Domingo, Maio 5, 2024

Alguns erros e fraudes de “Tradicionalistas” desonestos

NOTA PRIMEIRA DO SITE: A tradução desta longa seção se fez oportuna devido a sagração episcopal de Dom Tomás de Aquino que ocorreu em 19 de março de 2016. O Direito da Igreja estabelece que o Bispo que, sem o mandato pontifício, confere a alguém a consagração episcopal e, igualmente, quem dele a recebe incorrem em excomunhão latae sententiae (cf. can. 1382). Não obstante, desde o cisma de D. Marcel Lefebvre e dos bispos por ele sagrados, os tradicionalistas pretendem se valer de canonistas da Igreja para legitimar tal ato. Não está ocorrendo diferente depois dessa nova sagração. Este tratado refuta todas as utilizações indevidas e falsificações que os tradicionalistas fazem dos canonistas da Igreja.

Chamamos a atenção do leitor para o fato do presente tratado ter sido escrito há mais de dez anos (2000-2003). Sendo assim, entende-se as palavras duras e acusações (justas) que se usa contra a Fraternidade. Mas desde lá muita coisa mudou: as autoridades romanas têm repetido que o clima de respeito e compreensão cresceu muito entre Roma e FSSPX; em 2009 o Papa Bento XVI, num gesto de misericórdia, levantou a excomunhão dos quatro Bispos da Fraternidade; os bispos assumiram o compromisso de evitar críticas públicas que desrespeitem o Romano Pontífice ou que sejam danosas à caridade eclesial; a Declaração doutrinal de 15 de abril de 2012 entregue ao Cardeal Levada pelo bispo D. Bernard Fellay diz aceitar a doutrina sobre o Colégio dos Bispos da Constituição Dogmática Lumen Gentium do Concílio Vaticano II. Portanto, todas as palavras críticas desta seção parecem se aplicar mais adequadamente, hoje em dia, à Resistência do bispo Richard Williamson, que rompeu com a FSSPX.

NOTA SEGUNDA DO SITE: Importa ressaltar a estrutura do texto aqui publicado em uma introdução e 3 partes.

INTRODUÇÃO.

PARTE 1: O autor transcreve partes do panfleto da Fraternidade em que eles distorcem/falsificam.

PARTE 2: O autor transcreve as mesmas partes entremeadas com seus comentários e análises.

PARTE 3: Sumário dos comentários e análises.

Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse a mulher: “Não, vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.[1]

INTRODUÇÃO.

Discutir qual é “a posição ‘tradicionalista'” pode muitas vezes ser tão confuso como discutir qual é “a posição protestante”. Portanto, o leitor que espera que esta seção seja exaustiva neste sentido irá se decepcionar. Identificar qual seja “a posição ‘tradicionalista” pode não ser uma tarefa fácil, mas existem algumas tendências e características que a maioria daqueles que tentam argumentar a partir deste ponto de vista têm em comum. Um elemento que não é, infelizmente, raro é a argumentação sofista. Uma outra é por vezes uma flagrante desonestidade que pode ser negligenciada por aqueles que investem psicologicamente na cosmovisão geral que o auto-denominado “tradicionalismo” pretende abraçar. Um exemplo clássico do tipo de engano deliberado que este escritor está se referindo será examinado nesta seção. O culpado neste caso é a Fraternidade de São Pio X (FSSPX).

É verdade que este tratado concentra-se no “tradicionalismo” como um todo. No entanto, a maioria dos pontos de vista da FSSPX espelha os dos outros grupos que se auto-denominam “tradicionalistas” e o engodo, que serão apresentados nesta secção, são prevalecentes a todos os grupos que não estão em união com Roma. Também é verdade que muitos, se não a maioria das pessoas que freqüentam igrejas da FSSPX e que lêem e guardam este tipo de material o fazem partindo do princípio de que a FSSPX é justa e imparcial na sua apresentação dos fatos. Infelizmente, porém, eles não são e esta seção irá refutar a credibilidade da FSSPX para apresentar fatos e fontes documentais de forma abundante. O leitor assim é convidado a não presumir que só porque a FSSPX é o alvo direto desta seção que outros auto-denominados grupos “tradicionalistas” também não sejam implicitamente alvos. Tendo em vista que esses tipos de erros são comuns, as restrições de tempo e espaço impedem o exame da literatura de cada grupo antagônica à Roma – todos os quais chegam ao absurdo de manter suas posições como a Fraternidade faz na peça literária abaixo que iremos examinar. Não há beleza no que se verá, mas por vezes a Verdade não é bela para quem a Ela se oponha.

Não é incomum encontrar inúmeros periódicos, folhetos e até mesmo muitos livros escritos sobre a temática do cisma por esses tipos de grupos. A razão é porque o assunto é sensível aos auto-intitulados ‘tradicionalistas’. Eles sabem que cisma e heresia são pecados e se eles são de natureza formal, o resultado – se não corrigido antes da morte – é a condenação. Eles também sabem que se não apresentarem um bom argumento a respeito do porquê que eles não estão em cisma, muitas pessoas bem-intencionadas que frequentam suas igrejas iriam deixar de frequentá-las. Esta página vai examinar um panfleto editado pela FSSPX que defende sua reivindicação a não estarem em cisma ou excomungados. O título do panfleto que se lê é “Is the Society of Saint Pius X Schismatic? Excommunicated? Rome Says No”[2]. A intenção desta página é mostrar que a FSSPX procura tirar partido da ignorância dos fiéis médios sobre os meandros da lei canônica e outros assuntos. E, além disso, eles dão, sem sombra de dúvida, falso testemunho nos casos das pessoas que eles apresentam como testemunhas a seu favor neste panfleto e em outras fontes que eles fazem circular (Êx 20:16;..Dt 5:20) .

PARTE 1 

I – Declaração de Abertura da Fraternidade:

Como a acusação de falso testemunho é grave, segundo este escritor, a publicação de todo o texto do folheto não editado e sem comentários antes que seus fatos sejam examinados, vem a ser a única maneira de ser justo com o acusado. Portanto, aqui está a sua posição apresentada pela primeira vez, sem edição e livre de quaisquer editoriais:

Arcebispo Lefebvre: INOCENTE

Qual é o problema?

Em novembro de 1970, o Arcebispo Marcel Lefebvre fundou formalmente a Fraternidade de São Pio X, a fim de treinar padres tradicionais e manter as tradições da Igreja. A Fraternidade foi oficialmente abençoada e aprovada pela Igreja. Um americano, o cardeal Wright, o Prefeito da Sagrada Congregação para o Clero, escreveu, acercada Fraternidade de São Pio X: “Esta associação já ultrapassou as fronteiras da Suíça, e vários Bispos, em diferentes partes do mundo, louvam e a aprovam. Tudo isso, e especialmente a sabedoria das normas que direcionam e governam esta Associação, alimentam muito a esperança de seu sucesso… a Fraternidade vai certamente ser capaz de se conformar ao objetivo… para a distribuição do clero no mundo”.

Dezoito anos depois, em junho de 1988, o arcebispo Lefebvre consagrou quatro bispos, a fim de garantir a continuidade de um trabalho abençoado e aprovado pela Igreja. Roma tinha concordado, em princípio, sobre o ponto da consagração episcopal, mas não concordou com a escolha dos candidatos do Arcebispo. Ele, no entanto, foi em frente com as consagrações, apesar da desaprovação de Roma. Como consequência …

CARDEAL GANTIN:

O Prefeito da Sagrada Congregação dos Bispos, declarou erroneamente que o Arcebispo Lefebvre tinha realizado um “ato cismático” ao consagrar quatro bispos em 1988 sem a permissão papal e advertiu “os sacerdotes e os fiéis … não apoiar o cisma de monsenhor Lefebvre, caso contrário, poderiam incorrer na pena muito grave de excomunhão”. Cardeal Gantin erroneamente citou a Lei da Igreja (Canon 1364 §.1): “o apóstata da fé, o herege e o cismático incorrem em excomunhão latae sententiae“, mas já que não houve cisma, não poderia haver excomunhão.

PAPA JOÃO PAULO II

No dia seguinte, o Papa fez uma declaração semelhante, mas não jurídica: “Todos devem estar cientes de que a adesão formal ao cisma constitui grave ofensa a Deus e comporta a excomunhão decretada pela lei da Igreja (Canon 1364).” No entanto, como os especialistas mais tarde provaram: não houve cisma em primeiro lugar, e por isso não poderia haver excomunhão!

Muito alarmismo resultou disto, com muitos padres e bispos, não bem versados nas leis da Igreja, ao brandir suas próprias declarações escandalosamente falsas e ameaças como: é um pecado mortal participar de uma missa da Fraternidade de São Pio X, ou que qualquer pessoa por fazer isso, encontrar-se-ia automaticamente excomungada, em cisma, etc. muitos alarmistas passaram a falar sobre um assunto do qual muito pouco sabem e muitas pessoas têm se assustado com suas mentiras e exageros.

No entanto, especialistas em Direito Canônico e vários cardeais de alto escalão estão de acordo que o Arcebispo Lefebvre não realizou um ato cismático e, consequentemente, não está nem excomungado por motivo de cisma ou por qualquer outra razão. O rótulo de “cismático & excomungado” não pode ser aplicado ao Arcebispo Lefebvre, nem a nenhum de seus seguidores, pois carece de fundamento e validade, que é o que os especialistas da Igreja vêm dizendo desde 1988 – o ano das quatro consagrações episcopais do Arcebispo Lefebvre.

Neste artigo, você verá somente quem está dizendo o quê. Somos gratos pelo raciocínio objetivo, claro e lúcido de especialistas da Igreja, que finalmente destruiu o terrível mito de que a Fraternidade de São Pio X era cismática e excomungada. Pelo que dizem, fica claro que a Fraternidade e seus seguidores não são, definitivamente, cismáticos, nem excomungados; que os seus sacerdotes são sacerdotes validamente ordenados; os sacramentos que eles conferem são sacramentos válidos; e que qualquer um pode cumprir a sua obrigação dominical por assistir a uma Missa da Fraternidade de São Pio X.

Isso foi confirmado recentemente, no Havaí, onde o bispo Ferrario decidiu excomungar, em 1 de Maio de 1991, alguns seguidores da Fraternidade de São Pio X, por apoiar a Fraternidade e assistido suas missas. Roma declarou que a decisão “carece de fundamento e, portanto, de validade”. A tentativa do Bispo Ferrario de excomunhão dos seguidores da Fraternidade foi anulada pelo Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em 28 de junho de 1993. “A partir da análise do caso, realizada com base na Lei da Igreja, não resultou que os fatos referidos no Decreto, acima mencionado, sejam atos cismáticos formais em sentido estrito, uma vez que eles não constituem delito de cisma, e, portanto, a Congregação sustenta que o Decreto de 01 de maio de 1991, carece de fundamento e, portanto, de validade.” (Nunciatura Apostólica, Washington DC)

Especialistas da Igreja dizem

MISSA EM LATIM ESTÁ OK

A Fraternidade de São Pio X não está em

Cisma e nem Excomungada

“Em meu entender, eles não estão excomungados como cismáticos, porque o Vaticano nunca disse que eles estivessem … Eu cheguei à conclusão de que canonicamente falando, ele não é culpado de um ato cismático punível pelo direito canônico” (Pe. Gerald Murray, Agosto, 1995).

