Sábado, Dezembro 21, 2024

“A História do Papado”: Uma Refutação a um Programa de TV Adventista

Poucos dias após a renúncia de Bento XVI e a eleição do Papa Francisco, o seriado “Evidências”, produzido pela TV Novo Tempo (ligada à igreja Adventista, contando com o apoio cultural da sua Casa Publicadora Brasileira [30:18]), dedicou todo um programa à “História do Papado”[0], apresentado e narrado pelo “teólogo e arqueólogo” Rodrigo Silva [00:34 / 30:13] que, segundo afirmava, pretendia “contar um pouco da história dos Papas” [01:27], expondo as coisas segundo “fatos históricos, bíblicos e proféticos” [27:27].

Conforme este mesmo apresentador, o objetivo de “Evidências” é “a procura de fatos que comprovem a veracidade da Bíblia Sagrada” [00:36], e que neste programa da série viriam a ser respondidas as seguintes questões [01:34]:

• Como surgiu o Papado?
• Pedro foi o primeiro dos Papas?
• O Papa é a besta do Apocalipse?

Muito embora os créditos apresentados no final do programa não digam quem foi o responsável pelo roteiro final, considerando-se o simples fato de o programa ser produzido para uma emissora protestante, não era difícil de “adivinhar” quais respostas seriam dadas para as perguntas acima – uma vez que diversas igrejas protestantes não-adventistas também responderiam da mesma maneira ou de uma maneira muito semelhante…

Na verdade, o programa acabou sendo um resumo de todo ensinamento antipapal promovido pela profetiza-fundadora do Adventismo do 7o Dia, sra. Ellen Gould White, detalhados nos livros da sua autoria ou nos de seus seguidores[1].

Porém, o fato é que, ao final do programa, o próprio apresentador – que se revelou “ex-católico” [28:12] -, recomenda-nos a desconfiar de tudo o que foi dito ali: “Não confiem prontamente no que estou dizendo. Isto mesmo! Essas informações que você recebeu foram dadas para que você investigue por si mesmo os fatos e conclua a respeito do que está por trás do maior sistema eclesiástico do mundo” [27:40].

Portanto, atendamos ao seu pedido e investiguemos cuidadosamente, apoiando-nos em fontes bíblicas e históricas, deixando de lado as pseudo-profecias e preconceitos anticatólicos da fundadora do Adventismo do 7o Dia[2] e dos líderes da denominação.

1. ARGUMENTOS CORRETOS NO INÍCIO DO PROGRAMA


Apesar de demonstrar uma posição nitidamente anticatólica no decorrer de todo programa (claramente inspirada nas diretrizes do sectarismo adventista), o apresentador tem toda a razão ao fazer as afirmações abaixo, com as quais nós, católicos, certamente concordamos e reconhecemos como válidas:

1º) “Nada é mais infernal no mundo do que o ódio entre os seres humanos e nada é pior do que o ódio em nome de Deus. E olha que os maus exemplos, infelizmente, podem ser vistos em todos os lados. Ninguém está excluído: vemos crentes desrespeitando imagens e ícones católicos; às vezes párocos impedindo reuniões evangélicas no bairro de sua paróquia. Enfim, qualquer desrespeito à crença do outro é algo abominável” [01:50].

Sim, o fundamentalismo religioso é capaz de cegar e de promover atitudes ilegítimas como legítimas. Não ao fundamentalismo!

2º) “Nós, que nos dizemos religiosos, devemos acima de tudo aprender a discordar com classe e respeito; e, juntamente com isso, ter claro se nossas convicções religiosas são de fato baseadas em elementos concretos ou em crendice, tradição ou achismo” [02:19].

É verdade, mas devemos ainda basear as nossas discordâncias em pontos sólidos da Palavra de Deus, da história etc., e só não argumentar por argumentar…

3º) “Respeito não significa silêncio ou a concórdia em tudo o que o outro diz (…) Investiguem os fatos e vejam a procedência ou não daquilo que vamos dizer aqui” [02:24].

Isto é o ideal, mas na prática nem todos podem fazê-lo, infelizmente. Por isso os “formadores de opinião” devem ter um cuidado maior ao expor qualquer coisa a alguém.

4º) “A versão Tradicional do Catolicismo afirma que o Apóstolo Pedro teria sido o 1º Papa. Logo, a História do Papado (…) teria começado no momento em que Cristo confere a Pedro as chaves do Reino, dizendo: ‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja’ – Mateus, capítulo 16, verso 18” [03:04].

É exatamente isso. Pedro foi o 1º Papa. Por consequência, todos os demais Papas, legitimamente eleitos, foram, são e sempre serão sucessores de São Pedro, único a quem Cristo confiou as chaves do Reino dos Céus.

Nestes pontos, é o que cabe observar…

2. ARGUMENTOS FALSOS OU EQUIVOCADOS


Embora o programa tenha até começado bem nos seus três primeiros minutos, uma série de erros e preconceitos típicos do Adventismo do 7º Dia passaram então a desfilar pela tela, os quais passaremos a abordar a partir de agora.

Primeiramente, o apresentador disse: “Vou dar agora os argumentos comumente usados para dizer que Pedro seria o 1º Papa e também por que discordo deles” [03:28]. Porém, ao apresentar os argumentos católicos, seguiu aqui uma ordem que não facilita a compreensão do telespectador e que nem de perto demonstra a extensão do “problema”:

a) Pedro é o mais citado nos Evangelhos [03:35]

b) Cristo muda o nome de Simão para Pedro [04:37]

c) Pedro é citado em 1o lugar na lista dos Apóstolos [05:20]

d) A frase “Tu es Petrus” [06:09]

Ora, se o programa pretendesse mesmo apresentar imparcialmente aos seus telespectadores (adventistas ou não) o que a Igreja Católica realmente ensina acerca do Papado (passando depois a refutar essa doutrina, como é do seu direito) deveria, ao menos, seguir aquela ordem lógica crescente da argumentação católica ou, melhor ainda, deveria ao menos partir daquele ponto de origem que o próprio apresentador havia mencionado aos 03 minutos e 04 segundos de programa: Mateus 16,18!!!

Deste modo, nesta refutação, abordaremos cada um dos contra-argumentos do programa vistos dentro da ordem de argumentação católica, o que facilitará a compreensão da legitimidade e autenticidade da instituição do Papado e demonstrará a falta de consistência da contra-argumentação adventista:

a) Cristo muda o nome de Simão para Pedro

Querendo apresentar a doutrina católica sobre o Papado, o programa afirmou que o Catolicismo ensina que a mudança do nome de Simão para Pedro feita por Jesus “é um fato excepcionalmente importante para indicar que Pedro deveria ser o líder dos demais Apóstolos” [04:49].

É ponto pacífico, portanto, que Jesus de fato alterou o nome de Simão, filho de Jonas, para Pedro. Apesar disso, o programa contra-argumentou que tal mudança não teria importância, pois era algo quase que corriqueiro e desprezível. Isto porque:

1º) Jesus também alterara os nomes de Tiago e de João, os filhos de Zebedeu, aos quais chamou de “Boanerges” (cf. Marcos 3,17) [05:04].

“Boanerges” significa, em aramaico, “filhos do trovão”. É muito provavelmente uma referência tácita ao episódio narrado por Lucas 9,51-56, em que estes irmãos, indignados pela falta de acolhida da parte dos samaritanos, perguntaram a Jesus: “Senhor, queres que digamos que o fogo caia do céu e os consuma?” (isto é, o mesmo castigo que o profeta Elias infligira aos seus adversários, cf. 2Reis 1,10-12).

Pois bem. Aqui, não ocorre alteração de nomes, já que mesmo depois ambos continuam sendo chamados pelos seus respectivos nomes originais, ou seja: Tiago e João; constitui mais um apelido do que um acréscimo ou substituição de prenomes. Simão, ao contrário, teve o seu prenome alterado de fato. Uma vez alterado, passa a ser chamado de “Pedro” ou “Simão Pedro” (na língua grega do Novo Testamento) ou “Cefas” (na língua aramaica original de Jesus). Em suma: o novo nome Pedro/Cefas é acrescentado e até substitui o antigo nome “Simão”.

2º) Mudar o nome de alguém seria “apenas colocar um apelido carinhoso e não colocar alguém à frente do grupo” [05:14].

Podemos dizer que o apelido “Boanerges” dado por Cristo a Tiago e João, filhos de Zebedeu, realmente pode se tratar de um “apelido carinhoso”, eis que baseado em um “episódio interessante” protagonizado por esses irmãos (cf. Marcos 3,17), como dissemos acima.

O mesmo, porém, não se aplica a Pedro… Com Pedro ocorre algo semelhante ao que ocorreu com Abrão e Jacó, que tiveram seus nome alterados respectivamente para Abraão e Israel, sendo identificados pelos judeus como seus primeiros patriarcas (e, portanto, líderes). Assim:

• Em Gênesis 17,15, Deus altera o nome de Abrão para Abraão, tornando-o “Pai de uma multidão de nações”.

• Em Gênesis 32,29, o Anjo do Senhor, porta-voz de Deus, altera o nome de Jacó para Israel, tornando-o “Pai da nação de Israel”.

É certo, portanto, que na cultura hebraica, nomes e mudanças de nomes nos dizem algo permanente sobre o caráter e a nova vocação do nomeado. Deste modo, bem escreve Steve Ray:

– “A mudança do nome de Simão é significativa. Porém, ainda mais importante é aquilo que foi mudado. Um judeu perceberia imediatamente o que a maioria dos leitores [ocidentais] não consegue notar. O nome ‘Pedro’ é a versão portuguesa da palavra grega que significa ‘pedra’. Jesus falava aramaico e a palavra empregada para atribuir o novo nome a Simão foi a palavra aramaica ‘keffa’, que também significa ‘pedra’. É por isso que Simão é chamado de ‘Cefas’ em certas passagens do Novo Testamento (p.ex. João 1,42; 1Coríntios 15,5; Gálatas 1,18). Ninguém fôra chamado ‘pedra’ anteriormente, a não ser Deus e… Abraão. Abraão é referido como a pedra da qual os judeus saíram (cf. Isaías 51,1). No entanto, Deus é o único a ser chamado ‘pedra’. Pedro agora compartilha este nome. O que pensaria um judeu ao ver que é outorgado semelhante nome a um simples homem? Na mesma passagem encontramos outro exemplo surpreendente da necessidade de se conhecer o espírito judaico da Bíblia. Encontra-se na frase de Mateus 16,19, que menciona as ‘chaves do Reino’. Em parte, devido à falta de conhecimento da cultura judaica, esta passagem é entendida frequentemente da forma incompleta, reduzindo-se o conceito das ‘chaves do Reino’ simplesmente à pregação, por parte de Pedro, durante o Pentecostes (outra palavra desconhecida fora da religião judaica), ‘abrindo com as chaves as portas dos céus’. Muitos protestantes cometem este erro ao tentar compreender esta passagem sem contar com o benefício de um ‘antecedente judaico’. O que representavam as ‘chaves’ para os judeus que realmente ouviram a Palavra de Deus? Qual interpretação daria um judeu da imagem das chaves que o Rei Jesus entregou a Pedro? Os fariseus memorizavam grandes partes do Antigo Testamento, se é que não memorizavam todo o ‘Tanakh’. O judeu de conhecimento médio conhecia profundamente as Escrituras. Quando Jesus disse a Pedro que ele receberia as ‘chaves do Reino dos céus’, os judeus imediatamente recordariam Isaías 22 e o despacho monárquico do Mordomo Real que administrava a casa do Rei[3].

Não existe, assim, a mínima possibilidade de a mudança do nome de Pedro ser tão somente “um apelido curioso”, como diz o programa: de fato a mudança de nome aponta o caráter e a vocação de Pedro para exercer a liderança máxima da Igreja, o que ocorre efetivamente quando Jesus lhe confere a tarefa de confirmar os seus irmãos na fé (cf. Lucas 22,31-32) e, após a Sua ressurreição, confiar-lhe todo o seu rebanho e não apenas uma parte (cf. João 21,15-17).

b) “Tu es Petrus”

Após a leitura da passagem de Mateus 16,16-19, o programa explicou que, conforme a doutrina católica, a pedra sobre a qual Jesus edificaria a Sua Igreja é Pedro [06:18] e que ocorre aqui um trocadilho entre as palavras gregas “Pedro (Petros)” e “pedra (petra)” [07:11].

Isto é correto: a Igreja Católica ensina isso mesmo. Contudo, o programa contra-argumentou que:

1º) Não é possível saber ao certo o jogo de palavras que foram usadas originalmente por Cristo, já que Ele falava em aramaico [07:29].

Pois bem: o programa reconhece que Jesus falava em aramaico e empregou aqui um “jogo de palavras”; isto são dois pontos pacíficos. Logo, devemos buscar no idioma aramaico a resposta para a questão do jogo de palavras usadas por Jesus, pois foi isto o que Ele fez de fato.

Existe uma antiquíssima versão aramaica da Bíblia chamada Peshitta, adotada pelas grejas orientais católicas e ortodoxas da Síria, onde podemos ler, na própria língua de Jesus, as palavras que Ele empregou nesse exato trecho de Mateus 16,18:

Observe-se, na tradução para o inglês (oferecida pela imagem acima), a dupla ocorrência da palavra “Keppa” e o fato de não haver qualquer diferença na grafia dessa palavra em aramaico. A primeira ocorrência significa o nome próprio “Pedro” (Petros, em grego); a segunda, o objeto “pedra” (petra, em grego). Como vemos, o jogo de palavras de Cristo usa o mesmo termo-base “Keppa”, tornando o trocadilho perfeito na expressão: “Tu és Pedro (keppa) e sobre essa pedra (keppa) edificarei a minha Igreja”.

Então como facilmente percebemos, neste caso não há a mínima diferença no aramaico entre os gêneros masculino (“Pedro”) e feminino (“pedra”); ambas as palavras são grafadas do mesmo modo: “keppa”.

2º) Existiria uma “grande diferença etimológica no Novo Testamento” entre as palavras gregas “petros” e “petra”: “‘petros’ refere-se a um pedregulho, uma pedrinha qualquer” enquanto que “‘petra’ é uma rocha sólida” [07:43].

A observação do programa até poderia ser relevante se não fossem três fatos:

a) Como já foi dito e como bem reconheceu o programa na contra-argumentação anterior, Jesus falava em aramaico. Com efeito, em sua língua original Jesus empregou por duas vezes a palavra “keppa” para se referir a Pedro e à pedra sobre a qual Ele edificaria a sua Igreja. Se Cristo quisesse mesmo chamar Simão de “pequena pedra” (=”Pedrinho”) em aramaico o teria feito usando a palavra aramaica “evna” e não “keppa”…

b) Há diversas notícias nos escritos dos primitivos Padres e Escritores da Igreja[4] que nos dão notícia de que o Evangelho de Mateus foi escrito originalmente na língua falada pelos judeus (=aramaico) e não em grego, de modo que certamente foi empregada a palavra aramaica “keppa” e não as palavras gregas “petros/petra”; estas duas palavras só foram usadas quando esse Evangelho foi traduzido para o grego que, ao contrário do aramaico, faz diferenciação entre os gêneros masculino e feminino (como também ocorre em outras línguas, como no inglês, no espanhol e até mesmo no português); daí, então, a necessidade do grego empregar “petros” para “Pedro” e “petra” para “pedra”, para que a ortografia não demande em erro de gênero.

c) Como sabem os conhecedores de grego (mesmo os não católicos), as palavras ‘petros’ e ‘petra’ eram sinônimos no grego do primeiro século. Elas significaram ‘pequena pedra’ e ‘grande rocha’ em uma velha poesia grega, séculos antes da vinda de Cristo, mas esta distinção já havia desaparecido no tempo em que o Evangelho de São Mateus foi traduzido para o grego. A diferença de significados existe apenas no grego ático, mas o Novo Testamento foi escrito em grego ‘koiné’, um dialeto totalmente diferente. E, no grego koiné, tanto ‘petros’ quanto ‘petra’ significam ‘rocha’. Se Jesus quisesse chamar Simão de ‘pedrinha’, usaria o termo [grego] ‘lithos’. (para a admissão deste fato por um estudioso protestante, veja-se D. Carson, “The expositors Bible Commentary”. Grand Rapids: Zondervan, 1984, Frank E. Gaebelein, ed., 8: 368)[5].

3º) Jesus não teria dito: “Sobre ti, Pedro, edificarei a minha Igreja”, mas sim: “Sobre essa pedra edificarei a minha Igreja” [07:59].

Repare-se, porém, que Jesus também não disse: “Sobre Mim mesmo, edificarei a minha Igreja”; ou: “Pedro, sobre a tua confissão de fé, edificarei a minha Igreja”… E por que não falou nada disso e nem mesmo “Sobre ti, Pedro, edificarei a minha Igreja”?

Primeiro, porque senão seria perdido o trocadilho, o jogo de palavras.

Segundo, porque era desnecessário explicitar ainda mais o que por si só já estava tão claro:

a) Jesus se dirige a todos os seus Apóstolos e pergunta-lhes: “Quem vós dizeis que Eu sou?”
> Aqui Jesus aponta para si mesmo.

b) Apenas Simão, filho de Jonas, responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”
> Aqui Pedro aponta para Jesus.

c) A partir de então, Jesus se dirigirá sempre e somente para Pedro:
1ª frase) Bem-aventurado és TU, Simão, filho de Jonas (…)
2ª frase) Pois também eu TE digo:
3ª frase) TU és ‘KEFFA’ (=’Pedro’, ‘pedra’; e não: ‘Evna’, ‘Pedrinho’, ‘pequena pedra’)
4ª frase) e sobre ESSA ‘KEFFA’ (=’pedra’) edificarei a minha Igreja (…);
5ª frase) e eu TE darei as chaves do Reino dos Céus;
6ª frase) e tudo o que TU ligares na terra será ligado nos céus;
7ª frase) e tudo o que TU desligares na terra será desligado nos céus.

Deste modo, nestas 7 frases de Cristo dirigidas diretamente a Pedro, porque tão somente a 4ª frase destoaria de todo o conjunto, para apontar para o próprio Cristo (como afirmam alguns protestantes) ou para fazer referência à confissão de fé de Pedro (como afirmam outros protestantes)? Não! Ela também deve apontar para Pedro tal como as demais 6 frases desse conjunto!

Terceiro, vemos nos Evangelhos que diversos outros personagens confessaram o mesmo que Pedro e, mesmo assim, Jesus não lhes atribuiu absolutamente nada em relação à Sua Igreja: Natanael fez sua confissão de fé antes de Pedro (cf. João 1,49); os outros Onze discípulos também O confessaram antes de Pedro (cf. Mateus 14,33); o ladrão crucificado com Jesus reconheceu que Ele era o Cristo (cf. Lucas 23,42); Marta idem (João 11,27)… Logo, ao se dirigir a “KEFFA” e prometer “edificar sobre ‘ESSA KEFFA'”, Jesus só podia estar se referindo a Pedro, de modo que não pode haver nenhuma dúvida: Pedro é a pedra sobre a qual o próprio Jesus edificará a sua Igreja.

