Igreja pronunciou-se especialmente sobre o sentido do dado revelado, quanto ao pecado original, no segundo Concílio de Orange em 529 (297) e no Concílio de Trento em 1546 (298).” (CIC – Parágrafos 402-406)
O PECADO ORIGINAL DA BÍBLIA
(1) Romanos 5, 12-21
(2) 1 Coríntios 15, 21-22 – Em Adão todos morremos
“Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos.Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão.” (I Coríntios 15, 21-22)
(3) Efésios 2, 1-3 Mortos no pecado… pornatureza filhos da ira.
“E vós outros estáveis mortos por vossas faltas, pelos pecados que cometestes outrora seguindo o modo de viver deste mundo, do príncipe das potestades do ar, do espírito que agora atua nos rebeldes. Também todos nós éramos deste número quando outrora vivíamos nos desejos carnais, fazendo a vontade da carne e da concupiscência. Éramos como os outros, por natureza, verdadeiros objetos da ira (divina).” (Efésios 2, 1-3)
(4) Gênesis Capítulos 2-3; 6, 5; 8,21 – A queda da Humanidade.
(5) Salmo 50; 57 — concebido em pecado…extraviado desde o ventre
“Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado…”(Salmo 50,7)
“Desde o seio materno se extraviaram os ímpios, desde o seu nascimento se desgarraram os mentirosos.” (Salmo 57,4)
(6) Jó 14, 1ss; 15, 14 – nascido de uma mulher… imundo..
(7) Sabedoria 1, 12ss; 2, 23ss; Eclesiástico 25, 24 – De Eva veio a Morte.
O PECADO ORIGINAL NOS PAIS DA IGREJA
Demonstrações dos Padres não são entendidas como uma prova direta da doutrina uma vez qye os escritos patrísticos não são Escritura Inspirada nem na teologia católica são os padres considerados infalíveis individualmente. No entanto, eles são testemunhas da fé cristã autêntica como foi proferida e desenvolvida no início da Igreja.
- Sobre a doutrina do pecado original – se a crença católica é verdadeira – devemos encontrar nos Padres que o pecado de Adão [e Eva] resultou nas seguintes consequências:
- Morte para todos (Gn 3; 1 Cor 15: 21f; Rm 5: 12,15; 06:23)
- Condenação para todos (Rm 5, 16ff)
- Um “contágio” herdado – desde o nascimento estamos “constituidos pecadores” (Romanos 5, 12-19 cf. 7,13ss;
- Salmo 51: 5 5 Ef 2, 1-3) perda ou falta de graça, santidade, filiação divina
- E transmitidos “pela propagação e não por imitação [de Adão]”
Em relação ao batismo, devemos encontrar o seguinte sobre o sacramento:
- Remissão do pecado e da recepção do Espírito Santo (Atos 2:38)
- Regeneração espiritual / o novo nascimento (João 3: 3,5; Tito 3: 5)
- Restauração da filiação, graça, santidade (Rm 6: 3ff; 8: 11ss)
- E que o sacramento foi administrado as crianças desde cedo
SANTO IRINEU DE LIÃO (180 d.C)
“Por outros termos, trata-se de Adão, o homem modelado em primeiro lugar, acerca do qual a Escritura refere que Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. Nós todos derivamos dele e por causa disso herdamos o seu nome. Ora, se o homem foi salvo, também salvo deve ser o homem que foi modelado em primeiro lugar. De fato, seria por demais irracional dizer que não é libertado pelo vencedor do inimigo quem diretamente foi ferido pelo mesmo inimigo e que foi o primeiro a experimentar a escravidão, ao passo que seriam libertados os filhos gerados por ele na mesma escravidão.” (Contra as Heresias – Livro III, 23, 2)
TERTULIANO (200 d.C)
“Por fim, em todos os casos de irritação, desprezo e repugnância, você pronuncia o nome de Satanás. Ele é quem chamamos o anjo do mal, o autor de todos os erros, o corruptor de todo o mundo, por meio do qual o homem foi enganado no início para que ele transgredisse o mandamento de Deus. Por conta de quem o homem transgressor foi entregue à morte; e a raça humana inteira, que foi infectado por sua semente, foi feito o transmissor da condenação.” (O Testemunho da Alma 3, 2)
“Porque por um homem veio a morte, por um homem também vem a ressurreição” [1 Coríntios 15, 21]. Aqui, pela palavra homem, que é composto de um corpo, como mostrado já muitas vezes, temos, eu entendo que é um fato que Cristo tinha um corpo. E se todos nós somos feitos para viver em Cristo como Nós fomos feitos para morrer em Adão, então, como na carne Fomos feitos para morrer em Adão, então, também na carne fomos feito para viver em Cristo. Caso contrário, se o que vem à vida em Cristo não viesse a ter lugar naquela mesma substância em que nós morremos em Adão, o paralelo seria imperfeito.” (Contra Marcião 5- 9, 5)
ORÍGENES (244 d.C)
“A Igreja recebeu dos Apóstolos o costume de administrar o batismo até mesmo para crianças. Pois aqueles a quem foram confiados os segredos dos mistérios divinos sabiam muito bem que todos carregam a mancha do pecado original, que deve ser lavada com água e o espírito.” (Orígenes In Rom. Com. 5,9:)
“Se as crianças são batizadas “para a remissão dos pecados” cabe uma pergunta: de que pecados se tratam? Quando eles poderiam pecar? Como podemos aceitar tal testemunho para o batismo de crianças, a menos que se admita que ‘ninguém está sem pecado, mesmo quando sua vida na terra não tenha durado mais que um dia’?. As manchas do nascimento são removidas pelo mistério do batismo. Se batiza crianças porque ‘se alguém não nascer da água e do espírito, é impossível entrar no reino dos céus.’” (Orígenes, Homilia sobre o Evangelho de Lucas 14, 1)
“Havia muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o sírio, que pertencia ao povo de Israel. Considere o grande número de leprosos que tinha até então ‘em Israel segundo a carne’. Veja, por outro lado, a espiritual Eliseu, nosso Senhor e Salvador, que purifica no mistério do batismo os homens cobertos pelas manchas da lepra e dirige-lhe estas palavras: ‘Levanta-te, vai ao Jordão, e a tua carne ficará limpa’. Naamã se levantou, foi tomar banho e cumpriu o mistério do batismo, ‘sua carne ficou como a carne de uma criança.’ Que criança? Daquele que ‘no banho de regeneração’ nasce em Cristo Jesus.” (Orígenes, In Luc. hom. 33, 5)
“Se você gosta de ouvir o que os outros santos disseram sobre o nascimento físico, ouça Davi, quando ele diz: ‘Eu fui formado, assim diz o texto, em maldade, e minha mãe me concebeu no pecado’; mostra que toda alma que nasce em carne carrega a mancha da iniquidade e do pecado. É por isso que esta frase citada acima: Ninguém está livre de pecado, nem mesmo a criança que tem apenas um dia. Tudo isso pode ser adicionado a consideração da razão sobre o motivo que tem a Igreja para o costume de batizar crianças, pois este sacramento da Igreja seja para a remissão dos pecados. Certamente, se não houvesse crianças em necessidade de remissão e perdão, a graça do batismo pareceria desnecessária.” (Orígenes, Homilia sobre Levítico 8, 3)
SÃO CIPRIANO DE CARTAGO (250 d.C)
“Porém em relação com o caso das crianças, na qual disse que não devem ser batizados no segundo diz ou terceiro dia depois do nascimento, e que a antiga lei da circuncisão deve ser considerada, pela qual pensa que alguém que de nascer não deve ser batizado e santificado dentro de 8 dias, todos nos pensamos de uma maneira muito diferente em nosso concílio. Por que neste curso que pensas tomar, nada está de acordo, se não que todos julgamos que a misericórdia e graça de Deus não devem ser negada a nenhum nascido do homem. Por que como disse o senhor em seu evangelho: “o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las.” Na medida em que possamos, devemos depois procurar que se possível, que nenhuma alma se perca…