“Claro que a missa e os sacramentos administrados pelos padres da Fraternidade são válidos.” (Cardeal Edward Cassidy, presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, 3 de Maio de1994).

“A resposta dada por oito [dos nove] cardeais em 1986 foi que, não, a Missa de São Pio V nunca foi suprimida. Eu posso dizer isso, eu era um dos cardeais. [Também] Os nove cardeais por unanimidade concordaram que nenhum bispo pode proibir um padre católico de dizer a Missa Tridentina [em latim]”. (Cardeal Stickler, maio de 1995 em Nova York)

CARDEAL EDWARD CASSIDY

O Presidente do Concelho Pontifício para Unidade dos Cristãos escreveu a seguinte resposta, em 3 de maio de 1994, acerca de um questionamento sobre o status da Fraternidade São Pio X.

“Caro Sr. X … Em relação a sua pergunta (25 de Março, 1994), gostaria logo de salientar que o Diretório sobre o Ecumenismo não está preocupado com a Fraternidade de São Pio X. A situação dos membros desta Fraternidade é um assunto interno da Igreja Católica. A Fraternidade não é uma outra Igreja ou uma Comunidade Eclesial, no sentido usado pelo Directório. Claro que a Missa e os Sacramentos administrados pelos padres da Fraternidade são válidos. Os Bispos são validamente, mas não licitamente, consagrados … espero que isso responda sua carta satisfatoriamente “.

Atenciosamente no Senhor

Cardeal Edward Cassidy – Presidente”

CARDEAL CASTILLO LARA:

Presidente da Pontifícia Comissão para a Interpretação Autêntica de Direito Canônico, explicou que, “O ato de consagrar um bispo (sem a permissão do Papa) não é em si um ato cismático” e por isso não se aplica a excomunhão. (La Repubblica, 7 de outubro de 1988).

CONDE NERI CAPPONI, D.Cn.L., LL.D:

O professor aposentado de Direito Canônico da Universidade de Florença, bem conhecido nos círculos legais do Vaticano e credenciado para discutir casos ante o mais alto órgão jurídico de Roma, a Signatura Apostólica, explica que, para um ato cismático, não é suficiente apenas consagrar um bispo sem a permissão papal. “Ele deve fazer algo mais. Por exemplo, se ele tivesse criado uma hierarquia própria, aí teria sido um ato cismático. O fato é que Mons. Lefebvre disse: ‘Eu estou criando bispos para que a minha ordem sacerdotal possa continuar. Eles não tomarão o lugar de outros bispos. Eu não estou criando uma igreja paralela. Portanto, este ato não era, por si, cismático”, e assim ele não está excomungado. (Latin Mass Magazine, Maio-Junho de 1993)

CARDEAL ALFONS STICKLER:

O ex-prefeito dos Arquivos do Vaticano e da Biblioteca, trabalhou como perito para quatro comissões do Vaticano II. Agora vivendo no Vaticano, ele diz: “O Papa João Paulo II, em 1986, colocou para uma comissão de nove cardeais duas perguntas. Em primeiro lugar, o Papa Paulo VI, ou qualquer outra autoridade competente legalmente proibiu a celebração geral da Missa Tridentina [em Latim] nos dias de hoje? a resposta dada por oito dos cardeais em 86 foi que, não, a Missa de São Pio V nunca foi suprimida. Eu posso afirmar isso, pois eu era um dos cardeais. Havia uma outra questão, muito interessante. “Pode algum bispo proibir qualquer padre de boa reputação de celebrar a Missa Tridentina novamente?” Os nove cardeais concordaram unanimemente que nenhum bispo pode proibir um padre católico de dizer a Missa Tridentina. Nós não temos nenhuma proibição oficial e eu acho que o Papa nunca iria estabelecer uma proibição oficial … por causa das palavras de Pio V, que diziam que esta foi uma missa para sempre.” (Latin Mass Magazine, 5 de maio de 1995)

PROFESSOR GERINGER:

Advogado canônico na Universidade de Munique “Com as consagrações episcopais, o Arcebispo Lefebvre não estava de forma alguma criando um cisma.”

Pe . GERALD E MURRAY:

Da Arquidiocese de Nova York, trabalhando em seu doutorado em Direito Canônico, obteve, em junho de 1995, sua licenciatura em Direito Canônico pela famosa Universidade Gregoriana de Roma, provavelmente a instituição de ensino superior mais prestigiada da Igreja, com uma tese longa intitulado, “The Canonical Status of the Lay Faith ful Associated with the Late Archbishop Marcel Lefebvre and the Society of Saint Pius X: Are they Excommunicated as Schismatics?[3] Em sua entrevista para Latin Mass Magazine, ele diz: “Eu obtive licenciatura em direito canônico e tenho estudado este tópico, a excomunhão do Arcebispo Lefebvre, para a minha tese… Eles não estão excomungados como cismáticos porque, no meu entendimento, o Vaticano nunca disse que estavam … eu cheguei à conclusão de que, canonicamente falando, ele não é culpado de um ato cismático punível pelo direito canônico. ele é culpado de um ato de desobediência ao Papa, mas fê-lo de tal maneira que ele pudesse valer-se de uma disposição da lei que o impeça de ser automaticamente excomungados (latae sententiae) por este ato.” Portanto, nem Arcebispo Lefebvre, nem qualquer dos bispos por ele consagrados, está excomungado.

“No caso dos leigos ou sacerdotes da Fraternidade de São Pio X, o Vaticano não declarou qualquer sacerdote ou leigo de se ter tornado um cismático”. Portanto, os sacerdotes e os fiéis não estão excomungados.” Tanto quanto eu posso ver, a Santa Sé nunca afirmou que a mera participação em uma missa rezada por um padre da Fraternidade de São Pio X constitui um ato cismático … Suponhamos que você saiba que o padre de sua paróquia esteja ensinando coisas contrárias à lei moral ou à doutrina católica. Digamos que ele negasse a existência do inferno, ou ensinasse que pessoas divorciadas e recasadas poderiam receber a comunhão. Você poderia ir a uma capela da Fraternidade de São Pio X para receber boa doutrina? Isso me parece melhor do que ouvir sermões verdadeiramente heréticos.” (Latin Mass Magazine, Outono, 1995).

Pe. PATRICK Valdini:

Decano da Faculdade de Direito Canônico do Instituto Católico de Paris disse que o Arcebispo Lefebvre não cometeu um ato cismático pelas consagrações, pois ele não negou o primado do Papa. “Não é a consagração de um bispo que cria o cisma. O que consiste em cisma é dar ao bispo uma missão apostólica.”, que é algo que o Arcebispo Lefebvre nunca fez (Question de Droit ou de confiance, L’Homme Nouveau, Fev.17, 1988).

Cardeal Ratzinger,

Cardeal Stickler,

Cardinal Lara,

Cardeal Cassidy,

Eminentes advogados canônicos,

em Roma e muitos outros

dizem que a Fraternidade São Pio X não está nem em cisma, nem está

Excomungada … e que qualquer pessoa pode cumprir a sua obrigação domingo ao

frequentar as Missas da Fraternidade.[4]

Esta declaração será agora examinada peça por peça em um formato de diálogo para discernir se os argumentos usados para apoiar a alegação que a FSSPX está tentando fazer são válidos.

PARTE 2

II – Examinando os Parágrafos de Abertura:

Arcebispo Lefebvre: INOCENTE

Qual é o problema?

Em novembro de 1970, o Arcebispo Marcel Lefebvre fundou formalmente a Fraternidade de São Pio X, a fim de treinar padres tradicionais e manter as tradições da Igreja. A Fraternidade foi oficialmente abençoada e aprovada pela Igreja. Um americano, o cardeal Wright, o Prefeito da Sagrada Congregação para o Clero, escreveu, acerca Fraternidade de São Pio X: “Esta associação já ultrapassou as fronteiras da Suíça, e várias Bispos, em diferentes partes do mundo, louvam e a aprovam. Tudo isso, e especialmente a sabedoria das normas que direcionam e governam esta Associação, alimentam muito a esperança de seu sucesso… a Fraternidade vai certamente ser capaz de se conformar ao objetivo… para a distribuição do clero no mundo “.

Vale a pena notar que a história turbulenta da Fraternidade e suas operações – para não mencionar a por vezes tênue relação entre o Arcebispo e os Papas Paulo VI e João Paulo II – não são aqui mencionadas. Elas são de importância crucial para compreender plenamente as implicações do incidente de 1988. No entanto, considerando a forma como a FSSPX estabeleceu a sequência no folheto parece querer fazer com que toda a questão de cisma recaia apenas sobre as consagrações em si. Há uma infinidade de outros fatores, além das próprias consagrações, que devem ser pesados e considerados para uma avaliação precisa da posição canônica da Fraternidade na Igreja Católica.

Dezoito anos depois, em junho de 1988, o Arcebispo Lefebvre consagrou quatro bispos, a fim de garantir a continuidade de um trabalho abençoado e aprovado pela Igreja. Roma tinha concordado, em princípio, sobre o ponto da consagração episcopal, mas não chegou a um acordo sobre a escolha dos candidatos a Arcebispo. Ele, no entanto, foi em frente com as consagrações, apesar da desaprovação de Roma.

É interessante que o panfleto não menciona que a Fraternidade e a Santa Sé vinham num relacionamento de vai-e-vem desde 1976. (Quando o arcebispo foi suspenso das suas funções episcopais e recusou obediência à Santa Sé). Em todos os casos de conflito, o Arcebispo fez tudo o que ele desejava fazer e ignorava o que o Papa ou os outros superiores em Roma lhe diziam para fazer. Este detalhe é um dos mais importantes e capaz de dar a dimensão adequada à análise do status canônico da Fraternidade, não apenas após os acontecimentos de 1988, mas também no período que antecedeu as 4 consagrações. Ademais, pode alguma pessoa imparcial afirmar que este passado não tenha corroborado as preocupações do Santo Padre sobre a seleção de candidatos pelo Arcebispo (especialmente no que diz respeito aos bispos Bernard Tissier de Mallerais e Richard Williamson)???

Como consequência …

CARDEAL GANTIN:

O Prefeito da Sagrada Congregação dos Bispos, erroneamente declarou que o Arcebispo Lefebvre tinha realizado um “ato cismático” ao consagrar quatro bispos em 1988 sem a permissão papal e advertiu “os sacerdotes e os fiéis … não apoiem o cisma do Monsenhor Lefebvre, caso contrário, eles podem incorrer em pena muito grave de excomunhão “. Cardeal Gantin erroneamente citou Lei da Igreja (Canon 1364 §.1): “o apóstata da fé, o herege e o cismático incorrem em excomunhão latae sententiae“, mas já que não houve cisma, não poderia haver excomunhão.

