Sábado, Dezembro 21, 2024

Sobre a Autenticidade das Leituras Catequéticas de Cirilo De Jerusalém

Os protestantes, vendo a maior parte dos seus erros combatidos pelas Catequeses de São Cirilo de Jerusalém, sempre tentaram de tudo para colocar em dúvida a sua autenticidade, atacando a Obra em si mesma, afirmando que é apócrifa e que o seu autor é desconhecido, afirmando também que estes escritos eram desconhecidos na antiguidade e que se trata de uma obra dos últimos séculos que os católicos forjaram.

Mas esta obra traz em si mesma as provas da sua antiguidade, e outras obras de escritores pouco posteriores comprovam o seu Autor:

1. Na 6ª Catequese, o Autor diz que está a falar 70 anos depois que a heresia de Manes começou, sob o reinado do Imperador Probo. Ora, tendo sido morto este Imperador no ano 282, somando 70 anos, deduz-se que estes Discursos remontam o mais tardar ao ano 352 (ano em que Cirilo era bispo de Jerusalém).

2. Na 15ª Catequese diz-se que os Romanos estavam então em guerra na Mesopotâmia contra os Persas. Esta guerra durou todo o reinado do Imperador Constantino, contemporâneo de Cirilo. 

3. As Catequeses apresentam todas as características da antiguidade: 

a) são simples e naturais, expõem os dogmas da Igreja duma maneira antiga
b) só fazem referência a autores e heresias antigas, o Símbolo que aí se explica é o de Niceia, 
c) o Cânone dos Livros sagrados que apresenta é o que seguiam as Igrejas do Oriente no século IV, 
d) a maneira como o Mistério da Trindade é explicado revela que o Autor é antigo, 
e) estabelece a consubstancialidade do Verbo por meio de todas as provas que se podem aduzir, 
f) combate claramente os Arianos, sem referir o nome deles, porque eram poderosos e protegidos na altura pelo Imperador, 
g) prova a divindade do Filho abstendo-se por cautela da palavra consubstancial que era tema de contestação na Igreja após o Concílio de Niceia.

4. Quanto à acusação de alguns que, se às primeiras 18 Catequeses se pode reconhecer antiguidade, as últimas cinco (as mistagógicas) são um acrescento posterior, deve notar-se que o estilo de todas elas é o mesmo: simples e familiar e, quanto ao conteúdo e forma de apresentação, vê-se que o Autor é o mesmo. Além disso, as últimas catequeses são prometidas na 18ª Catequese e têm uma sequência evidente: as primeiras são para os não batizados e as segundas para os já batizados.

5. Outra prova de autenticidade é a referência que outros escritores antigos fazem desta Obra:

a) Teodoreto no seu II Diálogo transcreve uma passagem sobre a concepção e geração e nascimento de Jesus, a que lhe chama 4ª Homilia de São Cirilo de Jerusalém, mas o facto é que esta passagem é da 4ª Catequese.
b) São João Damasceno no seu 3º Sermão sobre as Imagens e o II Concílio de Niceia transcrevem uma passagem sob o nome de São Cirilo que corresponde à 12ª Catequese.

6. Também vários escritores antigos, que falam de São Cirilo, mencionam as Catequeses:

– São Jerónimo, no Escritores Eclesiásticos, cap. 112.
– Sozomeno, Livro III, ch. 14.
– Leôncio de Bizâncio que cita expressamente a 4ª Catequese Livro I, t. 4.

7. Pelo facto de São Jerónimo dizer que Cirilo fez as Catequeses na juventude, alguns argumentam que as ditas catequeses de Cirilo não são estas, mas outras que não conhecemos, porque não era costume entregar-se a tarefa de preparar os catecúmenos a um jovem. Este argumento não é válido, porque Origines foi encarregado desta tarefa em Alexandria, quando tinha 18 anos. Aliás, essa referência de São Jerónimo só enaltece a erudição de Cirilo.

8. Outro argumento contra a autenticidade é o facto de São Cirilo dizer na 12ª Catequese que os sacerdotes de Jesus Cristo se abstinham de mulher, quando o Concílio de Niceia tinha deixado aos sacerdotes a liberdade de ter ou não ter mulher. Mas isto é apenas uma conjectura frágil, porque sabemos por São Jerónimo e Santo Epifânio e outros autores do século IV que se guardava o celibato na maior parte das Igrejas do Oriente. Isto só prova que em Jerusalém pelo menos a maioria dos sacerdotes guardavam o celibato, porque, como diz Jerónimo no Contra Joviniano:

"Se não se ordenam Diáconos que não sejam casados, que farão as Igrejas do Oriente e do Egipto que só admitem como clérigos os que não são casados, ou que, sendo casados, fazem profissão de viver no celibato?".

9. O Manuscrito de Munique, do século X, que é o mais antigo, intitula as últimas cinco catequeses (as mistagógicas) como sendo da autoria de «João de Jerusalém», que foi sucessor de São Cirilo, de 386 a 417. Foi sem dúvida uma confusão do copista, muito bem explicada com argumentos linguísticos e de lógica comparativa entre vários manuscritos e vários copistas.

 

FONTE


S. SALAVILLE, Les «Catéchèses Mystagiguques» de Saint Cyrille de Jérusalem, in Revue des Ètudes Bizantines, 1915, vol. 17, nº 109, p. 531-537. Tradução: Padre Zé – Portugal.

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