Continuação: [Parte I] [Parte II.1] [Parte II.3]
ATANÁSIO DE ALEXANDRÍA
“Por isso devemos buscar antes de todas as coisas, se Ele é Filho, e sobre este ponto esquadrinhar especialmente as Escrituras; pois foi isto, quando os apóstolos foram interrogados, que Pedro respondeu, dizendo:
Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” … esta é a verdade e o princípio soberano da nossa fé … E como Ele é um fundamento, e nós pedras edificadas sobre ele … A Igreja está firmemente estabelecida; está fundada sobre a pedra, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela … E porque esta é a fé da Igreja, que eles de alguma maneira entendam que o Senhor enviou os Apóstolos e lhes mandou fazer disto o fundamento da Igreja.” [61]
Como vimos, confessar que a fé é o fundamento da Igreja não é uma rejeição do primado de Pedro. Também não se pode assumir que porque se um pai faz uso da interpretação necessáriamente rejeita a outra que mostra Pedro como a Rocha. Um estudo da vida e obras de Santo Atanásio permitem nos eliminar qualquer argumentação de que este pai tenha rejeitado o primado de Pedro.
Em sua controvérsia com os arianos, Atanásio foi muito perseguido por defender a fé do Concílio de Nicéia, mesmo afastado de sua sede e exíliado em Alexandria recorre ao bispo de Roma, a quem reconhece a primazia e autoridade capaz de restaurá-lo de seu cargo (o que fez o Papa Júlio).
“Quando saí de Alexandria, eu não fui a sede de seus irmãos, nem a qualquer outra pessoa, mas apenas a Roma, e tendo colocado o meu caso para a Igreja (era a uma nica coisa que eu me importei), dediquei meu tempo para a adoração pública” [62]
No Concílio de Sardica (concílio onde Atanásio participou e que se julgou seu caso), reconheceu-se a primazia do bispo de Roma e decidiu que se um bispo tiver sido julgado ou deposto, poderia apelar para o bispo de Roma honrando assim a memória do apóstolo Pedro .
Canon 3: “Bispo Hosius disse: Este também é necessário adicionar nenhum bispo passa de um província para outra província na qual há bispos, a menos que realmente seja chamado por seus irmãos, isso nós vemos para não fechar as portas da caridade.
E este caso é também deve ser previsto, que se um bispo em qualquer província tem alguma coisa contra seu irmão e companheiro bispo, nenhum dos dois deve convidar como árbitro, bispos de outra província.
Mas se por acaso sentença ser proferida contra um bispo em qualquer assunto e ele suponha que seu caso não seja infundado, mas bom, a fim de que a questão possa ser reaberta, vamos, se parece bom a sua caridade, honremos a memória de Pedro, o Apóstolo, e que aqueles, que proferiram o julgamento, escrevam para Julius, o bispo de Roma, de modo que, se necessário, o caso poderá ser repetido pelos bispos das províncias vizinhas e que ele nomei juízes, mas se não puder ser demonstrado que o seu caso é, de tal modo que não é necessário um novo processo, que o julgamento uma vez dado como anulada, mas fique como estava antes.”
Canon 5: “O bispo Gaudêncio disse: Se parece bom a ti, é necessário adicionar a essa decisão cheia de sincera caridade que Você pronunciou, que, se algum bispo for deposto pela sentença destes bispos vizinhos, e afirmar que você tem matéria recente de defesa, um novo bispo não seja colocado em sua Sé, a menos que o bispo de Roma e juiz proferir uma decisão quanto a este.”
Canon 6: “Bispo Hosius disse: Decretado, que se algum bispo é acusado, e os bispos da região reunidos, depô-lo do cargo, e ele apelar, por assim dizer, se refugia com o bispo da abençoadíssima Igreja Romana, e ele estiver disposto a dar-lhe uma audiência, e achar que é direito renovar o exame de seu caso, deixe-o ter a honra escrever para os bispos que estão mais próximos da província que possam analisar os dados com cuidado e precisão e dar seus votos na questão em conformidade com a palavra da verdade. E se alguém exigir que o seu caso seja ouvido mais uma vez, e em seu pedido, parece bom mover para o bispo de Roma para enviar uma presbíteros a latere, que seja no poder do bispo que, de acordo como ele julga ser bom e decida que tal é direito de que alguns serem enviados para serem juízes com os bispos e invistam com sua autoridade por quem eles foram enviados.