PAPA JOÃO PAULO II:

No dia seguinte, o Papa fez uma declaração semelhante, mas não jurídica: “Todos devem estar cientes de que a adesão formal ao cisma constitui grave ofensa a Deus e comporta a excomunhão decretada pela lei da Igreja (Canon 1364).” No entanto, como os especialistas mais tarde provaram: não houve cisma em primeiro lugar, e por isso não poderia haver excomunhão!

Primeiro de tudo, quem é a Fraternidade e que autoridade possuem para dizer que a declaração do Papa foi “não jurídica” ??? Em segundo lugar, quem são eles para reivindicar que o Cardeal Gantin e o Papa estão errados sobre esta questão, simplesmente porque ambos discordam da FSSPX, a saber, a posição da Fraternidade na Igreja ??? Observe como logo de cara a FSSPX está dizendo “já que não houve cisma não poderia haver excomunhão.” Justiça lhes seja feita, ao reconhecerem que se puder ser demonstrado que a FSSPX está em cisma (que ou o ato cometido pelo Arcebispo Lefebvre era cismático, ou a ameaça se prestava à formalização de um cisma), então eles estão excomungados sob Direito Canônico.

Muito alarmismo resultou disto, com muitos padres e bispos, não bem versados nas leis da Igreja, ao brandir suas próprias declarações escandalosamente falsas e ameaças como: é um pecado mortal participar de uma missa da Fraternidade de São Pio X, ou que qualquer pessoa por fazer isso, encontrar-se-ia automaticamente excomungado, em cisma, etc. muitos alarmistas passaram a falar sobre um assunto do qual muito pouco sabem e muitas pessoas têm se assustado com suas mentiras e exageros.

Não é verdade que “alarmismo” não tenha decorrido daqueles que governam a FSSPX que não são “bem versados nas leis da Igreja”, ao brandir suas próprias “declarações escandalosamente falsas e ameaças”. Este escritor teve acesso a um livro inteiro, cheio de tal material e poderia ter usado esse mesmo material muito nocivamente por algum tempo. No entanto, a intenção com este tratado tem sido sempre o de concentrar-se sobre as principais questões e evitar distrações conexas. Basta dizer que, tanto com relação às questões conexas, como também com relação às mais importantes a FSSPX têm a tendência de “falar sobre um assunto do qual muito pouco sabem e muitas pessoas têm se assustado com suas mentiras e exageros..”

No entanto, especialistas em Direito Canônico e vários cardeais de alto escalão estão de acordo que o Arcebispo Lefebvre não realizou um ato cismático e, consequentemente, não está nem excomungado por motivo de cisma ou por qualquer outra razão. O rótulo de “cismático & excomungado” não pode ser aplicado ao Arcebispo Lefebvre, nem a nenhum de seus seguidores, pois carece de fundamento e validade, que é o que os especialistas da Igreja vêm dizendo desde 1988 – o ano das quatro consagrações episcopais do Arcebispo Lefebvre.

Vamos ver o que esses “especialistas” que trazem para a sua defesa realmente tem a dizer sobre estas questões.

Neste artigo, você verá somente quem está dizendo o quê. Somos gratos pelo raciocínio objetivo, claro e lúcido de especialistas da Igreja, que finalmente destruiu o terrível mito de que a Fraternidade de São Pio X era cismática e excomungada. Pelo que dizem, fica claro que a Fraternidade e seus seguidores não são, definitivamente, cismáticos, nem excomungados; que os seus sacerdotes são sacerdotes validamente ordenados; os sacramentos que eles conferem são sacramentos válidos; e que qualquer um pode cumprir a sua obrigação dominical por assistir a uma Missa da Fraternidade de São Pio X.

Veremos em breve quão “claro” o caso deles realmente é. Observe antes de tudo, o “espantalho” que FSSPX aqui ergue: Ninguém que questione o status canônico da Fraternidade está questionando a validade das ordenações dos padres da Fraternidade. Este é um panfleto que supostamente quer discutir a situação canônica da Fraternidade São Pio X e, no entanto, eles citam fontes que afirmam que o Rito Tridentino não foi suprimido, mas que é legal e que os seus sacerdotes são sacerdotes validamente ordenados. Muito interessante a estratégia para dizer o mínimo (e irrelevante para o caso deles no tocante à legitimidade canônica).

III – Análise do Incidente dos 6 Havaianos e a Decisão do Cardeal de Ratzinger:

Isso foi confirmado recentemente, no Havaí, onde o bispo Ferrario decidiu excomungar, em 1 de Maio de 1991, alguns seguidores da Fraternidade de São Pio X, por apoiar a Fraternidade e assistido suas missas. Roma declarou que a decisão “carece de fundamento e, portanto, de validade”. A tentativa do Bispo Ferrario de excomunhão dos seguidores da Fraternidade foi anulada pelo Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em 28 de junho de 1993. “A partir da análise do caso, realizada com base na Lei da Igreja, não resultou que os fatos referidos no Decreto, acima mencionado, sejam atos cismáticos formais em sentido estrito, uma vez que eles não constituem delito de cisma, e, portanto, a Congregação sustenta que o Decreto de 01 de maio de 1991, carece de fundamento e, portanto, de validade.” (Nunciatura Apostólica, Washington DC)

A decisão do Cardeal Ratzinger em nada dá credibilidade às afirmações da FSSPX.  (Também não tem qualquer influência sobre o seu status canônico) A excomunhão dos “6 Havaianos” foi durante um programa de rádio em que os participantes inventaram que eram anti-Vaticano II, e anti -o Missal Revisado (Paulino ou Missa Novus Ordo), críticos ao ordinário local e outros aspectos. Os parâmetros exatos não eram precisamente conhecidos por este autor quando ele originalmente escreveu seu tratado. Ao rever o trabalho em dezembro de 2000, a informação ainda era um pouco distorcida e por isso foi novamente preterido. No entanto, este escritor se deparou com material adicional que traz luz sobre este assunto – incluindo uma declaração interessante da Fundação do St. Joseph, onde eles declaram que “ajudaram na defesa dos “Seis Havaianos”. Seu porta-voz afirmou que “posso dizer que o status da Fraternidade não estava em causa nesse processo. O que estava em questão era a conduta dos arguidos, que, embora reconhecidamente censurável em alguns aspectos, não constituía em cisma”.

Que a FSSPX usa isto no panfleto sem dar os detalhes por trás do motivo pelo qual Bispo Ferrario decretou as excomunhões e a rationale por trás da suspensão das excomunhões pelo Cardeal Ratzinger é algo de imediato muito inquietante. Parece indicar que a FSSPX não está interessada em apresentar os fatos como eles realmente são, mas está interessada em qualquer coisa que possa apoiar remotamente a sua posição. Assim, logo de cara, temos falso testemunho contra o Cardeal Ratzinger. Se isso constitui uma ofensa digna de culpa ou não será determinado ao longo da análise do resto do panfleto. No entanto, primeiro precisa ser observado que, embora o exemplo acima aplicado às ações dos seis indivíduos, na Diocese de Lincoln, alguns anos mais tarde, o Bispo Fabian Bruskewitz fez uma lista específica de grupos com os quais o envolvimento “é sempre perigoso para a Fé Católica e na maioria das vezes é totalmente incompatível com a fé católica”. Os grupos listados incluíam (i) Planned Parenthood (ii) Hemlock Society (iii) Callto Action (iv) Maçons (v) Eastern Star e (vi) Católicas pelo Direito de Decidir. Depois também foram incluídas na lista “A Fraternidade de São Pio X (Grupo Lefebvre)” e a Capela São Miguel Arcanjo (FSSPX). Depois de incluir a Fraternidade e outras organizações a eles afiliadas em sua lista, o Bispo Bruskewitz publicou o seguinte juízo:

Quaisquer católicos na e da Diocese de Lincoln que tenham ou mantenham participação em qualquer uma das organizações ou grupos acima listados depois de 15 de abril de 1996, estão por isso mesmo (ipso facto latae sententiae) sob interdito e estão absolutamente proibidos de receber a Sagrada Comunhão. A persistência contumaz em tal adesão por um mês seguido a interdição por parte de qualquer um desses católicos lhes causará por esse fato (ipso facto latae sententiae) a excomunhão. A Absolvição destas censuras eclesiásticas é “reservado ao Bispo. Este aviso, quando publicado no Southern Nebraska Register, é uma advertência canônica formal.[5]

Na questão da Diocese de Lincoln, o ponto de discórdia é especificamente a adesão, ou, a associação com a própria Fraternidade, ao invés de ações como com os indivíduos no caso Havaiano. Até ao momento, Roma mantém esta legislação; portanto, podemos considerar com certeza razoável de que o Cardeal Ratzinger aprova o juízo do Bishop Bruskewitz.

Especialistas da Igreja dizem

MISSA EM LATIM ESTÁ OK

A Fraternidade de São Pio X não está em

Cisma e nem Excomungada

Isto parece ser uma manobra da FSSPX para tirar a atenção do foco do tema: se a Fraternidade está em cisma ou não. A licitude ou ilicitude da Missa em latim não tem qualquer influência sobre a situação canônica da FSSPX.

IV – Breve Referência às Outras Citações:

“Em meu entender, eles não estão excomungados como cismáticos,porque o Vaticano nunca disse que eles estivessem … Eu cheguei à conclusão de que canonicamente falando, ele não é culpado de um ato cismático punível pelo direito canônico” (Pe. Gerald Murray, Agosto, 1995).

Esta citação do Pe. Gerald Murray será abordada mais tarde.

“Claro que a missa e os sacramentos administrados pelos padres da Fraternidade são válidos.” (Cardeal Edward Cassidy, presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, 3 de Maio de1994).

Esta citação do Cardeal Cassidy será abordada mais tarde.

“A resposta dada por oito [dos nove] cardeais em 1986 foi que, não, a Missa de São Pio V nunca foi suprimida. Eu posso dizer isso, eu era um dos cardeais. [Também] Os nove cardeais por unanimidade concordaram que nenhum bispo pode proibir um padre católico de dizer a Missa Tridentina [em latim]”. (Cardeal Stickler, maio de 1995 em Nova York)

Claro que analisar estas citações no contexto apropriado seria útil, mas deve ser de imediato óbvio que a Fraternidade está tratando a questão do seu status canônico e o tema da licitude da Missa em latim como se fossem uma questão de “Gêmeos Siameses”. Novamente, a licitude ou ilicitude da Missa em latim não tem qualquer influência sobre a situação canônica da FSSPX. Ao não fazerem esta distinção, parecem antes estar deliberadamente buscando tirar o foco, o que parece indicar que a posição deles não é tão forte quanto eles afirmam que é.

CARDINAL EDWARD CASSIDY:

O Presidente do Concelho Pontifício para Unidade dos Cristãos escreveu a seguinte resposta, em 3 de maio de 1994, acerca de um questionamento sobre o status da Fraternidade São Pio X.

