Sexta-feira, Novembro 15, 2024

Pais da Igreja e a imortalidade da Alma

Nota: Este texto será incrementado a medida que outras citações forem sendo traduzidas.

Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: – Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos.” (Mateus 25, 41)

INTRODUÇÃO


A imortalidade da alma é a doutrina cristã que explica que a alma humana é criada por Deus naturalmente imortal e permanece viva e consciente após a morte do corpo, e viverá eternamente, seja qual for o seu destino: céu aos bons ou inferno aos maus.

Esta é uma das doutrinas mais básicas para qualquer cristão, no entanto, existem correntes heréticas que contrariam-na e creem que a alma é mortal (mortalidade da alma ou aniquilacionismo), pelo menos a alma dos maus, e é aniquilada deixando assim de existir após a morte corporal. Consequentemente, negam a existência do inferno eterno. Para afirmarem isso, criam uma série de fantasias, (assim como aquelas de que Constantino “paganizou” a Igreja) e atribuem que a doutrina da imortalidade da alma foi adotada do paganismo grego, mais especificamente de Platão. Desconhecendo totalmente a opinião de Platão sobre esta questão, que não tem nada a ver com a doutrina cristã da imortalidade da alma, já que Platão acreditava que alma era incriada, ou seja, existia desde sempre sem Deus ter criado, por isso não morria.

Partindo do princípio da argumentação deles, poderíamos dizer que a “mortalidade da alma” ou “aniquilacionismo” também foi adotada do paganismo grego, já que Aristóteles, Epicureus e Estóicos também acreditavam que a alma morria e deixava de existir após a morte corporal. Dois pesos, duas medidas.

Dentro do Cristianismo a heresia da “mortalidade da alma” teve suas raízes em Arnóbio de Sica no final do século IV, que por sua vez parece que se inspirou na doutrina de uma seita Árabe condenada por Orígenes e pelo concílio de Bostra 245 d.C, e na Pré-Existência da alma desenvolvida pelo próprio Orígenes, que negava o inferno eterno e foi condenada pelo II concílio de Constantinopla:

Se alguém diz ou pensa que a punição dos demônios e de homens ímpios é apenas temporária, e um dia terá fim, e que uma restauração (ἀποκατάστασις) abrangerá demônios e homens ímpios, que ele seja anátema.

Anátema a Orígenes e a Adamantius, que estabeleceram estas opiniões em conjunto com a sua doutrina nefasta, execrável e má e a quem pense assim, ou defenda essas opiniões, ou de qualquer forma daqui por diante em qualquer tempo a quem tiver a presunção de protegê-los.” (II concílio de Constantinopla – Cânon IX)

Passando-se mais de um milênio de condenação, no século XIX, foi ressuscitada pelo protestantismo na figura de Edward White, e foi mais desenvolvida por Adventistas e Testemunhas de Jeová, que por sua vez influenciaram muitos no meio protestante, mesmo estes não fazendo parte destas seitas, e esta doutrina sendo também condenada pelo protestantismo “tradicional” e pelos principais “reformadores”.

Aniquilacionistas não medem esforços para tentarem provar sua doutrina herética ou para traçar um paralelo entre eles e os padres da Igreja. Internet a fora corre a solta citações dos padres da Igreja descontextualizadas, truncadas e fabricadas, propagadas em prol desta heresia. Vendo isso e a pedido de leitores, surge a necessidade de aqui mostrarmos qual o real pensamento dos Padres da Igreja e como a doutrina ortodoxa tradicional do inferno como punição eterna e consciente dos maus vem desde os primórdios do cristianismo, refutando também as falsas alegações feitas em cima dos escritos dos Santos Padres.

OS PADRES DA IGREJA


Nossa principal fonte de dados sobre a compreensão da doutrina da imortalidade humana na Igreja Primitiva serão os escritos dos Padres Apostólicos, Padres apologistas e Padres pré-Nicéia e pós Nicéia que falam diretamente sobre o inferno eterno e imortalidade da lama.

1) Os Padres Apostólicos são aqueles escritores que viveram junto com os Apóstolos, e que, portanto, pode-se supor que tinham conhecimento dos ensinamentos direto dos Apóstolos.

