Sábado, Maio 18, 2024

A Missa Nova e a Indefectibilidade

NOTA DO EDITOR : Michael Davies foi um famoso tradicionalista. Crítico à Missa Nova e ao Concílio Vaticano II. Em 1980, publicou um livro chamado Pope Paul’s New Mass, terceiro volume de uma triologia nomeada Liturgical Revolution, onde demonstra todos os reconhecidos problemas da Reforma Litúrgica. Contudo, ele defende nesse artigo que é impossível a Missa Nova conter heresias ou prejudicar as almas. Ele aponta que dizer o contrário é um dos grandes erros dos círculos tradicionalistas.

A Missa Nova e a Indefectibilidade

Por Michael Davies
em Catholic, October 1996

A Igreja Católica foi fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus Filho feito Homem. Ele prometeu à Sua Igreja que Ela continuará a existir exatamente como Ele a constituiu até que Ele volte novamente em glória para julgar os vivos e os mortos. A Igreja Católica é a Igreja que é indefectível. O termo “indefectível” significa, é claro, “incapaz de falhar”.

Nosso Senhor nos assegurou:

Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. 19.Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 20.Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.” (São Mateus, 28, 18-20).

A Igreja difere de todas as outras sociedades humanas, pois o fim a que Ela direciona Seus membros é sobrenatural. Para alcançar esse fim sobrenatural, o divino Fundador da Igreja investiu ou a constituiu com poder para nos ensinar o que devemos saber e fazer para sermos salvos e para nos proporcionar a graça necessária para viver de acordo com esse ensinamento.

O poder da ordem (ordens sagradas) possibilita a comunicação da vida divina através dos sacramentos, particularmente o Sacrifício da Missa. Esse poder tem como objetivo principal a santificação das almas dos homens por meio da culto divino e da administração dos sacramentos; nunca pode ser extinto na Igreja. Sempre haverá Bispos em comunhão com o Papa que poderão ordenar sucessores para que os fiéis não sejam privados dos sacramentos. Além disso, como a santificação dos fiéis é uma função essencial da constituição divina da Igreja, Ela nunca pode deixar de oferecer a Seus membros os meios de santificação através de sacramentos válidos e, acima de tudo, através do Santo Sacrifício da Missa.

O Rito Romano, ao qual pertence a esmagadora maioria dos católicos, equivale à Igreja universal. Portanto, é incompatível com a profissão da Fé Católica afirmar que qualquer rito litúrgico da Missa possa ser inválido, conter heresia ou prejudicar as almas. É opinião unânime de todos os autores aprovados que a Igreja é infalível em suas leis universais. Toda a documentação necessária para provar isso está contida no meu livreto I Am With You AlwaysN.T.: “Eis Que Estarei Convosco Para Sempre” – e não ocuparei espaço em reproduzi-lo aqui, mas ficarei feliz em fazê-lo se for desafiado.

É, portanto, para dizer o mínimo, teologicamente insustentável sustentar que “a Missa Nova não é uma liturgia católica … que em si mesma é um perigo para a fé e é intrinsecamente má”, e que não é “uma Missa oficial da Igreja Católica “

As únicas pessoas que poderiam logicamente fazer tal afirmação são os sedevacantistas cismáticos que negam que Paulo VI e João Paulo II sejam verdadeiros Papas. Se um verdadeiro Papa autorizasse uma Missa intrinsecamente má para a Igreja universal, isso significaria que a Igreja fundada por Nosso Senhor fracassara, o que significa que Ele fez promessas que não poderia cumprir e que, portanto, não é divino. Há apenas uma pessoa na Igreja que pode decidir o que constitui e o que não constitui “uma Missa oficial da Igreja Católica” – e essa pessoa é o vigário de Cristo em Roma. Ele também é a única pessoa na Igreja que tem autoridade para declarar qual rito da Missa Católica se pode ou não participar. O Arcebispo Lefebvre aceitou e confirmou por escrito que a Missa Nova cumpre o Preceito do Domingo.

Seria ridículo afirmar que alguém poderia cumprir o preceito dominical estando presente em um rito da Missa intrinsecamente mau! Alega-se que, se alguém admite o caráter católico da Missa Nova, não se tem mais “uma razão válida para exigir a antiga”. Isso constituiu uma grande supresa para mim ao admitir o caráter católico da Missa Nova e ter certeza de que ninguém mais do que eu no mundo inteiro dedicou tanto esforço para exigir o rito antigo. Se houver alguma crítica válida à Missa Nova que não possa ser encontrada no meu livro Pope Paul’s New Mass N.T.: A Missa Nova de Papa Paulo– eu teria muito interesse em que fosse trazido ao meu conhecimento.