Por outro lado, a fé nas escrituras divinas nos declaram que todos, sejam crianças ou maiores, temos a mesma igualdade nos dons divinos…
A razão pela qual cremos que ninguém deve ser impedido de obter a graça da lei, por que na lei que foi ordenada, e a circuncisão espiritual não deve ser impedida pela circuncisão carnal, senão que absolutamente todos os homens tem que ser admitidos à graça de Cristo., já que também Pedro nos Atos dos Apóstolos fala e diz: “Deus me mostrou que eu não deveria ligar para qualquer homem comum ou imundo.”. Mas se nada poderia impedir a obtenção da graça aos homens, e o mais atroz de todos os pecados não pode por obstáculos aos que são maiores. Mas se até aos que são os maiores pecadores, e os que haviam pecado contra Deus, quando creem, lhes é concedido a remissão dos pecados e nada se vê impedindo o batismo e a graça, deveríamos impedir um bebê? Que sendo recém nascido, não há pecado, salvo, que nascido da carne de Adão, contraiu o contágio da morte antiga em seus nascimento?…
E, portanto, querido irmão, esta foi nossa opinião no concílio, que por nós, nada deve impedir o batismo e a graça de Deus, que é misericordioso, amável e carinhoso para com todos. Que, posto que é observado e mantido em respeito a tudo, nos parece que se deve respeitar em todos os casos inclusive nos das crianças…” (Carta 58, 5 a Fidus)
“Se, no caso de os piores pecadores e dos que antigamente pecaram muito contra Deus, quanto mais tarde eles acreditam, a remissão de seus pecados é concedida e ninguém está impedido do Batismo e graça, quanto mais, então, que um infante não seja detido, o qual, tendo, mas recentemente nascido, não cometeu nenhum pecado, exceto que, nascido da carne de acordo com Adão, ele contraiu o contágio dessa antiga morte de seu primeiro nascimento . Por isso mesmo é que ele se aproxima mais facilmente para receber a remissão dos pecados: porque os pecados perdoados Nele não são seus, mas os de outro.” (Carta 64, 5)
METÓDIO DE FELIPO (300 d.C)
“O homem também foi criado sem corrupção… Mas quando aconteceu que ele transgrediu o mandamento, ele sofreu uma terrível e destrutiva queda e foi reduzido a um estado de morte. O Senhor diz que foi por causa disso que Ele mesmo desceu do céu para o mundo, tomando a licença das fileiras e os exércitos dos anjos… Foi para este fim que o Verbo se colocou sobre a humanidade: que Ele poudesse superar a serpente e que Ele mesmo pudesse colocar para baixo a condenação que primeiro veio a existir quando o homem foi arruinado. Porque convinha que o maligno não fosse derrotado por outro, mas por aquele ele havia enganado, e quem ele estava gozando de que mantinha em sujeição. De nenhuma outra maneira poderia o pecado e a condenação serem destruído, exceto criar de novo esse mesmo homem – aquele de quem se dizia: “Vieste da do pó e ao pó retornarás” [Gen 3, 19] – e por sua ruína a frase , por causa dele [Adam], foi pronunciada sobre todos. Assim, apenas como em Adão todos anteriormente morriam, então de novo em Cristo, que sobrepujou Adão, todos são feitos para viver [1 Coríntios 15, 22].” (O Banquete das 10 Virgens ou Sobre a Castidade 3, 6)
AFRAÁTES DO SÁBIO PERSA (340 d.C)
“Com efeito, uma vez que o primeiro ser humano deu ouvido e escutou à serpente, ele recebeu a sentença de maldição, pela qual ele se tornou o alimento para a serpente; e a maldição passou para toda a sua descendência.” (Afraates o Sírio, Tratados 6:14; 7: 1; 23: 3)
EFRAIM DA SÍRIA (+373 d.C)
“Adão pecou e ganhou todas as dores, e o mundo, seguindo o seu exemplo, toda a culpa. E não levou nenhum pensamento de como ele poderia ser restaurado, mas apenas de como sua queda oudesse ser mais agradável por isso. Glória a Ele que veio e restaurou-o!” (Hinos da Epifania 10, 1)
ATANÁSIO DE ALEXANDRIA (360 d.C)
“Adão, o primeiro homem, alterou o seu curso, e através do pecado, a morte entrou no mundo …. Quando Adão transgrediu, O PECADO se estendeu a todos os homens.” (Discursos contra os arianos 1, 51)
SÃO CIRÍLO DE JERUSALÉM (370 d.C)
“A coroa da cruz levou para a luz aqueles que estavam cegos pela ignorância, soltou todos aqueles que estavam acorrentados por seus pecados, e resgatou a totalidade dos homens. Não é de admirar que o mundo inteiro está redimida. Ele não era um mero homem, mas o unigênito Filho de Deus, que morreu em seu nome. Na verdade, um só homem pegou, Adão, tinha o poder de trazer a morte para o mundo. Se, pela ofensa de um, a morte reinou sobre o mundo [Rom 5, 17], por que não a vida mais apropriadamente reinaria pela justiça de um? Se eles foram expulsos do paraíso por causa da árvore e por comerem, não deveriam agora os crentes entrar mais facilmente no paraíso por causa da árvore de Jesus? Se esse homem primeiro formado da terra inaugurou a morte universal, não deve Ele que o formou da terra trazer vida eterna, já que Ele próprio é a vida?” (Leituras Catequéticas 13, 1-2)
SÃO BASÍLIO MAGNO (379 d.C)
“Pouco dado, muito recebido; pela doação o pecado original é descarregado. Assim como Adão transmitiu o pecado por sua comida perversa, destruímos esse alimento traiçoeiro quando curamos a necessidade e a fome do nosso irmão…. Para os presos, o Batismo é o resgate, perdão de dívidas, morte do pecado, a regeneração da alma , uma peça de roupa resplandecente, um selo inquebrável, uma carruagem para o céu, um protetor real, um presente de adoção.” (Elogio sobre os mártires 8, 7; 13, 5)
SÃO GREGÓRIO DE NAZIANZO
“Isso vai acontecer, eu acredito… que esses últimos mencionados[crianças que morrem sem batismo] não serão nem admitidos pelo justo julgamento a glória do Céu, nem condenados a sofrer punição, uma vez que, embora não sejam selados [pelo batismo], eles não são maus…. Pois do fato de que não merecem punição não se seguem que são digno de serem honrados, mais do que se segue que aquele que não é digno de uma certa honra merece por conta disso que ser punido.”(Oração 40, 23)
DIDÍMO O CEGO (398 d.C)
“Se Cristo tivesse recebido Seu corpo de uma união conjugal e não de outra maneira seria suposto que ele também está sujeito a uma prestação de contas por causa do pecado, que, de fato, todos os que são descendentes de Adão contraíram por sucessão.” (Contra os maniqueístas 8)
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO (380 d.C)
“Você vê quantos são os benefícios do Batismo, e alguns pensam que sua graça celestial consiste apenas na remissão dos pecados; mas temos enumerado dez honras. Por esta razão, batizar até mesmo crianças, embora eles não sejam contaminados por pecado [ou ainda que eles não têm pecados pessoais]: de modo que pode haver dado a eles a santidade, a justiça, a adoção, a herança, a fraternidade com Cristo, e que eles possam ser seus membros.” (Catequese Batistmal citada por Santo Agostinho no Contra Juliano 1, 6)
Nesta passagem, Santo Agostinho comenta em Contra Julian 1, 6: 22 depois de citar a linha acima em grego:
“Mas não tratemos de suposições, ou um possível erro de um copista ou um matiz do tradutor. Cito as palavras de João como se lê no texto grego: “)\“J@ØJ@6“ÂJB“4*\“$“BJ\.@:,<6“ÂJ@4:“DJZ:“J“@Û6§P@<J“”. O que se traduz: “Por isso batizamos crianças, embora elas não tenham pecado.” Você vê com certeza que diz: “As crianças não estão manchadas com o pecado” ou o “pecados,” mas eles não têm pecado. Entendes pessoalmente, e discussão já não é possível.
