A presente matéria foi feita no intuito de trazer ao leitor uma pesquisa “inédita” na internet sobre o uso de objetos sagrados pertencentes a Deus e aos seus Santos no cristianismo primitivo e como a Tradição desde os primeiros escritos vai se evidenciando cada vez mais ao longo da Igreja Primitiva.
A ideia de que a Igreja dos primeiros séculos foi de modo algum preconceituosa contra imagens, ícones, relíquias estátuas é a ficção mais descabida possível. Depois que os cristãos tiveram liberdade de culto, houve, naturalmente, um enorme desenvolvimento de todo tipo. Ao invés do enclausuramento nas catacumbas os cristãos começaram a construir basílicas esplêndidas. Eles as adornavam com mosaicos caros, esculturas, e estátuas, e nelas preservaram as relíquias dos santos mártires. Mas não houve um novo princípio. Os mosaicos representavam mais artisticamente e ricamente os mesmos atos que haviam sido pintados nas paredes das catacumbas antigas, as estátuas maiores continuaram a tradição iniciada nos sarcófagos esculpidos em poucos ornamentos de chumbo e de vidro. Deste momento até a perseguição iconoclasta, as imagens sagradas estavam em posse de todo o mundo cristão.
Sobre o uso bíblico das imagens já publicamos uma matéria sobre isto (pode ser lida aqui), portanto não trataremos nesta presente matéria.
Sobre o culto as imagens e relíquias assim define o catecismo da Igreja Católica:
“O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. De fato, a hora prestada a uma imagem se dirige ao modelo Original, e quem venera uma imagem venera a pessoa que nela está pintada. A honra prestada às santas imagens é uma ‘veneração respeitosa’, e não uma adoração, que só compete a Deus: Oculto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem.” (Catecismo da Igreja Católica, Parágrafo 2132)
Também o catecismo proíbe qualquer tipo de adoração ou idolatria a imagens:
“O primeiro mandamento condena o politeísmo. Exige que o homem não acredite em outros deuses afora Deus, que não venere outras divindades afora a única. A escritura lembra constantemente esta rejeição de “ídolos, ouro e prata, obras das mãos dos homens”, os quais “têm boca e não falam, têm olhos e não vêem…” Esses ídolos vãos tornam as pessoas vãs: “Como eles serão os que o fabricaram e quem quer que ponha neles a sua fé” (Sl 115,4- 5.8). Deus, pelo contrário, é o “Deus vivo” (Jo 3,10) que faz viver e intervém na história.” (Catecismo da Igreja Católica – Parágrafo 2112).
O concílio de Trento declara que veneração não deve ser dirigida a uma imagem diretamente como realidade, pois uma imagem apenas representa:
“Além disso declara este santo concílio, que as imagens devem existir, principalmente nos templos, principalmente as imagens de Cristo, da Virgem Mãe de Deus, e de todos os outros santos, e que a essas imagens deve ser dada a correspondente honra e veneração, não por que se creia que nelas existe divindade ou virtude alguma pela qual mereçam o culto, ou que se lhes deva pedir alguma coisa, ou que se tenha de colocar a confiança nas imagens, como faziam antigamente os gentios, que colocavam suas esperanças nos ídolos, mas sim porque a honra que se dá às imagens, se refere aos originais representados nelas, de modo que adoremos unicamente a Cristo, por meio das imagens que beijamos e em cuja presença nos descobrimos, ajoelhamos e veneramos aos santos, cuja semelhança é espelhada nessas imagens. Tudo isto está estabelecido nos decretos dos concílios, principalmente no segundo de Nicéia, contra os impugnadores das imagens.” (Concílio de Trento: sessão XXV).
Portanto, tanto os cristãos atuais quanto os antigos não veneravam e honravam as imagens e relíquias sagradas dos mártires e santos em si como realidades, mas a quem as imagens representam, ou seja, ao honrar uma imagem de Cristo ou da Cruz, estamos venerando o próprio Cristo.
Relíquias, imagens, e ícones significam basicamente a mesma coisa, são algo material que pertence ou imita o mártir no intuito de representa-lo ao lhe prestar honra, uma melhor explicação sobre isso veremos, nos próprios escritos dos santos padres. Uma relíquia é um objeto ou os restos mortais pertencentes ao santo ou mártir. Uma imagem é uma escultura que os representa. Um ícone é uma pintura os retratando.
AS CATACUMBAS PRIMITIVAS
Depois da partida de Jesus aos céus, os cristãos passaram a serem perseguidos das mais variadas formas. Eram torturados publicamente, lançados ao furor de animais violentos, empalados, crucificados e, até mesmo, queimados vivos. Para redimir e orar pelos seus mártires, os cristãos passaram a enterrá-los nas chamadas catacumbas. Estas funcionavam como túmulos subterrâneos onde os cristãos poderiam fugir dos soldados romanos, entoarem cantos e pintar imagens que manifestavam sua fé. As primeiras catacumbas encontradas são datadas do século II d.C
A pintura elaborada no interior das catacumbas era rodeada de uma simbologia que indicava a forte discrição do culto cristão naquele momento. O que mostra que desde o cristianismo primitivo as imagens eram utilizadas pra expressão de fé e devoção. As imagens mais freqüentes eram o crucifixo, que lembrava o sacrifício de Jesus. A âncora que significava o ideal de salvação. O peixe era bastante comum, (pois peixe em grego é ICTUS eram as mesmas iniciais de: “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”) e diversas passagens bíblicas.
O poeta ibérico cristão, Prudêncio, também lembra que, nos primeiros anos do século quinto, que muitos peregrinos iam para Roma e até mesmo de regiões vizinhas para venerar o túmulo do mártir Hipólito que foi enterrado nas catacumbas da Via Tiburtina.
Abaixo há uma seleção de imagens das catacumbas que ajudam entender como desde os apóstolos as imagens eram utilizadas:
Imagem que retrata a história dos 3 jovens na fornalha cantada pelo livro de Daniel, nas paredes da Catacumba de Priscila em Roma
Retratação de Jonas sendo vomitado pela baleia – Catacumba de São Marcelino e Pedro em Roma.
Noé na Arca – Catacumba de São Marcelino e Pedro em Roma.
Maria e o Profeta – Catacumba de Priscila em Roma (Século III)
Essa é a imagem mais antiga preservada de Maria, que é retratada em uma pintura no cemitério de Priscila na Via Salaria. O afresco, é datado da primeira metade do século III, mostra a Virgem com o Menino de joelhos na frente de um profeta (talvez Balaão ou Isaías), que aponta para uma estrela para se referir a previsão messiânica. Nas catacumbas outros episódios com Nossa Senhora também são representados, como a Adoração dos Magos e cenas do presépio de Natal, acredita-se que antes do Concílio de Éfeso, todas essas representações tiveram um significado cristológico.
O bom pastor –Catacumba de Priscila em Roma (Século III)
Peixe Eucarístico (Representação de Jesus) – Crípita de São Gaio e Eusébio
Cristo como bom pastor – Catacumba de Domitila.
Afresco com Cristo de barba – Catacumba de Comodila.
Catacumba dos Santos Marcelino e Pedro na Via Labicana . Cristo
entre Pedro e Paulo. Para os lados são os mártires Gorgonius,
Pedro Marcelino , Tiburtius.
OS TESTEMUNHOS DOS PAIS DA IGREJA
O MATÍRIO DE INÁCIO DE ANTIOQUIA (110 d.C)
Santo Inácio foi bispo de Antioquia nos séculos I e II. O relato do seu martírio foi escrito por um de seus seguidores que o acompanharam em sua jornada até seu martírio em Roma. Neste relato vemos como a prática da veneração as relíquias dos Santos se deu desde os mais remotos tempos de cristianismo:
“Apenas as partes mais duras de suas relíquias sagradas foram deixadas, as quais foram transportadas para Antioquia e envoltas em linho, como um tesouro inestimável deixado para a santa Igreja, pela graça que estava no mártir.” (Martírio de Santo Inácio de Antioquia – Capítulo VI).
O MATÍRIO DE POLICARPO DE ESMIRNA
Policarpo de Esmirna foi um bispo de Esmirna do século II. Um de seus discípulos que escreveu o Martírio relata a seguinte passagem:
“Vendo a rixa suscitada pelos judeus, o centurião colocou o corpo no meio e o fez queimar, como era de costume. Desse modo, pudemos mais tarde recolher seus ossos, mais preciosos do que pedras preciosas e mais valiosos do que o ouro, para colocá-los em lugar conveniente. Quando possível, é aí que o Senhor nos permitirá reunir-nos, na alegria e contentamento, para celebrar o aniversário de seu martírio, em memória daqueles que combateram antes de nós, e para exercitar e preparar aqueles que deverão combater no futuro.” (O martírio de São Policarpo de Esmirna – CAPÍTULO XVIII)
Em pleno século II, logo após a era apostólica, temos este importante relato nos referindo a valiosa presença das relíquias dos santos no culto cristão.
ORÍGENES DE ALEXANDRIA (185 – 254)
Orígenes de Alexandria ou Orígenes Adamantio (185-254) foi mestre de famosa Escola de Teologia em Alexandria (Egito) no século III. Embora ele não seja um pai da Igreja, seus escritos são bastante lidos na Igreja desde a antiguidade.
Existem algumas passagens em seus escritos que são levantadas por polemistas, afirmando que Orígenes era contra o uso das imagens sagradas, dentre elas se destaca a seguinte passagem:
“São os mais ignorantes que não se envergonham de dirigir-se a objectos sem vida … e ainda que alguns possam dizer que estes objectos não são deuses mas tão-só imitações deles e símbolos, contudo se necessita ser ignorante e escravo para supor que as mãos vis de uns artesãos possam modelar a semelhança da Divindade; vos asseguramos que o mais humilde dos nossos se vê livre de tamanha ignorância e falta de discernimento.”(Contra Celso, 6, 14).
Não há absolutamente nada nesta passagem que vá contra a doutrina católica das imagens, Orígenes faz apenas ressaltar que não se pode fazer imagem da divindade, ou seja, obviamente por que Deus, ou até mesmo a noção de deus para os pagãos, é imaterial e incorpóreo por isso ele diz “se necessita ser ignorante e escravo para supor que as mãos vis de uns artesãos possam modelar a semelhança da Divindade”, logo não se pode desenhar a semelhança da divindade, isso é a mesma coisa que ensina o catecismo da Igreja Católica:
“A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar o Deus invisível e incompreensível;” (CIC1159).
Não fazemos imagens de Deus, pois Deus é imaterial e incorpóreo e nunca foi visto, no entanto fazemos de Cristo que foi visto e teve um corpo material.
Orígenes tratava imagens normalmente, mostrando que uma imagem representa o Original, muito embora não em todas as características:
“Novamente, o reino dos céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar. Tal como no caso de imagens e estátuas, as semelhanças não são semelhanças em todos os aspectos das coisas em relação às quais elas são feitos, mas, por exemplo, a imagem pintada com cera sobre a superfície plana de madeira tem semelhança da superfície juntamente com a cor, mas não preserva melhor as cavidades e protuberâncias, mas apenas a sua aparência externa e na moldagem de estátuas um esforço é feito para preservar a semelhança no que respeita às cavidades e proeminências, mas não no que diz respeito à cor, e, se o molde for formado de cera, que se esforça para preservar tanto, quer dizer tanto da cor, e também as depressões e as saliências, mas não é de fato uma imagem das coisas na relação de profundidade, de modo a conceber também que, no caso das similitudes no Evangelho, quando o reino dos céus é semelhante a qualquer coisa, a comparação não se estende a todas as características do que o reino é comparado, mas apenas aos elementos que são necessários pelo argumento na mão.” (Comentário do Evangelho Segundo Mateus Livro X, 11).
Também fala sobre as relíquias dos santos:
“E não é de admirar se um santo, santifique, pela palavra de Deus e pela oração, a comida de que participamos, quando até mesmo as próprias vestes com as quais ele está vestido são santas. Os lenços e aventais de Paulo tinha muita santidade de sua pureza, que, quando aplicado aos órgãos do doente, se afastavam doenças, e restaurava a saúde, e de Pedro, o que devo dizer, a cuja própria sombra do corpo tinha tanta santidade, que quem, não ele, mas a sua sombra apenas tocava, era ao mesmo tempo aliviado de todos os males. [Atos 05, 15]” (Comentário sobre Epistola aos Romanos, PG XIV).
