Domingo, Maio 5, 2024

Pais da Igreja e O Livre Arbítrio

 

INTRODUÇÃO


Assim João Calvino (Pai da reforma protestante e propagador da  doutrina heterodoxa da dupla predestinação) resume o pensamento dos padres da Igreja sobre o Livre Arbítrio:

 Além disso, mesmo que os gregos, acima do resto, e entre eles especialmente Crisóstomo, exaltam a capacidade da vontade humana, mas todos os antigos, salvo Agostinho, de algum modo diferem, vacilam, ou falam confusamente sobre este assunto, que quase nada pode ser determinado derivado de seus escritos.” (João Cavino – Institutas Livro II, Capítulo II)

Os padres da Igreja não eram“confusos, vacilantes, e contraditórios”. De fato, sobre este assunto, eles foram muito claros, e há um consenso entre eles sobre o livre-arbítrio humano. Dois proeminentes historiadores protestantes da igreja primitiva, Philip Schaff e JND Kelly, escreveram, respectivamente:

 Os padres gregos e especialmente os Alexandrinos, em oposição ao dualismo e fatalismo dos sistemas gnósticos, que faziam do mal uma necessidade da natureza, davam grande ênfase na liberdade humana, e sobre a indispensável cooperação desta liberdade com a graça divina; enquanto os pais latinos, especialmente Tertuliano e Cipriano, Hilário e Ambrósio, guiados mais por sua experiência prática do que por princípios especulativos, enfatizaram o pecado hereditário e culpa hereditária do homem, e a soberania da graça de Deus, sem, contudo, negar a liberdade e individual prestação de contas. A igreja grega aderiu ao seu sinergismo subdesenvolvido, que coordena a vontade humana e graça divina como fatores no trabalho de conversão; a Igreja Latina, sob a influência de Agostinho, avançou para o sistema de um monergismo divino, que dá a Deus toda a glória, e faz-se a liberdade de um resultado da graça; enquanto Pelagianismo, pelo contrário, representando o princípio de um monergismo humano, que atribui o mérito principal de conversão ao homem, e reduz graça a um mero auxiliar externo. Após a morte de Agostinho, no entanto, o sistema intermediário de Semipelagianismo, semelhante ao sinergismo grego, tornou-se predominante no Ocidente.” (Philip Schaff, História da Igreja Cristã Vol.III, Capítulo 9, seção.146)

 Um ponto sobre o qual eles (os Padres Orientais) foram todos concordantes foi que a vontade do homem é livre; nós somos responsáveis por nossos atos. Este foi um artigo vital em sua propaganda anti-maniqueísta, mas levantou a questão da necessidade da graça divina do homem. Esse problema é geralmente colocado nos termos que a discussão posterior agostiniana é familiar, e assim viu que sua posição era que a graça e o livre arbítrio cooperam juntos. Nossa salvação vem, disse Gregório Nazianzeno, tanto de nós mesmos quanto de Deus. Se a ajuda de Deus é necessária para fazer o bem e se a boa vontade em si vem Dele, é igualmente verdade que a iniciativa cabe ao livre arbítrio do homem […]Embora citamos apenas esses dois (Ambrósio e Ambrosiaster), há pouca dúvida de que seus pontos de vista eram representativos (dos Padres Ocidentais). Sobre a questão relacionada a graça, as verdades paralelas do livre-arbítrio do homem e sua necessidade da ajuda de Deus foram mantidos, embora possamos discernir a crescente ênfase que está sendo colocada sobre o último. “Temos de ser e dirigidos”, escreveu Hilário, “por Sua graça”; mas ele deixa claro que o movimento inicial em direção de Deus reside em nossa própria disposição. A misericórdia de Deus, ele aponta em outro lugar, não exclui o desejo do homem, e  a própria  vontade homem deve assumir a liderança em tirá-lo do pecado. “É de Deus chamar”, comenta Jerônimo”, e de nós acreditar”. A parte da graça, ao que parece, é aperfeiçoar o que a vontade determinou livremente; mas a nossa vontade é apenas nossa por misericórdia de Deus.”(J.N.D. Kelly, Early Christian Pg. 352, 356)

Como se pode ver facilmente, a conclusão de Calvino sobre a evidência literária está incorreta. Além disso, Calvino está sugerindo algo que é historicamente impossível: Que os primeiros teólogos, incluindo aqueles que supostamente conheciam pessoalmente os apóstolos, e incluindo aqueles que eram uma ou duas gerações posteriores, erraram completamente nesta questão muito central. Ou os próprios apóstolos foram confusos em sua comunicação, ou os teólogos da igreja primitiva eram tão preguiçosos em ouvi-los, que esta verdade central foi perdida rapidamente.

