Quarta-feira, Junho 26, 2024

A transmissão dos textos bíblicos antes da invenção da imprensa

Existe um mito propagado por protestantes que a Igreja Católica teria proibido ou mesmo dificultado a leitura da Bíblia antes da reforma protestante, após a qual, segundo eles, o povo começou a ter acesso à Bíblia. Além destas alegações serem mentiras completas, ainda temos a falácia anacrônica, colocando conceitos atuais em épocas onde não era possível a difusão da Bíblia em larga escala.

Antes da invenção da imprensa por Johannes Gutenberg em meados do século XV, a transmissão da Bíblia era um processo laborioso e demorado. A cópia manual de manuscritos bíblicos, feita em materiais inadequados e penas de aves, era realizada por escribas e monges dedicados, que enfrentavam inúmeros desafios ao longo desse trabalho minucioso.

Métodos de Cópia e Transmissão


Os textos bíblicos foram originalmente escritos em pergaminho ou papiro, materiais caros e delicados. O processo de cópia manual, também conhecido como “scriptoria”, ocorria principalmente em mosteiros e abadias, onde monges passavam horas transcrevendo textos sagrados.

Os copistas utilizavam instrumentos como o cálamo (pena de junco) ou penas de aves, e a tinta era geralmente preparada a partir de substâncias como carvão, goma-arábica e vinagre. As letras eram meticulosamente desenhadas, e a caligrafia precisava ser clara e precisa para garantir a legibilidade e a integridade do texto.

Desafios dos Copistas


A tarefa de copiar os textos bíblicos apresentava vários desafios:

  1. Erro Humano: Apesar do esforço para evitar erros, os copistas frequentemente cometiam equívocos. Esses erros podiam ser de várias naturezas, como omissões, repetições ou substituições de palavras.
  2. Falta de Padronização: A ausência de uma padronização na língua e na ortografia podia levar a variações textuais. Diferentes manuscritos podiam apresentar diferenças significativas, refletindo as influências culturais e linguísticas locais.
  3. Condições de Trabalho: As condições de trabalho dos copistas eram muitas vezes difíceis. A iluminação inadequada, especialmente nos meses de inverno, e a necessidade de trabalhar em silêncio absoluto, aumentavam a probabilidade de erros.
  4. Material Limitado: O pergaminho e o papiro eram caros e escassos. A produção de um único manuscrito exigia a pele de muitos animais (no caso do pergaminho), tornando o processo custoso e limitando a quantidade de cópias que podiam ser feitas.

Tempo de Cópia


O tempo necessário para copiar um livro bíblico variava consideravelmente, dependendo do tamanho do texto e da habilidade do copista. Estima-se que:

  • Livros Individuais: Copiar um livro menor, como um dos Evangelhos, poderia levar semanas ou meses.
  • Toda a Bíblia: A transcrição completa da Bíblia, composta por dezenas de livros e milhares de versículos, poderia levar anos. Um copista experiente e dedicado poderia levar entre um a dois anos para completar uma Bíblia inteira, trabalhando em tempo integral.

Exemplos Históricos


A produção de manuscritos bíblicos era uma tarefa que envolvia não apenas copistas, mas também iluminadores, que decoravam os textos com iluminuras e ilustrações detalhadas. O Codex Sinaiticus e o Codex Vaticanus, ambos do século IV, são exemplos notáveis de manuscritos bíblicos antigos que sobreviveram até os dias atuais. Esses códices demonstram a complexidade e a beleza da arte da cópia de manuscritos.

Conclusão


A transmissão dos textos bíblicos antes da invenção da imprensa foi uma tarefa monumental que exigiu dedicação, habilidade e um profundo senso de propósito religioso. Os copistas enfrentaram numerosos desafios, desde o risco de erros humanos até as difíceis condições de trabalho. No entanto, graças aos seus esforços, os textos bíblicos foram preservados e transmitidos ao longo dos séculos, formando a base da tradição bíblica que conhecemos hoje.

A invenção da imprensa revolucionou a disseminação dos textos bíblicos, tornando-os mais acessíveis e padronizados. Portanto, crer que as pessoas poderiam ter algum tipo de acesso amplo a bíblia em tempos pré imprensa, é um anacronismo e desconhecimento histórico colossal, o que também podemos chamar de desonestidade intelectual.

6 COMENTÁRIOS

  1. Rafael, em minhas pesquisas sobre bíblias antigas, achei uma informação no site da Biblioteca Britânica. Lá tem dois exemplares, um mais simples e outro com riquezas de gravuras e ilustrações. Em uma das contracapas de um dos exemplares tinha a seguinte informação: “Esse livro foi adquirido ao preço de 3 anos e meio de um salário de um caixeiro-viajante”. Acabei descobrindo qual era esse valor, não pergunte como. Era em moedas de ouro, não sabia o valor exato quanto seria isso em relação à época, mas descobri quantas gramas tinha em média cada moeda. Enfim, fiz os cálculos em cima do valor do grama do ouro. Pense na viagem que fiz. Resumo, daria mais de 300 mil reais na época, essas gramas de ouro o valor daquela bíblia. Essa informação estava no site, na mesma página onde você podia ter acesso aos dois exemplares digitalizados dessas duas bíblias de Gutenberg.

    inscricoesnovas@yahoo.com.br

    • Boa nota Jorge. O tempo variava se muito de acordo com a dedicação do escriba e a qualidade do trabalho desejado, em suma, podemos ver que para ter um texto desses em casa era um trabalho surreal que demandava tempo e dinheiro.

  2. Uma outra inferência que me poderia colocar ao artigo, achei uma informação uma vez que no século 14, apenas 2% sabiam ler, e o texto se referia ao velho mundo, ou seja, Europa, Ásia e África. Se adicionarmos que a bíblia estava em latim, seria outro que problema, só os de latim poderiam ler, e sua maioria eram da Igreja. Faça um estudo e veja século a século e adicione ao artigo, se quiser claro. Jorge Guimarães

    inscricoesnovas@yahoo.com.br

    Jo

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