Domingo, Maio 5, 2024

A virgindade perpétua de Maria nos cinco primeiros séculos (parte 1)

Um protestante publicou um texto em seu blog, dividido em duas partes, intitulado “A virgindade perpétua de Maria e a evidência histórica”.  Ele analisa vários escritos, autores antigos e Padres da Igreja e tenta fundamentar-se, principalmente, em Juniper B. Carol, a que julga um especialista sobre o tema, e em J.N.D Kelly, estudioso protestante.  Em contrapartida, nosso presente estudo pretende analisar exaustivamente o pensamento dos Pais da Igreja e também dos escritores antigos, eclesiásticos ou não, sobre a virgindade perpétua de Nossa Senhora. No decorrer do estudo apontaremos os erros ou conclusões precipitadas que o blogueiro protestante tomou ao escrever o sobredito artigo.

Antes de tudo, por questão de ordem, é importante frisar que o blogueiro não estava utilizando palavras do Pe. Juniper B. Carol, mas na verdade do Pe. Philip J. Donnelly. A Obra “Mariologia” foi escrita por uma Comissão internacional de especialistas sob a presidência do Pe. J. B. Carol, mas deste último só há um estudo na Obra, intitulado “Corredenção de Nossa Senhora”. Essa Comissão foi, de fato, composta de autores especialistas no assunto em questão. Não se trata apenas de estudiosos católicos ou protestantes que estudaram e escreveram sobre a Patrística em geral, mas de católicos que se dedicaram fixamente sobre diversos temas da mariologia e escreveram muitos livros sobre o tema. Por isso, a sua referência (Mariologia, Madrid, BAC, 1964) é preciosa para o nosso presente tema.

O estudo será divido em três partes, basicamente. Primeiramente (parte 1) irei deter-me nos ensinamento dos Pais da Igreja e dos escritores antigos sobre a virgindade no parto de Maria. Nesta parte irei analisar o uso que o blogueiro faz do Pe. Philip (que ele imagina ser o Pe. Carol) e apontar se o uso que ele fez do teólogo foi correto. Também irei refutar ou solucionar as citações por ele propostas. Na próxima parte do estudo (parte 2), da mesma forma que fiz na primeira parte, vou tratar dos ensinamentos dos Pais da Igreja sobre a virgindade pós-parto. Por fim, através dos estudos dos especialistas, tiraremos nossas conclusões (parte 3).

1. A VIRGINDADE DE MARIA NO PARTO

1.1. Segundo e terceiro séculos

Proto-Evangelho de Tiago:

“Então a mulher que descia a montanha me perguntou: ¨Onde vais?¨ Respondi: ¨Procuro por uma parteira hebréia¨. Ela disse: ¨Sois de Israel?¨ Respondi: ¨Sim¨. Então ela disse: ¨Quem está dando à luz na caverna?¨ Disse-lhe: ¨Minha esposa¨. Ela replicou: ¨Mas não é tua mulher?¨ Respondi-lhe: ¨É Maria: aquela que foi criada no Templo do Senhor. De fato, foi-me dada por mulher, mas não o é, e agora concebe por obra do Espírito Santo¨. Disse a parteira: ¨Isso é verdade?¨ José respondeu: ¨Vinde e vede¨. Então a parteira foi com ele. Chegando à caverna, pararam, pois estava coberta por uma nuvem luminosa. Disse a parteira: ¨Minha alma foi agraciada pois meus olhos viram coisas incríveis e a salvação para Israel nasceu!¨ Então a nuvem saiu da caverna e de dentro brilhou uma forte luz, de forma que nossos olhos não conseguiam ficar abertos. E [a luz] começou a diminuir e viu-se que o menino mamava no peito de sua mãe, Maria. E a parteira gritou: ¨Hoje é meu grande dia! Vi com os meus olhos um novo milagre¨. E, saindo da gruta, veio ao seu encontro Salomé. Disse a parteira: ¨Salomé, Salomé! Preciso contar-lhe uma maravilha jamais vista: uma virgem deu à luz. Como sabes, isso é impossível para a natureza humana¨. Respondeu-lhe Salomé: ¨Pelo Senhor, meu Deus, não acreditarei enquanto não puder tocar os meus dedos em sua natureza para examinar-lhe¨. Então a parteira entrou [na caverna] e disse a Maria: ¨Prepara-te porque existe uma dúvida sobre ti entre nós¨. E Salomé pôs seu dedo na natureza [de Maria] e soltou um grande grito: ¨Ai de mim! Minha malícia e incredulidade são culpadas! Eis que minha mão foi carbonizada e desprendeu-se do meu corpo por tentar ao Deus vivo!¨ E, se ajoelhando diante de Deus, pediu: ¨Ó Deus de nossos pais: recorda-te de mim, pois sou descendente de Abraão, Isaac e Jacó! Não me tornes exemplo para os filhos de Israel! Cura-me para que possa continuar a me dedicar aos pobres, pois bem sabes, Senhor, que curava em teu Nome e recebia diretamente de Ti o meu salário¨. Então um anjo do céu apareceu-lhe e disse: ¨Salomé, Salomé! Deus te ouviu! Toque o menino e terás alegria e prazer¨. E Salomé se aproximou e pegou o menino. E disse: ¨Adoro-te porque nasceste para ser o Grandioso Rei de Israel¨. Sentiu-se, então, curada e pode sair em paz da caverna. E ouviu-se uma voz que dizia: ¨Salomé, Salomé! Não digas a ninguém as maravilhas que presenciaste até que o menino vá para Jerusalém.” (Proto-evangelho de Tiago 19-20)

Os autores José Antonio de Aldama em seu livro “María en la Patristica de los siglos I y II” e De Strucker afirmam que essa obra é do século II, escrita por um cristão[1]. O autor em seu blog admite que o Proto-Evangelho favorece a virgindade de Nossa Senhora no parto, no entanto, faz pouco caso dessa citação pela sua pouca confiabilidade histórica. Concordamos que os apócrifos, no geral, possuem conteúdo fantasioso e que seus valores não são históricos sobre os acontecimentos que relatam. Contudo, para conhecer diversos pontos de doutrina no pensamento dos cristãos primitivos este proto-evangelho é válido e útil.

O Pe. Alfred C. Rush explica-nos sua importância em muitas passagens do seu estudo “Maria nos Evangelhos Apócrifos” na obra “Mariologia” de Carol Juniper. Falando dos apócrifos estudados em geral diz:

“Estes trabalhos, têm em geral, muito pouco interesse histórico e não se pode tomar como testemunhos fiéis dos acontecimentos. Contudo, possuem grande valor em outros aspectos. De imediato nos oferece um meio de penetração na mentalidade dos tempos que os viram nascer; mostram-nos tendências e costumes junto às crenças dos primitivos tempos do cristianismo; daqui que sejam de capital importância para o teólogo e para o que se dedica à história do dogma. São também de grande valor para o estudo da mariologia” (p. 154).

Terceiro, a sublime mariologia contida nestes livros é um testemunho maravilhoso do bom fundamento da devoção dos fiéis a Maria. Este nos conduz a considerar a grande importância destes relatores para os teólogos e os historiadores do dogma, por seu valor como testemunhas de uma Tradição, e finalmente devemos ter em conta que, com muita freqüência, existe um paralelismo entre o desenvolvimento e a explicação de uma doutrina nos ensinamentos dos apócrifos e na pregação patrística” (p. 182)

Especialmente sobre o Proto-Evangelho de Tiago:

“Este livro nos demonstra o lugar que ocupava a devoção a Maria na piedade popular nestes primeiros momentos”. (p. 157)

Falando mais especificamente do assunto que nos interessa, diz:

“Sem embargo, no século II se ataca a virgindade de Maria, dizendo que Jesus inventou a história de seu nascimento virginal e que era em realidade filho de pecado. Para refutar essa teoria, o autor do Proto-Evangelho defende ardentemente a virgindade perpétua de Maria. (E. AMANN, Le Protoévangile de Jacques 10-15)” (p.159).

O Pe. Philip J. Donnely (que o autor do blog confunde com Carol) sobre o Proto-Evangelho comenta:

“Sem embargo, deve ter sido doutrina corrente a da virgindade perpétua de Maria, ao menos em alguns círculos que estavam em contato com aqueles escritos apócrifos. Exemplo disso temos em Orígenes, que nos descreve “certo evangelho” que ele atribui a São Pedro e no qual os chamados irmãos do Senhor, que nomeiam os Evangelhos canônicos, afirma-se ser filhos de José por um primeiro matrimônio. Também a Ascensão de Isaías e talvez o evangelho Apócrifo de Ezequiel tendem a apresentar o nascimento de Cristo como fato milagroso. Há razões, portanto, para afirmar que se cria na virgindade perpétua de Maria desde o século II” (p. 655-656).

Ademais, é bom assinalar que o Proto-Evangelho tem uma forma literária ímpar entre os apócrifos por sua simplicidade e discrição. Sobre isso, comenta Hubertus R. Drobner, em seu Manual de Patrologia :

“Com relação à forma literária, trata-se de uma coletânea de lendas de caráter pessoal, que todavia são construídas de modo totalmente discreto e não podem ser comparadas com a obsessão por milagres de outros apócrifos. Estas lendas se apóiam em modelos do AT (nascimento de Samuel e Sansão) e utilizam as histórias canônicas da infância de Mt e Lc” (Hubertus R. Drobner – Manual de Patrologia, 2003, p. 33).

O autor do blog acredita que o Proto-Evangelho não sugere que Maria fez um voto de virgindade ou que sua virgindade fora consagrada, mas pelo contrário, diz que o Porto-Evangelho insinuaria que não fez.

Usa o seguinte verso que supostamente validaria sua posição:

“Porém, um anjo do Senhor apareceu à sua frente e disse: ¨Não temas, ó Maria! Alcançaste graça diante do Senhor Todo-Poderoso e conceberás por Sua graça¨. Ela, ao ouvi-lo, ficou admirada e disse consigo mesma: ¨Conceberei por graça do Deus vivo e darei à luz como as demais mulheres?” (Proto-evangelho de Tiago – 11, 2).

O que tem que ver o simples fato do Proto-Evangelho relatar que Maria fez a pergunta se conceberá como as demais mulheres, com uma prova contra a consagração de Virgindade? Se Maria encontrava-se em consagração da virgindade, esse questionamento, pelo contrário, seria bastante natural. Qual razão de Maria pensar de imediato que o poder de Deus a cobriria com sua Sombra no Evangelho de Lucas 1, 35? No próprio Evangelho não lemos que Ela pergunta “como se fará isso se não conheço varão”? A pergunta faz sentido se supõe a consagração, na verdade. Ora, de modo ordinário as mulheres concebem através do sexo com um varão, e Maria segundo o próprio Evangelho, foi recebida por São José em seu teto, portanto, ela imaginaria que seria com S. José se não tivesse consagrado sua virgindade a Deus. O próprio escritor protestante Bodie Hodge do site que o protestante do blog em questão utiliza (sem o citar como fonte), diz que “o conceito da virgindade perpétua de Maria está convenientemente explanado no Protoevangelio de Tiago…”[2].

O Proto-Evangelho, na verdade, diz que Maria foi consagrada a Deus por sua Mãe (e não que fez um voto livremente):

“Glória a Deus! O que de mim nascer, menino ou menina, o apresentarei como oferenda ao Senhor meu Deus e estará dedicado a seu serviço todos os dias” (4, 1)

Alred C. Rush sobre a passagem acima comenta:

“Desta maneira Maria foi prometida para o serviço de Deus com virgindade perpétua. Sem embargo, neste relato se considera a Maria quase como um puro agente físico na obra da redenção e o autor sublinha a pureza de Maria, mas uma pureza que poderíamos chamar legal ou exterior sem fazer referência ao exercício de sua vontade” (Ibid., p. 159).

E pouco antes sublinhava:

“Ao apresentar a Maria como consagrada a Deus  e excluída do contrato matrimonial, o autor do Proto-Evangelho se encontra com o problema das relações entre José e Maria. Por uma parte não tem mais remédio que admitir que entre eles o laço conjugal, porque está escrito no Novo Testamento; por outra parte deve defender a virgindade de Maria. Por esta razão suas expressões, ao descrever as relações entre os esposos, resultam um tanto obscuras e vacilantes. Sublinha a virgindade de Maria ante partum, e para isso se apóia no fato de que Maria foi entregue a José para sua proteção, o qual, por causa de sua idade, poderia guardá-la intacta” (pp. 159-160)

O blogueiro protestante lança várias acusações sobre supostas contradições entre o Proto-Evangelho e os Evangelho bíblicos que retirou de um site americano, novamente sem mencionar a fonte, para reponder a essas acusações utilizaremos o teólogo ortodoxo Laurent Cleenewerck na obra “Aiparthenos | Ever-Virgin? Understanding the Orthodox Catholic Doctrine of the Perpetual Virginity of Mary, the Mother of Jesus, and the Identity of James… and Sisters of the Lord”.

1ª Suposta Contradição

Proto-Evangelho de Tiago

Evangelhos canônicos

Gabriel é descrito como um arcanjo (Cap. 12)

Gabriel nunca é descrito como um arcanjo, mas sim Miguel (Judas 1:9)

Aqui não há nenhuma contradição, além do fato da Epístola de Judas não ser um Evangelho, o fato de Gabriel ser mencionado como Arcanjo no proto-evangelho de Tiago, não significa que está em contradição com as Escrituras, uma vez que esta é uma afirmação adicional, e não contraria qualquer relato dos Evangelhos. Apenas acrescenta uma informação a mais do que os evangelhos, isto é, que Gabriel é arcanjo. Também Apocalipse 8, 2, baseado no livro de Tobias, relata que existem 7 anjos que assistem diante do Senhor esses anjos são considerados pela maioria dos Teólogos, os Arcanjos entre quais Gabriel poderia estar naturalmente inserido.

Assim o autor ortodoxo Laurent Cleenewerck, responde:

Ponto 1 é um lembrete que para ter uma erudição competente leva tempo (e um decente conhecimento do Grego). Na verdade Gabriel Provavelmente não é chamado de “arcanjo” neste texto, como alguns dos melhores manuscritos indicam[para uma comparação de leituras dos melhores manuscritos ver http://www.sd-editions.com/AnaServer?protevangel+0+start.anv (verso referente 12, 6)]. Mesmo se ete fosse o caso, a ideia que certos anjos (sete) estão mais perto do trono de Deus e podem ser chamados de “anjos chefes” [Comparar Lucas 1, 19; Apocalipse 8, 2] não é certamente uma contradição com o Status de exaltação de Miguel como um Arcanjo encarregado do povo de Deus, como é descrito como “um dos príncipes chefes” (Daniel 10, 13)”.

2ª Suposta Contradição
 

A resposta de Maria ao anjo é diferente: “Conceberei por graça do Deus vivo e darei à luz como as demais mulheres?¨ (9:12)

Lucas 1:34 afirma: Perguntou Maria ao anjo: “Como acontecerá isso, se sou virgem? “

Há de se notar primeiramente que com essa acusação o protestante parece querer que o Proto-Evangelho fosse uma cópia do Evangelho de Lucas.  Para o autor do proto-evangelho relatar tudo igual aos evangelhos, teria que ter lido os evangelhos e estar pretendendo reproduzir o mesmo relato, ou ser inspirado por Deus para tal, e ainda assim mesmo os Evangelhos Inspirados por Deus, em diversos relatos contam coisas diferentes sobre o mesmo tema ou acontecimento, logo o proto-evangelho naturalmente relatou o mesmo acontecimento de forma um pouco diferente, isso de modo algum é questão para invalidar qualquer relato deste Proto-Evangelho.

Laurent Cleenewerck assim responde:

Ponto 2, parece querer que cada diálogo isolado fosse recordado com acuracidade jornalistica e absoluta consistência entre todas as testemunhas. Mas isto não verdade nem mesmo para as Escrituras Canônicas em primeiro Lucas, a resposta para a anunciação não é nem extravagante nem muito diferente do que o que é encontrado em Lucas. Este critério não pode ser aplicado nem mesmo para os próprios Evangelhos canônicos, e portanto não pode ser imposto aqui.”
 

3ª Suposta Contradição

 

Isabel fugiu de Belém com seu filho João (Batista) para as montanhas por causa da ira de Herodes quando decidiu matar todos os meninos. (Cap. 22:3).

Lucas 1:80 afirma: “E o menino crescia e se fortalecia no espírito; e viveu no deserto, até aparecer publicamente a Israel.”

Qual a contradição aqui? Um deserto não pode ter montanhas? É fato altamente conhecido que João Batista era da seita dos Essênios que viviam no deserto onde existem diversas montanhas, inclusive os manuscritos do mar morto que eram pertencentes desta seita dos Essênios, foram encontrados nas montanhas em Qurãm. Logo novamente a menção as montanhas é uma informação complementar e não contraditória. 

Ponto 3, é uma acusação esperada que o proto-evangelho adiciona os temas centrais de ‘João Batista’ ao relato. Na verdade ele conta que não só Jesus mas também João Batista (nascido 6 meses antes) foi ameaçado pelo desejo de Herodes de matar qualquer garoto recém nascido com alguma aspiração ao trono. Se nos pegarmos o relato de Mateus como historicamente válido (que é raramente aceito por especialistas hoje do ponto de vista da dificuldade de harmonizar Mateus e Lucas), parece claro que os soldados de Herodes estariam atrás de qualquer garoto comum, o que o Evangelho de João parece ter conhecido. O proto Evangelho, não contradiz aqui o Novo Testamente, mas faz melhor e expande sobre os eventos que circundaram a ida para o deserto.

4ª Suposta Contradição
 

Jesus nasceu numa caverna fora da cidade de Belém (Cap. 18:1)

Jesus nasceu em Belém, a cidade de Davi, de acordo com Lucas 2:4 e Mateus 2:1

A crença de Jesus ter nascido em uma caverna é altamente difundida em vários Escritores Primitivos. São Justino, por exemplo, diz em seu Diálogo Contra Trifão:

“Ele, juntamente com Maria, recebe a ordem de partir para o Egito e permanecer aí com o menino, até que novamente lhe seja revelado que podem voltar para a Judéia. Antes, porém, quando o menino nasceu em Belém, como José não encontrasse onde alojar-se nessa aldeia, retirou-se para uma gruta próxima. Então, estando aí os dois, Maria deu à luz a Cristo e o colocou num presépio, onde os magos da Arábia o encontraram ao chegar. Já vos citei as palavras com que Isaías profetizou sobre o símbolo da gruta.” (Diálogo Com Trifão – Capítulo 78)

Orígenes também afirma o mesmo:

“Mas, para se convencer de que Jesus nasceu em Belém, se alguém, depois da profecia de Miqueias e depois da história registrada nos evangelhos pelos discípulos de Jesus, desejar mais provas, mostra-se, é bom saber, de acordo com a história evangélica de seu nascimento, em Belém, a gruta em que ele nasceu, e, na gruta, a manjedoura em que foi envolvido em panos.” (Orígenis Contra Celso Livro I, Capítulo 51)

O fato do proto-evangelho falar “José foi para Belém buscar uma parteira”, não quer dizer que era necessariamente fora de Belém, mas sim ao seu derredor que continua sendo a cidade de Belém, não necessariamente no centro da cidade. Por exemplo, Gênesis relata que o enterro de Raquel foi fora do centro de Belém, e ainda assim diz que foi em Belém:

“Quando eu voltava de Padã, tua mãe Raquel morreu em caminho, perto de mim, na terra de Canaã, a alguma distância de Efrata; foi ali que a enterrei, no caminho de Efrata, hoje Belém” (Genesis 48, 7).

Logo quando o Evangelho de Mateus, menciona que Jesus nasceu em Belém não contradiz necessariamente o proto-evangelho, pois não quer dizer que foi no meio de Belém entre as casas, mas poderia ser facilmente ao seu derredor que continua sendo Belém, isso é fácil de notar, quando o próprio Evangelho de Lucas menciona que eles estavam no campo próximo aos pastores:

“Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite.” (Lucas 2, 8)

Logo o que indica é que Jesus nasceu próximo ao campo, e não necessariamente entre as casas da cidade.

Sobre isso, Laurent Cleenewerck assim responde:

O ponto 4 é de particular interesse: o proto-evangelho ensina como problema de fato casual, que Jesus nasceu emu ma caverna, o que o Novo Testamento não indica. Contudo, o fato de Jesus ter nascido em uma cavern á uma crença bem difundida. Justino mártir tomou por garantido (como de alguma forma anunciado em profecias) que Jesus nasceu em uma caverna, e Orígenes menciona a discussão em Belém sobre o Local Exato. O Antigo Testamento não diz que Jesus teria que nascer dentro do limite das cidades (um conceito moderno). Uma alusão pode ser encontrada no fato que os patriarcas (e suas famílias) eram enterrados em cavernas: “E para mim, quando eu vim o Padan, Raquel morreu por mim na Terra de Canaã no caminho quando eu ainda estava somente há uma pequena distância do Eufrates: E eu enterrei-a no Caminho para o Eufrates; O mesmo é Belém.” (Genesis 48, 7). Seria providencia se a caverna que Raquel foi enterrada fosse a caverna do nascimento de Jesus, portanto sua tristeza foi retirada pela alegria do nascimento do Salvador [de acordo com Edersheim no livro The Life and times of Jesus the Missiah, livro 2, capitulo 6: “Este Midgal Edar não era um torre de vigia para os rebanhos ordinários que pastavam nas terras de carneiros estéreis além de Belém, mas em terras próximas a cidade, na rota para Jesualém. A passagem do Mishná (Shekelinm 7, 4) indica que os rebanhos que pastavam eram destinados para o sacrifício do templo]”.

