2012: um novo ano teve início num momento muito preciso do relógio. A partir do primeiro segundo do ano, a imensa maioria dos homens vai ritmar sua vida pelo calendário que recomeça como nos anos anteriores, porém com algumas importantes datas mudadas.
A data da Páscoa muda a cada ano, impondo consigo mudanças gerais, por exemplo, as datas de Carnaval. Como o ano de 2012 será bissexto, fevereiro terá um dia a mais.
O calendário com suas mudanças é aceito por todos. Todo o mundo intui que os critérios usados para as mudanças são sábios, úteis e benéficos.
Contudo, tais critérios são desconhecidos da imensa maioria que vai se pautar por eles.
A que se deve essa mudança tão grande, constante, porém certa e bem recebida, do calendário?
Poucos têm disso uma idéia clara. Menos ainda de que foi a Igreja que definiu quanto durava um ano e em qual dia do ano viviam os homens.
A Igreja Católica também definiu todas as mudanças que deveriam ser introduzidas no calendário até o fim do mundo de maneira a harmonizar a atividade dos homens com o movimento da Terra, do Sol, da Lua e das estrelas.
Menos numerosos ainda são os que sabem que nas pedras que pavimentam a Praça de São Pedro, em Roma, está incrustado um relógio e um calendário simples mas imenso, onde se podem conferir os momentos exatos do tempo na Terra.
Esta espécie de relógio princeps tem uma só agulha e está diante dos olhos de todos. Trata-se do obelisco de 83 pés de altura, instalado no meio da famosa Praça dedicada ao Príncipe dos Apóstolos. Ele foi conquistado pelos antigos romanos e adotado pela Igreja, que o despojou de seus significados pagãos.
Sim, o obelisco no meio da Praça de São Pedro é um ponteiro solar que indica com toda precisão o meio-dia e os solstícios (os dias mais longos e curtos do ano em 21/22 de junho e 21/22 de dezembro). Portanto, o início do inverno e do verão no Hemisfério Norte, e em sentido contrário, no Sul.
O momento exato em que o dia atinge sua máxima ou mínima duração pode ser verificado no meridiano de granito e nas marcas de mármore incrustadas na Praça, sobre as quais passam inúmeros turistas sem perceberem do que se trata.
Em 21 de dezembro, a sombra do obelisco atinge o disco de mármore mais longínquo da base do obelisco.
No 21 de junho, solstício de verão, a sombra da agulha egípcia adotada pela Igreja atinge o disco mais próximo de sua base, sinal do dia mais longo do ano (no Hemisfério Norte, é claro; para o Sul vale o inverso).
A sombra da ponta do obelisco bate em Leo em 23 de julho e em Gémeos em 22 de maio |
Quando a sombra da ponta do obelisco atinge outros cinco discos na praça, significa que o sol entra num novo signo do zodíaco. Bem entendido, o zodíaco sem nenhuma alusão supersticiosa, mas segundo seu verdadeiro sentido: cada uma das partes em que se divide o céu visível.
A linha de granito que funciona como meridiano começa na fonte central da praça (em cujo centro está o obelisco) e vai na direção da janela do Papa, como a significar que o mundo deve acertar os ponteiros com o sucessor de Pedro.
E de fato foi o Papa Gregório XIII (1502-1585) quem deu forma definitiva ao calendário utilizado pelo mundo ocidental e foi o responsável pelas mudanças mencionadas no início.
A Igreja Católica sempre esteve cuidadosamente engajada na astronomia, visando especialmente definir os tempos litúrgicos e os horários certos das orações, como o Ângelus.
Esse interesse provém de antiquíssimas tradições que incluem as dos três Reis Magos, assim chamados por serem voltados para os fenômenos celestes.
E também está ligado à expectativa escatológica do dia em que Cristo voltará em pompa e majestade para encerrar a História e julgar os vivos e os mortos.
A data da Páscoa determina a Semana Santa, a Quaresma, e, portanto, o Carnaval, que precede a mesma, bem como o desenvolvimento de todo o ano litúrgico.