CONCÍLIO DE ELVIRA
O próximo exemplo de uma suposta crítica patrística levantada por polemistas contra as imagens sagradas vem do cânon 36 do Sínodo local de Elvira (Espanha / Granada), por volta do início do século 4.
“Ordenamos que não haja pinturas na Igreja, de modo que aquele que é objeto de nossa adoração e veneração não será pintado nas paredes” (Cânon 36).
O latim original do cânon é:
Placuit picturas in ecclesia esse non debere, ne quod colitur et adoratur in parietibus depingatur.
Bigham, entre muitos outros, sugerem a seguinte e mais precisa tradução:
“Pareceu bem que as imagens não devem estar nas igrejas, pois o que é venerado e adorado não seja pintado nas paredes.” (Cânon 36)
Esta fraseologia é freqüentemente é mostrada como um elemento contra a veneração das imagens como uma prática da Igreja Católica. Binterim, De Rossi e Hefele interpretam essa proibição como contrária ao uso de imagens apenas nos grandes templos, para evitar que os pagãos pudessem zombar das cenas sagradas representadas lá e do que elas significam. Von Funk, Dom Leclerq Termel acreditam que o concílio não comentava sobre a ilicitude ou ilegalidade do uso de imagens, mas é uma medida administrativa, simplesmente proíbe para evitar que os convertidos do paganismo incorressem em qualquer risco de recaída em idolatria, ou fossem ofendidos com alguns excessos supersticiosos, dado que não são aprovados de forma alguma pela autoridade eclesiástica. (Ver Von Funk em “Tübingen Quartaldchrift”, 1883, 270-78; Nolte em “Rev. des Sciences ecclésiastiques”, 1877, 482-84; Turmel em “Rev. du clergé français”, 1906, XLV,508).
Bigham propõe alguns pensamentos úteis (pg. 161-166):
“Ambos os iconoclastas e iconófilos citaram este cânon em favor de suas próprias posições na história da Igreja. Como tal, não é um exagero dizer que ninguém sabe exatamente o contexto ou significado deste cânone, tornando-o controverso como um pedaço de ‘evidência’ para qualquer posição. Na melhor das hipóteses, é forragem interessante para a discussão… Este cânon mostra que os cristãos do período pré-Niceno destinguiam entre imagens e ídolos, por seu uso da palavra ‘picturas’.”
O medo de imagens sacras sendo profanadas Durante a perseguição de Diocleciano é a explicação mais plausível, e é possivelmente ligada com Cânon 52 do mesmo Sínodo:
“Qualquer um que escreve frases escandalosas em uma igreja deve ser condenado.”
Durante os períodos de perseguição, os itens sagrados relevantes para a assembleia litúrgica foram mantidos nas casas dos fiéis, só para serem levados ao prédio da igreja para o momento de adoração. Isto inclui tudo, desde o pão, água, vinho e óleo dos Mistérios, o livro próprio Evangelho. A “pequena entrada” do Evangelho na presente liturgia é um lembrete de que o bispo, presbítero ou diácono iria a pé do santuário para a nave e recuperava os Evangelhos e outros escritos sagrados de quem quer que estivesse “escondendo-os” em casa naquela semana. Essas práticas iniciais nos lembram da perseguição que ocorreu com freqüência variável na Igreja primitiva, e da necessidade de proteger o que é venerado. Logo Elvira não pretendia proibir imagens e sim protege-las da profanação.
O cânone 60, curiosamente proíbe a quebra de ídolos:
“Se alguém quebra um ídolo e é então punido com a morte, ele ou ela não pode ser colocado na lista de mártires, uma vez que tal ação não foi sancionada pelas Escrituras nem pelos apóstolos.”
Com o cânon 60 se trona claro o intuito do cânon 36, que era a não profanação das imagens sagradas, ou seja, assim como os bispos queriam que as imagens da Igreja fossem preservadas, por isso proibiram que elas fossem colocadas nas igrejas para não serem profanadas, da mesma forma queriam que os cristãos respeitassem as imagens dos pagãos, trata-se de uma responsabilidade do cristão, preservar as imagens sagradas dos pagãos e também não desrespeitar os pagãos, fazendo com as imagens deles, o mesmo que eles queriam fazer com as imagens sagradas.
LACTÂNCIO (240-320)
Ou texto primitivo que alguns tentam usar contra as imagens e ícones sagrados é de Lactâncio, presente em suas Instituições divinas. Lucio Célio Firmiano Lactâncio foi um autor entre os primeiros cristãos que se tornou um conselheiro do Constantino I. Lactâncio nasceu na África do Norte e foi discípulo de Arnóbio de Sica. A citação sobre imagens utilizada deste autor é:
“É indubitável que onde quer que há uma imagem não há religião. Porque se a religião consiste de coisas divinas, e não há nada divino a não ser nas coisas celestiais, segue-se que as imagens se acham fora da esfera da religião, porque não pode haver nada de celestial no que se faz da terra … não há religião nas imagens, mas uma simples imitação de religião.” (Instituições Divinas 2, 19).
Lactâncio não é um pai da Igreja, apenas um escritor primitivo, porém passagem dele está totalmente de acordo com a doutrina católica, e é exatamente o mesmo que vemos no concílio de Trento, citado na introdução. É esta simples imitação de religião que nos permite ter imagens que nos mostrem ou imitem o modelo original, não usamos as imagens para representar o que para nós é a religião? Isto é, ao próprio Jesus, e as nossas práticas religiosas? Claro que em uma imagem não há nenhuma religião, nem se trata de fazer nenhuma religião através delas, mas apenas representar. Lógica pura! Além de que a teologia de Lactancio é muito menor nos aspectos estritamente teológicos. Também por esta razão, Lactâncio não é contado no número dos Padres da Igreja, mas dos escritores eclesiásticos.
ATANÁSIO DE ALEXANDRIA (296 -373 d.C)
Atanásio de Alexandria (296 -373 d.C) foi bispo de Alexandria e o mais proeminente teólogo do século IV. Em seu relato sobre a vida de Santo Antônio ele diz que quem olhasse para suas relíquias, isto é, suas roupas, estava olhando para o próprio Antônio:
“Mas cada um daqueles que receberam a pele de carneiro do beato Antônio e a roupa usada por ele, guardam como um tesouro precioso. Pois mesmo a olhar para eles é como se fosse para contemplar Antônio; e quem está vestido nelas, parece com alegria portar suas admoestações.” (Atanásio vida de Santo Antônio parte 91).
Usando a comparação da imagem do rei mostra que olhando para uma imagem, estamos olhando e reconhecendo o original e quem reverencia ou detrai uma imagem, é o mesmo de está fazendo a quem a imagem representa:
“O Filho sendo da mesma substância do Pai, Ele pode justamente dizer que ele tem o que o Pai tem. Por isso, foi adequado e apropriado que, após as palavras “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30), ele acrescentar, “Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. Crede-o ao menos por causa destas obras.”. (Jo 14, 11) Ele já havia dito a mesma coisa. “Quem Me vê, vê o Pai”. (Jo 14, 9). Há uma e a mesma mente nestas três palavras. Saber que o Pai e o Filho são um, é saber que ele está no Pai e o Pai está no Filho. A divindade do Filho é a divindade do Pai. O homem que recebe este entende “que aquele que vê o Filho, vê o Pai”. Pois a divindade do Pai é vista no Filho. Isto será mais fácil de entender a partir do exemplo da imagem do rei que mostra a sua forma e semelhança. O rei é a semelhança de sua imagem. A semelhança do rei está indelevelmente impressa na imagem, de modo que qualquer um olhando para a imagem vê o rei, e mais uma vez, qualquer um olhando para o rei reconhece que a imagem é a sua semelhança. Sendo uma imagem indelével, a imagem pode responder a um homem, que manifesta o desejo de ver o rei depois de contemplá-lo, dizendo: “O rei e eu somos um. Eu estou nele e ele em mim. O que você vê em mim você vê nele, e o homem que olha para ele olha para o mesmo em mim.” Ele, que venera a imagem, venera o rei nela. A imagem é a sua forma e semelhança.” (Santo Atanásio contra os arianos – Livro III.)
São João Damasceno preserva uma citação de pseudo-Atanásio (obra de autoria desconhecida, mas atribuída a Atanásio) mostra de forma clara o mesmo argumento que o atual catecismo da Igreja católica nos trás:
“Nós, que somos fiéis, não adoramos imagens como deuses, como os pagãos fizeram – Deus me livre – mas nós marcamos nosso amor desejando somente ver o rosto da pessoa representada na imagem. Assim, quando ela for destruída, estamos acostumados a jogar a imagem como madeira no fogo. Jacó, quando estava para morrer, adorou no cajado de José [Gênesis LXX 47, 31], não honrando o cajado, mas seu dono. Da mesma forma que queremos cumprimentar as imagens, assim como gostaríamos de abraçar as nossas crianças e os pais para mostrar o nosso carinho.”(Cem capítulos dirigidos a Antíoco, o prefeito, segundo Pergunta e Resposta -. Cap. XXXVIII).
Este mesmo argumento foi repetido por São Tomás no século XIII:
“O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem.” (Suma Th. II-II, 81, 3, ad3. apud CIC §2132).
E hoje é repetido pelo catecismo da Igreja no século XX, mostrando que o ortodoxo ensino sobre as imagens sagradas, está presente na Igreja desde sempre:
“O primeiro mandamento condena o politeísmo. Exige que o homem não acredite em outros deuses afora Deus, que não venere outras divindades afora a única. A escritura lembra constantemente esta rejeição de “ídolos, ouro e prata, obras das mãos dos homens”, os quais “têm boca e não falam, têm olhos e não vêem…” Esses ídolos vãos tornam as pessoas vãs: “Como eles serão os que o fabricaram e quem quer que ponha neles a sua fé” (Sl 115,4- 5.8). Deus, pelo contrário, é o “Deus vivo” (Jo 3,10) que faz viver e intervém na história.” (Catecismo da Igreja Católica – Parágrafo 2112).
PEDRO DE ALEXANDRIA (260-311 d.C)
Pedro I de Alexandria foi o Arcebispo de Alexandria entre 300 a 311 d.C. Em seus atos genuínos nos conta a seguinte história de como tinha posse das relíquias sagradas dos santos e como colocaram na Igreja dedicada a virgem Maria:
“Nesse meio tempo um corpo astral de senadores daqueles que estão engajados no serviço de transporte público, vendo o que havia acontecido, pois estavam perto do mar, preparoou um barco, e de repente apoderaram-se das relíquias sagradas, eles colocaram nele, e escalando o Pharos por trás, por um quartel que tem o nome de Leucado, eles vieram para a igreja da Santíssima mãe de Deus e sempre Virgem Maria, que, como se começou a dizer, ele tinha construído no quartel oeste, em um subúrbio, um cemitério dos mártires.” (Atos Originais de Pedro de Alexandria)
EGERIA DE CONSTANTINOPLA (+ 384 D.C)
Egéria, também conhecida como Echeria, Eteria, Aetheria e Etheria, foi um autora do século IV que ficou conhecida por seu livro de viagens, conhecido como “A peregrinação aos locais santos”. Tudo parece indicar que nasceu na Galécia, ou segundo outros na Aquitânia.
Em seu livro relata como os cristãos tinham o costume de beijar a cruz, e tinham tanta reverência que alguns chegavam até mesmo arrancar pedaços com os dentes para levarem consigo:
“E, uma vez colocados sobre a mesa, o bispo, sentado, aperta com as suas mãos as extremidades do santo lenho e os diáconos, que se mantêm de pé, ao redor, observam. O lenho é assim guardado porque é costume que todo o povo se aproxime, tanto os fiéis quanto os catecúmenos, um a um, e, inclinando-se para a mesa, beijem o santo lenho e passem. E porque dizem ter alguém, não sei quando, cravado os dentes no santo lenho, roubando-lhe um pedaço, por isso é assim guardado agora pelos diáconos que se postam em volta, para que ninguém, chegando, ouse fazê-lo de novo.