Por réplicas, disse que “possui”? A razão é simples, porque ele fala ao coração da Igreja Católica, e acreditava que não seria interpretado de outras maneiras para além das palavras expressas; ninguém tinha levantado essa discussão, e, não sendo contestado esta verdade, ele fala muito seguro.”
Agostinho ainda fala:
“Você se atreve a opor-se as palavras do santo Bispo João e àqueles tantos ilustres colegas seus e apresenta como um adversário e como um membro dissidente da companhia em que a mais perfeita harmonia reina, Deus me livre! Longe de nós dizer ou pensar tão grande mal deste homem ilustre! Longe de nós pensar que João de Constantinopla abrigue, sobre batismo das crianças e a liberação por Cristo de sua escritura paterna, sentimentos contrários de muitos eminentes colegas, em particular Inocêncio de Roma, Cipriano, Basílio da Capadócia, Gregório Nazianzeno, Hilário da Gália e Ambrósio de Milão. Há, sim, algumas questões sobre as quais eles não concordam, por vezes, estes defensores mais instruídos e invictos da fé católica, sempre guardam a unidade da fé, e podem dizer algo mais verdadeiro e melhor do que outro. Mas a questão que tratamos agora pertence aos fundamentos da fé. Qualquer um que quer, dentro da fé cristã, substituir o que está escrito, ou seja, que a morte entrou no mundo por um homem, e de um homem veio a ressurreição dos mortos; e como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos serão vivificados, esforça-se para tirar a nossa fé em Cristo.” (Contra Juliano Livro I Capitulo 6, 22)
Além disso, Jurgens comenta que Juliano de Eclanum tinha apelado a Crisóstomo em favor do Pelagianismo citando a linha acima de – Ad neophytos – “Nós batizamos até mesmo crianças, embora eles não estejam contaminadas pelo pecado,”, e ele tomou isso como uma negação do pecado original . No entanto, Agostinho teve não apenas o latim, mas o original grego do mesmo texto que se ler: “Nós batizamos até mesmo crianças, embora eles não tenham pecados.” Agostinho insiste que os “pecados” no plural deixa claro que Crisóstomo estava falando de pecados pessoais. Agostinho então exonera Crisóstomo e priva Juliano de sua fonte, citando inúmeras outras passagens de Crisóstomo.
“O que significa: “Porque nele todos pecaram”? Pela queda e por causa dele, apesar de não terem comido do fruto da árvore, seus descendentes todos se tornaram mortais. Pois já antes da Lei, havia pecado no mundo; o pecado, porém, não é levado em conta quando não existe lei. Alguns julgam que a expressão: “Antes da Lei” indica o tempo anterior à promulgação da Lei, a saber, a época em que viveram Abel, Noé e Abraão, até o nascimento de Moisés. Que pecado havia então? Uns dizem que ele assinala o pecado cometido no paraíso, que ainda não estava apagado, dizem eles, e vicejava nos frutos, causando de modo geral a morte, que imperava e tiranizava. Por que, então, acrescentou: “O pecado, porém, não é levado em conta quando não existe lei”? Aqueles que concordam conosco afirmam que ele formulou, segundo a objeção dos judeus, o seguinte: Se não há pecado sem lei, porque a morte eliminou a todos os que viveram antes da Lei? A meu ver, o que vamos expor é mais consentâneo à razão e de acordo com o pensamento do Apóstolo. O que é? A asserção de que “já antes da Lei, havia pecado no mundo”, parece-me dizer que, depois de promulgada a Lei, o pecado por transgressão dominou e perdurou enquanto a Lei existia; “o pecado, porém, não é levado em conta quando não existe lei”. Se, portanto, este pecado por transgressão da Lei gera a morte, replicas, como morreram todos os que existiram antes da Lei? Se o pecado foi a raiz da morte e “o pecado não é levado em conta quando não existe lei”, de que modo imperava a morte? Daí se conclui que não foi o pecado por transgressão, mas o pecado de desobediência cometido por Adão que arruinou tudo. E como se comprova? Porque antes da Lei todos morriam. 14. Todavia a morte imperou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram. Como imperou? De modo semelhante à transgressão de Adão, que é figura daquele que devia vir. Adão, portanto, é figura de Jesus Cristo. De que modo é figura? – perguntas. Adão para os seus descendentes, apesar de não terem comido do fruto da árvore, foi causa de morte, através do alimento; doutro lado, Cristo para os seus, que não haviam praticado o bem, foi conciliador da justiça, concedida a todos nós por meio da cruz[…] de sorte que se um judeu te disser: É possível que apenas um, Cristo, pratique o bem, e obtenha a salvação para todo o orbe? – possas replicar-lhe: É possível que um só, Adão, tenha desobedecido e o mundo inteiro foi condenado?” (Homilia 10,1 Sobre Romanos)
Jurgens comenta sobre a passagem assim e Romanos 5, 12:
“Crisóstomo sabia grego também, e ele nunca supôs que isso significava nada, exceto causa. Ele ainda refere-se a passagem ao pecado original, e entende pela cláusula “porque todos pecaram” que o que se quer dizer é “porque todos pecaram [em Adão]”, não é só que todos pecaram em seqüência depois de Adão, mas todos pecaram em conseqüência de Adão […] a cláusula final exige claramente para a interpretação “porque todos pecaram em Adão”. Ele não precisa exclui o pecado pessoal, mas ele deve incluir o pecado original […] Crisóstomo e os Padres em geral viram Rom 5, 12 como se referindo ao pecado original. A menção do pecado causando a morte, e morte sendo, portanto, a todos os homens era suficiente; por isso deve-se admitir que os Padres, em geral, não distinguem facilmente entre pecado original e seus efeitos. Assim, por Crisóstomo, o próprio fato de que os homens morrem, mesmo sem o “porque todos pecaram”, chama a atenção para o pecado original.” (The Faith of the Early Fathers Pg 115-116)
Crisóstomo continua:
“De modo que, como pela desobediência de um só, todos se tornaram pecadores, assim pela obediência de um só, todos se tornaram justos. Esse dito parece levantar não pequena questão, que facilmente se resolverá através de cuidadosa atenção. Qual é a questão? Assegurar que, pela desobediência de um só, todos se tornaram pecadores. Não é inverossímil que em consequência do pecado o primeiro homem fez-se mortal com todos os seus descendentes; mas seria lógico que pela desobediência de um homem um outro se tornasse pecador? A conclusão seria que não devia ser castigado a não ser que ele mesmo se tornasse pecador. O que significa nesse trecho o termo: “Pecadores”? A meu ver, ser réu de suplício e condenado à morte. O Apóstolo mostrou claramente e em muitas passagens que, tendo morrido Adão, todos nós nos tornamos mortais.” (Homilia 10,1 Sobre Romanos)
SÃO PACIANO DE BARCELONA (392 d.C)
“Depois que Adão pecou, como observei antes, quando o Senhor disse: ‘Você é pó, e ao pó retornarás’ (Gn 3, 19), Adão foi condenado à morte. Esta condenação foi repassada a raça inteira. Pois todos pecara, já com a sua participação naquela natureza [ipsa iam urgente natura], como diz o Apóstolo: ‘Pois por um só homem o pecado entrou, e através do pecado morreu, e assim ele desceu para todos os homens, porque todos pecaram’ [Rm 5, 12, e veja nota Jurgens, vol 2, pg 144, n3] …. Alguém me dirá: Mas o pecado de Adão merecidamente passou para seus descendentes, porque eles eram nascido dele: mas como é que vamos ser gerados de Cristo, para que possamos ser salvos por meio dele? Não acho que estas coisas de uma forma carnal. Você já viu como é que são gerados por Cristo, nosso Pai. Nestes últimos tempos, Cristo tomou uma alma e com ele carne de Maria: esta carne veio para preparar a salvação…” (Sermões sobre o batismo 2; 6)
SANTO AMBRÓSIO DE MILÃO (383 d.C)