 

O CONSENSO UNÂNIME DOS PADRES SOBRE O LIVRE ARBÍTRIO


Abaixo estão algumas das muitas passagens dos primeiros teólogos que demonstram que Calvino estava enganado.

INÁCIO DE ANTIOQUIA (110 D.C)


Visto, então, que todas as coisas têm um fim, é-nos colocada diante de nós a vida, fruto da nossa observância [aos preceitos de Deus], e a morte, como resultado da desobediência; todos – conforme a escolha que fizer – encontrarão seu próprio lugar, permitindo escapar da morte e optar pela vida. Observo que duas características diferentes são encontradas nos homens: a verdadeira moeda e a espúria. O verdadeiro fiel é o tipo verdadeiro de moeda, cunhada pelo próprio Deus. O infiel, por sua vez, é uma moeda falsa, ilegal, espúria, falsificada, cunhada não por Deus, mas pelo diabo. Não estou querendo dizer que existem duas naturezas humanas diferentes; existe apenas uma única humanidade que, às vezes, pertence a Deus, e outras vezes, ao diabo. Se alguém é verdadeiramente religioso, será também homem de Deus; mas, se não for religioso, será homem do diabo, não por sua natureza, mas por sua própria escolha.(Epístola Aos Magnésios Versão Longa – Capítulo V)

A EPÍSTOLA DE MATETES A DIOGNETO


 Ao contrário, enviou-o com clemência e mansidão, como um rei que envia seu filho. Deus o enviou, e o enviou como homem para os homens; enviou-o para nos salvar, para persuadir, e não para compelir, pois em Deus não há violência.” (Mathetes – Epistola a Diogneto 7, 3)

SÃO JUSTINO MÁRTIR (165 D.C)


Do que dissemos anteriormente, ninguém deve tirar a conclusão de que afirmamos que tudo o que acontece, acontece por necessidade do destino, pelo fato de que dizemos que os acontecimentos foram conhecidos de antemão. Por isso, resolveremos também essa dificuldade. Nós aprendemos dos profetas e afirmamos que esta é a verdade: os castigos e tormentos, assim como as boas recompensas, são dadas a cada um conforme as suas obras. Se não fosse assim, mas tudo acontecesse por destino, não haveria absolutamente livre-arbítrio.Com efeito, se já está determinado que um seja bom e outro mau, nem aquele merece elogio, nem este, vitupério. Se o gênero humano não tem poder de fugir, por livre determinação, do que é vergonhoso e escolher o belo, ele não é irresponsável de nenhuma ação que faça. Mas que o homem é virtuoso e peca por livre escolha, podemos demonstrar pelo seguinte argumento: Vemos que o mesmo sujeito passa de um contrário a outro. Ora, se estivesse determinado ser mau ou bom, não seria capaz de coisas contrárias, nem mudaria com tanta freqüência. Na realidade, nem se poderia dizer que uns são bons e outros maus, desde o momento que afirmamos que o destino é a causa de bons e maus, e que realiza coisas contrárias a si mesmo, ou que se deveria tomar como verdade o que já anteriormente insinuamos, isto é, que virtude e maldade são puras palavras, e que só por opinião se tem algo como bom ou mau. Isso, como demonstra a verdadeira razão, é o cúmulo da impiedade e da iniqüidade. Afirmamos ser destino ineludível que aqueles que escolheram o bem terão digna recompensa e os que escolheram o contrário, terão igualmente digno castigo. 8 Com efeito, Deus não fez o homem como as outras criaturas. Por exemplo: árvores ou quadrúpedes, que nada podem fazer por livre determinação. Nesse caso, não seria digno de recompensa e elogio, pois não teria escolhido o bem por si mesmo, mas nascido já bom; nem, por ter sido mau, seria castigado justamente, pois não o seria livremente, mas por não ter podido ser algo diferente do que foi.” (Primeira Apologia – Capítulo 43)

Para que não tenhais pretexto de dizer que era necessário que Cristo fosse crucificado e que em vosso povo houvesse transgressores da lei e que as coisas não podiam ser diferentes, eu me adiantarei para dizer em poucas palavras que Deus, querendo que anjos e homens seguissem o bem, dotados de razão para conhecer de onde vêm e a quem devem o ser que antes não tinham, e lhes impôs uma lei, pela qual serão julgados, caso não tenham agido conforme a reta razão. Portanto, por nossa própria culpa seremos convencidos de ter sido maus, homens e anjos, se antes não fizermos penitência. Contudo, se a palavra de Deus anuncia absolutamente que alguns anjos e homens serão castigados, isso foi predito porque ele de antemão conheceu que seriam maus e não se arrependeriam, não, porém, porque o próprio Deus assim os fizesse. De modo que, se fizerem penitência, todos os que quiserem poderão alcançar de Deus a misericórdia” (Diálogo com Trifão- Capítulo 141)

De fato, do mesmo modo como no princípio nos fez do não ser, assim também cremos que àqueles que escolheram o que lhe é grato, concederá a incorruptibilidade e a convivência com ele, como prêmio dessa mesma escolha. Com efeito, ser criados no princípio não foi mérito nosso; mas agora ele nos persuade e nos conduz à fé para que sigamos o que lhe é grato, por livre escolha, através das potências racionais, com que ele mesmo nos presenteou.(Apologia I, 10).

