LIVRO III
(São João Crisóstomo )
LIVRO TERCEIRO |
1. |
Por conseguinte, sobre o que diz respeito ao meu presumido
comportamento contra os que me tinham reservado esta dignidade, ainda
que não me tivesse esquivado, na intenção de insultá-los, chega o
que acabo de dizer.
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2. |
Pois é claro, se tivesse sido vitima dessa ambição, deveria ter aceito a dignidade, muito antes de ter fugido dela. Por quê? Por ter-me trazido muitas honras. Pois o fato de eu - nesta idade tão jovem e tendo saído apenas recentemente das atividades profanas - lhes parecer tão estimável que preferiram a mim, dando-me mais votos do que a homens que já tinham dedicado toda uma vida à comunidade, teria criado para mim uma estima extraordinariamente grande e até a posição de um homem importante e digno de honra. Agora, porém, - fora alguns poucos - a grande maioria da Igreja nem me conhece de nome. Portanto, nem todos sabem que recusei o cargo,; apenas alguns poucos, e, como me parece, nem todos destes têm conhecimento da realidade. Muito pelo contrário, é provável que a maioria ache que eu não tenha sido eleito, ou, uma vez eleito, tenha sido rejeitado por incapacidade, mas nunca que voluntariamente me tenha esquivado. |
3. |
Mas, objetou Basílio, causará surpresa àqueles que têm
conhecimento da realidade.
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4. |
Sobre o que diz respeito ao sacerdócio, embora seja exercido na terra, possui ele contudo o caráter de instituição' celeste. E isso com toda razão. Pois nenhum homem, nenhum anjo, nenhum arcanjo, nenhum outro poder criado, senão o próprio Paráclito instituiu esta função, encarregando homens de carne e osso a exercerem o serviço de anjos. Por isso é mister que, quem for sagrado sacerdote, seja puro como se estivesse no céu e no meio dos anjos. Talvez mesmo as instituições de antes do tempo da graça já tenham incutido temor e tremor, assim como as campainhas, as pedrarias e anéis no peitoral e nos ombros, o "efod" e o Santuário em seu silêncio. Examinando, porém, o que a graça nos trouxe, constatamos que tudo isso perde de importância verificando-se, também nisso, o que Paulo dissera sobre a Lei:
Pois, vendo o Senhor deitado como vítima e, em frente dele, o
sacerdote rezando e tingindo a todos com este sangue precioso,
porventura ainda pensas estar entre homens e nesta terra? Não te
sentes, antes, ser arrebatado para dentro do céu? Acaso não atiras
para longe qualquer pensamento carnal e não contemplas estas coisas
celestiais com o espírito puro e o coração sincero? Oh aspecto
admirável! Oh imenso amor de Deus para com os homens! Quem está
sentado ao lado do Pai nas alturas, naquela hora, é tocado pelas
mãos de todos. E Ele mesmo voluntariamente se entrega a todos os que
o queiram receber. Porventura, tudo isso te parece despeitável de
tal modo que achas que alguém possa sentir-se tão orgulhoso a ponto
de fugir disso?
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5. |
Se alguém tomar em consideração a graça extraordinária de que um homem composto de corpo e sangue pode aproximar-se tão intimamente daquele ser santo e puro, deverá convencer-se da honrosa e alta dignidade que a graça do Espírito Santo confere aos sacerdotes. É por intermédio deles que o sacrifício se realiza e são distribuídas graças para a nossa salvação eterna. São homens que vivem neste mundo e nele encontram sua ocupação, a quem se confiou a administração de tesouros celestiais dando-lhes, com isto, poderes que Deus não conferiu nem a anjos nem a arcanjos. Pois é a estes que foi dito:
Também os soberanos desta terra têm poder de ligar, mas apenas no que diz respeito aos corpos. O vínculo dos sacerdotes, porém, liga também as almas e se estende até os céus. O que os sacerdotes realizam aqui na terra, Deus o confirma nos céus, selando o julgamento de seus servidores. Desta forma, que outra coisa lhes conferiu senão o poder sobre o próprio céu? Pois ainda declarou:
Existe poder superior a esse? O juízo o Pai o entregou ao Filho;
e este, como vês, o Filho o entregou aos sacerdotes. Como se j á
estivessem no céu, como se já estivessem despojados da natureza
humana, como se j á estivessem livres de nossas paixões, tão alto
foram elevados, de tal dignidade foram incumbidos! Caso um rei
cedesse a um dos seus súditos o direito de prender e libertar a quem
quisesse, tal homem seria objeto de admiração e inveja de todos.
