Sexta-feira, Novembro 15, 2024

Santo Tomás de Aquino, a Imaculada conceição e a “falsificação romanista”


Chegou ao nosso conhecimento, através de leitores, que um blog protestante de nome “Respostas Cristãs” fez menção a um de nossos textos que explicava sobre a posição de São Tomás de Aquino em relação a Imaculada Conceição de Maria, durante sua vida. Já tinha visto alguns textos deste blog nos mencionando, mas desta vez fui navegar pelo blog, e vi que na realidade existem inúmeros textos nos mencionando, tal qual uma produção sistemática de textos para contestar os nossos. Responderemos a estes textos em um momento oportuno, hoje iremos tratar apenas do último que nos acusa de falsificação.

Nosso texto, que é objeto da acusação protestante, mostra que em determinado momento de sua vida, São Tomás se posicionou desfavorável a Imaculada Conceição, afirmando que Maria só se tornou imaculada depois da concepção, mas que no fim de sua vida ele voltou a ser favorável à Imaculada Conceição de Maria.

Para provar isto, mostramos que:

1)      No início de sua vida acadêmica em Paris, ele afirmou a Imaculada Conceição:

Ao terceiro, respondo dizendo que se consegue a pureza pelo afastamento do contrário: por isso, pode haver alguma criatura que, entre as realidades criadas, nenhuma seja mais pura do que ela, se não houver nela nenhum contágio do pecado; e tal foi a pureza da Virgem Santa, que foi imune do pecado original e do atual

Ad tertium dicendum, quod puritas intenditur per recessum a contrario: et ideo potest aliquid creatum inveniri quo nihil purius esse potest in rebus creatis, si nulla contagione peccati inquinatum sit; et talis fuit puritas beatae virginis, quae a peccato originali et actu ali immunis fuit”. (In I Sent. d. 44, q. 1, a. 3, ad. 3)

2) Que durante sua vida por conta de seu pensamento filosófico, foi desfavorável ou “negou” a Imaculada Conceição na Suma Teológica e também no Compêndio Teológico.

3) E no fim de sua vida, em sua obra “Exposito Super salutatione angélica” que ele voltou atrás e citamos a seguinte passagem:

Ipsa enim purissima fuit et quantum ad culpam, quia ipsa virgo nec originale, nec mortale nec veniale peccatum incurrit”.

“Ela é, pois, puríssima também quanto à culpa, pois nunca incorreu em nenhum pecado, nem original, nem mortal ou venial”

Ao ler isto, o blog protestante diz que esta última citação apresentada por nós, especificamente as palavras “nec originale”, isto é “nem original”, são na realidade uma “falsificação romanista” e que não estão na obra de São Tomás, suas palavras são:

O problema é que “nem o pecado original” é uma interpolação posterior. Richard Gibbings já havia apontado há muito tempo que essa é mais uma das falsificações romanistas – veja aqui. Uma edição crítica moderna (produzida por críticos católicos romano) dessa obra não inclui o trecho citado – veja aqui:

Nosso interlocutor diz que é uma falsificação, e o que apresenta como prova para isso? Mostra  o autor anti-católico irlandês Richard Gibbings que não prova nada, só faz a mesma alegação dele, e também uma versão moderna que realmente não tem o termo “nec originale”. Algumas considerações preliminares são necessárias:

1)      Sobre o autor anti-católico não é necessário qualquer comentário, pois faz a mesma alegação e não traz absolutamente qualquer prova de que seja falsificação, simplesmente diz que o texto foi corrompido e não demonstra nenhum evidência histórica ou manuscritos para fundamentar a acusação.

2)      Sobre a versão moderna não ter a expressão “Nec originale”, o que de fato é verdade, ainda assim não prova absolutamente nada. Se formos dizer que algo é falsificação simplesmente porque não está presente em alguma versão, seria a mesma coisa que dizer que o fim do evangelho de Marcos é falsificação, porque existem manuscritos que não contém esta parte, conclusão sem base e sem sentido. Os tradutores podem escolher uma versão ou determinado manuscrito por diversos fatores diferentes, não implica que a que usaram é a mais correta ou fidelíssima ao original e as outras falsificadas. 