Assim, pois, todo o povo passa; inclinando-se todos, um de cada vez, tocando primeiro com a testa e depois com os olhos a Cruz e o título, e beijando a Cruz, afastam-se; ninguém, porém, estende a mão para tocá-la. Ora, depois que todos beijam a Cruz e passam, um diácono, de pé, segura o anel de Salomão e a ânfora da qual se ungiam os reis. Beija-se a ânfora e contempla-se o anel. Até a sexta hora passa todo o povo, entrando por uma porta, saindo por outra, visto que isto se dá no lugar onde, na véspera, isto é, na quinta-feira, se fez a Oblação.” (Egéria de Constantinopla – Peregrinação aos Locais Santos, XXXVII, 3-4)
EPIFÂNIO (315-403)
Um dos mais conhecidos escritores primitivos citados por iconoclastas, é Epifânio de Salamissa, que foi bispo da cidade de Salamina e metropolita da ilha de Chipre no final do século IV d.C. Ficou muito famoso por ser um forte defensor da ortodoxia cristã. Na época da controvérsia iconoclasta surgiram vários escritos atribuídos a sua autoria. Uma delas é uma suposta tradução de são Jerônimo em sua carta 51:
“achei ali uma cortina pendurada nas portas da citada igreja, pintada e bordada. Tinha uma imagem de Cristo ou de um dos santos; não recordo precisamente de quem era a imagem. Vendo isto, e opondo-me a que a imagem de um homem fosse pendurada na igreja de Cristo, contrariamente ao ensinamento das Escrituras, a rasguei…” (São Jerônimo, Carta 51, 9;).
Esta é a parte final introduzida na carta de Epifânio ao imperador Teodósio. Alguns protestantes se baseiam nesta suposta tradução de São Jerônimo para o latim para afirmar que Epifânio era contra as imagens. Existem várias inconsistências nesta suposta tradução que invalidam totalmente a sua autenticidade.
1 – A carta em latim era o único manuscrito conhecido até o século XIX. O historiador protestante Philip Schaff quando traduziu do latim para o Inglês, ainda não tinha a versão grega original descoberta por Daniel Serruys no início do século XX que difere em pontos chaves da tradução latina.
2 – A suposta tradução é escrita em latim pobre e rústico, incompatível com o belo e polido latim de São Jerônimo, portanto esta versão latina possuída hoje, não é a mesma versão traduzida por são Jerônimo que foi perdida com o tempo.
3 – George Ostrogorsky, autor ortodoxo, provou claramente a completa farsa da versão latina, que segundo ele foi produzida na época da controvérsia iconoclasta, levando o nome de Jerônimo, por partidários da heresia iconoclasta para terem apoio na Tradição da Igreja, forjaram escritos e atribuíram a Epifânio.
4 – Embora George Ostrogorsky também considere falsa a parte da versão grega que menciona o caso da curtina como adição posterior, a pesquisadora Charles Murray comparando a versão grega com a Latina, afirma que o caso da cortina existiu em grego, só que relatado de uma forma totalmente diferente e que vendo isso os iconoclastas pegaram o relato e adulteraram o acontecido para lhes favorecer.
A Versão grega que Segundo Murray é autentica, traz o relato da seguinte forma:
“Nós vimos uma lamparina queimando. Nós perguntamos sobre e fomos informados que ali havia uma Igreja. Nós fomos lá para orar e encontramos uma cortina pendurada em frente a porta. Na cortina havia alguma coisa idolátrica na forma de homem. Eles disseram que ali era talvez uma representação de Cristo ou de um dos santos; Eu não lembro. Sabendo que estas coisas são detestáveis em uma Igreja, eu rasguei a cortina e sugeri que fosse usada como roupa de enterro para uma pessoa pobre.” (Tradução da versão grega)
Vemos aqui a total diferença entre a versão grega original e a tradução pobre latina. Se a parte final na versão grega for autêntica, ela não nos mostra absolutamente nenhuma rejeição de Santo Epifânio às imagens. Como Murray argumenta, os fiéis daquela Igreja que ele visitava, colocaram uma cortina de um ídolo em forma de homem, que eles pensavam ser algum santo ou Cristo. Portanto Epifânio rasgou a cortina por que ali estava um ídolo, que é totalmente proibido nas Igrejas e não por que ter imagens era contrário as escrituras como sugere a falsificação latina iconoclasta.
Também São João Damasceno, Teodoro Estudita, e Nicéforo de Constantinopla demonstram a total falsidade e incompatibilidade doutrinária das obras atribuidas a Epifânio que circulavam entre os iconoclastas.
Para uma melhor apreciação do caso de Santo Epifânio recomendo a leitura da obra magistral: “Epifânio de Salamissa: Um doutor da Iconoclastia? A Destruição de um Mito.” em inglês, escrito por Steven Bigham, que pode ser adiquirido no Amazon.
AURÉLIO PRUDÊNCIO (348 – 410 d.C)
Aurélio Clemente Prudêncio ou só Prudêncio foi um poeta cristão romano. É considerado o maior poeta cristão da Antiguidade tardia.
Prudêncio, também lembra, nos primeiros anos do século quinto, que muitos peregrinos iam para Roma e até mesmo de regiões vizinhas para venerar o túmulo do mártir Hipólito que foi enterrado nas catacumbas da Via Tiburtina. Seus poemas podem ser lidos aqui e aqui. Também mostra e retrata com esplendor das pinturas que haviam nas catacumbas romanas.
PAULINO DE NOLA (420 d.C)
Paulino de Nola ou Poncio Ancio Meropiofoi ordenado padre em 394 e, em 409, bispo de Nola, e bispo de Nola província de Nápoles.
São Paulino pagou por mosaicos representando cenas bíblicas e santos para as igrejas de sua cidade, e, em seguida, escreveu um poema descrevendo-os (PL, LXI, 884).
TEODORETO DE CIRRO (393 – 457 d.C)
Em sua história eclesiástica escreve:
“Quando os artistas pintam em painéis e nas paredes os acontecimentos da história antiga, que tanto encantam os olhos, e manter brilhante por muitos anos a memória do passado. Historiadores substituem livro por painéis, descrições brilhante por pigmentos, e, assim, tornam a memória de eventos passados, mais fortes e permanentes, pois a arte do pintor é arruinada pelo tempo.” (História Eclesiástia de Teodoreto de Cirro I, 1)
DIONÍSIO AREOPAGITA (PSEUDO-DIONÍSIO)
Dionísio Areopagita ou Pseudo-Dionísio é o nome pelo qual é conhecido o autor de um conjunto de textos que exerceram, segundo os historiadores da filosofia e da arte, uma forte influência em toda a mística cristã ocidental na Idade Média. O autor se apresenta como Dionísio, o ateniense membro do Areópago, o único convertido por São Paulo (em Atos 17, 34), no Século I. Mas os textos foram escritos por um teólogo bizantino sírio do fim do século V originalmente em grego, depois traduzidos para o latim por João Escoto Erígena.
“Em vez de anexar a concepção comum às imagens, devemos olhar para o que elas simbolizam, e não desprezes a marca divina e caráter que eles retratam, como imagens sensíveis de visões misteriosas e celestiais.” (Carta ao bispo Tito.).
“Temos tomado a mesma linha. Por um lado, através da linguagem velada da Escritura e com a ajuda da tradição oral, as coisas intelectuais são entendidas através de entes sensíveis, e as coisas acima da natureza por parte das coisas que são. Formas são dadas para o que é imaterial e sem forma, e a perfeição imaterial está vestida e multiplicada em uma variedade de diferentes símbolos.” (Sobre os nomes Divinos).
“Agora, se as substâncias (ousiai) e ordens acima de nós, das quais já fizemos menção reverente, estão sem corpos, sua hierarquia é de sentido intelectual e superior. Nós fornecemos pela variedade de símbolos sensíveis a ordem visível, o que está de acordo com a nossa própria medida. Esses símbolos sensíveis nos levam naturalmente a concepção intelectual, a Deus e Seus atributos divinos. Mentes espirituais formam suas próprias concepções espirituais, mas somos levados à visão divina por imagens sensíveis.”. (Hierarquia Eclesiástica.)
“Imagens sensíveis, de fato, manifestam coisas invisíveis.” (Carta a São João Apóstolo e Evangelista.)
Embora estes textos não sejam originalmente escritos por Dionísio no século I, eles datam do século IV e já nos mostram toda a filosofia católica a respeito das imagens formada e clara.
AGOSTÍNHO DE HIPONA (430 d.C)
Santo Agostinho refere-se várias vezes a fotos de nosso Senhor e os santos nas igrejas, por exemplo, contra Fausto diz que a cenas da história de Abraão são pintadas em diversos lugares:
“Pois Abraão sacrificar seu filho por conta própria é uma loucura chocante. Seu feito sob o comando de Deus prova-o fiel e submisso. Isto é tão alto proclamado pela própria voz da verdade, que Fausto, vasculhando ansiosamente por alguma falha, e reduzindo a última a acusações caluniosas, não tem a ousadia de atacar esta ação. É quase impossível que ele possa ter esquecido desta ação tão famosa, que se repete com a mente de si mesmo, sem qualquer estudo ou reflexão, e é de fato repetido por tantas línguas, e retratratado em tantos lugares, que ninguém pode fingir fechar os olhos ou os ouvidos a ela.” (Contra Fausto XXII, 73)
Fala que Jesus, Pedro e Paulo eram pintados em muitos lugares, e era honrada a memória dos apóstolos:
“Pois, quando eles inventaram em suas mentes dizer que Cristo escreveu tal estirpe como esta aos Seus discípulos, eles se lembraram daqueles de Seus seguidores que poderiam ser melhores tomadas por pessoas a quem poderia mais facilmente ser crido como sendo os destinários do que foi escritos por Cristo, os indivíduos que haviam mantido tido com ele mais amizade. E assim Pedro e Paulo lhes ocorreu, eu acredito que, só porque em muitos lugares tiveram a chance de ver esses dois apóstolos representados em imagens ambos em companhia com Ele.Pois Roma, de uma maneira especialmente honrada e solene, elogia os méritos de Pedro e de Paulo, por este motivo, entre outros, a saber, sofreram [martírio] no mesmo dia.”(Harmonia dos Evangelhos Livro I, Capítulo X)
Fala sobre a Honra aos relicários dos Mártires:
“Mas, no entanto, nós não construímos templos, e ordenamos sacerdotes, ritos e sacrifícios para estes mesmos mártires, porque não são nossos deuses, mas o seu Deus é o nosso Deus. Certamente honrarmos seus relicários, como os memoriais dos santos homens de Deus que se esforçaram para a verdade, mesmo até morte de seus corpos, para que a verdadeira religião pudesse ser conhecida, e as religiões falsas e fictícias expostas.” (Cidade de Deus, livro VIII, capítulo 27)
Dos milagres que as relíquias dos mártires fazem:
“Quando o bispo Projectus estava trazendo as relíquias do glorioso mártir Estevão às águas do Tibilis, uma grande multidão de pessoas veio para encontrá-lo no santuário. Há uma mulher cega suplicou que ela fosse levada ao bispo que estava carregando as relíquias. Ele deu a ela as flores que ele estava carregando. Ela levou, aplicou-as a seus olhos, e imediatamente viu.” (Cidade de Deus, Livro XXII).
“Porque até agora milagres são realizados em nome de Cristo, seja por seus sacramentos, pelas orações ou relíquias dos seus santos, mas eles não são tão brilhantes e visíveis a provocar-lhes a serem publicados com tal glória como acompanharam os antigos milagres.” (Cidade de Deus Livro XXII, 8)
“Quão forte são as suas súplicas por você, que reside no mesmo país nesta terra em que estas senhoras, pelo amor de Cristo, renunciaram as distinções deste mundo, Eu também peço-lhe para rebaixar e receber com o mesmo amor com o qual Eu ofereci a minha saudação oficial, e se lembre de mim em suas orações. Estas senhoras carregam consigo relíquias do abençoado e gloriosíssimo mártir Estevão: Vossa Santidade sabe dar a devida honra a estes, como temos feito.”(Carta 212).
E da celebração da memória dos mártires e do auxílio de sua oração:
“Um povo cristão celebra unidos em solenidade religiosa o memorial dos mártires, tanto para encorajar e ser imitado quanto para que possamos participar de seus méritos e serem auxiliados pelas suas orações. Mas é tal que os nossos altares estão definidos para qualquer dos mártires – mas apenas em sua memória -, mas ao próprio Deus, o Deus dos mártires.” (Agostinho, Contra Fausto o maniqueísta).