“Caro Sr. X … Em relação a sua pergunta (25 de Março, 1994), gostaria logo de salientar que o Diretório sobre o Ecumenismo não está preocupado com a Fraternidade de São Pio X. A situação dos membros desta Fraternidade é um assunto interno da Igreja Católica. A Fraternidade não é uma outra Igreja ou uma Comunidade Eclesial, no sentido usado pelo Directório. Claro que a Missa e os Sacramentos administrados pelos padres da Fraternidade são válidos. Os Bispos são validamente, mas não licitamente, consagrados … espero que isso responda sua carta satisfatoriamente “.

Atenciosamente no Senhor

Cardeal Edward Cassidy – Presidente”

Como não foi possível rastrear o documento original que está acima referenciado, o leitor é convidado a comparar a honestidade da FSSPX ao citar referências em outras áreas onde elas podem ser verificadas ao ponderarem a honestidade deles ao citar o Cardeal Cassidy acima. Além disso, a razão que o Diretório Ecumênico alega não estar preocupado com a questão é porque a Fraternidade não é uma igreja propriamente constituída. Esta é uma distinção canônica que o autor está razoavelmente informado a respeito mas que não é competente o suficiente para expressá-la na terminologia canônica própria. Tudo o que o autor vai dizer sobre isto, no entanto, é que esse status é prejudicial para a FSSPX e não um ativo ou qualquer classificação que reforce a sua posição: posição que será agora submetida a um exame minucioso.

 

V – Abordagem aos comentários do Cardeal Castillo Lara:

CARDEAL CASTILLO LARA:

Presidente da Pontifícia Comissão para a Interpretação Autêntica de Direito Canônico, explicou que, “O ato de consagrar um bispo (sem a permissão do Papa) não é em si um ato cismático” e por isso não se aplica a excomunhão. (La Repubblica, 7 de outubro de 1988).

Antes de tudo, a FSSPX está fazendo muita onda com afirmação de que o ato de consagrar sem autorização não é em si um ato cismático. Mas note que eles acrescentam as palavras “sem a permissão do Papa” entre parênteses no meio da declaração do Cardeal como se eles estivessem nos ajudando “interpretar” o que o Cardeal estava dizendo. Eles, em seguida, adicionam as palavras “e por isso não se aplica a excomunhão”, mas as colocam ao final da citação antes de indicar a fonte. Isto dá a impressão de que o Cardeal Castillo Lara disse tais palavras quando claramente ele não o fez. É verdade que eles não colocaram esta adição à passagem entre aspas, mas está escrita de tal forma que alguém que a lê provavelmente será levado à uma  conclusão errônea que aquelas palavras adicionais foram ditas pelo Cardeal quando não as disse. Partindo da honestidade quanto à fonte citada.

Agora, a FSSPX está correta quanto ao Cardeal Castillo Lara ser de fato uma autoridade em Direito Canônico. Na verdade, no dia em que o Papa João Paulo II promulgou o Código de Direito de Canônico de 1983, ele agradeceu a muitos dos membros proeminentes da hierarquia da Igreja que estavam envolvidos na atualização do Código de 1917 entre os quais estava:

A todos e cada um daqueles que hoje expressamos nossa mais profunda gratidão…

É com prazer que também nos referimos aos vivos: em primeiro lugar, ao atual Pro-Presidente da Comissão, o nosso venerável irmão Rosalio Castillo Lara, que tem trabalhado tão notavelmente e por tanto tempo em um papel de tamanha responsabilidade. Em seguida, nos referimos ao nosso amado filho, Dom William Onclin, que contribuiu para o êxito dessa tarefa com cuidado incessante e diligente. Há ainda outros que desempenharam um papel inestimável nesta Comissão, no desenvolvimento e na execução de uma tarefa de tal envergadura e complexidade, seja como Cardeais membros, ou como funcionários, consultores e colaboradores nos vários grupos de estudo ou em outros papéis.[6]

Cardeal Castillo Lara era Pro-Presidente da Comissão que procedeu à revisão do Código. Presumivelmente, ele estaria, portanto, em uma posição única para interpretá-lo; portanto, a FSSPX está correta que o Cardeal Castillo Lara é um nome muito importante para ter ao seu lado nessa disputa. Obviamente que o único problema é que eles não podem tê-lo como aliado na sua causa por mais que tenham tentado fazê-lo. Você pode comparar o que a FSSPX apresenta em sua pequena citação de uma frase retocada do cardeal com as seguintes passagens tiradas de uma carta escrita pelo Cardeal Castillo Lara para John Beaumont sobre o próprio tema, a saber,o status canônico da Fraternidade:

O senhor trouxe à minha atenção um assunto de importância. O senhor perguntou se eu poderia dizer-lhe exatamente o que eu disse na entrevista de 10 de Julho de 1988. A substância do que eu disse é o seguinte: “No caso de Lefebvre e os quatro sacerdotes ordenados bispos por ele, há duas infracções canonicamente falando, que eles cometeram. A infração fundamental é aquela de cisma, isto é, recusar-se a submissão ao romano Pontífice e romper com a comunhão com a Igreja. Esta infração eles já tinham anteriormente cometido. Só que, agora, a segunda infracção, aquela da consagração de bispos, formaliza e, em certo sentido, concretiza a primeira, e a torna mais explícita. O cisma é um delito que pode ser pessoal. Ele não requer um número de pessoas. As pessoas podem fazê-lo por conta própria. Lefebvre e seus seguidores, na medida em que eles se recusaram submissão ao Papa, já estavam, por esse fato em si, em cisma. A intenção do ato de consagrar bispos, já é de criar uma igreja com sua própria hierarquia. Neste sentido, a consagração de bispos torna-se um ato de cisma. Deve-se ter em mente, contudo, que o ato de consagrar bispos não é em si um ato cismático. Na verdade, no Código, onde aborda as infracções, estas duas são tratadas sob duas seções distintas. Há delitos contra a religião e a unidade da Igreja. E estes são apostasia (por exemplo, renunciar a fé), cisma e heresia. Consagrar um bispo, sem mandato pontifício, é, por outro lado, uma ofensa contra o bom exercício de seu ministério. Por exemplo, houve a excomunhão do Arcebispo vietnamita, Ngo Dinh Thuc em 1976 e 1983 por uma consagração episcopal, mas não foi considerado um ato cismático porque não havia nenhuma intenção de romper com a Igreja. Ngo Dinh Thuc representa uma situação lamentável, já que envolve um certo desequilíbrio mental.

No que diz respeito à Econe, Lefebvre e os quatro padres, estão sob duas excomunhões: uma pelo delito de cisma, a outra, reservada à Sé Apostólica, pelo o delito de consagrar um bispo sem mandato pontifício.” Espero que isso seja útil para você …  Posteriormente obtivemos uma cópia do relatório no La Repubblica. Constatamos que o que o Cardeal Lara nos narrou era praticamente palavra por palavra do que tinha sido dito que ele declarara ao La Repubblica[7]

O Cardeal claramente diz que não só o Arcebispo Lefebvre e a Fraternidade São Pio X estão em cisma, mas que eles estavam em cisma mesmo antes das consagrações de 1988 fossem realizadas. Além disso, observe que o que o Cardeal diz é que “o ato de consagrar bispos não é em si um ato cismático”. Observe ainda na citação da FSSPX que eles colocam entre parênteses as palavras “sem a permissão do Papa” no meio da declaração. É bastante claro a partir da passagem acima do Cardeal Castillo Lara que o Cardeal nunca disse ou pretendeu dar a entender o que a Fraternidade colocou entre parênteses bem no meio da citação que dele fizeram. Leia a última frase na passagem e ela diz exatamente o oposto do que a Fraternidade atribui ao Cardeal na “citação” deles. É óbvio, ao considerar a evidência oferecida, que a FSSPX é culpada de falso testemunho contra o Cardeal Castillo Lara.

 

VI – Abordagem aos comentários do Conde Neri Capponi:

 

CONDE NERI CAPPONI, D.Cn.L., LL.D:

O professor aposentado de Direito Canônico da Universidade de Florença, bem conhecido nos círculos legais do Vaticano e credenciado para discutir casos ante o mais alto órgão jurídico de Roma, a Signatura Apostólica, explica que, para um ato cismático, não é suficiente apenas consagrar um bispo sem a permissão papal. “Ele deve fazer algo mais. Por exemplo, se ele tivesse criado uma hierarquia própria, aí teria sido um ato cismático. O fato é que Mons. Lefebvre disse: ‘Estou ordenando bispos para que a minha ordem sacerdotal possa continuar. Eles não tomarão o lugar de outros bispos. Eu não estou criando uma igreja paralela.’ Portanto, este ato não era, per se, cismático”, e assim ele não está excomungado. (Latin Mass Magazine, Maio-Junho de 1993).

Eles fizeram o mesmo com a citação do Conde Capponi. Observe o final da citação, onde eles tentam dar a impressão de que o Conde Capponi disse que o Arcebispo não foi excomungado, quando, na verdade, não é isso que ele diz de forma alguma. Além disso, veja que o Conde Capponi disse que “… este ATO não era, per se, cismático”. O Cardeal Castillo Lara assinalou que Lefebvre e os quatro bispos que ele consagrou estavam todos sob uma dupla penalidade – uma por cisma e uma por excomunhão. Sendo assim, ele ainda reconheceu o princípio que o Conde Capponi está aqui apontando: que “o ato de consagrar bispos não é, por si, um ato cismático”. Percebe-se que Conde está aqui tratando apenas do ato físico em si da consagração de um bispo e sendo um ato solitário de e em si mesmo como cismático. Obviamente esta afirmação está correta, mas que não atenua a situação de Lefebvre e dos quatro bispos que ele consagrou. Além disso, há uma substancial parte desta entrevista que a FSSPX corta ao citar Conde Capponi, e que é importante para melhor compreensão e clareza de sua visão da matéria. As partes relevantes que faltam da entrevista de Roger McCaffrey com o Conde Neri Capponi (da edição de maio-junho de 1993, da Latin Mass Magazine) que, a seguir, foram gentilmente fornecidas por cortesia de William P. Grossklas

McCaffrey: “A minha opinião é que não importa o que você pode dizer sobre 1988, o fato é que, até 1990 ou ’91, três bispos de Lefebvre consagraram outros bispos para a diocese de Campos, no Brasil e eles podem fazer jogo de palavras, mas o fato é que o Papa já havia nomeado um bispo para a diocese de Campos Agora os bispos de Lefebvre disseram: “Nós estamos consagrando esse bispo para os católicos tradicionais em Campos, ele não está reivindicando jurisdição.” Mas na realidade ele está reivindicando jurisdição naquela diocese E eu afirmo que é cismático na tendência; é cismático. O senhor concorda?”

Capponi: “Concordo totalmente.

[Conde Capponi continuou a dizer] “Não só esta ação em Campos definitivamente tem um sabor cismático nisto, mas devo dizer que algumas atitudes – não de todos os membros da Fraternidade de São Pio X, mas muitos deles – estão se tornando cada vez mais cismáticas“.