Os bispos responderam: O que foi dito é aprovado. “[63]
Atanásio também chama Roma “o trono Apostólico” [64]
BASÍLIO O GRANDE
“E a casa de Deus, situada nos cumes das montanhas, é a Igreja segundo a opinião do Apóstolo. Pois ele diz que deve-se saber «como comportar-se na casa de Deus». Ora, os fundamentos desta Igreja estão sobre as montanhas sagradas, uma vez que está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas. Uma destas montanhas era certamente Pedro, sobre cuja pedra o Senhor prometeu edificar a sua Igreja. Verdadeiramente por certo e por maior direito são as almas sublimes e elevadas, almas que se elevam acima das coisas terrenais, chamadas «montanhas». A alma do bendito Pedro foi chamada uma alta pedra porque ele tinha um forte apoio na fé e suportou constante e valentemente os golpes infligidos pelas tentações. Todos, portanto, que adquiriram um entendimento da divindade – por causa da amplitude da mente e das acções que procedem dela – são os cumes das montanhas, e sobre eles é edificada a casa de Deus.” [65]
É difícil entender como esse texto pode ser usado pelos protestantes como apoio para rejeitar que Pedro era a pedra de Mateus 16, 18, quando o mesmo texto, afirma que ele é a pedra quando diz “Uma destas montanhas era certamente Pedro, sobre cuja pedra o Senhor prometeu edificar a sua Igreja.”. Acho que o sr. Saraví não leu direito o que ele mesmo postou. Esta frase de Basílio não se opõe à doutrina católica que Pedro foi escolhido e chamado de rocha em virtude de sua fé. Essa é precisamente a exegese católica, distínta da que os protestantes sustentam, onde a rocha foi a fé de Pedro excluindo o próprio Pedro (o que não é discutido aqui por Basílio).
Há outros textos que mantém a mesma idéia:
“Quem (referindo-se a Pedro), por conta da proeminência de sua fé, recebeu em sí mesmo a construção da Igreja” [66]
“O bem-aventurado Pedro, que foi preferido antes de todos os outros discípulos, que só recebeu um testemunho e maior bênção que o resto, e a quem foram confiadas as chaves do reino dos céus” [67]
GREGÓRIO DE NISSA
“A calidez dos nossos louvores não se estende a Simão [Pedro] enquanto ele era um pescador; antes se estende à sua firme fé, a qual é ao mesmo tempo o fundamento de toda a Igreja.”[68]
Outro Padre que harmoniza e faz uso de ambas as interpretações. No mesmo Panegírico de Santo Estevão também escreve:
“Pedro, que é a cabeça dos apóstolos … ele é o mais forte e a rocha sobre a qual o Salvador edificou a sua Igreja” [69]
Outro Padre que não é menciondo no artigo do sr Saraví é precisamente o outro Gregório (Nazianzeno), que também usa a interpretação que Pedro é a Pedra em Mateus 16:18:
“Observe que dos discípulos de Cristo, todos dos quais foram exaltados e digno de escolha, um é chamado de rocha, e é responsável pela fundação da Igreja” [70]
AMBRÓSIO DE MILÃO
“A fé, pois, é o fundamento da Igreja, pois não foi dito da carne de Pedro (da sua pessoa), mas da sua fé, que «as portas do Hades não prevaleceriam contra ela» … Faz um esforço, portanto, para ser uma pedra! Não procures a pedra fora de ti, mas dentro de ti! A tua pedra é a tua obra, a tua pedra é a tua mente. Sobre esta pedra é edificada a tua casa. A tua pedra é a tua fé, e a fé é o fundamento da Igreja. Se fores uma pedra, estarás na Igreja, porque a Igreja está sobre uma pedra. Se estiveres na Igreja as portas do inferno não prevalecerão contra ti.” (Comentário sobre Lucas VI,98 (CSEL 32:4)) [71]
Outro texto perfeitamente Católico, mais uma vez, neste caso, os protestantes omitem os textos de Ambrósio, onde ele se refere explicitamente a Pedro como a rocha sobre a qual Cristo constrói a sua Igreja:
“Até que, depois de ser tentado pelo diabo, sobre Pedro é fixada a Igreja” [72]
“É o mesmo Pedro a quem Ele disse: ‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja’, onde está a Igreja, não a morte, mas a vida eterna… o Beato Pedro, contra quem as portas do inferno não prevalecerão, nem as portas do inferno fechadas contra ele, mas que, pelo contrário, destruiu alpendres do inferno e abriu os lugares celestiais”[73]