Santo Agostinho também lança a base teológica para os tipos de culto, que são distintos na doutrina católica:
“Mas que o Espírito Santo não é uma criatura, é muito simples por aquela passagem acima de todos os outros, onde somos ordenados para não servir a criatura, mas ao Criador, não no sentido em que somos ordenados a “servir” um ao outro pelo amor, que é douleuein [dúlia] em grego, mas naquele em que só Deus é servido, que está latreuein [latria] em grego. De onde eles são chamados de idólatras, pois ofertam imagens o que é devido a Deus. Pois é este serviço sobre o qual é dito: “Tu adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele darás servirás”. Pois isso também é encontrada mais claramente nas Escrituras Gregas, que têm latreuseis. Ora, se somos proibidos de servir a criatura com tal serviço, visto que está escrito, mais a criatura do que o Criador, então com certeza o Espírito Santo não é uma criatura, a quem esse serviço é dado por todos os santos; como diz o apóstolo: “Porque somos nós a circuncisão, que serve ao Espírito de Deus”, que está em grego latreuontes. Pois até mesmo os exemplares mais latinos o têm assim.” (Sobre a Santíssima Trindade Livro I, 6, 13 ).
Em sua resposta a Fausto Maniqueista que acusava os cristãos de idolatria e de transformarem os mártires em ídolos, ele mostra novamente que o culto cristão aos mártires e santos é de Dulia, e que difere do culto supremo a Deus, que é Latria. E diz que a noção raza de que adoramos os mártires como ídolos é advinda de poesias pagãs:
“Quanto à nossa honra que damos à memória dos mártires, e a acusação de Fausto, que os adoramos, ao invés de ídolos, eu não deveria me importar em responder este tipo de acusação, se não fosse por uma questão de mostrar como Fausto, em seu desejo de lançar opróbrio sobre nós, ultrapassou as invenções maniqueístas, e caiu descuidadamente em uma noção popular que encontrou na poesia pagã, embora ele seja tão ansioso para se distinguir dos pagãos […] O que é propriamente o culto divino, que os gregos chamam de latria, e para o qual não existe uma palavra em latim, tanto na doutrina, quanto na prática, damos somente a Deus. Pois este culto pertence a oferta de sacrifícios, como podemos ver na palavra idolatria, que significa que a doação deste culto aos ídolos. Assim nós nunca oferecemos ou exigimos que qualquer um ofereça, sacrificios a um mártir, para uma alma santa, ou a qualquer anjo. Qualquer um que cair neste erro é instruído pela doutrina, seja na forma de correção ou de cautela.” (Resposta a Faustus o maniqueísta – Livro XX, 21)
Existem também citações de Santo Agostinho que juntamente com a má interpretação da doutrina católica, alguns tentam argumentar colocando santo Agostinho contra o uso das imagens, e ainda afirmam que o argumento dele, é contrário ao de São Tomás de Aquino, tentando colocar os dois doutores em oposição. A citação de Santo Agostinho, usada, se encontra no comentário Sobre o Salmo 96, 7:
“Confundidos sejam todos os que servem imagens esculpidas (Salmo 96,7). Porventura não fez isso acontecer? Porventura não foram confundidos? Não são eles diariamente confundidos? Pois imagens esculpidas são as imagens trazidas pela mão. Por que são todos os que servem imagens esculpidas, confundidos? Porque todas as pessoas têm visto Sua glória. Todas as nações agora confessam a glória de Cristo: que aqueles que adoram pedras se envergonhem. Porque as pedras estavam mortas, encontramos uma pedra viva, na verdade essas pedras nunca viveram, de modo que elas não podem ser chamadas até mesmo mortas, mas a nossa pedra está vivendo e já viveu com o Pai, e Ela morreu por nós, Ele reviveu, e vive agora, e a morte não tem mais domínio sobre ela. (Romanos 6, 9). Esta glória dele, nações reconheceram, eles deixam os templos, e correm para as igrejas. Será que eles ainda buscam adorar imagens de escultura? Será que eles não escolheram a abandonar seus ídolos? Eles foram abandonados por seus ídolos. Quem se glórifica nos seus ídolos. Mas há um certo opositor que parece ele próprio aprendeu, e diz: ‘Eu não adoro essa pedra, nem que a imagem que é sem sentido…Eu não adoro esta imagem, mas eu adoro o que eu vejo, e servi-lo a quem eu ver não. Quem é esse? Uma divindade invisível,’ ele responde, ‘que preside essa imagem.’ Ao dar esta conta de suas imagens, eles parecem-se disputantes capazes, porque não adoram ídolos, e ainda adoram demônios. As coisas, porém, irmãos, diz o Apóstolo, que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus, sabemos que o ídolo não é nada, e que o que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios e não a Deus, e não quero que sejais participantes com os demônios. Deixe-os, portanto, não se desculpar por esse motivo, que não são dedicados a ídolos insensatos, pois eles são bastante dedicados aos demônios, o que é mais perigoso. Porque, se eles apenas estavam adorando ídolos, pois não iriam ajudá-los, para eles não machucá-los, mas se você adorar e servir a demônios, eles mesmos serão os vossos mestres…” (Salmo 96, 7)
De modo algum o argumento de Santo Agostinho vai contra o argumento de São Tomás. O que Agostinho diz no final é que mesmo com o argumento que os pagãos utilizavam para justificarem que não adoram a pedra, continuam adorando ídolos, pois seja a pedra ou algo invisível representado pela pedra continua sendo ídolo. E, mesmo com esta argumentação, eles continuavam adorando ídolos, pois material ou não, é ídolo, o que difere totalmente da argumentação de São Tomás de Aquino que diz respeito à veneração e não adoração dos anjos e santos. Santo Agostinho não anula a forma da argumentação dos pagãos (que se mostra similar a de são Tomás), mas mostra que é apenas uma desculpa que não serve para justifica-los, pois ídolo é ídolo seja feito palpável ou não.
É curioso como alguns dão autoridade ao argumento de Santo Agostinho, em um contexto totalmente diferente da teologia bem mais madura de São Tomás, sem levar em conta o contexto, que diz respeito a ídolos e não a qualquer imagem. Não seria o inverso, de Santo Tomás refutar Agostinho em sua compreensão teológica mais avançada, se eles estivessem discordantes? Apesar de nenhuma das argumentações dos santos se contradizerem? Esta fraseologia Agostiniana só prova que a prática adoração não era generalizada, só se aplica entre os abusos dos ignorantes nos cultos pagãos, o que não é nenhuma novidade, mas uma verdade que é evidente em todo tempo e lugar.
Também santo Agostinho mostra em seu livro “A Doutrina Cristã” que ninguém erra fazendo uma imagem desde que se tenha um propósito, e claro, este propósito não pode ser a adoração delas.
“Mas no que diz respeito a imagens e estátuas, e outras obras deste tipo, que servem como representações das coisas, ninguém comete um erro, especialmente se eles são feitas por artistas qualificados, mas cada um, assim que vê as semelhanças, reconhece as coisas que são de semelhanças”. (Doutrina Cristã livro II, Capítulo 25, Parágrafo 39)
Portanto, temos em santo Agostinho um grande defensor e incentivador do uso das imagens e relíquias sagradas.
BASÍLIO MAGNO
Nasceu por volta do ano 329 em Cesaréia da Capadócia. Chegou a ser um dos Padres da Igreja grega que mais brilharam no século IV. Morreu em torno do ano 379. Em sua Epistola 360 nos dá uma clara forma de como a Igreja primitiva venerava as imagens sagradas:
“Confesso a aparência do Filho de Deus na carne, e a santa Maria como a mãe de Deus, que deu à luz segundo a carne. E eu recebo também os santos apóstolos e profetas e mártires. Suas semelhanças eu reverencio e beijo com homenagem, pois elas são transmitidas dos santos apóstolos e não são proibidas, mas, pelo contrário, pintadas em todas as nossas igrejas.” (Epístola 360).
Alguns estudiosos põem em dúvida a autenticidade da Epístola 360 especialmente por que ela foi usada contra os iconoclastas nos debates do II concílio de Nicéia. Eles argumentam que as palavras não parecem ser de Basílio e que possivelmente foram produzidas por algum autor na época da controvérsia iconoclasta, o que não parece ser real, pois em seus outros escritos vemos a similaridade da argumentação, sem contrar que está mesma citação foi utilizada 50 anos antes por São João Damasceno, logo a carta é bem mais antiga, e se contar que nunca foi contestada na antiguidade, então podemos assegurar sua autenticidade.
Em seu tratado sobre o Espírito Santo dirigido a Anfilóquio usa a mesma argumentação da sua carta 360, para falar da adoração ao Pai através do Filho:
“A imagem do rei também é chamada rei, e não há dois reis. Nem o poder está quebrado, nem glória dividida. Como somos governados por um governo e autoridade, por isso a nossa homenagem é uma, não muitas. Assim, a honra dada a imagem se refere ao original. O que a imagem representa por imitação da terra, isso o Filho é, por natureza, no céu.” (Sobre o Espírito Santo para Anfilóquio, Capítulo XVIII).
A mesma lógica de ao que se dirige a imagem se refere ao original é usada em seu comentário a Isaias:
“Quando o diabo viu o homem feito à imagem e semelhança de Deus, depois, como ele não podia lutar contra Deus, ele desabafou sua maldade sobre a imagem de Deus. Da mesma forma, um homem irritado pode apedrejar a imagem do rei, porque ele não pode apedrejar o Rei, atinge a madeira que tem sua semelhança.” (Comentário sobre Isaias)
Também pregando sobre São Barlaão, convida pintores para fazerem o santo mais honrado, fazendo pinturas dele, do que ele próprio poderia fazer através de palavras. (Pregação sobre Barlaão, P.G., XXXI).
Sobre as relíquias Sagradas:
“Se eu for capaz de encontrar qualquer relíquia dos mártires, rezo para que eu possa participar de seu esforço sincero.” (Carta 49)
“Se você enviar as relíquias dos mártires para casa, você vai faz bem; como você escreve que a perseguição está, até agora, fazendo mártires para o Senhor.” (Carta 155)
“Ele pegou as relíquias com toda reverência, e ajudou os irmãos em sua preservação. Estas relíquias que você recebe com uma alegria equivalente à angústia com que seus guardiões se separaram delas e as enviou a vós.” (Carta 197 parte 2)
EUSÉBIO DE CESARÉIA
Eusébio de Cersaréia foi bispo de cesaréia no século IV. Foi um grande admirador do imperador Constantino e também de Orígenes de Alexandria.
Eusébio é mais um escritor usado na tentativa de desqualificar as imagens sagradas. A sua citação que usam é a seguinte:
“E não é estranho que tenham feito isto os pagãos de outro tempo que receberam algum beneficio de nosso Salvador, quando indagamos que se conservavam pintadas em quadros as imagens de seus apóstolos Paulo e Pedro, e inclusive do próprio Cristo, coisa natural, pois os antigos tinham por costume honrá-los deste modo, sem distinção, como a salvadores, segundo o uso pagão vigente entre eles.” (História Eclesiástica 7,18:4;).
Esta passagem devidamente fora do seu contexto é alegando como que Eusébio está afirmando que o uso de imagens é de costume pagão, porém a citação completa diz o seguinte:
“Mas já que fizemos menção a esta cidade, creio que não é justo passar por alto um relato digno de memória inclusive para nossos descendentes. De fato, a hemorrágica, que pelos Evangelhos sabemos que encontrou a cura de seu mal por obra de nosso Salvador, diz-se que era originária desta cidade e que nela se encontra sua casa, e que ainda subsistem monumentos admiráveis da boa obra nela realizada pelo Salvador:
Efetivamente, sobre uma pedra alta, diante das portas de sua casa, alça-se uma estátua de mulher, em bronze, com um joelho dobrado e com as mãos estendidas para a frente como uma suplicante; e em frente a esta, outra do mesmo material, efígie de um homem em pé, belamente vestido com um manto e estendendo sua mão para a mulher; a seus pés, sobre a mesma pedra, brota uma estranha espécie de planta, que sobe até a orla do manto de bronze e que é um antídoto contra todo tipo de enfermidades.
Dizem que esta estátua reproduzia a imagem de Jesus. Conservava-se até nossos dias, como comprovamos nós mesmos de passagem por aquela cidade.