“Antes de nascermos nós estamos infectados com o contágio, e antes de ver a luz do dia nós experimentamos o prejuízo da nossa origem. Em iniqüidade somos concebidos [cf. Salmos 51: 5] – ele não diz se a maldade de nossos pais ou nossa própria – E em pecados a mãe de cada um lhe dá vida. Nem com isso que ele indica se sua mãe deu à luz em seus próprios pecados ou se os pecados dos quais ele fala pertencem de alguma forma ao nascer. Mas considere e ver o que se quer dizer. nenhuma concepção é sem iniquidade, já que não há pais que não caíram. e se não há nenhum bebê que esteja mesmo um dia sem pecado, muito menos podem as concepções de útero de uma mãe ser sem pecado. Somos concebidos, portanto, no pecado de nossos pais, e é em seus pecados que nós nascemos.” (Explicação sobre o profeta Davi 1, 11, 56)
“Adão foi trazido a vida; e fomos todos trazidos à existência por ele. Adão pereceu e nele todos perecemos.” (Comentário ao Evangelho de Lucas 7, 234)
“Pedro estava puro, mas devia lavar os pés, pois tinha o pecado que vem pela sucessão do primeiro homem, quando a serpente o subjugou e o induziu ao erro. É por isso que se lavam os pés dele, a fim de tirar os pecados hereditários. Portanto, nossos próprios pecados foram perdoados pelo batismo.” (Sobre os Mistérios 32)
AMBROSIASTER OU PSEUDO AMBRÓSIO ( + 384 d.C)
“‘Em quem’ isto é, em Adão – ‘todos pecaram’ [Rm 5, 12]. E ele disse: “em quem”, usando a forma masculina, quando ele falava de uma mulher, porque a referência não era para um indivíduo específico, mas para a raça. É evidente, portanto, que todos pecaram em Adão, -en masse- por assim dizer; pois quando ele próprio foi corrompido pelo pecado, todos a quem ele gerou nasceram sob o pecado. Por sua causa, em seguida, todos são pecadores, porque todos nós somos dele. Ele perdeu o favor de Deus, quando se desviou.” (Comentários sobre 13 Epístolas Paulinas, Em Romanos 5:12, ver também Jurgens comentários vol 2, pg 179, N1-3)
SANTO AGOSTINHO (+ 430 d.C)
“Você está condenado por todos os lados. Os numerosos testemunhos em relação ao pecado original, testemunhos dos santos, são mais claros do que a luz do dia. Olha o que um conjunto está no que eu lhe trouxe. Aqui está Ambrósio de Milão… aqui também é João de Constantinopla [Crisóstomo]… Aqui está Basilio… Aqui estão outros também, cujo acordo geral é tão grande que deve movê-lo. Esta não é, como você escreve com uma caneta para o mal, ‘uma conspiração dos perdidos’. Eles eram famosos na Igreja Católica por sua busca pela sã doutrina. Armados e cingidos com armas espirituais, eles travaram guerras extenuantes contra os hereges; e quando tinham fielmente completados os trabalhos dados a eles, adormeceram no colo da paz… Veja onde eu lhe trouxe: a assembléia desses santos não é qualquer uma. Eles não são apenas os filhos, mas também pais da Igreja… sacerdotes santos e bem-aventurados, amplamente conhecidos pela sua diligência na eloquência divina, Irineu, Cipriano, Reticio, Olimpo, Hilário, Ambrósio, Gregório, Inocêncio, João, Basílio – e se você goste ou não, vou acrescentar o presbítero Jerônimo, omitindo aqueles que ainda estão vivos – pronunciei contra você a opinião deles sobre o pecado original na sucessão da culpa de todos os homens, de onde ninguém está isento exceto Ele que a Virgem concebeu sem a lei do pecado guerreando contra a lei da mente…O que eles encontraram na Igreja, eles mantiveram; o que aprenderam, eles ensinaram; o que receberam dos pais, eles transmitiram aos filhos. Nós nunca estivemos envolvidos com você antes que esses juízes; mas nosso caso já foi tentado antes deles. Nem nós, nem você era conhecido deles; mas nós recitamos seus julgamentos proferidos em nosso favor contra você… Estes homens são bispos, sábios, solentes, santos e mais zelosos defensores da verdade contra vaidades tagarelas, em cujo motivo, erudição, e liberdade, três qualidades que você demanda em um juiz, você pode encontrar sem nada a desprezar… Com esses plantadores, bebedouros, construtores, pastores e fomentadores a Santa Igreja cresceu após o tempo dos Apóstolos.” (Contra Juliano 1:7:30-31; 2:10:33-34; 2:10:37)
OBJEÇÕES RESPONDIDAS
OBJEÇÃO I – Se os padres Apostólicos não mencionam o pecado original
“A idéia de ‘pecado herdado’ não foi ouvida na igreja cristã até os dias de Tertuliano no terceiro século. Nenhum Padre Apostólico jamais mencionou tal coisa. Há alguns que sugerem que Irineu menciono-o, mas como ainda assim é improcedente na visão deste autor.”
RESPOSTA:
Estou contente o protestante admita que Tertuliano como seus escritos que são início do século III ou antes (200 dC) cria no pecado original, pois este é uma testemunha importante para a fé cristã na África. Quanto a Santo Irineu de Lion (final do século II) e dos Padres, até Santo Agostinho, consulte as dezenas de citações acima que abrangem ambos os Padres orientais e ocidentais da Igreja.
Santo Irineu afirma explicitamente que nós “pecamos em Adão” no seguinte passagem do Contra as Heresias (escrito 180-199 d.C)
“Mostrou claramente com isso o Deus que ofendemos no primeiro Adão, não cumprindo o seu mandamento, e com o qual somos reconciliados, no segundo Adão, tornando-nos obedientes até a morte; de fato, só éramos devedores com aquele de quem transgredimos, no início, o preceito, e de ninguém mais.” (Contra as Heresias 5, 16, 3).
Isto é muito importante uma vez que Santo Irineu afirma repetidamente que ele está preservando a fé apostólica transmitida a ele pelos apóstolos e as igrejas fundadas pelos Apóstolos (ver 1: 10: 1 f; 3: 3: 1f; 3: 4: 1; 3: 24: 1; 4: 26: 2). Todos os Padres ortodoxos afirmam o mesmo.
O Pastor de Hermas diz (escrito provavelmente em Roma 140/155 dC), que os efeitos do Batismo são a remissão de pecados e a regeneração (cf. Atos 2, 38; João 3, 3,5), e, se é dada a bebês , este também seria o apoio no início da crença da Igreja em pecado Original:
“Elas não podiam entrar no Reino de Deus, senão deixando a mortalidade da vida anterior. Tais mortos receberam o selo do Filho de Deus e entraram no Reino de Deus. De fato, antes de levar o nome do Filho de Deus o homem está morto. Quando recebe o selo, deixa a morte e retoma a vida. O selo é a água: eles descem à água e daí saem vivos. Também a eles foi anunciado esse selo, e eles o usaram para entrar no Reino de Deus.” Eu perguntei: “Senhor, por que as quarenta pedras também sobem com eles do abismo, visto que estas já haviam recebido o selo?” Ele respondeu”. “Porque esses apóstolos e doutores que anunciaram o nome do Filho de Deus, adormecidos no poder e na fé do Filho de Deus, o anunciaram também àqueles que tinham morrido antes deles, e lhes deram o selo do anúncio. Desceram com eles à água e novamente subiram. Contudo, desceram vivos e subiram vivos, enquanto os que estavam mortos antes deles desceram mortos e subiram vivos” (Pastor de Hermas, Capitulo 93)
Enquanto Hermas, autor do Pastor e irmão do Papa São Pio I (140 -. 155 d.C), não menciona o batismo infantil, isto é explicitamente ensinado por Orígenes e São Cipriano no início do terceiro século que os bebês eram batizados “para a remissão dos pecados” e que esta é uma tradição apostólica autêntica (cf. 2 Ts 2, 15). Veja as citações anteriores e estas matérias aqui e aqui.
Além disso, foi sempre unanime dentre os padres que João 3, 5 se refere ao Batismo e existem muitas outras citações que eu poderia fornecer ao século VI sobre isso. O ónus da prova cairia sobre aqueles que afirmam que esta não é uma verdadeira tradição apostólica dada Padres. E este é um fardo que eu não acredito que qualquer um que negue que estes são verdadeiros ensinamentos cristãos, possa encontrar. Mesmo a maioria dos protestantes históricos recebem o batismo infantil como bíblico, embora discordem entre si (e com a Igreja histórica) sobre os efeitos do sacramento do Batismo.