2) Os Padres apologistas são aqueles escritores que viveram logos após os Padres Apostólicos, e que, portanto, pode-se supor que tinham conhecimento tanto dos padres apostólicos quanto dos apóstolos e defenderam a Igreja com obras de confronto doutrinário.

3) Os Padres ante nicenos são todos os outros escritores cristãos cujo trabalho foi concluído antes do Concílio de Nicéia, que ocorreu em 325 d.C.

4) Padres Pós-Nicenos. Aqueles escritores cujo o trabalho se deu após o concílio de Nicéia.

PAIS APOSTÓLICOS

 

PADRES APOLOGISTAS

 

PADRES PRÉ NICÉIA

 

PADRES NICENOS E PÓS NICÉIA
Inácio de Antioquia

Policarpo de Esmirna

Mathetes

 

Justino Mártir

Orígenes

Concílio de Bostra

Taciano

Teófilo de Antioquia

Atenágoras de Atenas

Irineu de Lião

Clemente de Alexandria

Tertuliano de Cartago

Hipólito de Roma

Cipriano de Cartago

Gregório Taumaturgo

Eusébio de Cesaréia

Constituições Apostólicas

 

Atanásio de Alexandria

Arnobio de Sicca

Afraates

Metódio

Cirílo de Jerusalém

São Gregório De Nissa

Teodoreto de Ciro

São João Crisóstomo

São Jerônimo

Ambrósio

Santo Agostinho

São João Damasceno

 

*Em verde estão os escritores que não são pais da Igreja, mas são escritores contemporâneos dos padres.

PADRES APOSTÓLICOS

INÁCIO DE ANTIOQUIA (110 d.C)


Bispo de Antioquia, martirizado em Roma (devorado por leões) nos tempos do imperador Trajano (98-117). Dele são conservadas 7 cartas que escreveu a caminho do martírio, por volta do ano 107. Ao escrever para aos Efésios testemunha como aqueles que morreram na impureza irão ao fogo eterno:

Não vos iludais, meus irmãos, os corruptores da família não herdarão o Reino de Deus. Pois, se pereceram os que praticavam tais coisas segundo a carne, quanto mais os que perverterem a fé em Deus, ensinando doutrina má, fé pela qual Jesus Cristo foi crucificado? Um tal, tornando-se impuro, marchará para o fogo inextinguível, como também marchará aquele que o escuta. Por isso, recebeu o Senhor unção sobre a cabeça para exalar em favor da Igreja o perfume da incorrupção. Não vos deixeis ungir pelo mau odor da doutrina do príncipe deste mundo, de forma que vos leve cativos para longe da vida que vos espera. Por que não nos tornamos prudentes, aceitando o conhecimento de Deus, isto é, Jesus Cristo? Por que morrermos tolamente, desconhecendo o dom que o Senhor nos enviou de verdade?” (Inácio de Antioquia, Carta aos efésios, 16-17)

Também Santo Inácio refuta a teoria dos mortalista de que “dormimos” quando morremos, mas diz que mesmo depois de morte ainda ajudaria os cristãos:

Meu espírito por vós se empenha, não apenas agora, também quando com Deus me encontrar.”. (Aos Tralianos, XIII)

MARTIRIO DE POLICARPO DE ESMIRNA


Bispo de Esmirna, instituído pelo Apóstolo São João, de quem foi discípulo. Nasceu por volta do ano 75 e foi martirizado. É considerado também um dos Padres Apostólicos.

Dois testemunhos são trazidos de uma carta da Igreja de Esmirna a comunidade de Filomenio de onde se narra o martírio de São Policarpo de Esmirna, discípulo direto do apóstolo São João e bispo de Esmirna.