Muito a propósito, assim traduz (e interpreta!) a Bíblia protestante denominada “The Living Bible” a passagem de João 1,42:

– “Mas tu serás chamado Pedro, a pedra” (=”but you shall be called Peter, the rock”).

4º) Posteriormente, o próprio Pedro (talvez recordando-se desse evento em Cesareia de Felipe), teria se referido aos crentes como sendo um edifício de pedras que vive alicerçadas sobre a Pedra viva que é Cristo Jesus e não ele, Pedro (cf. 1Pedro 2,1-10); e que Paulo seguiria o mesmo caminho (cf. 1Coríntios 3,11) [08:26].

Isso é uma “meia-verdade”, pois lemos em 1Pedro 2,4-5:

– “Também vós sois PEDRAS vivas, que entram na construção de um edifício espiritual”.

Ocorre que aqui, Pedro está escrevendo diretamente em grego e emprega exatamente a palavra “lithos”, ou seja, literalmente “pedras pequenas”. Isto significa que cada crente é como uma pequena pedra que entra numa obra e que, associados uns aos outros, constituem todo um edifício (neste caso, o edifício espiritual, que é a Igreja). Aqui, Pedro não chama os crentes de “petras” em grego, porque as “petras”, em grego, certamente são maiores, já que são empregadas para as fundações da obra. Logo, Cristo constituiu Pedro como primeira pedra da sua Igreja (Cristo pôs a primeira Pedra, sobre a qual edificará a sua Igreja, sendo Ele mesmo, Jesus, o Fundador e Pedra Angular que mantém tudo de pé).

No tocante a 1Coríntios 3,11, diz que “ninguém pode pôr outro alicerce além daquele que foi colocado: Jesus Cristo”. Ocorre que quem resolveu empregar Pedro nas fundações e edificar a Igreja sobre ele foi o próprio Cristo e não outros homens, de modo que este versículo não pode ser aplicado contra Pedro.

Na verdade, o grande problema da comunidade de Corinto era a sua frequente tendência ao divisionismo: uns diziam que seguiam a Cristo, outros que seguiam Apolo, outros Paulo, outros Cefas como lemos nos versículos 3 e 4 desse mesmo capítulo. Paulo então está ensinando aqui que a doutrina da Fé, embora transmitida pessoalmente por ele e por outras lideranças da Igreja, só podem estar apoiadas em Cristo (isto é: são cristocêntricas), pois somente Este redimiu a todos (versículo 5).

Basta então ler os 15 primeiros capítulos dos Atos dos Apóstolos e as duas pequenas Cartas de Pedro para constatar que é exatamente isto que este Apóstolo (e os Papas, seus sucessores) faz: transmite a doutrina da salvação fundamentando-se sempre no próprio Cristo Jesus.

5º) Em nenhum momento Cristo teria dito aos demais Apóstolos que Pedro seria o seu líder; pelo contrário, Cristo teria afirmado a igualdade hierárquica entre os Doze [08:58].

Com base em tudo o que dissemos acima, vemos que é totalmente desnecessário encontrarmos uma referência expressa de Cristo aos demais Apóstolos comunicando a supremacia de Pedro (e se existisse essa referência, o que diriam os protestantes? Que estaria faltando o registro da autenticação e o reconhecimento da firma no Tabelionato de Títulos e Documentos?).

Ademais, não se confunde “igualdade pastoral” com “igualdade jurisdicional”. Pastoralmente, todos os Bispos do mundo têm os mesmos múnus do Papa (que é o Bispo de Roma): ensinar, governar e santificar o seu rebanho. Porém, a jurisdição do Papa cobre Roma e toda a Igreja universal (já que Cristo confiou-lhe as chaves do Reino e todo o Seu rebanho, tendo ele ainda o dever de confirmar todos os seus irmãos na fé), enquanto que a jurisdição dos demais Bispos restringe-se às suas respectivas dioceses.

Ora, a liderança de Pedro sobre toda a Igreja é notoriamente inquestionável:

• Foi o único Apóstolo a ter o seu nome alterado para “pedra”, conectando-o também a Abraão, “pedra” (cf. Isaías 51,1).


• Foi o único Apóstolo a receber de Jesus as chaves do Reino dos céus.

• Foi o único Apóstolo a receber o ônus de confirmar os seus irmãos na fé.

• Foi o único Apóstolo a presidir a eleição de Matias para ocupar o lugar de Judas Iscariotes, determinando assim o início da praxe da sucessão apostólica (Atos 1,15-26).

• Foi o Apóstolo que proferiu a 1ª pregação pública da Doutrina Cristã em ambiente fechado no dia de Pentecostes (Atos 2,14-40).

• Foi o Apóstolo que proferiu a 1ª pregação pública da Doutrina Cristã em ambiente aberto junto ao Pórtico de Salomão (Atos 3,12-26).

• Foi o Apóstolo que conheceu a 1ª causa jurídica da Igreja, julgando com a máxima autoridade e irrecorribilidade, a fraude de Ananias e sua esposa Safira (Atos 5,1-11).

• Foi o Apóstolo que realizou a 1a visita apostólica fora do ambiente judaico (Atos 9,32-43).

• Foi o Apóstolo que decidiu pela recepção dos gentios na Igreja (Atos 10,1-48).

• Foi o Apóstolo que sozinho e por autoridade pessoal, definiu o 1o dogma da Igreja, permitindo solenemente o ingresso dos gentios na Igreja, sem a necessidade da circuncisão (Atos 15,7-11).
etc.

Tanto Pedro possui uma posição ímpar na Igreja, que os outros “grandes” Apóstolos, que entram em relação com ele, dispensam-lhe sempre uma posição de grande reverência: Paulo (Gálatas 1,8), João (João 21,15-17), Tiago (durante o Concílio de Jerusalém, Atos 15) etc.

c) A lista dos Apóstolos

Afirmou o programa que os teólogos católicos ensinam que “sempre que os nomes dos Doze Apóstolos são mencionados, o de Pedro vem em primeiro lugar” e que Pedro também chega a ser citado até em uma expressão coletiva: “Pedro e os que o acompanhavam” (cf. Marcos 1,36) [05:28].

Mas se por um lado o programa reconheceu que de fato Pedro exerceu certa liderança sobre o grupo [05:47], por outro contra-argumentou apenas que tal liderança se teria dado por pouco tempo, pois assim que a Igreja primitiva se organizou, o 1o líder efetivo dela foi Tiago e não Pedro (cf. Atos 12,17; 15,12; Gálatas 1,18-19) [05:54].

De fato, na lista dos Apóstolos, Pedro é sempre citado em primeiro lugar, em todos os casos. Em Mateus 10,2, Pedro é até mesmo qualificado como “o primeiro”:

– “Eis os nomes dos doze Apóstolos: O PRIMEIRO, Simão, chamado Pedro”.

Isso por si só já é capaz de demonstrar a sua liderança no grupo, até porque Pedro não foi o primeiro discípulo a ser chamado por Jesus… Os dois primeiros a serem chamados foram André e, muito provavelmente, João Evangelista, ambos discípulos de João Batista (cf. João 1,37-40).

Quanto à liderança de Tiago, devemos observar, em 1o lugar, que a “futura” Igreja recebeu de Cristo uma missão universal (daí a sua catolicidade):

– “Toda autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos” (Mateus 28,18-19).

– “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mateus 16,15).

– “Recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e a Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1,8).

No entanto, a totalidade do rebanho de Cristo foi por Ele mesmo confiado, após a Sua ressurreição, tão somente a Pedro:

– “Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas” (João 21,15-18).

Com efeito, a igreja de Jerusalém, não constitui em sentido próprio a Igreja Universal, Católica, mas apenas uma fração dela (=Diocese), de modo que a liderança de Tiago é apenas local – por óbvia concessão do líder universal, Pedro. Podemos observar isso claramente observando a condução do chamado “Concílio de Jerusalém” (cf. Atos 15):

Após a apresentação do problema que dividia as comunidades cristãs fora de Jerusalém (versículos 1 a 5), Pedro, mais uma vez manifesta a sua liderança DEFININDO este dogma (o 1o da Igreja Cristã): “Cremos que seremos (=os judeus) salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo [e não pela circuncisão], como eles (=os gentios) também” (versículo 11). E o versículo 12 aponta categoricamente: “Então TODA A MULTIDÃO SE CALOU”.

Portanto, Pedro DECIDIU o Concílio, permitindo o ingresso dos gentios na Igreja sem a necessidade de circuncisão. O líder da igreja local, Tiago, só vai tomar a palavra APÓS Pedro ter procedido a DEFINIÇÃO, para meramente propor uma prática pastoral que visava implementar a definição doutrinária de Pedro. Tiago, portanto, apenas explicita pastoralmente aquela definição de Pedro.

Note-se, ainda, que Pedro não precisou pedir a palavra aos demais participantes do Concílio: bastou se levantar e todos passaram a ouvi-lo diligentemente, sem interrompê-lo (versículo 7); enquanto que Tiago, ao contrário, precisou pedir vênia para que fosse ouvido (versículo 13). Isto bem demonstra quem era o líder da Igreja universal, quem era o chefe do Colégio Apostólico…

d) Pedro é o mais citado nos Evangelhos

O programa reconheceu também que Pedro é o mais citado nos Evangelhos, sendo citado pelos evangelistas cerca de 171 vezes [03:40] e que “o temperamento expansivo e a energia de Pedro” o colocou em destaque, tendo sido com certeza um dos líderes da Igreja [04:10].

Apesar disso, contra-argumentou que:

1º) Se for considerado todo o Novo Testamento, Paulo é o Apóstolo mais citado [03:46], querendo com isto afirmar implicitamente que se o argumento católico fosse correto, Paulo teria sido o 1º Papa e não Pedro.

O argumento católico quer chamar a atenção para a liderança e importância inequívoca de Pedro no período anterior à Ascenção do Senhor. Foi exatamente neste período, coberto apenas pelos Evangelhos, que Cristo:

i) prometeu edificar a Sua Igreja sobre Pedro (Mateus 16,16-19);

ii) ordenou que Pedro, após sua efetiva conversão, confirmasse os seus irmãos na fé (o que inclui, certamente, os demais Apóstolos; cf. Lucas 22,31-32).

iii) confiou-lhe de direito e de fato todo o seu rebanho (João 21,15-17).

Temos aí então, nesse pequeno período, as bases da Igreja, da qual São Paulo não participa. Daí a importância da argumentação teológica ser crescente e não desordenada como fez o programa, neste episódio contra o Papado.

De outro modo, São Paulo (chamado por Cristo após a sua Ascensão) age sempre reconhecendo a liderança de Pedro sobre a primitiva Igreja cristã. Por isso, após a sua conversão, encerrado o seu retiro de 3 (três) anos na Arábia, dirigiu-se a Jerusalém à fim de encontrar-se pessoalmente com Pedro, com quem ficou durante 15 dias (cf. Gálatas 1,18), citando Tiago apenas de relance, secundariamente (cf. Gálatas 1,19).

Ora, se Paulo não reconhecesse a autoridade de Pedro porque teria “perdido tempo” passando 15 dias com Pedro e não com Tiago, que segundo o programa, seria o verdadeiro líder da Igreja universal? Não há dúvidas, assim, de que Paulo também reconhecia a primazia e a autoridade de Pedro sobre toda a Igreja.

2º) Se a ocorrência de nomes pode ser tido por sinal de hierarquia, dever-se-ia observar que Judas Iscariotes foi o 2º mais citado nos Evangelhos e que nem por isso se poderia dizer que ele era o mentor dos demais [03:56].

Judas nem de perto se aproxima de Pedro: é citado tão somente 20 vezes e quase sempre para apontar-lhe traços negativos!!!

Por isso, esta contra-argumentação adventista é totalmente absurda e desprovida sentido… É o típico uso da “metralhadora giratória” protestante: na falta de uma contra-argumentação lógica, “atira-se” rapidamente para todos os lados, só para não dar o braço a torcer.

3º) Pedro “jamais foi o topo da lista ou Papa dos demais Apóstolos. Não há nada, nenhuma indicação histórica ou bíblica que aponte para uma liderança, digamos, ‘papal’ de Pedro” [04:23]

Ao contrário, Pedro encontra-se sempre no topo das listas bíblicas. Basta uma simples leitura para comprová-lo documentalmente:

Mateus 10,2-4: “Eis os nomes dos doze apóstolos: O PRIMEIRO, SIMÃO, CHAMADO PEDRO; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor”.

– Marcos 3,14-19: “Designou [Jesus] doze dentre eles para ficar em sua companhia. (…) Escolheu estes doze: SIMÃO, A QUEM PÔS O NOME DE PEDRO; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador; e Judas Iscariotes, que o entregou”.

– Lucas 6,13-16: “Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos: SIMÃO, A QUEM DEU O SOBRENOME DE PEDRO; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor”.

– Atos 1,13: “Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: PEDRO e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago”.

Além disso, há inúmeros testemunhos históricos, bem do início do Período Patrístico (que o programa, por pura conveniência, faz questão de ignorar), apontando Pedro como a pedra sobre a qual Cristo fundou a Sua Igreja e como origem da instituição do Papado. Cito apenas duas:

– “Foi ocultado algo a Pedro, que foi chamado ‘pedra sobre a qual a Igreja seria edificada’, que obteve as chaves do Reino dos Céus e o poder de desligar e ligar nos céus e na terra?” (Tertuliano de Cartago, +220; Da Prescrição dos Hereges 22,2-4).

– “[Os hereges] se atrevem a atravessar o mar [Mediterrâneo] para levar cartas de cismáticos e profanos à cátedra de Pedro e Igreja principal, de onde provém a unidade do sacerdócio. Esquecem, porém, que são esses mesmos romanos que tiveram sua fé louvada pelo Apóstolo e [são] inacessíveis à perfídia” (Cipriano de Cartago, +258; Carta 59,14).

Por isso concluía magistralmente o grande Doutor de Hipona, Santo Agostinho (+430):

“Quem ignora que o príncipe dos Apóstolos é o bem-aventurado Pedro? (…) A Igreja atua em bendita esperança até nesta vida problemática, e esta Igreja (…) foi personificada no Apóstolo Pedro, por conta do primado que obteve dentre os Apóstolos” (Tratado sobre João 56,1; 124,5).

Quem disse então que a primazia de Pedro não encontra eco na Bíblia e na História???

Para mais referências do Período Patrístico, recomendamos a leitura do livro “A Fé Cristã Primitiva – Coletânea de Sentenças Patrísticas”, que pode ser adquirido no Clube de Autores[6].

Finalmente, para concluir esta parte da refutação, devemos observar que a doutrina católica sobre o Papado não se fundamenta apenas nessas “4 razões” apontadas pelo programa adventista. Muito pelo contrário, sustenta-se bíblica e historicamente em dezenas e mais dezenas de argumentos. Dave Armstrong, por exemplo, cita 50 razões apoiando-se tão somente na Bíblia[7]!

3. ACUSAÇÕES CONTRA A INSTITUIÇÃO DO PAPADO QUE DESPREZAM A DOUTRINA CATÓLICA


Após tentar oferecer contra-argumentações para só 4 argumentos católicos que justificam a instituição do Papado, o programa passou a apresentar contra-argumentos contra o “regime papal”, “fundamentando-se” na Bíblia e, paradoxalmente, em diversas fontes extrabíblicas.

Sim, dizemos “paradoxalmente” porque sendo os Adventistas do 7º Dia uma denominação protestante (muito embora muitos protestantes neguem isto), deveriam contra-argumentar apelando “apenas para a Bíblia” (=doutrina da “Sola Scriptura”), como todos os demais protestantes[8]. Ora, socorrendo-se agora de fontes extrabíblicas, em especial dos Padres da Igreja (sendo que todos eles eram católicos!!!), verifica-se que na prática a “Sola Scriptura” é insuficiente para os Adventistas demonstrarem que a antiquíssima instituição do Papado seria uma doutrina errônea.

Deploravelmente, quando a maioria dos protestantes questionam os católicos, exigem que apresentemos as nossas razões “usando apenas a Bíblia” (sendo que a própria Bíblia não ensina nem exige isto!!!); porém, entre eles, internamente, também precisam apelar para o seu “magistério” e para as suas “tradições” denominacionais, de modo que também não aplicam a “Sola Scriptura” que afirmam observar…[9]

Vamos aos contra-argumentos:

a) “Fundamentados” na Bíblia

1º) Jesus advertiu aos Apóstolos que não se deixassem ser chamados de “pai”, porque só Deus é Pai (cf. Mateus 23,1-12); no entanto, curiosamente, o líder católico se denomina “Papa”, que quer dizer “Pai” em latim [09:17].

Ok. Historicamente, convém lembrar que o termo latino “papa” provém do grego “papas”, variação de “pappas”, que quer dizer “pai”. Nos primeiros séculos do Cristianismo, o título era aplicado a todos os bispos, como expressão de afeto. Com o tempo, passou a ser empregado apenas para o Bispo de Roma, em virtude da sua peculiar posição como sucessor de São Pedro, pastor de toda a Igreja e Vigário de Cristo sobre a terra.

A contra-argumentação apresentada é tão simplista que o que realmente faz, na verdade, é isolar tal afirmação de Cristo do seu contexto. Com efeito, quando Jesus diz que “não devemos chamar ninguém de pai”, está tratando de um assunto bem diferente: da hipocrisia dos fariseus e doutores da lei, que punham Deus de lado e se colocavam ilegitimamente no Seu lugar, como podemos facilmente observar pelos versículos 6 e 7. Estes eram totalmente obcecados pelo respeito e louvor humanos. O que Cristo quer para os seus líderes é que sejam humildes: que se contemplem como realmente são, que contemplem os outros como realmente são e que contemplem a Deus na verdade, como realmente Ele é (cf. Santa Teresa d’Ávila).

Ora, se realmente não pudéssemos chamar ninguém de pai, teríamos que riscar o Mandamento divino que diz: “Honra teu PAI e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus” (Êxodo 20,12). Mas será que os Adventistas – que nos acusam e se apegam tanto à letra dos Dez Mandamentos (a ponto de ignorar solenemente o espírito da Lei) – concordariam com isto?

Estudando melhor o assunto, o Pe. Mitch Pacwa[10] apontou que “Existem cerca de 144 ocasiões no Novo Testamento onde o título “pai” é empregado para alguém que não seja Deus: para os patriarcas de Israel, para os pais de família, para os líderes judeus e para os líderes cristãos”. Não a toa, portanto, que o próprio São Paulo escreve aos fiéis cristãos, na condição de “pai espiritual”:

– “Não vos escrevo isto para vos envergonhar, mas para admoestar-vos como a filhos queridos. Pois, embora tenhais como cristãos dez mil instrutores, não tendes muitos pais. Anunciando a boa notícia, eu vos gerei em Cristo” (1Coríntios 4,14-15).

