No último dia 10/10/2013, ao entrar numa rede social me deparo com alguém compartilhando um artigo intitulado “A inquisição, o papa e o suspiro de alguns católicos ‘conservadores’” do site do sr. Júlio Severo, pelo título, já imaginei que viriam besteiras históricas, mas não imaginei que tantas, ainda mais de alguém que é considerado como “intelectual” por muitos. Nesta matéria, como diria Dom Lourenço, Júlio Severo escreve como se estivesse num picadeiro de circo entretendo seus discípulos boquiabertos: – “Fenomenal”. Acontece que as pessoas inteligentes, que gostam de conhecer a verdade, quando vão ao circo, é para levar seus filhos. Jamais pretenderiam encontrar sob a lona respostas às suas indagações históricas. Como este senhor parece não está muito interessado na verdade, montou um circo que ele chama de artigo. Porque a primeira coisa que se deve reconhecer no seu “artigo”, é apenas a difamação, a manipulação dos leitores e seu desprezo por qualquer verdade histórica, baseando-se apenas nas conversinhas que ele deve ter ouvido por ai no facebook e em rodas de amigos, sem qualquer referencia bibliográfica.
É evidente que um autor que pretenda investigar a verdade não começa jamais por transportar seus leitores a uma situação de discurso tão distante da situação real. Com o objetivo de desmascarar esta farsa, nos propomos a dissipar as mentiras e mostrar quão sujo é este artigo de Júlio Severo.
A REFUTAÇÃO
A bazófia que Júlio Severo profere sobre a leitura da Bíblia:
“Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e sua tradução é considerada como o marco mais importante para a unificação da língua alemã. O alemão que a Alemanha fala hoje é o alemão de Lutero.
O esforço monumental, de vida ou morte, de Lutero e outros reformadores para colocar a Bíblia na língua do povo produziu mudanças até mesmo na Igreja Católica, que sempre negou ao povo acesso à Bíblia na língua do povo. Hoje, qualquer católico tem uma Bíblia em sua casa e pode lê-la. Esse acesso fácil é resultado direto dos sacrifícios da Reforma protestante, que acabou com o tempo provocando mudanças na Igreja Católica.”
A verdade:
Embora o sr. Júlio Severo fale tal asneira, não trouxe qualquer tipo de bibliografia ou fonte para provar o que escreve, o que já é de se estranhar para alguém que pretende escrever recebendo a paga de intelectual.
Para começarmos nossa refutação, vamos a três autores protestantes que irão ensinar ao sr. Júlio Severo um pouco de história:
1º Peter Toon no livro “Protestantes e Católicos”:
“Nunca houve um momento na história da Igreja ocidental durante a Idade ‘negra’ ou ‘Média’, que as Escrituras fossem oficialmente rebaixadas. Pelo contrário, eles foram consideradas infalíveis e inerrantes, e foram mantidas na mais alta honra.” (TOON, Peter, Protestants and Catholics, Ann Arbor, MI: Servant Books, 1983, 39)
2º Louis Bouyer no livro “Espírito e formas do Protestantismo”:
“Da mesma forma que os papas, Concílios, teólogos, sempre recorreram ao argumento bíblico como o realmente fundamental, a prática dos grandes escritores espirituais de todas as épocas atesta o caráter plenamente tradicional de uma devoção baseada na Bíblia. . . O mesmo aconteceu com os grandes mestres da Idade Média. . . Não só eles conheceram a Bíblia, e fizeram uso abundante dela, mas eles se guiaram nela como em um mundo espiritual que formou o universo habitual de todos os seus pensamentos e sentimentos. Para eles, não era simplesmente uma fonte, entre outras, mas a fonte por excelência, em um sentido único. . .