McCaffrey: “Bem, deixe-me dar um exemplo. Eles realmente fizeram uma declaração sobre o novo código (de Direito Canônico), dizendo que não aderem a ele.Sendo que este é o único código que temos – de acordo..?”

Capponi:.. “Exatamente Eu acho que aí eles exageram. Está tudo muito bem se um jurista criticar a formulação técnica do novo código, disser que é impreciso, disser que é ambíguo às vezes, mas não a aderir ao novo código é – bem.. há tendências cismáticas“.

McCaffrey: “Existe essa coisa de ‘espírito de cisma’- e eu acredito que existe um espírito de cisma entre os líderes da Fraternidade São Pio X. Você concorda?

Capponi: “Exatamente.”

McCaffrey: “Nos Estados Unidos, (a entrevista aconteceu no apartamento do Conde com vista para o Rio Arno) alguns vão me acusar de cumplicidade com os lefebvrianos por causa da sua resposta ao cisma e à participação na Missa e ao cumprimento do preceito (o Conde tinha dito que se você tiver um circo de três picadeiros na igreja de sua paróquia e uma Missa rezada pela FSSPX numa rua perto da sua, um católico cumpriria como preceito ao ir à Missa em uma missão ou capela da Fraternidade). Neste caso não há o que argumentar, pois deveria ser óbvio que, se por um lado, se achar que uma pessoa irá experimentar uma diminuição da fé por estar sujeito a uma dieta regular de disparidades do Novus Ordo, então, da mesma forma, uma pessoa poderá muito bem experimentar uma diminuição da fé no que diz respeito a sua associação permanente com a FSSPX por causa do conteúdo de seus sermões, escritos e publicações. Portanto, é preciso estar continuamente em guarda, quando a FSSPX estiver nas redondezas.

Capponi:.. “Eu não pretendia ser elogioso no tocante à Fraternidade de São Pio X. A Fraternidade tem muitas falhas. Eu não concordo com muitas coisas que eles falam. Falo da sua atitude em teologia moral que é muito fortemente jansenista. Sua atitude é, por vezes, extremamente sem caridade. E, como disse, há um forte espírito de cisma agora na Fraternidade que não existia na época de Mons. Lefebvre. Em certo sentido, curiosamente, Mons. Lefebvre mantinha esse espírito afastado.”

McCaffrey: “Exceto no final. Você sabia que depois que ele rompeu com Roma, ele escreveu ao Arcebispo prefeito de Campos, instando-o a consagrar um bispo para a diocese de Campos?”

Capponi: “Isso está indo na direção cismática.”[8]

Antes de mais nada, este escritor estaria omitindo algo muito importante se ele não relacionasse a notícia de que, em 18 de janeiro de 2002, o Bispo Rangel de Campos (acima mencionado) fez uma profissão de fé completa e juramento de fidelidade ao Santo Padre. Por isso, ele e a Associação Sacerdotal São João Maria Vianney de Campos, Brasil, receberam a comunhão do Santo Padre e uma estrutura legal que lhes permitem manter as suas tradições.

Ao se retornar para a citação acima, fica claro que o Conde Neri Capponi não expressou uma posição de apoio à FSPX em seu artigo. (Igualmente a partir dos trechos acima. Este escritor leu o artigo na íntegra algum tempo atrás e também no final de 1999, quando o encontrou na web. No entanto, já não parece estar disponível na íntegra na web.) É claro que esta parte da entrevista foi “convenientemente” omitida por eles, ao citarem Conde Capponi como um “aliado” à causa deles. É também óbvio, depois de ver os comentários do Conde no contexto não fornecido pela SSPX, que eles também são culpados de falso testemunho contra o Conde Neri Capponi como fizeram com o Cardeal Castillo Lara.

VII – Abordagem aos comentários do Cardeal AlfonsStickler e Professor Geringer:

CARDEAL ALFONS STICKLER:

O ex-prefeito dos Arquivos do Vaticano e da Biblioteca, trabalhou como perito para quatro comissões do Vaticano II. Agora vivendo no Vaticano, ele diz: “O Papa João Paulo II, em 1986, colocou para uma comissão de nove cardeais duas perguntas. Em primeiro lugar, o Papa Paulo VI, ou qualquer outra autoridade competente legalmente proibiu a celebração geral da Missa Tridentina [em Latim] nos dias de hoje? a resposta dada por oito dos cardeais em 86 foi que, não, a Missa de São Pio V nunca foi suprimida. Eu posso afirmar isso, pois eu era um dos cardeais. Havia uma outra questão, muito interessante. “Pode algum bispo proibir qualquer padre de boa reputação de celebrar a Missa Tridentina novamente?” Os nove cardeais concordaram unanimemente que nenhum bispo pode proibir um padre católico de dizer a Missa Tridentina. Nós não temos nenhuma proibição oficial e eu acho que o Papa nunca iria estabelecer uma proibição oficial … por causa das palavras de Pio V, que diziam que esta foi uma missa para sempre.” (Latin Mass Magazine, 5 de maio de 1995)

Não é interessante que eles tenham agora mudado o assunto para a licitude do Rito Tridentino?! Observe também a astuciosa mudança de assunto na citação acima. A pergunta era ‘Pode algum bispo proibir qualquer padre de boa reputação de celebrar a Missa Tridentina novamente?’. Esta é uma distinção importante a ser feita, porque os padres da Fraternidade não estão em boa situação, porque não estão sob a jurisdição do Ordinário local.

Na verdade o que a Fraternidade não diz em seu trecho é que há uma elipse[9] ausente e também uma palavra-chave que eles retiraram. Eis aqui as declarações do Cardeal Stickler, da Latin Mass Magazine. As palavras citadas pela FSSPX estarão em fonte menor na citação a seguir. As palavras “convenientemente” retiradas de sua citação estarão em fonte maior e que refutam diretamente a interpretação errônea que fizeram de Sua Eminência quer em negrito, quer sublinhado.

O Papa Paulo realmente proibiu o rito antigo?

O Papa João Paulo II, em 1986, fez, a uma comissão de nove cardeais, duas perguntas. Primeiramente, o Papa Paulo VI, ou qualquer outra autoridade competente, legalmente proibiu a celebração ampla da Missa Tridentina nos dias de hoje? Não. Ele perguntou a Benelli explicitamente, “Paulo VI proibiu a Missa Antiga?” Ele nunca respondeu – sim ou não.

Por quê? Ele não poderia dizer “Sim, ele proibiu.” Ele não podia proibir uma missa que era desde o princípio válida e foi a Missa de milhares de santos e fiéis. A dificuldade para ele era que ele não poderia proibi-la, mas ao mesmo tempo ele queria que a Missa Nova fosse rezada, para ser aceita. E então ele só poderia dizer: “Eu quero que a nova Missa seja rezada.” Esta foi a resposta que todos os príncipes apresentaram à pergunta feita. Eles disseram: o Santo Padre desejou que todos seguissem a nova Missa.

A resposta dada por oito [dos nove] cardeais em 1986 foi que, não, a Missa de São Pio V nunca foi suprimida. Eu posso dizer isso, eu era um dos cardeais. Apenas um foi contra. Todos os demais foram pela permissão livre: que todos pudessem escolher a Missa antiga. Esta resposta do Papa aceitou, eu acho; mas novamente quando algumas conferências episcopais tornaram-se cientes do perigo dessa permissão, eles vieram ao Papa e disseram: “Isso absolutamente não deve ser permitido porque será a ocasião, até causa, de controvérsia entre os fiéis”. E informado desse argumento, penso eu, o Papa se absteve de assinar esta permissão. No entanto, no tocante à comissão – eu posso relatar de minha própria experiência- a resposta da grande maioria foi positiva.

Houve uma outra pergunta, muito interessante. “Pode algum bispo proibir qualquer padre de boa reputação de celebrar a Missa Tridentina novamente?’ Os nove cardeais concordaram unanimemente que nenhum bispo pode proibir um padre católico de dizer a Missa Tridentina. Os nove cardeais concordaram unanimemente que nenhum bispo pode proibir um padre católico de dizer a Missa Tridentina. Nós não temos nenhuma proibição oficial e eu acho que o Papa nunca iria estabelecer uma proibição oficial não por causa das palavras de Pio V, que disse que esta era uma Missa para sempre. Essas palavras de Pio V eram comuns para uma decisão importante do Papa. Ele sempre disse, “Isso é válido para sempre.” Mas não era uma declaração teológica, não era uma declaração dogmática, este decreto do Papa promulgando sua vontade sobre a Missa Tridentina. E, portando, poderia ser alterado por seus sucessores ….

Em italiano, eles dizem que um papa propõe uma bula e um outro tem que pegar o touro pelos chifres, ou seja, ele pode mudar a disposição de seu antecessor …

E quanto a um bispo que proíbe a Missa no caso de um sacerdote ou de toda uma diocese? Você deve perceber que um bispo é o único que tem responsabilidade por sua diocese …. Bispos não têm jurisdição sobre os seus colegas. Um bispo em suas diocese, por sua diocese e seus súditos, pode encontrar argumentos para proibir isso. Ele pode dizer: “Isso é perturbador para a paz na diocese”.

É necessário notar que o privilégio é dado aos bispos, não aos fiéis. Assim, um bispo pode usar o privilégio ou não.[10]

Então é claro quando se lê mais das declarações do Cardeal que ele afirma claramente que (i) as palavras da Quo Primum não indicam que o rito da missa não possa ser alterado ou até mesmo posto de lado (ii) o Cardeal deixa claro que o Cardeal consultado pelo Papa João Paulo II estava simplesmente dando uma opinião para consideração de Sua Santidade. Mais ainda, (iii) apesar desta opinião, o papa não ratificou a permissão que os Cardeais afirmaram ser possível, à luz da não intenção do Papa Paulo de proibir a missa antiga. (No sentido de não querer que fosse rezada sob qualquer circunstância.) O Cardeal Stickler substancia isto ao observar que (iv) os bispos são os únicos ao quais foram dados este privilégio pelo papa (por meio do Indulto) e, portanto, eles podem aprová-la ou desaprová-la como entenderem.

E, finalmente, (v) como Cardeal Stickler observou que “o bispo é o único que tem a responsabilidade por sua diocese” e, portanto, “[a] por sua diocese e seus súditos, pode encontrar argumentos para proibir [em sua diocese o indulto]. Em suma, o Cardeal Stickler, também não é um aliado da causa da FSSPX ou mesmo da causa de qualquer um que apoie padres celebrando a missa Tridentina numa diocese onde tanto (i) o bispo diocesano não a permite ou (ii) as organizações que não tenham a aprovação do bispo diocesano. (Mesmo que o bispo diocesano aprove o Indulto em sua diocese).

PROFESSOR GERINGER:

Advogado canônico na Universidade de Munique “Com as consagrações episcopais, o Arcebispo Lefebvre não estava de forma alguma criando um cisma.”