E não é estranho que tenham feito isto os pagãos de outro tempo que receberam algum benefício de nosso Salvador, quando perguntamos por que se conservam pintadas em quadros as imagens de seus apóstolos Paulo e Pedro, e inclusive do próprio Cristo, coisa natural, pois os antigos tinham por costume honrá-los deste modo, simplesmente, como salvadores, segundo o uso pagão vigente entre eles .” (História Eclesiástica 7, 14, 1-4)
Logo vemos pelo contexto que Eusébio no trás que os pagãos imitavam aquilo que era Cristão, só que da forma que já vinham do costume pagão que eles tinham. Eusébio menciona que é relato “digno de memória” os monumentos da mulher hemorrágica que eram representados nas cidades, e os pagãos seguiam este exemplo só que segundo o uso deles.
Em seu quinto livro sobre as provas do Evangelho, mostra como os cristãos reverenciavam as imagens:
“Assim, até agora os habitantes valorizam o lugar onde as visões apareceram a Abraão (Gn 1, 1) como divinamente consagrado. A árvore de terebintina ainda pode ser vista, e aqueles que receberam a hospitalidade de Abraão são pintados na imagem, um de cada lado, e o estrangeiro de maior dignidade no meio. Ele seria uma imagem de nosso Senhor e Salvador, a quem até mesmo os rudes homens reverenciam, cujas palavras divinas eles acreditam. […] Foi Ele quem, por meio de Abraão, semeou as sementes da piedade nos homens. Na semelhança e hábito de um homem comum, ele se apresentou a Abraão, e deu-lhe conhecimento de seu pai.” (Eusébio de Cesarea, de se quinto livro das Provas do Evangelho, em “Deus apareceu a Abraão junto ao carvalho de Mambre”.)
AMBRÓSIO DE MILÃO
Santo Ambrósio descreve em uma carta como São Paulo apareceu a ele uma noite, e ele o reconheceu pela semelhança de seus quadros que eram pintados (Epistola II, em PL, XVII, 821).
MARIA DO EGITO (344 – 421 d.C)
Maria do Egito ou Santa Maria Egipcíaca ou Santa Maria Egípcia foi uma asceta dos séculos IV e V que se retirou para o deserto após uma vida de prostituição. É uma mulher muito conhecida nos primeiro séculos de cristianismo.
“E assim permaneci chorando, quando vi acima, um ícone da Santíssima Mãe de Deus. E voltando para ela meus olhos do corpo e da alma eu disse:
‘Ó Senhora, Mãe de Deus, que deste à luz na carne a Deus, a Palavra; eu sei, ó quão bem eu sei, que não há nenhuma honra ou louvor para vós quando alguém tão impura e depravada como eu, olha para teu ícone, ó sempre Virgem, que mantiveste vosso corpo e alma na pureza. Certamente inspiro desprezo e desgosto ante vossa pureza virginal. Mas já ouvi que Deus, que nasceu de vós, se tornou homem para chamar pecadores à conversão. Então, ajude-me, pois não tenho outro auxílio. Ordene que os portais da igreja se abram para mim. Permita-me ver a venerável Árvore na qual Ele que nasceu de vós, sofreu na carne e na qual Ele derramou seu preciosíssimo Sangue pela redenção dos pecadores e para mim, indigna como sou. Seja minha testemunha fiel diante de Teu Filho que eu nunca mais corromperei meu corpo na impureza da fornicação, mas tão logo eu veja a Árvore da Cruz, renunciarei ao mundo e às suas tentações e irei onde quer que me conduzas.’
Assim falei e como se recobrasse nova esperança, com fé firme e sentindo alguma confiança na misericórdia da Mãe de Deus, deixei o lugar onde tinha ficado rezando. E fui novamente, misturada à multidão que fazia seu caminho dentro do templo. E ninguém parecia impedir-me, ninguém estorvou minha entrada na igreja. Fiquei possuída de tremor e estava quase à beira do delírio. Tendo chegado tão próximo das portas, o que eu não conseguira antes, como se a mesma força que me impedira agora abrisse caminho para mim, eu agora entrava sem dificuldade e me encontrei no lugar santo. E então vi a Cruz Vivificante. Vi também os Mistérios de Deus e como o Senhor aceita o arrependimento. Jogando-me ao chão, adorei aquela terra santa e tremendo, beijei-a. Então saí da igreja e fui àquela que prometeu ser minha segurança, ao lugar onde eu selei meu voto. E dobrando meus joelhos diante da Virgem Mãe de Deus dirigi a ela estas palavras:
‘Ó Amável Rainha (filagaqe despoina), vós mostrastes-me vosso grande amor por todos os homens. Glória a Deus, que aceita o arrependimento de pecadores através de vós. O que mais posso lembrar ou dizer, eu que sou tão pecadora? É hora para mim, ó Senhora, de cumprir meu voto, de acordo com o vosso testemunho. Agora, conduza-me pela mão pelo caminho do arrependimento!‘” (Da Vida de Santa Maria do Egito.)
JOÃO CRISÓSTOMO (347 – 407 d.C)
São João Crisóstomo é doutor da Igreja, nascido em Antioquia, em 347 d.C, morreu em Commana em Pontus em 14 de Setembro de 407. É considerado o mais proeminente Doutor da Igreja Grega e o maior pregador que já subiu em um púlpito cristão.
Sobre as imagens sagradas ele ensina:
“A imagem de que é invisível, se fosse também invisível, deixaria de ser uma imagem. Uma imagem, na medida em que é uma imagem, deve ser mantida inviolável por nós, devido à semelhança que representa.” (Terceiro Comentário sobre Colossenses.)
“Como em imagens a imagem apresenta a forma de um homem, mas não sua força, de modo que o original e a semelhança têm muito em comum, a semelhança é o homem.” (Comentário sobre os Hebreu – Cap. XVII.)
Falando sobre as imagens dos reis e como elas os representam, usa também a doutrina católica para explicar como um honra dirigida a uma imagem do rei, é a mesma coisa de está honrando o rei:
“Os Reis colocam troféus vitoriosos diante de seus generais conquistadores; governantes erguem monumentos orgulhosos de seus cavaleiros, e os homens bravos, com o epitáfio como uma coroa, usam a matéria para o seu triunfo. Outros, ainda, escrevem os louvores dos conquistadores em livros, que desejando mostrar que seu próprio presente no louvor é maior do que aqueles elogiado. E oradores e pintores, escultores e pessoas, governantes e cidades e lugares aclamam o vitorioso. Ninguém nunca fez imagens do desertor ou do covarde.”(Sobre Terceiro Salmo, por David, e Absalão)
“As efígies reais são mostradas não só sob ouro e prata, e os materiais mais caros, mas a forma real em si, até mesmo em cobre. A diferença da matéria não afeta a dignidade do personagem esculpido, nem um material mais vil diminui a honra do que é grande. A Figura real é sempre uma consagração; não diminuí pela matéria, exalta a matéria.” (São João Crisóstomo sobre os Macabeus.)
Sobre as relíquias sagradas, mostra como elas, servem de inspiração e como tem o poder de realizar milagres:
“…é possível para ele que vem para cá com a fé para colher o fruto de muitas coisas boas. Pois não os corpos apenas, mas as próprias sepulturas dos santos têm sido preenchidas com graça espiritual. Porque, se no caso de Eliseu que isso aconteceu, e um cadáver quando tocou o sepulcro, estourou as ligaduras da morte e voltou à vida novamente, muito melhor agora, quando a graça é mais abundante, quando a energia do espírito é maior, é possível que alguém tocando um sepulcro, com fé, deve ganhar um grande poder, daí por esta razão Deus permitiu-nos os restos mortais dos santos, desejando por eles nos levar à mesma emulação, e para nos dar uma espécie de refúgio, e um consolo seguro para os males que estão sempre nos ultrapassando. Por isso peço a todos vocês, se alguém está desanimado, em caso de doença, ou insultado, se em qualquer outra circunstância da vida, se na profundidade dos pecados, venha cá com a fé..” (Homilia sobre o Santo Inácio, 5;)
“Para além dos assuntos que foram mencionados, há um outro, sobre o qual alguns não estão menos perplexos, perguntando dentro de si o que conta Deus permitiu que um homem possuir tal confiança Nele dele, cujos ossos e relíquias expulsaram demônios, cair em tal estado de fraqueza, pois não é apenas que Ele estava doente, mas constantemente, e por um período de tempo. . .” (Homilia I, Sobre as estátuas ao povo de Antioquia, 5;)
JERÔNIMO (347-420)
São Jerônimo foi um grande tradutor e doutor da Igreja nos séculos IV e V.
Jerônimo descreve sobre as imagens dos Apóstolos como ornamentos bem conhecidos:
“In cucurbitis vasculorum quas vulgo saucomarias vocant, solent apostolorum imagines adumbrari”.” (Comentário Sobre o Profeta Jonas Capítulo IV, 15)
“Na verdade, nas próprias abóboras dos vasos, que comumente chamamos de Saucomarias, costumam-se retratar as imagens dos apóstolos: e delas ele também tomou o nome.“(Comentário Sobre o Profeta Jonas Capítulo IV, 15)
A palavra “Sucomarias” foi usada aqui para representar tipos de recipientes (taças ou copos) onde se colocavam vinhos e bebidas na antiguidade, São Jerônimo já nos mostra como era comum em sua época as representações dos apóstolos até mesmo nas taças. Assim esclarece o LEXICON TOTIUS LATINITATIS AEGIDIO FORCELLINI LUCUBRATUM. VOL. 4. A ED. QUARTA:
“SĀCOMĀRĬUS, a, um, adjetivo. Que serve para medir, ou que usamos para medir a capacidade dos vasos. Hieronym. in Jon. 4. 15: ‘Um certo Cantherlus, há tempos em Roma, diz-se que me acusou de sacrilégio, pelo qual transplantei uma hera no lugar de uma abóbora: temia, evidentemente, que, se em vez de abóboras crescessem heras, ele bebesse em segredo e na escuridão, onde quer que estivesse. E, de fato, com aquelas mesmas abóboras, os vasos, que comumente chamam de sacomatias, costumam representar as imagens dos Apóstolos; e delas ele também tomou o nome. Na edição, erroneamente se lê saucomarias, que é uma palavra sem sentido: pois aqui Jerônimo parece aludir àqueles pequenos vasos de abóbora, que os taberneiros usam para servir vinho aos bebedores, no fundo dos quais antigamente, como às vezes ainda hoje, as imagens dos Santos ou dos Apóstolos são representadas. V. Inscript. Fabrett. p. 593″
Sobre as relíquias sagradas Escreve:
“Ela correu para os santuários dos mártires, despercebida. Essas visitas deram-lhe prazer, e ainda mais porque ela nunca foi reconhecida.” (Carta 24, 4)
“Onde quer que nós veneramos os túmulos dos mártires, nós colocamos suas cinzas sagradas aos nossos olhos; Até mesmo tocamos, se pudermos, com nossos lábios.” (Carta 46, 8)
“Nós veremos a fonte em que o eunuco foi imerso por Felipe. Vamos fazer uma peregrinação a Samaria, e lado a lado, venerar as cinzas de João Batista, de Eliseu, e de Obadias.” (Carta 46, 13)
“Nós somos, portanto, culpados de sacrilégio quando entramos nas basílicas dos Apóstolos? Foi o imperador Constantino I culpado de sacrilégio quando ele transferiu as relíquias sagradas de André, Lucas e Timóteo para Constantinopla?” (Contra o Vigilantius, 5).
Refuta os hereges que dizem que os cristãos adoram ossos de gente morta:
“Você me diz que Vigilâncio (cujo nome Acordado é uma contradição: ele deveria antes ser descrito como sonolento) abriu novamente seus lábios fétidos e está derramando uma torrente de veneno imundo sobre as relíquias dos santos mártires, e que ele chama-nos quem os estima divulgadores de cinzas e idólatras que prestam homenagem aos ossos de homens mortos. Desgraçado infeliz! Que lamenta sobre todos os cristãos […] nós, é verdade, nos recusamos a cultuar ou adorar, não as relíquias dos mártires, mas o sol, a lua, os anjos e arcanjos, os Querubins e Serafins e “cada nome que se nomeia, não só neste mundo, mas também no que está por vir.” Pois nós não podemos “servir a criatura mais do que o Criador, que é bendito eternamente.” Ainda nós horramos as relíquias dos mártires, para que possamos adorá-Lo aquele de quem mártires são. Nós honramos os servos para que sua honra possa ser refletida sobre o seu Senhor.” (São Jerônimo – Carta 109, 1)
CIRÍLO DE ALEXANDRIA (444 d.C)
São Cirílo foi tão grande defensor dos ícones que seus adversários o acusaram de idolatria (ver Schwarzlose, “Der Bilderstreit” I, 3-15).