De cara, as duas “provas” que o interlocutor apresenta não servem para provar o que ele afirma ou que algum católico falsificou os escritos de São Tomás.  Porém, o interessante disto tudo é que o interlocutor parece querer ensinar são Tomás para católicos, e achar que durante séculos os tomistas nunca explicaram a questão e ficaram calados até os protestantes descobrirem que essa é uma “falsificação romanista”.

Na realidade, a resposta que ele dá se baseia em uma tentativa do Apologista protestante americano Francis Turrentin em desqualificar esta citação que é mencionada na obra de Réginald  Garrigou-Lagrange, um dos maiores teólogos do século XX e o maior Tomista de seu tempo. É interessante notar que o americano, além de querer ensinar o pensamento de São Tomás ao Garrigou, insinua que ele é desonesto e usou uma citação fraudulenta, como que um tomista de sua envergadura precisaria recorrer a tais métodos. Menciona apenas uma parte da argumentação de Garrigou passando ao largo das provas que ele apresenta, porém para infelicidade do acusador, o próprio Garrigou-Lagrange, como que prevendo a acusação protestante, já o refutava em sua obra, dizendo o seguinte:

No período final de sua carreira, ao escrever o Exposito Super salutatione angelica – que certamente é autêntico (39) – em 1272 ou 1273, São Tomás expressou-se assim: “Para ela (a Santíssima Virgem) foi mais pura na matéria de culpa! (quantum ad culpam) e não incorreu nem o pecado original, nem mortal nem venial”. Cf. G. F. Rossi, CM., S. Thomae Aquinatis Expositio salutationis angelicae, Introductio et textus. Divus Thomas (PI)., 1931, pp. 445-479 (40). Nesta edição crítica do Comentário sobre a Ave Maria, afirma-se, pp. 11-15, que a passagem citada agora é encontrada em dezesseis manuscritos dos dezenove consultados pelo autor, que conclui que é autêntico. Ele dá fotografias dos principais manuscritos em um apêndice. Esperemos que o mesmo trabalho consciencioso seja feito por outro opuscula de S. Tomás! (41)

Apesar da objeção levantada pelo Pe P. Synave (42) o texto parece ser autêntico. Se for, então, São Tomás voltou atrás no final da sua vida e mudou –  podemos acreditar por seu amor a Mãe de Deus – para a posição que ele tinha adotado quando afirmou Imaculada Conceição, em seu Comentário sobre as Sentenças. Nem é o texto que estamos considerando a única indicação de tal retorno (43).” (Garrigou- Lagrange – A mãe do Salvador – Pg 69-70.)

 

Em suma Garrigou diz que:

1)      O Especialista Giovanni Felice Rossi, em sua famosa edição crítica do Expositio salutationis angelicae, mostrou que a citação está presente em 16 dos 19 manuscritos analisados e o próprio Rossi conclui que a citação da forma que apresentamos é certamente autêntica.

2)      Esta citação não é a única que prova a mudança de São Tomás.

Protestantes terão que provar que 16 manuscritos dos 19 mais conhecidos são “falsificações romanistas” e os 3 restantes são os verdadeiros, sem as “falsificações romanistas”.  Solicitamos a biblioteca do Seminário da Diocese de Torino na Itália para que nos enviasse as fotocópias desses manuscritos para postarmos aqui, tão logo recebermos, postaremos. Logo, fica claro que a versão moderna adotou algum dos manuscritos que não tem a expressão “nec originale”, os motivos para isso podem ser vários, não prova que falsificamos ou que alguém falsificou nada.

Concordando com Garrigou estão também o Dr. Pedro Espinosa e os especialistas da Diocese de Guadalajara, no México em 1849:

Na exposição da Epístola aos Gálatas, Lição 6. C. o santo doutor diz:“Virum de mille unum reperi, scilicet Christum, qui esset sine omni peccato; mulierem autem non inveni quae omnino à peccato immunis esset, ad minus originali vel vienali: excipitur purissima et omni laude dignissima Virgo”. Assim lê a edição de Paris de 1541. As últimas expressões, que manifestadamente favorecem a concepção imaculada, se lê em uma multidão dos códices mais confiáveis, e foram suprimidas em edições modernas e principalmente na de Veneza 1593, como visto até as evidências de Henriquez, Pineda, Theophilus Raynaldo e Antonio Velasquez. Integro é o texto em uma edição venensiana anterior a 1555, feita de acordo com cópias corretíssimas, como testemunha o P. Alberto de Castro Santiago, religioso dominicano. Integro está também em duas edições de Paris de 1529, um dos quais tem o título In Via Jacobena. Pode se ver o que disse sobre tal supressão Marraccio em panfletos intitulados: Fides Cayetana e Allocutiones Pacificae.

