Sábado, Dezembro 21, 2024

São Jerônimo e a Sé Romana.

INTRODUÇÃO


Erros são difíceis de morrer, especialmente ficções protestantes. Um dos mais estranhos destes, e um dos mais resistentes, é a simulação de São Jerônimo, hominis romani, como protestante. Eu não quero dizer que ele é travestido como um adversário do monaquismo e virgindade, um pregador do casamento dos padres, ou um denunciante da veneração das relíquias. Mas ele é reivindicado, apesar de suas opiniões “avançadas” sobre estes e outros pontos, como um protestante lá no fundo; pois ele é representado como defensor do dogma fundamental protestantismo – a negação de que a Igreja Romana é infalível na sua fé e o centro necessário da catolicidade.

Agora não devemos a priori esperar encontrar tais declarações explícitas sobre este ponto nas obras do grande doutor como naquelas questões em que o protestantismo moderno foi antecipado por aqueles pioneiros gloriosos do pensamento livre – Helvídio, Joviniano e Vigilancio. No entanto, um feliz acaso levou-o a estabelecer o maior número de visões “ultramontanas” em duas famosas cartas ao Papa reinante. Um crítico comum consideraria a questão da crença de São Jerônimo como decidida. Mas não tanto para o polemista protestante. Pois para ele o testemunho desta famosa coluna da ortodoxia, e depósito do conhecimento do oriente e ocidente, não pode ser tão facilmente renunciado. São Jerônimo era jovem quando escreveu assim; morreu um homem velho: ele deve ter mudado de ideia.

Esta ideia “brilhante” ocorreu ao Dr. Littledale – ou, mais provavelmente, ele achou nas obras de controversialistas anteriores; mas não vale a pena rastrear a linhagem de sua afirmação de livros que podem ser presumidos agora como sendo desatualizados. As únicas provas oferecidas da conversão de São Jerônimo ao protestantismo, são duas passagens – uma de seu trabalho contra Joviniano, e outra de uma carta a Evangelo (ou Evágrio) impressas por Vallarsi entre as últimas de suas cartas de uma data incerta. Dr. Littledale chegou à conclusão de que era a sua última palavra sobre o assunto, e datou a carta no ano da morte do santo, 420. Isto ele alterou em edições posteriores, em deferência a resposta do Dr. Ryder no tabloide, depois republicado em forma de livro. Mas, apesar da refutação completa, que Dr. Littledale recebeu, ele não retirou a declaração de que São Jerônimo mudou de ideia, mas repetiu em outra publicação chamada Palavras da verdade, um título curioso para uma compilação tão singularmente inverídica. [1]

Seria de pouca importância o que um escritor deste tipo pode ter admitido ou não admitido, mas seu livro foi aparentemente a fonte envenenadora para escritores muito respeitáveis foram atraídos.  O bispo anglicano Gore citou a carta para Evangelo em suas “Reivindicações Católicas Romanas”, e foi completamente respondido pelo Dr. Rivington. O Bispo Gore voltou ao assunto em “A Igreja e o Ministério”, e se refere a esta nova discussão em uma edição posterior das “Reivindicações Católicas Romanas”.

Bispo Gore realmente diz:

A passagem (Isto é, da carta de Evangelo) não é citada por controversialistas romanos, por uma razão muito simples: porque indica que a autoridade da Sé Romana acabou para Jerônimo sobre o que é variável em um teólogo – na emoção, na conveniência, no sentimento – não no que é invariável, a base da autoridade doutrinária.

Eu não sei a quais controversialistas romanos ele se refere. Eu só sei que a resposta a esta maravilhosa descoberta é dada muito bem por cada um daqueles que eu já vi. Bispo Gore poderia ter conhecido um pouco do admirável livro do Dr. Ryder (Cf. também Stone, The Invitation Heeded, NY 1870, page 287; Archbishop Kenrick, Vindication of the Catholic Church, Balt 1855, page 203) e muitos outros, para não falar da resposta do Pe. Rivington, que Bispo Gore ignora.

Este segundo ataque em São Jerônimo foi mais grave do que o anterior, como ocorreu em uma obra marcadamente acadêmica, com a maior parte dos quais católicos estarão em simpatia completa, e no decorrer de uma discussão de pontos de vista de São Jerônimo sobre o ministério que é tão justo como é cuidadoso. No entanto, não provocou qualquer resposta, pelo simples fato de sua posição está em um trabalho incontroverso. [2]

A ideia do Bispo Gore foi emprestada por um escritor cuja piedade não compensa a sua falta de conhecimento [3], e a história também se repetiu em na obra de Puller chamada “Os santos primitivos e à Sé de Roma”. Em seguida, ela ganhou a autoridade do Bispo Moorhouse, cujas afirmações foram efetivamente respondida por Fr. Bernard Vaughan, em suas palestras muito brilhantes.

E, depois de tudo, a coisa toda é tão falsa, tão cruel, e tão ofensiva. A refutação foi por tantas vezes repetida, e é tão fácil, que se sente quase a necessidade de ficar com raiva ao reiterar isso. Eu gostaria de dar a resposta aqui com toda exatidão meticulosa, de modo que não possa haver nenhum espaço para qualquer outra resposta além de declarações falsas ou abuso; mas se sentir como alguém que está usando um bate estacas para matar uma pulga, ou provando a tabuada contando nos dedos de alguém. E, no entanto, é claro, ninguém será convencido se não deseja isso.

 

DUAS PASSAGENS: CONTRA JOVINIANO E A EPISTOLA 146 A EVANGELO


Para começar, vejamos as duas passagens em questão:

PASSAGEM A. [7]

São Jerônimo estava elogiando a virgindade, e exaltando São João acima dos outros Apóstolos. Ele antecipa a objeção:

Porém, dizes, a Igreja foi fundada sobre Pedro: ainda que em outro lado o mesmo é atribuído a todos os Apóstolos, e eles recebem todos as chaves do reino do céu, e a força da Igreja depende de todos eles por igual, mas um dentre os doze é escolhido para que estando uma cabeça nomeada, não pudesse haver ocasião para cisma. Mas por que não foi escolhido João, que era virgem? Foi prestada deferência à idade, porque Pedro era o mais velho: alguém que era jovem, quase diria um garoto, não podia ser posto sobre homens de idade avançada; e um bom mestre que estava disposto a tirar toda a ocasião de contenda entre os seus discípulos… não deve pensar-se que daria motivo de inveja contra o jovem que tinha amado… Pedro é um Apóstolo, e João é um Apóstolo; mas Pedro é somente um Apóstolo, enquanto João é um Apóstolo, e um Evangelista, e um profeta. Um Apóstolo, porque escreveu às Igrejas como mestre; um Evangelista, porque compôs um Evangelho, coisa que nenhum outro dos Apóstolos, exceto Mateus, fez; um profeta, porque viu na ilha de Patmos, onde tinha sido exilado pelo imperador Domiciano como um mártir do Senhor, um Apocalipse contendo os ilimitados mistérios do futuro… O escritor virgem expôs mistérios que não pôde expor o casado, e para resumir brevemente tudo e mostrar quão grande foi o privilégio de João, a Mãe virgem foi confiada pelo Senhor virgem ao discípulo virgem.”(Contra Joviniano I, 26)

PASSAGEM B. [8]

Nós lemos em Isaías, ‘O tolo falará tolamente’. Eu ouço que alguém explodiu em tal loucura a preferir diáconos antes de sacerdotes – Ou seja, antes de bispos. Enquanto o Apóstolo ensina claramente que presbíteros e bispos são os mesmos, como pode um servidor de mesas e janelas atrever a exaltar-se acima aqueles que através de suas orações é feito no Corpo e Sangue de Cristo? Você pergunta a minha autoridade? Ouça a prova. […] Quanto ao fato de que um foi posteriormente eleito para ser posto sobre o resto, isso foi feito como um remédio para cisma; a fim de que nenhum devesse atribuir para si a Igreja de Cristo, e assim por quebrá-la. Além disso, em Alexandria, de Marcos, o evangelista até os episcopados de Heraclas e Dionísio, os sacerdotes sempre pegaram um dos seus próprios membros, a quem eles elegeram, e colocando-o em um posto mais alto, chamam-no de bispo, como se um exército deve fazer uma gerais, ou diáconos devem eleger um de si, quem sabe ser um homem prático, e chamá-lo de Arce diácono. Pois o que é que um bispo faz que um padre não faz, exceto ordenar? Nem é a Igreja da cidade de Roma uma coisa, e a Igreja de todo o resto do mundo outra. Gália e Grã-Bretanha, e África e Pérsia, e da Índia, e todas as nações bárbaras, adoram um só Cristo e observam uma regra de caridade. Se a autoridade é procurada, o mundo é maior do que a cidade.

Onde estiver o bispo é – seja em Roma ou em Eugubium, em Constantinopla, no Régio, em Alexandria, no Tanis, ele tem o mesmo valor, e também o mesmo sacerdócio (ejusdem est Meriti, ejusdem est et sacerdotii). O poder da riqueza e a humildade de pobreza não fazem um bispo mais exaltado ou mais baixo. Além disso, eles são todos os sucessores dos Apóstolos (ceterum omnes Apostolorum Successores sunt). Mas, você vai dizer, como é que em Roma, um sacerdote é ordenado no testemunho de um diácono? Por que você produz o costume de uma cidade? Por que você apresenta esse pequeno número do qual o orgulho surgiu contra as leis da Igreja? Todas as raridades são mais apreciadas. Fleabane na Índia é mais preciosa do que pimenta. Os diáconos são honrados na sua raridade, os padres são menosprezados por causa de seus números. Além disso, mesmo na Igreja de Roma, os sacerdotes se sentam, e os diáconos ficam de pé, embora por um crescimento gradual de abusos vi diáconos sentar-se entre os sacerdotes, quando o bispo estava ausente, e dar a sua bênção aos sacerdotes em banquetes privados. Que aqueles que agem assim, saibam que eles não fazem com razão, e que ouçam o Apóstolo…”. (Epístola 146 – A Evangelo)

Em ambas as passagens encontramos a mesma teoria de São Jerônimo, que a cabeça é necessária para a prevenção de divisões ou cismas.

A. Essa foi a razão, diz ele, pela qual nosso Senhor colocou São Pedro acima dos outros Apóstolos. Era uma necessidade, e a idade de Pedro lhe caía para o cargo. Os Apóstolos, ele explica cuidadosamente (seguindo São Cipriano) [9], eram todos iguais. Eles tinham o mesmo valor; todos eram igualmente fundamentos da Igreja (cf. Ef 2, 20; Rev 21, 14), todos receberam as chaves (Mateus 18, 18, João 20, 23). São Pedro recebe para além do Apostolado uma liderança de primazia, para evitar um cisma. Supor que por isso entende-se uma primazia de honra e não de jurisdição é pagar, mas meramente um pobre elogio ao senso de São Jerônimo. Qualquer um pode ver, se ele optar por ver, que a primazia “tal como aquela que goza o duque de Norfolk entre nobres ingleses”, poderia concebivelmente ser uma fonte fecunda de ciúme, e não poderia ser concebivelmente de alguma utilidade para se proteger contra as divisões.