Ninguém está afirmando que as consagrações episcopais em si criaram o cisma, mas, sim, que elas formalizaram o cisma já existente entre a Fraternidade e a Igreja. Assim, sobesta ótica, esta citação não prova nada, mesmo que citada sem alteração ou distorção feita pela FSSPX. Mas quando citada no contexto prova algo completamente diferente:

“Eu gostaria de dizer que, na época da entrevista com a rádio eu declarei explicitamente que, por meio da consagração dos quatro bispos por Lefebvre o cisma se tornou definitivo, e que Lefebvre e seus seguidores tinham perdido todos os seus direitos dentro da Igreja. “

Professor Geringer continuou a esclarecer que na entrevista em questão ele também tinha lidado com a necessidade de culpa moral antes da constituição de uma penalidade e a questão de uma atenuação da pena, onde as ações são feitas com base na convicção pessoal. Ele concluiu sua carta, no entanto, com a afirmação de que “não pode haver qualquer dúvida de que Lefebvre e seus adeptos são de fato cismáticos”.[11]

Assim, apesar de não haver disputa que ao consagrar os bispos o Arcebispo Lefebvre não estava criando um cisma, tal é devido porque a ação em si consolidou um cisma implícito já existente e o tornou explícito. Isto é o que o Cardeal Castillo Lara afirmou e isto é também o que o Professor Geringer observou sobre o assunto. Assim como fizeram com o Conde Neri Capponi e o Cardeal Castillo Lara, a FSSPX é culpada de falso testemunho contra o Professor Geringer também.

VIII – A Reveladora Carta do Pe Gerald E. Murray:

Da Arquidiocese de Nova York, trabalhando em seu doutorado em Direito Canônico, obteve, em junho de 1995, sua licenciatura em Direito Canônico pela famosa Universidade Gregoriana de Roma, provavelmente a instituição de ensino superior mais prestigiada da Igreja, com uma tese longa intitulado, “The Canonical Status of the Lay Faithful Associated with the Late Archbishop Marcel Lefebvre and the Society of Saint Pius X: Are they Excommunicated as Schismatics?[12] Em sua entrevista para Latin Mass Magazine, ele diz: “Eu obtive licenciatura em direito canônico e tenho estudado este tópico, a excomunhão do Arcebispo Lefebvre, para a minha tese de licenciatura… Eles não estão excomungados como cismáticos porque, no meu entendimento, o Vaticano nunca disse que estavam … eu cheguei à conclusão de que, canonicamente falando, ele não é culpado de um ato cismático punível pelo direito canônico. ele é culpado de um ato de desobediência ao Papa, mas fê-lo de tal maneira que ele pudesse valer-se de uma disposição da lei que o impeça de ser automaticamente excomungado (latae sententiae) por este ato.” Portanto, nem Arcebispo Lefebvre, nem qualquer dos bispos por ele consagrados, está excomungado.

“No caso dos leigos ou sacerdotes da Fraternidade de São Pio X, o Vaticano não declarou qualquer sacerdote ou leigo de se ter tornado um cismático”. Portanto, os sacerdotes e os fiéis não estão excomungados. “Tanto quanto eu posso ver, a Santa Sé nunca afirmou que a mera participação em uma missa rezada por um padre da Fraternidade de São Pio X constitui um ato cismático … Suponhamos que você saiba que o padre de sua paróquia esteja ensinando coisas contrárias à lei moral ou à doutrina católica. Digamos que ele negasse a existência do inferno, ou ensinasse que pessoas divorciadas e recasadas poderiam receber a comunhão. Você poderia ir a uma capela da Fraternidade de São Pio X para receber boa doutrina? Isso me parece melhor do que ouvir sermões verdadeiramente heréticos.” (Latin Mass Magazine, Outono, 1995).

Eles fizeram novamente!!! Olhe para a tática da linha logo após a palavra “ato” ao final do primeiro parágrafo. A linha está lá inserida entre o final da citação entre aspas e o início da próxima citação – também entre aspas e que se constitui o parágrafo seguinte – dando a impressão de que o Pe. Murray disse essas palavras quando ele não disse. Além disso, observe o título da tese do Pe. Murray: O Status Canônico dos fiéis leigos Associados ao falecido Arcebispo Marcel Lefebvre e à Fraternidade de São Pio X: eles estão excomungados como cismáticos? Trata-se do estado canônico dos fiéis leigos!!! Isto não tem NADA a ver com o estado dos Bispos da Fraternidade. Observe no meio do parágrafo e atente como eles inserem as palavras “Portanto, os sacerdotes e os fiéis não estão excomungados”. O Vaticano pode não os ter declarado individualmente – padres ou leigos – cismáticos (embora eles possam estar tão em cisma quanto um ato pessoal o possa ser e não ser estritamente um ato corporativo), mas isso não torna situação imediatamente “ok”  para assistir Missas na Fraternidade e receber a sacramentos por eles ministrados, como se nada estivesse errado. Além disso, eles estão trazendo para apoiar a opinião deles alguém que não era sequer canonista e – mesmo que fosse -colocando a sua palavra acima e contra a do Papa João Paulo II. O Sumo Pontífice é suplantado, de acordo com a FSSPX, por alguém com pouco estudo em Direito Canônico. Mas eles estão sendo realmente justos com o Pe. Murray na maneira com o citam??? Para essa resposta, Pe. Gerald E. Murray pode defender o que disse contra o que a FSSPX alega que ele teria dito:

Pe. Peter R. Scott, Superior Distrital

c/o Casa Regina Coeli

2918 Tracy Avenue

Kansas City, MO 64109

Telefone: 816-753-0073, Fax: 816-753-3560

14 de junho de 1996

Me foi enviado recentemente uma cópia de seu panfleto, “A Fraternidade de São Pio X é cismática? Excomungada? Roma diz que não.” Nesta publicação os senhores modificaram citações da minha entrevista na edição de Outono de 1995 da revista The Latin Mass. Os senhores intencionalmente mal interpretaram a mim e até mesmo colocaram palavras em minha boca. Vou ilustrar esta desonestidade flagrante abaixo.

Mas primeiro algumas observações preliminares. Os senhores afirmam que eu tenho um doutorado em direito canônico (um J.C.D.). Eu não tenho um J.C.D., e em parte alguma de minha entrevista eu afirmei possuir este grau de formação. Os senhores inventaram. Também afirmam que a Universidade Gregoriana, onde eu completei a minha licenciatura e onde eu estou atualmente estudando para um doutorado em direito canônico, “diz que a Fraternidade de São Pio X não está nem em cisma, nem está excomungada … e que qualquer um pode cumprir o seu preceito de Domingo, participando de Missas da Fraternidade”. A Gregoriana não disse qualquer coisa do tipo. O conteúdo e as conclusões de minha tese de licenciatura são minhas apenas, não da Gregoriana.

Minha tese de licenciatura foi aprovada e avaliada apenas pelo meu moderador – que, aliás, não estava de acordo com as minhas conclusões sobre a eventual nulidade da declaração de excomunhão emitidas pela Santa Sé contra o Arcebispo Lefebvre e demais bispos envolvidos. Foi relatado incorretamente na The Latin Mass que eu defendi com sucesso a minha tese, implicando assim em uma defesa pública por um conselho acadêmico, mas que não é o caso. Nenhum tipo de defesa pública perante a faculdade de direito canónico é necessário para uma tese de licenciatura na Gregoriana (mas é necessário para uma tese de doutoramento).

Em qualquer caso, mesmo supondo uma defesa pública, deve ficar claro que minha tese é trabalho meu, e a Universidade Gregoriana, enquanto instituição, não é a autora das minhas conclusões.

Após a publicação da minha entrevista e trechos de minha tese na The Latin Mass, repensei e mudei algumas das minhas conclusões, e eu indiquei essas correções em uma carta para ser publicada na edição da mesma revista no Verão de 1996. Encaminho uma cópia daquela carta para seu interesse.

Agora quanto às falsificações e enganos específicos em seu panfleto, incluo abaixo minhas palavras reais da entrevista na The Latin Mass, e a versão falsificada dos senhores:

1) Os senhores dizem que eu disse: “Eu obtive um doutorado em direito canônico e tenho estudado este tema, a excomunhão do Arcebispo Lefebvre, para a minha tese de doutoramento “.

Na verdade, eu disse: “Eu obtive licenciatura em direito canônico e tenho estudado este tópico, a excomunhão do Arcebispo Lefebvre, para a minha tese de licenciatura.”

2) Os senhores dizem que eu disse: “Eles não estão excomungados como cismáticos, porque o Vaticano nunca disse que estavam”

Na verdade, eu disse: “Eles não estão excomungados como cismáticos porque, no meu entendimento, o Vaticano nunca disse que estavam.”

3) Os senhores dizem que eu disse: “. … você pode … mostrar que o próprio Lefebvre não foi excomungado e, portanto, ninguém mais o foi”

Na verdade, eu disse: “Ou você pode tentar mostrar que de fato o próprio Lefebvre não foi excomungado e, portanto, ninguém mais o foi.”

4) Os senhores dizem que eu disse: “a Santa Sé nunca afirmou que a mera participação em uma missa rezada por um padre da Fraternidade de São Pio X constitui um ato cismático”

Na verdade, eu disse: “Ao meu ver, a Santa Sé nunca afirmou que a mera participação em uma missa rezada por um padre na Fraternidade de São Pio X constitui um ato cismático”.

5) Os senhores dizem que eu disse: “Você pode ir a uma capela da Fraternidade de São Pio X para receber boa doutrina? Parece-me melhor do que ouvir sermões verdadeiramente heréticos, por exemplo, ao negar o inferno, ou que pessoas divorciadas e recasadas poderiam receber a comunhão.”

O que eu realmente disse em resposta a uma pergunta do entrevistador (“Você não está incentivando as pessoas a assistir a estas Missas, mas você está simplesmente dizendo – e a propósito, o Cardeal Ratzinger sugere isso também em uma entrevista à imprensa -. que apenas assistir a esta Missa não significa que eles sejam cismáticos”, Ratzinger disse que ele sabia que as pessoas que frequentam as Missas da FSSPX ‘na convicção de que elas ainda estão em plena comunhão com o Papa’. Ele fez um convite a ‘uma atitude de generosidade para com essas pessoas, muitas dos quais estão angustiadas. ‘Assim você está,por um lado, não defendendo que as pessoas assistam a essas Missas, mas, por outro, você está dizendo que não é um ato cismático, necessariamente”) foi :

Suponhamos que você saiba que o padre de sua paróquia esteja ensinando  coisas contrárias à lei moral ou à doutrina católica. Digamos que ele negasse a existência do inferno, ou ensinasse que pessoas divorciadas e recasadas poderiam receber a comunhão, e você sabia que era tolerado pelo seu bispo local. Você poderia ir a uma capela da Fraternidade de São Pio X para receber boa doutrina? Isso me parece melhor do que ouvir sermões verdadeiramente heréticos. Eu posso estar errado, mas creio que tenha um direito mais importante em estar em paz com sua Fé do que escutar heresia.