5ª Suposta Contradição
 

O anjo do Senhor, quando fala a José em sonho diz-lhe para receber Maria, mas não menciona tê-la como esposa. O sacerdote castiga Jose e o acusa de tomar Maria como esposa secretamente. Jose a leva para sua casa, mas está relutante em chamá-la de sua esposa quando eles vão a Belém (Capítulos Caps. 13-16).

Mateus 1:19 revela que Jose já era o marido de Maria (eles já estavam noivos) antes de o anjo visita-lo em sonho. Mateus 1:24 aponta que depois que o anjo visitou José, ele a manteve como esposa.

Sobre isto Laurent Cleenewerck fala:

“Ponto 5 releva uma comum falta de entendimento de 2 passos no processo de noivado e Casamento. Nós já discutimos Mateus 1, 24 longamente: José toma Maria como sua esposa, ainda sem intenção (como é claro a partir de seu subsequente comportamento) de consumar a união (pelo menos até depois do nascimento). Até este tempo, Maria é legalmente Esposa de José, e ainda, é significante que Lucas 2, 5 ainda chama-a de ‘sua noiva’. Por esta razão, José é lembrado como ‘esposo’ e Maria como ‘noiva’.

6ª Suposta Contradição
 

Maria envolveu Jesus em panos e o escondeu numa manjedoura na pousada para salvá-lo do massacre de Herodes. (Cap. 22)

Maria e José foram avisados da trama de Herodes por um anjo e então fugiram para o Egito (Mateus 2:13-14).

Novamente não há nenhuma contradição aqui, o fato deles terem colocados eles em uma manjedoura em uma pousada, não contradiz o fato de terem ido para o Egito posteriormente. Este relato do proto-evangelho é apenas um detalhe de várias coisas que aconteceram.

“O ponto 6 não é mais difícil de harmonizar do que muitos textos dentro das Sagradas Escrituras. O Capítulo 22 não está preocupado a  respeito de Jesus e Maria do que com o destino de João. A ida ao Egito não é mencionado de nenhuma forma, nós temos que assumir a partir do Evangelho de Mateus”. 

7ª Suposta Contradição 
 

Os sábios foram a Belém perguntar onde tinha nascido o rei dos judeus. (Cap. 21)

Os sábios chegaram a Jerusalém e perguntaram onde tinha nascido o rei dos judeus. (Mateus 2:1)

Sobre isto Laurent Cleenewerck responde:

O ponto 7 é causado por uma leitura apressada do texto em Inglês do Proto-Evangelho 21, 1-2: (1) Agora, José estava prestes a partir para a Judeia quando há uma grande comoção em Belém da Judéia. (2) Pois os astrólogos tinham chegado, dizendo: “Onde está aquele que é o rei dos judeus nascidos? Pois nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo”. O texto na verdade não afirmam que os magos chegaram a Belém, mas sim, no contexto, na Judéia.

Ascensão de Isaías:

“E ele ficou com ela dois meses. E depois de dois meses, José estava em sua casa, com Maria; estavam sozinhos. E eis que, quando estavam sozinhos, Maria olhava e via uma criança pequenininha, e ela ficou atônita. E após este assombro de Maria, ela se encontrou exatamente como antes de sua gravidez” (11, 6-9).

“E os rumores sobre esta criança se espalhavam em Belém e Judá. Uns diziam que a Virgem Maria havia dado à luz depois de dois meses… Muitos outros asseguravam que ela não havia dado à luz, que ela não havia chamado uma parteira, e que não se ouviram os gritos do parto. E a inteligência de todos se apagara a respeito desta criança; sabia-se que ela havia nascido, não se sabia como ela havia nascido” (11, 12-14).

O autor do blog admite que esse livro apócrifo afirma a virgindade no parto de Maria, mas acrescenta que ele tem uma “clara influência gnóstica”. A isto respondemos com o Pe. Philip J. Donnelly que, no mesmo trabalho já mencionado, sobre a Ascensão de Isaías, Proto-Evangelho de Tiago e do Evangelho de Ezequiel comenta:

“estes se compuseram, provavelmente, pelo povo simples pertencente à Igreja, não pelas seitas tidas de heresia – como alguns afirmaram” (p. 656).

A Ascensão de Isaías é um apócrifo do Antigo Testamento que foi escrito compilado por algum Cristão entre os século I e II. Charles e Tisserant dizem que foi escrito no final do primeiro século[3].

Odes de Salomão

“O seio da Virgem (o) recebeu

e recebeu a concepção e deu a luz;

e a Virgem ficou feita mãe com grande misericórdia;

e pariu e deu a luz um filho sem dor;

e não ocorreu isto sem finalidade;

e não havia necessitado de parteira,

porque Ele a livrou,

e ela deu a luz, como homem, por sua própria vontade…” (19, 6-10)

Os Odes de Salomão é uma composição de 42 canções ou poemas escritos provavelmente no ano 120 d.C segundo Walter J. Burghardt[4].

Oráculos das sibilas:

“Primeiramente, então, Gabriel mostrou a sua forte e pura  forma; e carregando as suas próprias notícias,  ele então dirigiu-se à donzela com a sua voz:  “ó virgem, no teu seio imaculado Receba teu Deus”.  Assim falando, ele soprou a Graça de Deus sobre a doce donzela; que imediatamente ficou surpresa e  maravilhada quando ouviu,  E ela estava tremendo; e sua mente estava agitada com vibração de excitação, enquanto no coração Ela tremia pelas coisas inesperadas  que ela ouviu. Mas ela novamente ficou muito contente e seu coração foi aclamado pela voz, e a moça riu e seu rosto ficou vermelho com um sentimento de alegria, E fascinado estava o seu coração com sentimento de vergonha. E confiança veio a ela. E a Palavra veio para o ventre, e no decorrer do tempo. Tendo-se tornado carne e dotado de vida veio a forma humana e veio a ser um menino distinguido por seu nascimento virginal. Pois isso foi uma grande surpresa para a humanidade, mas não era uma grande maravilha a Deus.” (Os Oráculos das Sibilas – Livro 8, 470)

Oráculos das Sibilas é o nome dado a algumas coleções de supostas profecias, que emanam das sibilas ou videntes de inspiração divina, que foram amplamente divulgadas na antiguidade. Essas sibilas eram amplamente difundidas entre os padres da Igreja, pois profetizaram a vida de Cristo. São Justino, Atenágoras, Teófilo, Clemente de Alexandria, Lactâncio, Agostinho e outros cristãos primitivos estavam bem familiarizados com estas obras, tanto é que alguns livros destas profecias foram adicionados por Cristão, por exemplo, o livro VIII que fala sobre a Virgindade de Maria. A Enciclopédia Católica data o livro VIII como escrito no século III[5].

Santo Inácio de Antioquia (35 – 107):

“Permaneceu oculta ao príncipe deste mundo a virgindade de Maria e seu parto, como igualmente a morte do Senhor: três mistérios de grande alcance que se processaram no silêncio de Deus. Como então foram eles manifestados aos séculos?” (aos Efésios 9, 19)

Bispo de Antioquia, martirizado em Roma (devorado por leões) nos tempos do imperador Trajano (98-117). Dele são conservadas 7 cartas que escreveu a caminho do martírio, por volta do ano 107.

O Pe. De Aldama, em “Maria na Patrística dos séculos I e II”, BAC, sobre essa passagem comenta, contrariando a opinião de Koch:

“Então, se Santo Inácio reconhecia que o parto havia sido normal, como não utilizou esse argumento, nem aqui nem em outra parte, contra seus adversários docetas, de igual modo que insistiu em que verdadeiramente foi gerado por Maria, e comeu, e bebeu e foi crucificado e morreu? Ademais, essa razão (N.do.T: Kosh argumentava que um escritor antidoceta não tinha razão para se referir a um parto virginal) valeria igualmente para a virgindade da concepção. Esta, como o parto virginal, viriam bem em uma interpretação doceta da encarnação. Se, então, apesar de seu empenho antidoceta, o bispo de Antioquia assinalou não só a concepção, mas também o parto de Maria como dois mistérios, é sem dúvida porque este último tinha, igual que aquela, umas características que o colocavam fora do normal e ordinário. O caráter misterioso do parto, como da concepção, se estende a sua origem: levaram-se a cabo na serena tranqüilidade das obras divinas e pertencem ao plano soteriológico de Deus. São dois fatos extraordinários”. (p. 198)

Nas páginas seguintes diz:

“O caráter de misterioso envolve necessariamente um prodigioso de ordem sensível, mas exige algo pelo que se sai do ordinário e normal. Pois, de não ser assim, seria facilmente compreensível sem necessidade de uma especial revelação de Deus. Ademais, esse traço extraordinário do parto é distinto da concepção virginal que lhe precede. Não será precisamente seu caráter virginal também, como parto verificado deixando intacta a integridade corporal da mãe? É óbvio, embora não se admita a explicação do Pe. Orbe” (p. 201).

Outros especialistas modernos que creram que Santo Inácio de Antioquia defendia a virgindade de Maria no parto: Orbe, J. Galot, D. Fernández, R. H. Charles[6], Roschini[7]. E o modernista Koch nega que Santo Inácio o defendia.

Santo Irineu de Lião (130 — 202):

“E também, em torno de seu nascimento, o mesmo profeta diz em outra parte: Antes que dê a luz a que estava em parto e antes que cheguem as dores do parto, deu a luz um menino (Is 66,7). Assim deu a conhece o inesperado e extraordinário de seu nascimento da Virgem” (Demonstração da pregação apostólica, 54).

Santo Irineu, bispo e mártir. Foi discípulo de São Policarpo que, por sua vez, foi discípulo do Apóstolo São João. Célebre por seu tratado “Contra as Heresias”, onde combate as heresias de seu tempo, em especial as dos gnósticos.

O Pe. Walter J. Burghardt em seu estudo “Maria na patrística oriental” da Obra Mariologia já citada sobre essa passagem comenta:

“Por outra parte, existe uma alusão iniludível a esta prerrogativa em sua Demonstração da pregação apostólica, que escreveu até o ano 190. Irineu toma o texto de Isaías 66,7, no qual o profeta predisse uma reprovação assombrosa de Jerusalém por meio da mãe Sião, e o interpreta como alusivo à Virgem Maria, que deu a luz um filho varão por maneira maravilhosa: sem dores de parto. Também, referindo-se a seu nascimento, diz em outro lugar o mesmo profeta (Isaías): “Antes de que a que estava de parto parisse e antes de que as dores do parto se apresentassem saiu a luz um filho varão”; assim proclamou seu inesperado e extraordinário nascimento de uma virgem” (IRINEO, Demonstratio apostolicae praedicationis c. 54, em Patrologia Orientalis 12, 701). Se sua linguagem não é transparente e seu pensamento não é demasiado claro, talvez seja simplesmente porque Irineu não teve nunca ocasião de enfrentar-se com este tema teológico tão delicado e cheio de matizes” (p. 503).

Tendo essa passagem em vista, o teólogo protestante, J. N. D. Kelly, faz a seguinte afirmação:

“Estas idéias estiveram distante de ser imediatamente aceitas na Igreja em geral. Irineu, isto é verdade, considerou que o parto de Maria foi isento de dor física, como Clemente de Alexandria (apelando ao Proto-Evangelho de Tiago)”. (Early Christian Doctrines, p. 493)

Outros especialistas que crêem que Santo Irineu defendia firmemente ou insinuava a virgindade no parto: D. Unger, A. De De Aldama, H. A. Genevois, D. Férnandez, E. Dublanchy, F. Vernet[8], Questen[9].

O Pe. Philip J. Donnelly, no estudo já citado, defende a opinião de que não há nos escritos de Santo Irineu uma prova cabal da virgindade de Maria no parto, embora não exista nada nela que ensine o contrário:

“Então, levou a Santo Irineu sua maravilhosa penetração na doutrina da concepção virginal a tomar alguma posição definitiva em relação à virgindade de Nossa Senhora? Por desgraça, não foi assim; ao menos não poderia se provar pelos escritos autênticos que – em sua maioria traduzidos – chegaram até nós; nada nessas passagens traduzidas nos permite afirmar que Irineu sustentava a permanência da virgindade de Maria depois da anunciação, no nascimento de Cristo e depois deste até ao final de sua vida terrena. Alguns críticos creram-se autorizados a afirmar que Irineu defendeu a virgindade perpétua de Maria, mas não tem nenhuma prova decisiva para isso; por outra parte, devemos confessar que tampouco existem provas decisivas que demonstrem o contrário” (p. 655).

Mas há especialistas que disseram que Santo Irineu nega expressamente o caráter virginal do parto de Maria: F. J. Turmel, L Coulange, H. Koch[10].

São Clemente de Alexandria:

“Muitos mesmo em nossos dias pensam que Maria é uma mulher que sofreu dores no parto no nascimento de seu filho. Na realidade não sofreu dores de parto. Porque alguns dizem que, depois que pariu a seu Filho, uma parteira a examinou e a encontrou virgem. Assim são para nós as Escrituras do Senhor: dão à luz a verdade e permanecem virgens porque os mistérios da verdade permanecem ocultos. “Deus a luz e não deu a luz” (Is 7,14; Jb 21,10; cita não literal; cf. Atos de Pedro, 24), diz a Escritura, como concebeu de si mesma, e não ajudada pela união de um acompanhante (lit.: acoplamiento).” (Stromata 7,16).

Nasceu em torno do ano 150, provavelmente em Atenas, de pais pagãos. Após tornar-se cristão, viajou pelo sul da Itália e pela Síria e Palestina em busca de mestres cristãos, até que chegou em Alexandria. Os ensinamentos de Panteno (chefe da escola catequética de Alexandria, no Egito) fizeram com que se estabelecesse ali até o ano 202, quando a perseguição de Sétimo Severo o obrigou a deixar o Egito e se refugiar na Capadócia, onde faleceu pouco antes do ano 215.

Seu conhecimento dos escritos pagãos e da literatura cristã é notável. Segundo Quasten, encontram-se em suas obras cerca de 360 citações dos clássicos, 1500 do Antigo Testamento e 2000 do Novo; portanto, é considerado cronologicamente como o primeiro sábio cristão conhecedor não apenas da Sagrada Escritura como ainda das obras cristãs anteriores a ele e, inclusive, de obras de literatura pagã. Clemente considerava o Cristianismo como a realização mais bela e o coroamento de todos os elementos de verdade dispersos na filosofia.

Sobre essa passagem o autor do blog comenta: “ele afirma que essa opinião é negada por muitos de seu tempo. Destaca-se que ele se referia a cristãos. Na verdade, a virgindade no parto era uma crença presente entre os hereges docetistas”. E grifa em negrito o seguinte trecho do Pe. Philip para aparentemente confirmar esta posição: “Ele afirmava que não foi acreditado por um grande número, que desejavam manter que o nascimento de Cristo em relação à Sua mãe era perfeitamente normal e natural (…)”.

O blogueiro é meio vago nas duas primeiras frases. Dá impressão que quer dizer que a opinião da virgindade no parto é negada por muitos na Igreja primitiva no geral e que só os hereges docetistas criam nisso. De qualquer forma, essa ambigüidade pode levar a muitos o pensamento de que o padre citado por ele, como referência, acreditava que Clemente de Alexandria estava apontando que muitos em toda a Igreja negavam a virgindade de Maria. Não é o caso. O Pe. Philip explica:

“Seja como for a decisão final dos entendidos, não alcançou Orígenes a claridade e precisão de seu predecessor Clemente de Alexandria, que tinha opiniões muito definidas sobre a virgindade de Maria no parto e depois dele, o que demonstra que a questão se discutia no Egito pelo menos a finais do século II” (p. 659).

“Em contraste entre a atitude categórica de Clemente e as subseqüentes vacilações de Orígenes demonstra (e o que colabora assim Clemente) que os católicos de Egito criam que a questão da virgindade in partu era questão discutível e que não havia ainda sido resolvida definitivamente”. (p. 660)

Como se vê o padre apenas diz que as passagens de Clemente de Alexandria (e Orígenes) apontam uma séria discussão no Egito e que muitos nessa região discordavam da opinião de Clemente de Alexandria. Não é possível usar o Pe. Philip como defensor da idéia de que muitos cristãos no mundo inteiro negavam a virgindade no parto e que só ou principalmente hereges docetistas acreditavam nisso.

O Pe. Walter J. Burghardt em “Maria na patrística oriental” confirma isso:

“Clemente é seco, mas instrutivo. Informa-nos que, até fins do século II, a virgindade de Maria em Belém era motivo de controvérsia no Egito, onde um bom número, e não a maioria dos cristãos, a negavam”(p. 503).

E em nota de uma frase do mesmo parágrafo diz:

“E. NEUBERT, Marie dans l’Eglise anténicéenne (Paris 1908) p.177 1778, pensa que leva a confusão sustentar que, de acordo com Clemente, a maioria dos cristãos negavam a crença. A dúvida não chegou as massas. Para eles, Maria era uma virgem e havia concebido a Deus. Como reconciliar estas afirmações não era preocupação sua, esta é também a atitude dos fiéis em geral hoje em dia”.

Tertuliano:

“Deu a luz porque produziu um descendente de sua própria carne; não o deu, porque o fez sem intervenção de varão. Foi virgem em relação ao marido, não o foi em relação ao parto… A que deu a luz o fez verdadeiramente, e se foi virgem quando concebeu, no parto foi esposa… O seio da Virgem se abriu de um modo especial, porque havia sido selado especialmente. De fato se deveria chamá-la não tanto “uma virgem” como “a virgem” que se fez mãe sem transição, como se disséssemos, antes de ser esposa”(De Carne Christi, 23).

Tertuliano nasceu em Cartago antes do ano 160. Por volta do ano 195, se converteu ao Cristianismo e chegou a se tornar em um notável escritor eclesiástico. Infelizmente, por aderiu abertamente à heresia de Montano.

Normalmente se interpreta essa passagem como uma negação da virgindade de Maria no parto por parte de Tertuliano. No entanto, o grande teólogo Francisco Suárez (1548-1617), com sua razoabilidade que lhe é peculiar, pensava diferente:

“Pois, embora Tertuliano seja obscuro; no entanto, a partir de seu livro De Carne Christi (De Carne Christi, 20), é suficientemente claro que ele era ortodoxo sobre a questão do nascimento virgem.  Sugiro, no entanto, que antes de tudo não devemos usar essa maneira de falar, sem explicação adequada e clara, uma vez que é metafórica e facilmente capaz de criar uma falsa impressão. Portanto, a referida lei deve ser dada não uma literal, mas uma interpretação mística. Pois adequadamente a frase “o filho abriu o útero”, refere-se a todo  útero que é parcialmente aberto no momento da concepção, não-obstante, no primeiro nascimento a ruptura do hímen é, como se fosse completado e terminado. Assim, a lei sobre todo o primeiro-nascido foi entender-se não só aos homens, mas também para os animais.” (The Dignity and Virginity of the Mother of God, Disputations I, V, VI from The Mysteries of the Life of Christ, translated by Richard J. O’Brian, S. J., 1954)

Seja como for, mesmo que Tertuliano negue a virgindade de Maria no parto devemos prestar atenção a essa explicação do Pe. Walter J. Burghadt, S. I,  em Maria na patrística ocidental sobre a passagem no De Carne Christi:

“Tertuliano é claro, mas desagradável. Não pede apoio a tradição ou a uma opinião comum, e, por outra parte, tampouco é consciente de estar contradizendo o ensinamento oficial da Igreja. Existiu alguma tradição na África sobre a virgindade de Maria anterior ao Concílio de Nicéia? Trata-se somente de um afã polêmico, de uma questão de amor próprio por parte de Tertuliano? Não encontramos nada que aclare a questão nem em Cipriano nem em Arbonio, nem em Lactancio. Uma coisa podemos afirmar, a que não é justificável sacar a conclusão, partindo de Tertuliano, de que esta opinião é um eco do pensamento teológico corrente então na Igreja africana (Cf. J. JOUASSARD, Marie à travers la patristique: Maternité divine, virginité, sainteté, em Maria. Études sur la Vierge, Ed. H. DU MANOIR, vol. 1 (Paris 1949) p. 77-78. Todo este artigo (p. 69-157) está cheio de informação e é rico em considerações: cf. a bibliografia anotada nas p. 154-157)”. (p. 123)

O Pe. Philip J. Donnelly no trabalho já citado explica:

“Tertuliano, em sua honradez, nunca pretende que sua doutrina seja tradicional nem apela a nenhuma autoridade dogmática; por outra parte, não manifesta a mais ligeira consciência de que suas negações da virgindade perpétua de Nossa Senhora contradigam alguma tradição que seja conhecida para ele. Daqui que não podemos evitar inquirir se existia tal tradição na África de Tertuliano. (…) Nada há, por outra parte, que nos autoriza a crer que as opiniões de Tertuliano representem os sentimentos da Igreja africana de seus dias; é perfeitamente possível e talvez provável que o temperamento fogoso de Tertuliano lhe fizesse aferrar-se a certas atitudes singulares neste como em outros pontos. É igualmente possível, até onde podemos julgar por escritos contemporâneos a nosso alcance, que expusesse ele livremente suas crenças sem que nem remotamente temesse causar escândalo, e ainda sem que na realidade o causasse – ao menos não há prova do contrário-. A Igreja africana parece haver sido reservada em extremo em suas declarações oficiais em relação à Santíssima Virgem” (p. 657).