Agora, quem de Deus recebeu o poder que deve ser considerado mais
alto do que o céu sobre a terra, a alma sobre o corpo, a este -
conforme a opinião de certa gente - concedeuse dignidade que possa ser
objeto de menosprezo? - Longe de nós tamanha loucura! Pois
manifestamente é loucura despeitar esta dignidade sem a qual ninguém
poderá participar da salvação e das promessas de Cristo.
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6. |
São os sacerdotes que sofrem
e a quem se confiou o poder de gerar nova vida por meio do Batismo;
por intermédio deles nos revestimos do Filho de Deus e, ligando-nos
a Ele, nos tornamos membros de Cristo. Por isto convém que
respeitemos os sacerdotes mais do que os soberanos e reis, e que eles
de nós mereçam veneração maior do que nossos próprios pais.
Porque estes nos fizeram nascer de sangue e da vontade carnal e aqueles
nos deram o renascimento de Deus para a verdadeira liberdade dos filhos
de Deus.
assim lemos,
Ainda mais. Os pais não conseguem salvar os filhos do castigo,
quando os mesmos ofenderam superiores ou soberanos. Entretanto os
sacerdotes, muitas vezes, apaziguaram a ira, não de reis e
soberanos, mas do próprio Deus.
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7. |
Ninguém mostrou mais amor ao Cristo do que Paulo; ninguém teve zelo maior do que ele; ninguém foi considerado digno de maiores graças do que ele. E, apesar de tudo isso, ainda hesita e treme diante desta responsabilidade pelas pessoas que lhe foram confiadas. Diz ele:
E em outro lugar:
Assim fala o homem que foi arrebatado até o terceiro céu; o homem
que foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis,
impossíveis a um homem de pronunciar, que, de convertido, sofreu
tantos perigos, até de morte, quantos dias tinha sua vida, que,
para evitar que alguém de seus fiéis se escandalizasse, deixou até
de fazer uso dos direitos que o próprio Cristo lhe outorgara.
Assim deve ser constituído o sacerdote, ou antes, não só assim; pois isto seria pouco, ou até nada comparado com o que pretende destacar. O que será isto? Paulo declarou:
Quem é capaz de falar nesses termos, quem possui uma alma capaz de
tais anelos, com razão mereceria censura, caso quisesse fugir.
Quem, porém, estiver longe de tal magnanimidade - como acontece
comigo - merece despeito, não quando foge do cargo, mas quando o
aceita. Da mesma forma, tratando-se de escolha digna para a chefia
militar, e escolhessem para isso um ferreiro ou um sapateiro ou outro
artífice semelhante, na verdade, nunca louvaria tal coitado se não
fugisse e não fizesse tudo para escapar desta sua desgraça certa.
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8. |
Assim, pois, tratando-se da perda de bens terrestres com o
perigo de morte apenas corporal, ninguém censura a quem usar de
prudência e de extraordinários cuidados; quando, porém, existe a
ameaça de afundar-se não no mar terrestre, mas no abismo daquele
fogo, onde não nos espera a morte que separa a alma do corpo, mas
aquela que leva a alma e o corpo à condenação eterna, quereis
acusar- me e desprezarme?
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9. |
Em primeiro lugar devo mencionar a ambição como o recife mais
perigoso entre todos, mais funesto do que os recifes de que falam os
poetas. Muitos já tiveram a felicidade de conseguir evitar este
recife e escapar incólumes; para mim, no entanto, a ambição
representa perigo tão grande que nem agora, livre do cargo, consigo
vencê-la totalmente. Se me entregassem esta alta dignidade, isso
significaria mais ou menos o mesmo como se, com as mãos amarradas nas
costas, me expusessem à voracidade dos animais ferozes que vivem
naquele antro.