“Mesmo que façamos imagens de homens piedosos, não é para que possamos adorá-los como deuses, mas para que, quando os vemos, possamos ser levados a imitá-los; e se fizermos imagens de Cristo, é para que nossas mentes possam voar alto ansiando por Ele.” (Comentário aos Salmos: No Salmo 113B(115):16)
NILO ASCETA
No século V acusa um amigo por desejar para decorar a igreja com ornamentos profanos, e exorta-o a substituir estes por cenas da Escritura (Epist. IV, 56).
GREGORIO MAGNO (540-604 dC)
São Gregório Magno foi bispo de Roma no Século VI. Em seus escritos é um ferrenho defensor do uso das imagens e relíquias sagradas na Igreja. Em seu livro III, carta 33 a Dinamio, mostra como Dinamio recebia a intercessão de Pedro, e como enviou uma cruz abençoada com a benção de Pedro:
“Nós agora lhe enviamos como a Bênção do Santíssimo apóstolo Pedro uma pequena cruz, na qual estão inseridos os benefícios de suas correntes, a qual, pois uma vez colocada no seu pescoço: mas que eles perdoem seus de pecados para sempre.” (Livro III Carta 33).
Também fala das relíquias sagradas de São Paulo que foram pedidas pelo imperador para serem colocadas em um novo templo que estava sendo erguido no palácio, e que não as daria, pois elas e as de São Pedro faziam grandes miladres e causavam terror nas pessoas:
“A serenidade de sua piedade, conspícuosa por zelo religioso e amor à santidade, pediu-me com os seus comandos para enviar-lhe a cabeça de São Paulo, ou alguma outra parte de seu corpo, para a igreja que está sendo construída em honra do mesmo São Paulo no palácio. E, sendo desejoso de receber seus pedidos, exibindo a mais pronta obediência para que eu possa aumentar mais o seu favor a mim, eu estou muito angustiado porque não posso nem me atrevo a fazer o que você deseja. Pois os corpos dos apóstolos São Pedro e São Paulo brilham com tão grandes milagres e terrores em suas igrejas que não se pode mesmo ir rezar lá sem grande temor. Em suma, quando o meu antecessor, de abençoada memória, estava desejoso de mudar a prata que estava sobre o corpo sagradíssimo do bem-aventurado apóstolo Pedro, embora a uma distância de cerca de 15 pés do mesmo corpo, um sinal de não pouco temor apareceu a ele.” (Livro IV- carta 30)
Escreve sobre a venerável cruz e a imagem de Maria que foi posta em uma sinagoga a força, mas manda tirá-las com todo zelo e devolver a sinagoga para os judeus que lhe foram reclamar:
“Os judeus que vieram para cá de sua cidade queixaram-nos que Pedro, que foi levado pela vontade de Deus, de sua superstição ao culto da fé cristã, tendo levado consigo certas pessoas desordenadas, no dia após de seu batismo, isto é, no dia do Senhor e do festival pascal, com grave escândalo e sem o seu consentimento, tomaram posse de sua sinagoga em Caralis, e colocaram lá a imagem da mãe de nosso Deus e Senhor, a venerável cruz, e a veste branca (birrum) com o qual ele tinha sido vestido quando ele se levantou da fonte. Quanto a tal coisa também as cartas dos nossos filhos, o glorioso Magister militum Eupaterius, e o magnífico governador, piedoso no Senhor, concordaram em atestar o mesmo. E acrescentam ainda que este tinha sido advertido por você, e que o referido Pedro tinha sido proibido de se aventurar nisto. Ao saber isso, elogiei te bastante, pois, como se tornou um verdadeiro e bom padre, você desejou que nada fosse feito onde só culpa poderia surgir. Mas, uma vez que por não ter em nada misturado-se nestes atos errados, você mostra que o que foi feito desagradou-lhe, nós, considerando a tendência de sua vontade neste assunto, e ainda mais o seu julgamento, viemos exortar-vos que, depois de ter remover dali com reverência a imagem e cruz, você deve restaurar o que foi violentamente tirado;” (LIVRO 9, CARTA VI – A Januário, Bishop de Caralis (Cagliari))
Assim como o concílio de Trullos, que veremos mais adiante, São Gregório chama a cruz de “venerável cruz” indicando claramente a veneração que era devida a santa cruz.
Em algumas passagens de suas obras alguns retiram do contexto e insinuam que Gregório era contra as imagens, uma destas é condenação a adoração de imagens em sua epístola sétima:
“Soubemos, irmão, que tendo observado algumas pessoas adorando imagens, haveis destruído e expulso essas imagens das igrejas. Vos louvamos por vós terdes mostrado zeloso já que nada feito de mãos deve ser adorado, porém somos da opinião que não devíeis ter quebrado estas imagens. A razão pela qual se usam as representações nas igrejas é a de que aqueles que são iletrados possam ler nas paredes o que não podem ler nos livros. Portanto, irmão, devíeis tê-las conservado, proibindo ao mesmo tempo ao povo que as adorasse.” (Epístola 7,2:3).
O papa nada mais está falando do que a doutrina católica de sempre. Como pode Gregório ser contra as imagens sagradas se ele mesmo diz que não elas não eram para ser quebradas e não serem adoradas? Como vimos desde o início o catecismo da Igreja Católica diz que nenhuma imagem é para ser adorada e da mesma forma Gregório o faz.
São Gregório fala também que as imagens tinham também o cunho educativo, e repreende Sereno bispo de Massília por ter arrancado as imagens da Igreja, por que algumas pessoas estavam quase adorando-as, então fala que as imagens não são para adoração, mas servem também como algo didático para os analfabetos, e que eram pintadas nos lugares veneráreis desde a antiguidade.
“Mas, ao mesmo tempo colocando de lado a consideração de nossas advertências salutares, tu vir a ser culpado, não só em teus atos, mas nos teus questionamentos também. Porque, na verdade isso havia sido relatado para nós que, inflamado de zelo imprudente, tu quebrastes as imagens de santos, sob o argumento de que elas não deveriam ser adorados. E, de fato, em que tu as proibiu ser adoradas, nós te louvamos por completo, mas nós te culpamos por tê-las quebrado. Dizer, irmão, qual padre já se teve notícia fazendo o que fizeste? Se nada mais, nem deveria ter esse pensamento contido em ti, de modo a não desprezar outros irmãos, supondo-te só para tu mesmo ser o único santo e sábio? Pois a adorar uma imagem é uma coisa, mas aprender através da história de uma imagem o que é a ser adorado é outra. Pois o que a escrita apresenta aos leitores, a imagem apresenta para os ignorantes que veem, uma vez que até mesmo o ignorante ver o que eles devem seguir; na qual os analfabetos lêem. Assim, e, principalmente as nações, é uma imagem, em vez de leitura. E isso deveria ter sido atendido principalmente por ti que vives entre as nações, a fim de que, quando inflamado inconsiderávelmente por um zelo reto, tu deverias ofender as mentes selvagens. E, vendo que a antiguidade não sem razão admitiu que as histórias de santos fossem pintadas em lugares veneráveis(….)
E então, no que diz respeito às representações pictóricas que foram feitas para a edificação de um povo sem instrução, a fim de que, embora ignorante das letras, eles possam virar os olhos para a história em si saber o que tinha sido feito, deve-se acrescentar que porque tu vistes que estas vieram a ser adorados, tu estivesses tão comovido que mandou serem quebradas. E isso deve ser dito a eles, por esta instrução pois as imagens foram feitas antigamente, se alguém deseja tê-los na igreja, eu permito-as por todos os meios, tanto para serem feitas quanto para se ter. E explicar-lhes que não era a própria visão da história que o quadro estava pendurado para atestar que te desagradou, mas a adoração que tinham sido indevidamente prestadas as fotos. E com essas palavras apazigua tu suas mentes; recordá-os a um acordo contigo. E se alguém ser fazer imagens, de maneira nenhuma, proibi-o, mas por todos os meios proibir a adoração de imagens. Mas se a tua Fraternidade cuidadosamente admoestá-os que a partir da visão do evento retratado eles devem pegar o ardor de compunção, e prostrar-se em adoração da Toda-Poderosa Santíssima Trindade.” (LIVRO 11, CARTA XIII. A Sereno, Bispo de Massilia (Marselha).)
Aqui mais uma vez ensina exatamente aquilo que é da doutrina católica, como mostramos na introdução, aquilo mesmo que ensina o concílio de Trento. Não se deve adorar as imagens, mas venera-las, e também utiliza-las como forma educativa.
GREGÓRIO DE TOURS
Gregório de Tours conta que uma mulher franca, que construiu uma igreja de Santo Estevão, mostrou os artistas que pintaram as paredes como eles deveriam representar os santos fora de um livro (hist. suíço., II, 17, PL, LXXI, 215).
GREGÓRIO DE NISSA
“Assim como na forma humana, os escultores tem uma poderosa compreensão do caráter da forma e estabelecem a dignidade real com a insígnia de purpura, e até mesmo a semelhança é comumente chamada de rei, assim é com a natureza humana, como ela foi criada para governar sobre outras criações, foi feito como um tipo de animação ou imagem, participando do original em dignidade e nome.” (São Gregório de Nissa, a partir da “Sobre a Criação do homem”)
“A beleza divina não está estabelecida, nem em forma, graciosidade de desenho ou coloração, mas é contemplada em bem-aventurança sem palavras, de acordo com a sua virtude. Então assim pintores transferem formas humanas a tela através de determinadas cores, colocando em tons adequados e harmoniosos para a imagem, de modo a transferir a beleza do original para a semelhança.” (Ibdem, Capítulo V)
GREGÓRIO NAZIANZO
“Uma imagem que é, essencialmente, uma representação do seu original.” (São Gregório de Nazianzo, em seu sermão sobre o “Filho”, II.)
CONCÌLIO TRULLO (692 d.C)
Este concílio regional conhecido como concílio in Trullo foi um concílio realizado em Constantinopla em 692 d.C, ele é assim denominado por que foi realizado no mesmo salão da cúpula onde foi realizado o Sexto Concílio Ecumênico. Também é conhecido como concílio Quinisexto, pois foi convocado para estabelecer as regras de disciplina que nem o Quinto, nem o Sexto Concílio Ecumênico estabeleceram. Neste concílio foram ratificados vários cânones de outros concílios.
“Desde que a cruz vivificante nos mostrou a Salvação, devemos ter o cuidado para prestamos a devida honra para aquela pela qual nós fomos salvos da antiga queda. Portanto, na mente, na palavra, no sentindo prestem veneração (προσκύνησιν) para ela, mandamos que a figura da cruz, que alguns têm colocado no chão, seja totalmente removido dali, de modo que o troféu da vitória conquistada para nós não seja profanada pelo pisoteio sob os pés de quem caminha sobre ela. Portanto, aqueles que a partir deste momento representam na calçada o sinal da cruz, Decretamos que sejam excomuncados.”(Canon LXXIII).
A nota do protestante Philip Schaff, na sua tradução deste concílio diz:
“Este Canon define que a imagem de a cruz é para ser ‘dada veneração (προσκύνησις) do intelecto, das palavras, e do sentido,’, isto é, a cruz é para ser venerada com culto interior da alma, é a de ser venerado com a cultura exterior do louvor, e também com atos sensatos, tais como beijos, inclinação profunda, etc.”(Nota Philip Schaf – NPNF)
O cânon LXXXII do concílio de Trullos dá nos dá a prova cabal que a igreja primitiva venerada os santos ícones e imagens:
“Em algumas imagens dos veneráveis ícones, um cordeiro é pintado para o qual o Precursor aponta seu dedo, que é recebido como um tipo de graça, indicando de antemão por meio da Lei, o nosso verdadeiro Cordeiro, Cristo nosso Deus. Abraçando, portanto, os tipos e sombras como símbolos da verdade, e os padrões dados à Igrejas antigas, nós preferimos “graça e de verdade”, recebendo-a como o cumprimento da lei. No fim, portanto, que “o que é perfeito” pode ser delineado aos olhos de todos, pelo menos na expressão de cor, que o decreto que a figura em forma humana do Cordeiro que tira o pecado do mundo, Cristo, nosso Deus, seja doravante exibida em imagens, em vez de o cordeiro antigo, para que todos possam entender, por meio das profundezas da humilhação do Verbo de Deus, e para que possamos recordar a nossa memória da sua conversa na carne, sua paixão e morte salutar , e sua redenção, que foi feita para o mundo inteiro.” (CANON LXXXII).