O autor do blog tratando de Tertuliano explica que este era contra a virgindade perpétua de Maria por entender que a virgindade ou continência não eram superiores ao matrimônio. Esta não é a visão de Tertuliano, como podemos ler:

Pois nós [montanistas] não rejeitamos o casamento, mas simplesmente abstemos-nos dele. Nem nós prescrevemos a santidade como a regra, mas apenas recomendamos observá-lo como um bem, sim, o melhor estado, se cada homem usa-o cuidadosamente de acordo com a sua capacidade; mas ao mesmo tempo justificando sinceramente o casamento, sempre que os ataques hostis são feitos contra ele, é uma coisa contaminada, para depreciação do Criador. Pois Ele deu a Sua bênção sobre o matrimônio também, como um estado honroso, para o aumento da raça humana; como Ele fez, na verdade em toda a Sua criação, para o uso saudável e bom.” (Contra Marcião I.XXIX)

Concupiscência, no entanto, não é atribuída ao casamento, mesmo entre os gentios, mas aos pecados extravagantes, não naturais, e enormes. A lei da natureza se opõe ao luxo, bem como a grosseria e impureza; que não proíbe a relação sexual conjugal, mas a concupiscência; e cuida do nosso vaso pelo estado honroso do matrimônio. Esta passagem (do apóstolo) gostaria de tratar de forma a manter a superioridade da outra e maior santidade, preferindo a continência e a virgindade do que o casamento, mas não significa que proíbimos o último. Pois minha hostilidade é dirigida contra aqueles que querem  destruir o Deus do casamento, não aqueles que seguem a castidade.” (Contra Marcião V.XV)

Portanto, parece falso querer atribuir a Tertuliano a visão de que a virgindade ou continência não eram superiores ao matrimônio. Autores costumam assinalar esta obra (207-208) ao período semi-montanista (207 – 212) de Tertuliano.

Mesmo em relação ao tratado Ad uxorem, onde Tertuliano chega a valorizar relativamente o matrimônio, Luis M. de Cadiz comenta:

“No tratado Ad uxorem [À esposa] expõe Tertuliano suas idéias acerca do matrimônio cristão e as segundas núpcias. O matrimônio é por sua natureza inferior ao estado de virgindade; as segundas núpcias são quase ilícitas. Pelo que aconselha a sua mulher que, se ele chegar a morrer, fique viúva para sempre ou, se voltar a casar-se, o fizesse com um cristão; pois os matrimônios mistos, com pagãos, estão cheios de inconvenientes”. (História de la Literatura Patristica, Nova, p. 255)

Segundo Questen, Tertuliano exaltou de tal forma a virgindade e a continência que acabou por negar o valor do matrimônio:

“A Exortação à castidade a dedicou Tertuliano a um amigo que acabava de perder a sua esposa… Seu desvio montanista se faz patente. Enquanto no tratado Ad uxorem exaltou as vantagens do matrimônio cristão, neste parece que deplora e o considera como uma espécie de libertinagem legítima. Pelo contrário, exalta a virgindade e a continência. Para este fim cita mesmo a visionária montanista Prisca: “A santa profetisa Prisca declara igualmente que todo santo ministro saberá como administrar as coisas santas. Porque – disse ela – a continência produz a harmonia da alma e os puros vêem visões, e inclinando-se profundamente, ouvem vozes que lhe dizem palavras de salvação e secretas” (c. 10). Apesar disso, não há nenhum indício de que Tertuliano houvesse já rompido com a Igreja quando escreveu este tratado. Se há de datá-lo, portanto, entre 204 e 212″. (Patrologia, v. I, bac, 1978 (originalmente publicada em 1950-1953), p. 602)

Acrescenta o Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs:

“Sob influxo do montanismo, Tertuliano parece considerar o casamento como um vício legítimo e por esta razão exalta a virtude da virgindade e da continência”. (Vozes, 2002, p. 270)

Sobre a obra De Monogamia, João Batista Lourenço comenta:

“Para atacar as segundas núpcias, recorre a freqüente sofismas, ataca o próprio casamento e a família, chegando a afirmar que o matrimônio é um mal menor, que Deus simplesmente tolera”. (Curso de Patrologia: História da Patrologia antiga da Igreja , p. 184)

Sobre a posição docetista é preciso esclarecer que ela não era uma seita herética que com a crença da virgindade de Maria no parto queria louvá-la ou mostrar que a virgindade é superior ao matrimônio, mas, na verdade, estava preocupada em contestar a Encarnação de Jesus Cristo.

Explica o Pe. Walter J. Burghardt em nota na página 121 do estudo Maria na patrística ocidental:

“Alguns docetistas sustentam que Jesus Cristo não teve um corpo genuinamente humano como todos os homens. Outros admitem em Jesus Cristo um corpo humano, mas sustentam que Cristo desceu do céu com dito corpo; que não nasceu de uma virgem, ex virgine, mas que simplesmente passou, per virginem”.

Outro herege gnóstico, que Tertuliano combateu, foi Marcião, que chegava a afirmar que Cristo desceu do céu sem o nascimento de uma Virgem (cf. The Catholic Encyclopedia, volume 5, 1909, pp. 70-72). Portanto, completamente diferente é o caso. Argumentar usando os docetistas é tão vazio quanto argumentar usando os ebionistas, que criam que Jesus Cristo era filho biológico de Maria com José (portanto, não acreditavam na virgindade perpétua de Maria), contra os protestantes.

Levando a doutrina docetista, referida, em consideração se explica a reação de Tertuliano que, pelo menos, aparentemente, é contrária ao parto virginal de Maria. O Pe. J. A. De De Aldama em sua obra Virgo Mater: Estudos de Teologia Patrística, assim explica:

“Muito frequentemente o que se urgia era dificuldade de salvar em um parto virginal as exigências da extensão corpórea. Mas ainda posto assim, no fundo era o conceito mesmo de um parto e uma maternidade verdadeiramente humanos, o que parecia levantar uma barreira intransitável diante as pretensões de um parto estritamente virginal. Assim o viu com especial nitidez Ratramno. Diante do problema assim suscitado estava excluída de antemão a posição gnóstica, que negava um dos termos, a verdadeira maternidade humana de Maria. Por isso o que se tentou foi negar o outro termo, a total integridade corporal no parto. E por conseqüência, como com perfeita lógica o proclamaram Tertuliano e Jovianiano (magis non virgo dicenda quam virgo, non virgo a partu), a virgindade in partu de Maria. Mas negar um dos termos do problema não era solucioná-lo, mas antes suprimi-lo na raiz. Os Santos Padres e os escritores medievais mantiveram fielmente a existência simultânea de ambos termos do problema. Para resolvê-lo acudiram à onipotência de Dues, que atua além de todas as leis da natureza. Essa solução é a que nos dá expressamente Santo Agostinho como  solução da Igreja; e nela baseou São Martinho I toda sua refutação do monoteleta Teodoro de Farão. Ao longo da literatura patrística esse tema recorre como uma explicação perfeitamente adquirida. Retramno, Pascasio Radberto, Honorio de Autun reproduzem idênticos pensamentos como pertencentes à doutrina da Igreja” (ano 1963, Granada, pp. 299-300).

Sobre Tertuliano ter deixado a Igreja é um posicionamento que até décadas atrás era consenso entre os estudiosos (defendido mesmo por protestantes, como Von Harnack, von Campenhausen[11]), mas essa posição começou a ser contestada por estudiosos protestantes, principalmente.

A título de exemplo, dois especialistas que crêem que Tertuliano deixou a Igreja:

Questen: “A partir do ano 207 passou abertamente ao montanismo, e chegou a ser chefe de uma de suas seitas, chamada dos tertulianistas, que perdurou em Cartago até a época de Santo Agostinho” (ibid, p. 546) “Na introdução e capítulo primeiro aparece já claro que havia renunciado à influência moderadora da Igreja e que havia passado definitivamente aos montanistas.(Questen, p. 602)

João Batista Lourenço: “A rigidez da sua têmpera e o seu feitio levaram-no a simpatizar com o rigorismo dos Montanistas, que, erradamente, supunha serem mais perfeitos que os católicos e, quando aí por 213 teve conhecimento de que o Montanismo fora condenado em Roma, rompeu com a Igreja e emparelhou com os Montanistas nos seus ataques contra ela. Mas, desta data em diante, a atividade literária de Tertuliano não fez senão diminuir até o seu nome se obscurecer, como o sol que cai no ocidente. S. Jerônimo diz que ele chegou a uma avançada idade, vindo a falecer em data incerta, entre os anos de 240 e 250. No fim da vida, fora da verdade, desarmonizou-se com os Montanistas e tornou-se chefe de um pequeno partido, o dos tertulianistas. Triste fim de um grande homem”. (p. 172)

Santo Agostinho chama Tertuliano de herege e explica: 

“Tertulianistas, de Tertuliano, de quem muitos livros escritos eloquentissimamente são lidos, decaindo pouco a pouco até nossos dias, puderam durar em suas últimas relíquias na cidade de Cartago. Mas estando eu ali faz alguns anos, como creio que tu também te lembrarás, acabaram-se de todo. Com efeito, os pouquíssimos que haviam ficado passaram à Católica, e sua igreja, que agora é também famosíssima, a entregaram à Católica. Tertuliano, pois, como está em seus escritos, diz que a alma certamente é imortal, mas que ela luta por seu corpo, e não somente ela, mas até o próprio Deus. Sem embargo, não se chama ele de herege por isto. Já que de algum modo se poderia pensar que a mesma natureza e substância divina a chama corpo, não este corpo cujas partes possam e devam pensar-se umas maiores e outras menores, como são os que propriamente chamamos corpos, mesmo quando sobre a alma opine alguma outra coisa; mas, como dito, se pode por isso pensar que chama a Deus corpo porque não é nada, não é vazio, não é qualidade do corpo ou da alma, mas tudo em todas partes, e não repartido por espaço algum local, permanece imutavelmente em sua natureza e substância. Por isto Tertuliano não é herege, mas porque, passando-se aos catafrigas, a quem antes havia destruído, começou também a condenar as segundas núpcias como estupros contra a doutrina apostólica. Depois, separado deles, propagou seus grupúsculos. Ademais, também diz que as almas dos homens péssimos, depois da morte, convertem-se em demônios”. (As Heresias, 86).

Sobre a citação de Sullivan por parte do autor do blog há um ponto que não podemos perder de vista: uma coisa é se afastar das estruturas visíveis da Igreja Católica e outra é se afastar da Igreja por heresia. Uma pessoa que professa uma heresia, de modo pertinaz e não oculta, está fora da Igreja, ainda que continue indo à igreja, recebendo os sacramentos e tendo contato com os fiéis da paróquia que freqüentava. Desse modo é possível interpretar a fala de Francis Sullivan: “não há evidência de que tenha deixado a Igreja Católica para se juntar ou formar um grupo cismático”. Isso não indica que Tertuliano não possa ter se tornado herético, e, portanto, afastado-se da Igreja, Corpo Místico de Cristo. O próprio Francis Sullivan também diz em sua obra: “Vamos começar a discussão de seus escritos citando algumas passagens de duas de suas obras contra hereges: uma de seu período Católico, e a outra de seu período Montanista” (From Apostles to Bishops: The Development of the Episcopacy in the Early Church, pp. 154-155) E pouco antes: ‘Os escritos de Tertulianos são divididos entre aqueles de seu período totalmente Católico (196-206) e aqueles mostrando a influência de sua aderência à “Nova Profecia” ou Montanismo” (p. 154). E mais: “Nesta obra de seu período Católico, Tertuliano argumentou contra os Gnósticos…” (p. 155) “Escrevendo tanto como um Católico (N.do.T: O Pe. Sullivan antes citava um escrito de Tertuliano de seu período Católico que defendia a sucessão apostólica) quanto como um Montanista, Tertuliano fornece uma testemunha importante ao fato de que até o final do secundo século cada igreja era liderada por um bispo e que estes bispos foram entendidos como os sucessores dos apóstolos” (p. 160). Em suma: Sullivan parece opinar que Tertuliano materialmente nunca deixou as estruturas visíveis da Igreja Católica, nem deixou a Igreja Católica para juntar-se ou fundar um grupo cismático, mas não nega e mesmo supõe que formalmente deixou a Igreja por suas heresia(s) e/ou cisma.

Santo Hipólito de Roma (170 – 235):

“…corpo de Maria toda santa, sempre virgem, por uma concepção imaculada, sem conversão, e se fez homem na natureza, mas em separado da maldade: o mesmo era Deus perfeito, e o mesmo era o homem perfeito, o mesmo foi na natureza em Deus, uma vez perfeito e homem.” (As obras e fragmentos. Fragmento VIII)

O lugar e a data do seu nascimento são desconhecidos, embora saiba-se que foi discípulo de Santo Irineu de Lião. Seu grande conhecimento da filosofia e dos mistérios gregos, e sua própria psicologia, indicam que procedia do Oriente. Até o ano 212 era presbítero em Roma, onde Orígenes – durante sua viagem à capital do Império – o ouviu pronunciar um sermão.

Por ocasião do problema da readmissão na Igreja dos que haviam apostatado durante alguma perseguição, estourou um grave conflito que o colocou em oposição ao Papa Calisto, já que Hipólito mostrava-se rigorista neste assunto, ainda que não negasse que a Igreja tinha o poder de perdoar os pecados. Tão forte foi a oposição, que acabou por se separar da Igreja e, eleito bispo de Roma por um reduzido círculo de amigos, tornou-se o primeiro antipapa da História. O cisma se prolongou até a morte de Calisto, durante o pontificado de seus sucessores Urbano e Ponciano. Encerrou-se no ano 235, pela perseguição de Maximino, quando Hipólito e o papa legítimo (Ponciano) foram desterrados para as minas da Sardenha, onde se reconciliaram. Ali os dois renunciaram ao pontificado, para facilitar a pacificação da comunidade romana que, deste modo, pôde eleger um novo Papa e dar por encerrado o cisma. Tanto Ponciano quanto Hipólito morreram [ali] no ano 235.

A impressão do blogueiro está correta quanto a essa obra, “Contra os hereges Berão e Félix sobre a doutrina de Deus e a encarnação”, ser apócrifa. Sobre ela o Pe. J. A. De De Aldama, na obra já citada, comenta em nota de rodapé:

“Igualmente apócrifo é o texto atribuído a Hipólito, Contra Beronem et Heliconem (PG 10, 840A). Cf. BARDENHEWER 2, 570; HARNACK. Ueberlieferung 1, 664” (p. 290)[12].

E Luis M. de Cadiz em História da Literatura Patrística concordando que a obra é de autenticidade duvidosa nos informa: “do qual nos conserva alguns fragmentos extensos Anastásio, o Apocrisiário” (Buenos Aires,1954, p. 262) Anastásio, o Apocrisiário, foi um cristão da segunda metade do século VII.

Pode-se objetar, ainda, com certa probabilidade, que a expressão “sempre virgem” não quer dizer necessariamente virgindade no parto se se toma a palavra “virgem” somente quanto a não haver tido relação sexual com um varão (cf. Walter J. Burghardt, Maria na patrística oriental, p. 505, nota 94). Adiante, quando tratarmos da concepção de Orígenes voltaremos para esse ponto com mais explicações. Digo probabilidade, pois, por outro lado, é evidente que a expressão foi usada por Santos Padres da Igreja, e mesmo por documentos papais, para significar também a integridade virginal no parto, enquanto, não conhecemos qualquer prova clara dos escritos dos Pais da Igreja que a expressão fosse empregada sem supor o parto virginal.

O autor protestante conclui: “Carol ainda cita vários outros pais da igreja e expressa que a virgindade perpétua não encontra nenhum testemunho a favor”. Na verdade, o Pe. Philip J. Donnely em nenhum momento afirma isso. Pelo contrário. O Pe. Philip afirma que a virgindade perpétua de Maria está presente no Proto-Evangelho de Tiago e em outros apócrifos:

“No texto, tal e como se conserva, há um claro reconhecimento da virgindade de Nossa Senhora, não só antes do nascimento de Cristo, mas também durante o parto e depois dele, o que não quer dizer que se professasse esta crença nem se expressasse da mesma maneira no original, ou melhor dito nos trabalhos originais, cuja compilação no século III – segundo a crítica interna afirma – foi origem ao atual Proto-Evangelho. Sem embargo, deve haver sido doutrina corrente a da virgindade perpétua de Maria, ao menos em alguns círculos que estavam em contato com aqueles escritos apócrifos. Exemplo disso temos em Orígenes, que nos descreve “certo evangelho” que ele atribui a São Pedro e no qual os chamados irmãos do Senhor, que nomeiam os Evangelhos canônicos, afirma-se ser filhos de José por um primeiro matrimônio. Também a Ascensão de Isaías e talvez o evangelho Apócrifo de Ezequiel tendem a apresentar o nascimento de Cristo como fato milagroso. Há razões, portanto, para afirmar que se cria na virgindade perpétua de Maria desde o século II” (p. 655-656).

Também diz:

Assim, pois, até o final do século II, somente encontramos evidência fragmentária acerca da crença na virgindade perpétua de Nossa Senhora; quando mais, nos revelam que circulavam então uma série de opiniões interessantes acerca da virgindade em e depois do nascimento de Cristo” (p. 656).

Em relação Clemente de Alexandria, o padre comenta:

“Seja como for a decisão final dos entendidos, não alcançou Orígenes a claridade e precisão de seu predecessor Clemente de Alexandria, que tinha opiniões muito definidas sobre a virgindade de Maria no parto e depois dele, o que demonstra que a questão se discutia no Egito pelo menos a finais do século II. As alusões de Clemente a Nossa Senhora são breves; mais, se a adaptação latina das Adumbrationes in Epistolas Catholicas expressam com exatidão as opiniões do autor, certamente defendeu a virgindade depois do parto, e talvez fosse ele um dos ascetas, citados por Orígenes, que se negavam a aceitar a possibilidade que Maria houvesse tido outros filhos depois do nascimento de Cristo” (p. 659).

O padre ao longo do estudo vai citar uma série de Pais da Igreja a favor da virgindade perpétua de Nossa Senhora. Quanto aos antigos que ele nomeia singularmente (Santo Hipólito, Cipriano, Novaciano, Arbonioe, Lactâncio, etc), ele está lamentando que não testemunhem claramente sobre o assunto seja a favor ou contra, pois no parágrafo anterior ele citava os testemunhos de Tertuliano, Orígenes e Clemente que nos ajudam como a situação estava em alguns lugares:

“Sem dúvida que os testemunhos de Tertuliano, Orígenes e Clemente, tomados em conjunto e alheio de outras considerações, não seriam suficientes para constitui-los em testemunhos das crenças de todo o mundo cristão contemporâneo, mas nestes três autores temos as três personalidades relevantes do pensamento na África, Egito e Palestina; indiretamente ao menos, refletem a mentalidade da Ásia Menor, se não de todo o Oriente; a própria Roma não pode excluir-se, já que Tertuliano era perfeito conhecedor das opiniões romanas; Orígenes não somente havia estado em Roma, mas havia viajado desde Itália até Arábia passando por Grécia. Enquanto a Clemente era também inveterado viajante e o foi até o final de seus dias.” (p. 661)

Outra conclusão do autor do blog foi: “Isso nos permite concluir que para os três primeiros séculos do cristianismo não dispomos de nenhum testemunho confiável a favor da virgindade perpétua de Maria, muito menos como um artigo de fé obrigatório para os cristãos”.

Os testemunhos dos Apócrifos são claros e se não são confiáveis para recebê-los como históricos naquilo que relatam, são confiáveis, pelo menos, para conhecer o pensamento dos cristãos primitivos. Nem Orígenes, nem Tertuliano, nem Clemente dão testemunho histórico de que Maria foi ou não foi sempre virgem. Nenhum deles diz estar referindo uma tradição apostólica que chegou até eles. O valor histórico deles e dos apócrifos é extrínseco, está em mostrar a crença dos cristãos primitivos e não outra coisa. Depois de tratarmos dos escritores dos 3 primeiros séculos poderemos fazer um balanço dos testemunhos até aqui encontrados.