Além disso, a concepção de um primado de honra vazio sendo estabelecido por nosso Senhor no meio de seus apóstolos é tão revoltantemente e anticristão que chega até ser nada menos do que uma blasfêmia. Apenas as exigências da controvérsia poderiam levar homens sensatos a atribuírem tal visão a São Jerônimo ou São Cipriano. Só a cegueira da fúria anticatólica poderia induzir os homens sinceros e piedosos a pensar que eles próprios sustentavam isso.

B. Na segunda passagem a mesma necessidade de evitar divisões é dita por São Jerônimo ter induzido os Apóstolos a definirem um dos bispos ou presbíteros acima do resto em cada cidade, e este foi limitado ao título de episcopus, e o de presbítero permaneceu peculiar ao resto, enquanto o nome sacerdos era no tempo de São Jerônimo comum a ambos. Esta é uma teoria que São Jerônimo era muito afeiçoado.

A visão ocidental, que a essência do Sacerdócio é a oferta do sacrifício, e que o Sumo Sacerdócio ou Episcopado é apenas um posto mais alto do Sacerdócio, e não uma ordem diferente, era, evidentemente, atual e dominante no tempo de São Jerônimo, além disso ele não poderia ter apelado a isso. A visão oriental mais lógica conta com três grandes ordens: bispos, sacerdotes, diáconos; ao passo que a antiga computação Latina ainda está em vigor na Igreja Latina, sacerdotes (incluindo bispos), diáconos, subdiáconos. Assim o argumento de São Jerônimo “um Sacerdote é o mesmo que um bispo”, ainda é o ensino de teólogos ocidentais, e representa o uso oficial da Igreja Latina. Não há, é claro, nenhuma diferença de doutrina sobre o assunto, entre orientais e de ocidentais; nem é mais uma declaração de São Jerônimo, que a distinção entre sacerdotes e Bispos é apenas um costume consistente com a doutrina da Igreja ou com a sua própria admissão de que só um bispo pode ordenar ou consagrar o Crisma.

No diálogo contra os luciferianos, escrito por volta do ano 379, ele usa-o como um argumento para a necessidade dos Bispos:

A segurança da Igreja depende da dignidade do Sumo Sacerdote. Se a ele não é dado uma certa independência e eminência de poder (exsors et eminens potestas), aparecerá  na Igreja tantos cismas quanto sacerdotes existentes. Esta é a razão que sem crisma e o comando de um bispo, nem padre nem diácono tem o direito de batizar.” (Diálogo Contra os Luciferianos IX)

Em seu comentário sobre a Epístola de Tito, escrito em 387, ele usa a mesma visão para dar bons conselhos aos sacerdotes serem submissos, e aos bispos a serem humildes e não arrogantes:

Um sacerdote é, então, o mesmo que um bispo, e antes da festa de pentecostes em matéria religiosa surgiu por sugestão do diabo, o que dizia-se entre os povos: “Eu sou de Paulo, eu de Apolo, e eu de Cefas”, as igrejas eram governados por um conselho comum dos presbíteros. Mas, depois, cada um deles chegou a pensar que aqueles de quem eles haviam batizados fosse seu e não de Cristo, foi decretado em todo o mundo que um dos sacerdotes deve ser eleito para ser colocado acima os outros, e que a ele todo o cuidado da Igreja deve pertencer, e, assim, as sementes da divisão devem ser destruídas.

Ele então prova sua opinião pelas Escrituras, e procede:

Isto era para provar que entre os antigos, os sacerdotes eram o mesmo que os bispos; Mas por graus, a fim de que os novos rebentos de dissensões pudessem ser extirpados, toda a solicitude foi dada a um homem. Portanto, assim como os sacerdotes estão conscientes de que pelo costume da Igreja estão sujeitos a ele que está posto sobre eles, de modo que os bispos lembrem-se que é mais pelo costume do que pela verdade da disposição do Senhor que eles são maiores do que os sacerdotes, e que eles deveriam governar a Igreja em comum com eles, como Moisés, fez …” (Comentário A Epístola de Paulo a Tito)

De acordo com esta teoria, São Jerônimo sempre prestou grande respeito aos bispos em cada período de sua vida, mas ao mesmo tempo é muito sensível a qualquer depreciação do sacerdócio. Ele ocupa este cargo para se distinguir dos bispos por apenas costume eclesiástico, o que dá ao bispo, além do direito exclusivo de ordenar (Ep a Evangelo, acima), a consagração do crisma (Dial contra Luciferianos, acima) [10 ], o cuidado e a responsabilidade do Estado de toda a sua Igreja. Foi essa autoridade e jurisdição, que foi proferida necessária, de acordo com seu ponto de vista (com a verdade de que não temos nada a fazer aqui) pelas divisões dos tempos apostólicos.

Em uma carta a Teófilo, contra o seu próprio bispo, João de Jerusalém:

Nós não estamos tão cheios de orgulho assim para ignorar o que é devido aos bispos (Sacerdotes) de Cristo. Pois quem os recebe, não recebe os recebe eles mas recebe Aquele de quem bispos que são. Mas que eles se contentem com a devida honra e reconheçam que eles são os pais e não senhores.” (Epístola 82, 11 – A Teófilo Bispo de Alexandria. 399 d.C)

Ou, em uma carta bastante forte a Santo Agostinho:

Adeus, meu querido amigo, em idade meu filho, com dignidade eclesiástica, meu pai.” (Epístola 105, III, 5. 403 d.C).

Se São Jerônimo freqüentemente repreende bispos em geral (por exemplo Comentário em Ez, c 34, 414 d.C), Ele ainda com mais freqüência repreende sacerdotes, e às vezes os dois juntos – por exemplo, Istum locum episcopi et Presbyteri não intelligentes, aliquid sibi de Pharisaeorum superbia assumunt (In Matt c 26:18, Livro 3, 124).

Agora, tais causas têm efeitos semelhantes. Se, para evitar o cisma entre os Apóstolos, a São Pedro foi dada por nosso Senhor a primazia de honra apenas, então, entre os sacerdotes, o bispo não precisava ser mais recebido. Mas se para evitar cisma entre os sacerdotes exigia a sua sujeição a um bispo, então, para evitar o cisma entre os apóstolos envolvia a sua sujeição a Pedro.

Temos, assim, obtido a partir da passagem B uma confirmação da nossa interpretação da passagem A; agora temos de considerar a passagem B sozinha.

Nós aprendemos de um escritor contemporâneo anônimo [11] que certo diácono [12] “fora da estupidez e da ostentação da cidade de Roma”, ensinou a igualdade dos diáconos com os padres, e quase a sua superioridade. O número original de sete diáconos ainda estava retido em Roma, e que foram criados ao longo das sete regiões da cidade, enquanto os sacerdotes, muitos em número, foram distribuídos nas diversas paróquias. Os diáconos, chamados regionarii diaconi ou cardinales posteriores, eram os principais oficiais do Papa, e por muitas vezes era deles que um novo Papa era eleito. Devido aos muitos bajuladores por quem eles eram cercados, nosso informante anônimo diz-nos, chegaram a esquecer, por vezes, na prática a sua inferioridade de ordem. A mesma coisa que Jerônimo disse ter visto e tratado como abuso.

A coisa era comum, e São Jerônimo trata como um abuso, embora não com grande violência. Como um fato, a Igreja não tratava assim, e até os dias de hoje continua a olhar o posto eclesiástico como não totalmente dependente dos graus da Ordem.

 

OUTRA OBJEÇÃO RESPONDIDA: EPISTOLA 41 SOBRE A ORDENAÇÃO


Uma objeção menor, reuniu-se tanto por São Jerônimo e pelo autor dos Questiones, é o fato de que em Roma, um sacerdote era ordenado no testemunho de um diácono. Nisto nem anglicanos nem os católicos podem encontrar qualquer abuso grosseiro, pois a prática permanece até hoje nas direções do Pontifical Romano e do Livro de Oração Comum Inglês. Em ambos, os candidatos à ordenação são apresentados ao Bispo pelo Arc. diácono. O autor do Questiones explica que este é um serviço que o diácono presta os sacerdotes, e não uma posição de superioridade.

São Jerônimo condena estes casos de orgulho nos diáconos romanos como contrários às leis da Igreja. Mas seu método de provar a inferioridade dos diáconos, aos sacerdotes é, à primeira vista surpreendente. Por que ele não simplesmente diz, assim como o escritor anônimo faz, que um sacerdote é um diácono, e algo mais, uma vez que ele foi ordenado primeiro diácono e, em seguida, sacerdote? Porque então ele poderia ser respondido: “Pelas mesmas razões, então, um padre está abaixo de um bispo”. E São Jerônimo é ansiosíssimo para impressionar todos com a sua teoria (sem dúvida não geralmente aceitas ou conhecidas) que, embora a distinção entre sacerdotes e diáconos é uma ordem, e de instituição divina, a distinção entre sacerdotes e bispos é de jurisdição apenas, e eclesiástica, ou no máximo, instituição apostólica.

Ele, portanto, de uma só vez enuncia contra o diácono o ditado que os bispos e sacerdotes são um, adicionando a premissa menor que naturalmente diáconos não podem comparar-se com os bispos. A conclusão de que eles não podem comparar-se com os sacerdotes é óbvia. Assim, São Jerônimo prossegue para provar sua premissa maior da Sagrada Escritura, acrescentando a explicação de que os bispos tinham sido introduzidos como um remédio para as divisões, embora um colégio de padres-bispos tenha sobrevivido em Alexandria por dois séculos e meio, com o direito de eleição do patriarca entre si. O relato do bispo anglicano Gore (Igreja e Ministério, 2 ª ed, p. 137-139) é excelente. Ele dá boas razões para pensar que também Jerônimo estava enganado quanto ao fato. Mas, na realidade só Jerônimo diz que os sacerdotes “nomeavam” um deles para ser bispo.

Em outros lugares, apesar de muitas vezes o povo e o clero escolher, a nomeação cabia ao metropolitana, ou (no caso das metrópoles) ao Patriarca, e assim por diante. No caso do Patriarca de Alexandria, a nomeação real não foi por nenhum bispo ou bispos, mas pelos sacerdotes de Alexandria – a quem São Jerônimo acreditava. Seu ponto não é que o patriarca não foi consagrado (como ele certamente foi), mas que ele foi nomeado pelos inferiores, que não eram, portanto, inferiores. São Jerônimo esteve em Alexandria, e sua declaração teve, sem dúvida, algum fundamento. É provavelmente o mais perto do fato que  um viajante inteligente ficaria.

Pois o que um bispo faz que um padre não faz, exceto ordenar?

Quanto ao argumento do diácono do que ocorreu em Roma, ele diz que não podemos considerar Roma distante e o resto do mundo à parte. Há uma lei para todas as nações debaixo do sol; e se nós estamos olhando para auctoritas, isto é para o precedente, o mundo é maior do que a cidade. Os costumes locais de Roma não são uma lei para todo o mundo. Duas vezes São Jerônimo diz a mesma coisa no que diz respeito à frequência da comunhão (Ep, 48 a Pamáquio, c. 15; e Ep 71 a Lucinio).

Santo Agostinho teve a mesma visão em sua famosa carta a Januário (Ep 54); e contra um romano que escreveu sob o pseudônimo Urbicus [13] para provar que todo o mundo deveria jejuar no sábado, porque São Pedro ensinou aos romanos, pois fazer isso, ele acha ridículo a resposta mais adequada (Ep 36). De modo que até mesmo os bons costumes ou Roma não são vinculativas para o resto da Igreja; nem somos católicos ligados na Inglaterra, para observar a festa de São Felipe Neri como um feriado, ou deixar de colocar flores reais em nossos altares.