Com efeito, tendo Deus criado homens e anjos dotados de livre-arbítrio e autonomia, quis que cada um fizesse aquilo para o qual foi por ele capacitado e, caso escolhessem o que lhe é agradável, iria mantê-los isentos de morte e castigo. Caso, porém, cometessem o mal, castigaria cada um como lhe aprouvesse.” (Diálogo com Trifão – Capítulo 88)

Todavia, como ele sabia que era coisa boa, criou os anjos e os homens livres para realizar o bem e determinou os tempos até o momento que ele sabe que será bom eles possuírem livre-arbítrio. E porque igualmente considerou bom, estabeleceu julgamentos universais e particulares, embora sem atentar contra a liberdade.” (Diálogo com Trifão – Capítulo 102)

No princípio, ele criou o gênero humano racional, capaz de escolher a verdade e praticar o bem, de modo que não existe homem que tenha desculpa diante de Deus, pois todos foram criados racionais e capazes de contemplar a verdade.” (I Apologia 28)

Também não dizemos que os homens agem ou sofrem por necessidade do destino, mas que cada um age bem ou peca por sua livre determinação. Acrescentamos ainda que, por obra dos perversos demônios, homens bons, como Sócrates e outros semelhantes, foram perseguidos e aprisionados, e, ao contrário, Sardanapalo, Epicuro e outros de sua laia viveram, ao que parece, na abundância, glória e felicidade. 4 Não entendendo isso, os estóicos disseram que tudo acontece por necessidade do destino. 5Mas não é assim. No princípio, Deus criou livres tanto os anjos como o gênero humano e, por isso, receberam com justiça o castigo de seus pecados no fogo eterno.” (II Apologia 7)

 

 

TERTULIANO (110-165 d.C)


 “… não é parte de uma boa e sólida fé se referir todas as coisas à vontade de Deus…como fazer-nos não conseguir entender que há algo em nosso poder.”(Exortação sobre a castidade, 2)

Acho, então, que o homem foi constituído gratuitamente por Deus.Ele era dono de sua própria vontade e poder…O homem é livre,com uma vontade, quer para a obediência ou resistência”. (Contra Marcião Livro II, Capítulo 6)

 TACIANO O SÍRIO


Entretanto, o Verbo, antes de criar os homens, foi artífice dos anjos, e algumas criaturas foram feitas livres, sem ter em si a natureza do bem (que não existe senão em Deus), mas que se realiza através dos homens, graças à liberdade de escolha. Desse modo, o mau é castigado justamente, pois se tornou mau por sua própria culpa; o justo é merecidamente louvado por suas obras, pois não transgrediu a vontade de Deus, embora por seu livre-arbítrio pudesse fazer isso. Essa é a nossa doutrina sobre os anjos e os homens.” (Discurso contra os Gregos Capítulo VII)

Nós não fomos criados para a morte, mas morremos por nossa própria culpa. A liberdade nos deixou; nós que éramos livres, nos tornamos escravos; fomos vendidos pelo pecado. Deus não fez nada mau; fomos nós que produzimos a maldade; nós que a produzimos, porém somos também capazes de recusá-la.”  (Discurso contra os Gregos Capítulo IX)

 ATENÁGORAS (177 D.C)


 Do mesmo modo, porém, que os homens têm livre-arbítrio podem optar pela virtude e pela maldade – pois se não estivesse em seu poder a maldade e a virtude, não honraríeis os bons nem castigaríeis os maus, quando uns se mostram diligentes e outros desleais naquilo que lhes confiais -, assim também os anjos.”(Petição em Favor dos Cristãos – XXIV).