Negar o caráter católico da Missa Nova constitui uma negação explícita da autoridade divina do Papa e, portanto, deve ser considerado um ato cismático. Afirmar que a Missa Nova é intrinsecamente má também é uma blasfêmia. Na Missa Nova, Deus Filho é apresentado ao altar como nossa vítima sacrificial, e oferece a Si mesmo a nós na Santa Comunhão, com tanta certeza quanto Ele se  oferece no antigo rito, e afirmar que os inúmeros bons e ortodoxos sacerdotes que celebram a a Missa Nova com grande devoção diária está cometendo um ato intrinsecamente mau, ao mesmo tempo ultrajante e blasfemo.

A promessa de indefectibilidade aplica-se apenas à versão latina de qualquer rito sacramental aprovado pelo Papa e conhecido como edição típica, a edição que todas as versões vernaculares devem reproduzir fielmente. Somente a versão latina é aprovada para uso universal e, por definição, nenhuma versão vernacular pode ser universal. Todos os Missais vernaculares são realmente aprovados pelo Papa, mas isso quer dizer que ele presume que aqueles que aprovaram a tradução fizeram seu trabalho corretamente. Eu desafiaria qualquer leitor de católico a apontar qualquer coisa na edição típica latina que seja prejudicial à Fé, quanto mais intrinsecamente má, ou a declarar qualquer aspecto do ensino eucarístico católico que não esteja especificamente afirmado nesse Missal. Por favor, não escreva se você não examinou o Missal Latino.

Quem leu meus livros estará ciente de que eu não apenas não nego, mas afirmo explicitamente que a Fé pode ser prejudicada e até completamente minada, ao se participar da Missa Nova em vernáculo, mas isso é o resultado da deplorável tradução do ICEL[i], a maneira irreverente pela qual a Missa Nova é freqüentemente celebrada, os artifícios incorporados à sua celebração, e não a qualquer mal intrínseco ao rito em si.

No domingo de Páscoa deste ano, o coelhinho da Páscoa distribuiu ovos de chocolate durante a ‘Missa’ na Catedral de São Patrício em Toowomba, em Queensland. Os coelhinhos da Páscoa certamente não aparecem nas rubricas do Missal de 1970, aprovado pelo Papa Paulo VI. O mesmo se aplica a balões, banjos, dançarinas, ministros extraordinários, comunhão na mão,Missa de frente para o povo, mesas no lugar de altares ou coroinhas meninas.

Para evitar qualquer possível mal-entendido, não estou afirmando que os católicos devem ficar satisfeitos com a Missa Nova celebrada estritamente de acordo com as rubricas, em latim ou em vernáculo. Dediquei vinte e sete anos da minha vida à causa da restauração da Missa Tridentina a todos os altares da Igreja. Essa causa não é ajudada indo além das evidências, fazendo afirmações teológicas que são insustentáveis e fazendo-nos parecer ridículos para sacerdotes e leigos teologicamente alfabetizados que se contentam em participar da Missa Nova. Meus livros não são voltados para católicos tradicionais, mas para aqueles que não os são, na esperança de convencê-los de que deveriam ser. Perdi a conta do número de pessoas que me escreveram para dizer que meus livros os trouxeram de volta ou os levaram à tradição, incluindo um número não desprezível de sacerdotes na Sociedade de São Pio X.

Quanto à alegação de que se alguém aceitar a Missa Nova, como sendo uma Missa católica oficial, não existiria razão para se preferir a Missa no rito antigo, deixe-me fazer uma analogia. Imagine que eu tive a sorte de possuir um Rolls Royce e depois tive a infelicidade dele ter sido roubado. Se a companhia de seguros o substituísse por um Fusca, eu certamente reclamaria. Por seu turno, eles poderiam corretamente afirmar que eu tive meu carro roubado e que me haviam substituído por um outro – o Fusca – que executava todas as funções do Rolls Royce. Sem negar que o Fusca era um carro genuíno (válido e lícito), eu não teria problemas em explicar por que não o considerava um substituto aceitável para um Rolls Royce. A Missa Tridentina é a coisa mais linda deste lado do céu, e por isso só podemos nos satisfazer com o rito de Missa mais bonito possível para tornar presente o sacrifício de nossa redenção.

Não há nada que cause mais dano à causa da Missa tradicional do que ataques intempestivos e insustentáveis contra o Novo Rito por aqueles que afirmam ser tradicionalistas. A questão de saber se a Missa Nova é ou não intrinsecamente má implica necessariamente em nossa aceitação ou rejeição do fato de Paulo VI ser o verdadeiro Papa. Se ele era, então a Nova Missa é uma Missa católica oficial. Aqueles que negam que Paulo VI era o verdadeiro Papa são cismáticos e sua opinião não tem relevância para os membros da Igreja indefectível fundada por Nosso Senhor.

 


A International Commission on English/Comissão Internacional de Inglês na Liturgia (ICEL) é uma comissão mista das Conferências Episcopais Católicas em países onde o inglês é usado na celebração da Sagrada Liturgia de acordo com o Rito Romano. O objetivo da Comissão é preparar traduções em inglês de cada um dos livros litúrgicos latinos e de qualquer texto litúrgico individual, de acordo com as diretrizes da Santa Sé.

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