Na exposição da saudação angélica, diz o doutor santo “Purissima ipsa fuit, et quantum culpam anúncio, originale nec quia, mortale nec, nec veniale paccatum icurrit” tampouco este texto escapou de ser adulterado, substituindo-se a palavra “nec originale” por “ipsa Virgo”. Quantos são antigos manuscritos e impressos que lemos “nec originale” pode ser visto em Alva e Astorga Solis Raios p. 943.” (Dictamen sobre la Inmaculada Concepción de María Santísima Pagina 59)

O que Pedro Espinosa diz é crucial aqui. Como demonstrado por Rossi, a citação está presente nos melhores e mais antigos manuscritos, e ela foi substituída posteriormente por “ipsa virgo”. Logo não foi uma “falsificação romanista”, foi exatamente o contrário, as palavras “nec originale” foram na realidade trocadas em versões posteriores, provavelmente um erro de copista, ou outro motivo desconhecido.  

Além disso, Pedro Espinosa demonstra também que no Comentário aos Gálatas baseado em manuscritos antigos São Tomás também menciona ali a Imaculada Conceição de Maria:

Virum de mille unum reperi, scilicet Christum, qui esset sine omni peccato; mulierem autem non inveni quae omnino à peccato immunis esset, ad minus originali vel vienali: excipitur purissima et omni laude dignissima Virgo

Para quem souber Latim, vale a pena ler o Volume XXIII do Sancti Thomas Opera Ominia de 1862 onde são demonstradas as várias versões dos comentários aos Gálatas e os antiquíssimos manuscritos que a contém.

Em sua Obra Expositio in orationem dominicam, São Tomás afirma a Imaculada Conceição de Maria, e que só ela e Cristo não tem pecado:

Tem havido alguns, de fato, tão presunçosos dizendo que o homem poderia viver neste mundo e por sua própria força sem ajuda e evitar o pecado. Mas esta condição não foi dada a ninguém, exceto Cristo, que tinha o Espírito além de qualquer medida, e à Santíssima Virgem, que era cheia de graça e em quem não houve pecado. “E a respeito de quem”, isto é, a Virgem, “quando a questão é pecado eu não desejo fazer nenhuma menção”, diz Santo Agostinho.

Aliqui enim fuerunt ita praesumptuosi quod dicerent quod homo poterat vivere in mundo isto ita quod ex se poterat vitare peccata. Sed hoc nulli datum est, nisi soli Christo, qui habuit spiritum non ad mensuram, et beatae virgini, quae fuit plena gratiae, in qua nullum peccatum fuit, sicut dicit Augustinus: de qua scilicet virgine cum de peccatis agitur, nullam volo fieri mentionem.

Novamente no Comentário ao Salmo XVIII, 6 afirma:

Quod ergo dicit, in sole posuit etc. idest corpus suum posuit in sole, idest in beata virgine, quae nullam habuit obscuritatem peccati: Cant. 4: tota pulchra es amica mea, et macula non est in te.

Poderíamos citar aqui a exaustão autores tomistas que confirmam que na realidade as palavras “nec originale” que foram retiradas e que São Tomás mudou e reafirmou a imaculada conceição de Maria como a obra de J.M Voste “Comentarius Iliam p. Summae Theolo. S. Thomae”, porém consideramos o que aqui está suficiente como prova.

 

O PENSAMENTO GERAL DE SÃO TOMÁS


Vários teólogos debatem que sobre a questão até os dias de hoje, porém os protestantes, como é de praxe, sabem mais sobre São Tomás do que os próprios tomistas, e já demonstraram para nós que ele negou, mas vale a pena mostrar aqui ao que encontramos o seguinte no Volume VI “Mariologia”, do Manual de Teologia Dogmática de Pohle-Preuss, página 67:

 
5. O Ensino de São Tomás — Os teólogos estão divididos em sua opinião sobre qual era a mente de São Tomás em relação à Imaculada Conceição. Alguns francamente admitem que ele se opôs , pois em sua época ainda não era um dogma definido, mas insistem que ele na prática admitiu o que ele formalmente negou. Outros afirmam que o Doutor angélico defendeu expressamente a Imaculada Conceição e que as (cerca de quinze) passagens adversas citadas dos seus escritos deve ser consideradas como interpolações posteriores. Entre esses dois extremos estão dois outros grupos de teólogos, um dos quais afirmam que São Tomás estava indeciso em sua atitude para com a Imaculada Conceição, enquanto o outro apenas mantém a impossibilidade de provar que ele se opunham a ela.

