Posto que Deus quer que todos os homens se salvem, oferece-lhes a todos, inclusive os que inculpavelmente estão fora da Igreja, as graças necessárias para a salvação. Daqui que não repugna que existam também homens probos fora da Igreja Católica em outras congregações cristãs, inclusive não-cristãs, o qual é manifesto pela experiência diária. Pareceria que tampouco repugna que em tais religiões exista homens exímios pelo menos em alguma classe virtudes ou por algum tempo. O que se pergunta é se nelas se pode encontrar santidade realmente heroica.
Pareceria que se há de responder: É possível que alguém esteja fora da Igreja de boa fé e que tenha a sua religião por verdadeira sem culpa. Neste caso, não pareceria impossível que, do conhecimento da religião natural e revelada, enquanto encontra também em sua seita, seja levado ao cume da perfeição e à santidade realmente heroica por meio da imitação de Cristo, da eficácia dos sacramentos, principalmente do batismo, penitência e eucaristia, pela oração, exercício das boas obras, etc. Se alguma vez viveram tais homens, é uma questão histórica, mas pareceria que não se pode negar a possibilidade. (cf. DAC IV, 1134-1138. 1378-1486; DTC III, 1660-1672; XIV, 865-869)
Não se pode dizer que a sociedade que tem tais santos seja por isso santa; a santidade não viria dos princípios dessa seita como próprios, mas dos princípios católicos. Ademais, tais santos, se existissem, sempre serão poucos, já que a Igreja é a via ordinária de santificação e porque, se luzisse com grande esplendor a santidade fora da Igreja, facilmente redundaria como oposto à verdade, ao que Deus não pode cooperar.
Poderia Deus aprovar a santidade desses homens com milagres? Pareceria que não. Embora não repugne per se que haja milagres fora da Igreja, e que Deus inclusive possa fazer um milagre para provar este ou aquele ato do homem heterodoxo, contudo isto não poderia se fazer de tal forma que se aprovasse a santidade universalmente; a santidade esperada completa inclui também a fé verdadeira, que o heterodoxo não tem, embora seja sem culpa; a falsa fé não pode ter a divina aprovação.
Ademais, os milagres que se fazem para confirmar a santidade de alguém, induzem aos homens quase por necessidade a imitar seu exemplo, e portanto a reter ou abraçar a fé que ele professa; Deus não pode cooperar com isso".
(P. Joseph Mors, Theologia Fundamentalis : De Ecclesia Christi de fontibus Revelationis. t. 2., 1955)