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10. |
Entretanto, ninguém acredite que queira onerar a todos os
sacerdotes com as referidas acusações. Pois muitos há que
conseguiram escapar a estas redes; e estes até são em número maior
do que os que se tornaram presas das mesmas. Muito menos quero incutir
a culpa de todos estes males ao próprio sacerdócio. Nunca serei tão
insensato. Pois todos os homens razoáveis consideram culpados somente
os que abusaram destes dons de Deus e por isso os punem só a eles.
Ninguém de bom senso responsabilizará o ferro pelos assassínios, o
vinho pelas bebedeiras, o poder pelos atos de terror ou a bravura pela
temeridade. Ao contrário, o próprio sacerdócio nos acusará, e
isto com toda a razão, se não o administrarmos corretamente. Pois
não é o sacerdócio que leva a culpa pelos males por mim citados, mas
nós de nossa parte o manchamos, entregando-o aos primeiros que se
oferecem. Estes sim o aceitam avidamente porque não se conhecem a si
mesmos, nem o cargo pesado da função. Tão logo tenham que
enfrentar a prática, tateiam na escuridão de sua inexperiência,
causando entre os fiéis a eles confiados males indizíveis.
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11. |
Mas isso ninguém há de querer. Pois, na realidade, é perigoso ambicionar tal dignidade. Não o afirmo em contradição a S. Paulo, mas em pleno consentimento com as palavras dele. O que diz ele?
Eu não afirmei ser perigoso aspirar ao cargo em si, mas
ambicioná-lo por causa de sua reputação e seu poder. E é esta
ambição, assim acho, que deveria ser banida para bem longe de nossa
alma; desde o início não se deve permitir que ela tome conta de nós
a fim de não restringir-nos a liberdade de ação. Pois quem não
aspira ao cargo para se colocar em evidência, também não precisa
temer ser destituído do mesmo. E quem não precisa temer isso,
poderá sempre e em toda parte agir livremente como convém ao
cristão, filho de Deus.
Tal deve ser o comportamento de quem for afastado do cargo, quer por
inveja, quer para agradar aos poderosos, quer por ódio ou outra
razão injusta qualquer. No entanto, caso esta injustiça lhe for
feita por parte de seus adversários, acho que não vale a pena nem
sequer falar para mostrar o grande lucro que lhe provém da malícia dos
mesmos.
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12. |
Esta é uma das minhas razões, e, como vês, não pequena.
E mesmo que fosse a única, já seria suficiente para excluir-me
daquela dignidade. No entanto, há uma segunda razão, não menos
importante. Que razão é esta? O sacerdote deve ser circunspecto e
perspicaz. Deve possuir mil olhos, voltados para todos os lados,
porque não vive só para si, mas para uma grande multidão de povo.
No entanto, que eu sou indiferente e negligente, descuidando até
mesmo de minha própria salvação, tu mesmo deves admiti-lo, ainda
que tentes cobrir, com o manto de tua amizade, todas as minhas
fraquezas.
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13. |
Não te admires se, em seguida, exigir outra prova de alma
viril, além da fortaleza extraordinária já citada. Porque
dispensar comidas e bebidas deliciosas, desprezar leitos macios, para
muitos isso nem é sacrifício, principalmente para gente de vida
campestre que, desde a infância, foi educada nesse modo de vida; nem
para os que, devido à robustez corporal, tais mortificações
constituem um hábito.
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14. |
Não há nada que possa turvar mais a pureza da alma e a clareza
do espírito do que a ira desenfreada que irrompe com grande ímpeto.
Como numa batalha noturna, escurecem-se os olhos da alma. Ela não
consegue mais discernir amigos e inimigos, superiores e súditos,
tratando a todos da mesma maneira, , e, mesmo que tenha que suportar
ela mesma sofrimentos e prejuízos, aceita tudo de boa vontade somente
para satisfazer esta espécie de volúpia. Pois a mente excitada pelo
calor da ira é realmente uma espécie de volúpia; a ira até chega a
dominar a alma mais intensamente do que a própria volúpia, porque
consegue perturbar completamente a constituição mais ordenada da
alma. Leva facilmente à imprudência, provocando rixas gratuitas e
ódio absurdo. E encontra sempre motivos para ofender os outros sem
razão e injustamente. Finalmente pressiona o homem para palavras e
ações tão insensatas que a pobre alma, sacudida no delírio da
paixão, já não encontra ponto de apoio para resistir a essas
pressões.
a não ser que alguém, devido à sua extraordinária virtude, consiga
resistir a todos os ataques.