Não só com a aprovação da hierarquia, mas pela insistência positiva e enfática do próprio Papa, houve um retorno geral ao estudo minucioso das Escrituras, que foi restaurada, não só como base, mas como a fonte, de todos os ensinamentos da teologia.” (BOUYER, Louis, The Spirit and Forms of Protestantism, translated by A.V. Littledale, London: Harvill Press, 1956, 164-165)
3º Robert McAfee no livro “O Espírito do Protestantismo” editado pela universidade de Oxford:
“O Catolicismo Romano tem um grande respeito pela Escritura como fonte de conhecimento[. . .] Na verdade, as declarações oficiais da Igreja Católica Romana sobre a inspiração e inerrância das Escrituras satisfariam o mais rigoroso fundamentalista protestante.” (BROWN, Robert McAfee, The Spirit of Protestantism, Oxford: Oxford Univ. Press, 1961, 172-173)
Qual o interesse desses protestantes em mostrar que a Igreja sempre estimou e sempre incentivou o estudo das Sagradas Escrituras? Aprenda com eles Júlio Severo!
A Igreja sempre estimou as Sagradas Escrituras como fonte de fé e a reserva um lugar especiacialíssimo. A leitura pública da Bíblia sempre foi usada nas celebrações e nos Sacramentos, especialmente na Missa, tudo na vida da Igreja é voltado para as Sagradas Escrituras juntamente com a Sagrada Tradição, essas duas juntas, formam toda a fonte de fé revelada da Igreja. Isso não veio depois de reforma protestante e sim desde os primeiros séculos.
A bíblia era copiada manualmente, até o século XV, como é que qualquer um ia ter a bíblia para “examinar” se até este século, era copiada manualmente? Vou lembrar ao Júlio Severo que o protestantismo surgiu depois da invenção da imprensa, no século XVI. Só quem tinha uma cópia era quem tinha dinheiro para pagar uma cópia Manual do texto, que era caro por que não se tinha como ficar copiando uma todo o texto bíblico manualmente para distribuição. Depois da invenção da impressa, que isso se tornou mais fácil e foi logo quando a Igreja começou a fazer várias versões.
Em apenas um comentário toda a mentira histórica vai por água a baixo, aqui está a tradução italiana conhecida como “Malermi” uma versão da bíblia para o Italiano (italiano antigo) em 1471 e 1490, que eram bem conhecida e difundida na Itália.
Por ser vista aqui (http://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/33.66) e seu texto ainda preservado por ser lido aqui (http://www.utopia.it/…/bibbia_martini_online_testo.htm). Onde estavam os “reformadores” quando a bíblia já eram produzida em italiano? Cadê Lutero, Calvino, cadê Zwiligio, cadê Wesley? Nem sonhavam em nascer!
Na Alemanha, o primeiro livro a ser impresso da História foi uma Bíblia, que foi impressa pelo católico Gutenberg, e foi a bíblia em 2 volumes (1453-1456), mas em latim. Até 1477 saíram cinco edições da bíblia em alemão; de 1477 à 1522 houve nove edições novas (sete em Ausburgo, uma em Nurenberg e uma em Estrasburgo); de 1470 a 1520 apareceram 100 edições de “plenários”, ou seja, livros que continham as epistolas e os evangelhos de cada domingo. Isto mostra de forma claríssima como a Igreja estava longe de querer, a proibição da leitura da bíblia, como sugere o desinformado (ou seria, desonesto?). Júlio Severo.
Na Itália, houve mais de 40 edições da Bíblia antes da primeira versão protestante aparecer, começando em Veneza em 1471 e 25 delas foram traduzidas em italiano antes de 1500, com a autorização expressa de Roma. Na França haviam 18 edições antes de 1547, a primeira foi impressa em 1478. A Espanha começou a publicar edições no mesmo ano, e emitiu Bíblias com a plena aprovação da Inquisição espanhola (é claro que dificilmente se pode esperar que os protestantes acreditem nisto). Na Hungria, até o ano de 1456, na Boêmia no ano de 1478, na Flandres antes de 1500, e em outras terras, sobre a jurisdição de Roma, sabemos que as edições das Sagradas Escrituras tinha sido dadas largamente ao povo. Em suma de 626 edições da Bíblia, 198 eram em língua vernácula, e haviam sido emitidas a partir da invenção imprensa, com a sanção e aprovação da Igreja, nos países onde ela reinou suprema, antes da primeira versão protestante das Escrituras sonhar em ser traduzida. O que, então, torna-se uma ilusão patética, as argumentações de Júlio Severo de que o herege Lutero proporcionou alguma coisa para o mundo em relação a bíblia. (GRAHAM, Henry G. Where We Got the Bible, St. Louis: B. Herder, revised edition: 1939)
A vulgata Latina era a tradução oficial uma vez que todo o seu texto foi comprovado como isento de erros doutrinários, logo a Igreja mandava se ler todo o texto em latim afim de que os fiéis tivessem a certeza que estavam lendo um texto o mais fiel do original grego possível com a tradução de São Jerônimo, que já circulava há séculos na Igreja.
