INTRODUÇÃO
Rufino de Aquileia (340-410) foi um amigo de São Jerônimo, e como ele, partiu da Itália para viver no Oriente. Por muitos anos, ele viveu em mosteiros no Egito e na Palestina, adquirindo o aprendizado das Igrejas orientais. No fim de sua vida, ele retornou à Itália e se ocupou na tradução de obras dos Padres gregos anteriores para o latim. Sua Exposição do Credo foi uma obra original, mas demonstra influência da Igreja Grega (e de Jerônimo) em vários lugares.
SUA LISTA
Em sua lista sobre o cânon bíblico, a seguir, ele observa a primeira opinião de São Jerônimo, retendo seis deuterocanônicos e aceitando Baruc, seguindo a Septuaginta:
“[Eu digo], em seguida, foi o Espírito Santo, que no Antigo Testamento inspirou a Lei e os Profetas, e no Novo os Evangelhos e as Epístolas. Razão pela qual o apóstolo também diz: ‘Toda a Escritura inspirada por Deus é proveitosa para instrução.’ E, portanto, parece adequado neste lugar especificar por uma enumeração distinta, a partir dos registros dos pais, os livros do Novo e do Antigo Testamento, que, de acordo com a tradição de nossos antepassados, são tidos como inspirados pelo Espírito Santo, e transmitidos nas Igrejas de Cristo. Do Antigo Testamento, portanto, em primeiro lugar têm sido transmitidos cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, em seguida, Josué, filho de Nun, o livro de Juízes, juntamente com Rute, em seguida, quatro livros dos Reis, que os hebreus contam como dois; Paralipômenos, que é chamado o livro dos Dias [Crônicas], e dois livros de Esdras, que os hebreus contam como um; Ester; dos Profetas, Isaías, Jeremias[1], Ezequiel e Daniel, além disso dos Doze Profetas [menores], um livro, Jó também, e os Salmos de Davi, um livro cada. Salomão deu três livros para as Igrejas, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Estes compreendem os livros do Antigo Testamento.
Do Novo Testamento há quatro Evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas e João, os Atos dos Apóstolos, que foi escrito por Lucas; catorze epístolas do apóstolo Paulo, duas do apóstolo Pedro, um de Tiago, o irmão de o Senhor e apóstolo, uma de Judas, três de João, e o Apocalipse de João.
Estes são os livros que os pais têm incluído no cânon; Sob os quais eles têm estabelecido as declarações da nossa fé.
Mas também deve ser sabido que existem outros livros que não são chamados “Canônicos”, mas “eclesiásticos” pelos antigos; isto é, a Sabedoria atribuída a Salomão, e outra sabedoria atribuída ao filho de Sirac, que os latinos chamam pelo título de Eclesiástico, designando não o autor do livro, mas seu caráter. À mesma classe pertencem os livros de Tobias, de Judite e dos Macabeus.” (O Credo dos Apóstolos, 37-38)
Rufino, nessa passagem, menciona os deuterocanônicos como “não-canônicos”, mas “Eclesiástico”. No entanto, de uma forma pouco diferente, ele diz que esses livros são lidos nas Igrejas. Isso é diferente de como Santo Atanásio e Orígenes a eles se referiram em suas listas.
Tivemos acesso a poucos escritos de Rufino; logo, não pudemos achar tantas referências dele aos deuterocanônicos como os outros Pais. No entanto, deve-se notar que 23 dos 39 livros do Antigo Testamento hebraico, ele também não faz nenhuma citação. Encontramos cinco citações dos deuterocanônicos disponíveis, e, nelas, ele trata-os como Escritura.
“O Livro da Sabedoriaquetambémélidoa nós comoobrade Salomãodiz:‘A Sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado’ (Sabedoria 1, 4). Pois que o EspíritoSanto.da disciplinafugirá do engano eremoverá ospensamentos queestão sem entendimento.” (Apologia Contra Jerônimo)
Aqui, Rufino, naturalmente, cita o livro no ensino da moral, e o usa para ensinar a disciplina.
No mesmo livro onde ele cita sua lista supostamente negando os deuterocanônicos, ele chama Baruc de Profeta:
“Pois é evidenteque o Filho, não o Pai, encarnoue nasceuna carne,eque a partir daquelenascimentona carne,o Filhotornou-se “visível e passível”. Contudo, até agorano que se refere a essa substânciaimortalda Divindade, que Ele possui, e que é uma e a mesmacom a doPai,devemos crer quenem o Pai, nem o Filho, nem o Espírito Santo é“visível ou passível”.Mas o Filho, em que Elese concedeu a assumira carne,foivisto etambém sofreuna carne. O qual tambémpredisseo Profetaquandodisse: ‘É ele o nosso Deus, com ele nenhum outro se compara. Conhece a fundo os caminhos que conduzem à sabedoria, galardoando com ela Jacó, seu servo, e Israel, seu favorecido. Foi então que ela apareceu sobre a terra, onde permanece entre os homens.’ (Baruc 3, 36-38)” (O Credo dos Apóstolos, 5, ano 404 d.C).