IRINEU DE LIÃO (202 D.C)


 Não é, portanto, diverso Aquele que cria a palha daquele que cria o trigo, mas único e idêntico, e será ele o juiz, isto é, o que os separará. Contudo, o trigo e a palha são seres sem alma nem inteligência e o que são é por sua própria natureza que o são; o homem, porém, é racional e por isso semelhante a Deus; criado livre e senhor de seus atos é para si mesmo a causa de ser ora palha ora trigo. Por isso será justamente condenado, porque, racional que é, abandonou a reta razão, e vivendo como os irracionais contrariou a justiça de Deus, entregando-se a todo espírito terreno e tornando-se escravo de toda voluptuosidade; como diz o salmista: ‘O homem que era tão honrado não entendeu, rebaixou-se ao nível dos animais irracionais e tornou-se semelhante a eles’(Contra as Heresias Livro IV Capítulo 4, 33)

37,1. As palavras que diz: “Quantas vezes quis reunir os teus filhos e não quiseste”, ilustram bem a antiga lei da liberdade do homem, porque Deus o fez livre desde o início, com a sua vontade e a sua alma para consentir aos desejos de Deus sem ser coagido por ele. Deus não faz violência, e o bom conselho o assiste sempre, e por isso dá o bom conselho a todos, mas também dá ao homem o poder de escolha, como o dera aos anjos, que são seres racionais, para que os que obedecem recebam justamente o bem, dado por Deus e guardado para eles enquanto os desobedientes serão justamente frustrados neste bem e sofrerão o castigo merecido. Pois Deus, na sua bondade, lhes dera o bem, mas eles não o guardaram com diligência e não o julgaram precioso e até desprezaram a excelência da sua bondade. Abandonando e recusando o bem incorrerão no justo juízo de Deus, como o testemunha o apóstolo Paulo na carta aos Romanos, quando diz: “Será que desprezas a riqueza de sua bon-dade, da paciência e da generosidade, desconhecendo que a bondade de Deus te convida à conversão? Pela teimosia e dureza de coração amontoas ira contra ti mesmo para o dia da ira e da revelação do justo julgamento de Deus”. “A glória e a honra, diz, são para todos os que fazem o bem”.  Portanto, Deus ofereceu o bem, como o testemunha o Apóstolo na carta mencionada, e os que o praticam receberão glória e honra por tê-lo feito, quando podiam não fazê-lo; os que não o fazem receberão o justo julgamento de Deus por não ter feito o bem que podiam fazer.

37,2. Se, por natureza, alguns fossem bons e outros maus, nem aqueles seriam louváveis por serem bons, porque nasceram assim, nem estes seriam condenáveis porque foram feitos assim. Mas como todos são da mesma natureza, capazes de possuir e operar o bem e capazes de perdê-lo e de não fazê-lo, os que escolheram e perseveraram no bem recebem digno testemunho por isso, e são justamente louvados pelas pessoas sensatas — e muito mais por Deus — os outros são repreendidos e recebem a merecida infâmia por terem recusado o bem e o justo. Por isso os profetas exortavam os homens a praticar a justiça e a fazer o bem, como abundantemente demonstramos, porque está em nós, mas visto que pela nossa negligência nos esquecemos facilmente e precisamos de bom conselho, o bom Deus nos deu bom conselho por meio dos profetas.

37,3. Por isso o Senhor diz: “Que a vossa luz brilhe diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”. E: “Tomai cuidado para que os vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”. E: “Estejai com os rins cingidos e com as lâmpadas acesas e semelhantes a homens que esperam o seu senhor voltar da festa de casamento para que logo que chegar e bater lhe abram. Feliz o servo que o senhor encontrar assim, na sua volta”. E ainda: “O servo que conhece a vontade do seu dono e não a cumpre, receberá muitas chicotadas”. E: “Por que me dizeis: Senhor, Senhor! e não fazeis o que vos digo?” E ainda: “Se um servo diz em seu coração: O meu dono está atrasando e começa a bater nos seus companheiros, a comer, a beber e a embriagar-se, virá o dono num dia em que não o espera, prendê-lo-á e lhe dará a sua parte com os hipócritas”.E todas as outras coisas que mostram o livre arbítrio do homem e que Deus o instrui com o seu conselho, exortando-nos à submissão a ele, precavendo-nos da incredulidade, mas sem nos obrigar com a violência.

37,4. É possível também não seguir o Evangelho, se alguém assim quiser, contudo não é conveniente. A desobediência a Deus e a recusa do bem estão em poder do homem, mas comportam prejuízo e castigo não indiferentes. Por isso Paulo diz: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”,indicando a liberdade do homem pela qual tudo lhe é lícito, pois Deus não o obriga e mostrando “o que não convém” para que não abusemos da liberdade a fim de encobrir a malícia: isto não convém. E diz ainda: “Cada um diga a verdade com seu próximo”. E: “Não saia de vossa boca nenhuma palavra má, indecente, picante ou maliciosa, são coisas inconvenientes; em vez disso, dêem graças a Deus”. E: “Há tempo, éreis trevas, agora, porém, sois luz no Senhor: portai-vos honestamente como filhos da luz, não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes”. “Alguns de vós foram isso, mas fostes lavados, santificados no nome de nosso Senhor”.Se não dependesse de nós o fazer e o não fazer, por qual motivo o Apóstolo, e bem antes dele o Senhor, nos aconselhariam a fazer algumas coisas e a nos abster de outras? Sendo, porém, o homem livre na sua vontade, desde o princípio, e livre é Deus, à semelhança do qual foi feito, foi-lhe dado, desde sempre, o conselho de se ater ao bem, o que se realiza pela obediência a Deus.