Onde quer que esteja um bispo pode ser, seja ele o sucessor de Pedro em Roma ou um sufragânea em Gubbio, bispo da cidade imperial Constantinopla ou de Régio, Patriarca de Alexandria, a segunda sede de Cristandade, a quem a jurisdição da Líbia e Pentápolis foi confirmada pelo Concílio de Nicéia, ou um simples bispo de uma pequena cidade egípcia. Ele tem exatamente o mesmo valor, o mesma sacerdotium. Da mesma forma, riqueza e pobreza não fazem mais diferença do que a jurisdição, e todos eles são sucessores dos Apóstolos.” (Ep 41, 3, Apud Nos Apostolorum tenent locum episcopi, escrito em Roma, 384 d.C)

Toda esta glorificação do múnus episcopal é para enfatizar a diferença entre bispos – “isto é, sacerdotes” – e diáconos. Um sacerdote está na mesma medida em que a ordem é concedida ao bispo, não obstante a diferença de jurisdição; e um bispo tem as mesmas ordens como qualquer outro, mesmo que a Sé de Roma ou Alexandria possa ter mais autoridade, e a sede de Constantinopla mais riquezas. Segue-se que todo o sacerdote e o próprio São Jerônimo tem a mesma dignidade espiritual por sua ordenação de um patriarca ou um papa. Certamente isto é majestade suficiente para fazer até um diácono romano se sentir tímido! Quanto ao resto, ele explica que, embora estes diáconos romanos ganharam importância e orgulho de seu número limitado, mas até mesmo em Roma foi observada a teoria da sua inferioridade espiritual, de modo que alguns abusos evidentes não deviam ter sido citado como costumes. A paráfrase acima dá o sentido das passagens como Jerônimo pretendeu. Sobre isto, não pode haver dúvida.

 

SÃO JERÔNIMO NEGOU A AUTORIDADE DO BISPO DE ROMA?


A interpretação Anglicana foi que São Jerônimo negou o Bispo de Roma ter mais autoridade do que o bispo de Gubbio. Há quatro objeções a este ponto de vista. Primeiro, ele não diz isso; pois ele diz ejusdem sacerdotii, não ejusdem auctoritatis. Em segundo lugar, ele não teria nenhum objetivo em dizê-lo; pois ele nem sequer sugere que o Bispo de Roma foi responsável pela condução de seus diáconos, e menos ainda que ele aprovou a teoria da Mercurius, que, é claro, nenhum papa jamais fez ou poderia. Em terceiro lugar, ele não poderia ter dito isso, ou ele seria também negar que o bispo de Alexandria tinha mais autoridade do que o Bispo de Tanis, e contrariando, assim, o Concílio de Nicéia. Além de Gubbio estava abaixo do Papa como metropolitana.

Em quarto lugar, o ponto de São Jerônimo é que os bispos têm exatamente os mesmos poderes de suas ordenações, qualquer que seja a imensa diferença em sua jurisdição. Este ponto é perdido se não percebermos que a diferença entre o bispo de Roma, o sucessor do Príncipe dos Apóstolos, ou o Papa de Alexandria, que governou os bispos do Egito com o poder despótico, e um bispo ordinário da Tanis ou Régio ou Eugubium era enorme, e da mesma forma com o bispo de Constantinopla, conselheiro do imperador e um suposto Patriarca.

Se São Jerônimo tivesse inventado uma nova heresia no sentido de que todos os bispos tinham igual autoridade, ele teria expressado que com sua simplicidade habitual de expressão, e (suponho) teria sido condenado pela Igreja. Se dois cânones de Westminster, da Igreja de Cristo e do Bispo de Manchester pretende manter o mesmo ponto de vista sobre a autoridade de São Jerônimo, acho que dificilmente vai esperar que o arcebispo de Canterbury esteja satisfeito com isso.

Fora de toda essa discussão, o que podemos reunir sobre a opinião de São Jerônimo sobre da Igreja de Roma? Presumivelmente que ele tinha sentido alguma irritação pessoal em seus diáconos, e certamente que os seus costumes locais não são leis para toda a Igreja, especialmente se eles são os abusos – uma observação muito óbvia. Eu não vejo o que mais contra Roma pode ser obtido fora das duas passagens.

 

A PRIMAZIA DE JURISDIÇÃO DE PEDRO E A SUCESSÃO EM ROMA


Em favor de Roma, ao contrário, temos extraído a afirmação de que, enquanto todos os Apóstolos, como apóstolos, são exatamente iguais, mas São Pedro tinha do nosso próprio Senhor um primado de jurisdição sobre os outros, além de seu apostolado. Além disso, enquanto todos os bispos, como bispos, são exatamente iguais, alguns deles também tem um primado de competência semelhante por lei eclesiástica. Até agora, quando temos a afirmação distinta do primado de São Pedro, e a implicação distinta da, pelo menos, autoridade patriarcal para o Bispo de Roma. Mas um pouco de lógica nos levará muito mais longe.

Ninguém duvida que São Jerônimo acreditava que São Pedro tinha sido o primeiro bispo de Roma, apesar de achar que ele estava enganado. Ele disse isso em 376 d.C (“cátedra de Pedro”, “sucessor do pescador”, Epístola 15), em 380 d.C (Crônicas de Eusébio), no ano de 387 d.C (Roman translatum, em Galatás) , no ano de 389 (Orig. em Luc hom 6), no ano de 392 d.C em sua curta vida de São Pedro (Homens Ilustres I), em 402 d.C (cathedra Petri, Epístola 97), em 411 d.C (Comentário sobre Isaías, 52), e ele implica em usar o título comum “Sé Apostólica”, e em muitas passagens importantes que serão citadas mais tarde.

Uma vez que, portanto, Jerônimo acredita que um bispo é o sucessor de São Pedro, ele não vai acreditar nele para suceder ao seu primado, bem como o seu episcopado? Desde que ele declara que um primata foi necessário até mesmo entre os apóstolos, e que, sem uma monarquia sobre os sacerdotes de uma cidade lá “haverá tantos cismas, quanto há sacerdotes”, segue-se que ele deve a fortiori acreditar na necessidade de uma primado sobre a Igreja universal.

Os nossos amigos protestantes acreditam que a unidade externa não é necessária para a Igreja, e que, no meio de cismas mutuamente exclusivos uma unidade inexplicável e transcendental é preservada. Portanto a cabeça é desnecessária, então cismas, embora lamentáveis, não são destrutivos para a unidade (Com esta teoria anglicana, eu nunca entendi o que pode destruir a unidade se cisma não destrói). Mas ninguém vai fingir que São Jerônimo já sonhou em tal teoria; e sua crença (inquestionável por qualquer um, até onde eu sei) da necessidade de unidade externa imperativamente exigia uma autoridade central e suprema.

São Pedro foi, de acordo com São Jerônimo, apóstolo, primaz e bispo. Em seu apostolado, a rigor, ele não tinha nenhum sucessor, mais do que os outros apóstolos; mas ele tinha sucessores em seu episcopado. Que esses sucessores conseguiram sua primazia é também provado ter sido a crença de São Jerônimo, e não apenas por uma dedução lógica das duas passagens que os protestantes trouxeram ara provar o contrário, mas pela evidência direta de muitas outras passagens espalhadas toda a sua obra. Resta examinar estas.

 

CARTAS DE SÃO JERÔNIMO AO PAPA DÂMASO


As duas famosas cartas para São Dâmaso foram escritas por volta dos anos 376-377 d.C. São Jerônimo tinha, então, 29 anos de idade, se seguirmos Cavallera. Nascido na Panônia, ele tinha passado a sua juventude em Roma, e foi convertido para uma vida de santidade ao viajar na Gália. Seu batismo em Roma, é considerado ter sido posterior a esta por Tillemont; mas Vallarsi mostra que ele provavelmente aconteceu no início. Em 372-373 d.C ele viajou para o Oriente, e se retirou para o deserto da Síria para levar uma vida de ascetismo. É de lá que ele escreveu suas duas cartas famosas para São Dâmaso, anteriormente referidas.

Nestas, ele implora pela decisão do Papa a respeito de qual doss três requerentes da Sé patriarcal de Antioquia deve ter comunhão. Vitalis era um Apolinarista; São Melécio era suspeit de heresia ariana, por conta das circunstâncias de sua eleição; mas ele estava com medo de abraçar o partido do Paulino, porque o Oriente em geral estava do lado de Melécio. A ambigüidade da palavra hipóstase aumentou sua angústia, pois os seguidores de São Melécio, por quem ele foi cercado, se recusaram a aceitar a explicação que ele deu de sua crença sobre o assunto, e ele se queixa amargamente da perseguição que ele sofreu deles, declarando que as tendências arianas estavam latentes sob sua rejeição da expressão “uma hipóstase” na Santíssima Trindade.

As cartas são escritas no estilo elaborado dos primeiros anos de São Jerônimo, e são de vigor surpreendente e inteligência, apesar de suas afetações e exageros:

Uma vez que o Oriente, chocado contra si próprio pela fúria habitual de seus povos, está rasgando aos poucos a túnica indivisa de Cristo, tecida de alto a baixo, e as raposas estão destruindo a vinha de Cristo, de modo que entre as cisternas quebradas não há mais água, é difícil saber onde está a fonte selada e jardim fechado, considerei que devia consultar a Cátedra de Pedro e a fé elogiada pela boca do Apóstolo [Rm 1, 8], pedindo agora a comida da minha alma, onde na recebi a veste de Cristo no passado. Nem a vasta área do oceano, nem toda a largura da terra que nos separam poderia me impedir de buscar a pérola preciosa. Onde estiver o corpo, aí as águias estarão reunidas. Agora que uma progênie mal dissipou seu patrimônio, com você, somente, a herança dos Padres é conservada incorrupta. Ai a terra fértil reproduz cem vezes a pureza da semente do Senhor; mas aqui o grão de semente é sufocado nos sulcos e nada cresce, joio ou aveia. Agora é no Ocidente que o sol da justiça sobe; enquanto no Oriente, Lúcifer, que caiu, colocou o seu trono acima das estrelas. Vós sois a luz do mundo, o sal da terra. Aqui, os vasos de barro ou madeira serão destruídos pela barra de ferro e o fogo eterno.

Portanto, apesar de sua grandeza me fazer temer, a sua bondade me convida. Do sacerdote peço a salvação da vítima; do pastor a segurança de suas ovelhas. Fora com tudo o que é arrogante; que vá embora através do poder romano; Minhas palavras são ao sucessor do pescador, ao discípulo da Cruz. Não sigo nenhum líder, mas Cristo, então estou em comunhão com vossa bem-aventurança, isto é, com a cátedra de Pedro. Nesta rocha, eu sei que a Igreja é construída. Todo aquele que comer o Cordeiro fora dessa casa é profano. Se alguém não estiver com Noé na arca, ele perecerá sob a ação do dilúvio. E por causa dos meus pecados eu migrei para esta solidão, para as fronteiras da Síria sobre os bárbaros, e eu não posso sempre devido a esta grande distância pedir a sua santidade a matéria Santa do Senhor, por isso sigo aqui os seus colegas, os confessores egípcios; e sob estes grandes navios minha pequena embarcação é despercebida. Vitalis eu conheço sei, Melécio rejeito; e Eu não tenho nada a tratar com Paulino. Quem não ajunta contido, espalha; isto é, aquele que não estiver com Cristo é do Anticristo.