“Pedro é chamado de “rocha”, porque, como uma rocha inabalável, segurando as articulações e a massa de todo o edifício cristão” [74]
Ele fala de comunhão com os bispos católicos como sinônimo de comunhão com a Igreja de Roma:
“Mas ele não estava tão ansioso para ignorar a cautela. Ele chamou o bispo, e acreditando que pode haver verdadeira gratidão, mas a primavera da fé, o orador perguntou se ele concorda com os bispos católicos, isto é, com a Igreja romana”[75]
“Onde está Pedro, está a Igreja. E onde está a Igreja, não a morte, mas a vida eterna”. [76]
Um trecho da carta de Ambrósio ao grande Imperador Graciano é muito interessante para o tema que tratamos, porque reconhece em Roma a cabeça de toda a cristandade:
“Tua graça não deve permitir que nada perturbe a Igreja de Roma, o cabeça da todo o mundo romano e da mais sagrada fé apostólica, da qual flui todos os laços de sagrada comunhão”[77]
DÍDIMO O CEGO
“Quão poderosa é a fé de Pedro e a sua confissão de que Cristo é o Deus unigénito, o Verbo, o verdadeiro Filho de Deus, e não meramente uma criatura. Embora ele tenha visto a Deus sobre a terra vestido de carne e sangue, Pedro não duvidou, pois estava disposto a receber o que «carne e sangue não te revelaram». Mais, reconheceu o consubstancial e coeterno renovo de Deus, glorificando deste modo aquela raiz incriada, aquela raiz sem começo, a qual lhe havia revelado a verdade. Pedro creu que Cristo era uma mesma deidade com o Pai; e assim foi chamado bendito por aquele que é só ele o bendito Senhor. Sobre esta pedra a Igreja foi edificada, a Igreja à qual as portas do inferno –isto é, os argumentos dos hereges – não vencerão.” (Sobre a Trindade, I, I,30 (PG 39:416)) [78]
Aqui Dídimo está falando de Pedro, e chamando-o de pedra e dizendo que ele recebeu as chaves. Examinando a citação na íntegra mostra que a rocha que ele estava se referindo era Pedro, que recebeu as chaves. Indiscutivelmente Dídimo argumenta que Pedro é chamado de rocha para o reconhecimento da divindade de Cristo (o mesmo argumento usado por Hilário de Poitiers contra os arianos).
EPIFÂNIO DE SALÂMINA
“Isto é, antes de tudo, porque ele confessou que «Cristo» é «o Filho do Deus vivo», e se lhe disse, «Sobre esta pedra da fé segura edificarei a minha Igreja» – pois ele claramente confessou que Cristo é o verdadeiro Filho.” (Panarion, II-III) [79]
Outro texto que não nega a interpretação onde Pedro é a rocha em Mateus 16, 18, mas explica a causa do reconhecimento do nome de Cristo como o filho de Deus.
Há outros textos novamente omitidos pelos protestantes onde Epifânio desenvolve claramente a idéia de que ambas as interpretações estão corretas, tanto a fé em que está construída a Igreja quanto Pedro, que se torna um alicerce de construção e casa Deus:
“E o bem-aventurado Pedro, que negou o Senhor por um tempo, o qual foi o chefe dos apóstolos, que se tornou para nós em verdade uma rocha firme em que se baseia a fé do Senhor, na qual está construída a Igreja em todos os aspectos: primeiro, ele confessou que Cristo era o filho do Deus vivo, e ouviu que sobre este fundamento da fé seria edificarei a minha igreja… Além disso, ele também se tornou uma rocha firme da construção e fundação da casa de Deus, em que, depois de ter negado a Cristo, e tendo-se novamente, sendo encontrado pelo Senhor foi digno de ouvir ‘apascenta as minhas ovelhas e alimenta os meus cordeiros’.”[80]
“Os santos são chamados templo de Deus, porque o Espírito Santo habita neles, como o chefe do apóstolo atesta. Ele que foi abençoado pelo Senhor, porque o ‘Pai tinha revelado’. Para ele, o Pai revelou seu verdadeiro Filho, ele é abençoado; e ele (Pedro) revela o Espírito Santo. Isto é principalmente porque é o primeiro dos apóstolos, a rocha sobre a qual a Igreja de Deus é edificada e “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. ‘As portas do inferno’ são hereges e hereges. Em todos os sentidos a fé é confirmada nele, que recebeu as chaves do céu, que liga na Terra e liga no céu …. Ele ouviu do mesmo Deus, Pedro, ‘Apascenta as minhas ovelhas, , a ele foi confiado o rebanho; Ele os conduz admiravelmente no poder de seu próprio mestre”[81]