Quem não admiraria a generosidade deles, a perseverança e o amor ao Senhor? Dilacerados pelos flagelos a ponto de ser ver a constituição do corpo até as veias e artérias, permaneciam firmes, enquanto os presentes choravam de compaixão. A sua coragem chegou a tal ponto que nenhum deles disse uma palavra ou emitiu um gemido. Eles mostravam em seus corpos, mas que o Senhor, aí presente, conservava com eles. Atentos à graça de Cristo, eles desprezavam as torturas deste mundo e adquiriram, em uma hora, a vida eterna. O fogo dos torturadores desumanos era frio para eles. De fato, tinham diante dos olhos escapar do (fogo) eterno, que jamais se extingue; com os olhos do coração olhavam os bens reservados à perseverança, bens que o ouvido não ouviu, nem o olho viu, nem o coração do homem sonhou, mostrados pelo Senhor àqueles que não que não eram mais homens, mas que já eram anjos.” (Martirio de Policarpo, II, 3-4)

O procônsul insistiu: “Já que desprezas as feras, eu te farei queimar no fogo, se não mudares de ideia.” Policarpo respondeu-lhe: “Tu me ameaças com um fogo que queima por um momento, e pouco depois se apaga, porque ignoras o fogo do julgamento futuro e do suplício eterno, reservado para os ímpios. Mas por que tardar? Vai e faze o queres.” (Martírio de Policarpo XI)

“Por sua perseverança, ele triunfou sobre o iníquo magistrado, e assim foi cingido com a coroa da imortalidade (immortalitatis coronam¹). Juntamente com os apóstolos e todos os justos, na alegria, ele glorifica a Deus, Pai todo-poderoso, e bendiz nosso Senhor Jesus Cristo, o salvador de nossas almas, guia de nossos corpos, e pastor da Igreja católica no mundo inteiro”. (Martírio de Policarpo, XIX)

São Policarpo em sua Epístola aos Filipenses também menciona que os cristãos mortos estão na presença de Deus e não “dormindo” esperando acordar para serem julgados, segundo o pensamento dos aniquilacionistas:

Eu os exorto, portanto, a obedecerem atenciosamente à palavra da justiça, e a exercitarem a paciência, assim como vocês têm visto diante de seus olhos, não somente no caso dos abençoados Inácio, Zózimo e Rufo, mas também no caso dos outros que estão entre vocês, no próprio Paulo, e no restante dos apóstolos. [Façam isso] na certeza de que todos estes não caminharam em vão, mas na fé a na justiça, e na certeza de que eles estão [agora] no lugar que lhes corresponde na presença do Senhor, com quem eles também sofreram. Eles não amaram o século presente, mas Aquele que morreu por nós e que, por nossa causa, foi ressuscitado por Deus da morte.” (Epístola aos Filipenses – IX)

MATHETES (Discurso a Diogneto)


A Epístola de Mathetes a Diogneto é um texto apologético cristão, escrito defendendo o cristianismo de seus acusadores. O escritor e receptor grego não são conhecidos; estimativas de datação com base no idioma e outras evidências textuais variaram de 130 d.C (o que tornaria um dos primeiros exemplos de literatura apologética), ao final do século segundo, com este último muitas vezes preferido na erudição moderna. “Mathetes” não é um nome próprio; significa simplesmente “um discípulo”.

Este documento primitivo, atesta não somente a imortalidade da Alma, mas também o inferno eterno aos maus:

A alma está contida no corpo, mas é ela que sustenta o corpo; também os cristãos estão no mundo como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo. A alma imortal habita em um tabernáculo mortal.” (Carta a Diogneto)

Então, ainda estando na terra, contemplarás porque Deus reina nos céus. Aí começarás a falar dos mistérios de Deus, amarás e admirarás aqueles que são castigados por não querer negar a Deus. Condenarás o engano e o erro do mundo, quando realmente conheceres a vida no céu, quando desprezares esta vida que aqui parece morte e temeres a morte verdadeira, reservada àqueles que estão condenados ao fogo eterno, que atormentará até o fim aqueles que lhe forem entregues. Se conheceres esse fogo, ficarás admirado, e chamarás de felizes aqueles que, pela justiça, suportaram o fogo passageiro.” (Carta a Diogneto, 10, 7-8)

PADRES APOLOGISTAS

JUSTINO MÁRTIR (160 D.C)


Mártir da fé cristã, viveu até o ano 165, quando foi decapitado, é considerado o maior apologista do século II.