37,5. Não somente nas ações, mas também na fé, o Senhor deixou livre e independente o arbítrio do homem. Ele disse: “Seja-te feito segundo a tua fé”, mostrando que a fé é própria do homem, pois tem o poder de decidir. E ainda: Tudo é possível para quem crê. E mais: “Vai, e te seja feito conforme acreditaste”. E todos os textos análogos que mostram o homem livre em relação a fé. Por isso “aquele que crê nele tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho, não terá a vida eterna,mas a ira de Deus ficará sobre ele”. Segundo este princípio, indicando ao homem seu verdadeiro bem e afirmando ao mesmo tempo a sua liberdade de arbítrio e de poder, o Senhor dizia a Jerusalém:“Quantas vezes quis reunir os teus filhos, como a galinha recolhe os pintinhos debaixo das asas, e não quiseste”. “Eis por que a vossa casa será deixada deserta”.

37,6. Os que dizem o contrário introduzem um Senhor impotente e incapaz de fazer o que quiser ouignaro dos que por natureza são terrenos, como dizem, e não podem receber a sua incorruptibilidade.Então, se diz, não deveria ter criado nem anjos que pudessem desobedecer, nem homens que logo lhe fossem ingratos, por serem racionais, capazes de discernimento e de julgamento,mas como os seres irracionais ou os inanimados que não podem fazer nada por sua vontade, que são levados ao bem pela necessidade ou pela força, sujeitos a uma única tendência e a um único comportamento, inflexíveis e sem discernimento, que não podem ser diferentes do que foram feitos.Desta forma, nem o bem seria atraente, nem a união com Deus seria muito apreciada, nem muito desejado o bem que chegasse sem esforço próprio, sem preocupação, sem procura, por acontecer espontaneamente e ser inerente ao homem. Então os bons já não teriam nenhum merecimento, pois são assim mais por natureza do que pela sua vontade, possuindo o bem automaticamente e não por livre escolha, nem entenderiam a excelência do bem como não gozariam dele. Que alegria do bem seria possível para os que não o conhecem? Qual glória para os que não se esforçaram por tê-lo? Qual coroa, finalmente, para os que não a conquistaram como vencedores da luta?

37,7. Por isso o Senhor disse que o reino dos céus é objeto de violência e são os violentos que se apossam dele, isto é, os que pela violência e pela luta, pela vigilância e perseverança se apossam dele. É por isso que também o apóstolo Paulo diz aos coríntios: “Não sabeis que os que correm no estádio, correm todos, mas um só ganha o prêmio? Correi, portanto, de maneira a consegui-lo. Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível, nós, porém, para ganhar uma coroa imperecível. Quanto a mim é assim que corro, não ao incerto, é assim que pratico o pugilato, mas não como quem golpeia o ar; encho de livor o meu corpo e reduzo-o à servidão, para que, depois de ter pregado aos outros eu mesmo não seja reprovado”. Portanto, como bom lutador nos anima à luta pela incorruptibilidade, de modo que sejamos coroados e apreciemos a coroa por nós conquistada com a luta e não oferecida de graça. Quanto maior é o esforço para obtê-la, tanto mais para nós é preciosa, e quanto mais é preciosa tanto mais a amamos: não se amam da mesma maneira as coisas encontradas por acaso e as encontradas com grande fadiga.Para nós era mais importante amar a Deus, por isso o Senhor nos deu e o Apóstolo transmitiu este ensinamento: encontrar Deus pela luta. Por outro lado, o nosso bem seria incompreendido se não fosse conseguido a custa de esforço. A visão não nos seria tão desejável se não conhecêssemos o grande mal que é a cegueira; a saúde torna-se mais preciosa pela experiência da doença; assim a luz pela comparação com as trevas, a vida com a morte. Assim o reino celeste é mais precioso para os que conheceram o terreno. Quanto mais precioso é tanto mais o amamos e quanto mais o amamos tanto mais seremos gloriosos junto de Deus.