– “A Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus nosso Pai, e da de Cristo Jesus, nosso Senhor” (1Timóteo 1,2).

– “A Tito, meu verdadeiro filho, segundo a fé comum: graça, misericórdia, e paz da parte de Deus Pai, e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tito 1,4).

– “Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões” (Filemon 1,10).

E não só Paulo… O Apóstolo João também se dirigia aos cristãos chamando-os de “Filhinhos” (cf. 1João 1,2).

Ora, se os cristãos não pudessem mesmo chamar ninguém de pai, o primeiro Mártir da Igreja, Santo Estêvão, não teria cometido “erro tão crasso”:

– “E ele disse: ‘Homens, irmãos e PAIS, ouvi: O Deus da glória apareceu a nosso PAI Abraão, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã” (Atos 7,2).

…nem, muito menos, o experimentadíssimo São Paulo (pois, vindo de um Apóstolo que instrui as igrejas na reta Fé, isso seria totalmente injustificável):

– “Homens, irmãos e PAIS, ouvi agora a minha defesa perante vós” (Atos 22,1).

– “Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é PAI de todos nós” (Romanos 4,16).

Com efeito, considerando que os católicos, ao se dirigirem ao Papa, não estão atribuindo a ele aquele significado que designa propriamente o Pai celeste, mas sim usando um termo que meramente indica respeito, reverência e afeto, de que realmente é legítimo merecedor, é mais do que óbvio de que não há problema nenhum nisto, caso contrário os protestantes também não poderiam chamar seus líderes de “pastores” já que, pela Bíblia, somente Cristo é “o Bom Pastor” (cf. João 10,11.14).

2º) Quanto às chaves dadas por Jesus a Pedro, com o poder de ligar e desligar no céu e na terra, “esse mesmo elemento” foi conferido em outras passagens bíblicas “a todos os discípulos de Cristo e não apenas a um deles” (cf. Mateus 18,18; João 20,23; Apocalipse 1,18) [09:51].

Reproduzamos, então, as passagens bíblicas citadas pelo programa:

– Mateus 18,18: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”.

– João 20,23: “Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos”.

– Apocalipse 1,18: “Eis que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno”

Em Mateus 18,18 e João 20,23, Jesus está se dirigindo aos Apóstolos como um todo. No entanto, nestas duas passagens não se fala nada das “chaves do Reino dos Céus”; fala apenas das funções de ligar/reter e desligar/não reter, também entregues a Pedro em Mateus 16,16-19.

Apocalipse 1,18, por outro lado, fala das chaves da morte e do inferno. Portanto, estas NÃO são as “chaves do Reino dos Céus” e permanecem de posse plena do Senhor. Pretender que as chaves do Inferno sejam as mesmas do Céu é um verdadeiro estupro à Palavra de Deus.

Pois bem: como facilmente percebemos, SOMENTE Pedro recebeu as chaves do Reino; nenhum outro Apóstolo as recebeu (nem mesmo João, o “discípulo amado” e, cronologicamente, o último a falecer). E o que seriam essas chaves? Representam justamente a primazia sobre toda a Igreja: Pedro, recebendo as chaves do Reino, torna-se o legítimo representante de Cristo-Rei sobre a terra, da mesma forma como lemos em Isaías 22,22, onde o Rei Ezequias remove de Sobna as chaves da casa de Davi e as entrega ao seu novo sucessor Eliacim, que passa a ser então o novo mordomo ou vizir do reino de Israel e Judá, detendo todo o poder do Rei, exceto o seu próprio trono.

3º) No que diz respeito à passagem em que Jesus pede a Pedro para que apascente as suas ovelhas (cf. João 21,15), este pedido também é, em outras passagens, “estendido a todos os membros do grupo” (cf. 1Pedro 5,1-4) [10:19].

Leiamos agora 1Pedro 5,1-4:

– “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória. Semelhantemente vós jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.

Quem escreve esta carta para os cristãos do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia é o próprio São Pedro, a partir da “Babilônia” (cf. 1Pedro 5,13), isto é, Roma, como sempre afirmou a Igreja Católica e como reconhecem a maioria dos protestantes e biblistas. Como facilmente podemos verificar, Pedro não está “doando” uma parte do Rebanho do Senhor para esses outros presbíteros, mas está simplesmente exortando a cada presbítero em particular dessas regiões para que cuidem zelosamente dos seus respectivos rebanhos locais. Pedro pode agir assim porque é responsável, perante o Senhor, por todo o rebanho.

Não há, pois, que se falar em “pedido estendido”, pois a totalidade do Rebanho de Jesus continua sob a guarda universal de Pedro (e dos Papas, seus sucessores), fiel vigário de Cristo sobre a terra até que Jesus retorne no fim dos tempos (cf. Mateus 28,20).

Mais uma vez: Só pode exortar nesses termos quem tem a responsabilidade pelo todo. Logo, antes de enfraquecer, estes versículos manifestam fortemente a autoridade primacial de Pedro sobre toda a Igreja.

b) “Fundamentados” em Fontes Extrabíblicas

Como vimos até aqui, a própria Bíblia aponta muito mais para a legitimidade do Papado do que o inverso. Contudo, como dissemos anteriormente, de forma muito paradoxal o programa esqueceu a “Sola Scriptura” protestante e passou a apelar também para fontes não-bíblicas, para tentar refutar essa bimilenar instituição cristã. Para que a nossa análise seja então completa, aceitamos o desafio de apreciar essas contra-argumentações, para “ter claro se nossas convicções religiosas são de fato baseadas em elementos concretos ou em crendice, tradição ou achismo”, como declarou o apresentador.

E para facilitar o nosso estudo, seguiremos aqui a ordem cronológica de todos os “fatos” identificados e apontados, deixando novamente de lado aquela “ordem de conveniência” do programa, que desordena tudo para favorecer o ponto de vista adventista:

1º) Pedro nunca se considerou chefe supremo da Igreja ou Papa, nem em Roma nem em qualquer outra parte do Império; “o mesmo pode-se dizer de Lino e de Clemente, seus dois imediatos substitutos na cidade de Roma” [10:38].

Este contra-argumento desconsidera a interpretação sistemática da Bíblia e omite importantes eventos para o primado de Pedro. Contudo, a Bíblia é muito clara em como Pedro é preparado por Jesus para tornar-se o Chefe da Igreja. Recordemos os principais:

• Mateus 16,16-19: Jesus quis entregar a Pedro e somente a Pedro, as chaves do Reino dos Céus. Tais chaves, segundo a Bíblia, significam autoridade, primazia (cf. Isaías 22,22; Apocalipse 1,28; 3,7). Em nenhum outro ponto do Novo Testamento vemos Jesus entregar as chaves do Reino para qualquer outro Apóstolo ou discípulo seu.

• Lucas 22,31-32: Jesus confiou a Pedro e somente a Pedro a missão de confirmar na fé os seus irmãos (o que inclui até os demais Apóstolos). Com efeito, o dom ou carisma da reta fé é entregue tão somente a Pedro.

• João 21,15-17: Cristo constituiu Pedro e somente Pedro como Pastor do Seu único rebanho (cf. João 10,16). Observe-se que Jesus não legou apenas uma parte do Seu rebanho, mas todo o rebanho, de maneira indivisível e originária. Deste modo, percebe-se claramente que Pedro, embora seja da mesma ordem dos demais Apóstolos (=o Papa é bispo assim como os demais bispos do mundo), possui ele uma jurisdição superior, apascentando (=exercendo autoridade) todo o rebanho cristão (ou seja, a somatória de todos os rebanhos parciais, confiados a cada bispo local).

Por outro lado, citando nominalmente Lino e Clemente como “imediatos substitutos” de Pedro na cidade de Roma, é óbvio que o programa cai em contradição, pois reconhece que estes dois bispos de fato sucederam a Pedro em Roma, confirmando a antiguidade do instituto do Papado e, ao contrário do que costuma afirmar o Adventismo, demonstrando que tal instituição não teve origem com a “grande apostasia da Igreja” na época de Constantino.

Com relação a Lino, conhecido de São Paulo Apóstolo (cf. 2Timóteo 4,21), é bem verdade que pouco sabemos acerca do seu pontificado e de seus “atos” sobre a Igreja Universal. O mesmo se diga de Anacleto, o sucessor de Lino, e que o programa esqueceu de mencionar…

No entanto, quanto a Clemente, o sucessor de Anacleto e também conhecido de São Paulo (cf. Filipenses 4,3), enviou este, no ano 95, uma carta à comunidade de Corinto, em que ao mesmo tempo que exortava, impunha a sua autoridade. Isto porque o espírito divisionista existente na época de Paulo continuava a fazer estragos ali, a ponto de sua as autoridades eclesiásticas terem sido “depostas” por um grupo de descontentes. Clemente então adverte:

– “Vós, portanto, que fostes a causa da rebelião, sede submissos aos vossos presbíteros e aceitai com contrição a correção (…) Se, porém, alguns não obedecerem ao que, POR NOSSO INTERMÉDIO, Ele (=Cristo) fez, saibam que se envolverão em pecado e perigo não pequeno (…) Alegria e regozijo nos dareis se, obedientes ao que, pelo Espírito Santo, acabamos de escrever, cortardes pela raiz a cólera iníqua de vossa inveja, sendo conformes com a exortação à paz e à concórdia que nesta carta fazemos” (1a Carta aos Coríntios 57; 59; 63).

É este o 1º testemunho patrístico da posição singular da Igreja de Roma e do ocupante de sua Sé, isto é, a Sé de Pedro (que o programa faz questão de omitir). Repare-se, ainda, que tendo sido escrita entre os anos 95 e 96, o Apóstolo João ainda se encontrava vivo (e o Apocalipse muito provavelmente nem mesmo tinha sido ainda escrito[11]); entretanto, quem veio intervir em Corinto é Clemente de Roma, sucessor de Pedro e certamente conhecedor do seu ofício e autoridade como Papa (ainda que nessa época talvez não fosse esse o título empregado)[12].

Observe-se ainda que essa carta foi levada a Corinto por 3 testemunhas que tinham também por missão observar e relatar a Clemente o retorno à paz naquela comunidade. Logo, não se tratava de uma simples carta retórica ou exortatória, até porque também “recomendava” aos infratores que se exilassem, refletindo com certeza a prática romana secular em que o exílio implica na fuga do julgamento.

A carta de Clemente aos Coríntios, por seus bons frutos para a comunidade, era tão estimada, que foi tida por canônica em diversas igrejas cristãs (antes de o cânon do Novo Testamento ter sido definido pela Igreja), constando, por exemplo no tão celebrado manuscrito bíblico conhecido como “Códice Alexandrino”. Quase um século depois, o bispo Dionísio de Corinto (+166) comunicou ao Papa Sótero que sempre se alegravam quando liam nas igrejas locais a carta de Clemente[13].

Por fim, é cabível recordar que os Santos Padres e escritores eclesiásticos anteriores à Era Constantiniana, já apontavam Lino, Anacleto e Clemente como sucessores diretos de São Pedro, como, p.ex., Santo Ireneu de Lião (“Contra as Heresias 3,3,3). Aliás, a sucessão apostólica dos bispos de Roma a partir de Pedro era tão conhecida e amplamente aceita pelas demais igrejas cristãs (inclusive pelos cismáticos e hereges; e ainda que acidentalmente se omitisse algum nome na lista das sucessões[14]), que sempre era apontada pelos escritores eclesiásticos para se verificar a ortodoxia dos diversos grupos que se identificavam como “cristãos”.

2º) Já no final do séc. II, o bispo de Roma queria fazer valer a todo custo a sua supremacia, como no caso de Victor I, que ordenou às igrejas orientais a celebrar a Páscoa nos domingos; não sendo atendido, excomungou os cristãos desobedientes [16:57].

Em princípio, devemos observar que a questão aqui era meramente litúrgica (=disciplinar) e não dogmática (=doutrinária), de modo que qualquer das partes envolvidas na controvérsia poderia adotar uma entre duas posições possíveis:

• Celebrar a Páscoa em qualquer dia da semana (inclusive no domingo!), para preservar o dia 14 de Nisã (dia da páscoa judaica);
– OU –
• Celebrar a Páscoa no domingo seguinte ao dia 14 de Nisã, para preservar sempre o dia em que o Senhor ressuscitou (o domingo).

Porém, ao contrário do que afirma o programa, não eram todas as igrejas orientais que celebravam a Páscoa no dia 14 de Nisã, mas apenas uma pequena parcela, que correspondia às igrejas da Ásia Menor, evangelizadas por São João Evangelista. Considerando, porém, que a imensa maioria das igrejas (inclusive Roma, evangelizada por Pedro e Paulo) celebrava a Páscoa no domingo seguinte ao dia 14 de Nisã, o Papa Vítor (189-199) quis padronizar a data da celebração, para que todos os cristãos do mundo pudessem comemorar juntos a Páscoa do Senhor no mesmíssimo dia, como um corpo bem unido (cf. 1Coríntios 1,10; Filipenses 2,2).

O fato de Vítor ameaçar as igrejas dissidentes com a excomunhão UNIVERSAL (e não só com a Igreja de Roma) e, posteriormente, cumprir a ameaça, demonstra que o exercício da jurisdição universal pelo bispo de Roma, o Papa, continuava sendo compreendido no século II como inerente à função, o que mais uma vez reforça a autenticidade do instituto do Papado. Finalmente, para pôr fim às hesitações existentes nos primeiros séculos e unificar a celebração da Páscoa em toda a Igreja, o I Concílio Ecumênico de Niceia, em 325, determinou consensualmente que a Páscoa seria sempre celebrada no domingo seguinte à primeira lua cheia após o equinócio da primavera no hemisfério norte (=21 de março), ou seja, no domingo seguinte ao dia 14 de Nisã (o que bem demonstra que o desejo e sentimento de Vítor I eram legítimos e autênticos em toda a Igreja):

– “Nós, por fim, vos anunciamos as boas novas dos acordos relativos à Santa Páscoa, porque este pormenor também foi através de nossas preces corretamente firmado, de modo que todos os nossos irmãos no Oriente, que anteriormente seguiam o costume dos judeus, doravante, celebrarão a sacratíssima festa da Páscoa simultaneamente com os romanos, convosco e com todos aqueles que observam a Páscoa desde o início [no domingo seguinte à Páscoa judaica]” (Carta Conciliar à Igreja de Alexandria).

3º) Se Pedro não foi o 1o Papa, então “quem foi”? No séc. II, quando a Igreja estava mais organizada, começou-se a dar mais destaque para os líderes locais, geralmente anciãos que cuidavam de uma pequena congregação de fiéis. O respeito por esses líderes era proporcional ao tamanho da cidade onde sua congregação se encontrava. Criou-se então uma hierarquia e esses anciãos foram chamados de “epíscopos”, termo grego que significa “aquele que vigia sobre os demais” [12:49] (…) Considerando que a maior cidade daquela época era Roma, então o bispo que detinha maior prestígio e mais destaque era evidentemente o de Roma [13:54].

Isto poderia ser verdade se não fosse um pequeno detalhe, que derruba todo esse castelo de areia de blá-blá-blás: o termo “epíscopo”, que significa “bispo”.

Ora, se o contra-argumento adventista diz que “criou-se então [no século II] uma hierarquia” e os “anciãos foram chamados de epíscopos”, logo o termo “epíscopo” não pode absolutamente ocorrer no Novo Testamento, já que este foi escrito durante o século I… Correto? Porém, o termo aparece diversas vezes no NT, como em Atos 20,28; Filipenses 1,1; 1Timóteo 3,2; e Tito 1,7. Com efeito, o estabelecimento de uma hierarquia eclesiástica e o cargo de bispo são de instituição apostólica e não uma invenção do século II.

Por outro lado, o “prestígio” do bispo de Roma não está ligado ao “respeito” aos líderes ou tamanho das cidades do Império Romano, mas pelo simples fato de o Papa ser o legítimo sucessor de São Pedro: este, após deixar a Palestina, passou por Antioquia e, por fim, estabeleceu-se em Roma, onde foi martirizado em 64 d.C., como bem documentam os escritores do Período Patrístico (séc. II a VIII) e as escavações arqueológicas realizadas sob a basílica de São Pedro, no Vaticano, em meados do século XX.

4º) O termo “epíscopos” aparece “umas 5 vezes” no Novo Testamento, “mas com sentido bem diferente daquele adquirido posteriormente. De ‘epíscopo’ vem a palavra ‘bispo’, que usamos até hoje” [13:39].

Como se observa neste ponto, o programa cai em clara contradição com o que afirmou no item anterior.

E se por acaso o termo “epíscopo” na Bíblia tinha um “sentido bem diferente daquele adquirido posteriormente”, por que o programa não aproveitou o momento para apresentar esse “sentido bíblico diferente”? Será que é porque o sentido é exatamente o mesmo, isto é, o de supervisão e vigilância???

Na verdade, estamos aqui, novamente, diante da tática da “metralhadora giratória” protestante…

5º) As passagens dos Padres da Igreja citadas pela Igreja Católica para fundamentar Pedro como 1º Papa “são geralmente controvertidas e fora de contexto” [11:11].

Afirmação totalmente gratuita e que não cita exemplos concretos e nem as fontes patrísticas que em tese contradiriam o ensino católico (autor, livro, capítulo). Ora, juridicamente falando, o ônus da prova cabe a quem acusa…

Logo, temos aqui mais um contra-argumento destituído de valor.

6º) Santo Agostinho de Hipona, um dos teólogos mais respeitados da Igreja, “negou veementemente que Jesus se referia a Pedro quando disse ‘sobre essa pedra edificarei a minha Igreja'” (cf. Retractationes, livro 1, capítulo 20 ou 21, verso 1 “dependendo da versão”). Para Agostinho, “a pedra (…) era Cristo e nunca Pedro”; “isto está claramente lá”, “pode ser conferido inclusive no original latino da obra” [11:27].

O que diz Santo Agostinho nessa obra? Diz literalmente o seguinte:

– “Em certo passo, disse eu, do Apóstolo São Pedro, que a Igreja fora fundada sobre, como sobre uma pedra, sentido esse que celebra o mui espalhado hino do bem-aventurado Ambrósio, nestes versos do ‘Canto do Galo’: ‘Hoc ipsa petra ecclesiae canente culpam diluet…’ Mas lembro-me que depois e por muitas vezes tenho explicado esta sentença do Salvador: ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja’, neste sentido: que a pedra é Aquele que Pedro tinha confessado quando disse: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’. Assim foi que Pedro, derivando o seu nome desta pedra, figurava a pessoa da Igreja que sobre ela foi edificada e que recebeu as chaves do Reino dos Céus. Com efeito, não diz Ele: ‘Tu és a pedra’, mas: ‘Tu és Pedro’, porque a pedra era Cristo, e Simão, tendo-O confessado, como toda a Igreja o confessa, foi por isso chamado ‘Pedro’. Que o leitor escolha das duas interpretações aquela que lhe pareça mais provável”.