Que eu, aceitando o cargo, teria levado ao ridículo a mim mesmo e aos meus eleitores, prejudicando-me gravemente por voltar a este meu modo costumeiro de viver, disto, creio eu, consegui finalmente convencer-te plenamente. Pois não só a inveja, mas - o que é ainda pior - ambição por esta dignidade, costuma fornecer armas a muitos contra quem a ocupa. E assim, como para a cobiça dos filhos, a idade avançada dos pais se torna um fardo pesado, acontece a muitos deles. Vendo que alguém ocupa por muito tempo a dignidade sacerdotal - não se conseguindo removê-lo sem assassinato - empregam todos os meios possíveis para destituí-lo do cargo. Todos aspiram ocupar-lhe o lugar, esperando cada um a sua vez. |
15. |
Desejas que te apresente esta luta ainda sob outro aspecto, que
também inclui inúmeros perigos? Então vai assistir a alguma das
assembléias em que, conforme o costume, se procede às eleições
para os cargos eclesiásticos e verás. Quanto maior o número de
eleitores tanto mais numerosas as acusações levantadas contra os
sacerdotes. Os autorizados a votar dividem-se em muitos partidos,
podendose observar que não existe unanimidade entre os presbíteros
entre si, nem em relação ao candidato para o episcopado; cada qual
persiste em sua opinião, dando seu voto a candidato diferente. A
causa dessa situação é que nem todos se orientam por aquilo que deve
ser o único critério, isto é, a virtude da alma. Em vez desta
qualidade consideram muitos outros fatores que, conforme eles,
deveriam decidir a eleição. Assim, por exemplo, um acha que
deveria ser eleito quem fosse de descendência nobre, outro que se
deveria preferir quem possuísse grandes riquezas, para, em seu
sustento, não depender das receitas da comunidade; um terceiro ainda
é de opinião que se deveria eleger alguém que veio do campo
adversário. Ou ainda: um prefere um amigo, outro um parente, outro
um adulador. A pessoa realmente apta, porém, não é nem
questionada, porque todos se omitem a considerar apenas as qualidades
da alma.
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16. |
Considera em seguida quais devem ser as qualidades de quem se
submete a enfrentar tal tempestade e afastar habilmente todos os
impedimentos contrários ao bem comum. É mister que seja ao mesmo
tempo digno e soberano sem ser presunçoso; que seja respeitável e,
ao mesmo tempo, amigável, enérgico e assim mesmo condescendente,
incorruptível e, ao mesmo tempo, solícito, modesto mas não
servil, rigoroso e bondoso a fim de que consiga vencer facilmente todas
as dificuldades mencionadas. Deve empregar toda a sua autoridade em
colocar nos cargos só quem for apto, mesmo que todos discordem; deve
empregar a mesma autoridade para afastar com energia a quem não for
apto, mesmo que todos estejam a favor do mesmo. Somente um deve ser o
fim de todas as suas atividades: promover a edificação de sua
comunidade não fazendo nada por inimizade, nada por bajulação.
Esta exortação, ele a dá, para que ninguém se deixe dominar pela
ira ao ser solicitado pelos pobres; para que ninguém mostre
animosidade ao ser provocado por suas contínuas insistências. Muito
pelo contrário, cada qual deveria sentir-se obrigado a ajudar e
mostrar-se amigo acessível aos indigentes. Pois o Sábio não se
dirige a um pobre insolente e provocador, prostrado em sua desgraça,
mas a um homem que deve mostrar compreensão e benignidade antes mesmo
de dar sua esmola, para com a sua afabilidade levantar o pobre,
dandolhe coragem e confiança. Assim quando alguém - mesmo não se
apoderando do dinheiro destinado às viúvas - começa a censurá-las
com mil acusações, as maltrata, deixandose enfurecer contra elas,
não só deixa de ajudá-las a se levantarem de sua depressão, mas
aumenta a desgraça delas com seus insultos. Porque, mesmo que alguma
vez a necessidade sentida em seu estômago as leve a comportar-se
inconvenientemente, são sensíveis a tal tratamento. Portanto, caso
se vejam obrigadas a pedir esmolas para satisfazerem sua fome e, por
causa de sua insistência, sejam obrigadas a suportar vexames, suas
almas cairão em completo desânimo, como em trevas.