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO
“Portanto Ele acrescentou isto, «E eu digo-te, tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; isto é, sobre a fé da sua confissão … Pois Cristo não acrescentou nada mais a Pedro, mas como se a sua fé fosse perfeita, disse, que sobre esta confissão Ele edificaria a Igreja, porém no outro caso [João 1:49-50] não fez nada parecido, mas o contrário …” (Homilias sobre o Evangelho de João XXI,1 (NPNF 14:73)) [82]
“O seu significado [1 Cor 3:11] é este: Preguei a Cristo, vos entreguei o fundamento. «Pois nenhum outro fundamento pode um homem pôr, senão aquele que está posto». Sobre este então edifiquemos, e como um fundamento adiramos a ele, como um ramo a uma vinha; e que não haja distância entre nós e Cristo.(Homilias sobre 1 Coríntios VIII, ver. 11 (NPNF 12:47))[83]
Em ambos os textos que o Sr. Saraví menciona, ninguém pode usar como prova de uma rejeição do primado Petrino por parte de São João Crisóstomo. No primeiro texto usa a interpretação popular usada contra o arianismo, onde é enfatizado que Pedro foi escolhido em virtude de sua confissão de fé, sobre a qual está construída a Igreja, e não implica uma rejeição do próprio primado ou oposição à outra interpretação.
No segundo texto comenta I Coríntios 3, 11, (e não Mateus 16,18-19). Ambos são metáforas diferentes, onde elementos metafóricos, por sua vez têm significados diferentes. Em I Coríntios 3 a metáfora do crente, construindo a Igreja com as suas obras. Estas obras podem ser edificados sobre o fundamento do evangelho (Cristo) ou fora dele, recebendo recompensa ou punição (I Coríntios 3, 14-15), a metáfora em Mateus 16, 18 refere-se à Igreja como casa espiritual composta pedras (crentes), e onde Pedro é chamado a rocha sobre a qual a Igreja está construída sobre a base de sua fé.
Mas assim como ele faz uso freqüente de interpretação onde a pedra de Mateus 16, 18 é a fé, há outros textos que ele faz uso da interpretação onde Pedro é a rocha:
“Pedro, o líder do coro, a boca dos outros discípulos, o chefe da irmandade, o qual é colocado sobre todo o universo, a fundação da Igreja”. [84]
“O primeiro dos apóstolos, a fundação da Igreja, o CORO do coro dos discípulos”. [85]
“A fundação da Igreja, o amante veemente de Cristo, …”. [86]
“Pedro, o alicerce, o pilar…” [87]
“O Coro, Pedro, o fundamento da fé, Paulo o vaso da eleição”. [88]
“Ele foi feito a fundação da Igreja” [89]
“O próprio Pedro, a cabeça ou coroa dos Apóstolos, o primeiro na Igreja, o amigo de Cristo, que recebeu a revelação não do homem, mas do Pai… este Pedro, e quando digo Pedro, eu quero dizer a rocha inquebrantável, o fundamento inabalável, o grande apóstolo, o primeiro dos discípulos, o primeiro chamado, o primeiro a obedecer”. [90]
Textos como estes são claros, e seria absurdo pensar que ele era contra a exegese católica atual. Fazer um juízo igual ao do sr. Saraví só mesmo sustentado através de uma seleção parcial de textos patrísticos acompanhados por uma interpretação muito pobre das passagens.
São joão Crisóstomo afirma que Pedro, Tiago e João se sobressaiam ao resto dos apóstolos, mas reconhece Pedro como a cabeça de todos.
“Ele (Jesus) não disse a Pedro: ‘Se você me ama faça milagres’, mas ‘apascenta as minhas ovelhas’ e em todo o mundo dando-lhe honra mais do que o resto, com Tiago e João, então me diga: ele não o preferiu?”[91]
“No Reino, por conseguinte, a honra não foi a mesma, nem eram iguais todos os discípulos, mas três estavam acima de todo o resto, e dentro destes três também havia uma grande diferença… e todos eram apóstolos, todos se sentam em 12 tronos, e deixavam todos os seus bens, e todos vão estar com Cristo, mas ele ainda selecionou estes três. E, novamente, entre os três, ele disse que alguém deveria se sobressair. Pois, “sentar-se à minha direita e à minha esquerda”, disse ele, “não o darei, a não ser a quem está preparado.” E ele colocou Pedro, antes deles, dizendo: ‘Você me ama mais do que estes?’E a João amava mais do que o resto…” [92]
Em outros textos, como enfatiza Paulo, dá a Pedro o primeiro lugar [93].