Orígenes (185 – 254):

“Os meninos varões que eram santos por haver aberto ao seio de sua mãe, eram oferecidos diante do altar do Senhor: “Todo filho varão que abre o seio”, diz (Ex 34, 23), significa algo sagrado. Na realidade, qualquer varão que menciones não abre o seio de sua mãe do modo que o Senhor Jesus o fez, considerando que não é parto, mas o concurso de varão o que abre o seio das mulheres. Mas o seio da Mãe do Senhor estava fechado quando chegou a hora do parto; porque antes do alumbramento de Cristo, aquele santo seio, digno de toda estima e veneração, não havia conhecido o mais ligeiro contato de varão” (Hom. 17 in Lucam)

“Pois o Legislador acrescentou esta palavra para distinguir aquela que “concebeu e deu à luz” sem semente de outras mulheres, a fim de não designar como “impura” toda mulher que deu à luz, mas a que “deu à luz por receber semente”. Também pode ser acrescentado a isto o fato de que esta Lei, que trata sobre a impureza, pertence às mulheres. Mas a respeito de Maria, diz-se que “uma virgem” concebeu e deu à luz. Portanto, deixem que as mulheres carreguem os fardos da Lei, mas deixem que as virgens sejam imunes a elas.” (Lev. hom. 8, 2)

“Chegou-nos a este respeito certa tradição: há no templo um lugar onde as virgens se detêm e oram (adoram?) a Deus; mas as que conheceram concurso de varão não lhes está permitido permanecer ali.  Pois bem, depois de dar a luz ao Salvador, Maria entrou, adorou e permaneceu naquele lugar reservado às virgens. Os que sabiam que havia dado a luz um filho a trataram de retirá-la dali, mas Zacarias… disse-lhe: “És digna de ocupar o lugar reservado às virgens, porque é ainda virgem””. (Comm. In Matthaeum ser.25)

Orígenes foi escritor eclesiástico, teólogo e comentarista bíblico. Viveu em Alexandria até o ano 231, passando os últimos 20 anos de sua vida em Cesaréia Marítima (Palestina) e viajando pelo Império Romano. Foi o maior mestre de doutrina cristã de seu tempo e exerceu extraordinária influência como intérprete da Bíblia.

Essas passagens fizeram que os especialistas se dividissem quanto se Orígenes cria ou não na virgindade de Maria no parto.

O Dicionário de Mariologia, dirigido por Stefano de Fiores e Salvatore Meo, ano 1995, da Paulus, resume bem as posições:

“Parece, porém, que Orígenes, ao contrário de Tertuliano que nega o parto virginal, considera a virgindade permanentemente de Maria como dado não contradito por parto normal: “O ventre da mãe do Senhor foi aberto no instante em que teve lugar o parto”. Essa interpretação, aceita e assumida por K. Rahner, J. Galot, H. Crouzel e G. Soll, não é compartilhada por F. Spedalieri, que observa que Orígenes não considera “pura” uma virgem violentada (ainda que não possa chamá-la de “impudica” no coração) e, por outro lado, atribui ao corpo de Jesus os privilégios próprios do corpo ressuscitado: a abertura do ventre exprimiria somente o dar à luz sem especificar o modo (F. Spedahert, Maria nella Scriptura e nella tradizione della chiesa primitiva, II/1, Herder, Roma, 1968, pp. 304-307). (p. 1329)

Entre os partidários da opinião que ele acreditava no parto virginal de Maria também estão: Ludwing[13], Emile Neubert[14], J. Huhn[15], Lehner[16], Questen[17], Roschini[18]. Merkelbach crê que talvez Orígenes mudou de opinião (depois do ano de 244) aceitando a virgindade de Maria no parto[19].

O autor do blog apresenta a seguinte citação do Pe. Philip J. Donnelly: “Há uma perspectiva bastante diferente entre Tertuliano e Orígenes sobre a virgindade perpétua de Maria. Depois de examinar de perto estas divergências e seus fundamentos, dificilmente se pode evitar a impressão de que a resposta pode ser encontrada em práticas ascéticas cristãs e na medida em que elas influenciaram esses dois autores. Tertuliano foi, sem dúvida, um asceta, mas como em todas as outras coisas, de acordo com suas próprias luzes e temperamento singular”.

Dela infere: 1) que a crença na virgindade de Maria deriva da ideia “errada” da crença do ascetismo da superioridade da virgindade e continência frente ao matrimônio e atribui ao Pe. Philip o tocar neste ponto fundamental que explica o principal fundamento do aparecimento e desenvolvimento da virgindade perpétua na igreja”; 2)  Pelo fato de Tertuliano, assim como Orígenes, também ser um asceta, mas negar a virgindade pós-parto de Maria “isso coloca ainda mais peso em seu testemunho, pois mostra que não tinha alguma pré-disposição para negar a virgindade perpétua”, a pré-disposição seria no sentido contrário.

O autor do blog fala de tal modo que confunde. O leitor é levado a pensar que as conclusões do blogueiro também são teses do próprio Pe. Philip. O blogueiro mistura as premissas do padre e as suas, e daí tira suas conclusões pessoais, mas que dão toda a aparência de estarem fundamentadas no escrito do padre pelo modo que o autor se expressou e cortou os trechos do padre.

Primeiro, o Pe. Philip não demonstra ter uma visão negativa do ascetismo, pois é na verdade, muito elogioso ao ascetismo e vê com bons olhos a influência que o ascetismo teve para o desenvolvimento da doutrina da virgindade perpétua de Maria. Ele diz: “a prática do ascetismo levado para a virgindade deu para aqueles homens luz espiritual e sobrenatural intuição, necessária para entender os privilégios de Maria” (p. 678). Portanto, a noção de virgindade do ascetismo, de acordo com o Pe. Philip, foi algo importante e bom, que fez os seus adeptos receberem luz espiritual e intuição sobrenatural para entender os privilégios de Maria. Diz ainda: “Gradualmente e com o apoio da hierarquia, sempre crescente, começaram a prevalecer as opiniões dos ascetas. Sem que fossem infalíveis e em que pese a algum que outro erro, tiveram, em geral, mais clara e profunda percepção que seus antagonistas” (p. 677).

Além disso, o ascetismo se define por exercícios espirituais com a finalidade de adquirir os hábitos de virtudes. É um esforço, um meio, para alcançar a perfeição. Ademais, não se pode confundir o ascetismo em si, que teve vários santos Padres da Igreja, com excessos ascéticos de indivíduos ou de seitas heréticas. E, embora, o ascetismo primitivo (digo, aquele que a Igreja não se opunha) pregasse a castidade e o fervor na oração, viviam no mundo sem romper necessariamente seus laços e obrigações comuns da vida diária. O historiador católico Daniel-Rops, citando dois ascetas notórios, explica como era o entendimento dos cristãos:

“A própria mudança se operou na atitude do homem para com os bens deste mundo. Não é que, sistematicamente, o fiel devesse rechaçá-los. Não temos que representar aos membros desta primitiva Igreja como um povo de monges e de ferozes ascetas. “Nós temos presente – disse Tertuliano – o reconhecimento que devemos a Deus. Não recusamos nenhum dos frutos de suas obras”. O que condenava o Cristianismo era o abuso, era o excesso de afeição que o homem punha nestes bens da terra e que lhe fazia desconhecer seu verdadeiro sentido e seu limitado valor. Clemente de Alexandria e muitos outros Padres denunciaram vigorosamente o luxo, os vestidos de ricos corantes, “os sapatos bordados de ouro, sobre os quais os pregos se enrolam em espirais”, e a desmesurada gula dos ricos com seus rebuscadas gastronomias e “a vã habilidade dos confeiteiros”. O ensinamento da Igreja consistia em usar de tudo o que Deus deu aos homens com agradecimento e com moderação, sem perder de vista as riquezas celestiais, que eram as únicas estáveis, e o alimento celeste, que era “o único prazer firme e puro”. (La Iglesia de los Apóstoles y de los Mártires, 1955, España, p. 229)

O Dicionário de Teologia de Heinrich Fries, em seu quinto volume, no verbete “virgindade”[20] explica que o ascetismo tem uma relação muito íntima com o martírio dos primeiros cristãos. Como se vê, mais uma influência benéfica.

O padre também não diz que o testemunho de Tertuliano, em relação ao de Orígenes, teria mais peso em razão do primeiro ser asceta e não ter pré-disposição de negar a virgindade perpétua de Maria, enquanto Orígenes teria pré-disposição para aceitar a virgindade de Maria pós-parto. O padre não faz essas considerações. Na verdade, quem ler o estudo do padre verificará que ele estava dizendo que Tertuliano estava tratando a questão de modo apaixonado e violento, enquanto Orígenes tratou a questão sem considerações polêmicas, mas enfrentando o problema de forma franca e desinteressada.

Com o trecho mais completo podemos visualizar bem essa idéia:

“Entre Tertuliano e Orígenes existe uma grande diferença quando tratam da perpétua virgindade de Maria; depois de examinar as exigências de opinião e seus fundamentos, dificilmente se pode evitar a impressão de que a explicação está no grau de influência que as práticas de ascética cristã exerceram sobre ambos autores. Tertuliano era indubitavelmente um asceta, mas nisto, como em tudo demais, seguindo suas próprias luzes e seu temperamento singular; com sua crescente tendência montanista seu espírito de controvérsia se fez cada vez mais apaixonado, especialmente em seus escritos referentes à virgindade de Maria. Neles, sua principal preocupação foi descobrir acerados argumentos ad hoc contra adversários determinados; daqui os tons e atitudes violentas que adota ao falar de Maria, somente com o objeto de inchar sua polêmica. Orígenes, por outro lado, ao tratar da virgindade perpétua de Maria depois do nascimento de Cristo, o faz sem ulteriores considerações polêmicas. Enfrenta-se com o problema franca, objetiva e desinteressadamente. Sem embargo, e segundo admissão própria, suas soluções se inspiram nas opiniões de certos ascetas contemporâneos que levavam a vida de virgindade consagrada”. (p. 658)

Voltando sobre a questão da influência do ascetismo sobre o desenvolvimento do dogma, é preciso acrescentar que outros teólogos não vêem o ascetismo como a principal influência (como o viu o Pe. Philip) para o desenvolvimento do dogma. Eamon R. Carrol na mesma obra, no estudo María en el magisteiro de la Iglesia, comenta:

“É certo que se exaltou seu aspecto ascético, sobretudo, por respeito ao celibato dos clérigos; mas esse não foi o motivo principal da defesa da perpétua virgindade de Maria. Foi mais o que impulsionou para apresentar à Igreja uma fórmula que definisse a doutrina” (p. 15)

O Pe. Walter J Burghardt por sua vez, em Maria en la patrística oriental, diz:

“A influência dominante que motivava sua convicção (N.do.T: de Orígenes) não eram suas idéias ou ideais ascéticos (que em matéria de matrimônio eram muito severos), por muita importância que lhes seja concedida; nem os livros apócrifos como o Proto-Evangelho de Tiago, por muito que pôde este proporcionar uma exegese plausível para os “irmãos”, nem ainda o silêncio da Sagrada Escritura acerca das relações de Maria e José depois de Belém. A inspiração fundamental que sustenta a convicção de Orígenes e muitos contemporâneos sobre a virgindade de Maria era puramente teológica: uma persuasão fundadíssima de que o corpo de Nossa Senhora foi consagrado irrevogavelmente ao Espírito Santo e ao Verbo pela encarnação”. (p. 510-511)

Em relação a outra citação que o blogueiro protestante colocou do padre vejamos a última frase: “Jouassard é da opinião que Rufino muito provavelmente reescreveu o texto original de Orígenes para torná-lo conforme a sua visão pessoal de que Maria permaneceu virgem no parto”. Isso é só uma conjectura de Jouassard, que não é compartilhada por muitos estudiosos de peso como os citados acima. Além disso, o autor protestante não acrescentou a frase seguinte que é muito significativa: “J. Huhn se opôs recentemente a esta conjectura de Jouassard”. O blogueiro silenciou que essa tese de Jouassard foi prontamente criticada. Além disso, o blogueiro deixa parecer que o Pe. Philip concorda com a opinião de Jouassard. Na verdade, ele não opina a que lado está sobre se Rufino reformou ou não o original do “Comentário sobre o Levítico” de Orígenes para fazer crer que este acreditava na virgindade de Maria no parto. Mais adiante, ele acrescentará: “Seja o que for a decisão final dos entendidos…” (p. 659) Ele, portanto, não toma partido dessa divergência dos teólogos, embora creia que Orígenes expressava uma opinião contrária a virgindade de Maria no parto.

O padre Philip é bem claro que para Orígenes, Maria permaneceu virgem toda sua vida:

“Sustenta, além disso, Orígenes, não somente que Maria permaneceu virgem toda sua vida, mas que seus motivos eram de uma altíssima virtude e de genuína e excelsa santidade, ainda quando tivesse ligeiras deficiências e imperfeições. É verdade que Orígenes nunca usa a expressão “sempre virgem” – ao menos não no texto que agora possuímos -, mas é indubitável que defende a idéia; idéia que tomou, não da tradição propriamente dita ou do magistério eclesiástico, mas das opiniões de certos apóstolos partidários da virgindade”. (p. 658)

Ou seja, mesmo Pe. Philip, que acredita que Orígenes não expressava a virgindade do parto de Maria, esclarece que Orígenes ainda assim defendia que Maria sempre permaneceu virgem. O conceito de virgindade para Orígenes era não ter relações sexuais, segundo pensa o estudioso. Orígenes nunca diria que Maria “perdeu a virgindade no parto”. Muito menos faz sentido imaginar que ele defendia que só antes e depois do parto Maria foi virgem (tendo presente o conceito dele de virgindade). No ponto de vista dele, Maria nunca perdeu a virgindade porque a virgindade não consistia em questões fisiológicas da integridade virginal, mas de relações sexuais. É isso que explica o Pe. Philip. Até porque é impossível se falar em perda da virgindade num momento e depois de virgindade no outro. É absurdo! Quem perde a virgindade não a recebe mais. Portanto, temos que levar em conta o que Orígenes entende por ‘virgem’ se se quer adotar a tese de que ele expressou o contrário do nascimento virginal.

O Pe. Walter J. Burghardt em María en la patrística oriental comentando o Comentário de Mateus de Orígenes (texto acima), explica com mais precisão:

“Este texto parece justificar duas conclusões. Primeira, a passagem não constitui uma retratação implícita da anterior afirmação de Orígenes de que Nossa Senhora havia perdido sua integridade física em Belém. Coloca-se aqui “virgens” frente aquelas que “conheceram concurso de varão”; posto que Maria não conheceu concurso de varão, é, portanto, “virgem ainda”. Segunda, a passagem implica claramente que, para Orígenes, a perda da integridade física pelo parto não é incompatível com a perfeita virgindade perpétua. Esta indicação recebe uma confirmação dupla: Nas Homilias sobre Lucas, Orígenes chama virgem a Maria ainda quando se refere a ela depois do parto. No Comentário a Mateus alude a ela, chamando-a o primeiro fruto da virgindade em relação as mulheres, como Jesus o foi em relação aos homens. Em resumo, Orígenes parece entender a virgindade física somente em termos de cópula conjugal: ao dar a luz a Jesus, Nossa Senhora entregou sua integridade corporal, mas não renunciou sua virgindade. Em Belém, a virgindade não estava em questão”. (p. 504)

São Gregório de Neocesareia (213 — 270):

“Tu nasceu de Maria Virgem como quiseste, e como Tu somente sabes, não violaste sua virgindade, mas a conservaste e deste-lhe com o nome de Mãe; e nem a virgindade impediu teu parto, nem teu parto violou a virgindade, mas se uniram coisas tão contrárias como parto e virgindade, porque para ti, Criador da natureza, isto é fácil e simples” (Serm. in sancta Theophania)

As Homilias de São Gregório não são tidas como autênticas por muitos estudiosos.  Inclusive, o Pe. Philip J. Donnelly comenta em nota de rodapé:

“Seria muito diferente se pudéssemos apelar legitimamente às homilias atribuídas a Gregório, mas isto é impossível. Cf. M. JUGIE, Les homélies mariales attribuées à Saint Grégoire Le Traynatyrge: Analecta Bollandiana 48 (1925) 86-95”. (nota 155, p. 661)

No entanto, o F. C. Conybeare, estudioso e tradutor das homilias desse santo do armênio para o inglês é de outra opinião:

“É bem no estilo das outras homilias atribuídas a esse padre. Essas são por alguns (por exemplo, Harnack, Altchristliche Literatur bis Eusebius, p.431) consideradas espúrias. Por que eu não consigo entender; pois elas são encontradas, seja em grego, ou em siríaco, ou em armênio, com a atribuição constante a esse Gregório. Porque uma era posterior teria forjado toda uma série de homilias e atribuídas a ele? Se fossem Tentenzschriften, isto é, homilias escritas com um certo e marcado viés doutrinário de algum tipo, sua falsificação seria inteligível. Mas elas não podem ser acusadas de serem isso. São apenas transbordamentos piedosos e bastante retóricos de uma mente devota e simples “[21].

1.2. Quarto e quinto séculos

Eusébio de Cesareia (265 — 339):

“Mostra que as circunstâncias de seu nascimento não foram naturais, nem como as de todos os homens e os demais viventes, que nascem de união carnal. Seu nascimento teve algo melhor, fora da ordem comum” (Comment. in psalmos, XXI, v. 10-11).

“Talvez no nascimento dos demais homens há anjos que assistem a cada um ao vir à vida; mas no nascimento do Salvador é o Pai mesmo quem se fez seu protetor” (Comment. in psalmos 70, 6-7)

“Quando Tu, meu Deus e meu Pai, interviste no alumbramento para extrair do seio maternal esta carne que me havia sido preparada pela virtude do Espírito Santo” (Demonstratio evangelica 10, 8, 57)

“Com razão [Cristo a partir da Cruz] recorda estas coisas passadas [sua concepção e seu nascimento] para consolar-se da atual separação. Diz, então: do mesmo modo que me auxiliaste quando tomei corpo humano… quando teu poder do Altíssimo me cobriu com sua sombra na concepção e me sacou do seio de minha mãe no nascimento: assim agora me consola grandemente pensar que com maior razão me sacarás também da morte” (Demonstratio evangelica 10, 8, 57-58)

“A Ele, concebido e levado no seio pela Santa Virgem, não lhe faltou o poder do Pai, quando o Espírito Santo veio sobre a Virgem e o poder do Altíssimo a cobriu com sua sombra e o Pai mesmo em pessoa extraiu do seio ao que nascia, como ensina a Escrita; mas o Pai não lhe voltou a auxiliar ao tempo da Paixão, quando se preparava a lutar contra a morte” (Demonstratio evangelica 10, 8, 71)

As passagens são bem interessantes na demonstração de sua crença na virgindade no parto de Maria. O Pe. Aldama apresenta essas passagens para demonstrar a crença de Eusébio[22] nesta doutrina.

O blogueiro toma as referências de Philip, mas não pude encontrar nas passagens qualquer indicação de negação ao parto virginal. Encontrei, sim, negação a doutrina docetista sobre o aparecimento de Jesus, que, como explicamos, é diferente da doutrina católica do parto virginal:

“Além disso, eles não reconhecem que ele nasceu de uma virgem, mas dizem que ele apareceu na Judéia como um homem de trinta anos de idade. Por outro lado, outros acreditam que ele foi realmente gerado de uma virgem, mas alegam que a virgem apenas imaginou que ela tinha dado a luz a ele, quando na verdade ela não tinha realmente dado a luz a ele. Pois eles dizem que o mistério do suposto nascimento putativo estava oculto mesmo da virgem. Como é concebível que tais pessoas não sejam afastadas da Igreja, uma vez que sofrem da doença da filarquia [ter avidez por poder] e estabeleceram doutrinas por meio das quais têm desviado os discípulos para [a seita que que apoiam] seu próprio nome? “(Apologia, PG, 17, 554)

Santo Atanásio (296 – 373):

“Portanto, que aqueles que negam que o Filho do Pai, por natureza, e é adequado a esta essência, negam também que Ele se tornou verdadeiro humano da Sempre Virgem Maria…” (Discurso 2. Contra os arianos, 21, 70)

“Inclusive, a própria Mãe do Senhor e sempre Virgem Maria, ao conhecer o que se gerou nela, disse: De agora em diante todas as gerações me chamarão de bem aventurada” (Fragmenta in Lucam: MG 27, 1393).

“E isto Isaías apontou em sua profecia, com as palavras: ‘Eis que uma Virgem (Isaías 7:14)’, enquanto Gabriel é enviado a ela, não apenas a uma virgem mas ‘a uma virgem desposada de um homem (Lucas 1:27)‘, para que, por meio do homem desposado, pudesse mostrar que Maria era realmente um ser humano. E por esta razão a Escritura também menciona que ela deu a luz, e conta que ela o envolveu em panos; e, portanto, os seios que O amamentaram foram chamados abençoados. E Ele foi oferecido como um sacrifício, Ele que era o primogênito. Ora, todas estas coisas são provas que a Virgem deu a luz. E Gabriel pregou o Evangelho a ela sem incerteza, dizendo não apenas “que nascer em ti“, para que não se pensasse que o corpo fosse algo alheio a ela, mas “de você”, para que o que nasceu pudesse ser considerado naturalmente dela, na medida em que a Natureza mostra claramente que é impossível para uma virgem produzir leite, a menos que tenha dado a luz, e impossível que um corpo seja alimentado com leite e envolto em faixas, a não ser que tenha sido previamente gerado “(Carta a Epitecus, n. 5).