Agora, eu lamento dizer, aqueles arianos, os campenses, estão tentando extorquir de mim, um cristão romano, sua inédita fórmula de três hipóstases. E isto, também, após a definição de Nicéia e o decreto de Alexandria, em que o Ocidente se juntou. Onde, eu gostaria de saber, estão os apóstolos de tais doutrinas? Onde está o seu Paulo, o seu novo doutor dos gentios? Pergunto lhes quais três hipóstases eles querem dizer. Eles respondem três pessoas subsistentes. Eu replico que esta é a minha crença. Eles não estão satisfeitos com o significado, eles exigem o termo. Certamente algum veneno secreto se esconde nas palavras. Se alguém se recusar, eu grito, reconhecer três hipóstases, no sentido de três coisas hipóstatizadas, isto é, três pessoas subsistentes, seja anátema. No entanto, porque eu não aprendo suas palavras, eu estou tido como um herege. Mas se qualquer um, entendendo por hipóstase “essência”, negar que, em três pessoas não é uma hipóstase, ele não tem parte em Cristo. Porque esta é a minha confissão, eu, como você, estou marcado com o estigma do sabelianismo.

Se você acha que é melhor promulgar um decreto; e então eu não hesitarei em falar de três hipóstases. Encomende um novo credo para substituir o de Nicéia; e, em seguida, se somos arianos ou ortodoxos, uma confissão fará por todos nós. Em toda a gama do ensino secular de hipóstase nunca significou nada além de essência. E alguém pode ser mais profano do que quando fala em três essências ou substâncias na Divindade? Há uma natureza de Deus e uma somente; e isso, e isso por si só, é verdadeiro. Pois o ser absoluto não é derivado de nenhuma outra fonte, mas é próprio de si mesmo. Todas as coisas, além disso, isto é todas as coisas criadas, embora eles parecem ser, não são. Pois houve um tempo em que não eram, e aquilo que uma vez que não foi pode voltar a deixar de ser. Só Deus que é eterno, isto é, que não tem começo, realmente merece ser chamado de uma essência. Por isso, também Ele diz a Moisés na sarça, EU SOU O QUE SOU, e Moisés diz dele, EU SOU me enviou. [Êxodo 3, 14] Tanto os anjos, o céu, a terra, os mares, tudo existia na época, deve existir como o ser absoluto que Deus reivindicou para si mesmo esse o nome da essência, que, aparentemente, era comum a todos. Mas porque Sua natureza por si só é perfeita, e porque nos três pessoas subsistem, mas uma é a divindade, o que realmente é e é uma natureza; todo aquele que em nome da religião declara que há na Divindade três elementos, três hipóstases, isto é, ou essências, se esforça muito para predicar três naturezas de Deus. E se isso é verdade, por que estamos cortados por muros de Ário, quando na desonestidade somos um com ele? Que então Ursicinus seja amigo de sua bem-aventurança; que Auxentius seja associado com Ambrósio. Mas a fé de Roma nunca poderá chegar a esse ponto! Que os corações devotos de seu povo nunca sejam infectado com tais doutrinas profanas! Estejamos satisfeitos em falar de uma substância e de três pessoas subsistindo – perfeitas, iguais, co-eternas. Vamos manter uma hipóstase, se tal for o seu prazer, e não falar de três. É um mau sinal quando aqueles que falam a mesma coisa usam palavras diferentes. Estejamos satisfeito com a forma de credo que temos utilizado até agora. Ou, se você acha isso correto que eu deva falar de três hipóstases, explicando o que eu quero dizer com elas, eu estou pronto a me submeter. Mas, acredite em mim, há veneno escondido sob o mel deles; o anjo de Satanás transformou-se em anjo de luz. [II Coríntios 11, 14] Eles dão uma explicação plausível para o termo hipóstase; mas quando eu professo mantê-la no mesmo sentido, eles tratam como herege. Por que eles são tão tenazes em uma palavra? Por que eles abrigam-se sob uma linguagem ambígua? Se sua crença corresponde a sua explicação sobre isso, eu não condeno-os por tela. Por outro lado, se a minha crença corresponde às suas opiniões expressas, devem permitir-me expor seu significado em minhas próprias palavras.

Eu imploro a sua bem-aventurança, portanto, pelo crucificado Salvador do mundo, e pela Trindade consubstancial, para me autorizar, através de carta, de usar ou de recusar esta fórmula de três hipóstases. E para que a obscuridade da minha morada atual, não possa confundir os portadores de sua carta, peço-vos a dirigir-se a Evágrio, o presbítero, com quem você está bem familiarizado. Peço-lhe também para me dizer com quem me comunico em Antioquia. Não, eu espero, com os campenses; pois eles – tem como seus aliados os hereges de Tarso – e apenas desejam comunhão com você para pregar com mais autoridade a suas doutrinas tradicionais de três hipóstases.” (Epístola 15 – Ao papa Dâmaso 376 d.C)

Depois de não obter resposta, ele escreveu outra casa poucos meses depois:

A mulher importuna no Evangelho mereceu longamente para ser ouvida, e, embora à meia-noite, a porta estando fechada, o amigo recebeu o pão do seu amigo. O Próprio Deus, que não pode ser superado por nenhum poder adverso, é conquistado pelas orações do publicano. A cidade de Nínive, que estava para ser destruída por seus pecados, foi salvo por sua oração. Porquê começar com esta longa lista? Para que a sua grandeza possa olhar para a minha pequenez, o rico pastor não despreze uma ovelha doente. Cristo trouxe o ladrão ao Paraíso na cruz, e assim, para que ninguém pensasse que o arrependimento pode vir tarde demais, a recompensa do assassinato foi transformada em um martírio […]

Eu, portanto, como eu escrevi antes, que recebi a veste de Cristo na cidade de Roma, agora estou morando na fronteira bárbara da Síria, e (que você não pense que eu recebi esta frase de outro) eu próprio decidi a minha própria punição. Mas, como o poeta gentio diz: Coelum non animum mutante qui currunt mare trans. Meu inimigo incessante tem perseguido os meus passos, para que eu tenha somente batalhas ferozes no deserto. Por um lado a tempestade furiosa dos arianos, apoiado pelos poderes do mundo. Por outro lado, a Igreja, dividida em três partes, tenta me agarrar. A autoridade dos antigos monges que habitam no entorno se levantou contra mim. Enquanto isso, eu clamo em alta voz: Se alguém está unido à Cátedra de Pedro, ele é meu! Melécio, Vitalis e Paulino dizem que aderem a você. Se um deles afirmasse isso, eu poderia acreditar nele. Mas agora quer dois ou todos os três estão mentindo. Por isso peço a vossa Beatitude pela Cruz do Senhor, pela glória essencial da nossa fé, pela Paixão de Cristo, que é o sucessor dos Apóstolos em dignidade fosse o seu sucessor no mérito também. Que você possa julgar em um trono com os Doze, que outro cinja-vos como Pedro na velhice, que ganhe como Paulo a cidadania do céu, se você me disser por carta com quem eu devo me comunicar na Síria. Não despreze uma alma pela qual Cristo morreu.” (Carta XVI – Ao Papa Dâmaso)

Passando por cima das dificuldades de tradução e da data exata, vamos resumir a doutrina que a carta implica a respeito do Papa.

Primeiro que o Papa se sentou na cadeira de Pedro, e foi o sucessor do pescador, foi repetido com frequência por São Jerônimo, anos mais tarde, como já vimos. Mas alguns pontos mais notáveis podem ser recolhidos. Em primeiro lugar, a Cátedra de Pedro é a rocha sobre a qual está construída a Igreja. Todo mundo sabe que a Rocha é, em primeiro lugar, Cristo; e de Pedro, ou a fé de Pedro, da sua semelhança e união com Cristo; Petrus a Petra, diz Santo Agostinho, muitas vezes, e Leão I explica a mesma coisa em uma passagem muito conhecida para precisar citar (St. Agostinho Serm. 295; Leão I Serm. 3 sobre Assumpção; Ego inuiolabilis Petra, etc). Como um fundamento deve ser permanente, os sucessores de São Pedro, ou a sua fé, permanecem na fundação da Igreja no mesmo sentido. Palavras de Santo Agostinho são bem conhecidas:

Numerate sacerdotes uel ab ipsa Petri sede, Et in ello ordine patrum quis cui successit uidete; Ipsa est Petra quam non uincunt superbae inferorum portae.

Tradução:

Enumere os sacerdotes que subiram a sé de Pedro e nela ordene os pontífices que lhe sucederam; Está é a rocha que as portas do inferno não vencem” (Salmo Contra a seita de Donato)

Nota: Sabemos que Santo Agostinho não mudou seu ponto de vista nos últimos anos quanto ao mérito deste ditado, pois suas ações provam isso; e, sem dúvida, se tivesse feito isso, suas Retratações teriam sido mais explícitas sobre o assunto. De fato, embora, ele viesse a preferir a vista (embora aparece insustentável pela maioria), que as palavras de super hanc petram se referissem a nosso próprio Senhor, mas ele não rejeitou sua primeira interpretação, mas ele assume que não há falta em entender a doutrina que ele se baseou sobre isso e nas seguintes palavras. Eu tenho que dizer isso por causa de o Frei anglicano Puller diz que Santo Agostinho era jovem quando escreveu isso, e mudou de idéia mais tarde (ver Retração I).

Em segundo lugar, a Sé Romana é, portanto, o centro de comunhão para toda a Igreja; e qualquer um que esteja fora da comunhão com ele está fora da Igreja: “estou em comunhão com vossa bem-aventurança, isto é, com a cátedra de Pedro. Nesta rocha, eu sei que a Igreja é construída. Todo aquele que comer o Cordeiro fora dessa casa é profano. Se alguém não estiver com Noé na arca, ele perecerá sob a ação do dilúvio.” e“Quem não ajunta contigo, espalha; aquele que não estiver com Cristo é do Anticristo.”.

E parece que os orientais concordaram com essa visão. São Jerônimo não fala nada de qualquer dissensão com eles sobre esta questão vital, e teria imediatamente declarado que eles não estavam na Arca, se tivessem negado essa necessidade de união com Roma. Ele fala que seguidores de São Melécio “desejam nada mais é do que a pregar três hipóstases no sentido herético, auctoritate Communionis uestrae fulti.”.  E na segunda carta, a resposta para o grito de São Jerônimo: “Se algum estiver unido à Cátedra de Pedro, ele é meu”, essa é uma afirmação dos três pretendentes rivais da cadeira de Pedro de Antioquia que eles têm que a comunhão com São Dâmaso que irá autorizar tanto a sua reivindicação quanto seu ensino, tibi haerere se dicunt.

O autor anglicano Dr. Bright friamente diz:

Isso, obviamente, significa concordar com Dâmaso en razão fé, o que, de fato, Melécio fez.” (A Sé Romana na Igreja Primitiva, página 107)

Este é realmente o descuido imperdoável. “Eu podia acreditar”, continua St. Jerome, “se um deles afirmasse isso; agora, ou 2 deles estão mentindo, ou então todos os três.’ Este obviamente significa que apenas um dos três bispos rivais poderiam estar em comunhão com Roma, e não apenas isso, apenas um dos três poderia seriam ortodoxos!