Os senhores me deturparam extensivamente em apoio de suas afirmações propagandísticas. Vocês, de forma brutal, ignoraram minhas observações críticas voltadas à Fraternidade de São Pio X na entrevista.

Eu não posso exigir que os senhores citem o que não está a seu favor. Mas eu posso e exijo veementemente que os senhores relatem minhas observações de forma verdadeira e completa, e nos seus devidos contextos, em sua publicação. Ao invés, os senhores forjaram e falsificaram minhas observações. Isto é completamente desonroso e desonesto. E é inteiramente vergonhosa a tentativa de legitimar suas reivindicações, invocando um alegado falso status de doutor em direito canônico.

Exijo que os senhores retirem esta publicação imediatamente de circulação. Ao fazerem o contrário cairão em mentira pública sobre o que eu disse. O registro público das minhas observações na The Latin Mass contradiz os senhores. Os senhores tem uma obrigação com a verdade e com a justiça em não espalhar falsidades, e,de forma particular, em não me representar como dizendo coisas que eu não disse, deixando de fora as coisas que eu disse, mas as quais os senhores desejariam que eu não as tivesse dito.

A recusa em remover este panfleto enganoso de circulação confirmaria para mim que a deturpação dos senhores das minhas palavras era de fato inteiramente intencional, e que os senhores são implacáveis em relação à sua falsificação de minhas declarações reais.

Eu sugiro que os senhores façam a coisa certa e recolham imediatamente este panfleto. Se os senhores se recusarem a remover este panfleto de circulação futura, vou ser obrigado a tomar medidas defender o meu direito de ser citado com precisão em publicação.

Rev. Gerald E. Murray, Roma, Itália[13]

A partir de 1999, as alterações exigidas pelo Pe Murray em 1996 foram feitas no parágrafo acima. Eles foram aqui postas para mostrar que a FSSPX envolveu-se em uma deturpação flagrante dos comentários do Pe. Murray na entrevista, assim como a sua competência canônica. O panfleto se referia a ele como alguém que tivesse doutorado em direito canônico quando possui apenas uma tese de licenciatura enquanto estudava para o seu doutorado. (Isso não é pouca distorção.) Foi intencional??? Com base na forma como eles erroneamente apresentaram as opiniões de outras pessoas que eles citaram (como o Cardeal Castillo Lara, o Conde Neri Capponi e o Professor Geringer), parece altamente improvável que eles teriam alterado o panfleto se Pe. Murray não escrevesse a eles e exigisse que não lhe deturpassem.

Antes de deixar o assunto da carta do Pe. Murray, é importante notar aqui que ele repensou suas conclusões. Quando amigo deste escritor F. John Loughnan questionou por e-mail, enviando ao Pe. Murray uma carta sobre o abuso constante de suas declarações pela FSSPX, Pe. Murray escreveu de volta dizendo: “Não estou feliz com o uso constante de argumentos que eu revisei na literatura produzida pela FSSPX. Suas reivindicações são exageradas, e eles seletivamente citam-me para dar a impressão de que apoio as suas reivindicações” (15 de julho de 1999). Assim, mesmo a versão modificada do panfleto da SSPX não merece a aprovação do Pe. Murray.

IX – Considerações sobre os comentários do Pe. Patrick Valdini:

Pe. PATRICK Valdini:

Decano da Faculdade de Direito Canônico do Instituto Católico de Paris disse que o Arcebispo Lefebvre não cometeu um ato cismático pelas consagrações, pois ele não negou o primado do Papa. “Não é a consagração de um bispo que cria o cisma. O que consisteem cisma é dar ao bispo uma missão apostólica.”, que é algo que o Arcebispo Lefebvre nunca fez (Question de Droit ou de confiance, L’Homme Nouveau, Fev.17, 1988).

Mais uma vez a FSSPX aparece com seu esquema fraudulento ao dar sua própria interpretação, ao final da frase entre a citação da fonte e o fim da citação para fazer parecer que o Pe. Valdini apoia alegações da Fraternidade. Eles também prefaciam a citação do Pe. Valdini dizendo que ele disse que “nunca negou primado do papa”, o que, é claro, não está presente em qualquer parte da citação por eles fornecidas. O que é necessário da parte deles é a evidência de citações explícitas, não citações parciais ou ambíguas que a FSSPX posteriormente modifica ou distorce colocando a pessoa citada em maus lençóis ao ser citada como uma defensora da posição deles. Eles fizeram isso com Pe. Murray e ele justificadamente ficou indignado. A citação do Pe. Valdini torna-se, na realidade, favorável. Se você remover as versão distorcida da FSSPX, ela na realidade, apresenta-se contra a posição da Fraternidade. Ainda que ela apoie a Fraternidade (e as consagrações em e de si mesmas não eram cismáticas), ainda assim passa por cima de outros aspectos que afetam a interpretação adequada da posição da FSSPX.

Ninguém alega que as consagrações em si foram cismáticas. O ato cismático consistiu-se na desobediência ao Sumo Pontífice na realização das consagrações contra a sua ordem explícita para não fazê-las. A FSSPX está agora tentando argumentar que consagrar um bispo não é um ato cismático. Bem, é claro que não é, este é um exemplo clássico de mudança de contexto. A citação do Pe. Valdini é no mínimo neutra, mas a Fraternidade ao se sobrepor ao final de sua citação (o que, a propósito, eles fizeram 3 vezes até o momento) faz com que a visão do Pe Valdini sobre o assunto torna muito alta a probabilidade que estaria em consonância com o que o Cardeal Castillo Lara, Conde Neri Capponi e Professor Geringer disseram sobre o assunto. Note-se ainda que o Pe. Valdini diz que “[o] que consiste em cisma é dar ao bispo uma missão apostólica”. Isto parece sugerir que o Pe. Valdini está dizendo que a Fraternidade está em cisma, porque caso contrário a formulação não faz sentido.

A FSSPX bate sempre na mesma tecla, afirmando que o Arcebispo nunca aspirou estabelecer uma missão apostólica e espera que isto seja suficiente como evidência para a posição deles. A opinião da FSSPX não pode se constituir como prova a seu favor: isto é por excelência um raciocínio circular. Esta citação não sustenta a posição deles de forma alguma. Além disso, fizeram uma releitura do que o Cardeal Castillo Lara e Conde Neri Capponi disseram sobre o assunto. Cardeal Castillo Lara apontou explicitamente que o Arcebispo Lefebvre no cometimento desta ação estava dando a seus bispos uma missão apostólica. Conde Capponi concordou com Roger McCaffrey da Latin Mass Magazine, que (o incidente de 1988 deixado de lado por ora) as ações dos três Bispos da Fraternidade consagrados (mas excomungados) em Campos, no Brasil, em 1991, foi uma violação da jurisdição e, portanto, foi um ato cismático. Além disso, há um outro dilema interessante que a Fraternidade se encontra e é este: Se os bispos da FSSPX não têm jurisdição (que é o que afirma a FSSPX) e eles também não têm uma missão apostólica (que eles ainda alegam), então eles não têm autoridade para fazer qualquer coisa que seja!!! Mas os bispos da Fraternidade executam crismas e outras funções sacerdotais. Portanto, eles estão reivindicando uma missão apostólica ou reivindicando jurisdição??? Eles não podem ter as duas coisas. Qualquer posição incrimina o seu status na Igreja (uma vez que o Romano Pontífice lhes negou faculdades para qualquer um) por isso que eles negam ambos. Oh em que encruzilhada se colocam…

PARTE 3

X – Em resumo:

Cardeal Ratzinger, Cardeal Stickler, Cardeal Lara, Cardeal Cassidy, Eminentes Advogados Canonistas, em Roma e muito mais dizem que a Fraternidade São Pio X não está nem em cisma, nem está excomungada … e que qualquer pessoa pode cumprir seu preceito dominical ao frequentar as Missas da Fraternidade.

Para resumir os pontos abordados até agora:

(I) Cardeal Ratzinger não estava se dirigindo ao status canônico da Fraternidade no caso dos 6 havaianos, assim eles ao citá-lo como prova em apoio ao status da organização na Igreja é flagrantemente enganoso.

(Ii) Cardeal Stickler não aborda a situação canônica da Fraternidade de São Pio X, em sua entrevista para Latin Mass. No entanto, qualquer leitura honesta da entrevista colocará em relevo que a FSSPX novamente procurou manipular a posição de um prelado de alto escalão. E, como o Cardeal Stickler observa nessa entrevista, é negativa para a FSSPX e outros radicais assim chamados “tradicionalistas” sobre o tema do “direito” de celebrar a liturgia Tridentina independente da anuência dos bispos diocesanos, um breve esquema de seus comentários nesta seção resumo será feito de modo que não reste qualquer dúvida quanto à posição de Sua Eminência sobre esses assuntos.

 A citação do cardeal referente à licitude do Rito Tridentino, que é um non sequitur[14] para a sua causa. Além disso, considerando-se a jurisdição do trecho citado do Cardeal Stickler (que a FSSPX edita ao para frasear seus comentários), o Cardeal Stickler na verdade condena a FSSPX por celebrar o Rito Tridentino uma vez que ele mencionou em sua citação a necessidade do padre se de “boa reputação” para assim celebrá-la, o que nenhum padre da Fraternidade ou qualquer assim denominado “padre independente” o é. (Uma questão que Sua Eminência mais abaixo levantou na entrevista, quando falou do direito do Ordinário local de proibir a celebração da liturgia tridentina em sua diocese: uma outra omissão “conveniente” feita pela SSPX em sua deturpação flagrante das declarações de Sua Eminência.

O Cardeal posteriormente especificou, ainda, que a posição dos nove cardeais era de tal forma que dependia de receber a permissão do papa – e, mais ainda, que o papa “não assinou a permissão” que permitiria a qualquer padre se de boa reputação celebrar o Rito Tridentino. Sua Eminência também observou que a posição da Quo Primum não foi um fator na “falta de supressão de missa – um ponto a FSSPX enganosamente escondeu ao deixar a palavra “não” fora do texto e substituindo-a por uma elipse[15]. E, claro, que a parte em que Sua Eminência falou da permissão necessária para todos os sacerdotes para celebrar a Missa Tridentina e da não ratificação do papa dessa permissão foi removida do texto sem deixar estar parte subentendida no panfleto da FSSPX. Em suma, o Cardeal Stickler refuta ponto por ponto das declarações da FSSPX de tal forma que ele não possa ser honestamente listado dentre os aliados da FSSPX.

(Iii) O Professor Geringer se limitou meramente a dizer que as consagrações em si não criaram um cisma. A FSSPX novamente espera que todos se concentrem no ato da criação do cisma ao invés da análise de indicar que a Fraternidade já estava em cisma. Esta análise é aquela que reconhece a Fraternidade (por suas ações) como já estando em cisma implícito antes das consagrações de 1988. O ato de consagração, posterior, não era de si mesmo e por si só criador do cisma. Ao contrário, o ato foi apenas um movimento em direção ao cisma que já existia anteriormente implícito (desde 1976) e que o formalizou explicitamente na consagração dos 4 bispos em 1988 sem mandato papal. Em suma, as próprias consagrações ilícitas (ou seja, ilegais e pecaminosas) foram um movimento de um estado de “cisma material” para um cisma completamente formalizado; elas não criaram por si mesmas o cisma. Professor Geringer como mencionado acima fez a mesma análise, quando declarou que “por meio da consagração dos quatro bispos por Lefebvre o cisma se tornou definitivo”.