A nota do protestante Philip Schaff:
“A partir deste cânone, um século antes da controvérsia iconoclasta, a prevalência das imagens é evidente, então a partir do cânone do mesmo sínodo que diz respeito à veneração devida à imagem da cruz (número lxxiii.), Aprendemos que o ensinamento da Igreja no que diz respeito ao culto relativo foi o mesmo que foi posteriormente estabelecido, de modo que a acusação de inovação, às vezes precipitadamente interposta contra o Sétimo Concílio Ecumênico, não tem fundamento na realidade seja como for.” (Nota Philip Schaff – NPNF).
Deste modo a argumentação de um protestante acaba tanto com as acusações dos próprios protestanes, quanto dos iconoclastas de séculos atrás. Como vemos, quem quer que diga que o II concílio de Nicéia trouxe algo novo a Igreja, não procede com a realidade.
SÃO JOÃO DAMASCENO (730 d.C)
João de Damasco, também conhecido como João Damasceno, foi um padre e monge sírio. Nasceu e cresceu em Damasco, mas passou a maior parte da sua vida adulta em Jerusalém. Foi ferrenho defensor das imagens escreveu uma incomensurável obra na defesa das imagens, inclusive refuta 50 anos antes o conciliábulo de Hieria e mostra centenas de citações de outros pais antigos a favor das imagens, refutando as falsas citações apresentadas pelos iconoclastas.
Sua obra é a conhecida “APOLOGIA CONTRA OS QUE CONDENAM IMAGENS SAGRADAS”, (traduzimos para o português) na qual ele refuta e esclarece todas as acusações sobre o uso das imagens sagradas e nos trás uma centena de testemunho dos pais anteriores a ele.
Nesta obra ele também explica a diferença entre uma imagem e um ídolo e diz:
“1º Ponto – O que é uma imagem?
Uma imagem é uma semelhança e representação de alguém, que contém em si mesmo a pessoa que está representada. A imagem não é para ser uma reprodução exata do original. A imagem é uma coisa, a pessoa representada outra, a diferença é geralmente perceptível, porque o assunto de cada um é o mesmo. Por exemplo, a imagem de um homem pode dar a sua forma física, mas não seus poderes mentais. Ela não tem vida, nem pode falar, sentir ou mover. Um filho sendo a imagem natural de seu pai é um pouco diferente, pois ele é um filho, não um pai.
2º Ponto – Para que propósito uma imagem é feita?
Cada imagem é uma revelação e representação de algo escondido. Por exemplo, o homem não tem um conhecimento claro do que é invisível, o espírito que está sendo velado para o corpo, nem das coisas futuras, nem de coisas além e distante, porque ele está circunscrito pelo lugar e tempo. A imagem foi concebida para um maior conhecimento e para a manifestação e popularização de coisas secretas, como um benefício puro e ajudar a salvação, de modo que ao mostrar as coisas e torná-las conhecidos, podemos chegar as coisas ocultas, desejar e imitar o que é bom, rejeitar e odiar o que é mau.”
Um dos padres mais conhecidos do oriente, refuta os iconoclastas e mostra claramente o que é uma imagem e qual seu propósito. Por isso foi perseguido e condenado pelo imperador, após sua morte é condenado pelo conciliábulo de Hieria que fazia as vezes do imperador.
CONCÍLIÁBULO DE HIERIA – O CONCÍLIO DOS ICONOCLASTAS (754 d.C)
Antes de começarmos a falar sobre a invalidade do conciliábulo de Hieria reunido por hereges iconoclastas, temos que entender o que estava por trás da perseguição iconoclasta que gerou este concílio.
A origem do movimento contra a veneração das imagens tem sido muito discutida. A história mais certa é que teve início por influência muçulmana no oriente. Para os muçulmanos, qualquer tipo de imagem, estátua, ou representação da forma humana é um ídolo abominável, o que é, como já vimos, evidentemente contrário a bíblia.
Tudo começou com Leão III o Isauriano, que era um valente soldado com um temperamento autocrático. Qualquer movimento que exitava sua simpatia era, com certeza, aplicado com severidade e crueldade. Ele já tinha cruelmente perseguido os judeus e seguidores de Paulo. Ele também era suspeito de inclinações em relação ao Islã. O Khalifa Omar II (717-20) tentou convertê-lo, sem sucesso, exceto na medida em que o convenceu de que as imagens eram ídolos. Os cristãos inimigos das imagens, nomeadamente, Constantino de Nacolia, então, facilmente ganharam seus ouvidos. O imperador chegou à conclusão de que as imagens eram o principal obstáculo para a conversão de judeus e muçulmanos, a causa da superstição, fraqueza e divisão de seu império, e eram contrárias ao Primeiro Mandamento.
A campanha contra as imagens como parte de uma “reforma” geral da Igreja e do Estado.
A idéia de Leo III era “purificar” a Igreja, centralizá-la, tanto quanto possível sob o Patriarca de Constantinopla, e assim reforçar e centralizar o Estado do império. Houve também uma forte tendência racionalista entre lá Iconoclastas imperadores, uma reação contra as formas de piedade bizantina que se tornava mais pronunciada a cada século.Este racionalismo ajuda a explicar seu ódio aos monges. Uma vez persuadido, Leão começou a impor sua idéia impiedosamente. Constantino de Nacolia veio para a capital no início de seu reinado, ao mesmo tempo, João de Synnada escreveu ao patriarca Germano I (715-30), advertindo-o que Constantino causou uma perturbação entre os outros bispos da província pregando contra o uso de imagens sagradas. Germano, o primeiro dos heróis contra a heresia iconoclasta (suas cartas em Hardouin, IV 239-62), em seguida, escreveu uma defesa da prática da Igreja dirigida a outro iconoclasta, Thomas de Claudiópolis (l.c 245-62). Mas Constantino e Thomas tinha o imperador do seu lado. Em 726 Leão III publicou um decreto declarando que as imagens eram ídolos, proibidos por Êxodo 20, 4-5, e ordenando que todas as imagens nas igrejas fossem destruídas. Imediatamente os soldados começaram a cumprir suas ordens, devivdo a isso distúrbios foram provocados por todo o império. Havia uma famosa foto de Cristo, chamado Christos antiphonetes, sobre o portão do palácio em Constantinopla. A destruição da imagem provocou um motim entre as pessoas. Germano, o patriarca, protestou contra o decreto e apelou para o papa (729). Mas o imperador o depôs traidor (730) e nomeou Anastácio (730-54), anteriormente Syncellus do Tribunal patriarcal, e um instrumento da vontade do Governo, em seu lugar. Os opositores mais firmes dos Iconoclastas em toda essa história foram os monges. É verdade que houve alguns que tomaram o lado do imperador, mas como um corpo o monaquismo oriental estava firmemente leais ao antigo costume da Igreja. Leão, portanto, juntou a sua iconoclastia uma feroz perseguição aos mosteiros e, eventualmente, tentou suprimir monaquismo completamente.
O papa na época era Gregório II (713-31). Mesmo antes de ter recebido o apelo de Germano recebeu uma carta do imperador ordenando-lhe para aceitar o edital, e destruir imagens em Roma, e convocar um concílio geral para proibir o seu uso. Gregório respondeu, em 727, por uma longa defesa das imagens. Ele explica a diferença entre elas e ídolos, com alguma surpresa que Leão não o entendeu. Ele descreveu o uso legal e da reverência pretasda as imagens pelos cristãos. Ele culpou a interferência do imperador em assuntos eclesiásticos e sua perseguição aos que veneravam as imagens. Um concílio não foi querido; tudo que Leão tinha a fazer era parar de perturbar a paz da Igreja. Quanto à ameaça de Leão que iria a Roma, quebrar a estátua de São Pedro (aparentemente a famosa estátua em bronze de São Pedro), e tomar o papa como prisioneiro, Gregório responde ela, apontando que ele pode escapar facilmente na Campagna, e lembrando o imperador quão fútil e agora abominável para todos os cristãos era a perseguição de Constance de Martinho I. Ele também diz que todas as pessoas no Ocidente detestaram ação do imperador e nunca consentirá em destruir as imagens em seu comando (Greg. II, “Ep. Que eu ad Leonem”). O imperador respondeu, continuando a sua argumentação dizendo que nenhum concílio geral ainda não tinha dito uma palavra em favor de imagens e que ele mesmo era imperador e sacerdote (basileus kai lereus), portanto, tem o direito de fazer decretos sobre tais assuntos. Gregório escreve de volta lamentando que Leão ainda não via o erro de seus caminhos. Quanto aos antigos concílios gerais, eles não pretendem discutir todos os pontos da fé, não era necessário naqueles dias defender o que ninguém atacou. O título de Imperador e Sacerdote tinha sido concedido como um elogio a alguns soberanos por causa de seu zelo em defender a própria fé que Leão agora atacava. O papa declara-se determinado a resistir a tirania do imperador a qualquer custo, ainda que ele não tenha defesa, mas a oraria para que Cristo enviasse um demônio para torturar o corpo do imperador para que sua alma fosse salva, de acordo com 1 Coríntios 5, 5.
Entretanto, a perseguição durou no Oriente. Monastérios foram destruídos, os monges mortos, torturados, ou banidos. Os Iconoclasts começaram a aplicar seu princípio as relíquias também, para quebrar santuários abertos e queimar os corpos de santos enterrados nas igrejas. Alguns deles rejeitaram toda a intercessão dos santos. Estes e outros pontos (destruição de relíquias e rejeição de orações aos santos), embora não necessariamente envolvidos no programa original foram a partir deste momento, geralmente (não sempre), acrescentados à iconoclastia. Enquanto isso, São João Damasceno seguro contra a ira do imperador que seguia regras do Khalifa, estava escrevendo escrito no mosteiro de São Saba sua famosa apologia “Contra aqueles que dcondenam as imagens sagrados”. No Ocidente, em Roma, Ravenna, e Nápoles, o povo levantou-se contra a lei do imperador. Este movimento anti-imperial é um dos fatores do rompimento entre Itália e do antigo império, a independência do papado, e o começo dos Estados Pontifícios. Gregório II já se recusou a enviar os impostos para Constantinopla e se nomeou o dux imperial no Ducatos Romanus. A partir deste momento o papa torna-se praticamente soberano do Ducatus. A ira do imperador contra asos que veneravam imagens foi reforçada por uma revolta que eclodiu nessa época em Hellas, ostensivamente em favor dos ícones. Um certo Cosmas foi levantado como imperador pelos rebeldes. A insurreição foi rapidamente esmagada (727) e Cosmas foi decapitado. Após isto, um novo e mais grave edital contra imagens foi publicado (730), e a fúria da perseguição foi redobrada.
O Papa Gregório II morreu em 731. Ele foi sucedido por Gregório III, que continuou na defesa das imagens sagradas exatamente no mesmo espírito do seu antecessor. O novo papa enviou um sacerdote, George, com cartas contra a iconoclastia para Constantinopla. Mas George quando chegou, estava com medo de apresentá-las, e voltou sem ter cumprido a sua missão. Ele foi enviado pela segunda vez na mesma missão, mas foi preso e encarcerado na Sicília pelo governador imperial. O imperador agora prosseguiu com sua política de ampliar e fortalecer o seu próprio patriarcado de Constantinopla. Ele concebeu a idéia de torná-la tão grande quanto todo o império sobre o qual ele ainda realmente governava. Isauria, local de nascimento de Leão, foi tomada de Antioquia por um decreto imperial e adicionada ao patriarcado bizantino, acrescentando também Metropolis, Selêucia, e cerca de vinte outras sés. Leão ainda pretendeu retirar Ilíria do Patriarcado romano e adicioná-lo à de Constantinopla, e confiscou todos os bens da Sé Romana em que ele poderia colocar suas mãos, na Sicília e sul da Itália. Isto, naturalmente, aumentou a inimizade entre a cristandade oriental e ocidental. Em 731 Gregório III convocou um sínodo de noventa e três bispos na Basílica de São Pedro, em que todas as pessoas que quebraram, contaminaram, ou tomaram imagens de Cristo, da Sua Mãe, os apóstolos e outros santos foram declarados excomungados. Outro legado, Constantino, foi enviado com uma cópia do decreto e de sua aplicação ao imperador, mas foi novamente preso e encarcerado na Sicília. Leão, em seguida, enviou uma frota para a Itália para punir o papa, mas foram destruídos e dispersos por uma tempestade. Enquanto isso, todo o tipo de calamidade aflitos do império; terremotos, pestilência, fome e devastaram as províncias, enquanto os muçulmanos continuaram a sua carreira vitoriosa e conquistaram mais territórios.