Entretanto, para quem cuida das viúvas não é suficiente ser
compreensivo e paciente; deverá mostrar também capacidade
administrativa. Carecendo desta qualidade a caixa dos pobres novamente
sofrerá prejuízos. Certo homem a quem se tinha confiado tal
administração conseguiu amontoar muito dinheiro. Não só não o
gastou para si mesmo, mas também não o empregou - com pequenas
exceções - em benefício dos indigentes; em vez disso enterrou a
maior parte até que as circunstâncias infelizes o fizeram cair nas
mãos dos inimigos. Exige-se, por conseguinte, grande
circunspecção para que o patrimônio eclesiástico não seja amontoado
em demasia, nem seja esbanjado em futilidades. Ao contrário, seja
distribuído entre os indigentes tudo o que for coletado, sendo
obrigação dos membros da comunidade cuidar que sempre entrem novas
somas para os pobres.
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17. |
No que diz respeito à direção espiritual das virgens, é
minha opinião que a solicitude deve ser tanto maior quanto mais
precioso for o bem a ser cuidado. É verdade que já aconteceu que,
até no coro destas santas, mulheres viciadas com mil defeitos
conseguiram entrar furtivamente. É sumamente lamentável. Como não
é a mesma coisa se quem peca é uma moça livre ou sua escrava,
também não o é se a pecadora é virgem ou viúva. É de menos
importância quando as viúvas mantêm conversas inconvenientes, quando
se injuriam mutuamente, bajulam, são malcriadas, exibem-se em toda
parte e perambulam pelas praças públicas; a virgem, porém,
sagrou-se para coisas mais altas: dedicou-se a uma sabedoria de vida
mais digna, prometendo levar a vida dos anjos já nesta terra.
Assumiu a missão de, ainda sujeita à carne, imitar com perfeição
a vida daqueles seres incorpóreos.
pelo medo de ela ficar estéril, perder o brilho da juventude e ser desprezada (por seu eventual marido), quanto mais terá que suportar quem tiver o cuidado por coisas muito mais importantes e preciosas? Porque aqui não se trata de um simples homem, a quem ameaça vergonha, mas do próprio Cristo. E esta esterilidade não será causa de vergonha apenas, mas da perdição da própria alma.
diz o Senhor,
Ainda: se aqui a noiva for desprezada pelo noivo, não basta ela
pedir a carta de separação e procurar seu caminho, mas ela própria
terá que expiar o desprezo sendo condenada ao fogo eterno. O pai
corporal dispõe de muitos meios que lhe facilitam a vigilância sobre a
filha virgem: a mãe, a ama, grande número de escravas, assim como
a própria segurança da casa ajudam nessa vigilância. Também não
lhe é permitido abandonar a casa com freqüência, perambular pelas
ruas e praças, e, no caso em que tiver que sair, querendo,
facilmente poderá evitar de mostrar-se aos homens, aproveitando o
lusco-fusco da noite e dos muros. Desta forma nunca será obrigada a
encontrar-se com homens sem que a proteção de seu pai esteja a seu
lado. O único cuidado que tem é não fazer nada, nem falar nada de
indigno que possa ofender o pudor.
Também neste caso torna-se mister usar de extrema prudência a fim de
que não aconteça que aquilo que deveria ser um bem se torne causa de
maior mal. Pois também o médico, não tendo acertado no corte, é
objeto da ira divina causada por todo e qualquer pecado cometido por
quem recebeu punição tão excessiva. Que castigo pesado não o
aguarda se tiver que prestar contas não só das próprias falhas, mas
também das dos outros?
Depois de tal ameaça, pode ser pequeno o temor de semelhante
responsabilidade? Pelo contrário, deve ser indizivelmente grande.
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