“Eu gostaria de pedir aqueles que querem diminuir a dignidade do Filho: Quais são os maiores presentes que o Pai deu a Pedro, ou aqueles que o filho lhe deu? O Pai deu a Pedro a revelação do Filho, e o Filho deu-lhe a missão de trazer ao Pai e a ele mesmo o mundo inteiro, e a um homem mortal Ele confiou o poder sobre tudo o que está no céu, dando as chaves a ele que estendeu a Igreja em todo o mundo, e se mostrou mais forte que o mundo”[94]
Ele também reconhece que a Pedro foi dado a chefia da Igreja universal (Pode haver um reconhecimento mais explícito de sua primazia?):
“Depois de uma queda grave (já que não há pecado igual à negação), depois de um grande pecado, Ele o trouxe de volta à sua aniga honra e lhe confiou a chefia da Igreja universal, e, acima de tudo, Ele nos mostrou que tinha um amor por seu mestre maior do que qualquer um dos outros apóstolos, porque foi dito sobre ele: ‘Pedro, tu me amas mais do que estes?’” [95]
São João Crisóstomo também explica que a razão pela qual Paulo queria ver a Pedro mais que o resto dos apóstolos, era porque ele era o chefe dos apóstolos:
“Ele disse: ‘Apascenta as minhas ovelhas’. Por que ignorar os outros e falar sobre as ovelhas a Pedro? Ele foi o escolhido dos apóstolos, a boca dos discípulos, e do chefe do coro, por esta razão, Paulo foi a ele on invés de ir a outro…” [96]
“E se alguém disser: ‘Por que São Tiago recebeu a Sé de Jerusalém?’, Eu responderia que Ele não fez de Pedro mestre de uma Sé, mas do mundo inteiro…” [97]
É preciso para por aqui porque a quantidade de textos onde São João Crisóstomo fala sobre o primado de Pedro são muito inúmeras. O seguinte artigo (http://www.bringyou.to/apologetics/num52.htm), que estamos em processo de tradução, analisa 90 passagens de São João relacionadas ao primado petrino (para aqueles que sabem Inglês, serão muito úteis).
SÃO JERÔNIMO
Contudo, ainda que a tua grandeza me aterre, a tua amabilidade me atrai. Do sacerdote demando o cuidado da vítima, do pastor a protecção devida às ovelhas … As minhas palavras são dirigidas ao sucessor do pescador, ao discípulo da cruz. Assim como não sigo outro líder senão Cristo, não comungo com outro senão com vossa bem-aventurança, isto é, com a cátedra de Pedro. Pois esta, eu sei, é a pedra sobre a qual é edificada a Igreja! Esta é a única casa onde o cordeiro pascal pode justamente ser comido. Esta é a arca de Noé, e quem não se encontrar nela perecerá quando prevalecer o dilúvio.(Carta ao papa Dámaso, XV, 2 (NPNF2 6:18)) [98]
Se, então, o Apóstolo Pedro, sobre quem o Senhor fundou a Igreja, disse expressamente que a profecia e a promessa do Senhor foram naquele momento e ali cumpridas, como podemos reivindicar outro cumprimento para nós próprios?(Epístola a Marcela XLI, 2 (NPNF2 6:55)) [99]
Porém, dizes, a Igreja foi fundada sobre Pedro: ainda que em outro lado o mesmo é atribuído a todos os Apóstolos, e eles recebem todos as chaves do reino do céu, e a força da Igreja depende de todos eles por igual, mas um dentre os doze é escolhido para que estando uma cabeça nomeada, não pudesse haver ocasião para cisma. Mas por que não foi escolhido João, que era virgem? Foi prestada deferência à idade, porque Pedro era o mais velho: alguém que era jovem, quase diria um garoto, não podia ser posto sobre homens de idade avançada; e um bom mestre que estava disposto a tirar toda a ocasião de contenda entre os seus discípulos… não deve pensar-se que daria motivo de inveja contra o jovem que tinha amado… Pedro é um Apóstolo, e João é um Apóstolo; mas Pedro é somente um Apóstolo, enquanto João é um Apóstolo, e um Evangelista, e um profeta. Um Apóstolo, porque escreveu às Igrejas como mestre; um Evangelista, porque compôs um Evangelho, coisa que nenhum outro dos Apóstolos, excepto Mateus, fez; um profeta, porque viu na ilha de Patmos, onde tinha sido exilado pelo imperador Domiciano como um mártir do Senhor, um Apocalipse contendo os ilimitados mistérios do futuro… O escritor virgem expôs mistérios que não pôde expor o casado, e para resumir brevemente tudo e mostrar quão grande foi o privilégio de João, a Mãe virgem foi confiada pelo Senhor virgem ao discípulo virgem.(Contra Joviniano I, 26 (NPNF2 6:366)) [100]