O que vemos aqui é que Agostinho de Hipona humildemente reconhece a sua incapacidade para interpretar com exatidão a passagem bíblica de Mateus 16,16-19 e, por isso, deixa para os seus leitores a OPÇÃO de escolher entre uma interpretação ou outra, de modo que não descarta a validade nem de uma nem de outra. Ora, tal incapacidade era diretamente derivada do fato de Agostinho desconhecer o grego e o aramaico; ele conhecia e manuseava muito bem a tradução bíblica conhecida como “Vetus Latina” (anterior à Vulgata de São Jerônimo), mas que por ter sido traduzida por diversas pessoas anônimas e em épocas bastante diferentes, possuía muitas imprecisões e atentava contra a sua unidade interna.

Porém, ambas as interpretações podem se auto-completar, como bem demonstra o Catecismo da Igreja Católica – ao que parece, totalmente desconhecido para o roteirista do programa, já que ele parte de uma suposição errada: a de que os católicos não aceitam como possível complementação a interpretação de que a pedra seja também a confissão de Pedro. Vejamos o que diz o Catecismo:

– “Movidos pela graça do Espírito Santo e atraídos pelo Pai, nós cremos e confessamos acerca de Jesus: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’ (Mateus 16,16). Sobre a rocha desta fé, confessada por São Pedro, Cristo tem construído a sua Igreja (cf. Mateus 16,18; São Leão Magno, Sermão 4,3; 51,1; 62,2; 83,3)” (CIC 424).

– “No colégio dos Doze, Simão Pedro ocupa o primeiro lugar (cf. Marcos 3,16; 9,2; Lucas 24,34; 1Coríntios 15,5). Jesus lhe confia uma missão única. Graças à uma revelação do Pai, Pedro confessou: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’. Então Nosso Senhor lhe declarou: ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do Hades não prevalecerão contra ela’ (Mateus 16,18). Cristo, ‘Pedra viva’ (1Pedro 2,4), assegura à sua Igreja, edificada sobre Pedro, a vitória sobre os poderes da morte. Pedro, em razão da fé confessada por ele, será a rocha inquebrantável da Igreja. Terá a missão de custodiar esta fé perante todo desfalecimento e de confirmar nela os seus irmãos (cf. Lucas 22,32)” (CIC 552).

– “Jesus confiou a Pedro uma autoridade específica: ‘A ti te darei as chaves do Reino dos céus; e o que ligares na terra será ligado nos céus; e o que desligares na terra será desligado nos céus’ (Mateus 16,19). O poder das chaves designa a autoridade para governar a casa de Deus, que é a Igreja. Jesus, ‘o Bom Pastor’ (João 10,11) confirmou este encargo após sua ressurreição: ‘Apascenta as minhas ovelhas’ (João 21,15-17). O poder de ‘ligar e desligar’ significa a autoridade para absolver os pecados, pronunciar sentenças doutrinárias e tomar decisões disciplinares na Igreja. Jesus confiou esta autoridade à Igreja pelo ministério dos Apóstolos (cf. Mateus 18,18) e particularmente pelo de Pedro, o único a quem foi confiada explicitamente as chaves do Reino” (CIC 553).

– “O Senhor fez de Simão, a quem deu o nome de Pedro, e somente a ele, a pedra de sua Igreja. Lhe entregou as chaves dela (cf. Mateus 16,18-19); o instituiu pastor de todo o rebanho (cf. João 21,15-17). ‘Resta claro que também o Colégio dos Apóstolos, unido à sua Cabeça, recebeu a função de ligar e desligar dada a Pedro’ (Lumen Gentium 22). Este ofício pastoral de Pedro e dos demais Apóstolos pertence aos fundamentos da Igreja. Continua pelos bispos sob o primado do Papa” (CIC 881).

Como quer que seja, o que vemos aqui é que Santo Agostinho acredita que as duas interpretações eram plenamente possíveis, de modo que isto está muito longe de ser o que afirmou erroneamente o programa adventista: que, para Agostinho, a pedra ***nunca*** poderia se referir a Pedro. Tanto poderia, que ele mesmo deixou para os seus leitores essa alternativa como possível interpretação, baseada sobretudo na autoridade de outro grande doutor da Igreja, Santo Ambrósio de Milão.

Mas como São Jerônimo interpretava essa passagem bíblica, ele que era o maior biblista da época de Santo Agostinho, profundo conhecedor de hebraico, aramaico, grego e latim, tradutor da Vulgata Latina? Vejamos:

– “Estou a falar com quem sucedeu ao Pescador (=São Pedro), com o Discípulo da Cruz. Nenhum Chefe Supremo reconheço senão a Cristo e por isso me ponho em comunhão com Vossa Santidade, isto é, com a Cátedra de Pedro (…) A nenhum outro quero seguir e estar em comunhão, senão com Cristo e com vossa beatitude (=papa Dâmaso), isto é, com a cátedra de Pedro. Eu sei que sobre esta pedra a Igreja foi construída e quem come o Cordeiro fora desta Casa é profano. Quem não estiver na arca de Noé, isto é, em comunhão com esta cátedra, perecerá quando a inundação prevalecer” (São Jerônimo, +420; Carta 15,2).

– “A Igreja aqui está sendo rompida em três partes, cada parte ansiosa por me agarrar em seu apoio (…) Estou em prantos, mas unido à cátedra de Pedro (…) Imploro que vossa beatitude (=papa Dâmaso) me fale, por carta, com quem posso entrar em comunhão na Síria” (Carta 16,2).

É evidente que São Jerônimo, profundo conhecedor de latim, grego e hebraico, soube bem interpretar Mateus 16,16-19… A pedra sobre a qual a Igreja foi edificada é Pedro!

7º) No séc. IV, Constantino o Grande unificou a Igreja e o Estado Imperial, como parte de uma grandiosa estratégia política, afirmando-se convertido ao Cristianismo após ver a cruz como sol no caminho para a batalha, tendo-lhe Jesus dado o sinal para a vitória: “In hoc signo vinces” [15:01].

Constantino, imperador romano do Ocidente, não unificou a Igreja e o Império; o que ele fez foi (juntamente com Licínio, imperador romano do Oriente) conceder a liberdade religiosa aos cristãos através do Edito de Milão:

– “Eu, Constantino Augusto, e eu, Licínio Augusto, venturosamente reunidos em Milão para discutir sobre todos os problemas referentes à segurança e ao bem público, entre outras disposições a assegurar, cremos dever regulamentar, primeiramente, o bem da maioria, que se refere ao respeito pela divindade, ou seja, garantir aos cristãos, bem como a todos, a liberdade e a possibilidade de seguir a religião de sua escolha, a fim de que tudo o que existe de divino na morada celeste possa ser benevolente e favorável a nós mesmos e a todos aqueles que se encontram sob a nossa autoridade. Este é o motivo pelo qual cremos – num desígnio salutar e muito digno – dever tomar a decisão de não recusar essa possibilidade a quem quer que seja, tenha essa pessoa ligado a sua alma à religião dos cristãos ou a qualquer outra: para que a divindade suprema – a quem prestamos uma homenagem espontânea -, em todas as coisas, possa nos testemunhar com o seu favor e a sua benevolência costumeiros. Assim, convém que Vossa Excelência saiba que decidimos suprimir todas as restrições contra os cristãos, encaminhadas a Vossa Excelência nos escritos anteriores, e abolir as determinações que nos parecem totalmente infelizes e estranhas à nossa brandura, assim como permitir, a partir de agora, a todos os que pretenderem seguir a religião dos cristãos, que o façam de modo livre e completo, sem serem aborrecidos ou molestados” (ano 313).

E mesmo depois de converter-se ao Cristianismo e tornar-se único Imperador sobre todo o Império (porque Licínio passou a perseguir novamente os cristãos e Constantino saiu na defesa destes), ele JAMAIS unificou Igreja e Império, pois mesmo favorecendo o Cristianismo, permitiu que as religiões pagãs continuassem a prestar culto aos seus respectivos deuses.

Quanto a “ver a cruz como sol” no caminho de batalha (provavelmente para fazer-nos crer que a Igreja Católica idolatra o deus Sol pagão (Mitra), tal como fazia Constantino antes da sua conversão ao Cristianismo), leiamos o que foi relatado por Constantino:

– “Disse Constantino que nas horas meridianas do sol, quando o dia já começava a declinar, viu com os seus próprios olhos, em pleno céu, um troféu em forma de cruz, sobreposto ao sol, feito à base de luz, ao qual estava unida uma inscrição que dizia: ‘Com este sinal, vencerás'” (Eusébio de Cesareia, +320; Vida de Constantino 1,28).

Percebemos, então, que Constantino não viu “a cruz como sol”, mas “a cruz sobreposta ao sol” – e portanto, acima do sol ou na frente do sol, tanto faz -, o que bem nos demonstra que a cruz de Cristo (e, por consequência, a Fé Cristã) haveria de prevalecer sobre o deus Sol (e, por consequência, sobre o Paganismo como um todo).

8º) A partir de Constantino, uma mescla de símbolos cristãos e romanos começaram a aparecer em todas as partes do Império, e decretos e mais decretos favorecendo o Cristianismo foram expedidos: a Igreja agora não era mais católica universal, mas católica romana, e o bispo de Roma era quem mais ganhava com esta situação [15:52].

No programa, o único símbolo apresentado foi o conhecidíssimo “Monograma de Cristo” (formado pela letras gregas Chi (χ) e Ró (ρ) sobrepostas) dentro de uma guirlanda de folhas, retirado de um sarcófago cristão do período constantiniano e exposto hoje no Museu Pio-Cristão, que os Adventistas interpretam como símbolo do deus Sol de Constantino.

Tal acusação também é absurda, até porque encontramos o Monograma de Cristo em sarcófagos e catacumbas cristãs bem anteriores à visão de Constantino, em 313, isto é, anteriores ao século IV.

Ademais, prova-se que o “Monograma de Cristo” sempre foi tido por símbolo especificamente cristão pelo simples fato de Juliano – imperador apóstata de 361 a 363, que tentou restabelecer o Paganismo e revitalizar o culto dos deuses – tê-lo removido do estandarte romano, tão logo assumiu o Império, substituindo-o pela insígnia de Mitra, com a inscrição “Ao Sol invencível”. Isso o programa não disse…

No tocante aos decretos expedidos, estes favoreciam o Cristianismo como um todo e não o Papa em específico. Constantino, além de conceder a liberdade religiosa aos cristãos, restituiu os bens confiscados pelo Estado, ofereceu prédios para a realização dos cultos, equiparou o domingo (dia consagrado pelos cristãos ao Senhor) aos dias festivos, promulgou leis contra o adultério, tentou suprimir os espetáculos sangrentos ou obscenos nos circos, ergueu igrejas e monumentos na Terra Santa etc.

E também graças ao Cristianismo, Constantino proibiu o suplício na cruz, proibiu a marcação do rosto dos condenados com ferro fervente, limitou o poder do “pai de família” (que detinha o poder de vida e morte sobre os membros da sua família), mitigou as condições de trabalho dos escravos (e só não chegou a abolir a escravidão por temer o colapso do Estado, há muito baseado nessa espécie de economia), tentou fixar a população em suas próprias cidades de trabalho etc. Como podemos observar, em geral tudo coisas bastante positivas e condizentes com a moral cristã, apesar das muitas limitações da personalidade de Constantino, não poucas vezes violento contra a sua própria família.

Quanto às boas relações entre os imperadores cristãos e os Papas, bem escreveu D. Estêvão Bettencourt (osb):

– “O fato de terem cooperado entre si a Igreja e o Império não é um mal em si; não há por que rejeitar de antemão o bom entendimento entre aquela e este, a menos que se professe um Maniqueísmo sócio-político. Se um imperador se diz católico e nada prova que não é sincero, a Igreja tem o direito e o dever de contar com ele como um filho seu, a quem compete proclamar o Evangelho a partir do trono imperial”[15].

Cabe observar que o Maniqueísmo foi a heresia que ensinava a existência, desde o princípio, de dois reinos divinos inconciliáveis: o do bem e o do mal, havendo portanto duas espécies de seguidores: os eleitos (ou puros) e os condenados (ou impuros). É o Adventismo professando uma heresia há muito condenada…

9º) Houve disputa acirrada entre os Patriarcas para saber quem teria a autoridade e a hegemonia sobre os demais. Venceu o bispo de Roma por diversos fatores, entre eles: seu sucesso em resistir a várias heresias e movimentos; facções rivais que apelavam para o bispo de Roma para resolver suas dissidências teológicas [16:17].

Não é verdade que houve “disputa acirrada” entre os Patriarcas, pois desde os primeiros tempos do Cristianismo estabeleceu-se naturalmente a seguinte ordem honorífica:

1º) Roma (em razão de ser a última Sé de Pedro)
2º) Alexandria
3º) Antioquia

A autoridade da Igreja de Roma vem, com efeito, desde os tempos de Pedro, como vimos mais acima (quando falamos de Clemente I e Vítor I), e era reconhecida por toda a Igreja, p.ex.:

– “Inácio, (…) para a Igreja que preside, na região dos romanos, merecedora de Deus, de honra, de bênção, de elogio, de sucesso, de santificação, porque preside o amor. (…) Vós não invejastes ninguém, mas a outros ensinastes. Eu só desejo que aquilo que foi ordenado nas tuas instruções possa permanecer em vigor” (Inácio de Antioquia, +107; Carta aos Romanos 1,1; 3,1).

– “A Sé dos Apóstolos [Pedro e Paulo] foi informada por vossos delegados [do Egito] que alguns de nossos irmãos bispos estão sendo expulsos de suas igrejas e sés, privados de seus bens, e chamados a juízo, sendo, ainda por cima, destituídos e maltratados. Isto é um absurdo, já que as constituições dos Apóstolos e de seus sucessores, assim como os estatutos dos imperadores e a regulamentação das leis, assim como a autoridade da Sé dos Apóstolos proíbem-no fazer” (Urbano I de Roma, +230; Carta aos Bispos do Egito 1,1).

– “Atrevem-se estes (=cismáticos) a dirigir-se à cátedra de Pedro (=Roma), a esta Igreja principal de onde se origina o sacerdócio (…), esquecidos de que os romanos não podem errar na fé” (Cipriano de Cartago, +258; Carta 59).

– “Sabemos que Cornélio foi eleito, por Deus Onipotente e por Cristo Nosso Senhor, Bispo (=Papa) da Santa Igreja Católica; confessamos o nosso erro: fomos vítimas de uma impostura (=a do antipapa Novaciano); fomos envolvidos por gente de fala perversa e sorrateira. Na verdade, ainda quando parecia que tínhamos alguma ligação com o homem cismático e herege (=Novaciano), nosso coração, no entanto, estava sempre na Igreja, porque não ignoramos que há um só Deus e um só Senhor Jesus Cristo, a quem confessamos; um só Espírito Santo; e que só deve haver um [único] Bispo (=Papa) na Igreja Católica” (Fábio de Antioquia, +260; Carta “Quantam Sollicitudinem”).

Uma “tentativa de disputa”, podemos assim dizer, surgiu quando o Império mudou a sua capital de Roma para Constantinopla. Como esta cidade nunca recebera a pregação de nenhum Apóstolo, aventou-se entre as autoridades civis e religiosas locais a ideia de que, sendo ela “a nova Roma”, deveria por consequência ser honrada também com um importante Patriarcado, o que foi obtido pelo cânon 3 do Concílio Ecumênico de Constantinopla I (381):

– “O bispo de Constantinopla terá o primado de honra depois do Bispo de Roma, porque Constantinopla é a Nova Roma” (cânon 3).

Porém, seus patriarcas – estes sim -, por orgulho, não se contentaram com isto e quiseram obter ainda mais poder, igualando-se à Sé de Pedro (estabelecida na “antiga Roma”) e, se possível, até usurpar-lhe o lugar.

Assim, no Concílio Ecumênico de Calcedônia (451), por intromissão do Imperador, o cânon 28 estabelecia à Sé de Constantinopla os mesmos privilégios da Sé da “antiga Roma” e previa ainda um primado sobre o Oriente, muito embora reconhecesse que continuaria na segunda posição, logo depois da Sé de Roma. O Papa Leão I, porém, rejeitou o cânon, pois embora Constantinopla “se contentasse” com “o segundo lugar teórico”, na prática isto lesava as prerrogativas das outras Sés patriarcais, além de poder constituir, no futuro, um perigoso precedente que daria a Constantinopla autonomia e independência.

O que importa aqui é que o cânon 28 nunca foi aprovado pelos Papas e, desta forma, jamais vigorou na Igreja.

10º) O Papa assumiu para si o título pagão de “Pontifex Maximus” ou “Sumo Pontífice”, anteriormente adotado pelo imperadores como sacerdote do deus Mitras e que significa “o principal construtor de pontes entre os homens e o deus sol” [24:27].

Os títulos adotados pelos imperadores romanos eram:

• “Princeps Senatus”, “Príncipe do Senado”: líder político-parlamentar do Senado;
• “Pontifex Maximus”, “Pontífice Máximo”: máxima autoridade religiosa do Império, independentemente do deus cultuado (não só o deus Sol!).

Ora, qualquer lider ou representante supremo de uma religião pode legitimamente adotar para si ou ser chamado por terceiros com o título de “pontífice máximo”, “sumo pontífice”, “príncipe dos sacerdotes”, “sumo sacerdote” (como encontramos na Bíblia!) ou qualquer outro título que designe sua função suprema de liderança. São expressões totalmente intercambiáveis entre si. A sra. Ellen Gould White, por exemplo, poderia, indubitavelmente, ser chamada de “Pontífice Máxima” dos Adventistas do 7º Dia, dada a imensa importância e influência que exerceu (e continua exercendo) sobre eles, a ponto de suas falsas profecias e informações equivocadas continuarem a ser defendidas com unhas e dentes por estes.

Quanto ao uso do título de “Pontifex Maximus” pelos Papas (não sendo, porém, um título oficial), inexiste qualquer prova documental de que o tenham feito antes do século XV, excluindo-se, portanto, qualquer ligação com o título que foi usado oficialmente pelos imperadores romanos até o ano de 376 d.C.

11º) Em 380, o imperador Teodósio proclamou o Catolicismo religião oficial do Império, dando tanta força ao Papa que, ironicamente, acabou sendo excomungado por este e obrigado a curvar-se às suas exigências [17:36].

De fato, Teodósio tornou o Cristianismo (o Catolicismo, evidentemente, já que naquela época o Protestantismo – inclusive o Adventismo – nem sonhava em existir!) a religião oficial do Império.