Os Padres Apostólicos incluem São Clemente de Roma (95 d.C), Santo Inácio de Antioquia (110 d.C), São Policarpo de Esmirna (155 d.C) e outros cristãos do primeiro e início do segundo século que tiveram contato direto com os Apóstolos ou a era apostólica. Acho que não é nenhuma surpresa que eles não mencionam ou tratam com tais doutrinas complexas de Soteriologia e da Redenção. A primeira preocupação da Igreja foi cristologia – Quem é Jesus. Só no início do século IV (no Concílio de Nicéia, em 325 AD) que esta questão foi finalmente resolvida para toda a Igreja (embora o arianismo ainda assolasva o oriente), por isso não é surpreendente (na verdade, é lógico) que levaria até o quinto século para a Igreja trabalhar começar a trabalhar como Cristo efetua salvação, o que o Batismo faz, e perguntas sobre o pecado original adiquirido de Adão.
B.R. Rees em seu trabalho: “Pelágio: um herege Relutante” (Inglaterra: O Boydell Press, 1988) é uma fonte que que alguns protestantes citam, mas eu não tenho certeza se eles leram o livro, uma vez que Rees responde a maioria das acusações protestantes – Rees diz sobre Romanos 5, e os Padres Apostólicos:
“(…) Assim, Paulo identifica a fonte do pecado e da morte com a queda de Adão, e insiste que a enfermidade inata no homem, acabou residindo em sua ‘carne’ ou ‘membros’, como um impulso para o mal, curável somente com a graça oferecida ao homem pela obra redentora de Jesus. Mas, obviamente, ele deixou muitas perguntas sem resposta, uma vez que ele não estava empenhado em escrever monografias teológicas, mas em enviar cartas de repreensão, conselho ou encorajamento à diferentes igrejas, conforme surgia a necessidade. E assim os antigos Padres não herdaram dele nenhuma doutrina inequívoca acerca do pecado original, e a evidência mostra que eles não deram-na séria consideração: de acordo com uma autoridade: ‘Em todos os escritos dos Padres Apostólicos, o nome de Adão ocorre apenas uma vez, e o paraíso terrestre e a árvore da morte não são mencionados em nenhum.’[citando G. Boas, Ensaios sobre primitivismo e ideias relativas à Idade Média]… Nem a queda, nem o pecado original parecem ser mencionados nas profissões de fé batismais, ou mesmo no credo de Niceia; para uma doutrina genuinamente católica de ambos, aparentemente devemos voltar ao Novo Testamento e a Paulo. (…)” (Rees, Pelágio [1988], página 56-57)
E eu pretendo voltar a falar sobre São Paulo e o NT quando eu falar sobre a evidência bíblica do pecado original. Assim, dadas as controvérsias cristológicas da Igreha ante-Nicena, é de se esperar que a doutrina do pecado original, a Queda e a Redenção receberiam pouco tratamento pelos Padres Apostólicos. Poderiamos ter mais menções do assunto, se não fosse a escassez de documentos antigos. No entanto, o mesmo se aplica a essas doutrinas complexas como a Trindade e mesmo o cânone do próprio NT que não foi “fechado” até mais tarde no século IV em Hipona e Cartago.
Católicos veem tudo isso como parte de um verdadeiro desenvolvimento da doutrina da Igreja, guiada pelo Espírito Santo da verdade (João 14, 16f; 16,13). Assim, a objeção “os Padres Apostólicos não mencionam o pecado original” tem pouco peso (se houver). A segunda objeção que falei posteriormente a respeito do maniqueísmo parece ser mais válida, uma vez que é ainda sugerida por proeminentes estudiosos protestantes como o liberal Harnack.
OBJEÇÃO (2) – Se Santo Agostinho “desenvolveu” a doutrina de suas crenças maniqueístas anteriores, e não da Sagrada Escritura.
“Foi Agostinho no século V que ‘transformou’ esta idéia em uma doutrina cristã. No entanto, eu afirmo que Agostinho não poderia ter chegado a esta a partir da Escritura, mas sim da sua base de conhecimento gnóstico como maniqueísmo do qual ele tinha sido um devoto por nove anos antes de sua conversão ao cristianismo.”
“Durante 400 anos a Igreja não foi abalada por esse ‘’pecado herdado’, mas, então, esta doutrina medonha foi impingida a uma igreja ingênua e ignorante, trazida à existência através do ensino de Agostinho de Hipona. Ele sendo incapaz de livrar-se de sua falsa doutrina da maniqueísmo trouxe partes dele para a igreja com ele, tornando-se a doutrina da Igreja e, portanto, o casamento de um conceito pagão com a doutrina cristã.”
RESPOSTA
Eu vou ignorar os comentários pejorativos sobre a “igreja ingênua e ignorante” sendo “inpingida”, uma vez que a minha prova anterior nos Padres provam que já existia uma doutrina do pecado original (embora menos desenvolvida antes de Santo Agostinho). O que vou agora responder é a objeção de que Santo Agostinho “inventou” a ideia do Pecado Original de seu passado maniqueísta antes de se tornar um cristão católico.
Vamos, então, expor várias fontes para responder a esta objeção:
“(…) Por conta da semelhança superficial entre a doutrina do pecado original e a teoria maniqueia de nossa natureza ser má, os pelagianos acusaram os católicos e Santo Agostinho de maniqueísmo [ver a Réplica às duas Cartas dos Pelagianos 1:2:4; 5:10; 3:9:25; 4:3]. Em nosso tempo, essa acusação foi reiterada por diversos críticos e historiadores do dogma que foram influenciados pelo fato de que antes de sua conversão Santo Agostinho era maniqueu. Eles não identificam o maniqueísmo com a doutrina do pecado original, mas eles dizem que St. Agostinho, com as reminiscências de seus antigos preconceitos maniqueístas, criou a doutrina do pecado original, desconhecida antes de sua época. Não é verdade que a doutrina do pecado original não aparece nas obras dos Padres pré-agostinianos. Pelo contrário, seu testemunho é encontrado em obras especiais sobre o assunto. Também não pode ser dito como [o liberal historiador protestante Adolph] Harnack sustenta, que o próprio St. Agostinho reconhece a ausência desta doutrina nos escritos dos Padres. St. Agostinho invoca o testemunho de onze Padres, Gregos e Latinos [ver Contra Juliano 2:10:33, os 11 são Irineu de Lião, Cipriano de Cartago, Retício de Autun, Olímpio, bispo da Espanha que escreveu contra os priscilianos, Hilário de Poitiers, Ambrósio de Milão, Gregório de Nazianzo, Papa Inocêncio I, João Crisóstomo, Basílio Magno e Jerônimo; ver Jurgens, vol. 3, p. 144, 147 n. 5]. ‘Infundada também é a asserção de que antes de St. Agostinho esta doutrina era desconhecida para os judeus e para os cristãos; como já demonstramos, ela foi ensinada por São Paulo [em Romanos 5,12-21 que discorrerei depois]. Ela pode ser encontrada no quarto livro de Esdras [chamado de segundo livro, pelos protestantes], um livro escrito por um judeu do primeiro século depois de Cristo, e amplamente lido pelos cristãos. Este livro apresenta Adão como o autor da queda da raça humana (7:48), como tendo transmitido para toda sua posteridade e enfermidade permanente, a malignidade, a má semente do pecado (3:21-22; 4:30). Mesmo protestantes admitem a doutrina do pecado original neste livro e em outros do mesmo período [ referência feita a Sanday e Hastings – Citarei fontes judaicas posteriores quando eu discutir a evidência bíblica a partir dos livros deuterocanônicos, que católicos, ortodoxos e a Igreja primitiva sempre aceitaram como Escritura inspirada]. É, portanto, impossível fazer de Agostinho, que é de um período muito posterior, o inventor da doutrina do pecado original.’ (…)” (Enciclopédia Católica [1913], Volume 11, p. 313)
B.R. Rees, em seu trabalho sobre Pelágio, conclui o mesmo que acima.