Leão III morreu em junho de 741, em meio a esses problemas, sem ter mudado sua política. Sua obra foi continuada por seu filho Constantino V (Copronymus, 741-775), que se tornou um perseguidor ainda maior de que venerava imagens do que tinha sido seu pai. Assim como Leão III morreu, Artabasdus (que tinha casado com a filha de Leão) aproveitou a oportunidade e aproveitou-se da impopularidade do Governo iconoclasta para levantar uma rebelião. Declarando-se o protetor dos ícones sagrados ele tomou posse da capital, havia se coroado imperador pelo fléxivel patriarca Anastácio e restaurou imediatamente as imagens. Anastácio, que tinha sido colocado no lugar de Germano, como candidato Iconoclasta, agora voltava ao caminho bizantino de costume, ajudou a restauração das imagens e excomungou Constantino V como um herege e negador de Cristo. Mas Constantino marchou sobre a cidade, tomou-a, cegou Artabasdus e começou uma furiosa vingança sobre todos os rebeldes e defensores das imagens (743). Seu tratamento de Anastácio foi um exemplo típico da forma como esses imperadores posteriores se comportavam com os patriarcas através dos quais eles tentavam governar a Igreja. Anastácio foi açoitado em público, cego, levado vergonhosamente pelas ruas, obrigado regressar à sua iconoclastia e finalmente reintegrado como patriarca. O homem miserável viveu até 754. As imagens restauradas por Artabasdus foram novamente removidos. (ENCICLOPEDIA CATÓLICA – 1917)
A convocação arbitrária e a invalidade do conciliábulo
Em 754 Constantino, tamando a idéia original de seu pai convocou um grande sínodo em Constantinopla, que era considerado como o sétimo Concílio Geral. Cerca de 340 bispos participaram, como a Sé de Constantinopla estava vacante pela morte de Anastácio, Teodósio de Éfeso e Pastilias de Perge presidiu. Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém se recusaram a enviar legados, uma vez que ficou claro que os bispos foram convocados apenas para executar comandos do imperador. O evento mostrou que os patriarcas haviam julgado corretamente. Os bispos no Sínodo servilmente concordaram com todas as exigências de Constantino. Eles decretaram que as imagens de Cristo ou são Monofisita ou nestorianas, pois – uma vez que é impossível representar sua divindade – elas querem confundir ou divórciar Suas duas naturezas. A única representação legítima de Cristo é a Sagrada Eucaristia. Imagens de santos foram igualmente abominadas, e foi declarado blasfemo representar pela madeira morta ou pedra quem vive com Deus. Declararam que todas as imagens eram uma invenção dos pagãos – e eram na verdade ídolos, como mostrado . Alguns textos dos Padres também são citados em apoio da iconoclastia. Quem venera imagem foi declarado idólatras, adoradores de madeira e pedra, os imperadores Constantino e Leão foram declarados luzes da fé ortodoxa, os nossos salvadores da idolatria. Um maldição especial foi pronunciada contra três defensores principais de imagens – Germano, o ex-Patriarca de Constantinopla, João Damasceno, e um monge, George de Chipre. O sínodo declarou que “a Trindade destruiu estes três” (‘Atos do Concílio iconoclasta de 754″ em Mansi XIII, 205 m²).
Os bispos finalmente elegeram um sucessor para a Sé vacante de Constantinopla, Constantino, Bispo de Sylaeum (Constantino II, 754-66), que era, claro, uma criatura do Governo, preparada para continuar sua campanha.
Os decretos foram publicados no Fórum em 27 de agosto de 754. Depois disso, a destruição de imagens continuou a se intensificar. Todos os bispos do império eram obrigados a assinar os atos do sínodo e a jurar acabar com os ícones em suas dioceses. Os seguidores de Paulo eram bem tratados, enquanto quem defendia as imagens e monges foram perseguidos implacavelmente. Em vez de pinturas de santos, as igrejas eram decoradas com imagens de flores, frutas e pássaros de modo que as pessoas diziam que as igrejas pareciam mercearias e lojas de aves. Um monge chamado Pedro foi açoitado até a morte, em 7 de junho de 761; o Abade de Monagria, João, que se recusou a pisotear um ícone, foi amarrado num saco e lançado ao mar em 7 de junho de 761; em 767, André, um monge cretense foi açoitado e esquartejado até que ele morreu (ver Acta SS, 08 de outubro; Martirológio Romano para 17 de outubro); em novembro do mesmo ano, um grande número de monges foram torturados até a morte de várias maneiras (Martirológio, 28 de novembro). O imperador tentou abolir o monaquismo (como o centro da defesa das imagens); mosteiros foram transformadas em alojamentos temporários, o hábito monástico tornou-se proibido; o Patriarca Constantino II foi forçado a jurar no púlpito de sua igreja que, apesar de ter sido monge anteriormente, ele agora se juntara ao clero secular. As relíquias foram exumadas e jogadas ao mar, a invocação dos santos proibida. Em 766, o imperador entrou em choque com seu patriarca, ordenou que lhe açoitassem e o decapitassem, e substituído por Nicetas I (766-80), que era, também, naturalmente, um servo obediente do Governo iconoclasta. Enquanto isso, os países que o poder dos imperadores não atingiu mantiveram o velho costume e rompeu os laços com o Patriarca Iconoclasta de Constantinopla e seus bispos. Cosme de Alexandria, Theodoro de Antioquia, e Theodoro de Jerusalém foram todos defensores dos ícones sagrados em comunhão com Roma. O imperador Constantino V morreu em 775. Seu filho Leo IV (775-80), embora ele não tenha revogado a Lei Iconoclasta, foi muito mais brando em aplicá-la. Ele permitiu os monges exilados a voltar, tolerou pelo menos a intercessão dos santos e tentou conciliar todas as partes. Quando o patriarca Nicetas I morreu em 780, foi sucedido por Paulo IV (780-84), um monge cipriota que aplicava uma política iconoclasta sem muito zelo por temor ao Governo. Mas a esposa de Leo IV, Irene, foi uma ferrenha defensora das imagens. Mesmo durante a vida do marido, ela escondeu ícones sagrados em seus aposentos. No final do seu reinado, Leão teve uma explosão de ira em relação à iclonastia. Ele puniu os cortesãos que tinham recolocado as imagens em seus aposentos e estava prestes a banir a imperatriz quando ele morreu 08 de setembro de 780. Imediatamente uma grande reação surgiu. (ENCICLOPEDIA CATÓLICA – 1917)
Razões que invalidam totalmente o conciliábulo
1ª Razão: Não havia qualquer patriarca presente. O patriarcado de Constantinopla estava vacante, logo um concílio não se pode reunir sem a presença de um patriarca. Depois os iconoclastas e o imperador elegeram seu próprio patriarca iconoclasta para Constantinopla para validar seus cânones, porém nada foi aceito pelos outros patriarcados, logo continuou inválido. Assim o protestante Philip Schaff descreve esta história:
“… Em seguida, foi rejeitado como um pseudo-sínodo dos hereges. O número trezentos e trinta… mas os patriarcas de Jerusalém, Antioquia, e Alexandria, que sob o domínio muçulmano, não puderam comparecer, a Sé de Constantinopla estava vaga, e Papa Estêvão III desconsiderou a convocação imperial.” (Schaff, Volume 4, p 457).
E a Enciclopédia Católica:
“Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém se recusaram a enviar delegados, uma vez que ficou claro que os bispos foram convocados apenas para executar as ordens do Imperador. O evento mostrou que os patriarcas haviam julgado corretamente. Bispos no Sínodo servilmente concordaram com todas as demandas de Constantino.” (Enciclopédia Católica [1913], p vol 1, 621).
2ª Razão: Apenas bispos partidarios da iconoclastia foram convocados. Os bispos que continuavam com o antigo costume da Igreja estavam sendo perseguidos, presos e mortos, só os partidários do governador foram convocados, e aqueles que faziam apenas parte do patriarcado de Constantinopla e muitos desses foram forçados a participar.
“…Um concílio no qual 338 teólogos foram forçados a participar.” (Enciclopédia da Religião editado por Mircea Eliade, vol 7, p 1).
3ª Razão: Um concílio não pode se reunir em razão de negar um costume antigo da Igreja e que invalida até mesmo os decretos de outros concílios como o de Trullos que até então era aceito pela própria Constantinopla, dos grandes pais e até mesmo os princípios bíblicos.
4ª Razão: O concílio foi convocado apenas para executar os comandos do imperador, e não para debater e chegar a conclusões teológicas claras, até mesmo por isso, os outros 4 patriarcados se recusaram a mandar legados.
Os hereges modernos e a invocação do concíliabulo de Hieria.
Atualmente, os protestantes (iconoclastas modernos), invocam a autoridade deste conciliábulo para justificar suas posições errôneas a respeito das imagens, o que muito engraçado, pois aceitam apenas parte deste concílio, aquilo que lhes convém e rejeitam totalmente o resto de suas definições.
Será mesmo que os protestantes aceitam as definições deste concílio? Se, acham que ele esteve certo quando proibiu as imagens, será que acham também que ele está certo quando diz que quem achar que a recorrência aos santos não é benéfica, seria anatemisado?
Se alguém nega o lucro da invocação dos Santos, seja anátema. (Cânon 17)
Será também se aceitam o que este concílio falou sobre Maria?
“Se alguém não confessar que a Santíssima Virgem é verdadeiramente a Mãe de Deus, seja anátema.” (cânon 3)
“Se alguém não confessar a santa sempre Virgem Maria, verdadeira e propriamente a Mãe de Deus, como sendo maior do que todas as criaturas visíveis ou invisíveis, e não com fé sincera buscar suas intercessões como tendo uma confiança em seu acesso ao nosso Deus, uma vez que ela lhe concebeu, seja anátema” (Cânon 15)
Será que algum protestante ao aceitar a definição das imagens deste concílio ao mesmo tempo reconhece a maternidade divina de Maria e que ela está acima de toda a criatura, e procura sua intercessão?
O II CONCÍLIO DE NICÉIA (787 d.C) – A Vitória da Ortodoxia
Finalmente em 787 d.C, reuniu-se em Nicéia todos os bispos ortodoxos e eles puderam assim decidir qual a teologia católica das imagens, refutaram os iconoclastas e deram fim a questão sobre as imagens, dogmatizando o ensino.
Diversos iconoclastas reconheceram seus erros e pediram perdão diante de Deus por seus erros, um exemplo disto foi Basílio de Acira que era iconoclasta e pediu sua reabilitação diante do concílio.
Os cânones foram estabelecidos e a questão findada, quem desejar ler as atas e cânones de Nicéia II, pode ler aqui em inglês.
CONCLUSÃO
O ensino cristão das imagens e relíquias sagradas, esta presente desde os primeiros escritos cristãos que se tem conhecimento, todos eles confirmam unanimamente como a teologia católica, não inova apenas repete o que é da fé através dos séculos!
BIBLIOGRAFIA
Fortescue, Adrian. “Iconoclasm”. The Catholic Encyclopedia. Vol. 7. New York: Robert Appleton Company, 1910. 22 Aug. 2013 <http://www.newadvent.org/cathen/07620a.htm>.
PARA CITAR
RODRIGUES, Rafael. Pais da Igreja e as imagens e relíquias Sagradas. Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/controversias/623-pais-da-igreja-e-as-imagens-e-reliquias-sagradas >. Desde 18/11/2013.