Segundo Preuss, existem 4 grupos de teólogos tomistas que se dividem em relação a Imaculada Conceição e São Tomás:

1 – Os que admitem que ele negou em certos escritos, mas que na prática aceitou.

2 – Os que afirmam que as passagens que se apresentam como ele negando a imaculada conceição, na realidade são interpolações posteriores.

3 – Os que falam que São Tomás estava indeciso.

4 – Os que defendem que é impossível provar que ele negou a Imaculada Conceição.

Muito embora existam esses 4 tipos de teólogos tomistas com seus diversos argumentos, alguns protestantes acham que podem dizer qual é o pensamento de São Tomás simplesmente porque viram em algum lugar que o que apresentamos na realidade é uma “falsificação romanista”. Vou deixar de ler os teólogos tomistas e passar a ver o que os protestantes tem a dizer quando a questão for são Tomás, até porque não vale de nada ler quem estudou São Tomás uma vida inteira quando se tem blogs protestantes que resumem tudo para nós.

No início do texto o protestante fala:

Um dos maiores constrangimentos para o dogma da imaculada conceição é sua negação pelos maiores doutores da igreja romana. O principal deles e considerado por muitos o maior teólogo católico romano é Tomás de Aquino. Mesmo os apologistas católicos reconhecem que em algum momento de sua vida ele negou a imaculada conceição

Em outro texto trataremos do que ele chama de “maiores doutores”, vamos considerar aqui apenas São Tomás de Aquino.

No meu texto eu falei:

Fica claro que a negação no meio de sua vida da Imaculada conceição de Maria veio por certos motivos teológicos, que podem ser explicados a medida que formos lendo a Suma teológica.

Logo, o que o protestante em questão não entende é que quando falamos “negar”, não quer dizer que ele tinha a mesma concepção protestante, ou que ele negava que Maria era imaculada, mas sim que sua ideia da impecabilidade de Maria, não compreendia o momento da concepção. Maria seria Concebida em pecado, mas Nascida sem pecado.

Portanto que Maria não tinha pecados, isso era claro para a mente de São Tomás, ele apenas, em determinado momento da sua vida, não englobava a impecabilidade dela no momento da concepção, por causa ideia da evolução do embrião e da infusão da alma no corpo.

São Tomás tinha a visão da doutrina aristotélica da animação tardia, na qual a alma demorava pelo menos um mês para adentrar no corpo, logo seria natural para ele que a matéria do corpo inicial de Maria tivesse o pecado, porém quando sua alma foi infusa no embrião ela foi santificada.  

No boletim Tomista de Julho-Dezembro de 1932 página 579, a questão é comentada:

Será que este texto contradiz a outra que ocorre algumas linhas mais tarde? É altamente improvável que São Tomás iria contradizer-se no espaço de algumas linhas. A dificuldade desaparece quando se recorda que na visão de São Tomás a concepção do corpo e o início da evolução do embrião é precedido por um mês, pelo menos, a animação (ou concepção passiva consumada) antes da qual a pessoa não existia, até então não havia ainda nenhuma alma racional.

Logo, São Tomás além de não pensar como um protestante na questão do pecado atual, também não pensava da mesma forma sobre a questão do pecado original mesmo quando “negou” a Imaculada Conceição, uma vez que sua ideia da Concepção do embrião era diferente, por isso seus comentários desfavoráveis existiram.

Isto ele deixa claro no seu compêndio de teologia que foi citado no meu artigo anterior, quando comenta que a alma apenas tardiamente entra no corpo, por isso afirmou que ela foi concebida sem pecado:

CAPÍTULO CCXXIV

A SANTIFICAÇÃO DA VIRGEM MARIA

Como verificou-se anteriormente, a Santíssima Virgem Maria tornou-se Mãe de Deus concebendo do Espírito Santo. Para 252 corresponder à dignidade de um Filho tão excelso, convinha que Ela também fosse purificada de

modo extremo.