O único fundamento que o arquitecto apostólico pôs é nosso Senhor Jesus Cristo. Sobre este estável e firme fundamento, que foi depositado sobre terreno sólido, é edificada a Igreja de Cristo … Pois a Igreja foi fundada sobre uma pedra … sobre esta pedra o Senhor estabeleceu a sua Igreja; e o Apóstolo Pedro recebeu o seu nome desta pedra (Mt 16,18) … Ela, que com uma firme raiz está fundada sobre a pedra, Cristo, a Igreja católica, é a única pomba; ela se ergue como a perfeita, e perto da Sua mão direita, e nada sinistro tem nela … A pedra é Cristo, que concedeu aos seus apóstolos que eles também fossem chamados pedras, «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja».(Comentário sobre Mateus 7:25; Epístola 65:15; Sobre Amós VI,12-13) [101]
Bem, aqui parece que o Dr. Saraví não leu os mesmos textos que ele cita como referência contrária a interpretação de que Pedro é a Rocha. Em todas as citações dele, são Jerônimo diz que Pedro é a Rocha da fundação da Igreja, ele ao invés de acusar, ajudou-nos a provar que São Jerônimo sustentava que Pedro era a Rocha. Pouco precisa adicionar acerca de São Jerônimo, pois os textos que o Dr. Saraví fornece são bastante explícitos. Na primeira passagem citada (a carta ao Papa Dâmaso), Jerônimo afirma claramente que a Igreja foi fundada sobre Pedro (Assim como em sua carta a Marcela), portanto mais uma prova de que Jerônimo não pode ser contado como adversário de Pedro ser a pedra de Mateus 16, 18.
Dirigindo-se ao papa, ele reconheceu o bispo de Roma como o sucessor do “pescador” e afirma que a igreja foi construída sobre a cátedra de Pedro, a qual compara com a arca de Noé:
“Minhas palavras falam ao sucessor do pescador, para o discípulo da cruz. Como eu não sigo nenhum líder exceto Cristo, não me comunico com ninguém, exceto sua beatitude, isto é, com a cátedra de Pedro. Para esta, eu sei, é a rocha sobre a qual a Igreja está construída! Esta é a a única casa onde você pode comer o cordeiro pascal. Esta é a arca de Noé, e quem não encontre nela perecerá quando a inundação vier”[102]
Na mente de Jerônimo, Pedro é justamente chamado de Rocha porque recebeu o nome de Cristo, a Rocha, e é correto dizer que Cristo edificou a sua Igreja sobre ele:
“‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja’. Como Ele mesmo deu aos apóstolos a luz para que se chamassem “luz do mundo” e os demais nomes que foram distribuídos pelo Senhor, assim também a Simão, que acreditava em Cristo como a rocha, generosamente recebeu o nome de ‘Pedro’, e como uma metáfora para a voz de ‘pedra’, ele diz com razão: ‘Eu edificarei a minha Igreja sobre ti”[103]
“Se, então, o apóstolo Pedro, sobre o qual o Senhor fundou a Igreja, disse expressamente que a profecia e a promessa do Senhor aconteceu e foi completamente cumprida (At 2,14-18), como podemos pedir outro realização para nós mesmos?”[104]
Não há nada mais claro do que a leitura do mesmo São Jerônimo explicando que não só Cristo é chamado de rocha, mas também Pedro:
“Cristo não é o único a ser chamado de rocha, porque ele concedeu ao apóstolo Pedro que ele deveria ser chamado de rocha” [105]
A citação prevista no artigo protestante analisado (contra Joviniano) é muito importante para compreender o pensamento de Jerônimo. Para ele, os bispos têm exatamente os mesmos poderes de suas ordenações, qualquer que seja a diferença na sua jurisdição. É, portanto, lógico entender por que Cristo escolhe um deles para colocá-lo na cabeça, para evitar futuras dividiram e divisões.