Nem a exclamação de São Jerônimo dizer: “Eu vou me comunicar com quem quer que seja o bispo legítimo, provado ser assim pela comunhão com Roma”, pois ninguém nunca suspeitou da ortodoxia de Paulino (as acusações de sabelianismo não foram muito graves, mas uma espécie de tu quoque), e ele não se aventurou, finalmente, a condenar seus dois rivais, ou não teria havido necessidade de escrever ao Papa. Ele quis dizer, é claro, “Eu vou comunicar com quem quer que seja o bispo legítimo”. Não houve patriarca ou metropolitana acima de Antioquia, e a questão era para Roma para decidir.

Nota: De fato nenhum dos três estava mentindo, já que Roma ainda não havia excomungado nenhum. Mais tarde, como todos sabem, Dâmaso, como Atanásio, deu plena comunhão a Paulino, sem se aventurar excomungar São Melécio, cujos adeptos eram tolerados, e que foi confirmado por todo o Oriente. Era um estado desconfortável de coisas, mas talvez, depois dos longos e infelizes atrasos que fizeram são Basílio ficar raivoso, que pode ter havido nenhuma maneira melhor. Se alguém escolhe encontrar falha na política e conduta de Roma e Egito, não tenho nenhuma objeção a fazer, pois São Basílio estava no local. Mas um católico é mais inclinado a pensar que a lentidão proverbial de Roma era mais prudente do que a impetuosidade de tão grande santo; e são Basílio foi menos cuidadoso do que Santo Atanásio sobre a ortodoxia.

Em terceiro lugar, como a Sé de Roma é o centro necessário da ortodoxia, a fé romana deve ser perfeita e imutável. O bispo e sua Igreja são um; pois ele é o representante de sua fé, e seu professor. Nos séculos iniciais, portanto, “a fé romana” era um provérbio para a sua pureza e infalibilidade. Quando o Bispo de Roma decidia um ponto de fé, ele estava declarando a fé inalterável de sua Igreja; a fé de Pedro elogiada por Cristo, a fé elogiada por Paulo em sua epístola. Era o orgulho de cada Romano compartilhar esta fé, e é um orgulho que São Jerônimo sentiu ao longo de sua vida. Este é o primeiro lugar em que ele fala da Cátedra de Pedro e a fé elogiada por Paulo, mas veremos que é o primeiro de uma longa série. “A descendência do mal dissipou o patrimônio deles.”, em meio a heresia o oriente perdeu a herança da fé; em Roma, somente está a verdadeira semente plantada e nutrida para o crescimento integral;

“Vocês são a luz do mundo, o sal da terra. Um novo credo me é  ensinamno, Romanum hominem -romano por nascimento espiritual – nas palavras dos arianos. Que isso fique longe da fé romana! Que os corações religiosos do povo não bebam tal impiedade!

Para ao povo romano São Jerônimo atribui um presente especial de devoção e simplicidade da fé, que os protege do erro. Os indivíduos, e até mesmo um grande número, pode, é claro, caírem no erro; e veremos mais adiante a angústia de São Jerônimo quando ele pensa que a fé romana está sendo enganado por Rufino ou pelagianos.

Por fim, São Jerônimo implica dois poderes no Papa; o primeiro, como vimos, de decidir qual é o verdadeiro bispo de Antioquia, e o outro de decidir um ponto de doutrina. Era certo ou não dizer há três hipóstases na Trindade? Ele vai obedecer, mesmo que a decisão do Papa seja uma adição ao credo de Nicéia, e ao contrário do uso literário, embora ele argumenta fortemente contra uma decisão afirmativa. Na segunda carta, ele pede o Papa, que segue Apóstolos no cargo, a segui-los também na bondade (ut qui apostolos honore sequeris sequaris et merito). Não podemos tomar apostolos para todos os Apóstolos; uma vez que o Papa não sucessedeu os cargos deles, e não é estritamente um Apóstolo. São Pedro e São Paulo são, provavelmente, os quais ele quer mencionar. Mas a expressão é apenas uma amplificação oratória do habitual apostolica sedes, apostolatus uester (como uma forma de direcionamento). Ainda assim, certamente implica mais do que aquela que o Papa é bispo de uma Sé fundada por um Apóstolo.

Eu não desejo pressionar tudo isso como sendo uma declaração distinta da infalibilidade ex cathedra do papa, ou da sua superioridade sobre um Concílio Ecumênico. Estas são expressões modernas; Eu apenas sugiro que a ideia disso não estava muito longe da mente de São Jerônimo.

O que estamos pensando Janus von Dollinger observa:

Ele, então, apela ao Papa com cortêses e altissonantes profissões de submissão incondicional à sua autoridade, mas ao mesmo tempo com um tom ameaçador estritamente, pronunciar-se sobre este termo no sentido necessário para justificá-lo.

Imagine um jovem leigo ameaçando o Papa! Janus continua:

Na verdade, ele deu a São Cirilo de Jerusalém, a quem tinha enviado a sua profissão de fé, tão alto lugar quanto ao Papa. Embora Cirílo, com boa base, pensou no caso como suspeito, e não lhe deu resposta.” (O Papa e o Concílio, Tradução Inglessa, 1873, pref. P. XXV, nota)

A referência é a Epístola 17, 4, quando um desconhecido Cirílo é mencionado, provavelmente (como diz Cavallera, p 55.) um bispo ou padre próximo. Toda a sentença é, naturalmente, um tecido de absurdos e não tem fundamento, é somente uma imaginação engenhosa do apóstata que escreveu isso. (Posso ser perdoado aqui por mencionar a mim mesmo, e agradecer ao Dr. Littledale e Janus pela ajuda que me deram quando eu era um protestante até a minha conversão?) A tentativa de verificar algumas de suas declarações foi mais esclarecedora.

Com estas cartas podem ser comparados Epístola 17 ad Marcum, enquanto a enumeração elaborada de textos da Escritura em que solicita uma resposta pode ser acompanhada por Epístola 11 ad Virgines Aemonenses, escritas também na juventude do santo. Mas agora temos a sua vida mais tardia a considerar.

Em setembro de 382, após o Concílio de Constantinopla, São Jerônimo, que tinha, entretanto, sentado aos pés de “o teólogo”, Gregório de Nazianzeno, acompanhou Santo Epifânio e Paulino a Roma. Ele foi ordenado sacerdote pelo último algum tempo antes de Antioquia. São Dâmaso  o nomeou seu secretário, como ele nos diz quando se relaciona a história da mulher que foi enterrada em uma espécie de triunfo público pelo seu vigésimo terceiro marido, sendo ela sua vigésima segunda esposa:

Quando eu estava ajudandoi Dâmaso, bispo de Roma, em seus documentos eclesiásticos (em Chartis ecclesiasticis iuuarem), e escrevendo suas respostas às consultas sinodais do Oriente e do Ocidente...”. (Epistola 123, 10)

As cartas de São Dâmaso estão quase todas perdidas, mas muitos daqueles de seus sucessores imediatos sobreviveram. Todos estão no mesmo estilo: assumindo e, muitas vezes expondo as prerrogativas da Sé Apostólica, e exercendo uma jurisdição sobre toda a Igreja, depondo os bispos, fazendo cumprir as leis sob excomunhão, confirmando ou anulando as decisões dos sínodos, reprovando, elogiando, exortando todas as partes do mundo. É esse tipo de carta decretal que São Jerônimo tinha que escrever. Ele veio a considerá-las mais tarde como Fr. Puller e Dr. Bright fariam, como meros exemplos de arrogância contrários às leis da Igreja? Ele não, pelo menos, demonstra qualquer sinal de arrependimento nesta simples citação, escrita na velhice, 409 d.C.

UMA OBJEÇÃO DO BISPO ANGLICANO GORE: JERÔNIMO MUDOU SUA OPINIÃO


Em Roma, São Jerônimo continuou seus hábitos ascéticos, e foi muito cortejado como favorito do Papa. Mas quando ele se comprometeu a ser o guia espiritual da nobre senhora Paula, ele declara que ele de repente viu que a adulação da cidade virou abuso. A morte do Papa, sem dúvida, tinha algo a ver com a mudança, e língua violenta do homem santo mais ainda. Ele achou Roma insuportável, e voltou para o Oriente. Em uma carta escrita em Roma (Epístola 33), ele se refere a Aristippi e Epicuri do clero romano, mas em sua carta de despedida para Asella (Epístola 45, em agosto de 385), ele fala da sociedade em geral, como seus detratores. Ele diz que até recentemente omnium pene judicio dignus Summo sacerdotio decernebar. Daí nota que o bispo Anglicano Gore conclui:

Em anos iniciais de Jerônimo seu tom é papal, por exemplo, em suas cartas a Dâmaso do Oriente, 375-380 d.C (Epistolas 15 e 16). Posteriormente, desgostoso com os costumes romanos e decepcionado com o episcopado romano, ele rompeu com a Igreja em 385 d.C, e seu tom abusivo sobre o clero romano é posterior a esta data, por exemplo, Ep 52 a Nepociano é pós 393 d.C seus comentários sobre o NT, que contêm as passagens minimizando o múnus episcopal, por comparação com o presbitério, data de 386-392 d.C. Sua carta para Evangelus (Ep 146) é marcada por seu tom hostil em direção a Roma pois pertence ao período posterior a qualquer taxa de 385 d.C, e Ep 69 ad Oceanum é de cerca de 400 d.C” (Gore, A Igreja e o Ministério, 2 ª ed, cap 3, p. 172, nota)

Há um ar de erudição sobre esta nota elaborada que é calculada para enganar os incautos. Porém (a) São Jerônimo dificilmente poderia mencionar decepção com o Papa ou bispo de Roma por que não havia nenhum eleito de maneira aberta. Ele está apenas relacionando o que foi dito sobre ele, e disse sem sinceridade. (b) O abuso de São Jerônimo do clero romano foi escrito antes de deixar Roma, e foi a causa de ser perseguido e de sua partida, e não o seu efeito. A famosa carta a Eustochium sobre virgindade contém uma passagem (Ep 22, 28) que foi um grande motivo de escândalo (cf. Ep 27, ambos escritos pouco antes de deixar Roma). O prefácio da tradução a Dídimo De Spiritu Sancto foi escrito não muito tempo depois de sua partida, e não precisou se referir principalmente ao clero. (c) A carta a Nepociano, escrita nove anos mais tarde, em Belém, e enviado para Altinum, não contém nada sobre o clero romano, embora inclua certas advertências contra a arrogância dos bispos, que seria mais provavelmente sugerida por sua disputa recém começada com João de Jerusalém, do que por qualquer decepção por não ter sido feito Papa.

Dizem que o que o anglicano Gore fala da sua desvalorização do ofício episcopal como uma questão da raposa e das uvas. Mas vimos acima, que essa depreciação é fundamentada em uma teoria que aparece no diálogo de Jerônimo contra os luciferianos, que foi escrita antes mesmo que ele fosse para Roma; embora ele use uma teoria nessa carta para mostrar a necessidade de episcopado, uma necessidade que ele nunca duvidou em qualquer momento de sua vida.