 “Como uma casa fechada por todos lados e que tem para o Oriente uma janela de cristal puro e limpo, saindo o sol e penetrando seus raios o cristal, ilumina-se toda, e, atravessado o cristal pelos raios, não se rompe, mas permanece ileso, assim também à Virgem Maria, três vezes castíssima, o filho de Deus, como raio divino que desce do Pai, Sol da Justiça, a ilumina toda e entra nela e sai sem manchar no mais mínimo sua virgindade” (Quaest. 19)

“Quem é este Filho da Virgem? O Senhor da natureza… Se houvesse nascido, como nós, de um matrimônio ordenado, teria sido tido pela maior parte dos homens por um deus mentiroso. Assim, pois, nascendo de uma virgem e conservando com seu nascimento a virgindade de sua Mãe, com este modo extraordinário de nascer dá a minha fé uma prova imóvel. Por conseguinte, quando um judeu ou um gentio me pergunta se Cristo se fez homem conforme à natureza ou contra suas leis, eu lhe darei a resposta o seio inviolado da Virgem” (Serm. in Nat. Dom. (dubius), n. I, PG, 28, 961)

“O Salvador está nos instruindo isso claramente quando ele ensina que sua mãe Maria permaneceu em virgindade para sempre. Pois, quando ele subiu à cruz, deu à João sua mãe (João 19: 26-7). Porque disse-lhe: Eis aí o teu filho, e disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.“. (Carta às Virgens).

Em relação as duas primeiras passagens remetemos o leitor à explicação sobre a expressão “sempre virgem” dada quando tratávamos de Santo Hipólito de Roma (quarto parágrafo).

Em relação a passagem da Carta a Epitecus há duas coisas a considerar. Primeiro, é claro que ele chama Maria de Virgem enquanto esta amamentava Cristo. Segundo, vale referir a questão da expressão “abrir o útero (ventre)”, pois muitos protestantes pretendem usá-la como prova de que muitos Pais da Igreja eram contra a virgindade de Maria no parto.

Respondendo essa objeção, explica o Pe. Merkelbach, fundamentado em São Beda (séc. VII e VIII):

“O que abre o ventre significa o primogênito. Portanto, não significa a abertura física, mas, no sentido da lei, o primeiro passo do filho, isto é, do primogênito: é o mesmo que nascer ou sair o primogênito do seio. O Evangelista, disse São Beda,em Lc. VIII, 4, “fala segundo costume do nascimento corrente, não porque tenha de crer-se que o Senhor, ao sair, fez perdera virgindade ao abrigo do sagrado seio, que havia santificado ao entrar” (PG 92, 330-331) Donde, adverte Santo Tomás, III,q. 28, a. 2, ad I: “Essa abertura não significa a abertura comum do seio virginal, mas somente a saída da prole do seio materno. Na primeira época os Padres nem sempre falaram com cuidado, nem com toda precisão, ao expor esse texto da Escritura: seja por modéstia ou por excesso de pudor, seja também por causa da teologia ainda imperfeita, e, as vezes, parece que negam com as palavras o privilégio da virgindade; mas, por outra parte, excluem do parto toda corrupção ou impureza de mancha, e dão a entender que fosse necessária a parteira ou que se achasse presente: “Porque o Verbo, adverte Santo Irineu, Adv. Haer. IV, 33, será carne, e o Filho de Deus filho do homem, abrindo puro, castamente, a vulva imaculada, aquela que gera os homens para Deus, a qual Ele mesmo fez pura”. Falaram de uma maneira imperfeita Santo Irineu, Orígenes, Santo Atanásio, São Epifânio e muitos outros, inclusive São Jerônimo, contra Helvídio, o qual, sem embargo, negou depois de uma maneira clara e indubitável a abertura da vulga, contra Joviniano, nos lugares acima citados”. (Tratado de la Santisima Virgen Maria, Madre de Dios y Mediadora entre Dios y los hombres , 1954, p. 332-333)

Depois veremos em outros Pais da Igreja que, embora usassem a expressão, negaram de forma explícita que Maria perdeu integridade física no parto

Quanto a obra Quaestio e o Sermão citados, são obras atribuídas a Santo Atanásio, mas não podemos ter certeza se realmente são dele.

O Pe. Walter J. Burghadt em “María en la patrística oriental” diz que “é difícil determinar se os eclesiásticos e escritores influentes da categoria de Atanasio de Alexandria, Cirilo de Jerusalém e Epifânio de Salamis admitiam, negavam, ignoravam ou fazia caso omisso da doutrina de um verdadeiro parto virginal” (p. 505). Enquanto Merkelbach[23] e Gregório Alastruey[24] colocam Santo Atanásio como defensor da virgindade no parto.

Quanto a obra “Carta às Virgens”, foi-nos transmitida por um manuscrito em copto. O Pe. Philip J. Donnelly, S. I., diz que essa obra é provavelmente autêntica:

“Por outra parte, em uma obra transmitida até nós em copto e muito provavelmente autêntica, é muito mais explícito” (p. 663).

E em nota explica:

“Há muitas críticas favoráveis à autenticidade desta obra, e seus pontos de vista parecem certos pela dependência  óbvia desta obra de Santo Ambrósio. Cf. A. SPANN, Essai sur la théologie matiale de Saint Ambrose (Lyón 1931)” (nota 163, p. 663)

Santo Hilário (300 – 368):

“Perguntas como o Filho nasceu segundo o Espírito, e eu te interrogo sobre coisas corpóreas. Não indago como nasceu da Virgem nem se sua carne sofreu detrimento, gerando uma carne perfeita. Certamente não recebeu o que deu à luz, mas sua carne, sem aquilo que envergonha a nossa natureza, gerou Aquele que é perfeito e não sofreu diminuição no seu ser. Por conseguinte, sabemos que é justo julgar não ser impossível em Deus o que, pelo poder divino, foi possível no homem.”. (Tratado sobre a Santíssima Trindade, 3, 19)

“Vejamos a dignidade que acompanha o parto, o vagido, o berço. O anjo diz a José que a Virgem dará a luz e o que vai nascer deverá ser chamado Emanuel, isto é, Deus conosco. O Espírito proclama pelo Profeta (Is 7, 15), o anjo dá testemunho, Deus conosco é aquele que vai nascer. (…) A Virgem dá à luz; o parto vem de Deus”. (Tratado sobre a Santíssima Trindade, 2, 27)

“Por isso a imagem de Deus invisível não recusou a humildade do início humano, e pela concepção, parto, choro, berço, passou por todas as misérias próprias da natureza” (Tratado sobre a Santíssima Trindade 2, 24).

“O Deus Unigênito suportou em si mesmo todo o nosso sofrimento, que se abateu sobre Ele; mas sofreu com o poder de sua natureza, como nasceu pelo poder de sua natureza. Quando nasceu, conservou, no nascimento, a natureza de sua onipotência. Nasceu como nascem os homens, mas não foi concebido como os homens. Pelo seu nascimento tem o modo de ser da condição humana, mas não por causa de sua origem, está livre dos condicionamentos próprios da condição humana”. (Tratado sobre a Santíssima, 10, 47)

Dessas passagens e outras houve uma controvérsia interessante. O próprio modernista Hugo Koch, que escreveu várias obras contra a virgindade perpétua de Maria, concedeu que São Hilário defendia a virgindade no parto[25]. O protestante Von Campenhausen defendeu o contrário, que o santo era contra[26]. Mas também não esteve sozinho, pois o padre Jouassard inclinou-se também para a negativa[27]. Este foi respondido pelo padre Spedalieri[28]. Dublanchy insiste que podemos ver na primeira passagem uma afirmação da virgindade in partu[29]. Walter J. Burghardt e Philip Donnely, mais uma vez, parecem ficar na posição intermediária, onde não se prova nem uma coisa nem outra nas passagens[30][31].

Alguns trechos do comentário do Pe. De Aldama a primeira passagem:

“Não é que São Hilário não pretenda entrar em um problema cuja solução, favorável à virgindade in partu (tal como ele leu no Proto-Evangelho, por exemplo) crê deve- excluir-se. Se fosse assim, haveria omitido no texto todas as frases seguintes, bem afirmativas por certo. A “digressão” se converteria de supérflua em positivamente danosa. O sentido da passagem é este outro: não pretendo referir-me ao nascimento temporal do Senhor e perguntar-se se nele sofreu alguma diminuição a virgindade de sua mãe; embora que a verdade é que também esse caso nos poderia servir para confirmar o nosso; porque não há razão para negar em Deus como impossível o que o poder divino fez possível no homem. Mas ao fim não é isso o que vou te perguntar, mas outra coisa. Tal cremos ser a orientação da passagem. (…) Este detrimento, essa diminuição que nega São Hilário na carne maternal de Maria, se refere somente à concepção virginal ou se estende até o próprio parto? O contexto inclina a admitir a segunda hipótese. A algo mais que a concepção virginal soam expressões como estas: natus ex Virgine, generans, generavit. Recorde-se o sentido deste último verbo em Santo Ambrósio, por exemplo. (…) Finalmente, toda a argumentação de São Hilário se veria abaixo se em algum momento do nascimento ex Virgine (embora fosse somente no parto) a carne maternal tivesse sofrido algum detrimento. E a verdade é que se pessoalmente admitia este no parto, haveria, sem dúvida, escolhido palavras que designassem melhor a concepção somente, excluindo positivamente o parto”. (Op. Cit., 26-28)

Sobre a segunda passagem comenta:

“Não é somente a divindade do Menino que vai nascer; é também um parto virginal: paritum virginem. As palavras se referem ao próprio alumbramento, e é interessante anotar a identidade dessa fórmula com a que também, aludindo a Isaías, vai escrever quarenta anos depois contra Joviniano o sínodo de Milão: Non enim concepturam tantummodo virginem, sed et parituram virginem dixit. Cremos que não é somente mera coincidência de fórmulas. Há coincidência também de conteúdo. Esse nascimento, a cujo esplendor contribuem o Espírito falando por Isaías, o anjo anunciando-, à luz de uma nova estrela aparecendo aos Magos, não é somente o nascimento de Deus na terra; é, ademais, obra do mesmo Deus: parit virgo; partus a Deo est. Não queremos exagerar urgindo desmesuradamente o valor provativo deste texto. Mas certamente há que classificá-lo como mais favorável a um parto que se sai do ordinário, que não é comum, por ser precisamente o parto de uma virgem, um parto virginal. Não somente partus Dei, mas também partus a Deo” (p. 33-34).

Sobre a terceira passagem comenta:

“É claro que seria improcedente sublinhar neste texto as palavras omnes naturae nostrae contumelias; porque ao fazê-lo se concluiria absurdamente a afirmação de uma concepção natural. (…)Entre as contraposições que formam esta passagem, a que se refere ao nascimento mesmo é clara: passa do seio materno à luz do dia, que é o próprio dos homens ao nascer (humani partus lege), se contrapõe à imensidade divina própria do que nasce. Isto é, mais uma vez não se trata  das circunstâncias ou modalidades do parto, mas somente de sua realidade histórica.” (Op. Cit., 32-33)

Como apontado pelo blogueiro, Kelly usa a última passagem para mostrar que Santo Hilário “considerava que o nascimento teria acontecido naturalmente”. Pe. De Aldama, em sentido contrário, comenta essa passagem nos seguintes termos:

“O texto opõe a concepção ao parto. Aquela não foi lege hominum, mas extra constitutionem humanae condicionis, como obra do Espírito Santo; o parto, por outro lado, foi lege hominum e segundo constitutionem humanae condicionis. É óbvio que se supomos um parto normal, a oposição se entende bem. Mas é necessário supô-lo para poder dar ao texto seu sentido? Não o pensamos. A oposição afirmada entre a concepção e o parto se mantém plenamente, se a entendemos afirmada entre a concepção virginal e o ato humano de nascer: se concebido virginalmente, não é segundo  a lei humana, mas sim o é ser dado a luz por uma mulher. Como ambas interpretações são possíveis não pode alegar-se a passagem como um testemunho necessariamente favorável ao parto normal, que nos tenha de servir como pauta segura para explicar outros textos talvez duvidosos”. (p. 31-32)

São Zenão de Verona (300-371):

“Mariae superbus emicat venter, non munere coniugali sed fide, verbo non semine. Decem mensium fastidia nescit, utpote quae in se creatorem mundi concepit. Parturit non dolore, sed gaudio. Mira res! Exsultans exponit infantem, totius naturae antiquitate maiorem. Interea rudis non gemit feta. (…) Non mater eius tanti partus pondere exhausta, totis pallens iacuit resoluta visceribus. Non filius matris aut suis est ullis sordibus delibutus (…) Nulla adhibita rudi fetae sueta fomenta (…) Oh mistério maravilhoso! Maria concebeu sendo uma virgem incorrupta; depois da concepção deu à luz como virgem, e assim permaneceu sempre depois do parto” (Serm 2,  8, 2)

“Mira res! Concipit Maria de ipso quem parit; tumet uterus maiestate, non semine; capitque virgo quem mundus mundique non capit plenitudo. Interea promovent secum membra factorem, et opus sui figura vestit artificem. Parturit Maria non dolore, sed gaudio (…) [Mater] principaliter stupet talem sibi Filium provenisse, qui ex se natum non crederetur nisi quia, sicut fuit virgo incorrupta post conceptum, permanet talis quoque post partum” (Serm. 2, 9, 1)

Sobre essas passagens, comenta o Pe. Walter J. Burghardt em María en la patrística:

“E no norte de Itália, Zenão, bispo de Verona (+ 372), afirma rotundamente que Maria “deu a luz virgem”, e permaneceu virgem depois de seu matrimônio, depois da concepção e depois do parto”. (Op. Cit. 124)

O Pe. De Aldama, depois de citar as passagens acima, também conclui:

“Com Santo Ambrósio e São Zenão temos testemunhada a doutrina do parto virginal em algumas igrejas do norte de Itália”. (Virgo Mater…, p. 23)

Santo Efrém (306 – 373):

“Por esta razão nasceu de virgem, abrindo o Espírito Santo o seio para que saísse o homem que era autor da natureza (… )Pelo qual, nem o que nasceu removeu o seio da virgindade, nem a Virgem sentiu no parto dor e trabalho” (Serm. adv. Haereticos)

“Assim como (o Senhor) fez sua entrada estando as portas fechadas, assim da mesma maneira saiu do seio da Virgem, porque esta Virgem real e verdadeiramente pariu sem dor”. (Explanatio Evangelii concordantis c. 21 n. 2)

“Dentro do ventre carnal – um tálamo estava preparado – nele ele jazia – o esposo celestial, – e uns selos virginais custodiavam – as portas com diligência. – Quando quis sair o que é grande, – deixou os seios virginais submergidos no sono, – de tal forma que não se advertiu sua saída: – mas os centinelas e os Anjos – estavam louvando” (Cfr. RICIOTTI, Inni Allá Vergine, p. 55)

“Era ela uma desposada – segundo a natureza – antes de que Tu chegasse – Mas concebeu contra a natureza – quando Tu chegastes – Oh Santo! – E Virgem era ela quando te deu a luz – de maneira santa”. (Hymni de Nativitate 11, 3)

Aqui vemos a expressão “abriu o seio”, quando com toda evidência as frases expressam a crença no parto virginal. O Pe. Walter J. Burghardt[32] (apesar de conhecer as reservas de Jouassard),  Iosepho Mors[33], Pe. De Aldama[34], Roschini[35], Merkelbach[36] e Gregório Alastruey[37] reconhecem que São Efrém acreditava na virgindade no parto, enquanto o Pe. Philip[38], Hammersberger[39] e Jouassard[40] apresentam reservas por duvidarem da autenticidade das obras, embora não afirmem que Santo Efrém negue o parto virginal.

Santo Epifânio (310 – 403):

“Que expectativa é essa [de que fala o Profeta]? Que filhos, senão que a Virgem havia de dar a luz sem dores de parto, coisa totalmente inusitada?” (Panarion 1, 2, 20)

“Gerado verdadeiramente no seio de uma virgem, dado a luz pelas vias genitais, sem desonra, sem mácula, sem mancha” (Expositio fidei 15, 3)

“Por isso o único Filho de Deus procedeu da mulher, para destruir a serpente, isto é a corrupção da ímpia doutrina e fraude, erro e maldade. Este é o que verdadeiramente abriu o útero da Mãe”. (Panarion 3, 2, 78)

Comecemos pela última passagem. A expressão que gera a suposição de que ele negue a virgindade de Maria no parto é, mais uma vez, “abrir o útero”. Já tratamos desse ponto em Santo Atanásio, pelo que remetemos o leitor a releitura caso resta alguma dúvida. Acrescente-se que a continuação da fala do Santo evidencia o argumento de que a expressão quer dizer “o primogênito, o primeiro passo do filho”. Ele diz: “Todos os primogênitos sempre que nasceram – para falar delicadamente – não conseguiu produzir isto; nenhum, exceto o Unigênito, que “abriu o ventre de uma virgem”. Isso foi realizado nele sozinho, e em nenhum outro”.

 As duas primeiras passagens, por outro lado, são muito claras. Alguns estudiosos que dizem que Santo Epifânio acreditava na virgindade no parto de Maria: Roschini[41], De Aldama[42], Merkelbach[43], Michael Schmaus[44].

Rufino de Aquileia (340 – 410):

“Sicut in sanctificatione Spiritus Sancti nulla/ sentienda est fragilitas, ita et in partu Virginis nulla intelligenda corruptio. Novus enim huic saeculo datus est hic partus, nec immerito. Qui enim in caelis unicus Filius est, consequenter et in terra unicus est et unice nascitur”. (Expositio Symboli 8)

“Quid tam evidens dici de consecratione Virginis poterat? Clausa fuit in ea virginitatis porta; per ipsam introivit Dominus Deus Israel in hunc mundum, per ipsam de utero Virginis processit, et in aeternum porta Virginis clausa, servata virginitate, permansit”.(Ibid).

Rufino o Syro:

“Sempre porem disse Santa virgem Maria, pois assim como era virgem quando concebeu, do mesmo modo permaneceu virgem ao dar à luz”. (Liber de fide 43)

Didimo o Cego (313 – 398):

“E se realmente desconhecemos como deu a luz sem míngua própria a Virgem, permanecendo de novo virgem, muito mais inexplicável é como Deus, origem de si mesmo e Pai, eterna e impassivelmente gerou de si todo ao Filho todo, igual a Ele” (De Trinitate 3, 2, 20)

A atribuição a Dídimo o Cego se dava por segura até as dúvidas suscitadas pelo padre Doutreleau[45].

São Gregório Nazianceno (329 – 390):

“Crede que o Filho de Deus, o Verbo Eterno, que foi gerado do Pai antes de todos os tempos e sem corpo, foi nestes últimos dias por vosso amor feito também Filho do Homem, nascido inefável e imaculadamente da Virgem Maria (dado que nada pode ter mancha onde Deus está e pelo qual a Salvação vem), em Sua própria Pessoa ao mesmo tempo completo Homem e Deus perfeito, por amor a todo o sofredor, para que Ele possa conceder salvação por meio de todo o seu ser, tendo destruído toda a condenação de vossos pecados: impassível em Sua Divindade, passível naquilo que Ele assumiu (…)” (Orat 40,45)

O Pe. Walter J. Burghdart entende que nessa passagem São Gregório insinua, de passagem, a virgindade de Maria em Belém[46]. O Pe. Philip diz que “certas expressões de Gregório poderiam ser interpretadas em favor do nascimento virginal, mas não estão contidas de uma maneira explícita nem formal”[47]. Para Rahner a passagem é suficientemente clara para rechaçar a expulsão da placenta[48]. Roschini[49] e Merkelbach[50] crêem que o santo defendia a virgindade no parto.

São Basílio Magno (330 – 379):

“O próprio Deus de um sinal: um sinal extraordinário, prodigioso e muito alheio do curso comum da natureza: uma mesma mulher é virgem e mãe; permanece na santidade da virgindade e participa da bênção da maternidade” (Homilia in sanctam Christi generationem n. 4)

“Os fiéis não toleram ouvir dizer que a Mãe de Deus deixou de ser virgem alguma vez… Zacarias, colocando a Maria no lugar reservado Às virgens mesmo depois da concepção do Senhor… haveria provado assim aquele sinal extraordinário e celebrandíssimo de uma virgem que dá a luz e não perde sua virgindade” (Ibid., n. 5)

Como diz o Pe. Philip J. Donnelly a maioria das críticas modernas são mais favoráveis a autenticidade dessa Homilia (cf. p. 664, nota 1730). O Pe. Walter J. Burghardt diz que São Basílio é mais explícito que São Gregório Nazianceno, mas não muito claro (cf. María em la patrística oriental, p. 506).  Roschini[51] coloca São Basílio como defensor da virgindade no parto de Maria.