Alguém poderia argumentar que Jerônimo está reconhecendo aqui a Pedro apenas uma primazia de honra, não de jurisdição, mas isso não faz muito sentido. Se para evitar o cisma entre os apóstolos, foi dado a Pedro apenas uma primazia de honra, ele não poderia exigir que os bispos se sujeitassem a ele para evitar cisma. Jerônimo reconhece exatamente uma primazia judicial para cumprir esse propósito.
NILO DE ANCIRA
“Se, além disso, um homem do Senhor é significado, o primeiro a ser comparado com o ouro seria Cefas, cujo nome é interpretado «pedra». Este é o mais alto dos Apóstolos, Pedro, também chamado Cefas, que forneceu na sua confissão de fé o fundamento para a edificação da Igreja.(Comentário sobre o Cântico dos Cânticos (PG 87 [ii]: 1693)) [106]
Este texto fala de Pedro e diz que seu nome é interpretado como “rocha”. Como se isso não fosse suficiente, ele é reconhecido como o maior dos apóstolos. Onde está a rejeição de sua primazia?
Com Nilo de Ancira acontece o mesmo que Crisóstomo (dado que era seu discípulo). Ele harmoniza as duas interpretações, e Pedro foi chamado de rocha em virtude de sua fé, ele também era o chefe do colégio apostólico, que governou.
“[Pedro] a cabeça do colégio apostólico” [107]
“Pedro, que foi tudo no colégio apostólico e sempre governou entre eles” [108]
NOTAS
[61] Citação do Dr. Saraví: Quatro Cartas a Serapião 1:28.
[62] Atanásio (Defence before Constantius 4, NPNF 2, Vol. IV, 239)
[63] Concílio de Sárdica, Cânon 3
[64] Hist. Arian. ad. Monarch, 35
[65] Citação do Dr. Saraví: Comentario sobre o Profeta Isaías, 2:66 (PG 30:233)
[66] Basilio, Adversus Eunomius 2:4 Migne, Patr. Graec. Vol. 29 col. 577), in Michael M. Winter, Saint Peter and the Popes, (Baltimore: Helicon, 1960),55
[67] Basilio, T. ii. p.1. Procem de Judic. Dei, n.7,p.221), in Colin Lindsay, The evidence for the Papacy, (London: Longmans , 1870),35
[68] Citação do Dr. Saraví: Panegírico sobre Santo Estevão (PG 46:733)
[69] Panegyric on St. Stephen, 3; Winter, 56
[70] Gregório Nazianzeno (Oration 32, 18; Winter, 56)
[71] Citação do Dr. Saraví: Comentário sobre Lucas VI,98 (CSEL 32:4)
[72] Ambrósio, Comentário sobre os Salmos, 43:40 (AD 397), en GILES, 145
[73] Ambrósio, T.i.In Ps.xl.n.30,p.879,880 in Colin Lindsay, The Evidence for the Papacy,(London:Longmans,1870),37
[74] Ambrósio, Sermon 4, in The Great Commentary of Cornelius Lapide, II, Catholic Standard Library, trans, Thomas Mossman, (John Hodges & Co., 1887), 220, in Michael Malone, ed., The Apostolic Digest, (Irving, TX:Sacred Heart,1987),248
[75] Ambrósio (The Death of his Brother Satyrus, 1, 47; NPNF 2, Vol. X, 168 )
[76] Ambrósio (Commentaries on Twelve of David’s Psalms, 40, 30; Jurgens, II, 150)
[77] Ambrósio (Letter to Emperor Gratian, Epistle 11:4; Winter, 160)
[78] Sobre a Trinidade, I, I,30 (PG 39:416)
[79] Citação do Dr. Saraví: Panarion, II-III
[80] Epifânio, Adv. Haeres. p.500,in Colin Lindsay, The Evidence for the Papacy, *London: Longmans, 1870),35-36
[81] Epifânio, T.ii.in Anchor.n.9.p.14,15 in Colin Lindsay, The Evidence for the Papacy, (London: Longmans,1870),36