Nosso Senhor Jesus Cristo celebrou a Páscoa (lembrança da saída do Egito) com seus Apóstolos de acordo com o costume do Antigo Testamento, como refere o Evangelho.
No ano 325 da era cristã, a festa da Páscoa foi marcada pelo Concílio de Nicéia para o domingo que se seguia à primeira lua cheia após o 21 de Março (equinócio vernal).
Porém, o calendário usado no tempo desse Concílio já não batia com as estações. Era o chamado Calendário Juliano. Por fim, a reforma do Papa Gregório XIII fixou a data certa do início da primavera (Hemisfério Norte) no verdadeiro 21 de março, mandando pular vários dias para corrigir o erro de cálculo em que caíram os romanos.
A chamada Igreja Ortodoxa, cismática que recusa a autoridade do Papa, não quis ligar para os argumentos científicos que apóiam a reforma gregoriana. E ainda se debate nas imprecisões do velho calendário pagão, coincidindo ou não suas datas com as certas um pouco ao léu.
O relógio da Praça de São Pedro não é o único na Roma dos Papas.
A aparição dos relógios mecânicos não adiantou grande coisa, pois eram bastante imprecisos. Por isso, no século XVIII, o Papa Clemente XI encomendou ao astrônomo Francesco Bianchini a instalação de um meridiano no chão da Basílica de Santa Maria degli Angeli, em Roma.
Este meridiano é muito mais sofisticado: servia para observações altamente precisas do céu e resolvia complexos problemas astronômicos.
John Heilbron, professor emérito de História das Ciências na Universidade de Califórnia – Berkeley, explica que o meridiano no chão de Santa Maria degli Angeli “pôde fazer coisas que não se conseguia com os telescópios da época”, como calcular com exatidão a inclinação do eixo da Terra.
Heilbron escreveu o livro “O Sol na Igreja: as catedrais vistas como observatórios solares” (“The Sun in the Church: Cathedrals as Solar Observatories”).
Com esse meridiano, o Papa Clemente confirmou a exatidão da reforma gregoriana do calendário, e especialmente o cálculo da Páscoa, que os protestantes obstinavam-se a contestar.
O calendário aperfeiçoado pelo Papa Gregório XIII em 1582 é o usado atualmente, donde o nome Gregoriano.
Os atuais relógios atômicos e outros instrumentos de altíssima sofisticação permitiram obter medições quase infinitesimais. Porém, o calendário da Igreja, revelou-se tão apurado que só se prevê uma correção… para ano 4500: o aumento de um dia!
O calendário envolve questões religiosas que desafiam a ciência. O Pe. Juan Casanovas, SJ, astrônomo solar e historiador da astronomia, mostra que dividir o ano em semanas de sete dias, em teoria não ajuda a matemática. E explica: “Se V. divide o número de dias do ano por sete, sempre fica sobrando um dia e nos anos bissextos dois dias”.
Porém, acrescenta o sacerdote-cientista, ninguém quer saber de renunciar à semana de sete dias.
Até os calendários hebreu e muçulmano, embora radicalmente diferentes, estão baseados numa semana de sete dias.
A razão da divisão em sete está no Gênese e na ordem posta por Deus na Criação do Universo. Essa afinidade profunda da alma humana com a série de sete dias como que está impressa nos ritmos da natureza humana.
O Prof. Heilbron também mostrou que as tentativas de fazer calendários “mais racionais” não somente foram mal sucedidas, mas também continham erros grosseiros.
O mais característico desses calendários desastrados foi o excogitado pela Revolução Francesa. Ele instituiu semanas de dez dias (as “decadi”). Três “decadi” formavam um mês. Cada dia tinha 10 horas e cada hora tinha 100 minutos.
Dói pensar.
A sabedoria da Igreja Católica resplandece no caso com manifesto benefício e estímulo para a ciência e a boa ordem da vida.
Fonte: Ciência confirma a Igreja. Por que mudam o calendário a cada ano? A Igreja e a ciência astronômica. Disponível em: <http://cienciaconfirmaigreja.blogspot.com.br/2012/01/por-que-mudam-o-calendario-cada-ano.html>. Desde: 09/02/2012