Ironia, porém, é o programa ter afirmado que vai “contar um pouco da história dos Papas” [01:27] e expor as coisas segundo “fatos históricos, bíblicos e proféticos” [27:27] e depois CRIAR um factóide: a excomunhão do imperador Teodósio I pelo Papa!!!

Teodósio governou o Império (ocidental e oriental) de 378 a 395; durante seu reinado, passaram pelo trono de Pedro os Papas Dâmaso I (366-384) e Sirício (384-399). Contudo, NENHUM dos dois excomungou o imperador!!!

Na verdade, o roteirista do programa confundiu alhos com bugalhos e atribuiu erroneamente aos Papas uma excomunhão que Teodósio sofreu de Ambrósio de Milão, seu bispo diocesano. Teria pelo menos essa excomunhão sido injusta, para podermos dar “alguma razão” ao programa? Vejamos…

Por volta do ano 388, Teodósio publicou um decreto que condenava à morte os pecados contra a natureza (pederastia, sodomia etc.), até então normalmente admitidos pelo mundo greco-romano. Aplicando a lei na Tessalônica, o chefe da infantaria, o godo Buterico, encarcerou um auriga de circo que gozava de grande popularidade e riqueza no local. Estourou então uma revolta popular que, associada ao ódio pelos soldados bárbaros contratados pelo imperador, culminou com o assassinato de Buterico. Em resposta, Teodósio ordenou que fossem mortos todos os tessalonicenses que se reunissem para os espetáculos do circo, o que acabou resultando no massacre de 300 a 7.000 pessoas (os números variam conforme as fontes). Ao tomar conhecimento disso, Ambrósio excomungou o Imperador, o qual, para ser perdoado e readmitido à comunhão precisou passar por uma rigorosa penitência que durou 8 meses.

Não a toa, o próprio Teodósio confessou mais tarde: “Sem dúvida, Ambrósio me fez compreender pela primeira vez como que deve ser um Bispo”; e no leito de morte, ainda confiou a Ambrósio os seus filhos… Sinal de que reconheceu o seu excesso.

Será que o Adventismo discorda dessa punição eclesiástica ao imperador cristão que agiu desproporcionalmente, tal como um bárbaro? Quem, afinal, está ao lado do poder então? O Catolicismo ou o Adventismo?

12º) Quando em 475 o Império Romano Ocidental caiu nas mãos dos bárbaros, alguns desses povos invasores já eram convertidos ou ao menos simpatizantes do Cristianismo; por isso, pouparam a instituição cristã e lhe deram certa autonomia [14:16].

Outra meia-verdade, pois os bárbaros que invadiram o Império eram de duas espécies: bárbaros pagãos e bárbaros arianos (que não criam na Santíssima Trindade). Lançou-se então um desafio duplo para a Igreja Católica, que cria (e crê) na Trindade (como boa parte dos Adventistas, aliás!).

Por que a Igreja, sob a unidade proporcionada pelos Papas, saiu vencedora nesse período difícil e conturbado? Deixemos que o próprio Jesus responda:

– “E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (…) Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 16,18; 21,19-20).

Seguir, confiante, a missão apontada pelo Divino Fundador… Simples assim.

13º) Em meados do séc. VIII, em meio a uma grande contenda política, o Papa apresentou um documento chamado “Constitutum Donatio Constantini” (=Doação de Constantino), em que supostamente o imperador Constantino I doa ao Papa Silvestre I e seus sucessores, “os seus títulos, as suas heranças, as suas terras, tudo o que ele possuía”, de modo que “o Papado seria então oficialmente herdeiro do imperador Constantino”. Embora hoje a maioria dos historiadores considerem falsa a Doação de Constantino, na época convenceu e a Roma católica passou a ser dona de grandes extensões de terra em toda a Itália [18:26].

O programa reconhece que o documento é falso. Ponto pacífico, pois a Igreja Católica também o afirma.

Na verdade, o domínio da Igreja sobre os territórios cobertos pela “Doação de Constantino” era legítimo, mas por outras razões: quando os lombardos ameaçaram invadir Roma e região, o Papa Estêvão II pediu socorro ao povo franco, governado por Pepino o Breve, sendo atendido por este. Posteriormente, o mesmo Pepino conferiu ao Papa o título de “Soberano do Patrimônio de São Pedro”, o que veio dar início aos chamados “Estados Pontifícios”, em 756 d.C.

Portanto, a posse dessas terras pela Igreja não foi efeito de trapaça, até porque, além da “Donatio” nunca ter sido citada até o século VIII, já em pleno século IX sua autenticidade era afastada pelo imperador Oto III; ademais, toda vez que era mencionada nos debates medievais, era quase sempre tida como falsa, sendo por isso mesmo rejeitada.

14º) Parte dessas terras “doadas” por Constantino “é hoje (…) o Estado do Vaticano”, Estado que foi devolvido por Mussolini à Sé católica em 1929, já que em 1798, o Papa Pio VI foi preso por ordem de Napoleão Bonaparte e a Igreja perdeu temporariamente os seus títulos e propriedades [19:11].

Mais erros históricos – frutos do simplismo do programa – não poderiam faltar para criticar o Catolicismo…

1) No que cabe a Napoleão:

a) Os Estados Pontifícios foram invadidos por ordem de Napoleão em 1793, mas foram devolvidos ao Papa logo após este pagar uma altíssima soma em dinheiro, além de entregar diversos manuscritos e obras de arte de grande valor. Poucos anos depois, Napoleão invadiu novamente os Estados Pontifícios, em represália à aliança do Papa Pio VI com os reinos da Áustria e Nápoles; apesar disso, devolveu os Estados ao Papa, após ditar um tratado ainda mais duro que o anterior.

b) O que ocorreu em 1798 foi a precária proclamação da república em Roma, ato este que depôs o Papa. Mas como ele se negava a deixar Roma, foi conduzido preso pelos republicanos para Siena e daí para Florença; por fim, já doente, foi levado numa padiola para Grenoble e, a seguir, Valence (França), onde morreu em 29.08.1799, como prisioneiro dos franceses.

c) Com a morte de Pio VI, os cardeais-eleitores elegeram Pio VII em Veneza, a quem Napoleão reconheceu, por carta, que “a religião católica é a única âncora” e, desta forma, assinou uma Concordata com a Santa Sé em 15.07.1801. Posteriormente, exigindo Napoleão que o Papa nomeasse um Patriarca para os franceses, bem como que indicasse pelo menos 1/3 de franceses para o Colégio Cardinalício, este não concordou e, em virtude disso, ocupou Roma em fevereiro e novamente em setembro de 1808. Em resposta, Pio VII excomungou Napoleão, chamando-o de “ladrão do Patrimônio de São Pedro”, motivo pelo qual acabou sendo detido pelas forças napoleônicas e levado, por fim, para Savona e daí para Fontainebleau. Porém, após a derrota de Napoleão na Rússia, este resolveu se reconciliar com o Papa, assinando duas Concordatas benéficas à Igreja e permitindo o regresso do Papa a Roma em 24.04.1814.

d) Porém, pouco depois, Napoleão partiu para o exílio na ilha de Elba e um cunhado dele, o rei Murat de Nápoles, forçou o Papa a deixar Roma, em 22.03.1815. Mas em 09.06.1815, o Congresso da Viena ordenou a devolução dos Estados Pontifícios ao Papa, de modo que Pio VII retornou em definitivo para Roma em 07.07.1815.

2) Quanto à “devolução do Vaticano” por Mussolini, em 1929:

a) Como observamos pelo item “1.d” acima, o “Tratado de Latrão” nada tem a ver com Napoleão, mas sim com a chamada “Questão Romana”, um outro evento histórico: no pontificado de Pio IX (1846-1878), irromperam em toda a península italiana (incluindo os Estados Pontifícios) movimentos revolucionários republicanos, de sorte que em 24.11.1848 o Papa e os Cardeais tiveram que deixar Roma, estabelecendo-se na Gaeta. Com a unificação do território pelos republicanos, foi então proclamada a república italiana em 09.02.1849.

b) Ocorre que, contando com o auxílio de tropas francesas, o Papa conseguiu retornar à Roma, muito embora as tropas republicanas ocupassem a maior parte do território dos Estados Pontifícios, desapropriados da Santa Sé. Como o Papa se recusava a deixar Roma, em 1871 o governo italiano, por iniciativa própria, assegurou ao Papado soberania, imunidade, domínio sobre o Vaticano, Latrão e a vila de Castel Gandolfo, além de uma renda anual; mas em 15.05.1871, Pio IX condenou essa lei e autoproclamou-se “prisioneiro do Vaticano” (título este que os Papas usaram até a assinatura do Tratado de Latrão, em 11.02.1929, que pôs fim à “Questão Romana”).

c) Então, no pontificado de Pio XI (1922-1939), o Estado italiano, ora representado por Mussolini, chegou a um acordo reputado justo por ambas as partes: o Vaticano (compreendendo também a Basílica de São Pedro, a praça de São Pedro e os jardins do entorno) foi reconhecido como Cidade-Estado, gozando de plena soberania e autonomia; e ainda:

• Direito de extraterritorialidade em diversas edificações espalhadas sobre Roma (p.ex.: Basílica de São João do Latrão, Basílica de São Paulo Extramuros, Basílica de Santa Maria Maior e Castel Gandolfo);
• Direito a indenização pela desapropriação dos Estados Pontifícios;
• Revogação de diversas leis anticlericais; e
• Obrigatoriedade de instrução religiosa nas escolas (esta última parte foi revogada em 1985).

Em contrapartida, a Santa Sé reconheceu – pela 1ª vez – o reino da Itália, com capital em Roma.

d) Cumpre observar que o fato de a Santa Sé ter chegado a um acordo com o ditador Benito Mussolini (após cerca de dois anos e meio de duras negociações) não mancha em nada o Acordo, até porque Mussolini detinha legitimamente o poder segundo as leis do Estado Italiano (apesar deste Estado ter surgido de forma revolucionária, pelo derramento de sangue e ocupação de terras alheias). Como quer que seja, as duas partes detinham o poder pleno e legítimo para solucionar o conflito.

15º) Durante o tempo em que o Papado dominou a Europa, “fez muitos estragos”, estragos esses que coincidem com profecias bíblicas que falam acerca da apostasia e da chegada de um certo anticristo (=aquele que opõe a Cristo, usurpando o lugar de Cristo). Assim: [19:35]

Como constatamos até aqui, quem sofreu muitos estragos foi a Igreja Católica: com a intensa perseguição aos cristãos, antes de Constantino; e com os caprichos e intrigas políticas dos “governantes cristãos”, quer para influenciar, quer para dominar, quer para receber favores, quer até para lutar pelo orgulho próprio e egoísmos desenfreados pelas razões mais mesquinhas.

E ainda que tenham havido de fato maus Papas, lamentavelmente mais célebres pelo pecado do que pela santidade de vida, o fato é que NENHUM deles jamais errou ao proclamar solenemente dogmas de Fé, todos eles consistentes com a Escritura e a Tradição. Por isso mesmo, existem protestantes que reconhecem que a defesa da Fé católica é muitíssimo mais consistente e sólida que a protestante; encontramos isso inclusive em fontes adventistas:

– “Apologeta que é bom não dá brecha para os polemistas, mas quando se trata dos sites apologéticos brasileiros [de vertente protestante], muito usados por pessoas sem muito conhecimento, sinceramente interessadas em aprender e defender o protestantismo contra sites [católicos] como Montfort, Veritatis Splendor, Lepanto dentre outros, A REGRA É A MEDIOCRIDADE. Me comovo com essas pessoas que procuram defender a fé porque sou uma delas, que constantemente são atacadas por pessoas [católicas] BEM FIRMADAS (ou não, mas nesse caso o pobre apologeta mirim não vai poder reconhecer) de sua fé; e quando procuram um braço forte que lhes dê segurança, batem de frente com os PIORES sites [protestantes] que se pode imaginar”[16] (correções e grifos nossos).

Passemos agora para as [falsas] profecias adventistas, conforme são indicadas pelo programa:

a) O anticristo é representado em Apocalipse 13 como uma besta fera que surge do mar; seu poder seria revelado, segundo Paulo (2Tessalonicenses 2,3), juntamente com uma grande apostasia da Igreja, que quebraria o seu acordo com Deus (v.tb. 1João 2,18.22; 4,3; 2João 1,7, que também falam da vinda e da obra do anticristo) [19:56].

Vejamos, primeiro, os versículos bíblicos citados neste trecho do programa:

– 2Tessalonicentes 2,3: “Ninguém de modo algum vos engane. Porque primeiro deve vir a apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniqüidade, o filho da perdição”.

– 1João 2,18.22: “Filhinhos, esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o Anticristo vem. Eis que já há muitos anticristos, por isto conhecemos que é a última hora. Quem é mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é o Anticristo, que nega o Pai e o Filho”.

– 1João 4,3: “Todo espírito que não proclama Jesus esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, e já está agora no mundo”.

– 2João 1,7: “Muitos sedutores têm saído pelo mundo afora, os quais não proclamam Jesus Cristo que se encarnou. Quem assim proclama é o sedutor e o Anticristo”.

Lamentavelmente, o programa citou apenas uma pequenina parte dos versículos, fora do contexto mais amplo. Reconstruamos o contexto inteiro, principalmente aquele aduzido por São Paulo:

– 2Tessalonicentes 2,1-12.15: “No que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e nossa reunião com ele, rogamo-vos, irmãos, não vos deixeis facilmente perturbar o espírito e alarmar-vos, nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou carta tidas como procedentes de nós e que vos afirmassem estar iminente o dia do Senhor. Ninguém de modo algum vos engane. Porque primeiro deve vir a apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniquidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus. Não vos lembrais de que vos dizia estas coisas, quando estava ainda convosco? Agora, sabeis perfeitamente que algo o detém, de modo que ele só se manifestará a seu tempo. Porque o mistério da iniquidade já está em ação, apenas esperando o desaparecimento daquele que o detém. Então o tal ímpio se manifestará. Mas o Senhor Jesus o destruirá com o sopro de sua boca e o aniquilará com o resplendor da sua vinda. A manifestação do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda a sorte de portentos, sinais e prodígios enganadores. Ele usará de todas as seduções do mal com aqueles que se perdem, por não terem cultivado o amor à verdade que os teria podido salvar. Por isso, Deus lhes enviará um poder que os enganará e os induzirá a acreditar no erro. Desse modo, serão julgados e condenados todos os que não deram crédito à verdade, mas consentiram no mal. (…) Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa”.

– 1João 4,2-3: “Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que Jesus Cristo se encarnou é de Deus. Todo espírito que não proclama Jesus esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, e já está agora no mundo”.

Para começar, São João declara que “JÁ HÁ muitos anticristos” e “JÁ ESTÃO AGORA no mundo”, ou seja, em seu próprio tempo (há quase 2000 anos atrás, quando escrevia essa carta!); logo, muito antes da época que os adventistas querem apontar como início do “Grande Cisma da Igreja” (=ano 313, com a conversão de Constantino). E o mesmo Apóstolo acrescenta que esses anticristos negam a Encarnação de Jesus Cristo e não O proclamam [ao mundo], coisas estas que a Igreja católica sempre ensinou e heroicamente defendeu (e continua ensinando e defendendo até hoje; leia-se, p.ex., os parágrafos 237, 258, 309, 333, 429, 432, 461 a 465, 470, 512, 517, 519, 521, 528, 606 e 607, 653, 661, 686, 690, 727, 1159, 1171, 1174, 2602 e 2666 do Catecismo da Igreja Católica).

Não há dúvida, pois, que a Igreja Católica sempre foi de Deus como diz um dos versículos omitidos pelo programa, isto é, 1João 4,2.

Passemos a São Paulo e iniciemos pelo fim, omitido pelo programa. Ele conclui esta parte de sua carta com os seguintes dizeres: “Ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras (=Tradição oral), seja por carta nossa (=Tradição escrita)”. Ora, certamente ele não estava se referindo aos ensinamentos protestantes (que se contradizem e são auto-excludentes entre si, dada a existência de dezenas de milhares de denominações diferentes, cada qual com suas interpretações particulares), muito menos das “profecias particulares” adventistas, com seus sábados, alimentos impuros, datas “certas” para o fim do mundo, “juízo investigativo” etc., que os primeiros cristãos jamais observaram ou ouviram sequer dizer. Assim, quem permanecer firme na Fé Apostólica (que a Igreja Católica recebeu e conservou, como verificamos pelos escritos patrísticos), não tem o que temer…

São Paulo também diz com extrema clareza: “Rogamo-vos, irmãos: não vos deixeis facilmente perturbar o espírito e alarmar-vos, nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou carta tidas como procedentes de nós e que vos afirmassem estar iminente o dia do Senhor. Ninguém de modo algum vos engane”. Estes versículos também foram omitidos pelo programa, mas é fácil adivinhar o porquê: os Adventistas (e também os Testemunhas de Jeová) NÃO OBEDECEM este ensinamento inspirado de São Paulo: desde seu surgimento, com Willian Miller (por volta de 1816), até seu desenvolvimento com as “profecias” de Ellen Gould White (cerca de 1845), o que o Adventismo mais faz é ficar, ele próprio, perturbado e alarmado com o Dia do Juízo e – pior ainda! – ficar perturbando e alarmando os outros com base nas suas “pretensas revelações”, que historicamente já se demonstraram falhas… Antes, deveriam seguir os ensinamentos simples e objetivos do Senhor: “Vigiai!” (Mateus 24,42; 25,13; Marcos 13,33-37; Lucas 21,36; 1Coríntios 16,13; 1Pedro 4,7 etc.) e “Aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mateus 24,6). Bastam estes dois ensinamentos para que o cristão compreenda que deve estar preparado TODOS OS DIAS para a vinda do Senhor ou para o juízo particular diante de Deus em razão da sua morte (Hebreus 9,27).

Quanto ao Anticristo que se manifestará nos últimos dias e que presenciará a 2ª Vinda do Senhor, São Paulo é muito claro acerca dele: ele “se levanta contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus”; portanto, além de imoral, ele requer para si o conceito de divindade (como o faziam os imperadores pagãos da Ásia, da Grécia e de Roma, antes de Constantino!!!). Essa figura tentará se passar por Deus e enganará muitos pois realizará muitos “portentos, sinais e prodígios”; mas aqueles que o aceitarão, o farão por “não terem cultivado o amor à verdade que os teria podido salvar”. Por isso, Jesus nos deixou a seguinte questão: “Quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?” (Lucas 18,8). Pois bem: as incertezas doutrinárias que o Protestantismo multifacetado ajuda a criar e espalhar no mundo, certamente estão influenciando para o esfriamento e a perda da fé (o que já vem sendo observado pelo aumento estatístico dos “sem religião” nos últimos censos) e esse será o campo propício para a ação do Anticristo. Não se aplica à Igreja Católica pelo simples fato de Cristo ter concedido a esta o dom da infalibilidade (cf. João 16,12-14) e a graça de permanecer no mundo até a sua vinda gloriosa (cf. Mateus 16,16-19; 28,18-20).