O CUIDADO NA LEITURA DA BÍBLIA
Em determinadas circunstâncias históricas as autoridades eclesiásticas tiveram que a vigiar sobre o uso da Bíblia, especialmente na Idade Média.
A heresias dos Cátaros ou Albigenses, que abusavam da Bíblia, obrigou os padres dos concílios regionais de Tolosa (1229) e Tarragona (1234) a proibir provisoriamente aos cristãos a leitura da bíblia, para não serem enganados. Mas isso duro muito pouco tempo e se restringiu a leituras de textos vernáculos que não tivessem aprovações eclesiásticas.
O católico deve estar atento que estes dois concílios são os dois principais usados pelos hereges para dizer que a Igreja proibiu a leitura da bíblia no vernáculo. Devemos ter em mente que estes dois concílios são regionais, logo não tem efeito sobre toda a Igreja e se restringiram as regiões onde foram realizados, ou seja, a leitura na língua vernácula não foi permitida somente onde estava se propagando a heresia dos cátaros, e depois de acabada a heresia a leitura normal voltou, pois traduções confiáveis voltaram a circular.
Em 1408 o sínodo regional de Oxford, por causa dos erros de J. Wicleff, proibiu as edições da S. Escritura que não tivesse aprovação eclesiástica por que os hereges estavam novamente deturpando o texto sagrado.
Fica claro que a Igreja não proibiu a leitura da bíblia, mas a leitura de edições deturpadas da bíblia, como faz ainda hoje. Já postamos algumas matérias aqui no site que podem ser lidas aqui (Sola Scriptura Adulterada), onde mostramos as várias deturpações que ocorrem nas edições protestantes. Se hoje com todas as fontes de informações, facilidades de várias versões e e os textos gregos e hebraicos amplamente divulgados já acontecem essas adulterações e deturpações, imagine em um tempo onde pouquíssimos sabiam ler e poucos ainda sabiam traduzir um texto. Não foi corretíssima essa atitude dos bispos no intuito de preservar os fiéis dessas aberrações?
No século XVI, quando Lutero e os seus discípulos fizeram da Escritura a “única fonte de fé”, donde manipulavam e retiravam suas inovações doutrinárias, os bispos da Igreja Católica novamente foram obrigados a tomar medidas necessárias para que o povo católico não fosse enganado pelas novas edições da Bíblia protestante. Por exemplo, Lutero quando traduziu a Bíblia para o Alemão, acrescentou várias palavras que não se encontravam no original grego como em Romanos 3, 28, em que ele diz que o “homem é justificado somente pela fé”: a palavra somente não se encontra no original grego. Esta palavra foi acrescentada para fundamentar os seus delírios e sua incompreensão da obra salvifíca divinda, alterando assim a Palavra de Deus. O texto grego nos mostra:
Λογιζόμεθα οὖν πίστει δικαιοῦσθαι ἄνθρωπον (Rom 3, 28)
Em nenhum lugar vemos a palavra somente, que no grego seria μόνον, presente no texto. De fato o homem é justificado pela fé, mas não somente por ela, São Tiago vem nos mostrar que as boas obras também nos justificam:
“Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.” (Tiago 2, 24)
A bíblia refuta sumariamente a tradução falsificada de Lutero, bem como a sua doutrina de Justificação somente por fé. Esta mesma passagem de Tiago, levou Lutero rejeitar também este livro por ser incompatível com sua doutrina, assim como ele fez com vários outros livros ao seu bel prazer.