1 — Por isso, deve-se crer que Ela foi imune de toda nódoa de pecado atual, não somente de pecado mortal, bem como de venial, graça jamais concedida a nenhum outro santo abaixo de Cristo, como se lê na Carta de São João: “Se dissermos que não temos pecado, seduzimo-nos a nós mesmos, mentimos” (I Jo 1,8). Pode também ser entendido como aplicado à Virgem Mãe de Deus o seguinte texto dos Cânticos: “És toda formosa, ó minha amiga, e em ti não há mancha alguma” (Cant 4,7).

2 — Ela não foi imune apenas de pecado atual, como também, por privilégio especial, foi purificada do pecado original Convinha, contudo, ser Ela concebida com pecado original, porque foi concebida de união de dois sexos. Só a Ela, com efeito, foi reservado o privilégio de, sendo Virgem, conceber o Filho de Deus. A união dos sexos, que após o pecado do primeiro pai, não se pode realizar sem libidinagem, transmite à prole o pecado original. Além disso, se ela não tivesse sido concebida com pecado original, não teria necessidade de ser remida por Cristo, e, assim, Cristo não seria o Redentor universal de todos os homens, o que também degradaria a dignidade de Cristo. Deve-se, pois, ter que Ela foi concebida com pecado original, mas dele purificada de algum modo especial. Efetivamente, alguns são purificados do pecado original após terem saído do útero materno, como os que são santificados pelo batismo; alguns, porém, são santificados, por certo privilégio da graça, quando ainda estão no útero materno, como se lê a respeito do Profeta Jeremias: “Antes que Eu te formasse no útero, Eu te conheci; e antes que saísses do seio materno, Eu te santifiquei” (Jer 1,5). Sabemos também que foi dito de João Batista pelo Anjo: “Será repleto do Espírito Santo ainda no útero de sua mãe” (Lc 1,15). Ora, não se pode pensar que Deus tenha denegado à sua própria Mãe o que foi concedido ao Profeta e ao Precursor de Cristo. Por isso, crê-se que Ela foi santificada quando ainda estava no útero, antes de libertar-se dele.

3 — A santificação da Virgem não precedeu a infusão da alma ao seu corpo. Se tivesse precedido, Ela jamais estaria sujeita ao pecado original, e, assim, não necessitaria da Redenção. Devemos, além disso, considerar que o sujeito de pecado original não pode ser senão a criatura racional. A graça da santificação radica-se primeiramente na alma, e não pode atingir a infusão da alma.

Fica óbvio nas palavras de São Tomás o seu entendimento de como Maria foi concebida, sua alma veio a ela e como se tornou Imaculada. Assim também afirma o Dr. Paulo Faitanin Especialista em São Tomás:

Tomás afirma que a Virgem não foi santificada antes da animação, pelo simples fato que a carne não poderia ser purificada antes que lhe adviesse a alma racional, criada e infundida plena de graça na carne para que isso que foi gerado no pecado e herdado dos pais fosse purificado. Por esta razão, a carne não poderia ser purificada antes de receber a alma racional.

Paulo Faitanin, doutor em Filosofia Medieval, pela Universidade de Navarra, professor da Universidade Federal Fluminense e especialista em São Tomás, dá aqui a questão chave, São Tomás afirmou que Maria foi concebida com o pecado original em sua carne porque a carne passa a existir primeiro e depois de algum tempo a alma era infusa, logo para o pensamento dele a carne sozinha não poderia ser purificada, somente na infusão da alma, ocorrida mais ou menos um mês depois. (O Dr. Faitanin nos deu a permissão para publicarmos seu artigo acadêmico sobre a concepção de Maria no pensamento de São Tomás, aqui neste site, nos próximos dias estará disponível.)

E é exatamente o que afirma o Dr. Faintanin que São Tomás diz, em sua Suma Teológica:

A santificação da Bem-Aventurada Virgem antes de ter uma alma não tem sentido por dois motivos: 1°, a santificação de que se trata nada mais é do que a purificação do pecado original: pois, como diz Dionísio [De Div. Nom ., c. 12], a santidade é a purificação perfeita. Ora, a culpa só pode ser purificada pela graça, e o sujeito  da graça é exclusivamente a criatura racional. Por isso, a Bem-Aventurada Virgem não foi santificada antes que lhe tenha  sido infundida a alma racional.” (STh. III, q.27, a.2)

Obviamente, em uma época em que o dogma não estava definido, é natural que teólogos divergissem e ponderassem sobre a questão, como diversos padres também divergiram sobre o dogma da Trindade antes de ser definido.