(d) Quanto aos comentários sobre a NT, é evidente o que a passagem daquele comentário sobre a Epístola a Tito, já citado, quer dizer. O que na terra tem essa “desvalorização do ofício episcopal” a ver com o Papa? (e) A carta a Evangelus vimos que não é marcada por nenhum tom hostil a Roma; enquanto a sua data é bastante insignificante, tendo em conta outras provas, mesmo que fosse realmente anti-papal. (f) A carta de Oceanus, de fato, menciona a visão de São Jerônimo da identidade de bispos e padres, mas, repito, ele tinha essa opinião antes de ir para Roma. Esta carta (Ep 69, escrita depois de 395 e antes de 401 d.C) defende uma opinião sobre a segunda união que é contrária à decisão de Siricius em seu decreto a Himerius, escrito fevereiro 385 d.C. São Jerônimo estava, talvez, só nos primeiros problemas que sucederam a morte de São Dâmaso, e, aparentemente, ele não sabia nada sobre a carta.

Logo após a chegada de São Jerônimo, no Oriente, ele escreveu uma carta a Paula e Eustóquio, que se juntaram, a Marcella, para convidar essa nobre e santa senhora para participar de sua comunidade nascente em Belém. Ele contrasta a barulheira do grande capital, com a calma e as memórias sagradas de berço do Salvador. Mas não há depreciação de Roma a partir de um ponto de vista eclesiástico:

Há, de fato, uma Igreja santa, e os troféus dos Apóstolos e mártires, e a verdadeira confissão de Cristo; há a fé que foi elogiado pelo Apóstolo, e que o nome de Critão que se empina diariamente sobre as ruínas da paganismo;…”. (Ep 46  386 d.C)

Um pouco mais tarde São Jerônimo fala Paula e sua filha em um modo semelhante:

Vocês gostariam de saber, ó Paula e Eustóquio, como o apóstolo observou cada província com sua própria característica particular? Mesmo até nossos dias os vestígios das mesmas virtudes ou defeitos podem ser rastreados. É a fé do povo romano a qual ele elogia. e onde mais podemos ver tão ardentemente um concurso para as igrejas e os túmulos dos mártires? Onde é que o ‘amém’ assim ressoa como o trovão do céu, e agita os templos dos ídolos? Não que os romanos tenham outra fé diferente de todas as Igrejas de Cristo, mas que eles têm uma maior devoção e simplicidade em acreditar...” (cf. Rm 16, 17-19, 12: 15-16, Comentário ao Gálatas)

Aqui não se trata de irritação com a Roma, nem de mudança em sua estimativa do dom da fé romana. No mesmo comentário, encontramos muito sobre São Pedro. No primeiro capítulo São Jerônimo enuncia (com Orígenes, Apolinário, Crisóstomo e outros) a visão que Santo Agostinho mais tarde se opôs, viz. que a repreensão de São Pedro por São Paulo em Antioquia (Gl 2, 11) era apenas um faz de conta. Aqui está uma passagem característica:

‘Então, depois de três anos, vim a Jerusalém para ver a Pedro.’. Não que ele pudesse ver seus olhos e bochechas e rosto, seja magro ou gordo, se o seu nariz estava curvo ou reto, se sua testa estava coberta de cabelo, ou (como diz Clemente na Periodi) se a sua cabeça era careca. Também não acho que de acordo com a gravidade de um apóstolo que ele desejou ver nada humano em Pedro, após estes longos de três anos de a preparação. Mas ele desejava vê-lo com aqueles olhos com que Ele mesmo é visto em suas epístolas. Paulo olhou para Cefas com aqueles olhos pelos quais ele próprio é visto pelo sábio. Se alguém discorda que ele defenda esta passagem com as palavras anteriores, que os Apóstolos não lhe ensinaram nada. Por que ele achou apropriado ir a Jerusalém, não foi com o propósito de ver o apóstolo, não era com o desejo de aprender (pois ele também tinha a autoridade de Cristo para o seu ensino), mas de dar honra ao primeiro (ou de priori mais eminente) Apóstolo.”. (Comentário ao Livro dos Gálatas Livro I, 1, 18).

Muito para a superioridade de São Pedro para São Paulo. Sobre a visão dos antigos desta passagem de São Paulo e do testemunho que eles dão para a supremacia de São Pedro, ver por todos os meios a grande obra de Passaglia, Commentarius de praerogativis beati Petri apostolorum principis, Ratisb 1850, Bk I, c. 24, p. 217-245. (Com priori Apostolo cf. praecessori Apostolo; e Posteriores — inferiores, Ep 116 (Agostinho)).

Mais adiante ele cita Orígenes quanto à tradução de São Pedro de Antioquia a Roma, como foi mencionado acima. Em 393 d.C São Jerônimo escreveu o livro contra Joviniano, que havia publicado heresias em Roma até então inéditas, mas agora, ala, muito bem conhecidas. Uma passagem desta obra já foi discutida em profundidade. Cito ainda mais dela:

Não havia outra província em todo o mundo que pudesse receber o evangelho de prazer, e em que a serpente não pudesse insinuar-se, exceto aquele que foi fundada pelo ensinamento de Pedro, sobre a rocha de Cristo?.”(Contra Joviniano Livro II, 37)

Sem hesitação a ser traçado aqui em sua confiança na fé romana. Ele termina o livro com o seguinte apelo:

Mas agora vou me dirigir a você, grande Roma, que com a confissão de Cristo apagou a blasfêmia escrita sobre sua testa. Cidade Poderosa, amada cidade do mundo, cidade de louvores do Apóstolo, mostra o significado do seu nome. Roma é tanto força em grego, quanto a altura em hebraico. Não perca a excelência que seu nome implica: a virtude levanta-a no alto, não deixe a volúpia trazer-lhe para baixo.(Contra Joviniano, Livro II, 38)

No ano de 392, foi publicado o livro, De uiris illustribus, a primeira biografia sendo que “Simão Pedro, príncipe dos Apóstolos”, que ocupou a cadeira sacerdotal em Roma por 25 anos. No final de 397 d.C, ele escreve a São Pamáquio, que após a morte de sua esposa estava vivendo uma vida ascética em Roma, louvando a Roma, que agora possuía uma vez  o mundo não sabia, viz. vida monástica (Ep 66).; e, em uma carta a Teófilo, patriarca de Alexandria, durante a sua disputa com seu bispo, João de Jerusalém, ele diz:

Eu agradeço a sua lembrança sobre os cânones da Igreja. Verdadeiramente, a quem o Senhor ama, ele castiga, e açoita a todo filho a quem recebe. [Hebreus 12, 6] Ainda gostaria de assegurar-lhe que nada é mais do que o meu objectivo de manter os direitos de Cristo, para manter as linhas estabelecidas pelos pais, e sempre se lembrar da fé de Roma; que a fé, que é elogiada pelos lábios de um apóstolo [Romanos 1, 8] e de que a Igreja de Alexandria se vangloria de ser participante.” (Ep 63 A Teófilo – Bispo de Alexandria- 397 d.C)

Portanto, a fé de Roma, é conservada pura por um dom especial de devoção, fundada sobre a rocha, Cristo, por São Pedro e elogiada por São Paulo, que era loucura de Joviniano tentar perturbar, é a norma para o mundo e, a segunda sé da cristandade se gloria em compartilhá-la. O que mais é dito nas cartas a Dâmaso do que está implícito nestas passagens posteriores?

No livro contra João de Jerusalém, ele reprova, assim, seu bispado oportunista:

João escreve ao Bispo Teófilo um pedido de desculpas, da qual a introdução é assim: “Você, de fato, como um homem de Deus, adornado com graça apostólica, têm sobre si o cuidado de todas as Igrejas, especialmente daquela que está em Jerusalém, embora você mesmo está distraído com inúmeras ansiedades para a Igreja de Deus, que está em você.” Este é adulação descarada, e uma tentativa de concentrar autoridade nas mãos de um indivíduo. Você, que pede regras eclesiásticas, e faz uso dos cânones do Concílio de Niceia, e a autoridade reivindicada sobre clérigos que pertencem a outra diocese e estão, na verdade, vivendo com seu próprio bispo, responda à minha pergunta, o que tem a Palestina a ver com o bispo de Alexandria? Se não estou enganado, é decretado nos cânones que Cesaréia é a metrópole da Palestina e Antioquia de todo o Oriente. Você deve, portanto, querer apelar para o bispo de Cesaréia, com quem você sabe que temos comunhão enquanto desdenha se comunicar com você, ou, se o julgamento fosse procurada a distância, cartas deve sim ser endereçadas a Antioquia. Mas eu sei por que você não estava disposto a enviar para Cesaréia, ou a Antioquia. Você sabia do que fugir, do que evitar. Você preferiu atacar com seus ouvidos queixosos que estavam preocupados em vez de prestativos a devida honra ao seu metropolitana.” (Carta a Pamáquio contra João de Jerusalém, 37)

João acusou Santo Epifânio de violar um cânon de Nicéia ordenando Pauliniano, irmão de São Jerônimo, na Palestina. De fato, Pauliniano não era um assunto de João, e a ordenação não ocorreu dentro de sua diocese. Santo Epifânio por sua vez acusou João de manter os erros de Orígenes. O Bispo de Jerusalém tentou obter um testemunho de sua ortodoxia de Teófilo de Alexandria; daí a sua linguagem polida para esse prelado. É notório que João, Epifânio, e Teófilo ram ao Papa São Sirício, tentando obter a sua influência sobre o seu lado nesta disputa puramente oriental (Cf. Joannem Hieros, c. 37, vol II).

Claro São Jerônimo sabia muito bem que João estava longe de intenção de tratar Teófilo como seu metropolitana. O “cuidado de todas as Igrejas” refere-se às cartas pascais que Teófilo publicou de acordo com o costume. A lembrança de que Jerusalém estava sujeita a Cesaréia, e a própria Caesarea a Antioquia, seria particularmente irritante para o bispo de uma ver que dentro de 50 anos depois foi reconhecida como um patriarcado. A importância dessa passagem é apenas para mostrar o quanto São Jerônimo foi por volta do ano 399 d.C para dizer que o bispo de Alexandria não tinha mais autoridade do que o Bispo de Tanis. Este bispo de Jerusalém era tanto bispo quanto o bispo de Cesaréia ou de Antioquia, mas era inferior em jurisdição.

O ELOGIOA ROMA EMCONTRARUFINUM(APOLOGIA CONTRARUFINO)


A briga mais séria foi perturbar a serenidade de Belém. Rufino publicou no final de 398 d.C a tradução do Grego de Orígenes, no prefácio do qual ele se referiu a São Jerônimo, então no auge de sua fama, como exemplo e modelo, parecendo, assim, acusa São Jerônimo de aprovar os erros de Orígenes, porque ele tinha traduzido muitos dos seus sermões. Pamáquio e Oceano escreveram de Roma a São Jerônimo, enviando-lhe este prefácio, e pedindo-lhe para se justificar.

Na resposta de São Jerônimo a esta carta, ele diz:

Quem quer que você seja que está ensinando novos dogmas, peço-lhe para poupar os ouvidos romanos, poupar a fé que foi elogiada pela boca do Apóstolo. Porque depois de 400 anos você tenta nos ensinar o que não sabiamos até agora? Por que você produz doutrinas que Pedro e Paulo não pensaram em proclamar? Até este dia, o mundo tem sido cristão sem a sua doutrina. Vou me segurar aquela fé em minha velhice em que eu fui regenerado quando menino.”. (Epístola 84, 8 a Pamáquio e Oceano)

Nenhuma dpuvida aqui sobre a mudança de sua mente. A fé de Roma, que ele recebeu na fonte ainda é sua. Ele tinha aprendido em Roma (Dr. Bright atesta isso) essas expressões fortes sobre a necessidade de comunhão com a Santa Sé e a inviolabilidade da fé dela que ele tinha usado para São Dâmaso quando ele tinha trinta anos; aos cinquenta ele ainda está muito orgulhoso por ter sempre sido um Romano.