Com isto em mente, temos que as bestas-feras apontadas pelo Apocalipse 13 representam simplesmente o Império Romano pagão e o seu Imperador (também pagão), que combatiam ferozmente o Cristianismo no tempo do Apóstolo João e que, portanto, também não se identificam com o Anticristo final, retratado por São Paulo aos tessalonicenses. Do mesmo modo, a Igreja Católica também não se identifica nem com as bestas de Apocalipse 13 (já que o número 666 indica “César Nero”) e nem com os anticristos apontados por São João ou por São Paulo, pelos motivos já expostos.

b) O estudo sistemático da Bíblia e da interpretação mais antiga das profecias apocalípticas apontam que os cristãos primitivos sempre entenderam que este anticristo seria uma união perigosa entre a Igreja e o Império Romano [21:21].

O programa esqueceu que Jesus QUIS fundar a Igreja (Mateus 16,18) e que esta recebeu efetivamente o Espírito Santo para ter acesso infalível a toda a verdade (João 16,12-14; Atos 2), devendo o próprio Jesus permanecer na Igreja até a consumação dos séculos (Mateus 28,20). Jesus teria mentido? Seria então um falso profeta? Óbvio que não! Com efeito, o “estudo da Bíblia” que conclui que o anticristo seria “a união da Igreja com o Império Romano” pode ser tudo, menos “sistemático”, já que tal conclusão seria contraditório e até um abuso de intelectualidade. Além disso, o programa mencionou a “interpretação mais antiga das profecias apocalípticas”.

Infelizmente, o programa pecou mais uma vez em não apontar fontes… Qual autor patrístico escreveu isso? Nem Santo Ireneu de Lião (+202), que abordou em detalhes os “últimos dias” (v. Contra as Heresias, livro 5), chegou a uma conclusão próxima a essa. Quanto ao Anticristo, na época em que o Cristianismo (=Catolicismo) se expandia (antes mesmo de Constantino!) sob “uma só fé e um só batismo” (Efésios 4,5), escreveu Cipriano de Cartago (+258):

– “Aumenta, dia a dia, o povo fiel; abandonam-se os velhos ídolos, tornam-se desertos os seus templos. Então, o que faz o malvado? Inventa nova fraude para enganar os incautos com o próprio título do nome ‘cristão’. Introduz as heresias e os cismas para derrubar a fé, para contaminar a verdade e dilacerar a unidade. Assim, não podendo mais segurar os seus na cegueira da antiga superstição, os rodeia, os conduz ao erro por novos caminhos. Rouba à Igreja os homens e, fazendo-lhes acreditar que alcançaram a luz e se subtraíram à noite do século, envolve-os ainda mais nas trevas: não observam a lei do Evangelho de Cristo e se dizem cristãos, andam na escuridão e pensam que possuem a luz, nisto são iludidos e lisonjeados pelo adversário, que, como diz o Apóstolo, ‘se transfigura em anjo de luz’ (2Coríntios 11,14). Disfarça seus ministros em ministros de justiça, ensina-lhes a dar à noite o nome de dia, à perdição o nome de salvação, ensina-lhes a propalar o desespero e a perfídia sob o rótulo da esperança e da fé, a apregoar o Anticristo com o nome de Cristo. Mestres na arte de mentir, diluem com as suas sutilezas toda a verdade” (Cipriano de Cartago, +258; Da Unidade da Igreja Católica 3,2-4).

Seria bom que os Adventistas considerassem isto antes de querer escrever algo acerca do Anticristo…

c) Se a Bíblia diz que a rocha é Cristo e a Igreja Católica diz que é Pedro e os demais Papas, está aí um exemplo de um homem usurpando o lugar de Cristo, significando isso uma “quebra de acordo”, conforme profetizado por Paulo [21:36].

Quem disse que Pedro é a pedra foi o próprio Cristo (“Tu és ‘keppa’ e sobre esta ‘keppa’ edificarei a minha Igreja”, cf. Mateus 16,18); e Pedro e seus sucessores não estão usurpando o lugar de Cristo porque foram os únicos a receber(em) do mesmo Cristo a chave do Reino dos Céus, como já o demonstramos. Daí a expressão “Vigário de Cristo”.

Ora, se Pedro e os Papas usurpassem o lugar de Cristo, estes não usariam o título de “Vigário de Cristo”, mas de “Cristo” (=o Ungido) mesmo. Apenas a falta de lógica pode levar alguém a afirmar que os Papas usurpam o lugar de Cristo. Não há que se falar, portanto, em “quebra de acordo”, mas em “manutenção do desejo de Jesus”…

d) É por isso que na Doação de Constantino o Papa “é chamado de ‘Vicarius Filii Dei’, o substituto do Filho de Deus, aquele que está no lugar do Filho de Deus” [22:01].

Vigário não é o substituto, mas aquele que representa fisicamente alguém que detém um poder superior. Se fosse substituto, como erroneamente quis fazer crer o programa, o Papa também seria Deus e Homem, como Jesus (algo que nenhum Papa jamais aventou para si!).

A leitura integral do “Constitutum Donatio Constantini” também não apoia o argumento de que o Papa estaria usurpando o lugar de Cristo; apenas o aponta como “Vicarius Filli Dei”, ou seja, “aquele que representa fisicamente [na terra] o Filho de Deus”; nada demais, portanto.

O que o programa não diz – mas que todo fiel adventista automaticamente sabe -, é que apontando ao Papa o título de “VICARIVS FILLI DEI” estão, com isso, querendo apontá-lo como “a besta do Apocalipse”, que porta o número 666. Isto porque, segundo eles, a soma dos caracteres latinos que representam algum valor totalizaria 666:

V(5) + I(1) + C(100) + A(0) + R(0) + I(1) + V(5) + S(0) +
F(0) + I(1) + L(50) + I(1) + I(1) +
D(500) + E(0) + I(1) = 666

No entanto, essa tese não tem como se sustentar por quatro razões:

a) Nenhum Papa jamais empregou o título “Vicarius Filli Dei” (Vigário do Filho de Deus), conforme consta na “Doação de Constantino” (criado por um falsário do séc. VIII), mas sim o título “Vicarius Christi” (Vigário de Cristo). E embora muitos adventistas afirmem que esse título encontra-se “na tiara do Papa”, nunca foi encontrada uma tiara contendo esse título, como reconhecem alguns trabalhos mais sérios[17].

b) Mas ainda que o Papa empregasse o título de “Vicarius Filii Dei”, ainda assim não seria possível demonstrar que a soma das letras em algarismos romanos totalizaria 666, em virtude dos encontros entre as letras que apontam um valor numérico diferente. Em outras palavras:

VI=(6) + C(100) + A(0) + R(0) + IV(4) + S(0) +
F(0) + I(1) + LII(52) +
D(500) + E(0) + I(1) = 664

c) A Bíblia não diz em qual idioma ou alfabeto esse “número de homem” (no sentido de ser humano) foi escrito. Com efeito, o Adventismo, obrigando seus seguidores a empregarem o latim está, mais uma vez, ultrapassando os limites da “Sola Scriptura” (que afirma adotar) e invadindo o terreno do extrabíblico (que afirma não adotar). Porém, neste caso de usar o latim, “o feitiço volta-se contra a feiticeira”, de modo que se isolarmos e somarmos os caracteres latinos da fundadora do Adventismo, obteremos também o número 666:

E(0) + L(50) + L(50) + E(0) + N(0) +
G(0) + O(0) + V(5) + L(50) + D(500) +
W=V(5)+V(5)] + H(0) + I(1) + T(0) + E(0) = 666

d) O Apóstolo João, de origem judaica, adotou o grego para redigir o Apocalipse, sendo este destinado às comunidades da Ásia maior, que também não usava o latim, de modo que não teriam como decifrar a “mensagem secreta” do Apóstolo.

Portanto, considerando todo o contexto bíblico, histórico e geográfico, devemos considerar somente os idiomas e alfabetos grego e/ou hebraico, os quais também possuem letras que indicam valores numéricos. Então, se fizermos a gematria da forma grega do nome “César Nero”, ou seja, “NVRN RSQ” (escrita da direita para a esquerda), empregando o alfabeto hebraico, totalizaremos 666, pois:

N(50) + V(6) + R(200) + N(50) +
R(200) + S(60) + Q(100) = 666

A “prova dos nove” pode ser dada por alguns antigos manuscritos que trazem o número variante de 616 ao invés de 666: omitindo a letra Num final (que vale 50) de César Nero (para empregarmos a forma latina do nome Nero), obteremos o número 616:

V(6) + R(200) + N(50) +
R(200) + S(60) + Q(100) = 616

Ora, o grego era de pleno conhecimento do Apóstolo e das comunidades destinatárias, que estavam sob o domínio romano, justificando assim a forma da expressão; já os caracteres hebraicos empregados, eram de pleno conhecimento de João, em virtude da sua descendência judaica e podia ser decifrado pelas comunidades primitivas porque também congregavam judeus conversos ao Cristianismo (como nos prova os livros dos Atos dos Apóstolos e as epístolas de Paulo em diversas passagens), os quais certamente conheciam os valores das letras hebraicas.

Também o Apocalipse 17,10-11 sustenta esta interpretação do número 666, já que diz:

– “São também sete reis, dos quais cinco já caíram, um existe e o outro ainda não veio, mas quando vier deverá permanecer por pouco tempo. A Besta que existia e não existe mais é ela própria o oitavo e também um dos sete, mas caminha para a perdição“.

Ora, referindo-se ao Império Romano, logo percebemos que os reis de que trata a citação são os imperadores romanos. Devemos considerar cronologicamente os imperadores a partir da vinda de Cristo até a época da redação do livro do Apocalipse. Então:

• 5 já caíram: Augusto (31 a.C.-14 d.C.), Tibério (14-37 d.C.), Calígula (37-41 d.C.), Cláudio (41-54 d.C.) e Nero (54-68 d.C.);
• 1 existe: Vespasiano (69-79 d.C);
• 1 que virá e durará pouco: Tito (79-81 d.C.: durou apenas 2 anos!);
• a besta é o oitavo que, ao mesmo tempo, é um dos sete anteriores, ou seja, Nero (já que NVRN RSQ = 666!).

O Apóstolo, assim, alude à lenda do “Nero redivivo” (esta surgiu logo após ao seu suicídio e afirmava que Nero não havia morrido, pois o ferimento que o levou à morte fora sobrenaturalmente curado, estando ele agora oculto em algum lugar, devendo logo reassumir o poder do Império). Portanto, a besta que possui o número 666 é o Imperador Domiciano (81-96 d.C.), o qual – tal como Nero – tornava agora a perseguir os cristãos, só que com mais força e crueldade…

4. ACUSAÇÕES DIVERSAS CONTRA O CATOLICISMO COMO UM TODO


É claro que a “metralhadora giratória” não podia ser apontada apenas contra o Papado… Para manter a “tradição protestante”, ela deve ser apontada também para diversos outros temas, que as “profecias adventistas” do séc. XIX pretendem lançar “luz”:

1º) Jesus também advertiu aos Apóstolos que não se deixassem ser chamados como “guias da Igreja”, porque Cristo é o único guia, no entanto, o clero católico se denominou o supremo guia espiritual teológico dos leigos [09:35]

Jesus advertiu aos Apóstolos que não se deixassem ser chamados como “guias da Igreja”? Onde, na Bíblia (inclusive na tradução protestante de Almeida, usada pelos Adventistas), encontra-se essa expressão?

A “Sola Scriptura” também não funciona aqui…

Pior: o Protestantismo adota o título de “pastor” para a sua liderança… E qual a função principal do pastor? Não é justamente guiar, conduzir, apascentar o rebanho? E não foi exatamente isso que Jesus ordenara em João 21? “Apascenta as Minhas ovelhas”…

Como se vê, o programa cai numa contradição pra lá de aberrante, apenas para manifestar a todo custo sua posição anticatólica.

2º) A 1a parte de Daniel 7,25 diz que o “futuro poder” da besta cuidaria de reformar os calendários[18]. Isto realmente foi feito pela Roma pagã (Calendario Juliano, de ano 46 a.C.) e também pela Roma papal (Calendário Gregoriano, de 1582), fazendo com que os calendários bíblicos baseados na agricultura, na astronomia e nas festas religiosas fossem quase esquecidos [22:17].

Para começar, o principal calendário adotado pelos judeus (e, portanto, pela Bíblia) não foi estabelecido por estes, mas pelos babilônios! Prova disso está em Êxodo 13,3-4, em que Moisés, falando dos Ázimos diz:

– “Lembrai-vos deste dia, em que saístes do Egito, da casa da escravidão, pois com mão forte Iahweh vos tirou de lá e, por isso, não comereis pão fermentado. Hoje é o mês de ABIB e estais saindo”.

Mas qual é o “mês tradicional” que os judeus celebram os ázimos? NISAN, pois a partir do Exílio Babilônico passaram a seguir o calendário deste povo pagão!!! Temos ainda 1Reis 6 a 8, que aponta três meses do calendário fenício…

Não coube, pois, à Bíblia estabelecer o Calendário universal. Prova disso, são as “lacunas” nos calendários: se pesquisarmos a Bíblia de capa a capa, veremos que ela não aponta todos os meses do ano, nem do calendário original (citado por Moisés), nem do calendário babilônico (adotado pelos judeus exilados), nem do calendário fenício, nem de nenhum outro…

O questão do calendário não é, pois, de natureza bíblica, mas científica, de modo que a reforma do calendário realizada pelo Papa Gregório XIII (1572-1585) era medida que se fazia extremamente necessária pois o equinócio da primavera (usado para o cômputo da Páscoa) caía cada vez mais cedo, já que “desaparecia” 1 dia a cada 128 anos. Assim, no tempo de César, o equinócio da primavera caía no dia 24/03; 128 anos depois, em 23/03;… no séc. XVI, o equinócio já estava próximo de 11/03! Portanto, além de extinguir a diferença entre o ano civil e o ano trópico, era preciso também evitar que, após a reforma do calendário, o problema tornasse a ocorrer.

Consultando diversos astrônomos e matemáticos de renome (Inácio Danti, Cristóvão Clau, Pedro Chaón, Aloísio e Antonio Lílio), Gregório XIII apresentou, por fim, o novo calendário através da bula “Inter Gravissimas”, de 24/02/1582.

Por outro lado, convém observar que a Comissão de Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas (do qual a Igreja Católica não faz parte) apontou, em um documento de 07/04/1999, que:

– “O calendário gregoriano está mais próximo da realidade astronômica do que o calendário juliano. Conforme o primeiro, o ano civil conta 26 segundos a mais do que a duração da terra em torno do sol, ao passo que, segundo o calendário juliano, a diferença é de 11 minutos e 14 segundos. Atualmente o calendário juliano acusa uma diferença de 13 dias em relação ao calendário gregoriano. No ano 2100, a diferença será de 14 dias”.

Recorde-se também que a Conferência de Alep, na Síria, celebrada em 03/1997, com o participação do mesmo Conselho Mundial de Igrejas e do Conselho das Igrejas do Oriente Médio, recomendou, entre outras coisas, que todas as igrejas cristãs continuassem a fixar a data da Páscoa no domingo que se segue à primeira lua cheia da primavera nórdica, segundo o método de cálculo adotado pelas comunidades do Oriente e do Ocidente, método este já estipulado pelo 1o Concílio de Niceia em 325. É bom esclarecer que a Igreja Adventista do 7º Dia foi uma das participantes desta Conferência…[19]

E depois vão dizer que a Igreja Católica é inimiga da Ciência! No mais, veja-se o que foi escrito mais acima sobre a celebração da data da Páscoa.

a) Os meses atuais “são quase todos” homenagens aos imperadores romanos – como Júlio César (Julho) e Augusto (Agosto) – ou aos deuses romanos – como Marte (Março) e Ianus (Janeiro). O mês de Setembro, que lembra Sete, passou a ser pelas mudanças romanas o mês nove e assim sucessivamente até Dezembro [22:50].

O calendário latino, de 12 meses, foi estabelecido antes da Era Cristã pelos romanos, povo de origem pagã. Portanto, não é de se estranhar que alguns meses derivem dos nomes dos seus deuses ou imperadores. Aliás, a própria Bíblia, adotando majoritariamente o calendário babilônico, não teve o condão de alterar-lhe os nomes dos meses; e nem mesmo os judeus tentaram fazê-lo por conta própria. Daí o absurdo do argumento adventista.

O Papa Gregório XIII, embora pudesse, não alterou os nomes dos meses para evitar mais confusão ainda, já que diversas nações (principalmente as protestantes) estavam boicotando a reforma do calendário; contentou-se com tão somente ajustar os dias do ano civil ao ano trópico.

Contudo, o imperador francês Napoleão Bonaparte quis, em 1792, por conta própria, alterar os nomes e dias dos meses do ano, tendo por base as condições climáticas e agrícolas das estações (algo mais “natural”, como de certa forma defendeu o programa), para simbolizar a quebra com a ordem antiga. Eis os meses do ano segundo este “novo Calendário”:

No outono:
– Vindemiário: vindima das uvas (de 22 de setembro a 21 de outubro)
– Brumário: nevoeiro (de 22 de outubro a 20 de novembro)
– Frimário: geadas (de 21 de novembro a 20 de dezembro)

No inverno:
– Nivoso: neve (de 21 de dezembro a 19 de janeiro)
– Pluvioso: chuvas (de 20 de janeiro a 18 de fevereiro)
– Ventoso: ventos (de 19 de fevereiro a 20 de março)

Na primavera:
– Germinal: germinação das sementes (de 21 de março a 19 de abril)
– Floreal: flores (de 20 de abril a 19 de maio)
– Pradial: prados (de 20 de maio a 18 de junho)

No verão:
– Messidor: colheita (de 19 de junho a 18 de julho)
– Termidor: calor (de 19 de julho a 17 de agosto)
– Frutidor: frutos (de 18 de agosto a 20 de setembro)

A confusão no Império francês foi tamanha, que o “Calendário Revolucionário” foi extinto em 31 de dezembro de 1805 pelo próprio Napoleão, restabelecendo-se, assim, o Calendário Gregoriano.

Bem que os Adventistas poderiam adotar o Calendário Napoleônico, baseado na natureza, para não ter que citar os “nomes inconvenientes” dos meses do Calendário latino… Que tal?

b) A Páscoa, celebrada na Bíblia no dia 14 de Nisã, passou para o domingo seguinte à lua cheia do equinóxio primaveril do hemisfério norte, para acomodar no mesmo calendário eclesiástico as festas religiosas católicas com as festas pagãs de Baco, deus do vinho, que deu origem ao Carnaval [23:33]

O que que é isso, companheiro?