“Na construção de sua doutrina do pecado original ao longo de um período de anos, Agostinho, como vimos, não começou com uma -tabula rasa- [ou lousa em branco]: Cipriano, Ambrósio e ‘Ambrosiaster’ todos tiveram, ou pelo menos, sugeriram a idéia da culpa original, a idéia da concupiscência é encontrada em Tertuliano e a identidade seminal em Ambrósio e outros[…] Agostinho não tira sua doutrina do nada nem ele força uma doutrina de sua própria invenção na Igreja Africana. Seus colegas certamente não estavam por esta altura o considerando como ‘le grand porte-la parole de theologie africaine’ [citando Bonner], mas não havia nada para impedi-los de se opor a seus pontos de vista se os consideravam extremos ou mesmo ‘não-ortodoxos’; em vez disso, deram-lhe o seu apoio incondicional ao longo da controvérsia pelagiana. Como [Gerald] Bonner assinalou, não só foi Aurélio, Bispo de Cartago, enunciando uma doutrina agostiniana do pecado original já em 411, no Concílio de Cartago, que condenou Celestio, mas mais de duas centenas de bispos africanos reafirmaram que nos cânones do Concílio realizado, em 418, os dois primeiros dos quais são ‘’un sommaire satisfiant des quatres premieres theses de 411’. existe, portanto, um elemento de continuidade em suas decisões que desmente a qualquer um que tenta sugerir que houve uma súbita mudança de frente sobre o tema do pecado original provocado por Agostinho.” (B.R. Rees, Pelágio [1988], página 64-65)
Kenneth Scott Latourette, um historiador da igreja Batista, diz sobre Santo Agostinho e seu ex-maniqueísmo:
“Agostinho declarou que os primeiros anjos e os homens foram criados racionais e livres, os únicos sesres criados a que isso poderia ser dito. No início, além disso, então Agostinho, fiel a sua base neoplatônica, ensinou que não havia mal em qualquer lugar. O que chamamos de mal, ele disse, é apenas a ausência [ou uma privação] do bem. Nisso, ele revoltou-se contra o seu estágio maniqueísta com a sua crença em um dualismo primordial, com um mal, bem como um bom princípio na natureza. O mal, como ele a via é a degradação [ou corrupção de bem], um declínio do próprio estágio de alguém. Sua capacidade de livre escolha racional, que então Agostinho passou a deter, é ao mesmo tempo mais de alta qualidade do homem, um dom de Deus destina-se ao seu próprio bem e seu perigo principal.” (A History of Christianity [1953], página 177)
O ensinamento de Santo Agostinho e mais propriamente de São Tomás de Aquino é que o pecado original é uma “privação da graça” negativa (veja o Catecismo 404-405, 417), resultando em uma natureza humana caída, e não alguma substância má transmitida no momento da concepção (o que seria dualismo maniqueísta) é uma distinção importante a fazer e, uma vez compreendido, ajuda a resolver as dificuldades envolvidas em outras objeções.
Philip Schaff, um proeminente historiador da igreja protestante do século XIX, apresenta a acusação de maniqueísmo que foi arrasada pelos pelagianos:
“Se o pecado original se propaga em geração, se houver uma – tradux peccati – [transmissão do pecado] e um – malum naturale – [mal natural], então o pecado é substancial, e é ai que se encontra o erro maniqueísta, exceto se nós fizermos de Deus, que é o Pai das crianças, o autor do pecado, enquanto maniqueísmo refere-se do pecado ao diabo, como o pai da natureza humana. Esta imputação foi repetida e enfaticamente instigada pela nítida e clara de visão Juliano [de Eclanum, o bispo Pelagiano]. Mas de acordo com Agostinho toda a natureza é, e sempre permanece, por si só boa, tão longe como é da natureza (no sentido de criatura); o mal é apenas uma corrupção da natureza, os vícios abrem caminho para isso. O Maniqueeos fazem do mal uma substância, Agostinho, apenas um acidente; o primeiro vê isso como um princípio positivo e eterno, o último deriva isso da criatura, e atribui a ele uma existência meramente negativa ou privativa; o primeiro afirma que isso é uma necessidade da natureza, o outro, um ato livre, o primeiro localizalo na matéria, no corpo, o último, na vontade.”
Existe algum mérito em tudo à acusação de que a doutrina do pecado original é a reversão de Santo Agostinho de volta ao seu antigo sistema maniqueísta? Acredito que as afirmações acima de historiadores da Igreja e os próprios escritos de Agostinho refutam essa ideia. Agostinho acreditava firmemente que ele estava derivando sua doutrina do pecado original de São Paulo (e outras passagens da Escritura que vou discutir em detalhe mais adiante).
Pode haver algum mérito para cobrar se você se limitar a estes pontos de vistas de Agostinho sobre sexualidade e teorias de transmissão ao invés do Pecado Original como tal. John Ferguson, em seu tratamento acadêmico sobre Pelágio a partir de uma perspectiva histórica e teológica, escreve sobre Agostinho:
“... durante nove anos, ele foi profundamente influenciado pelo dualismo maniqueísta. O contraste radical do bem com o mal respondia a suas próprias experiências psicológicas; por isso aprofundou sua condenação do mal como algo endêmico, e, talvez, menos feliz, o deixou com uma atitude mórbida no sentido de concupiscência e as relações sexuais… quando Agostinho é questionado quanto à natureza precisa dessa transmissão física [da alma humana], ele usa uma linguagem que sugere que o pecado original é revelado no ato da concupiscência, no fato de que a resposta física do homem para estimulação sexual não parece estar sob o controle de sua vontade. É, talvez, aqui mais do que em qualquer lugar que um crítico moderno se sentiria inclinado a pressionar com força Agostinho. Na verdade, é mais do que um pouco curioso que Agostinho acusa maniqueísmo de minar o senso de responsabilidade moral pessoal por sua doutrina do mal eterno substancial. Pelas ironias do tempo, é essa acusação idêntica que os estudiosos modernos, como Harnack e Ottley, trazem contra a sua própria doutrina do pecado original e depravação humana. Como Juliano de Eclanum viu em seu próprio tempo, ele nunca jogou completamente fora seu passado maniqueísta.” (John Ferguson, Pelágio: Um Estudo Histórico e Teológico [W. Heffer e Sons / AMS Press, 1956/1978], página 53, 164).
A Nova Enciclopédia Católica fala sobre isto no artigo sobre o “ Pecado Original” e a visão de Santo Agostinho das relações conjugais:
“Não pode haver dúvida de que a relação entre um pecado pessoal de um ancestral remoto e uma condição de culpa em um descendente recebeu diferentes nuances de entendimento na história do pensamento cristão. Santo Agostinho era hesitante quando se tratava de decidir se os pais repassavam apenas um corpo ou um corpo e alma, ambos diretamente afetados pelo pecado de Adão (Contra Juliano 5, 4, 17, PL 44: 794). No entanto, a ligação entre pecado original na prole e a concupiscência nos pais é algo que ele afirmou também (Contra Juliano op imperf 02, 45, PL 45: 1161; cf. Nupt et Concup 01, 24, 27, PL 44: 429). Pode-se segurar com Trento por tramissão ‘generatione, non imitatione’ [por geração, não por imitação de Adão], sem ser constrangido a aceitar esse ponto de vista das relações conjugais. A afirmação de que o pecado de Adão afeta o homem antes de seu próprio pecado pessoal não é de forma coincidente com afirmar que ele o contrai por um pecado que seus pais cometem na sua geração ou por algum resultado do pecado presente nele embora seus pais possam realmente não ser culpados.” (Nova Enciclopédia Católica [1967], o volume 10, página 780)
Assim, enquanto Santo Agostinho pode ter tido alguns pontos de vista errados sobre a sexualidade (talvez junto com alguns dos Padres latinos anteriores, ver citações anteriores e as notas de Jurgens) não somos obrigados a aceitar isto. Sua doutrina do pecado original, com base nas Escrituras e na Tradição da Igreja, é o que é afirmado pelos Concílios e o Catecismo, não seus pontos de vista sobre a transmissão.