Devemos notar que no próprio livro, O Credo dos Apóstolos, onde Rufino tinha dado um cânone que, supostamente, rejeitava os deuterocanônicos como Escritura, cita Baruc como profeta e o usa para confirmar uma doutrina. Se o contexto da citação de Baruc for lido, é constatado que o profeta está de referindo à encarnação de Jesus. Ele fala da “substância do imortal” da Divindade. Baruc é, portanto, inspirado pra Rufino.
“... Assim, uma vez que as promessas de Deus nestas coisas e outras como elas têm em muitos casos sobre a santa ressurreição dos justos, não será difícil agora acreditar também no que os profetas haviam predito: ‘no tempo do seu julgamento hão de brilhar, como centelhas que correm no meio da palha’ (Sabedoria 3, 7)” (Bênçãos de José, 46).
“… pois assim diz a Escritura: ‘O que não foi provado pouco sabe’. (Eclesiástico 34, 9/10)” (Comentário sobre Doze Patriarcas, Bênção de Gade, 3).
“Eles voltaram depois da ressurreição, todos aqueles que foram eleitos por Deus, e a Sagrada Escritura declara: ‘Não louves a homem algum antes de sua morte’ (Eclesiástico 11, 30)” (Comentário sobre Doze Patriarcas, Bênçãos de José, 3).
Aqui, em três passagens ele cita a Sabedoria e o Eclesiástico, claramente, como Escrituras.
Em sua apologia contra São Jerônimo, mostra que o que estava escrito no prefácio da Vulgata não era o que a Igreja aceitava, e sim algo que Jerônimo tinha dito por ele mesmo, e ainda, completa que os escritos rejeitados por ele, tinham sido transmitidos pelos Apóstolos:
“Não havido desde o princípio nas igrejas de Deus, e especialmente na de Jerusalém, uma oferta abundante de homens que nascendo judeus se tornaram cristãos, e sua familiaridade perfeita com ambas as línguas e seu suficiente conhecimento da lei é demonstrado pela sua administração do escritório pontifício. Em toda esta abundância de homens eruditos, houve um que se atreveu a fazer estragos nos registros divinos transmitidos às Igrejas pelos Apóstolos e o depósito do Espírito Santo? Pois podemos chamá-lo, apenas de estrago, quando algumas de suas partes são transformadas, e isso é chamado a correção de um erro? Por exemplo, toda a história de Susana, que deu uma lição de castidade para as igrejas de Deus, por ele foi cortada, jogada de lado e demitida. O hino dos três filhos, que é regularmente cantadas em festivais na Igreja de Deus, ele foi totalmente apagado do local onde estava. Mas por que eu deveria enumerar os casos um por um, quando o seu número não pode ser estimado?” (Apologia contra Jerônimo, Livro II – 33, 34- 35)
A resposta de Jerônimo, como já demonstramos, foi:
“Mas quando eu repeti o que os judeus dizem contra história de Susana, o hino dos 3 Jovens, e a estória de Bel e o Dragão, que não estão contidos na bíblia hebraica, o homem que fez esta acusação contra mim prova que ele mesmo é um tolo e um caluniador.”
Jerônimo se defendeu de Rufino mostrando que o que ele havia dito não era sua opinião e sim a dos judeus. Isso mostra mais uma vez que além de Rufino aceitar as partes de Daniel como inspiradas, Jerônimo não usava suas próprias palavras, em seus prefácios, e sim as dos judeus.
CONCLUSÃO
Mais um Padre da Igreja primitiva que apesar de mencionar os deuterocanônicos como “não canônicos” na teoria, na prática, cita-os claramente como Escrituras; o que prova que ele não está falando, quando se refere à palavra “canônico”, da extensão dos Livros Sagrados.
[1] Jeremias, Lamentações e Baruc
BIBLIOGRAFIA
RODRIGUES, Rafael. Manual de Defesa dos Livros Deuterocanônicos. 1a edição. Salvador. BA: Clube dos Autores, 2012.
BREEN A. E. A General and Critical Introduction to the Holly Scripture. New York: John P. Smith Printing, 1897.
PARA CITAR
RODRIGUES, Rafael. Rufino de Aquileia rejeitou os livros deuterocanônicos? Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/627-rufino-de-aquileia-rejeitou-os-livros-deuterocanonicos> Desde: 30/11/2013