(Iv) O Cardeal Castillo Lara – que estava diretamente envolvido na revisão do Código de Direito Canônico de 1917 e reconhecido por sua especialização em Direito Canônico pelo Papa João Paulo II – diz explicitamente (em sua carta a John Beaumont) que a FSSPX estava sob duas penas canônicas: uma de cisma e umade excomunhão.

(v) O Conde Neri Capponi concordou explicitamente com Roger McCaffrey da Latin Mass Magazine sobre o status da FSSPX. O Sr. McCaffrey declarou (na parte da última entrevista do Conde para Latin Mass Magazine, que a SSPX “convenientemente” editou sua citação) que a consagração de um bispo para Campos, no Brasil, foi uma violação de jurisdição e foi, assim, uma ato de cisma. Lembre-se, a questão é se a Fraternidade está em cisma hoje mesmo que não estivesse em 1988, é o seu status atual que está em questão aqui.

Pois mesmo se o Conde Capponi não considerasse que a Fraternidade estivesse em cisma pelas ações de 1988, não se pode argumentar que a 1991 a consagração de um bispo da Fraternidade em Campos, no Brasil, foi uma ação que explicitamente reivindicava ou uma jurisdição ou era um estabelecimento explícito de uma missão apostólica pela FSSPX no Brasil. Esta ação sem mandato papal, foi um ato cismático, porque era um reivindicação de facto de jurisdição pela FSSPX. (Como o Sr. McCaffrey mencionou e com a qual o Conde concordou. E claro que a Fraternidade “convenientemente” deixou de fora esta parte da entrevista em seu panfleto.) Então, por mais que tentassem, a FSSPX não conseguiu constranger o Conde Neri Capponi em apoiara posição dela, apesar das suas tentativas de descaracterizá-lo dessa maneira.

(vi) O Cardeal Cassidy é o presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos e afirmou especificamente que a sua pasta não está preocupada com a FSSPX. Não há, mesmo assim, qualquer evidência de que Cardeal Cassidy esteja qualificado para julgar matérias de direito canônico, assim o seu ponto de vista é questionável. Além disso, mesmo se ele estivesse correto, ele é uma voz apenas nesta lista que afirma que os sacramentos administrados pelos padres da Fraternidade são válidos. O Direito Canônico diz de forma diferente e isso será abordado na próxima seção.

(vii) Pe. Murray (que citaram como uma fonte credível) afirma que eles inicialmente mentiram sobre sua posição e status (eles corrigiram essas seções assim parece). No entanto, ele também afirma ter feito muitas declarações críticas contra a FSSPX nesse artigo que eles ignoraram (claro). Pe. Murray indicou ainda que ele tinha mudado de opinião sobre muitas destas questões. É absolutamente claro que a FSSPX não está apresentando os dois lados da questão. Que estranho, uma vez que tantos “peritos” – de acordo com eles – os apoiam suas alegações.

(Viii) Pe. Valdini (a quem eles citam como uma fonte credível) faz uma declaração muito ambígua. A partir daí, a FSSPX busca alterar a sua citação adicionando à frente dela (para “explicar” o que ele “pretende” dizer presumivelmente). Em seguida, eles fazem acréscimos ao final, aparentemente para fazê-lo parecer que concorda com eles sobre o assunto. Retirar as distorções da Fraternidade e a citação não “prova” de forma alguma que a Fraternidade não está em cisma nem que isto apoia as suas alegações de qualquer forma. Na verdade, aparece mais condenar a FSSPX com base no texto da própria citação. De qualquer maneira, porém, não há certamente evidência que apoie as alegações da Fraternidade.

Deve ser bastante óbvio, à luz de tudo aqui apresentado, que o Cardeal Ratzinger, Cardeal Castillo Lara, Conde Neri Capponi, o Cardeal Stickler, o Professor Geringer, Pe. Gerald Murray, e Pe. Patrick Valdini – todos os quais são citados como “peritos apoiadores” da FSSPX – na realidade nem condenam a Fraternidade pura e simplesmente nem fazem comentários que sejam non sequitur[16] viz.[17] a posição canônica da FSSPX. Apenas o Cardeal Cassidy – o único exemplo da lista que não pode de direito ser tido como um canonista – parece ter declarado em outro sentido, mas o contexto das suas declarações não puderam ser verificadas. Dado o histórico da Fraternidade sobre todos os outros pontos é tão lamentável, este escritor presumirá que o Cardeal Cassidy se ler no contexto apropriado concordará com os demais nesta lista e declarará um placar de 8 x 0 contra a FSSPX. Se isto é o melhor que eles podem fazer para defender o seu caso, então eles não têm nenhum caso.

Na próxima seção, o foco será sobre a posição da Igreja, mostrando que se deve confiar no Magistério da Igreja Católica e não em indivíduos que exercem o seu próprio julgamento privado em questões doutrinais/morais/eclesiásticos.

Notas adicionais:

A citação bíblica foi originalmente tirada da Bíblia Douay-Rheims online que já não está disponível na Internet. No entanto, a Bíblia RheimsDouay localizado no seguinte site é semelhante em muitos aspectos ao originalmente usado:

http://www.scriptours.com/bible/

A citação “Extra SynodalLegislation” – N.T. “Legislação Extra Sinodal”-  do Bispo Fabian Bruskewitz foi obtida no seguinte link:http://www.ewtn.com/library/BISHOPS/BRUSKWTZ.HTM

A citação da Constituição Apostólica “SacraeDisciplinaeLeges”, onde o Papa João Paulo II promulgou a 1983 o Código de Direito Canônico foi obtida no seguinte link: http://www.ourladyswarriors.org/canon/promulgate.htm

As citações do Cardeal Castillo Lara e Professor Geringer podem ser encontradas no artigo da Fidelity Magazine que podem ser vistos aqui:

http://web.archive.org/web/20030420210815/http://home.earthlink.net/~grossklas/vanishingschism.htm

A parte da entrevista da Latin Mass com o Conde Neri Capponi (que a FSSPX editou seletivamente para o seu panfleto) pode ser encontrada aqui:

http://web.archive.org/web/20050326035211/http://home.earthlink.net/~grossklas/section5.htm

A citação do Cardeal Alphons Maria Stickler S.D.B. foi obtidada edição de Verão de 1995 “The Latin Mass.”

As citações de Professor Geringer foram obtidas no seguinte link:

http://web.archive.org/web/20051123211853/http://members.lycos.co.uk/jloughnan/ratzprl.htm

A carta do Pe. Fr. Gerald E. Murray em sua totalidade foi obtida no seguinte link:

http://web.archive.org/web/20040215054930/http://www.home.earthlink.net/~grossklas/section10.htm

Addedum:

Este escritor desconhece qualquer grupo usando o rótulo de “tradicionalista” que esteja em comunhão com o Santo Padre, exceto a Fraternidade de São Pedro, Instituto de Cristo Rei, a Fraternidade de São João, a Fraternidade de Santo Atanásio, e (partir de 18 de janeiro de 2002) a Associação Sacerdotal São João Maria Vianney, em Campos. (Sob o Bishop Rangel.) Isso não significa que estes sejam os únicos. Esteja atento, pois, como regra geral, a maioria dos grupos que afirmam estar filiados a Roma estão mentindo e não se pode fiar apenas em suas palavras.

© 2003, 2000, “A Prescrição Contra” tradicionalismo ” (Parte 8), escrito por I. ShawnMcElhinney. Este texto pode ser baixado ou impresso para leitura privada, mas não pode ser enviadopara outro site da Internet ou publicado, em formato electrónico ou qualquer outro formato, sem autorização expressa por escrito do autor.



[1] Gênesis 3: 1, 4-5.

[2]N. T.:A Fraternidade de São Pio X é cismática? Excomungada? Roma diz que não.

[3]N. T.:O Status Canônico dos fiéis leigos Associados ao falecido Arcebispo Marcel Lefebvre e à Fraternidade de São Pio X: eles estão excomungados como cismáticos?

[4]Panfleto da Fraternidade São Pio X: “IstheSocietyofPt. Pius X in Schism? Excommunicated?RomeSays No!” (c. 1996) Continua a circular desde Dezembro de 2002.

[5]Bispo Fabian Bruskewitz: Formal Canonical Warning of Excommunication (March 22, 1996)

[6]O Papa João Paulo II: Constituição Apostólica “Sacrae disciplinae Leges” (25 de janeiro de 1983).

[7]Cardeal Castillo Lara: Letter to John Beaumont, (26 de maio de 1993). Citado no artigo para Fidelity Magazine “The Story of the Vanishing Cisma: The Strange Case of Cardinal Lara“, de John Beaumont e John Walsh (Março de 1994)

[8]Roger McCaffrey: Interview with Count NeriCapponida “Latin Mass Magazine” (May-June 1993).

[9]N.T.: Elipse (do grego élleipsis, “omissão”, através do latim ellipse) é a omissão de um termo da frase que seja facilmente subentendido

[10]Cardinal Alphons Maria Stickler: Entrevista para “Latin Mass Magazine” sobre a Missa Tridentina (data publicação: Summer 1995)

[11] Professor Geringer: Carta a John Beaumont (17 de agosto de 1993).

[12]N. T.:O Status Canônico dos fiéis leigos Associados ao falecido Arcebispo Marcel Lefebvre e à Fraternidade de São Pio X: eles estão excomungados como cismáticos?

[13]Pe Gerald E. Murray: Carta ao Pe Scott da FSSPX (14 de Junho, 1996)

[14]N. T.: Non sequitur é uma expressão latina (em português “não se segue”) que designa a falácialógica na qual a conclusão não decorre das premissas. Em um non sequitur, a conclusão pode ser verdadeira ou falsa, mas o argumento é falacioso porque há falta de conexão entre a premissa inicial e a conclusão

[15]N.T.: Voltar a nota 9 para o significado de “elipse”

[16]N.T.: Vide Nota 14.

[17]N.T.: O advérbio videlicet é abreviado por viz. (também representado como viz, sem um ponto final) são vocábulos empregados como sinônimos para “a saber”, “que quer dizer” e “da seguinte forma”.

FONTE


I. Shawn McElhinney. “A Prescription Against ‘Traditionalism'” (Part 8). 2003, 2000.

PARA CITAR


I. Shawn McElhinney. Alguns erros e fraudes de “Tradicionalistas” desonestos. <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/concilio-vaticano-ii/diversos/875-algunserros-e-fraudes-de-tradicionalistas-desonestos> Desde 11/05/2016. Tradutor: JBF.

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