A próxima objeção também é complicada e lida com a ligeira diferença de ênfase entre os padres latinos e gregos (Oriental)
OBJEÇÃO III – Se a cristandade oriental “nunca” aceitou o Pecado Original
“Enquanto a Igreja Ocidental tornou-se enredada, nisso o ramo oriental da cristandade não era tão crédulo. Dr. Edward Beecher em seu ‘Conflito dos Séculos’ escreveu que a idéia de uma natureza pecaminosa herdada: ‘não é encontrada nos padres antigos, nunca foi dado passagem (aceitação) até o quarto século, nunca foi adotado pela igreja grega.’”
RESPOSTA:
Há aparentemente também algum mérito a essa objeção, embora estas generalizações devam ser devidamente matizadas. Historiador Batista Kenneth Scott Latourette escreve sobre as diferenças sobre ocidente e oriente:
“Em geral, o Oriente, enquanto não pretende negar a graça de Deus, acredita na liberdade da vontade do homem e na capacidade do homem individual para fazer o que Deus ordena. O grande pregador da Igreja do Oriente, João Crisóstomo, por exemplo, insistiu que os homens podem escolher o bem e que quando o fazem a graça vem em seu auxílio para reforçá-los em seus esforços para fazer o que Deus ordena. No Ocidente, no entanto, mesmo antes de o tempo de Agostinho, Tertuliano, Cipriano e Ambrósio haviam declarado o que é geralmente conhecido como pecado original. Ambrósio, por exemplo, ensinou que através do pecado do primeiro homem, Adão, todos descendentes de Adão vieram ao mundo manchados pelo pecado. “Adão pereceu e nele todos nós perecemos”, disse ele. Ele declarou que ninguém é concebido sem pecado e que, portanto, o recém-nascidos tem. Em contraste com Crisóstomo, que sustentava que o homem por sua livre vontade se volta para Deus e que então Deus apoia a vontade do homem, Ambrósio acreditava que a graça de Deus começa a obra da salvação e que, quando a graça iniciou-o, um homem através de sua vontade coopera.” (A History of Christianity [1953], página 177)
O Historiador protestante Philip Schaff descreve as diferenças desta forma:
“(…) Os gregos, em particular, os Padres Alexandrinos, em oposição ao dualismo e ao fatalismo dos sistemas gnósticos, que são contrários a uma necessidade da natureza, colocam grande ênfase na liberdade humana, sobre a indispensável cooperação desta liberdade com a graça divina, enquanto os Padres Latinos, especialmente Tertuliano e Cipriano, Hilário e Ambrósio, guiados mais por suas experiências práticas do que por princípios especulativos, enfatizaram o pecado e a culpa hereditárias do homem e a soberania da graça de Deus, sem contudo, negar a liberdade e responsabilidade individuais. A igreja grega aderiu ao seu sinergismo subdesenvolvido, que controla a vontade humana e a graça divina os fatores no trabalho de conversão. A igreja latina, sob a influência de Agostinho, avançou para o sistema de um monergismo divino, que dá a Deus toda a glória, e se faz da liberdade um resultado da graça. (…)” (História da Igreja Cristã, v. 3, p. 786).
Além disso, vou citar dois teólogos ortodoxos, Fr. John Meyendorff, um estudioso moderno, e Nicolau Cabasilas, um padre Oriental do século 14. Você pode comparar isto com o que fala o Padre Jurgens nos comentários anteriores.
A partir da Teologia bizantina de Meyendorff (1974), sobre “Pecado Original”:
“A compreensão patrística grega do homem nunca nega a unidade da humanidade ou substitui-a com um individualismo radical. A doutrina paulina dos dois Adãos [cf. 1 Cor 15, 22], bem como o conceito platônico do homem ideal, leva Gregório de Nissa a entender Gênesis 1, 27 – “Deus criou o homem à sua imagem” – como se referindo à criação da humanidade como um todo [De opif hom 16; PG 44: 185B]. É óbvio, portanto, que o pecado de Adão também deve estar relacionado com todos os homens, assim como a salvação trazida por Cristo é a salvação para toda a humanidade, mas nem o pecado original, nem salvação podem ser realizados na vida de um indivíduo sem envolver a sua responsabilidade pessoal e livre […] Um número de autores bizantinos, incluindo [Patriarca] Fócio, entendeu a – eph ho – significar “porque” [de Romanos 5:12 “porque todos pecaram”] e não viam nada no texto Paulino além de uma semelhança moral entre Adão e outros pecadores, sendo a morte a retribuição normal para o pecado. Mas há também o consenso da maioria dos Padres Orientais, que interpretam Romanos 5, 12 em estreita ligação com 1 Coríntios 15, 22 – entre Adão e seus descendentes há uma solidariedade NA MORTE assim como existe uma solidariedade na VIDA entre o Senhor ressuscitado e os baptizados […] a sentença [de Romanos 5, 12], então pode ter um significado que parece improvável para um leitor treinado em Agostinho, mas que é de fato o significado que a maioria dos Padres gregos aceitaram:
‘Como o pecado entrou no mundo por um homem e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todos os homens; e por causa da morte, todos os homens pecaram… ‘
Há de fato um consenso nas tradições patrísticas e bizantinas gregas na identificação da herança da Queda como uma herança essencialmente de mortalidade, em vez de pecado, pecado sendo uma mera consequência da mortalidade.” (John Meyendorff, Teologia bizantina: Tendências Históricas e Temas Doutrinários [NY: Fordham University Press, 1974], página 143-145)
Meyendorff afirma ainda que São João Crisóstomo, o maior dos primeiros Padres Orientais, “especificamente nega a imputação do pecado aos descendentes de Adão” (página 145) e refere-se ao comentário de Crisóstomo em Romanos, capítulo 10, que eu citei anteriormente a partir de Fr. Jurgens. As passagens pertinentes de Crisóstomo seriam:
“O que significa: “Porque nele todos pecaram”? Pela queda e por causa dele, apesar de não terem comido do fruto da árvore, seus descendentes todos se tornaram mortais […] Daí se conclui que não foi o pecado por transgressão, mas o pecado de desobediência cometido por Adão que arruinou tudo. E como se comprova? Porque antes da Lei todos morriam.” (Homilia10 sobre a Epístola aos Romanos).
Parece que Crisóstomo equaliza a herança de Adão, como a pena de morte, ao invés de (ou talvez junto com) um pecado herdado (que nós “pecamos em Adão”, como Fr. Jurgens tenta argumentar).
Com relação aos efeitos de batismo infantil, Fr. Meyendorff continua:
“O contraste com a tradição ocidental quanto a este ponto é trazido em foco quando os autores orientais discutem o significado do batismo. Os argumentos de Agostinho em favor do batismo infantil foram retirados do texto dos credos (batismo para “a remissão dos pecados”) e de seu entendimento de Romanos 5, 12. Crianças nascem pecadoras, não porque pecaram pessoalmente, mas porque pecaram “em Adão”; seu batismo é, portanto, também um batism ‘para a remissão dos pecados’. Ao mesmo tempo, um contemporâneo oriental de Agostinho, Teodoreto de Ciro, nega peremptoriamente que a fórmula de credo ‘para a remissão dos pecados’ é aplicável ao batismo infantil. Para Teodoreto, de fato, a ‘remissão dos pecados’ é apenas um efeito colateral do batismo, totalmente verdadeiro em casos de batismo de adultos, o que era a norma, é claro, no início da Igreja e que de fato ‘remove pecados’. Mas o principal significado do batismo é mais largo e mais positivo:
‘Se o único significado do batismo fosse a remissão dos pecados, por que nós batizamos as crianças recém-nascidas que ainda não provaram do pecado? Mas o mistério [do batismo] não se limita a isso; é uma promessa de maiores e mais perfeitos dons. Nele estão as promessas de prazeres futuros; é um tipo de ressurreição futura, uma comunhão com a paixão do mestre, uma participação na Sua ressurreição, um manto de salvação, uma túnica de alegria, um manto de luz, ou, ao contrário, é a própria luz.’ [Teodoreto de Ciro, Haeret fabul compendium 05,18; PG 83: 512]
Assim, a Igreja batiza crianças, não para ‘remir’ seus pecados ainda não existentes, mas, a fim de dar-lhes uma nova e imortal vida, que seus pais mortais não conseguem dar-lhes. A oposição entre os dois Adãos é visto em termos não de culpa e perdão, mas de morte e vida […] comunhão no corpo ressuscitado de Cristo, a participação na vida divina, a santificação através da energia de Deus, que penetra verdadeira humanidade e restaura-a ao seu estado ‘natural’ , ao invés de justificação, ou remissão de culpa herdada – estas estão no centro da compreensão bizantina do Evangelho cristão.” (Meyendorff, Teologia Bizantina, página 145-146)
Então, em resumo, os ortodoxos enfatizam o ensino “positivo” do Batismo como novo nascimento (João 3, 3-5) e parecem jogar para baixo o aspecto “negativo” do Batismo como lavando a culpa herdada do pecado original. A fórmula de credo “um só batismo para a remissão dos pecados” (Atos 2, 38) é plenamente aplicável aos adultos que cometem pecados pessoais, mas nos ortodoxos é entendida de forma diferente para crianças.