Santo Ambrósio (334 – 397):

“Que porta é essa se não Maria? Porta fechada, porque é virgem. A porta, pois, é Maria, pela qual Cristo entrou neste mundo, quando nasceu de parto virginal e não destruiu o segredo da virgindade” (De instit. virg., c. 7)

“com ele foi pulverizada Maria e, virgem, concebeu; virgem, deu à luz o bom odor:o Filho de Deus” (De virginitate, 65)

“Bene desponsata, sed virgo, quia est Ecclesiae typus, quae est immaculata, sed nupta. Concepit nos virgo de Spiritu, parit nos virgo sine gemitu” (Expositio evangelii secundum Lucam 2, 7: PL 15, 1555B)

“Jesus nasceu de uma Virgem puríssima. Sem embargo, os que vão por caminhos perversos se levantam para dizer: “Maria concebeu Virgem, mas cessou de ser quando deu a luz. De maneira que pôde conceber na virgindade, mas não pôde dar a luz na virgindade por mais que a concepção preceda e o parto venha depois”. Mas se não se quer crer na doutrina dos Bispos, creia-se, ao menos, nos oráculos de Jesus Cristo, creia-se na advertência do Anjo que disse: “Nada é impossível para Deus”; creia-se no Símbolo dos Apóstolos, que a Igreja Romana custodiou e conservou sempre sem alteração… Maria é a Virgem que concebeu em seu seio; é a Virgem que deu a luz um filho, segundo a palavra do Profeta: Ecce virgo in utero accipiet et pariet filium; com as quais palavras predisse, não só que conceberia sendo Virgem, mas também que daria a luz ficando Virgem. E qual é aquela porta do Santuário, porta exterior que mira ao Oriente, que permanece fechada, e pela qual ninguém passa exceto o Deus de Israel? Esta porta é Maria, que concebeu e deu a luz permanecendo Virgem, qui virgo concepit et genuit. E o que há de incrível, no fato de que, contra a lei natural, Maria desse a luz permanecendo Virgem, se, igualmente contra a natureza, o mar virou e voltou, e as águas do Jordão, mudando sua curso, voltaram até o manancial? Não é superior à fé que uma virgem tenha dado a luz, quando lemos que a rocha deu água em abundância, e que as ondas do mar formaram como duas sólidas muralhas. Não é superior à fé que um homem nasça de uma virgem, quando da pedra brotou um copioso manancial, quando um ferro flutuou sobre as águas e quando S. Pedro pôde caminhar também sobre as águas. Se as águas puderam suportar a um homem, não poderá uma virgem dar a luz a um homem?” (Carta ao Papa Sirício, em nome do Sínodo de Milão, PL, 16, 1125)

Nenhum dos autores pesquisados, mesmo protestantes, nega ou põe em dúvida que Santo Ambrósio cria na virgindade do parto de Maria, pelo que não é preciso citar nomes.

Fazemos nota que Santo Ambrósio defendia a virgindade de Maria no parto muito antes do Sínodo de Milão, que acabou por condenar Joviniano.

Com o Sínodo de Milão e a condenação de Joviniano fica claro que já em 390 os bispos daquela região consideravam como contrária a fé a negação da virgindade de Maria no parto. Segundo alguns autores, como De Aldama[52] e Solá[53], o Sínodo de Roma (do mesmo ano do Sínodo de Milão ou pouco antes) condenou também Joviniano em razão da negação do parto virginal de Maria Santíssima. São Jerônimo daria entender nessa citação: “Se se estima que tem igual valor a virgindade e o matrimônio, por que não pôde ouvir Roma a blasfêmia de quem dizia: “foi virgem em relação ao seu marido, não o foi no parto”?” (Carta 48, para Pammnachius).

São Gregório de Nissa (335 – 394):

“conservou a ardente sarça incólume; o manancial de sua virgindade não se secou pelo parto” (De vita Moysis)

“Também Jesus lhe fornece não pouco à consideração da presente graça. Ele lhe ensinou a mãe solteira, a carne sem pai, o alumbramento sem dor, o parto sem mácula… Desde logo, que o alumbramento havia de ser sem fatiga lhe o mostrará a própria razão: se a todo prazer está unido o trabalho, é força que, faltando um dos dois extremos, falte também o outro. Logo onde o prazer (na concepção) não havia precedido ao alumbramento, tampouco tinha que seguir o trabalho. E é o que disse o Profeta… [Is. 66, 7]” (In Christi resurrectionem, orat. 1)

“Oh maravilha! A Virgem é mãe e fica virgem. Vês como se renova a natureza? Entre as demais mulheres, enquanto uma é virgem não é mãe; pois se chega a ser mãe perde a virgindade. Mas aqui ambos termos se unem na mesma pessoa; pois ela é ao mesmo tempo mãe e virgem, sem que nem a virgindade haja impedido o alumbramento, nem o parto haja destruído a virgindade. Certo, o que entrava na vida dos homens para trazer incorrupção completa tinha que começar por servir-se da incorrupção em seu nascimento”. (In diem natalem Christi c. 19)

“Sua gravidez foi sem coito; seu parto imaculado; seu alumbramento, livre de dor… Só seu nascimento esteve livre de dor, assim como sua concepção esteve isenta de união carnal”.

“É um abuso de linguagem falar de dores de parto em relação aquela que era donzela e incorrupta, já que são aqueles incompatíveis com a virgindade em uma mesma pessoa. A analogia Eva-Maria exige que a mãe da Vida começasse sua gravidez com alegria e concluísse seu parto por alegria” (In Cantica Canticorum hom. 13)

“De tudo o que se disse quero acrescentar que de fato houve uma geração completamente isenta de toda paixão; e isto basta para quitar toda força ao argumento que saca Eunomio da fisiologia natural. Na realidade, se deu um parto totalmente alheio a todo movimento de paixão. Diz-me: o verbo se fez carne? Não te atrverás a negá-lo. Todos sabem que se fez carne. Por via de parto, responderás. E quem lhe deu a luz? Lembras? É coisa certa que nasceu de uma virgem a qual o gerou por obra do Espírito Santo, e quando chegou o tempo do alumbramento conservou intermerada no parto sua integridade e incorrupção. Pois se admites a geração de uma Mãe totalmente Virgem, por que rechaças a geração divina e incorrupta de parte do Pai, sob o pretexto o medo de mesclar nela alguma paixão?” (Adversus Eunonium 3)

Nas obras pesquisadas somente encontramos autores que concordam que São Gregório de Nissa defendia a virgindade de Maria no parto. Segundo o Pe. Walter J. Burghardt[54] a terceira passagem estaria falando apenas da virgindade antes do parto, enquanto o Pe. De Aldama[55] crê que fale do parto.

São Anfiloquio de Iconio (339 – 395):

“O mundo foi posto em liberdade por uma virgem; o mesmo que antes caiu no pecado por uma virgem. Pelo parto virginal foi desfeito o grande e poderoso plano dos invisíveis demônios… Oh Maria, oh Maria!, que tiveste por primogênito ao artífice de todas as coisas” (De Nativitate, 4)

“Plane vero fuerit qui contradicens dicat: Si ergo ad Dominum refertur quod scriptum est: Omne masculinum adaperiens vulvam, sanctum Domino vocabitur, Virgo virginitatem non servavit. Clamavienim Scriptura: Omne masculinum adaperiens vulvam: fuit utique aperta Virginis vulva, si id aeum referri habuit. Enimvero cordate audi et intelligenter: Quod quidem attinet ad naturam virgineam, nullo omnino modo virgineae portae fuerunt apertae, volente eo qui nuper utero gestabatur, juxta illud de ipso oraculum: Haec porta Domini: et ingredietur et egredietur: et porta erit clausa. Quod itaque spectat ad naturam virgineam, nullo prorsus modo apertae sunt virgineae portae: sed quod attinet ad potentiam Domini qui est natus, nihil Domino clausum est, sed omnia sunt illi aperta. Nihil est quod impediat; nihil quod officiat et obstet. Omnia sunt aperta. Unde etiam supremae in excelsis virtutes, inferis virtutibus clamore praecipiunt, dicentes, Tollite portas, principes, vestras: et elevamini, portae aeternales, et introibit rex gloriae. Est ergo virginitate discrimen est. Aliae siquidem virgines dormitaverunt, aliae fuerunt vigiles” (Orat in occursum de Dom, 3).

“dado à luz pela sempre virgem Maria” (Adversus falsam ascesim, em G. FICKER, Amphilochiana 66).

Segundo o Pe. Philip J. Donnelly a virgindade de Maria no parto é vagamente proposta por São Anfiloquio, contudo na obra De Hypapante é muito mais exato e chega a quase uma afirmação explícita da virgindade de Maria no parto (cf. p. 667, nota 185). O Pe. Walter J. Burghardt  também diz que a virgindade no parto é proposta de modo vago por São Anfilóquio, mas também acrescenta que a linguagem de Anfilóquio está suficientemente clara em relação a sua idéia básica de que tanto no parto como na concepção, a virgindade de Maria se manteve incorrupta (cf. María en la patrística oriental, p. 507). Alguns põem em dúvida a atribuição da primeira passagem. A autenticidade da segunda passagem se admite geralmente, segundo o Pe. De Aldama[56].  O Pe. De Aldama o coloca como defensor claro da virgindade de Maria no parto[57]. Importante assinalar que a segunda passagem é comumente usada por estudiosos católicos para demonstrar que a expressão abrir o ventre não é contrária a virgindade no parto, como Franzelin[58] e Jungmann[59].

Aurélio Clemente Prudêncio (348 – 405):

“Sentisne, virgo nobilis, matura per fastidia pudoris intactum decus honore partus crescere. O quanta rerum gaudia alvus pudica continet!” (Liber Cathemerinon, XI, 53)

São João Crisóstomo (347 – 407):

“O Pai [O] gerou de forma imutável, e a virgem [O] teve sem corrupção. Pois Deus não se submeteu a gerar com fluxos, porque Ele [O] gerou de maneira adequada a Deus. E a virgem não se submeteu à corrupção quando deu à luz, porque deu à luz por um modo espiritual. E assim Sua geração vinda do alto não tem explicação, nem Sua vinda em tempos ulteriores suporta ser investigada indevidamente. Pois hoje sei que, por um lado, a virgem deu à luz, e hoje creio que Deus [O] gerou fora do tempo. Aprendi a honrar o modo de nascer com o silêncio, e me empenhei em não indagar indevidamente com palavras. Pois, no caso de Deus, não devemos dar atenção à natureza das ações, mas acreditar no poder daquele que [as] causa. Pois há uma lei da natureza, sempre que uma mulher, depois de ter se unido em casamento, dá à luz. Mas quando uma virgem, depois de dar à luz, sem experiência no casamento, novamente aparece como uma virgem, a ação está além da natureza. Portanto, investigue-se o que está de acordo com a natureza, mas aquilo que está além da natureza seja honrado com o silêncio, não como algo que deva ser evitado, mas como algo inexprimível e digno de ser honrado com o silêncio. Mas concedam-me o perdão, peço-lhes, se eu quiser terminar o sermão na introdução. Pois, sendo humilde com relação à investigação daqueles que me são maiores, não sei como e para onde vou virar os lemes das minhas palavras. Pois, o que dizer, ou que devo eu dizer? “(In nat. Christ. Diem.)

Para o Pe. Philip J. Donnelly, São João Crisóstomo “estava absolutamente convencido da virgindade perpétua, particularmente especificada no parto virginal(…)” (p. 667). Só encontramos autores que concordam com essa opinião.

São Jerônimo (347 – 420):

“Propterea dabit Dominus ipse vobis signum. Ecce Virgo concipiet et pariet, et vocabis nomen ejus Emmanuel (…) De quo et Sponsa rogabat in Cantico Canticorum: Osculetur me osculo oris sui (Cant. I, 2). Dominus enim virtutum ipse est rex gloriae (Ps. XXIII, 10): ipse descendet in uterum virginalem, et ingredietur et egredietur Orientalem portam quae semper est clausa (Ezech. XLIV); de qua Gabriel dicit ad Virginem: Spiritus sanctus veniet super te, et virtus Altissimi obumbrabit tibi: propterea quod nascetur in te sanctum, vocabitur Filius Dei (Luc. I, 35). Et in Proverbiis: Sapientia aedificavit sibi domum (Prov. IX, 1)”. (In ¡saiam 3, 7, 14)

“Santa Maria, bendita Maria, mãe e virgem, virgem antes de dar à luz, virgem depois de dar à luz! Eu, por minha parte, me maravilho como um virgem nasce de uma virgem, e como, depois do nascimento de uma virgem, a mãe é virgem. Gostaria de saber como ele nasceu de uma virgem e, após sua natividade, a mãe ainda é virgem? Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles” (Jo 20, 19, 26). Não há dúvida sobre isso. Aquele que entrou através das portas fechadas não era nem fantasma nem espírito. Ele era um homem de verdade com um corpo real. Além disso, o que ele diz? “apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho.” (Luc 24,39). Ele tinha carne e ossos, e as portas estavam fechadas. Como a carne e os ossos passam por portas fechadas? As portas estão fechadas, e ele entra, aquele que não vemos entrar. Por onde ele entrou? Tudo está fechado. Não há lugar pelo qual ele possa entrar. No entanto, quem entrou está dentro, e como ele entrou não é evidente. Vós não sabeis como sua entrada se deu, e vós atribuís isso ao poder de Deus. Atribua ao poder de Deus, portanto, que ele nasceu de uma virgem e a virgem mesma depois de dar a luz ainda era uma virgem.” (Homilia in Ioannem 1)

“Cristo é virgem; a mãe de nosso virgem, virgem perpétua, mãe e virgem. E é assim que Jesus entrou a portas fechadas. Em seu sepulcro, que era novo e havia sido cavado na rocha duríssima, nem antes nem depois dEle alguém foi posto. É jardim fechado e fonte selada (Cant 4, 12), de que emana aquele rio que, segundo Amós, rega o torrente das cordas ou dos espinhos (Ioel 3, 18: erravit Hieronymus): as cordas seriam os pecados, com que antes estávamos atados; os espinhos, aqueles que extinguiam a semente do pai de famílias. Ela é a porta oriental da que fala Ezequiel (44, 1-3), sempre fechada e cheia de luz, que, fechada, faz sair de si ao Santo dos santos, pela qual entra e sai o sol de justiça e sumo sacerdote nosso segundo a ordem de Melquisedec. Respondam-me como entrou Jesus a portas fechadas quando mostrou suas mãos para que os discípulos as apalpassem e que considerassem seu lado e seus ossos e carne, e não tiveram por fantasma a verdade de seu corpo, e eu responderei como Santa Maria é ao mesmo tempo mãe e virgem: virgem depois do parto, mãe antes de casada”. (Apologeticum ad Pammachium 21)

“Somente Cristo abriu as portas fechadas de seu seio virginal, e, contudo, estas portas permaneceram sempre fechadas.” (Diálogo contra Pelagianos 2, n 4)

“A palavra de Deus define “primogênito” como todo aquele que abriu o útero (…) À toda hora a Escritura assim fala do Salvador: “E quando chegou o dia de sua purificação, de acordo com a lei de Moisés, eles o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor [como está prescrito na lei do Senhor, todo macho que abre o útero deve ser consagrado ao Senhor] e para oferecer em sacrifício de acordo com o que é prescrito na lei do Senhor, um par de rolinhas ou duas pombas novas” (…) Mas visto que, como aquele que não tem irmãos mais novos, é sujeito à lei do primogênito, deduzimos que é chamado primogênito aquele que abre o útero da mãe (…)” (Contra Helvídio 12)

“Você pergunta: “São as virgens melhores do que Abraão, Isaac e Jacó, que foram casados? Não são as crianças diariamente moldadas pelas mãos de Deus no útero de suas mães? E se assim é, somos constrangidos a nos ruborizarmos pelo pensamento de Maria tendo um marido depois do parto? Se julgam que há alguma desgraça nisto, não deviam coerentemente acreditar que Deus nasceu da Virgem por parto normal. Porque de acordo com esses, há mais desonra numa virgem dando à luz a Deus pelos órgãos geradores, do que numa virgem que se juntou a seu próprio esposo depois que deu à luz”. Acrescente, se quiser, Helvídio, as outras humilhações da natureza, o útero de nove meses se tornando cada vez maior, a doença, o parto, o sangue, os cueiros. Imagine você mesmo o menino envolto na placenta. Imagine a dura manjedoura, o choro do menino, a circuncisão no oitavo dia, o tempo de purificação, de modo que possa ficar comprovado que tudo era impuro. Não enrubescemos, você não nos impõe silêncio. Maior humilhação Ele sofreu por mim, a maior que o atingiu. E quando você tiver dado todos os detalhes, não estará apto a apontar nada mais vergonhoso do que a cruz que confessamos, na qual acreditamos e pela qual triunfamos sobre todos nossos inimigos”. (Contra Helvídio, 8)

As quatro primeiras passagens são citadas por vários especialistas para demonstrar que São Jerônimo defendia a virgindade no parto (e de fato são bem claras). A penúltima passagem supostamente iria contra a virgindade no parto, segundo a opinião do blogueiro. O argumento se resume na expressão  “abrir o útero”, que já tratamos bastante neste estudo, pelo que não é preciso repetir.

Quanto a última passagem o argumento do blogueiro é que a pergunta de Helvídio supõe que São Jerônimo e outros deveriam acreditar num “parto normal”. Enquanto São Jerônimo antes de contrariar essa atribuição de que essa era a crença dele e de seus partidários, confirma as palavras de Helvídio. O blogueiro se confunde quando diz: “Helvídio afirma que por coerência, os defensores da virgindade deveriam aceitar o parto normal”. Na verdade, o argumento de Helvídio é que por S. Jerônimo e seus partidários não aceitarem que Maria teve relações com São José depois que deu à luz deveriam, por coerência, negar que houve um parto normal, uma vez que “há mais desonra numa virgem dando à luz a Deus pelos órgãos geradores, do que numa virgem que se juntou a seu próprio esposo depois que deu à luz”. 

Em todo caso, não há provas que Helvídio negasse a virgindade de Maria no parto, nem os especialistas o colocam como defensor dessa tese. Por outro lado, a própria questão de Helvídio na passagem acima evidencia que Helvídio não negou a virgindade no parto, pois fala numa virgem que se juntou a seu próprio esposo depois que deu à luz”. Ou seja, enquanto virgem juntou-se ao seu esposo depois que deu à luz. A palavra “virgem” a designa em relação ao momento posterior ao ter dado à luz e até juntar-se ao seu esposo.

Outro ponto: Helvídio não usa a expressão “parto normal” ou “comum”, como se quisesse contrapor um parto extraordinário, fora do comum. Na verdade, a expressão latina usada é “per genitalia virginis natum”. Ou seja, que nasceu por meio do órgão genital, como a frase seguinte o expressa “há mais desonra numa virgem dando à luz a Deus pelos órgãos geradores”. Na verdade, é São Jerônimo que sugere que Helvídio acrescente, dentre outras coisas, o parto em si, sem sugerir que esse parto seja normal. Não só o parto como também a própria concepção são humilhações que Deus sofreu por nós. Santo Hilário, como já citamos, diz: “Por isso a imagem de Deus invisível não recusou a humildade do início humano, e pela concepção, parto, choro, berço, passou por todas as misérias próprias da natureza” (Tratado sobre a Santíssima Trindade 2, 24). O que não equivale a dizer que a concepção e o parto não foram miraculosos. Já explicamos este ponto.

Para encerrar a refutação dessa utilização da passagem por parte do blogueiro, acrescentamos um ótimo argumento do Pe. De Aldama sobre essa passagem:

“Estas frases (N.do.T: da resposta inicial de São Jerônimo) vem evidentemente sobrecarregadas com o empenho de chegar até o limite do absurdo. Ao fim, postos a buscar humilhações (do Menino, não necessariamente da Mãe), cruce nihil contumeliosius proferes! E sem embargo, não nos envergonhamos de ver-lhe crucificado. Mas isso é somente uma resposta indireta, na qual se prescinde dos detalhes acumulados para ir de golpe ao final. A verdadeira resposta de São Jerônimo é a que escreve na continuação: “Sed ut haec quae scripta sunt, non negamus, ita ea quae non sunt scripta, renuimus” [N.do.T: Mas como não negamos o que está escrito, assim também rejeitamos o que não está escrito]. O princípio geral que aplica imediatamente ao argumento de Helvídio: Natum Deum esse de Virgine, credimus quia legimus; Mariam nupsisse post partum, non credimus quia non legimus [N.do.T: Acreditamos que Deus nasceu de uma Virgem, porque lemos assim. Não acreditamos que Maria teve união marital depois que deu à luz porque não lemos isso]. Com estas simples palavras resume São Jerônimo o Deum per genitalia Virginis natum de Helvídio na frase, equivalente para ele se a resposta vale, natum Deum esse de Virgine. O que confirma plenamente nossa própria interpretação das palavras do herege. Mas ao fazer essa equivalência, negou os detalhes que pudessem levar a pensar um parto não virginal? Cremos que sim. Não somente porque deles vale o princípio ea quae non sunt scripta renuimus, mas, além disso, porque São Jerônimo explica antes na mesma obra quais são os detalhes que desse momento nos dá o Evangelista; os quais da mesma forma há que crer: credimus quia legimus. Essa explicação a escreve na continuação de outra descrição ainda mais dura que a anteriormente citada: Polluatur cruore puerpera, obstetrices suscipiant parvulum vagientem, maritus lassam teneat uxorem… [N. do. T: A mãe precisava se purificar da mácula de seu filho recém-nascido de modo que este ficava sob os cuidados da parteira, enquanto o marido apoiava sua esposa enfraquecida…] O que pensa São Jerônimo desses detalhes? Não temos o que conjeturá-lo; nos diz muito claramente: Nulla ibi obstetrix, nulla mulierecularum sedulitas intervenit; ipsa pannis involvit infantem, ipsa mater et obstetrix fuit. Et collocavit, inquit, in praesepio, quia non erat ei locus in diversorio [N.do.T: Nenhuma parteira assistiu ao nascimento de Jesus; nenhuma mulher se intrometeu ali. Com suas próprias mãos [Maria] envolveu o Menino em pedaços de pano; ela mesma foi mãe e parteira, e, como nos é relatado, “O colocou numa manjedoura, pois não havia nenhum quarto para eles na pousada”; eis a declaração [canônica] que refuta as estórias apócrifas, pois foi Maria mesma que o envolveu em pedaços de pano e o que se sucederia a partir daí torna impossível a maliciosa idéia de Helvídio, uma vez que não havia um local adequado para o ato sexual naquela pousada].. Estas palavras, se a algo são favoráveis, o são, sem dúvida, a um parto virginal”. (Virgo mater…, p. 48-49).