Mesmo que São Tomás não tivesse mudado de opinião, se vivesse quando o dogma foi definido, certamente o aceitaria, pois como ele mesmo diz em seu leitor de morte que tudo o que escreveu está sujeito ao juízo da Igreja:

 Muito escrevi e ensinei a respeito desse corpo Santíssimo e da Santa Igreja Romana, a cuja correção tudo exponho e submeto” (Napoles 49, P. 332)

Recebo-te preço da Redenção de Minh’alma, recebo-te, viático de minha peregrinação, por cujo amor estudei, realizei vigílias, sofri; preguei-te, ensinei; jamais disse algo contra ti, e se o fiz foi por ignorância e não insisto no meu erro; se ensinei mal a respeito deste sacramento ou de outros, submeto-o ao Julgamento da Santa Igreja Romana, em obediência à qual deixo agora esta vida. (Napoles, 80 P.379; ystoria 58 p. 379-80)

 

 

CONCLUSÃO


Assim, a tal “falsificação romanista” não tem qualquer fundamento e é muito improvável. As mentes caluniosas agora serão obrigadas a provar os seguintes pontos:

1)      Que sabem mais do que os tomistas a respeito de São Tomás.

2)      Que os 16 dos 19 manuscritos analisados por Rossi que contém a expressão “NEC ORIGINALE”, são “falsificações romanistas” e os 3 restantes que são os verdadeiros.

3)      Que as outras citações apresentadas tal qual a do Comentário aos Gálatas são falsificadas também.

É muito estranho que pouco tempo após a morte de São Tomás tenham existidos manuscritos com a expressão em questão e alguém a tenha falsificado. Por que alguém nesta época, onde supostamente os autores negavam a imaculada Conceição de Maria, teria se preocupado em falsificar pelo menos 16 manuscritos acrescentando ali algo que ele próprio não escreveu? Qual a probabilidade disso? Quase nula! 

Antes de acusar alguém de algo, é melhor ter certeza do que fala para não incorrer o risco de levantar acusações falsas e infundadas a respeito da questão.

Está não é a primeira vez que somos acusados de falsificar, sem qualquer prova, alguma citação dos diversos autores que citamos aqui. Eu só queria deixar claro para protestantes que nos acusam, que jamais falsificamos qualquer citação de qualquer autor que citamos, e que verificamos cada uma das citações aqui postadas. Se vocês desconfiam de alguma citação aqui, enviem-nos um e-mail ficaremos felizes em ver as tais “falsificações romanistas”.

Coloco aqui as palavras do próprio Tomás:

… a verdade jamais se manifesta tão bem como quando resiste aos que a contradizem, e refuta seu erro; como diz o Livro dos Provérbios: ‘O ferro com o ferro se afia, e o homem, pelo contato com o próximo.’” (São Tomás de Aquino – De perf., cap. 30, p. B111, com cit. de Pr. 27,17).

Dentre milhares de citações aqui, alguns acham uma ou outra citação com alguma palavra traduzida errada, e já passam a falar que são “falsificações romanistas”, eu desafio a qualquer protestante a mostrar qualquer falsificação aqui neste site, seria até um favor para podermos corrigir nossos erros.

Não estou falando que não possam ocorrer erros de traduções, até porque nem mesmo tradutores profissionais que vivem disso não estão livres de erros, porém tudo que é postado aqui, em sua maioria, segue com a referência e link das obras que estão disponíveis na internet. Um erro de tradução em uma citação, embora ocorra raramente aqui, é até natural e esperado, pois temos milhares de citações patrísticas e de teólogos aqui, ser minucioso ao ponto de não haver qualquer erro de tradução, nem a Versão Almeida da bíblia com suas dezenas de versões “corrigidas e atualizadas” nunca conseguiu ser, porém protestantes agora querem nos dar o fardo de sermos perfeitos.

Estaremos esperando o próximo texto onde ficarão provadas as tais  “falsificações romanistas”, este passou batido.

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