No entanto, em uma tradução grega de Nicolau Cabasilas, um teólogo oriental do século 14, se aproxima do ensinamento agostiniano na sua obra “A vida em Cristo”, como ele explica no livro dois:
“Não foi ontem, nem anteontem que o mal começou, mas no momento em que começamos a existir. Assim que Adão desprezou seu bom Mestre, por acreditar no maligno foi pervertido em sua vontade, sua alma perdeu a saúde e a felicidade. A partir daquele momento seu corpo que unido à sua alma estava em harmonia com ele, foi pervertido com ela como um instrumento nas mãos do artesão. Porque nossa natureza foi espalhada e nossa raça procriada, uma vez que procedeu do primeiro corpo. De modo que a maldade também, como qualquer outra característica natural, foi transmitida para os corpos que procediam daquele corpo… Segue-se, portanto, que a alma de cada homem herdou a maldade do primeiro Adão. Espalhou-se de sua alma ao seu corpo, e do seu corpo para aqueles que vieram dele, e destes corpos, para as almas.” (Nicolau Cabasilas, A Vida em Cristo [Imprensa do Seminário de São Vladmir, 1974], traduzido do grego por Carmino J. de Catanzaro, p. 76-77)
Agora pode ser que este livro ortodoxo do século 14, como é traduzido do grego, não é tão tecnicamente e teologicamente preciso quanto Meyendorff, mas o citado acima certamente parece ser a doutrina católica clássica do pecado original, sem a ênfase sobre a privação da graça, santidade e filiação como elaborada por Agostinho e Tomás de Aquino.
“Este é, então, o velho de quem recebemos, como uma semente do mal de nossos antepassados como nós viemos à existência. Nós não vimos sequer um dia puro do pecado, nem será que alguma vez respirou além da maldade, mas, como o salmista diz: ‘nós andávamos desgarrados do útero, erramos desde nosso nascimento’ [Salmo 58, 3]. Nós nem sequer ficamos de pe ainda neste fardo do pecado de nossos antepassados, nem somos contentes com os males que herdamos […] não houve intervalo do mal, mas a doença progrediu continuamente […] É a partir desses laços terríveis, desta punição, doença e morte, que a lavagem de batismo nos liberta. Isto ele faz facilmente que não há necessidade de tomar um longo tempo, tão perfeitamente que não um traço é deixado. nem meramente nos libertou da maldade, ele também confere a condição oposta. Por causa de sua morte, o próprio Mestre deu-nos o poder de matar o pecado, e porque Ele voltou à vida Ele nos fez herdeiros da nova vida. Sua morte, por ser uma morte mata a vida má, por ser uma grande penalidade que paga a pena por pecados para que cada um de nós foi responsável por nossas más ações. Desta forma, a lavagem do batismo nos torna puros de todo hábito e ação do pecado, no qual que somos feitos participantes da saúde vivificante de Cristo.” (Cabasilas, A Vida em Cristo, página 77-78)
Meyendorff, ao citar Cabasilas, resume o ponto de vista ortodoxo:
“Como vimos, a doutrina patrística [oriental] da salvação é baseada, não na ideia de culpa herdada de Adão e da qual o homem é aliviado em Cristo, mas em uma compreensão mais existencial de ambas humanidade ‘caída’ e ‘resgatada’. Do ‘velho Adão’, através de seu nascimento natural, o homem herda uma forma defeituosa de vida – vinculada pela mortalidade, inevitavelmente pecador, sem liberdade fundamental do ‘príncipe deste mundo’. A alternativa a este estado ‘caído’ é ‘vida em Cristo’, o que é verdade e da vida humana ‘natural’, o dom de Deus que foi dado no mistério da Igreja. O ‘Batismo’, escreve Nicholas Cabasilas, ‘nada mais é que a nascer de acordo com Cristo e para receber o nosso próprio ser e natureza’. ‘A ênfase, tanto no rito do batismo e nos comentários teológicos do período bizantino, é no sentido positivo do batismo como ‘novo nascimento’. ‘O dia salutar do Batismo’, Cabasilas continua, ‘torna-se um dia de nome aos cristãos, porque então eles são formados e em transformados, e nossa vida disforme e indefinidoa recebe forma e definição.’ Mais uma vez de acordo com Cabasilas todas as designações das escrituras e da tradição sobre o batismo apontam para o mesmo significado positivo: ‘Nascimento’ e ‘novo nascimento’’, ‘remodelamento’ e ‘selo’, bem como ‘batismo’ e ‘vestuário’ e ‘unção’,dom’ ‘iluminação’ e ‘lavagem’ – tudo isso significa uma coisa: que o rito é o começo de existência para aqueles que estão e vivem de acordo com Deus.” (Meyendorff, Teologia bizantino, página 193)
Católicos concordam com todos esses efeitos positivos do Sacramento do Batismo (veja Catecismo 1213-1284), mas também enfatizam Pecado Original:
“Por nascerem com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original, também as crianças precisam do novo nascimento no Batismo, a fim de serem libertadas do poder das trevas e serem transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus, para a qual todos os homens são chamados. A gratuidade pura da graça da salvação é particularmente manifesta no Batismo das crianças. A Igreja e os pais privariam então a criança da graça inestimável de tomar-se filho de Deus se não lhe conferissem o Batismo pouco depois do nascimento.” (Catecismo da Igreja Católica, Parágrafo 1250)
“Pelo Batismo, todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados pessoais, bem como todas as penas do pecado. Com efeito, naqueles que foram regenerados não resta nada que os impeça de entrar no Reino de Deus: nem o pecado de Adão, nem o pecado pessoal, nem as seqüelas do pecado, das quais a mais grave é a separação de Deus.” (Catecismo da Igreja Católica, Parágrafo 1263)
Finalmente, teminamos com um comentário de Meyendorff sobre Mariologia e a devoção e piedade mariana, que é talvez ainda mais robusta entre os Gregos:
“Citações podem ser facilmente multiplicadas, e elas dão indicações claras de que a piedade Mariológica dos bizantinos, provavelmente, levaria-os a aceitarem a definição do dogma da Imaculada Conceição de Maria, como foi definido em 1854 [pelo Papa Pio IX], se ao menos eles tivessem compartilhado a doutrina ocidental do pecado original.” (Meyendroff, Teologia Bizantina, página 148)
Vemos, assim, quão importante é uma compreensão correta do estado pecaminoso em que nascemos, que os Padres ocidentais e Igreja Latina desenvolveram mais plenamente a partir das premissas teológicas aceitas pelos Padres gregos e pelo próprio São Paulo (Romanos 5).
PARA CITAR
Phil Vaz. Pais da Igreja e o Pecado Original. Disponível em <http://apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/809-pais-da-igreja-e-o-pecado-original >. Desde: 03/08/2015.