Em 1522, no prefácio, de sua tradução alemã , às Epístolas de S. Tiago e S. Judas, Lutero nega a inspiração de Ambos, e assume que a Epistola de Tiago contradiz a epístola de Paulo aos romanos e que Judas não deve ser contada entre os livros para confirmação da fé:
“Embora esta epístola de São Tiago fosse rejeitada pelos anciãos, eu elogio-a e considero-a um bom livro, porque estabelece não doutrinas de homens, mas vigorosamente promulga a lei de Deus. No entanto, afirmo a minha própria opinião sobre isso, embora sem prejuízo para ninguém, eu não considero como uma escrita de um apóstolo, e as minhas razões seguem.”
Em primeiro lugar, é terminantemente contra São Paulo e todo o resto da Escritura em atribuir a justificação às obras. Ela diz que Abraão foi justificado por suas obras, quando ofereceu seu filho Isaac, embora em Romanos, São Paulo ensine o contrário, que Abraão foi justificado sem as obras, por sua fé, antes que ele tivesse oferecido seu filho, e prova isso por Moisés em Gênesis 15. Agora, embora esta epístola pode ser ajudada e uma interpretação concebida para essa justificação pelas obras, não pode ser defendida em sua aplicação às obras da declaração de Moisés em Gênesis 15. Pois, Moisés está falando aqui apenas da fé de Abraão, e não de suas obras, como São Paulo demonstra em Romanos. Esta falha, portanto, prova que esta epístola não é o trabalho de qualquer apóstolo.”
Aqui ele diz que o livro de Tiago tem falhas e contradiz toda a Bíblia, ou seja, para ele é uma obra puramente humana, tudo quando os protestantes rejeitam! Continua o seu relato:
“Em segundo lugar o seu objetivo é ensinar aos cristãos, mas em todo este logo ensino, ele não menciona uma única vez a Paixão, a ressurreição, ou o Espírito de Cristo. Ele cita várias vezes Cristo, contudo não ensina nada sobre ele, mas só fala de fé em Deus em geral. Agora, é dever de um verdadeiro apóstolo pregar a paixão, ressurreição e função de Cristo, e estabelecer o fundamento para a fé nele, como o próprio Cristo diz em João 15, “Dareis testemunho de mim”. Todos os livros sagrados genuínos estão de aconcordo nisto, de que todos eles pregam e inculcam Cristo. E esse é o verdadeiro teste para julgar todos os livros, quando vemos ou não inculcar Cristo. Pois todas as Escrituras mostram-nos Cristo, Romanos 3; e São Paulo não conhecerá nada além de Cristo, I Coríntios 2. O que não ensina Cristo não apostólico, mesmo se São Pedro ou São Paulo faz o ensino. Novamente, o que prega Cristo é apostólico, mesmo se Judas, Anás, Pilatos e Herodes estavam fazendo isto.
Mas este Tiago não faz nada mais do que levar à lei e suas obras. Além disso, ele joga as coisas juntas muito caoticamente que me parece ele deve ter sido algum homem bom e piedoso, que pegou alguns ditos dos discípulos dos apóstolos e assim os jogou no papel. Ou talvez tenha sido escrito por alguém com base em sua pregação. Ele chama a lei de “lei da liberdade”, embora Paulo chama de lei da escravidão, da ira, da morte, e do pecado.
Além disso, ele cita as palavras de São Pedro: “O amor cobre uma multidão de pecados”, e novamente, “Humilhai-vos debaixo da mão de Deus”, também o provérbio de São Paulo em Gálatas 5, “O Espírito cobiça contra a inveja”. E ainda, a respeito de tempo, São Tiago foi condenado à morte por Herodes em Jerusalém, antes de São Pedro. Então, parece que este autor veio muito tempo depois de São Pedro e São Paulo.
Em uma palavra, ele queria se proteger contra aqueles que confiaram em fé sem as obras, mas estava inconstante a tarefa de espírito, pensamento e palavras. Ele destroça as Escrituras e, portanto, se opõe Paulo e toda a Escritura. Ele tenta aperfeiçoar pela insistência sobre a lei, o que os apóstolos aperfeiçoaram, estimulando as pessoas a amar.Portanto, não vou tê-lo em minha Bíblia contado entre os principais livros de verdade, embora eu não impediria ninguém de incluir ou exalta-lo como lhe apraz, pois há de outra forma muitos provérbios bons nele. Um homem não é um homem em coisas mundanas; como, então,deveeste homemisoladamentese opor contra Paulo etodo o restoda Escritura?