As festas de Baco, deus do vinho, eram de dois tipos:

• As festas religiosas em sua homenagem, públicas, celebradas anualmente de 16 de março a 18 de março (data fixa); e
• As orgias ou bacanais (em razão da identificação de Baco com Dionísio), clandestinas, que não tinha data certa para ocorrerem, podendo se dar até 5 vezes ao mês!!!

Só com isto, percebe-se a falácia da afirmação, uma vez que a Páscoa cristã (celebrada sempre aos domingos desde o Período Apostólico) é uma data móvel no Calendário, de modo que raramente cai entre 16 e 18 de março (do mesmo modo que os dias 16 a 18 de março nem sempre caem em um domingo), bem como é propriamente celebrada um único domingo ao ano (e não 5 vezes todos os meses)…

Também duvidosíssima é a ligação histórica entre os antigos bacanais (realizados diversas vezes ao ano e cerca de 5 dias por mês) e o carnaval (popularmente festejado uma vez ao ano, antes do início da Quaresma). Parece que o único ponto de contato que existe entre essas duas festividades populares são os excessos e a promiscuidade. Como quer que seja, a Igreja Católica jamais apoiou tais vícios e pecados, de modo que a contra-argumentação do programa é completamente infundada e absurda.

c) O Mitraísmo, que cultuava o deus Sol, entrou com força na Igreja e mesclou com a figura de Cristo um deus pagão (como demonstram a arte pagã anterior a Constantino e a arte católica posterior a Constantino) [24:02]

O programa, infelizmente, não indicou a fonte dos dois alto-relevos que apresentou; disse apenas que a imagem do deus Mitra foi retirada de “antigas termas romanas” e que a de Cristo foi extraída de “uma igreja espanhola do séc. VII”. Fazendo uma busca pelo Google Images, não fomos capazes de encontrar nem uma imagem, nem outra, de modo que não podemos por ora precisar a quem retratam. Podemos, porém, comentar sobre a “possível ligação” entre o Mitraísmo e o Cristianismo:

Não há nada que possa indicar uma aproximação entre Mitra e Jesus (tal como este é pregado pela Igreja Católica). Buscando pontos de contato entre essas duas religiões, encontramos a seguinte argumentação ateísta (e a correspondente contra-argumentação católica):

– Afirma-se que ambos nasceram de uma Virgem, em 25 de dezembro, em uma caverna e receberam a visita de pastores: ocorre que a encarnação de Jesus é fato real, atestada no tempo e no espaço, enquanto que a de Mitra é, como outras crenças pagãs, mero mito. Além disso, Mitra não nasceu de uma Virgem, mas de uma pedra, tendo sido auxiliado a sair dela pelos pastores. Embora Mitra fosse celebrado em 25 de dezembro, os cristãos que celebravam o nascimento de Jesus no mesmo dia sabiam muito bem que estavam comemorando o mistério da Encarnação e não festejando uma figura mitológica.

– Afirma-se que ambos foram mestres itinerantes: nem a tradição iraniana, nem a tradição romana apontam Mitra como Mestre no sentido próprio da palavra (isto é, aquele que ensina e orienta), mas simples “mestre das sortes”. Sendo Mitra um deus, não deveria ser bem mais do que isso?

– Afirma-se que ambos tinham 12 discípulos: a única coisa que se aproxima ao número 12, no caso de Mitra, é o fato de existir um mural (de período pós-cristão) em que ele aparece rodeado dos 12 signos do zodíaco, o que tem tudo a ver com o fato dele ser “mestre das sortes”, mas nada a ver com discípulos de carne e osso.

– Afirma-se que ambos realizaram milagres em vida: e qual deus não realizaria milagres? Se não os realizasse, não poderiam ser considerados deuses… Porém, sendo Mitra um mito e Jesus figura histórica, é óbvio que na prática somente Cristo pôde efetivamente realizar milagres.

– Afirma-se que ambos eram chamados de “Bom Pastor”, “cordeiro” e “leão”: também inexiste qualquer tradição nesse sentido no que diz respeito a Mitra; no máximo, poderia ser chamado de “leão”, já que sendo Mitra o deus Sol estaria originalmente ligado à casa do sol segundo a astrologia babilônica (mas esta única justificativa também tem origem pós-cristã).

– Afirma-se que ambos se consideravam “caminho”, “verdade”, “luz”, “logos”, “redentor”, “mediador”, “salvador” e “messias”: com exceção do termo “mediador”, nenhum dos demais termos encontram-se na tradição mitraica. Ainda assim, o termo “mediador” é empregado de maneira diversa da tradição cristã: enquanto para o Cristianismo, Jesus é o único mediador entre Deus e os homens, para o Mitraísmo Mitra é mediador entre os dois deuses de Zoroastro (o deus bom e o deus mau).

– Afirma-se que ambos celebravam a Eucaristia: os seguidores de Mitra não celebravam a Eucaristia, mas se reuniam regularmente para uma refeição de confraternização, como muitos outros grupos religiosos do mundo greco-romano.

– Afirma-se que ambos prometeram a imortalidade aos seus seguidores: e daí? Qual deus não prometeria imortalidade aos seus seguidores? Não é isso o que os Adventistas também esperam por ocasião da 2a vinda de Cristo?

– Afirma-se que ambos se sacrificaram para conceder a paz ao mundo: o ato “mais nobre” de Mitra foi quando enfrentou um búfalo (é esta, aliás, a imagem mais conhecida deste “deus”, mas que não foi apresentada pelo programa porque não contém os raios solares na cabeça, impedindo que se fizesse a ligação com a “imagem de Cristo” extraída de “uma igreja [qualquer] do séc. VII); logo, não se aproxima nem de longe do sacrifício redentor de Cristo na cruz, este sim, o verdadeiro e único Salvador da humanidade.

– Afirma-se que ambos foram sepultados e ressuscitaram ao 3o dia: não há nada nas tradições de Mitra que indiquem que ele tenha morrido! O que dirá então de ter sido sepultado e, depois, ressuscitado!!!

– Afirma-se que ambos eram celebrados por ocasião da ressurreição (=Páscoa): mas se inexiste qualquer tradição de que Mitra tenha morrido, como sua ressurreição poderia ser celebrada? Isto é ilógico…

– Afirma-se que ambos são cultuados no domingo, conhecido como “o Dia do Senhor”: Mitra era celebrado aos domingos segundo a tradição romana (mas não segundo a tradição iraniana); porém esta celebração dominical de Mitra foi introduzida em Roma bem depois do Cristianismo chegar ali.

Com isto, fica mais do que evidenciado que o Jesus pregado pela Igreja Católica nunca teve nada a ver com o deus Sol do Mitraísmo[20].

d) Por isso, a Igreja Católica institui e observa como dia de guarda o “Dies Solis” (=”Dia do Sol”), em lugar do Sábado bíblico [25:00].

A instituição do domingo como dia de observância encontra-se suficientemente testemunhada pelo Novo Testamento. Eis apenas alguns exemplos:

• Jesus ressuscitou no “primeiro dia da semana” (cf. João 20,1), estabelecendo assim o domingo como “o Dia do Senhor”.

• A primeira vez que Jesus apareceu a todos os seus Apóstolos (com exceção de Tomé, que estava ausente) foi em um domingo (João 20,19ss).

• A segunda vez que Jesus apareceu a todos os seus Apóstolos (inclusive a Tomé, desta vez presente) foi novamente em um domingo (João 20,26ss).

• O Espírito Santo desceu sobre a Igreja em um domingo, dia de Pentecostes (cf. Atos 2,1ss).

• O primeiro sermão de Pedro, que resultou no ingresso dos primeiros convertidos, deu-se em um domingo (Atos 2,14ss.41).

• A Igreja reunia-se para a eucaristia no domingo (Atos 2,6-7).

• A Igreja realizava as coletas de caridade no domingo (1Coríntios 16,2).

Além disso:

• O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado (Marcos 2,27).

• Ninguém pode ser criticado por não observar o sábado (Colossenses 2,16-17).

• As primícias da colheita, que representam Jesus ressuscitado (cf. 1Coríntios 15,20), eram ofertadas pelo sacerdote do Antigo Testamento, no domingo (Levítico 23,9-21).

Fora isso, muitos outros testemunhos primitivos, bem anteriores a Constantino, demonstram que o domingo sempre foi o dia guardado pelos cristãos e não mais o sábado judaico, uma mera “sombra do que deveria vir”. Eis alguns exemplos:

– “Mas o domingo é o primento dia em que todos celebramos a nossa assembleia comum, porque é o primeiro dia em que Deus, tendo realizado uma mudança nas treva e na matéria, fez o mundo; e Jesus Cristo, nosso Salvador, foi nesse mesmo dia que ressuscitou dos mortos” (Justino de Roma, +150; Apologia 1,67, cerca de 67. d.C.).

– “Reunidos a cada dia do Senhor, parti o pão e dai graças, depois de terdes confessado os pecados, para que o vosso sacrifício seja puro” (Didaqué 14; entre 70 e 120 d.C.).

– “Portanto, nós guardamos o oitavo dia para o celebrar. Nesse dia, Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos céus” (Carta de Barnabé 15; ebtre 70 e 110 d.C.).

– “Por isso, os que se criaram na antiga ordem das coisas vieram à novidade da esperança, não guardando o sábado, mas vivendo segundo o domingo, dia em que também amanheceu a nossa Vida” (Inácio de Antioquia, +107; Carta aos Magnésios 9, entre 80 e 90 d.C.).

e) O “Dies Solis” foi rebatizado de “Dies Domini” (=”Dia do Senhor”) ou “Domênico” (=”Domingo”), no entanto, na Bíblia, o Dia do Senhor não é o domingo, mas o sábado, o 7o dia da semana [25:15].

O “Dia do Senhor” típico, segundo o Novo Testamento, é o Dia em que Jesus retornará glorioso (2º Advento) para julgar os vivos e os mortos (cf. Atos 2,20; 1Coríntios 5,5; 2Coríntios 1,14; 1Tessalonicenses 5,2; 2Tessalonicenses 2,2; 2Pedro 3,10), no fim do mundo.

Só que enquanto Cristo-Juiz não vem (e não adianta os Adventistas e Testemunhas de Jeová tentarem “adivinhar” a data que virá, porque nunca descobrirão), celebramos o “Dia do Senhor” no domingo, o dia da Ressurreição, que reflete a Nova Criação, como sempre procedeu a Igreja Cristã desde os primórdios (cf. Atos 2,6-7). Caso interessante é o de Apocalipse 1,10, que, em tese, “admitiria” duas formas de tradução:

1ª) Estive em espírito no Dia do Senhor;
– OU –
2ª) No Dia do Senhor, fui arrebatado em espírito

A 1ª tradução, de cunho nitidamente escatológico, coloca a expressão “Dia do Senhor” no mesmo sentido das outras (vistas logo acima), afirmando que o êxtase do Apóstolo João “transportou-o” em espírito para o Dia do Juízo; a 2ª, aponta que o êxtase ocorreu em um domingo, no mesmo sentido dos versículos vistos no item “d” supra.

Traduz da 1ª forma: Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, dos Testemunhas de Jeová (tinha que ser!!! talvez esta tradução tenha influência adventista, já que o fundador dos Testemunhas fôra previamente adventista)[21].

Traduzem da 2ª forma: Almeida Contemporânea, Almeida Corrigida e Fiel, Almeida da Imprensa Bíblica, Almeida Revista e Corrigida, Bíblia de Aparecida, Bíblia do Peregrino, Bíblia na Linguagem de Hoje, Bíblia Sagrada Ave Maria, Bíblia Sagrada CNBB, Bíblia Sagrada Edição Pastoral, Bíblia Sagrada Vozes, Bíblia de Jerusalém, Bíblia Mensagem de Deus, Bíblia Palavra Viva, Neovulgata, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Nova Versão Internacional, Novo Testamento de Taizé, Tradução Ecumênica da Bíblia, Vulgata de D. Zioni, Vulgata do Pe. Figueiredo, Vulgata do Pe. Matos Soares.

Traduz de maneira ambígua: Almeida Revista e Atualizada (verte o grego assim: “Achei-me em espírito, no Dia do Senhor, e ouvi por detrás de mim…”).

Quem será que traduz corretamente esse versículo? Os Testemunhas de Jeová??? 😉

Por outro lado, assim debatia o cristão Justino Mártir com alguns judeus, em meados do século II:

– “Há mais alguma coisa que reprovais em nós, amigos [judeus]? Ou apenas o fato de não vivermos conforme a vossa Lei, nem circuncidarmos o nosso corpo como vossos antepassados, nem guardarmos os sábados como vós fazeis? (…) Por isso, ó Trifão, para ti e para todos aqueles que querem tornar-se prosélitos vossos, anunciarei uma palavra divina, que ouvi daquele homem: ‘Não vedes que os elementos nunca descansam, nem guardam o sábado? Permanecei como nascestes’. Se antes de Abraão não havia necessidade de circuncisão e antes de Moisés não havia necessidade do sábado, das festas ou dos sacrifícios, também agora não existe, depois de Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido sem pecado de Maria Virgem, da descendência de Abraão” (Diálogo com o Judeu Trifão 10,1; 23,3).

E mais: além de darem a vida por Cristo, muitos cristãos também deram a vida pelo domingo, o Dia do Senhor:

– “Sem o domingo, não podemos viver” (Ata dos Mártires da Abissínia: Saturnino, Dative e Alioro 7,9,10, de ~250).

Diante disso, em são juízo, como poderia o sábado continuar a ser observado pelos primeiros cristãos??

f) A cultura eclesiástica transformou o domingo em 7o dia e por essa razão o domingo encerra o fim de semana, embora o dia seguinte seja a 2a-feira e não a 1a-feira [25:40].

Esta contra-argumentação só pode ser brincadeira! Ou mais um blá-blá-blá apenas para preencher o tempo de filmagem…

Ora, basta bater o olho em qualquer Calendário, em qualquer “Folhinha” presa na parede, para se dar conta que o 1o dia da semana é o Domingo!!!

O sábado e o domingo são considerados “fim de semana” por regra civil/estatal (jamais religiosa/eclesiástica!!), para a simples ordenação do trabalho e do lazer no território nacional.

Apenas isso. Consulte-se, por exemplo, a Norma ISO 8601:2004, sobre os formatos de data e hora. Se tudo isto não for verdade, deixamos o seguinte desafio ao programa adventista: em qual documento pontifício ou Catecismo da Igreja Católica ocorre a transformação do domingo em 7º dia (com a consequente passagem do sábado para o 6o dia)?

Sem mais comentários…

3º) A 2ª parte de Daniel 7,25 fala também que o futuro poder alterará a Lei de Deus[22]. Com efeito, o texto do Decálogo contido em Êxodo 20 é bem diferente do Catecismo, o que demonstra que a Igreja Católica alterou arbitrariamente os Mandamentos divinos[23] [26:00].

Devemos primeiramente notar que a própria Bíblia, no Antigo Testamento, traz por duas vezes o texto dos Dez Mandamentos, em Êxodo 20,1-17 e Deuteronômio 5,6-21. Porém, os dois textos não são exatamente os mesmos, sendo um texto ligeiramente mais breve do que o outro, como uma simples leitura comparativa pode demonstrar.

Por outro lado, é evidente que o texto do Catecismo é também diferente na sua literalidade, já que foi simplificado para facilitar a memorização por todos os fiéis cristãos. Mas mesmo sendo bastante curto, a extensão própria de cada Mandamento é salvaguardada pelo ensino doutrinário da Santa Igreja. Por exemplo:

• O 1º Mandamento, que declara, segundo o Catecismo clássico: “Amar a Deus sobre todas as coisas”, abrange, segundo o ensinamento da Igreja Católica: adorar somente a Deus sobre todas as coisas, afastando-se todas as formas de idolatria (ver Catecismo da Igreja Católica, parágrafos 2083 a 2141); já os protestantes, preferem quebrar o 1º Mandamento em dois: um para adorar somente a Deus sobre todas as coisas; e outro para não cometer idolatria… Ora, quem ama a Deus sobre todas as coisas não pode, por consequência natural, cometer idolatria!

• O 3º Mandamento, que declara, segundo o Catecismo clássico: “Guardar domingos e festas”, abrange, conforme o ensinamento da Igreja: guardar o repouso dominical e outros dias santos apontados pela Igreja, dedicando esses dias ao Senhor, evitando fazer coisas desnecessárias (ver Catecismo da Igreja Católica, parágrafos 2168 a 2195); embora os protestantes enxerguem este Mandamento como o 4o (por terem dividido do 1º Mandamento em dois), a maioria deles concorda em gênero número e grau com o ensinamento católico; a exceção é formada pelas denominações que “guardam o 7o dia” – o sábado – como os Adventistas do 7º Dia, que paradoxalmente seguem a praxe judaica e não a praxe cristã.

• O 9º Mandamento, que declara, segundo o Catecismo clássico: “Não desejar a mulher do próximo” diferencia-se do 10º Mandamento, “Não cobiçar as coisas alheias”, por se tratar de sentimentos notoriamente diferentes e também por terem como destinatários “objetos” diferentes (afinal, “seres humanos” não se confundem com “coisas”; nem a cobiça sexual com a cobiça de obter bens, como deixa notar perfeitamente o texto de Deuteronômio 6,21, que traz por duas vez a palavra “não”: “NÃO cobiçarás a mulher do teu próximo” e “NÃO desejarás para ti a casa do teu próximo, nem o seu campo, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo”. É claro que, por terem dividido o 1o Mandamento em dois, os protestantes (salvo os luteranos) agora precisam juntar o 9o com o 10o, para totalizar o número de dez; com isto a mulher passa a ser considerada coisa, patrimônio do marido…

Por fim, devemos observar que Jesus também “modificou” a literalidade dos Mandamentos, simplificando tudo como:

– “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22,37-39; v.tb. Marcos 12,30-31; Lucas 10,27).

E não há dúvida de que nestes dois únicos Mandamentos de Jesus encontram-se todos os demais…

É que Jesus (bem como a Igreja Católica), se preocupa com o “espírito” e não com a simples “letra” da lei (cf. 2Coríntios 3,6-7).

4º) Muitas outras coisas poderiam se apontar contra a Igreja Católica, mas por ora é desnecessário, bastam os seguintes exemplos: [26:42]

Novamente, a “metralhadora giratória”… Como estes “novos temas” nada têm a ver com o tema do programa, indicamos apenas alguns artigos que os abordam em detalhes:

a) O Santo Ofício e a Inquisição

Quanto a estes, indicamos a leitura atenta dos seguintes artigos:

“A história da inquisição”, em Veritatis Splendor.

“Inquisição: a verdadeira Face”, em Apologistas Católicos.