O Senhor permitiu tudo isso para nós a fim de que fôssemos instruídos em tudo e permanecêssemos para sempre fiéis em todas as coisas e radicados em seu amor, tendo aprendido a amar a Deus como homens racionais; Deus se mostrou magnânimo diante da apostasia do homem e o homem, por sua vez, aprendeu com ela, como diz o profeta: “A tua apostasia te instruirá”.Desta maneira Deus tudo dispôs para a perfeição do homem e para a atuação e revelação das suas economias, a fim de mostrar a sua bondade e para que se cumpra a justiça e a Igreja seja configurada à imagem de seu Filho, e finalmente para que o homem formado por tanta experiência se torne maduro para ver e entender a Deus.(Contra As Heresias Livro IV Capítulo 37, Parágrafos 1 – 7)

Nos livros precedentes expusemos os motivos pelos quais Deus permitiu que acontecessem estas coisas e mostramos como todas elas se cumpriram em benefício do homem que se salva, amadurecendo-lhe o livre-arbítrio para a imortalidade e tornando-o mais apto para a eterna submissão a Deus.” (Contra As Heresias Livro V Capítulo 29, 1)

 

 CLEMENTE DE ALEXANDRIA ( + 217 d.C)


 Então, em nenhum aspecto Deus é o autor do mal. Mas desde que a livre escolha e inclinação originam pecados… punições são justamente infligidas”. (Stromata1, 17)

 
Um homem pelo próprio trabalho elabutando na liberdade dos desejos pecaminosos não consegue nada. Mas se ele claramente mostra-se muito ansioso e sério sobre isso,ele alcança-la por meio da adição do poder de Deus.Deus trabalha em conjunto com as almas dispostas. Mas se a pessoa abandona o seu entusiasmo, o espírito de Deus também é contido. Para salvar o pouco disposto é o ato de um usando compulsão; mas para salvar o disposto, é um de mostrar graça.”(Qual o homem Rico se Salvará? Capítulo 21)

Nem elogios nem condenação, nem recompensas nem punições, está certo se a alma não temo poder de escolha e evitar, se o mal é involuntário.” (Miscelânias Livro 1, cap. 17)

Escolha depende do homem como sendo livre. Mas o dom depende de Deus como o Senhor. E Ele dá àqueles que estão dispostos, são extremamente honesto, e a quem pede. Então, sua salvação torna-se sua própria. Porque Deus não compele.” (Qual o homem Rico se Salvará? Capítulo 21)

 

ORÍGENES (185 – 255 d.C)


Isto também está claramente definido no ensinamento da Igreja, que toda alma racional tem livre arbítrio e vontade… não são forçados por qualquer necessidade de agir com ou sem razão.” (Sobre os Princípios – Prefácio)

 
Vamos começar pelo que se diz a respeito do faraó e de Deus que o endurece para impedi-lo de deixar partir o povo; examinaremos ao mesmo tempo esta palavra do Apóstolo: “Terá piedade de quem ele quer e endurecerá quem ele quer” (Rm 9,18). Examinemos o que dizem alguns heterodoxos. Eles se servem desses textos para quase suprimir o livre-arbítrio, argumentando que há naturezas perdidas, incapazes de salvação, e outras que estão salvas e são incapazes de se perder; dizem eles que o faraó era de uma natureza perdida, e endureceu por causa disso, porque Deus tem piedade dos espirituais e endurece os terrestres. Perguntamos se o faraó era de natureza terrestre; quando responderem, lhes diremos que aquele que tem uma natureza terrestre desobedece totalmente a Deus. Se desobedece, que necessidade existe de endurecer o seu coração, e isso não apenas uma, mas várias vezes? Mas, se lhe era possível ser persuadido, teria sido de fato persuadido, como se não fosse terrestre, porque fora convencido pelos prodígios e sinais; porém, Deus precisava da repetição da desobediência dele para manifestar suas maravilhas em vista da salvação de muitos; por essa razão, Deus endureceu o coração dele..”(Tratato Sobre os Princípio Livro III, Capítulo I, 8)
 
Ele se faz conhecido para aqueles que, depois de fazer tudo o que os seus poderes permitem, confessam que precisam de ajuda Dele.” (Contra Celso Livro VII, 42)

Em resposta a um pedido (muito parecido com a doutrina calvinista da soberania exaustiva de Deus), que “tudo o que acontece no universo, seja a obra de Deus, dos anjos [ou] de outros demônios… é regulada pela lei do Deus Altíssimo”, Orígenes diz:

Isto é… incorreta; pois não podemos dizer que transgressores seguem a lei de Deus quando eles transgredem; e a Escritura declara que não é só os homens maus que são transgressores, mas também demônios maus e anjos maus… Quando dizemos que ‘a providência de Deus regula todas as coisas’, nós proferimos uma grande verdade se nós atribuímos a essa providência nada mais do que o que é justo e certo. Mas se nós atribuímos à providência de Deus todas as coisas que, no entanto são injustas, então já não é verdade que a providência de Deus regula todas as coisas.” (Contra Celso 7, 68)