Rufino enviou um pedido de desculpas ao Papa, e encontrando Roma quente demais para ele, obteve uma carta de São Siricius (apenas um passaporte eclesiástico, como um celebret moderno) e foi para Aquileia, o lugar do seu batismo. Mas São Siricius logo morreu, e Anastácio, o seu sucessor, condenou sua tradução. Em 401 Rufino publicou três livros contra Jerônimo, que este respondeu, sem tê-los visto em dois livros Contra Rufinum, e logo em seguida acrescentou um terceiro.

Rufino disse em seu prefácio, que Jerônimo, na tradução de mais de setenta homilias de Orígenes, purificou-as cuidadosamente de todos os erros. Ele não pode, então, argumenta Jerônimo, me acusar de ser um herege:

Ao mesmo tempo, aproveito para lhe fazer também esta pergunta: Que quer dizer esta linguagem moderada e dúbia? ‘O leitor latino, diz ele, nada encontrará aqui que esteja em desacordo com nossa fé.’ O que ele chama “sua” fé? Aquela pela qual a Igreja romana exerce seu poder ou aquela que está contida nos volumes de Orígenes? Se ele responde: a fé romana, então nós somos católicos, nós que nada traduzimos do erro de Orígenes.” (Contra Rufino I, 4)

Há mais sobre a fé romana e ouvidos romanos que vale a pena citar; mas aqui estão exemplos:

Depois que li e confrontei com o texto grego, percebi imediatamente o que Orígenes havia dito sacrilegamente acerca do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e o que, sendo modificado pelo tradutor, para um sentido melhor, os ouvidos romanos não podiam suportar;” (Contra Rufino I, 6)

Eu tinha traduzido para o latim setenta de seus livros, como meu amigo me acusa, e muitos de seus tomos. Nunca meu trabalho suscitou algum problema, nunca Roma se levantou contra eles.” (Contra Rufino I, 8)

São Jerônimo exorta Rufino com as cartas de São Epifânio e Teófilo contra ele, e com as de Papa Anastácio, que seguem o herege em todo o mundo (ibidem, I, 10, e I, 12). Rufino tinha dirigido um pedido de desculpas ao Papa, assim como Pelágio, Celestius e Bachiarius fizeram sob acusações semelhantes, e, como eles, declara que mantém a fé romana. Ele não:

deseja limpar qualquer mancha de suspeita da santa mente do Papa, que, como um santuário de Deus, não receberia nada injusto, mas para dar-lhe esta confissão de fé como um pedaço de pau para bater seus inimigos e rivais quando eles latissem contra ele.” (Rufino: ad Apol Anast I, Migne vol XXI, 623)

Ele concluiu:

E eu, além dessa fé que tenho exposto, isto é, que a Igreja Romana, e de Alexandria e minha própria de Aquileia tem e que é pregada em Jerusalém, nunca tive qualquer outra, nem eu, em nome de Cristo, nem nunca terei.

De tudo isto São Jerome faz graça (cf. C. Ruf II, 1; 10;14), e continuamente se refere às cartas de São Anastácio, que condenaram sua tradução, embora como um fato que não condena o próprio Rufino. A principal dessas cartas, uma a João de Jerusalém, e outra para Simpliciano de Milão, ainda existem. Eu não cito-as pois ninguém pode duvidar da maneira decisiva em que os papas daqueles dias deram suas decisões, e a visão que mantinham a suas prerrogativas. Se São Jerônimo, que já compôs cartas semelhantes para São Dâmaso, tinha chegado a desacreditar na supremacia Papal, ele não era um homem de segurar a língua; e, embora as cartas fossem a seu favor, ele teria protestado contra a suposição insolente de autoridade que elas explicitam, com a franqueza de quem gosta de chamar os bois por um nome mais convincente.

Rufino também traduziu um pedido de desculpas por Orígenes, sob o nome de São Pânfilo, o amigo do Eusébio. São Jerônimo negou sua autenticidade:

Sabe, porém, que a fé romana, louvada pela voz do Apóstolo, não admite artifícios desta natureza, e que, mesmo se um anjo anunciasse diferentemente do que foi pregado uma vez por todas, a fé sustentada pela autoridade de Paulo não poderia mudar. Portanto, irmão, que o livro tenha sido falsificado por ti, como muitos pensam, ou então por outros, como tu talvez tentas convencer-nos – e levianamente acreditaste que a obra composta de um homem herege fosse de um mártir! –, muda o título e livra a simplicidade romana de tão grande perigo.” (Contra Rufino III, 12)

Entretanto, eu admiro que a Itália aprove o que Roma desprezou, que os bispos tenham aceitado o que a Sé Apostólica condenou.” (Contra Rufino III, 15)

Rufino acusou São Jerônimo de ter forjado a carta de Santo Atanásio que o condenou. “Por que”, diz ele, “que você não vai perguntar sobre isso no chartarium romano?”.

Vai antes a Roma e, pessoalmente junto de Anastácio, pede satisfação do motivo pelo qual a ti, ausente e inocente, ele tenha feito esta afronta: primeiro, porque não admitiu a exposição da tua fé, que, como escreves, toda a Itália ratificou, e não quis servir-se do cajado da tua carta contra os cães lançados após ti; em seguida, para enviar-te epístolas ao Oriente contra ti, para queimar-te, enquanto não sabes, como cautério da heresia, e dizer que, se os livros de Orígenes Perì Archôn foram por ti traduzidos e entregues à plebe simples da igreja romana, era para que perdessem a verdade da fé que eles aprenderam do Apóstolo, e depois, para que suscitasse contra ti a maior hostilidade, tenham ousado incriminar estes mesmos livros reforçados pelo testemunho de teu prefácio. Não é leve a acusação que te lança o pontífice de tão grandiosa cidade, ou então ele levou em consideração levianamente a acusação que outro introduziu.”(Contra Rufino III, 20)

Tu levas adiante a epístola de Sirício, que já dorme no Senhor, e tu desprezas o que diz Anastásio, que está vivo. O que pode, com efeito, causar-te estorvo, como dizes, que, sem que saibas, ele tenha escrito ou, por acaso, não tenha escrito? Mesmo se ele escreveu, o testemunho do mundo inteiro te basta que “a ninguém parece verdade que o sacerdote de tão grande cidade tenha podido causar prejuízo a um inocente ou a um ausente”. Tu te declaras inocente, a ti cuja tradução fez Roma tremer; ausente, quando acusado, não ousas responder. E tu foges a tal ponto ao julgamento da cidade de Roma que preferes enfrentar o assédio bárbaro à sentença de uma cidade pacífica. Admitamos que eu tenha forjado a carta do ano passado. Quem enviou ao Oriente os escritos recentes, nos quais o papa Anastásio te adorna com tantas flores que, quando os tiveres lido, tu começarás a querer mais defender-te que acusar-nos?”(Contra Rufino III, 21)

Vê quanto eu te temo: se poder produzir uma pequena página do bispo de Roma ou de uma outra igreja contra mim, tudo que contra ti foi escrito eu reconhecerei como minha culpa” (Contra Rufino III, 22)

Tu te entregas também ao mesmo gênero de discussão contra o nosso papa Anastásio, de sorte que, porque deténs uma epístola do bispo Sirício, este não pôde escrever contra ti.[…] Ó riquíssima trirreme, que tinha vindo enriquecer a pobreza da cidade romana com produtos do Oriente e do Egito! …Tu és aquele famoso Máximo, o único que, escrevendo, nos restabeleces nossos negócios… Eu confesso minha pobreza, não me enriqueci assim como tu no Oriente. Faros, por muito tempo, instruiu-te daquilo que Roma não sabia, o Egito forneceu aquilo que a Itália não teve até este ponto.”(Contra Rufino III, 24. 29.30)

Chega de citações deste livro espirituoso e cruel, que dificilmente foi feito para restaurar a fé e a amizade que Rufino tinha traído. São Jerônimo escreveu uma carta mais enjoativa para Teófilo de Alexandria para felicitá-lo por sua carta pascal contra os Origenistas, usando uma linguagem como esta:

A voz de sua bem-aventurança ressoou por todo o mundo, e ao mesmo tempo todas as Igrejas de Cristo se alegram, os demônios deixar de proferir o seu veneno… O padre Vincent que acaba de retornar de Roma… repete continuamente que Roma e quase toda a Itália foi libertada por suas cartas em nome de Cristo.

Ele implora-lhe para escrever para os bispos ocidentais e mandá-lo todas as cartas sinodais, que ele possa ter composto, que ele pode ser o mais ousado tanti Pontificis auctoritate firmatus. Ele próprio acabou de escrever para o Ocidente, e ele considera que é uma providência especial que Teófilo tenha escrito ao Papa apenas ao mesmo tempo (Epistola 88). Santo Epifânio também escreve a São Jerônimo com gosto no que Teófilo tinha escrito para o mundo inteiro (Epístola 91). São Jerônimo traduziu estas cartas pascais para o latim, e fala delas com efusão ao enviar uma delas para Pamáquio e Marcela:

Mais uma vez eu enriqueço-os com a mercadoria Oriental, e no início da primavera Enviei a riqueza de Alexandria a Roma… Orígenes, que foi banido de Alexandria por Demétrio, é retirado de todo o mundo por Teófilo, o mesmo, sem dúvida, a quem Lucas abordou nos Atos dos Apóstolos, cujo nome fala do amor de Deus! Onde está a heresia?… é sufocado por sua autoridade e eloqüência […]

Rezai, pois, que o que está aprovado em grego possa não desagradar em latim, e que o que todo o Oriente admirou possa ser alegremente recebido no seio de Roma. Que a Cátedra de Pedro o Apóstolo, confirme pregação da Cátedra de Marcos, o Evangelista. Embora também seja propalada em todos os lugares que o Papa Anastácio, também, tem o mesmo fervor, pois ele é do mesmo espírito, afugentou os hereges para seus ninhos; e suas cartas nos dizem que o que foi condenado no Oriente viz. por Theophilus em um sínodo, e pelos bispos reunidos no Encaenia em Jerusalém] foi condenado no Ocidente também.” (Epístola 97, 1.4 a Pamáquio e Marcela)

 

SÃO JERÔNIMO E SANTO AGOSTINHO


A briga mais agradável para se recordar, é o lamentável mal-entendido entre São Jerônimo e Santo Agostinho, na qual a cortesia cavalheiresca e cristã do último levou a um término amigável, seguido da sincera admiração por parte do generoso Jerônimo para o doutor mais jovem. O respeito mostrado por Jerônimo para a dignidade episcopal de Agostinho communionis meae episcopum, e a visão do último sobre a repreensão de São Paulo a São Pedro, já foi abordado. Resta observar que em um ponto eles foram bastante convencionais, ou seja, sobre a dignidade proeminente de São Pedro. São Jerônimo, de um lado argumenta que São Pedro não poderia ter sido realmente corrigido por São Paulo, pois São Pedro era o verdadeiro autor do decreto do Concílio de Jerusalém em que a reprovação de São Paulo se apoiava. Depois de uma longa demonstração, ele conclui:

É, portanto, não é duvidoso para ninguém que o apóstolo Pedro foi o primeiro autor desta decisão, que ele está agora sendo acusado de transgressão.” (Epístola 112, 8 – A Santo Agostinho)

Santo Agostinho, por outro lado, não nega esta afirmação, mas diz que:

Pedro deu um exemplo raro e santíssimo para a posteridade que os homens não devem desprezar serem corrigido por seus inferiores (um posterioribus) como no caso de Paulo, que o menor deve resistir ao maior para a defesa da verdade evangélica, salvando o na caridade fraterna.” (Santo Agostinho Epistola 82, III, 22 a São Jerônimo)

Também escrevendo em 406 d.C contra Vigilancio, São Jerônimo menciona como Joviniano havia sido condenado:

Joviniano, condenado pela autoridade da Igreja de Roma, no meio de faisões e carne de porco, respirou, ou melhor, arrotou o seu espírito.” (Contra Vigilâncio I)

No comentário em Isaias, 411 d.C:

Esta casa (Is 2, 1) é construída sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, que são eles próprios montes, como imitadores de Cristo… Por isso em cima de uma dessas montanhas Cristo funda a Igreja, e diz a Pedro: ‘tu és Pedro’” (Comentário sobre Isaias)

Ele fala de São Pedro e São Paulo como duo apostolorum principes (Apístola 54) em outros lugares como ecclesiarum principes. Mas, mais frequentemente São Pedro sozinho é apostolorum princeps (De uiris illustr), por exemplo, no diálogo contra o pelagianismo, uma das últimas obras de São Jerônimo, 415 d.C, ele escreve:

Como Platão era príncipe dos filósofos, assim é Pedro dos Apóstolos sobre o qual a Igreja está fundada em solidez maciça, que não é abalada por nenhuma onda de inundações nem qualquer tempestade.” (Diálogo Contra Pelagianos I, 14 – cf no prefácio, São Jerônimo fala novamente de fides Romana)

No ano 412 São Jerônimo escreveu um panegírico de Santa Marcella, dirigida à sua filha Principia:

Foi dos sacerdotes de Alexandria e do Papa Atanásio, e depois de Pedro, que, para evitar a perseguição dos arianos fugiram para Roma, assim para o porto mais seguro onde eles poderiam encontrar comunhão, foi destes que  Santa Marcella aprendeu a vida de Santo António, em seguida, ainda em vida, a disciplina dos mosteiros da Tebaida de Pacômio, e das virgens e das viúvas.” (Epístola 127, 5 – A principia)

Ela fez de Roma a própria Jerusalém, diz São Jerônimo, Ele, então, narra seus serviços na luta contra os Origenistas, e em intimidar Rufino para sair de Roma:

Enquanto Marcella estava servindo ao Senhor na santa tranquilidade, surgiu nestas províncias um tornado de heresia que jogou tudo em confusão; na verdade, tão grande era a fúria em que ele próprio criou que não poupou nem em si nem tudo o que era bom. E como se fosse pouco ter perturbado tudo aqui, introduziu um navio carregado de blasfêmias na porta da própria Roma. O prato logo encontrou para uma cobertura; e os pés enlameados dos hereges sujaram as águas cristalinas da fé de Roma. Não é à toa que nas ruas e nas praças um adivinho pode atacar os tolos por trás ou, alcançando seu porrete, quebrar os dentes tal como uma carpa; quando tal ensinamento venenoso e imundo como este encontroou em Roma, engana quem pode levar ao erro. Em seguida, veio a versão escandalosa do livro de Orígenes Sobre os primeiros princípios, e aquele discípulo ‘afortunado’ que teria sido realmente uma sorte se ele nunca tivesse encontrado com tal mestre. Seguem-se a refutação estabelecida por meus parceiros, que destruíram o caso dos fariseus e os lançaram em confusão. Foi então que a santa Marcella, que por muito tempo retida temendo que achassem que ela agiu por motivos partidários, atirou-se para a violação. Conscientes de que a fé de Roma- uma vez elogiado por um – agora estava em perigo, e que esta nova heresia estava atraindo para si não só padres e monges, mas também muitos dos leigos além de impor ao bispo que imaginava que outros eram tão inocentes como próprio era ele, ela resistiu publicamente a seus professores e opta por agradar mais a Deus do que aos homens.” (Epistola 127, 9  – A Princípia)

Pouco depois, o distinto Anastácio sucedeu ao pontificado; mas logo foi retirado, pois não era justo que a cabeça do mundo fosse excluída, durante o episcopado de um tão grande. Ele foi removido, sem dúvida, para que ele pudesse não procura-se afastar com suas orações a sentença que Deus deu de uma vez por todas.” (Epistola 127, 10)

Em 414, sendo, portanto, por volta de 70 anos de idade, São Jerônimo escreveu a Demetrias a passagem muito citada, que eu não posso omitir:

Eu tinha quase deixado de fora o que é mais importante. Quando você era uma criança, e o Bispo Anastácio de santa memória governou a Igreja de Roma, uma violenta tempestade de (origenistas) hereges do Oriente tentou manchar e destruir a simplicidade da fé que foi elogiada pela boca do Apóstolo. Mas aquele homem riquíssimo em pobreza e solicitude apostólica logo feriu a cabeça nociva e parou a boca da hidra assobiante. E porque eu não tenho medo, eu ouvi o boato, que esses brotos venenosos ainda estão vivos e vigorosos em alguns, eu sinto que eu deveria com o carinho profundo dar-lhe este conselho, para manter a fé do Santo Inocêncio, que é o sucessor e filho daquele homem, e da Sé Apostólica, e para não receber qualquer doutrina estrangeira, mesmo que ache que você é prudente e inteligente”. (Epístola 130, 16 – A Demétria)

 

CONCLUÇÃO: JERÔNIMO LEAL A ROMA ATÉ O FIM


Passados 40 anos desde que ele escreveu a São Dâmaso, a visão de São Jerônimo não parecem ter mudado. Ele era o protegido de Dâmaso; Nós acabamos de ouvir ele elogiar o sucessor, o Papa Siricius, e exaltar ainda mais alto o seu sucessor Anastácio; agora O papa Inocêncio é o representante da fé ensinada por Pedro e elogiada por Paulo.

É, sem dúvida, aos pelagianos a quem está se referindo na citação acima. Três anos depois, eles invadiram os mosteiros de São Jerônimo e Santo Eustáquio, e o ancião só escapou de suas mãos, trancando-se em uma torre. O Papa escreveu uma carta muito forte (Ep. 137) a João de Jerusalém, a quem ele suspeita de pior do que a negligência em não impedir essa indignação, protestando como seu superior e ameaçando-o com a lei eclesiástica. Ele também escreveu para consolar São Jerônimo (Ep 136), dizendo que ele teria “tomado a autoridade da Sé Apostólica para conter toda a maldade”, se soubesse os nomes dos infratores.

Mas se você vai depor uma acusação aberta e clara contra certas pessoas, eu vou nomear juízes competentes, ou, se outra coisa mais urgente ou mais cuidadosa possa ser feita por nós, não será vagarosa, filho amado.

Tal é o carinho de Santo Inocêncio a São Jerônimo, a quem é supostamente atribuído ter dito abertamente “não ao papado”. São Jerônimo não fez qualquer protesto, nem Santo Agostinho ou São Aurélio, o ancião primaz de Cartago, contra esta suposição de decretos e ameaças a um bispo oriental e de instituir um tribunal de inquérito para avaliar a ação de um bispo de outra diocese. No entanto, tal procedimento vai muito além do mandato dos cânones de Sardica. Tal era a proteção solicitada pelos alunos de São Jerônimo, Eustóquio e Paula a mais nova, e, aparentemente pelo próprio Jerônimo, para “gemitus tuus” que na carta do Papa implica que ele havia escrito.

A vida do velho santo estava chegando ao fim; em 420 morreu, desgastado por problemas e velhice. Vimos suas relações com quatro papas sucessivos, e um amor a Roma e uma tenacidade da fé romana, que era tão nova no final de sua vida quanto quando recebeu a veste de Cristo no Batistério em Latrão.

 

NOTAS


[1] Tablóide, 28 de fevereiro de 1880 Controversy Católica, por HID Ryder, 1884, p. 21-25. Littledale, Razões Plain contra a adesão da Igreja de Roma, SPCK, 3 ª ed, p. 242-244. Palavras para Truth, 1886, p. 31.

[2] Gore, Roman Catholic Claims, 3 ª ed 1890, p. 116 A Igreja e o Ministério, 2 ª ed, p. 173 Autoridade, por Lucas Rivington, 5 ª ed, p. 113-117.

[3] T.T. Carter, A Questão Romana. Dr. Rivington cita p. 23, mas na 2 ª ed. 1890 não consigo encontrar nada do tipo, por isso, talvez o autor omitiu a passagem. Mas ele ainda cita Gore em p. 87.

[4] Vaughan, dez Conferências proferidas no Free Trade Hall, em Manchester, 1896, p. 24-27 e 258-264.

[5] W. Brilhante, Sé Romana na Igreja Primitiva, p. 106, nota.

[6] São Jerônimo, Ep. 97.

[7] C. Jovin. PL 23, vol II, 279 [258] escrito 393 d.C. As datas são as de Vallarsi, cujas páginas são dadas.

[8] Ep. 146 a Evangelum, vol I, 1081 [1193]. Não vou discutir a data.

[9] A passagem: De Cath unitate eccl 4, foi, sem dúvida, na mente de São Jerônimo. É notório que São Jerônimo não entende as palavras de São Cipriano, como anglicanos entendem, para negar o primado de São Pedro!

[10] Ver nota de Vallarsi lá, e cf. Comm em Soph, c. iii vol VI, 721 (I, 443) AD 392 Sacerdotes quoque, qui Dant baptismum et ad Eucharistiam Domini imprecantur aduentum; christmatis oleum faciunt; manus imponunt; catechumenos erudiunt; leuitas et Sacerdotes constituunt alios, etc.

[11] Ambrosiaster, Quaestiones ex utroque mixtim, 101, entre opp St. Augustini, vol III, ed app Souter. (CSEL, vol 50, p. 194). A passagem deve ser lida inteira.

[12] Os textos impressos de Ambrosiaster, quando escrevi este artigo em 1897, tinha nomen Falcidii, mas a leitura da direita é nomen falsi dei, e Prof CH Turner mostrou que a referência é a um diácono romano sob Dâmaso, cujo nome era Mercurius. Ele parece ter escrito seu livro sob o pseudônimo de Urbicus.

[13] Urbicus é, evidentemente, o mesmo que Mercúrio; assim, seu livro é refutada por Agostinho, bem como por Jerônimo e Ambrosiaster.

[14] Quando eu escrevi em 1897, este feriado de obrigação estava ainda mantido em Roma. Mas o novo Direito Canônico aboliu-o.

[15] Aparentemente clérigos romanos, como no prefácio a Dídimo, que até então tinha sido detrator de São Jerônimo.

PARA CITAR


CHAMPMAN, Dom John, São Jerônimo e a Sé Romana. Retirado de “Studies on Early Papacy” Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com/index.php/patristica/estudos-patristicos/722-sao-jeronimo-e-a-se-romana>. Desde: Tradução: Rafael Rodrigues.

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