Sobre a posição do Padre Philip J. Donnelly, o blogueiro diz “que Carol (sic!) parece implicar que Jerônimo de fato nunca acreditou na virgindade no parto”. Na realidade, a posição do padre Philip é que “ficou o assunto, sem que se pudesse saber realmente o que pensava Jerônimo sobre o parto virginal, se estava ou não de acordo com Ambrósio e o sínodo de Milão” (p. 675). Em relação a carta que São Jerônimo enviou a Pamnaquio assim comenta o teólogo: “assim, então, Pamnaquio ou qualquer um que lesse a carta ficava em perfeita liberdade de atribuir a Jerônimo a opinião que se tivesse vontade, talvez a do próprio Santo Ambrósio, a quem altamente elogia” (p. 674). O que o blogueiro fez foi somente colocar e enfatizar (com negrito) aquelas coisas que lhe agradavam das palavras do padre, mas a posição do teólogo é que não há certeza da visão de São Jerônimo.

O blogueiro a partir do inglês traduz assim as palavras do Pe. Philip: “São Jerônimo, com a sua autoridade inquestionável e prestígio, tinha tomado a defesa de Maria contra Helvídio sem admitir que ela era virgem no nascimento de Cristo”. Ocorre que o blogueiro esqueceu do advérbio “unqualifiedly” (isto é, abertamente, absolutamente, plenamente) que constava após o termo  admitir. A tradução da BAC (a qual utilizamos neste estudo) traduziu assim essa parte: “sin pronunciarse abiertamente por la virgindad de María em El nascimiento de Cristo” (p. 673). Não pronunciar-se ou admitir abertamente o parto virginal num escrito é diferente de simplesmente não admitir que ela era virgem no nascimento de Cristo. O que o Pe. Philip quis apontar é que São Jerônimo não foi claro sobre sua posição.

Uma frase que vem logo a seguir da anterior, utilizada pelo blogueiro, foi: “A Jerônimo lhe moveu indubitavelmente seu horror aos apócrifos e sua repugnância a aceitar a doutrina destes sobre o parto virginal”. Como é a frase da sequência é fácil concluir que quando o padre fala do que moveu São Jerônimo está querendo dizer qual foi a causa para que ele não se pronunciasse de forma aberta sobre o assunto. A causa foi seu horror aos apócrifos e sua repugnância a aceitar a doutrina dos apócrifos sobre o parto virginal. Mas a questão é: São Jerônimo possuía repugnância em aceitar a doutrina do parto virginal em si ou a formulação dos apócrifos sobre o parto virginal? É claro que a idéia do parto virginal está contida nos apócrifos, mas será que a doutrina dos apócrifos sobre o parto virginal não apresenta pontos a mais que São Jerônimo repugna? Como saber? O Pe. Philip não nos deixa sem indicação, pois na nota de rodapé acrescenta: “ML 23,192”. Que é referência do trecho que segue:  “Nenhuma parteira assistiu ao nascimento de Jesus; nenhuma mulher se intrometeu ali. Com suas próprias mãos [Maria] envolveu o Menino em pedaços de pano; ela mesma foi mãe e parteira, e, como nos é relatado, “O colocou numa manjedoura, pois não havia nenhum quarto para eles na pousada”; eis a declaração [canônica] que refuta as estórias apócrifas, pois foi Maria mesma que o envolveu em pedaços de pano e o que se sucederia a partir daí torna impossível a maliciosa idéia de Helvídio, uma vez que não havia um local adequado para o ato sexual naquela pousada”.  A referência na nota de rodapé nos aponta em que medida, segundo a opinião do Pe. Philip, São Jerônimo repugnava a doutrina dos apócrifos sobre a virgindade no parto. Ela está simplesmente na presença de parteira, pois segundo São Jerônimo, Maria foi mãe e parteira ao mesmo tempo. Note-se ainda que o padre fala em doutrina dos apócrifos sobre o parto virginal e não pura e simplesmente em doutrina do parto virginal.

Segundo o Pe. Walter J. Burghardt, citando a frase por nós colocada (do Diálogo contra Pelagianos) aparentemente “podemos afirmar, segundo este paradoxo, que, na opinião de São Jerônimo, Nosso Senhor pôde “abrir o seio” de Maria sem destruir sua virgindade” (María en la patrística occidental, p. 126). O padre Roschini diz que São Jerônimo “demonstra que ninguém pode pôr em objeção alguma contra a possibilidade do nascimento virginal de Cristo, desde o momento que Ele demonstrou que sabia passar, com seu corpo real, através das portas fechadas”[60]. Outros autores que crêem que São Jerônimo sempre defendeu a virgindade no parto: De Aldama[61], Merkelbach[62], Michael Schmaus[63]. O protestante Kelly, como apontado pelo blogueiro, crê que São Jerônimo mudou de opinião, passando a ser a favor.

Santo Agostinho (354 – 430):

“Se a integridade de Maria houvesse sido destruída pelo que dela nasceu, este já não nasceria de virgem, e toda a Igreja professaria falsamente que havia nascido de Maria virgem; a qual (a Igreja, imitando a sua Mãe (Maria), diariamente dá a luz a novos filhos e é sempre virgem” (Enchir., c. 34)

“Ao acusar-me de patrocinar o erro dos maniqueos, imitas a conduta de Joviniano. Este afirma, sim, a virgindade de Maria em sua concepção, mas nega sua virgindade no parto. Como se dizer que Cristo nasceu de uma virgem pura e sem mancha fosse crer, com os maniqueos, que Cristo era um fantasma. Mas os católicos, assim como, com a ajuda do Salvador, desprezaram as sutilezas de Joviniano e sempre creram na virgindade de Santa Maria no parto, não creram nunca  em que o Senhor fosse um fantasma, mas que dela tomou Cristo um corpo real e verdadeiro, permanecendo sua mãe virgem no parto e depois do parto. E da mesma forma desprezam agora vossa tagarelice caluniadora, de sorte que não afirmam, com os maniqueos, a existência de um princípio natural mau, mas que, sob à luz da antiga e verdadeira doutrina da Igreja, não duvidam afirmar que Cristo, ao abolir nossa escritura paterna do pecado, converte-se em salvador das crianças”. (Contra Iulianum Pelagianum 1, 2, 4)

“Jovinianistas, os quais eu vim a conhecer,  falei deles certamente neste opúsculo sem nomear. Essa heresia nasceu em nosso tempo, de um certo monge chamado Joviniano, quando ainda  éramos jovens. Ele dizia, como os filósofos  estóicos, que todos os pecados são iguais; que o homem, depois de receber o batismo, não pode pecar,  e que não servem de nada nem o jejum, nem abstinência de alguns alimentos. Ele negava a virgindade de Maria, dizendo que ao dar a luz, não permaneceu intacta. Também equiparava a virgindade das consagradas e a continência do sexo viril nos religiosos que escolhiam uma vida  celibatária aos méritos dos matrimônios castos e fiéis, de tal modo que, segundo dizem algumas virgens  consagradas e de idade já avançada, na mesma cidade de Roma, onde o ensinava, casaram-se ao ouví-lo. É verdade que ele mesmo não tinha nem queria ter mulher. Acreditava que tudo isso não serviria para maior mérito algum diante de Deus no reino da vida eterna, mas  para aproveitar a necessidade presente, ou seja, para que o  homem tivesse que suportar as moléstias conjugais. No entanto, essa heresia foi oprimida e extinta tão logo que não pode conseguir enganar qualquer sacerdote “.  (As heresias, 82). (As Heresias, 82)

“Porque é íntegra tua fé, intacta ficará também tua integridade” (Serm., 291, 5)

“Concebeu uma virgem, admiramo-nos. Deu à luz uma virgem, admiramo-nos mais ainda” (Serm., 196, 1, 1)

“Nasceu a virtude do mundo e não se escuta nenhum gemido da mãe” (Serm., 194, 1, 1)

Os especialistas não têm dúvida que Santo Agostinho cria na virgindade no parto. O interessante das primeiras citações é que demonstram que para Santo Agostinho a doutrina da virgindade de Maria no parto era de fé e que era a posição oficial da Igreja universal.

São Gregório de Elvira (+ 392):

“Quis enim cognoscere potest quemadmodum Verbum in Virginem venerit, ut repente conciperet, ut tam felicem fetum partus virginalis effunderet, ut hominem Deus indueret quem totus mundus non potest nec sufferre nec capere? Id est quod ait: vestigia aquilae volantis”. (De Salomone 7)

O Pe. Vega[64] defendeu amplamente a atribuição a Gregório de Elvira, sem dar uma segurança completa, apesar das reservas de Dom Wilmart[65]. Mas parece certo que é do século IV esse escrito[66].

Consultationes Zacchaei et Apolloni (sec. IV):

“a criança não destruiu a integridade do corpo de sua mãe” (l. 1, c  11)

Teodoreto de Ciro (393 – 457):

“Igitur propriam imaginem bello fatiscenter miseratus Creator, et mortii traditam, inclinavit coelos et descendit, haud sanc locum mutans, neque allo se transferens; etenim omnia implet; imo infinitus est, nullo termino comprehensus, cucta, ut ait propheta, manu continens: “Quis enim, inquit, mensus manu sua aquas, et coelum palmo, et universam terram pugillo?” Itemque David: “Quia in manu ejus sunt omne fines terrae.” Et ipse Deus per prophetam: “Coelum sedes mea, terra autem scabellum pedum meorum.” Ergo m descensum condescensionem potius existimemus. Inclinavit itaque coelos et descendit, et virgineo delecto utero sanctae puellae atque in recta religione nutritae, angelica voce partum praenuntiante, et conceptionis rationem antea explicante, vrgineumque pavorem ea deolaratione solvente, proprium sibi facit comparatque templum, et neque satam neque ullo cultu dispositam sibi format stationem: sicuti ille qui primus serviit peccato, sine patre fuerat, unamque habebat terram matrem. “Sumpsit enim, inquit, Deus pulverem de terra, hominemque formavit.” Quambrem beatus quoque Paulus ait: “Primus homo de terra terrenus; secundus homo Dominus de coelo.” Hujus rei gratia unigenitum Dei Verbum ex sola Virgine materiam fabricae sumens, atque ita illaboratum formans templum, sibique uniens, prodit ex Virgine, haud equidem in conceptu solvens virgineam zonam, neque hanc nativitate dirumpens, sed incolumem intactamque conservans, atque ita magnum hoc et inenarrabile patrans prodigium. Eternim magnum reapse est, et inexplicabile, et orationis vim excedens, racemum cernere de terra sine palmitibus germinantem, frumentum sine seminibus ortum, tunicam sine stamine et sine texente manu contextam; panem sine mola ac manibus et igne fabricatum, sed arcane ex virginali farina confectum, et universum mundum complentem; praeterea Virginem proprio infantulo mammam porrigentem, lactisque fontes praebentem, matrem effectam quae nuptiarum legem non admiserat, matrem, inquam, effectam quae quomodo fiat mater ignorabat, matrem denique  effectam quae matrona antea non fuerat, sed in virginitate tumorem ventris ostendentem, ejusque fructum manibus circumferentem, et officia matris salva virginitate exsequentem, et cum matris nomine virginem, postremo contraria nomina et contrarias res simul comprehendentem”. (De incarnatione Domini n. 23)

“É verossímil que aqui é nos indicado o seio virginal pelo qual ninguém entrou nem saiu senão somente o Senhor”. (In Ezechielem 44, 1-2)
 

São Nilo do Sinai († 430):

“Cristo Nosso Senhor, que ao nascer abriu o seio imaculado, ele mesmo com sua própria sabedoria, poder e intervenção milagrosa selou o seio depois do parto, sem desfazer em absoluto os seios da virgindade. Evidentemente somente Deus pôde levar a cabo” (Epist. ad Cyrillum 1, 270).
 

São Cirilo de Alexandria (375 – 444):

“Vejo aqui uma alegre companhia de homens cristãos reunidos em pronta resposta ao chamado de Maria, a santíssima e sempre virgem Mãe de Deus. O grande pesar que pesou sobre mim é transformado em alegria por vossa presença, veneráveis Padres”.

“Eis a alegria de todo o universo. Que a união de Deus e do homem no Filho da Virgem Maria nos encha de admiração e adoração. Devemos temer e adorar a Trindade sem divisão enquanto cantamos o louvor da sempre virgem Maria, o santo templo de Deus e do próprio Deus, seu Filho e Noivo sem macha. A ele seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém”. (Discurso em Concílio de Éfeso, Hom. 4)

“Pois aos que dizem que, se a Virgem deu a luz, terminou-se sua virgindade, e se esta não se terminou, seu parto foi somente aparente, respondemo-lhes: o profeta diz que entrou e saiu e permaneceu fechada a porta. Além disso, se o Verbo se fez carne inconfusamente concebido totalmente sem semente, foi dado à luz virginalmente”. (In Lucam 2, 5)

“O Verbo, que era por natureza Deus, mesmo ao encarnar-se nasceu de um modo divino, isto é, como convinha a quem era Deus verdadeiramente. Porque somente Ele teve como mãe a quem era alheia a toda união sexual; e somente Ele conservou virgem a que lhe deu a luz segundo a carne” (Apologético contra os Orientais 9, defens.)

Quanto a segunda passagem há certas dúvidas sobre sua atribuição[67].

Papa Celestino I (380 – 432):

“Recordor beatae memoriae Ambrosium in die Natalis Domini Iesu Christi omnem populum fecisse una voce Deo canere: Veni, Redemptor gentium, ostende partum Virginis: miretur omne saeculum, talis decet partus Deum. Numquid dixit: Talis partus decet hominem? Ergo sensu fratris nostri Cyrilli, in hoc quod dicit Θεοτόκος Mariam, valde concordat, Talis decet partus Deum. Deum partu suo Virgo effudit, ipso potente qui omnipotentia plenus est”. (Fragmentum sermonis quem Coelestinus in Concilio Romano habuit adversus haeresim Nestorii [Epistola Xl])
 

São Teodoro de Ancira:

“O Salvador, depois de três dias, saiu do túmulo, não se limitando a abrir o seu próprio túmulo, mas também a abrir os túmulos de muitos santos. … Quando ele se levantou do sepulcro, abriu tumbas; Quando ele nasceu de um útero, ele não abriu o útero. … Quando ele nasce, ele deixa o ventre da Virgem fechado. Deixe-nos então, dizer a razão pela qual os túmulos foram abertos, ao passo que o útero virginal não foi aberto. A razão é que sua ressurreição se tornou o princípio causal de todas as ressurreições, enquanto a maneira extraordinária de seu nascimento foi reservada somente a ele “. (Homilia 5, r, PG 77, 1413 A-B, GAMBERO)

“Vós vistes quão maravilhoso era o mistério, transcendendo a lei da natureza? Vós vistes esta ocorrência sobrenatural operada pelo poder do Deus único? Vós vistes a Palavra além das palavras sendo gerada? O fato de ele não ter destruído sua virgindade mostra claramente que aquEle que nasceu é a Palavra de Deus. A mulher que dá à luz meramente à carne deixa de ser virgem; mas a Palavra de Deus, nascida na carne, mantém sua virgindade, mostrando assim que ele é a Palavra. E quando vós me ouvis dizer “Palavra”, entenda que eu quero dizer a Palavra substancial e subsistente, não a palavra que se fala com a boca “. (Homilia 1, 1)

“Nenhuma mãe de um homem jamais permaneceu virgem. Vós vistes como esse nascimento nos oferece uma dupla consideração a respeito daquEle que nasceu? Se tivesse nascido como nós, teria sido um homem, mas se manteve virgem a sua Mãe, é claro, para aqueles que sabem pensar, que aquEle que nasceu é Deus “. (Homilia 2, 3)
 

São Pedro Crisólogo (406-450):

“Quid terrenum nascitur, ubi auctore Spiritu Sancto virgo vocatur in partu? Quis non divinum credat, quando quae peperit nihil sensit humanum? Deum mulier virgineo portabat in templo; hinc est quod et acquisivit honorem matris, virginitatis gloriam non amisit” (Serm. 59)

“Ergo quod natum est, confitendum est; quomodo natus est, tacendum est. Quia quod secretum est, sciri non potest; quod clausum est, nescit aperiri; quod singulare est, non refertur exemplo”. (Serm. 61)

“O Espírito gera, virgem concebe, virgem dá à luz, permanece virgem depois do parto” (Serm. 62)

 “Virginitate sponsa, fecunditate mater: mater viri nescia, partus conscia. Aut quomodo non ante conceptum virgo, quae post partum virgo mater?” (Serm. 146)

 “Rogo, cur dubitatur clausi corporis arcanum, et obseratum tota integritate domicilium virginale absoluta divinitas potuisse penetrare, quae, post resurrectionem corporis nostri crassata mysterio, foribus egreditur clausis, talique indicio se totius creaturae demonstrat auctorem, cui non obsistit, cui deseruit ad omnia creatura ? Sed si conceptum partumque  virginitas excusare suo nescit creatori, si ingressum egressumque clausa ianua creatori suo non potest denegare, quemadmodum lapis monumenti, quamvis magnus, quamvis iudaica malitia obsignatus, resurgenti poterat obsistere Salvatori? Sed, sicut virginitas et ianua claustris suis fidem faciunt Deitatis, ita revolutus lapis fidem resurrectionis affirmat, qui nullum revolutus Domino suo praeparavit egressum, sed nocte fidei praestat et admitit ingressum”. (Serm. 84)

“Venit Maria ad monumentum, venit ad resurrectionis uterum, venit ad vitae partum, ut iterum Christus ex sepulcro nasceretur fidei, qui carnis fuerat generatus ex ventre; et eum, quem clausa virginitas vitam pertulerat ad praesentem, clausum sepulcrum ad vitam redderet sempiternam. Divinitatis insigne est clausam virginem reliquisse post partum; de sepulcro clauso exisse cum corpore, est divinitatis insigne” (Serm. 75)

“Virgem concebe, virgem dá a luz, e permanece virgem. Ergo virtutis est caro conscia, non doloris, quae magis pariendo integritatis augmenta suscipit, damna pudoris ignorat; testis potius sui partus, quae nullas partus pertulit passiones; et sacramentis caelestibus interfuisse se nova mater miratur, quae nascentis ordinem intelligit humanae consuetudinis nihil habere”. (Serm. 117)

“O que entra e sai não deixa sinal algum de sua entrada e de sua saída; é habitador divino, não humano”. “Em tua concepção e em teu parto cresceu teu pudor, foi aumentada tua castidade, robustecida tua integridade” (Serm. 142)
 

Sedulio (V – VI):

“Tunc maximus Infans,

intemerata sui conservans viscera templi,

inlaesum vacuavit iter; pro virgine testis

partus adest, clausa ingrediens et clausa relinquens”. (Carmen Paschale 2, 44-47)

A poesia acima é do final século V[68].