[82] Citação do Dr. Saraví: Homilías sobre el Evangelio de Juan XXI,1 (NPNF 14:73)
[83] Citação do Dr. Saraví: Homilías sobre 1 Corintios VIII, ver. 11 (NPNF 12:47)
[84] Crisóstomo, In Illud, hoc Scitote,n.4.p.282),in Colin Lindsay, The evidence for the Papacy,(London: Longmans,1870),41
[85] Crisóstomo (Ad eos qui scandalizati sunt, 17, vol III, 517[504])
[86] Crisóstomo, (In illud, Vidi dominum, 3, vol VI, 123[124])
[87] Crisóstomo. Hom Quod frequenta conueniendum sit, 5, vol XII, 466[328]
[88] Crisóstomo (Contra ludos et theatra, 1, vol VI, 265[273])
[89] Crisóstomo (Hom 3 in Matt 5, vol VII, 38[42])
[90] Crisóstomo, T.ii.Hom.iii. De Paenit.n.4, p.300, in Colin Lindsay, The Evidence for the Papacy,(London:Longmans,1870),41
[91] Crisóstomo (Hom 46[47] in Matt 3, vol VII, 480[485] )
[92] Crisóstomo (Hom 32, in Rom 4, vol IX, 672[750])
[93] Hom 4 in Acta 3, vol IX, 46[37]; Hom 65[66] in Matt 4, vol VII, 622[648], ibid Hom 50[51], 506[515]; Hom 35 in 1 Cor 5, vol X, 303[329]; Hom 8 in Acta 1, vol IX, 71-72[64-65]
[94] Crisóstomo (Hom 54[55] in Matt VII, 531[546] seq)
[95] Crisóstomo (Hom 5 de Poen 2, vol II, 308[311])
[96] Crisóstomo (Hom 88[87] in Joann 1, vol VIII, 477-9[525-6])
[97] Crisóstomo, on John, Homily 88, Migne PG 59:478, Giles page 164
[98] Citação do Dr. Saraví: Carta al papa Dámaso, XV, 2 (NPNF2 6:1)
[99] Citação do Dr. Saraví: Epístola a Marcela XLI, 2 (NPNF2 6:55)
[100] Contra Joviniano I, 26 (NPNF2 6:366)
[101] Comentário sobre Mateo 7:25; Epístola 65:15; Sobre Amós VI,12-13
[102] Jerônimo, Letters 15 [ca. 375 A.D.]), in Philip Shaff and Henry Wace, eds.,Nicene and Post-Nicene Fathers-Jerome:Letters and Select Works,2nd series,vol 6,(Peabody,MA:Hendrickson,1994),18
[103] Jerônimo, Ib. 1. iii. Comm. In Matt. Patr. Lat. i. Col. 74), in Colin Lindsay, The Evidence for the Papacy (London: Longmans,1870),40.
También en Comm. On Matthew III,16,18,Migne, Patr. Lat., vol. 26, col. 117),in Michael M. Winter, Saint Peter and the Popes, (Baltimore:Helicon,1960),63.
[104] Jerônimo, Letters 16[385 A.D.], in Philip Schaff and Henry Wace,eds.,Nicene and Post-Nicene Fathers-Jerome:Letters and Select Works,2nd series,vol.6,(Peabody,MA:Hendrickson,1994),55
[105] Jerônimo,Comm.on Jeremias 3:65,corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum (Vienna),vol 59,202[415 A.D.], in Michael Winter, Saint Peter and the Popes (Baltimore:Helicon,1960),63
[106] Citação do Dr. Saraví: Comentario sobre el Cantar de los Cantares (PG 87 [ii]: 1693)
[107] Nilo, Lib. ii. Epist. Cclxi. p. 252,Bib. M. Xxvi),in Charles F.B.Allnatt,ed.,Cathedra Petri-The Titles and Prerogatives of St. Pete,(London:Burns & Oates,1879),55.
[108] Nilo, Tract. Ad Magnam. c.8,p.244) in Charles F.B. Aallnatt, ed.,Cathedra Petri-The Titles and Prerogatives of St.Peter, (London: Burns & Oates, 1879),55
Testemunhos Extraidos da Matéria de José Miguel Arrais Disponível em <http://apologeticacatolica.org/Primado/PrimadoN09.html>
PARA CITAR
RODRIGUES, Rafael. Apologistas Católicos: Pedro, a Rocha. (Parte II.2). Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/papado/483-pedro-a-rocha-parte-i> Desde: 29/11/2012.