“A Inquisição e o Protestantismo”, em Católico Porque…

“Leitora questiona a inquisição protestante”, em Católico Porque…

“Ainda as Inquisições protestantes…”, em Católico Porque…

“Leitor quer rebater argumento contrário às Inquisições Protestantes”, em Católico Porque…

b) As indulgências

Quanto a estas, leia-se:

“A versão correta: Indulgências – Que são?”, em Católico Porque…

“Entendendo a doutrina das indulgências”, em Católico Porque…

“A Igreja Católica vendia lugares no Céu?! O que são as indulgências”, em Católico Porque…

“Mitos acerca das indulgências”, em Veritatis Splendor

CONCLUSÃO

O programa concluiu com as seguintes afirmações:

Certamente houve Papas sinceros, devotos a Deus, e Papas desonestos, assim como existem pastores verdadeiros e charlatães, usando o mesmo título de pastor” [27:12].

A Igreja Católica admite (e ensina) que o pecado também pode atingir o Papa, apesar deste ser infalível quando se pronuncia “ex cathedra” em questões de fé e moral. Com efeito, infalibilidade não se confunde com impecabilidade. Por isso mesmo, os Papas também tem seus confessores, a quem confessam os seus pecados pessoais; fazem, assim, penitência.

Mas o que chama a atenção na afirmação acima é justamente a parte que diz: “Certamente houve Papas sinceros, devotos a Deus”. Ora, afirmando isto, o programa caiu mais uma vez em contradição, uma vez que até então vinha propondo a ideia de que o Papado e os Papas eram “coisas ruins”, que desviavam a Igreja Católica; fora a ideia tresloucada de que o Papa, como “Vicarius Filii Dei” seria “a besta do Apocalipse”, o portador do no 666… Acrescente-se ainda que todos os Papas “sinceros, devotos a Deus” guardaram o domingo, o que para os adventistas caracterizaria “a marca da besta”…

Eis o resultado da falta de coerência entre a teoria e a prática adventistas.

– “Eu era um católico muito bem convertido, tão convertido como hoje” [28:27].

Essa afirmação foi feita pessoalmente pelo apresentador do programa… Contudo, se quando católico “era muito bem convertido”, não teria deixado se convencer pelas balelas adventistas (guarda do sábado, alimentos puros e impuros, juízo investigativo, mortalidade da alma, grande apostasia da Igreja etc.), pois nem mesmo a imensa maioria dos protestantes caem nessa conversa fiada. E mais: se fosse “católico muito bem convertido” conheceria bem melhor o Catolicismo, a ponto de não propagar aqui os inúmeros erros doutrinários ou históricos que atribuem à Fé Católica e que constam no roteiro do programa. Isto é verdadeiramente lamentável!

Por outro lado, dizendo-se que era “tão convertido como hoje [ao Adventismo]”, é possível que não esteja ainda tão contumazmente preso a essa denominação. Oremos e torçamos para que reveja sua posição e “retorne ao lar”, de onde nunca deveria ter saído.

– “Eu não consigo sequer supor a ideia de chegar ao céu e não encontrar ali irmãos católicos como Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce ou Francisco de Assis. Se esse pessoal tão caridoso e altruísta não foi verdadeiramente cristão, quem é que foi?” [29:08].

Ora, o Adventismo não admite a imortalidade da alma, tal como professa a Igreja Católica e a esmagadora maiorias das igrejas protestantes, de modo que a afirmação acima é também discordante da doutrina oficial da igreja Adventista do 7o Dia. Se o “destoamento” apresentado pelo programa se deu de boa fé (por ignorância ou descuido) ou de má fé (por motivos proselitistas, para atrair católicos), que Deus o julgue.

– “A menos que haja duas verdades – e não há! – eu tenho muitas vezes que optar entre o que diz a Bíblia e o que ensinam as bulas papais. E, entre ambos (…) eu prefiro ficar com a Bíblia” [29:28].

Outro ponto que demonstra que o apresentador não era tão convertido assim ao Catolicismo, pois, se o fosse, saberia muito bem que as bulas papais (e demais documentos pontifícios e curiais) não fazem “competição” com a Bíblia Sagrada ou com a Sagrada Tradição, mas as aplicam, exortam, explicam, etc., tudo dentro do devido contexto histórico vivido pelos Papas (ou outras autoridades eclesiásticas) signatários… Isto porque o Papado está a serviço de Cristo e da Igreja e não do anticristo; daí a autoridade da Igreja, a esposa de Cristo:

– “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mateus 16,18);

– “Quem vos ouve, a Mim ouve; e quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lucas 10, 16).

– “Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano” (Mateus 18,17).

– “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a Si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Efésios 5,25b-27).

– “A Igreja do Deus vivo é a coluna e o fundamento da verdade” (1Timóteo 3,15).

Mais claro, impossível… Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça…

– “Seja fiel ao que diz a Palavra de Deus” [29:59].

Não podemos esquecer aqui que o cânon da Bíblia foi definido pela Igreja Católica no século IV d.C., e que o primeiro livro do Novo Testamento surgiu mais de vinte anos após a Ressurreição e Ascensão de Cristo, o que significa, por óbvio, que a Tradição oral da Igreja antecedeu os escritos do Novo Testamento, de modo que estes apenas reproduzem uma parte dessa Tradição transmitida verbalmente pelos Apóstolos e seus sucessores.

Com efeito o que vem a ser realmente a Palavra de Deus a que devemos permanecer fiéis?

1. A Sagrada Tradição
2. A Sagrada Escritura (Antigo Testamento + Novo Testamento)
3. O Sagrado Magistério

Finalmente, devemos dizer que, embora a fundadora do Adventismo, sra. Ellen Gould White, muito fale das Escrituras e muito contradiga a Tradição e o Magistério da Igreja Católica, o fato é que ela mesma segue uma tradição que nem mesmo as igrejas ditas protestantes aceitam, como também impõe aos seus fiéis adventistas um magistério fundado nas suas profecias pessoais e interpretações bem particulares das Escrituras (especialmente as do livro de Daniel), esquecendo-se que São Pedro, homem certamente inspirado (independentemente de a profetiza considerá-lo ou não Papa), tenha ensinado que: “Nenhuma profecia é de particular interpretação” (2Pedro 1,20). Com efeito, voltam-se contra ela as palavras que ela própria escreveu em “O Grande Conflito” (págs. 525-526, tal como o vômito retorna ao cachorro (Provérbios 26,11):

– “As interpretações vagas e imaginosas das Escrituras, as muitas teorias contraditórias concernentes à fé religiosa, as quais se encontram no mundo cristão[24], são obra de nosso grande Adversário para confundir o espírito de tal maneira que não saiba distinguir a verdade[25]. E a discórida e divisão que há entre as igrejas da Cristandade são em grande parte devidas ao costume que prevalece de torcer as Escrituras, a fim de apoiar uma teoria favorita[26]. Em vez de estudar cuidadosamente a Palavra de Deus com humildade de coração, a fim de obter conhecimento de Sua vontade, muitos procuram apenas descobrir algo singular ou original[27]. Com o intuito de sustentar doutrinas errôneas ou práticas anticristãs, alguns apanham passagens das Escrituras separadas do contexto, citando talvez a metade de um simples versículo, como prova de seu ponto de vista, quando a parte restante mostraria ser bem contrário o sentido. Com a astúcia da serpente, entrincheiram-se por trás de declarações desconexas, interpretadas de maneira a convir a seus desejos carnais. Muitos assim voluntariamente pervertem a Palavra de Deus. Outros, possuindo ativa imaginação, lançam mão das figuras e símbolos das Escrituras Sagradas, interpretam-nos a seu bel-prazer, tendo em pouca conta o testemunho das Escrituras como seu próprio intérprete, e então apresentam suas fantasias como ensinos da Bíblia[28]”.

Teria sido muito bom se a sra. White tivesse “se olhado no espelho” e sabido aplicar na prática o que ela mesma escreveu. Típico caso de ter uma trave no olho (cf. Mateus 7,3) que infelizmente acomete muitos até hoje…

Pax Christi!


NOTAS


[0] O programa refutado pode ser assistido no YouTube.
[1] Veja-se, p.ex.: o livro “O Grande Conflito”, de Ellen Gould White (Casa Publicadora Brasileira); o livreto “Conhecereis a Verdade”, de Alfons Balbach (Editora Missionária A Verdade Presente; Itaquaquecetuba-SP; 3a ed., s/data); e o folheto “A Última Advertência”, de autor anônimo (Editora Missionária A Verdade Presente; Itaquaquecetuba-SP; s/data).
[2] Quanto aos duvidosíssimos ensinamentos da sra. Ellen Gould White, consulte-se as seções “Bibliografia” e “Sites”, mais abaixo.
[3] RAY, Steeve. “Carta a um Fundamentalista”. Apostolado Veritatis Splendor. Acessado em 16.05.2013.
[4] Cf. PAPIAS DE HIERÁPOLIS in Eusébio de Cesareia, “História Eclesiástica” 3,39,6; IRENEU DE LIÃO, “Contra as Heresias” 2,1,1; ORÍGENES DE ALEXANDRIA etc.
[5] KEATING, Karl. “Quem é a pedra: Jesus ou Pedro?”. Apostolado Veritatis Splendor. Acessado em 13.05.2013.
[6] NABETO, Carlos Martins Nabeto. “A Fé Cristã Primitiva: Coletânea de Sentenças Patrísticas”. São Paulo: Clube de Autores, Edição Master, 2012.
[7] ARMSTRONG, Dave. “50 Provas Bíblicas de que Pedro fora o primeiro Papa”. Apostolado Universo Católico. Este artigo também pode ser encontrado na Internet em outra tradução sob o título “50 Provas do Primado Petrino e do papado tiradas do Novo Testamento”.
[8] Como, aliás, reconhece ao menos em tese a própria fundadora do Adventismo do 7o Dia, a sra. Ellen Gould White, em sua obra “A Grande Esperança” (Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011, pág. 65): “Mas Deus terá um povo que mantém a Bíblia, e a Bíblia somente, como padrão de todas as doutrinas e a base de todas as mudanças. As opiniões de intelectuais, as deduções da ciência, as decisões de concílios eclesiásticos, a voz da maioria – nenhuma dessas coisas, nem todas em conjunto, deveriam ser consideradas como prova a favor ou contra qualquer doutrina. Devemos exigir um ‘assim diz o Senhor'”.
[9] No caso específico do Adventismo do 7º Dia, seu “magistério” é principalmente constituído pelas interpretações bíblicas e profecias particulares da sua fundadora, Ellen Gould White; e suas “tradições” decorrem principalmente de doutrinas, disciplinas e costumes herdados de outras denominações protestantes mais antigas como a própria doutrina da Sola Scriptura, herdada dos luteranos, e as interpretações pessoais de adventistas mais antigos, que não observavam o sábado, mas tinham uma concepção muito particular de fim do mundo, como William Miller (1782-1849) que, por sua vez, tinha origem batista.
[10] PACWA, Mitch. “Call no Man Father”, in Revista “This Rock”. Estados Unidos, janeiro de 1991.
[11] Segundo a tabela constante do livro “A Reconquista do Homem”, do adventista Carlos A. Trezza, (Santo André-SP: Casa Publicadora, 2a ed., s/data, pág.223), o Apocalipse foi escrito pelo Apóstolo João entre os anos 95 e 96, na época do pontificado de Clemente I.
[12] Manter a unidade da Igreja é um dos ofícios mais básicos de Pedro, já que, como vimos, cabe a ele confirmar os irmãos na fé. Não a toa, escreve Inácio de Antioquia (+107) à Igreja de Roma, que “preside ao amor”: “Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu a misericórdia, por meio da magnificência do Pai Altíssimo e de Jesus Cristo, seu Filho único (…); à Igreja que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a Lei de Cristo, que porta o nome do Pai: eu a saúdo em nome de Jesus, o Filho do Pai (…) Nunca tiveste inveja de ninguém; pelo contrário, ensinaste aos outros. Quanto a mim, desejo guardar o que ensinais e preceituais (…) Em vossa oração, lembrai-vos da igreja da Síria que, em meu lugar, tem Deus por pastor. Somente Jesus Cristo e o vosso amor serão nela o bispo” (“Epístola aos Romanos” Prefácio; 1,1; 3,1; 9,1).
[13] Cf. EUSÉBIO DE CESAREIA, “História Eclesiástica” 3,16,1; 4,23,9-11. Na tradução feita pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (Rio de Janeiro: CPAD, 1a ed., 1999), ao invés de alegria, lemos palavras ainda mais fortes: “Hoje passamos o santo dia do Senhor (=domingo), em que lemos tua epístola (=a do Papa Sótero). Ao lê-la, devemos sempre ter nossa mente suprida de admoestações, como temos do que nos foi escrito antes por Clemente”.
[14] Cf. TERTULIANO DE CARTAGO, “Da Prescrição dos Hereges” 32,1-2.
[15] BETTENCOURT, Estêvão Tavares. “Diálogo Ecumênico: Temas Controvertidos”. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 3a ed., 1989.
[16] Cf. “CACP está entre os Piores Sites Apologéticos do Brasil”. Blog “Sétimo Dia”: http://setimodia.wordpress.com/2009/05/22/os-piores-sites-apologeticos-do-brasil/. Acessado em 14.05.2013.
[17] Escreve Luiz Gustavo S. Assis (ao que tudo indica adventista): “Esse assunto teve início com um incidente envolvendo W. W. Prescott, um dos pioneiros da segunda geração adventista. Um evangelista chamado C. T. Everson visitou o Museu do Vaticano e tirou algumas fotografias de diversas tiaras papais, usadas ao longo dos séculos. Nenhuma inscrição havia em sequer uma delas. Prescott foi autorizado para utilizar as fotos na ilustração de um dos seus artigos. Porém, a Southern Publishing Association, quando preparava a publicação da versão atualizada da obra de Smith, contratou um artista que inseriu as palavras ‘Vicarius Filii Dei’. A sede mundial da IASD ordenou que a impressão fosse interrompida e que removessem as fraudes fotográficas. Em 1935, a revista [católica] ‘Our Sunday Visitor’ desafiou o períodico adventista ‘Present Truth’, que nessa época tinha como editor Francis D. Nichol, a provar que a expressão ‘substituto do Filho de Deus’ era um título oficial do papa. Nichol consultou a Prescott para solucionar esse problema. Prescott afirmou que não era possível responder ao desafio, já que os adventistas baseavam essas argumentações em fontes questionáveis. Devido esse incidente, a sede mundial da IASD sugeriu que tal interpretação jamais fosse utilizada novamente. Ironicamente, hoje esta é a interpretação mais popular entre os adventistas” (in “‘Vicarius Filli Dei: sua origem e uso na IASD como interpretação de Apocalipse 13:18”. UNASP-Centro Universitário Adventista de São Paulo, VII Jornada Bíblico-Teológica, in revista Kerygma, Ano 3, No 2, 2007, págs. 92-95).
[18] Na verdade, o programa apenas repete a tradição que recebeu de sua “profetiza” Ellen Gould White: “A profecia declarara que o papado havia de cuidar ‘em mudar os tempos e a lei’ (Daniel 7,25)”, conforme lemos em “O Grande Conflito”, pág.49.
[19] Cf. Revista Pergunte e Responderemos no 447, 08/1999, p. 355.
[20] Para maiores detalhes, ver “Is Jesus simply a retelling of Mithras mythology?”. Please Convince Me. Acessado em 14.05.2013.
[21] Eis a tradução desse versículo segundo a famigerada “Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas”, publicada pelos Testemunhas de Jeová: “Por inspiração, vim a estar no Dia do Senhor, e ouvi atrás de mim uma forte voz semelhante à duma trombeta”.
[22] Idem à nota 18, pois a “profetiza” escreveu na mesma obra, na pág. 50: “Para completar a obra sacrílega, Roma pretendeu eliminar da lei de Deus, o segundo mandamento, que proíbe do culto das imagens, e dividir o décimo mandamento a fim de conservar o número deles (…) intrometeu-se também com o quarto mandamento e tentou pôr de lado o antigo sábado, o dia que Deus tinha abençoado e santificado (Gênesis 2:2 e 3), exaltando em seu lugar a festa observada pelos pagãos como ‘o venerável dia do Sol'”.
[23] Idem à nota 18, conforme vemos na “tabela comparativa” existente às págs. 447-448 de “O Grande Conflito”.
[24] Entenda-se “no mundo cristão protestante”, o que acaba por incluir o próprio Adventismo do 7o Dia, que em suas doutrinas discrepam de todas as outras igrejas protestantes, inclusive de outros ramos do Adventismo.
[25] Daí a importância de se conhecer a Patrística e, com isto, conhecer o que professavam os cristãos primitivos. Basta ler imparcialmente as suas obras para facilmente se constatar que a fé da “Igreja Primitiva” nada tem a ver com as várias fés protestantes (no plural!), em seus diversos ramos e divisões, mas com a Fé Católica. Ver Nota 6.
[26] É o caso do próprio Adventismo do 7o Dia, que distorce sobretudo as profecias de Daniel e as “sombras” que são o Antigo Testamento, para sustentar sua denominação à parte de todas as demais 30 mil denominações protestantes…
[27] No caso do Adventismo do 7o Dia poderíamos assim resumir: adoção dos escritos de Ellen Gould White como inspirados, supervalorização do sábado e do Antigo Testamento, juízo investigativo, etc.
[28] No caso do Adventismo, um dos melhores exemplos seria a doutrina do “Juízo Investigativo”; ver ARRÁIZ, José Miguel. “Os Adventistas do Sétimo Dia e o Juízo Investigativo”. Apostolado Católico Porque… Acessado em 12.05.2013.


BIBLIOGRAFIA


– BETTENCOURT, Estêvão Tavares. Revista Pergunte e Responderemos. Rio de Janeiro: Lumen Christi. Nºs 447, 448.
– FISCHER-WOOLPERT, Rudolf. “Léxico dos Papas: de Pedro a João Paulo II”. Petrópolis: Vozes, 1ª ed., 1991.
– NABETO, Carlos Martins. “A Fé Cristã Primitiva: Coletânea de Sentenças Patrísticas” (Edição Master). São Paulo: Clube de Autores, 2ª ed., 2012.
– _________. “A Infalibilidade Papal: refutação ao pseudo-Strossmayer”. São Paulo: Clube de Autores, 2ª ed., 2012.
– MCBRIEN, Richard P. “Os Papas: os pontífices de São Pedro a João Paulo II”. São Paulo: Loyola, 1ª ed., 2000.
– WHITE, Ellen Gould. “A Grande Esperança”. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira. 2ª ed., 2011.
– _________. “O Grande Conflito”. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira. 33ª ed., 1987.

FONTE


NABETO, Carlos Martin. Católico por que: “A História do Papado”: uma Refutação a um Programa de TV Adventista. Disponível em: <http://catolicoporque.com.br/index.php/colaboradores/carlos-martins-nabeto/artigos-cmn/3518-a-historia-do-papado-uma-refutacao-a-um-programa-de-tv-adventista>. Acesso em: 23/5/2013

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