Severiano de Gábala († 408):

“Quapropter Dominus id discipulis suis praecipiente dicens: Nolite gaudere quia daemonia vobis subjiciuntur; sed gaudete quia nomina vestra scripta sunt in caelis (Luc. 10. 20). Cum autem natus esset Jesus in Bethelehem Judaeae diebus Herodis, ecce magis ab oriente venerunt dicentes: Ubi est qui natus est rex Judaeorum? vidimus enim stellam ejus in oriente, et venimus adorare eum (Matth. 2. 1-3). Hei mihi! miraculis superior, contemplationibus detineor, nec invenit lengua mea quid primo dicat, aut quid praetermittat. Si generationem ejus considerem, obstupesco, quia antequam puer ex natura exiret, signa perficiebat. Annon hoc est maximum signum, quod virgo post-quam genuit, virgo maneat; quod caelum tacens per stellam loquatur?” (In natale domini nostri Iesu Christi)
 

Hesiquio de Jerusalém († 450):

“Virgo enim est mater, et post partum permanst sigillum virginitatis, quod natura indidit, inconcussum custodiens”. (De Sancta Maria deipara, serm. 4)

“Cae terum ego de partu semper Virginis, fidem facio: Michaeas, de regione et loco in quo miraculum peractum est: David, de tempore. Ipse enim Prophetiae Psalmorum inseruit istud: Ex utero ante luciferum genui te. Gabriel igitur dicturus est unde. Ille enim de coeli descendit, ille ad hoc ipsum mittitur ad Virginem, ille tempore partus adest, et substantiam partus creditur necessario declarasse”. (De Sancta Maria deipara, serm. 5)
 

Arnobius Iunior (+ 455):

“Serapion dixit: Et quae ratio poterit me docere quod Virgo concepit, Virgo peperit, Virgo post partum permansit? – Arnobius dixit: Haec ratio est Deus omnipotens. – Serapion dixit: Ego tecum de puella ago. – Arnobius dixit: Ego tecum de Omnipotente ago. Dicas mihi. Qui fecit coelum et terram, et omnia quae in eis sunt, Omnipotens ipse est, an non Omnipotens?“ (Conflictus, Cap. VIII)

 

São Proclo de Constantinopla († 446):

“O mysterium! Miracula video, et Divinitatem praedico: passiones cerno, nec humanitatem infieior. Ceterum Emmanuel, naturae quidem portas aperuit ut homo; virginitatis autem claustra non violavit neque perrupit, ut Deus: quin ita ex utero est egressus, sicuti per aurem est ingressus: ita natus, sicut conceptus. Ingressus est sine passione; egressus est absque ulla corruptione, juxta quod ait propheta Ezechiel: Convertit me, inquit, Dominus ad viam portae sanctuarii exterioris quae respiciebat ad orientem; et haec clausa erat. Et dixit ad me Dominus: Fili hominis, porta haec clausa erit, et non aperietur; et nullus transiet per eam; sed solus Dominus Deus Israel: ipse ingredietur et egredietur, et erit porta clausa. En aperte declaratam sanctam Dei genitricem Mariam. Diriamatur ergo omnis contradictio, ac Scripturarum doctrina illustremur; quo et coelorum consequamur regnum in Christo, cui gloria in saecula saeculorum, Amen”. (Oratio Oratio de Laudibus S. Mariae, X)

 “Et dixit ad me: Quid tu vides? Et dixi: Vidi, et ecce candelabrum aureum totum. Quid est ergo illud candelabrum? Quia immateriale lumen, nempe Deum incarnatum, portavit. Ut quid vero aureum totum? Quia etiam post partum virgo permansit. Ait namque: Porta haec clausa erit. Non aperietur, et nullus transibit per eam, quoniam Dominus Deus Israel solus transibit per eam: et erit clausa, quoniam princeps et egredietur, et fores post se claudet. Uterum autem portam vocari, testatur Job dicens: Cur non conclusit portas uteri mei? Et sicut candelabrum non est lucis causa, sed lucis vehiculum: ita etiam virgo non est ipsa Deus, sed Dei templum”. (Oratio de incarnatione Domini, VI)

“Esplêndido e maravilhoso é o objeto da celebração de hoje! Esplêndido, porque trouxe aos homens a tão esperada salvação; Maravilhoso, porque o nascimento transcende as leis da natureza. Obviamente, uma mãe que dá à luz não é desconhecida pela natureza. Mas a graça fez aquela que deu à luz e a manteve virgem; fez dela mãe sem destruir sua integridade. Ó terra nunca plantada com sementes, que fez um fruto celestial brotar! Ó Virgem, que abriu o paraíso para Adão! O que é mais, vós mesma é mais gloriosa que o paraíso! Nosso o paraíso foi o cultivo de Deus, mas vós cultivastes o próprio Deus, segundo a carne. Agora, vamos todos dançar, não para celebrar o casamento da Mãe do Senhor, porque ela é uma virgem não iniciada no casamento e sem experiência dele, mas para honrar o nascimento daquele que é o Imaculado. Embora não casada, ela se tornou mãe, sem ter nenhuma experiência de um homem. Mas o bebê não permaneceu órfão. Admiramos então o ventre da Virgem, um ventre mais amplo do que a criação. Pois ela, sem dificuldade, encerrou dentro dela aquele que não pode ser contido em ninguém. Aquele que sustenta a sua Mãe, juntamente com todo o resto, na sua mão, foi sustentado por ela em seu ventre “. (Homilia 4, 1)

“Se a Mãe não tivesse permanecido virgem, seu filho teria sido um mero homem, e seu nascimento não seria maravilhoso. Se, pelo contrário, ela permaneceu virgem depois de seu nascimento, como o Filho não será Deus, e o mistério indescritível? Sem corrupção ele nasceu, aquele que entrou no sala superior através de portas fechadas sem ser impedido por elas. Tomé, reconhecendo nele as duas naturezas unidas, clamou, dizendo: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28) “(Homilia 1, 2)

“Deixai que as mulheres se apressem a vir aqui, pois eis aqui uma mulher que não aponta para a árvore da morte, mas dá à luz ao fruto da vida. Deixai que as virgens se apressem também, pois uma Virgem deu à luz sem prejudicar sua virgindade. Pois o Bebê nasceu, deixando as cortinas do ventre intactas atrás de si, deixando a oficina da natureza como ela a encontrou e somando graça também “. (Homilia 4, 2)
 

Papa Leão Magno (395 – 461):

“A origem é diferente, mas de natureza semelhante: não por intercurso com homem, mas pelo poder de Deus foi suscitado: pois uma Virgem concebeu, uma Virgem deu à luz, e uma Virgem ela permaneceu”. (Serm 22, c.2)
 
“Não conhecendo, portanto, o que ele estava obrigado a pensar sobre a encarnação da Palavra de Deus, e não desejando obter a luz do conhecimento por investigações exaustivas de toda as Sagradas Escrituras, ele poderia pelo menos ter ouvido atentamente aquela confissão geral e uniforme, por meio da qual o corpo dos fiéis confessa que crê em Deus, o Pai Todo-Poderoso, e em Jesus Cristo, Seu único Filho, nosso Senhor, que nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria. Por que por meio das três profissões os dispositivos de quase todos os hereges são derrubados. Pois não somente Deus é crido ser ao mesmo tempo Todo-Poderoso e o Pai, mas o Filho é apresentado como coeterno com Ele, diferindo em nada do Pai, porque Ele é Deus de Deus, Todo Poderoso de Todo-Poderoso, e nascido do Eterno é coeterno com Ele; Não posterior no tempo, nem menor em poder, nem diferente em glória, nem dividido na essência; mas, ao mesmo tempo, o unigênito do Pai eterno nascido eterno do Espírito Santo e da Virgem Maria. E esta natividade que se produziu no tempo não tirou nada e não acrescentou nada a esse nascimento divino e eterno, mas gastou-se inteiramente na restauração do homem que tinha sido enganado: a fim de que ambos pudessem vencer a morte e derrubar por seu força, O Diabo que possuía o poder da morte. Pois não devemos agora ser capazes de vencer o autor do pecado e da morte, a menos que Ele tenha tomado nossa natureza sobre Si e a feito Sua própria, a quem nem o pecado poderia poluir nem a morte reter. Foi concebido pelo Espírito Santo no seio de uma mãe virgem. Assim como a concebeu sem detrimento de sua virgindade, assim como o deu a luz sem detrimento de sua virgindade “. (Epist. 28, c.2)

 

São Gaudencio de Bréscia (+ 410):

“Probavit sanctam Virginem suum esse domicilium Deus, ubi columen pudoris perpetuum servet ingressus, dum sine detrimento integritatis maternae nascitur, sine corruptela conceptus”. (Serm. VIII)

“Incorrupta Virgo peperit, quod intacta Virgo concepit. Integritatem nascendo violare non potait, qui venerat redintegrare naturam(…) Eadem ergo divinitatis virtute per inviolabilem feminam, mundi hujus intravit hospitium, claustrum virginei pudoris etiam nascendo conservans…” (Serm. IX)

“(…)quae de Spiritu sancto concipiens, ita Deum et hominem, quem pudico utero gestaverat, edidit, ut apud incorruptam tanti nominis matrem, post divinum partum gloriosior integritas permaneret (…)Nam beatissima Maria incorruptibilem pariens, et mater, et virgo est”. (Serm. XIII, Die natali Domini)
 

São Máximo de Turím (+ 413):

“Virgo est, cum concipit, virgo cum parturit, virgo post partum. Gloriosa virginitas, et praeclara fecunditas! Virtus mundi nascitur, et nullus est gemitus parturientis; vacuatur uterus, infans excipitur, nec virginitas violatur”. (Homilia V)
 

São Vicente de Lérins (+ 449):

“Esta unicidade de pessoa em Cristo se atuou e foi perfeita não depois do parto virginal, mas no próprio seio da Virgem”. (Commonitorium, 15)
 

Quodvultdeus (+ 450):

“Quis est qui haec operatus est, nisi virginis filius et virginum sponsus? Qui attulit matri fecunditatem, sed non abstulit integritatem. Quod contulit matri suae, hoc donavit et sponsae suae. Denique sancta Ecclesia quae illi integro integra coniuncta est, quotidie parit membra eius, et virgo est”. (De Symbolo, I)

“Mulierem illam virginem Mariam significasse, quae caput nostrum integra integrum peperit, quae etiam ipsa figuram in se sanctae Ecclesiae demonstravit: ut quo modo filium pariens virgo permansit, ita et haec omni tempore membra eius pariat, virginitatem non amittat”. (Ibid.)

 

Fausto de Riez (410 – 495):

“Item de Mariae virginis generatione: et porta erat clausa et non est aperta, tamquam si interrogaretur, cur aperta non esset, adiecit: quia dominus transivit per eam, porta clausa, id est signaculum pudoris, immaculate carnis integritas, non enim violata est partu, quae magis est sanctificata conceptu”. (Adversus arianos, I)

Disputa-se sobre a autenticidade dessa obra (cf. PLS III, 495 e 1247).
 

Antipater Bostrenus (séc. V):

“Ave, quão acerbíssimas permanecem as dors e, contudo, desconheces as dores do parto”. (Homilia in S. Io. Baptistam, IX)

“Quid porro dicit Virgini? Ave, gratia plena, quandoquidem Deus Evae dixerat: In doloribus paries filios. Ave, gratia plena; solvitur enim Evae dolor. Eva in doloribus pariebat; hoc igitur gaudium dolorem illum abigit”. (In annuntiationem S. Mariae Deiparae)
 

Chrysippus Hierosolymitanus (sec. V):

“Natus vero est Deus; idcirco et vulvae sigillum ei quae peperit permansit”. (Oratio in S. Mariam Deiparam, 2)

“Ave, porta fechada, aberta somente ao Rei” (Oratio in S. Mariam Deiparam, 1).
 

Paulus Emesenus (séc. V):

“Hodie supernaturale puerperium editur, et Virginis nuptiarum expertis solvitur partus. O rem admirandam! Parit Virgo, et manet virgo: fir mater, neque omnia tamen, quae matres solent, experitur. Peperit enim ut matribus mos est, virgo tamen ramnsit praeter mulierum parturientium legem”. (Hom. 1)
 

Apponius (séc. V):

“Cui voci Angelus respondit, sacratissimi partus exponendo mysterium; quomodo quod sine lege complexus concipitur, sine poena doloris parietur…” (Canticum canticorum, liv IV)

Sínodo de Roma (389?):

Como já referido quando tratamos de Santo Ambrósio, há autores que pensam que o Sínodo de Roma, sob o Papa Sirício, condenou Joviniano sobre sua negação a virgindade do parto de Maria. Outros crêem que somente condenou a opinião do herege de que a virgindade e celibato tinham igual valor ao matrimônio. Se a primeira opinião estiver correta poderemos adicionar à crença na virgindade de Maria no parto 80 bispos que estavam presentes nesse Sínodo[69]. Seja como for, São Jerônimo deixa claro que esta era a visão da Igreja de Roma, como se verifica nesta citação que já passamos anteriormente: “Se se estima que tem igual valor a virgindade e o matrimônio, por que não pôde ouvir Roma a blasfêmia de quem dizia: “foi virgem em relação ao seu marido, não o foi no parto”?” (Carta 48, para Pammnachius).

Sínodo de Milão (390?):             

“Jesus nasceu de uma Virgem puríssima. Sem embargo, os que vão por caminhos perversos se levantam para dizer: “Maria concebeu Virgem, mas cessou de ser quando deu a luz. De maneira que pôde conceber na virgindade, mas não pôde dar a luz na virgindade por mais que a concepção preceda e o parto venha depois”. Mas se não se quer crer na doutrina dos Bispos, creia-se, ao menos, nos oráculos de Jesus Cristo, creia-se na advertência do Anjo que disse: “Nada é impossível para Deus”; creia-se no Símbolo dos Apóstolos, que a Igreja Romana custodiou e conservou sempre sem alteração… Maria é a Virgem que concebeu em seu seio; é a Virgem que deu a luz um filho, segundo a palavra do Profeta: Ecce virgo in utero accipiet et pariet filium; com as quais palavras predisse, não só que conceberia sendo Virgem, mas também que daria a luz ficando Virgem. E qual é aquela porta do Santuário, porta exterior que mira ao Oriente, que permanece fechada, e pela qual ninguém passa exceto o Deus de Israel? Esta porta é Maria, que concebeu e deu a luz permanecendo Virgem, qui virgo concepit et genuit. E o que há de incrível, no fato de que, contra a lei natural, Maria desse a luz permanecendo Virgem, se, igualmente contra a natureza, o mar virou e voltou, e as águas do Jordão, mudando sua curso, voltaram até o manancial? Não é superior à fé que uma virgem tenha dado a luz, quando lemos que a rocha deu água em abundância, e que as ondas do mar formaram como duas sólidas muralhas. Não é superior à fé que um homem nasça de uma virgem, quando da pedra brotou um copioso manancial, quando um ferro flutuou sobre as águas e quando S. Pedro pôde caminhar também sobre as águas. Se as águas puderam suportar a um homem, não poderá uma virgem dar a luz a um homem?” (Carta ao Papa Sirício, em nome do Sínodo de Milão, PL, 16, 1125)

Essa carta foi escrita provavelmente por Santo Ambrósio, em nome do Sínodo, por isso essa passagem está tanto no seu nome, quanto aqui. Nesse Sínodo Joviniano foi condenado também por negar a virgindade de Maria no parto, como atesta São Máximo de Turím (homilia 9)[70].

Concílio de Calcedônia (451):

“Como superiormente se levou a cabo o mistério da dispensação no seio maternal; como se chama à Virgem não somente theotócos por Aquele que lhe concedeu a graça da virgindade mesmo depois do alumbramento e selou o seio qual convinha a Deus, mas que é chamada também verdadeiramente mãe pela carne que de si mesma ela forneceu ao Senhor do universo”. (ACO 2, 1 [471]; Mansi 7, 461)

“E quando essas cartas [i.e. A carta de Cirilo a Nestório Καταφλυαροῦσι e sua carta a João de Antioquia Εὐφραινέσθωσαν] tinham sido lidas, os reverendíssimos bispos clamaram: Todos nós assim cremos: o Papa Leão assim o crê: anátema a quem divide e a quem confunde: esta é a fé do arcebispo Leão: Leão assim o crê: Leão e Anatólio assim creem: todos nós portanto cremos. Como Cirilo assim cremos, todos nós: eterna seja a memória de Cirilo: como as epístolas de Cirilo ensinam tal é o nosso entendimento, tal tem sido a nossa fé: tal é a nossa fé: este é o entendimento do Arcebispo Leão, assim ele crê, assim ele escreveu. Os mais gloriosos juízes e o grande senado disseram: Seja também lida a epístola do digníssimo Leão, Arcebispo de Roma Antiga, a Cidade Imperial. Berônico, o mais devoto funcionário do sagrado consistório, leu de um livro entregue a ele por Aécio, o Arquidiácono da santa Igreja de Constantinopla, a encíclica ou carta sinodal do santíssimo Leão, o Arcebispo, escrito para Flávio, Arcebispo de Constantinopla ” (Sessão II).

Essa primeira passagem é a Alocução oficial do Concílio dirigida ao Imperador. Outra prova que os bispos deste Concílio defenderam a virgindade no parto está na aclamação que fizeram à carta dogmática de São Leão a Flaviano (Carta 28). As estimativas de bispos presentes nesse Concílio variam de 520 a 630[71].

 


[1] Para ler mais sobre ela: José Antonio de Aldama, S. I, María em la Patristica de los siglos I y II, BAC, 1970, p. 213ss.

[2] https://answersingenesis.org/bible-characters/is-the-perpetual-virginity-of-mary-a-biblical-view/

[3] JOSEPH C. PLUMPE, SOME LITTLE-KNOWN EARLY WITNESSES TO MARY’S VIRGINITAS IN PARTU, THEOLOGICAL STUDIES, p. 574: http://cdn.theologicalstudies.net/9/9.4/9.4.5.pdf

[4] Mariologia de Carol Juniper, p 501.

[5] Healy, P. (1912). Sibylline Oracles. Na Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Acesso June 9, 2016 Disponível em New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/13770a.htm

[6] As obras dos autores citados que afirmam pode-se ver em “Maria em la Patristica de los Siglos I y II”, BAC, (1970), 198-204.

[7] Dizionario di Mariologia, Roma, 1961, p. 487.

[8] Referências, Ibid, p. 218.

[9] Patrologia, v. I, BAC, 1978 (originalmente publicada em 1950-1953), p. 626.

[10] Pode-se ver as obras dos autores citados na mesma referência da nota anterior.

[11] http://prudentia.auckland.ac.nz/index.php/prudentia/article/view/657/621

[12] Pelo que devemos corrigir essa menção no nosso estudo anterior: Os Pais da Igreja sobre a virgindade de Maria: http://apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/484-os-pais-da-igreja-sobre-a-virgindade-de-maria

[13] Manual de Teología Dogmática, Herder, ano 1966, p. 230.

[14] Marie dans l’eglise anténicéenne (Paris 1908), p. 182.

[15] Das Geheimnis der Jungfrau-Mutter Maria nach dem Kirchenvater Ambrosius (1954), p. 113s.

[16] Die Marienverehrung in den 3 ersten Jahrh. (Stuttgart, 1886), p. 124.

[17] Ibid., p. 626.

[18] Dizionario di Mariologia, Roma, 1961, pp. 175-178

[19] Mariologia, Tratado…, Bilbão, 1954, p. 329.

[20] 1970, Loyola.

[21] http://www.tertullian.org/fathers/gregory_thaumaturgus_homily.htm

[22] Virgo-mater, …, pp. 190-193.

[23] Op. cit., p. 329.

[24] Tratado de la Virgen Santisima, BAC, 1956, p. 462.

[25] Adhuc virgo 29.

[26] Die Jungfrauengeburt in der Theologie der alten Kirche (Heidelberg 1962) 56-57.

[27] Maria à travers la Patristique, en Maria (Du Manoir) 1, 102, nota 7.

[28] Maria nella Scrittura e nella tradizione della Chiesa primitiva 467-473.

[29] DTC 9, 2, 2373.

[30] María en la patrística occidental, p. 124.

[31] Nota 188, p. 668.

[32] Op. Cit., María en la patrística oriental, p. 508.

[33] Theologia Fundamentalis, tomus III.

[34] Tractatus II, Mariologia seu de Matre Redemptoris, p. 345

[35] p. 161.

[36] Op. cit. 330.

[37] Op. cit., 459.

[38] Op. Cit. 663.

[39] Die Mariologie der ephremischen Schriften (Innsbruck 1938)

[40] Op. Cit. p. 88.

[41] La Madre de Dios según la Fe y la Teología, II, Madrid, 1954, p. 162

[42] Virgo mater…, p. 41.

[43] Mariologia…, p. 379

[44] Ibid., p. 149-150.

[45] Le De Trinitate est-il l’ouvre de Didyme l’aveugle?, em Rech Sc. Relig. 45 (1957) 514-557.

[46] Op.cit. María em la patrística oriental, p. 506.

[47] Op. Cit., p. 667, nota 144.

[48]Virginitas in partu, en Escritos de Teología IV (Taurus, Madrid 1962), p. 199.

[49] La Madre de Dios según la Fe y la Teología, II, Madrid, 1954, p. 162

[50] Op. Cit., p. 330.

[51] La Madre de Dios según la Fe y la Teología, II, Madrid, 1954, p. 162.

[52] Virgo Maria…, p. 52.

[53] Ephemerides Mariologicae 12 (1962) 374.

[54] María em la patrística oriental, p. 507.

[55] Virgo mater…, p. 37.

[56] Virgo mater…, p. 144, nota 40.

[57] Tractatus II, Mariologia seu de Matre Redemptoris, p. 345.

[58] Tractatus de verbo incarnato, ano 1869, p. 120.

[59] Tractatus de verbo incarnato, 1872, p. 94.

[60] La Madre de Dios según la Fe y la Teología, II, Madrid, 1954, p. 162

[61] Virgo mater…, pp. 158-159; Tractatus II, Mariologia seu de Matre Redemptoris, p. 345.

[62] Mariologia, Tratado…, Bilbão, 1954, p. 330.

[63] Op. Cit., 146.

[64] Dos nuevos tratados de Gregorio de Elvira, en La Ciudad de Dios 156 (1944) 515-533.

[65] Cf. Rev. Bénédictine 29 (1912) 280 nt. 4.

[66] Pe. De Aldama, Virgo Mater…, p. 24.

[67] Pe. De Aldama, Virgo Mater…, p. 6.

[68] Lejay, P. (1912). Sedilius. In The Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Retrieved June 29, 2016 from New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/13680a.htm

[69] http://matt1618.freeyellow.com/celibacy.html

[70]“Ridet tanti profunditatem mysterii caeca et stulta gentilitas, irridet quoque impia illa blasphemia, quae superioribus diebus, dum partum Virginis attenuere praesumpsit, atque corrumpere, Christum Dominum nostrum ex Virgine procreari non potuisse blasphemavit. Hanc sancta Mediolanensis Ecclesia horruit blasphemiam, illam synodalis noster uno ore damnavit conventus, eamdem exsecrata est pia ipsa imperialis potestas”.

[71] Schaefer, F. (1908). Council of Chalcedon. In The Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Retrieved July 6, 2016 from New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/03555a.htm

 

PARA CITAR 

SARMENTO, Nelson. A virgindade perpétua de Maria nos cinco primeiros séculos (parte 1). Disponível em <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/virgem-maria/951-a-virgindade-perpetua-de-maria-nos-cincos-primeiros-seculos-parte-1> Desde 05/03/2017.

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