 HIPÓLITO DE ROMA


 Deus, que criou[o mundo], não fez nem faz o mal […]Agora, o homem (que foi trazido à existência) era uma criatura dotada de uma capacidade de auto determinação, mas ele não possuía um intelecto soberano… o homem a partir do fato de possuir uma capacidade de auto-determinação, faz o mal […] Uma vez que o homem temo livre-arbítrio, uma lei foi-lhe dada por Deus,para um bom propósito. Pois uma lei não vai ser dada a um animal desprovido de razão. Apenas um freio e chicote será dado.Em contraste, foi dado ao homem ordem para fazer, juntamente com uma grande penalidade.” (Refutação de todas as Heresias – Livro X, 29, 2)

O Verbo promulgou os mandamentos divinos, declarando-os. Com isso, ele tirou o homem da desobediência. Chamou o homem a liberdade através de uma escolha que envolve espontaneidade – não trazendo-o à servidão por força da necessidade.” (Refutação de todas as Heresias – Livro X, 29, 3)

 

METÓDIO DO OLIMPO


 Agora aqueles que decidem que o homem não é dotado delivre-arbítrio e afirmam que ele é regido pelas necessidades  inevitáveis do destino, e os seus comandos não escritos, são culpados de impiedade para como próprio Deus, fazendo-o sera causa e o autor dos males humanos.”(O Banquete das Dez Virgens- Capítulo 16).

 

SANTO ATANÁSIO DE ALEXANDRIA (296-373 D.C)


É conhecido por sua defesa da natureza divina de Cristo. Na sua obra sobre a vida de Santo Antonio §20 ele escreveu que a virtude humana depende da existência do livre-arbítrio humano:

Portanto virtude precisou em nossas mãos de vontade prórpia, uma vez que está em nós e é formada de nós.”(Vida de Santo Antônio).

 

CIRÍLO DE JERUSALÉM (386 d.C)


A alma é auto-regulada: e, embora o diabo possa sugerir, ele não tem o poder de obriga-la contra a sua vontade. ele mostra a você o pensamento da fornicação: se você deseja, você aceitá; se você não deseja,você rejeita. Porque, se você fosse um fornicador por necessidade,então por que causa que Deus prepara o inferno?Se você fosse um praticante da justiça pela natureza e não por vontade,por que  Deus preparou coroas de glória inefável? A ovelha é suave, mas nunca foi coroada por sua delicadeza: desde a sua qualidade suave pertence a ela não por escolha, mas por natureza.”(Leituras CatequéticasIV)

BASÍLIO DE CESARÉIA (379 d.C)


 Se a origem de nossas virtudes e dos nossos vícios não está em nós mesmos, mas é a consequência fatal de nosso nascimento, é inútil para os legisladores prescrever para nós o que devemos fazer, e o que devemos evitar; é inútil para os juízes honrar virtude e punir o vício. A culpa não está no ladrão, e não está no assassino: foi querida no lugar dele;era impossível para ele segurar sua mão, pediu o mal com a inevitável necessidade. Aqueles que laboriosamente cultivam as artes são os mais loucos dos homens. O trabalhador vai fazer uma colheita abundante sem semear sementes e sem afiar sua foice. Se ele deseja ou não, o comerciante vai fazer a sua fortuna, e será inundado com riquezas pelo destino. Como para nós, cristãos, devemos ver nossas grandes esperanças desaparecerem, uma vez que a partir do momento que o homem não age com liberdade, não há nem recompensa por justiça, nem punição para o pecado. Sob o reinado de necessidade e de fatalidade não existe nenhum lugar por mérito, a primeira condição de todo o julgamento justo. Mas vamos parar. Você que é o som em si mesmos não há necessidade de ouvir mais, e o tempo não nos permitem fazer ataques sem limites contra estes homens infelizes.” (Hexamerão – Homilia VI, Cap. VII)

 GREGÓRIO DE NISSA (330- 395 d.C)


Para Ele que fez o homem para a participação de Sua própria peculiar bondade, e incorporou nele os instintos de tudo o que era excelente, a fim de que seu desejo pudesse ser transportado por um movimento correspondente em cada caso a sua vontade, nunca teria privado o daquele mais excelente e precioso de todos os bens; Quero dizer o dom implícito em ser seu próprio mestre, e ter uma vontade livre.” (O Grande Catecismo – Leitura V)

 

VICENTE DE LERINS (450d.C)


 Quem, antes de Simão Mago, duramente castigado pela reprimenda apostólica – e de quem provém a antiga enxurrada de torpezas que, por sucessão ininterrupta e oculta, tenha chegado até Prisciliano – se atreveu a dizer que Deus criador é o autor do mal, ou seja, de nossos delitos, de nossas impiedades, de nossos vícios? Este afirma que Deus, com suas próprias mãos, cria a natureza estruturada de maneira que, por movimento espontâneo e sob o impulso de uma vontade necessitada, não pode mais,não quer mais que pecar. Agitada e incendiada pelas fúrias de todos os vícios, se vê arrastada com ânsia inesgotável aos abismos de toda sorte de crimes. Exemplos como estes existem e não acabam mais, mas deixemo-los para sermos breves. Demonstram a todos com evidência que a atitude normal e comum de qualquer heresia é gozar-se nas novidades profanas e sentir repulsa pelos dogmas da antiguidade, até o ponto de naufragar na fé por causa de discussões de uma falsa ciência. Ao contrário, é próprio dos católicos guardar o depósito transmitido pelos Santos Padres, condenar as novidades profanas e, como muitas vezes repetiu o Apóstolo, descarregar o anátema sobre quem tem a audácia de anunciar algo diferente do que foi recebido.”  (Comonitório capítulo XXIV)

 

JOÃO DAMASCENO (680 d.C)


Devemos entender que, embora Deus saiba todas as coisas de antemão, ainda assim Ele não predetermina todas as coisas. Pois Ele sabe de antemão as coisas que estão em nosso poder, mas Ele não pressupõe-as. Pois não é Sua vontade que deve haver maldade nem Ele escolhe obrigar a virtude … Tenha em mente, também, que a virtude é um dom de Deus implantado em nossa natureza, e que Ele mesmo é a fonte e a causa de todo o bem, e sem sua cooperação e ajuda ninguém não pode querer ou fazer qualquer coisa boa. Mas nós temos em nosso poder ou permanecer em virtude e seguir a Deus, que nos põe nos caminhos da virtude, ou a desviar-se caminhos da virtude, que é habitar na maldade, e seguir o diabo que convoca, mas não pode obrigar-nos . Pois a impiedade é nada mais do que a retirada do bem, assim como a escuridão não é nada mais do que a retirada de luz. Enquanto, em seguida, nós permanecemos no estado natural permanecemos em virtude, mas quando nos desviamos do estado natural, que é de virtude, entramos em um estado antinatural e habitamos em maldade.” (Exposição da Fé Ortodoxa, livro 2, capítulo 30,)

 
Nós mantemos, portanto, que o livre-arbítrio entra em cena ao mesmo tempo que a razão,e que a mudança e alteração congênita são tudo o que é produzido.Pois tudo o que é produzido é também sujeito a alterações.Pois essas coisas devem estar sujeitas a alterações cuja produção tem sua origem na mudança. E a mudança consiste em ser trazida à existência do nada,ena transformação de um substrato da matéria em algo diferente.Coisas inanimadas, então, e as coisas sem razão submetem as mudanças corporais acima mencionadas,enquanto as mudanças de coisas dotadas de razão dependem de escolha. Pois razão consiste em uma parte especulativa e prática. A parte especulativa é a contemplação da natureza das coisas, e a prática consiste na deliberação e define a verdadeira razão para o que está a ser feito.O lado especulativo é chamado mente ou sabedoria, e o lado prático é chamado razão ou prudência. Cada um, então, que delibera faz isso na crença de que a escolha do que deve ser feito está em suas mãos, para que ele possa escolher o que parece melhor como o resultado de sua deliberação, e tendo escolhido pode agir sobre ela. E se isto é assim,o livre-arbítrio deve, necessariamente,estar muito intimamente relacionado com razão. Pois se um homem é um ser irracional,ou, se ele é racional, ele é dono de seus atos e dotado delivre-arbítrio.Daí, também,criaturas sem razão não gozam de livre-arbítrio: a natureza leva-os ao invés de eles a natureza, e para que eles não se oponha ao apetite natural,mas assim que seu a petite anseia depois de tudo o que se precipita depois. Mas o homem, sendo racional, leva a natureza ao invés de natureza ele, e por isso, quando ele deseja alguma coisa, ele tem o poder de refrear o seu apetite ou para saciá-lo como lhe aprouver. Daí, também,criaturas desprovidas de razão não estão sujeitas nem de louvor nem culpa, enquanto o homem está sujeito tanto ao elogio quanto a crítica. Note também que os anjos,sendo racionais, são dotados delivre-arbítrio,e, na medida em que são criados, são susceptíveis a mudar. Isso na verdade é feito simples pelo diabo que, embora feito bom pelo Criador, tornou-sede seu próprio livre-arbítrio o inventor do mal, e pelos poderes que se revoltaram com ele,isto é, os demônios, e pelas outras tropas de anjos que ficaram na bondade.” (Exposição da Fé Ortodoxa, livro 2, capítulo 27, relativo ao motivo de nossa dotação de livre-arbítrio)

 

PARA CITAR


NAGASAWA, Mako A e RODRIGUES, Rafael. Pais da Igreja e o Livre Arbítrio. Disponível em <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/808-pais-da-igreja-e-o-livre-arbitrio>. Desde: 29/07/2015.

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