São Justino ensina tão categoricamente em suas obras que o destino dos maus é o castigo eterno, que dispensa qualquer comentário:

O Inferno eterno

E disse mais: “Não temais aqueles que vos matam e depois disso nada mais podem fazer; temei antes aquele que, depois da morte, pode lançar alma e corpo no inferno”. Deve-se saber que o inferno é o lugar onde serão castigados os que tiverem vivido iniquamente e não acreditaram que acontecerão essas coisas ensinadas por Deus, através de Cristo.” (I Apologia 19, 7)

Quanto a alcançar a imortalidade, nos foi ensinado que só a alcançam aqueles que vivem santa e virtuosamente perto de Deus, assim como cremos que serão castigados com fogo eterno aqueles que viveram injustamente e não se converteram.” (I Apologia 21, 6)

Porque entre nós, o príncipe dos demônios do mal chamado Satanás, diabo, serpente ou caluniador, como você pode saber, se você descobrir, por nossas escrituras, e que ele e todo o seu exército junto com os homens que o seguem serão enviados para o fogo para serem punido por toda a eternidade sem fim, que é o que de antemão foi anunciado por Cristo” (I Apologia 28)

E se também vós ledes como inimigos estas nossas palavras, além de matar-nos, como já dissemos antes, nada podeis fazer. A nós, isso nenhum dano causará; a vós, porém, e a todos os que injustamente nos odeiam e não se convertem, trazer-vos-á castigo de fogo eterno.” (I Apologia 45, 6)

Assim é que os profetas anunciaram duas vindas de Cristo: uma, já cumprida, como homem desonrado e passível; a segunda, quando virá dos céus acompanhado de seu exército de anjos, quando ressuscitará também os corpos de todos os homens que existiram; revestirá de incorruptibilidade os que forem dignos, e enviará os iníquos, com percepção eterna, ao fogo eterno, junto com os perversos demônios. Vamos mostrar como foi profetizado que isso deverá acontecer. (I Apologia, 52)

O fato é que em todas as partes há gente disposta a nos levar à morte. Exceto os que estão persuadidos de que os iníquos e intemperantes serão castigados com o fogo eterno e que os virtuosos e que viveram de modo semelhante a Cristo, viverão impassíveis com Deus…” (II Apologia 1, 2)

Todavia, logo que conheceu os ensinamentos de Cristo, não só se tornou casta, como procurava também persuadir seu marido à castidade, referindo-lhe os mesmos ensinamentos e anunciando-lhe o castigo do fogo eterno, preparado para os que não vivem castamente e conforme a reta razão.” (II Apologia 2, 2)

No princípio, Deus criou livres tanto os anjos como o gênero humano e, por isso, receberam com justiça o castigo de seus pecados no fogo eterno.” (II Apologia 6, 4)

Eles receberam merecido tormento e castigo, aprisionados no fogo eterno. Se eles agora são vencidos pelos homens em nome de Jesus Cristo, isso é aviso do futuro castigo no fogo eterno que os espera, juntamente com aqueles que os servem. Todos os profetas anunciaram isso de antemão e isso também nos ensinou o nosso mestre Jesus.” (II Apologia 7, 4-5)

E não se oponham a que costumam dizer os que se têm por filósofos, que não são mais que apenas ruído e espantalhos o que afirmamos sobre a punição que os ímpios devem sofrer no fogo eterno” (II Apologia 9)

mas Deus poderosamente as tirará de nós, quando ressuscitar a todos, tornando uns incorruptíveis, imortais, isentos de dor e colocando-os em seu reino eterno e indestrutível, e enviando outros para o suplício do fogo eterno.” (Diálogo Com Trifão 117)

A imortalidade da alma

Justino também é categórico ao afirmar a natureza imortal da alma. Mortalistas tentam usar são Justino como defensor da mortalidade da alma e ainda dizem que Justino acreditava que a imortalidade da alma vinha dos pagãos, sendo que o próprio Justino atesta que ambas as doutrinas eram cridas pelos gregos:

E Platão sustenta fortemente que toda a alma é imortal. Mas Aristóteles, nomeando-a “a realidade”, diz que ela teria de ser mortal, não imortal. E o primeiro diz que ela está sempre em movimento; mas Aristóteles diz que é imóvel, uma vez que deve preceder todo o movimento.(Exortatório dirigido aos gregos – 6).

Justino ainda diz que o que os filósofos falaram sobre a imortalidade da alma se aproveitaram dos profetas, só que em partes deturparam o pensamento dos profetas:

Em geral, tudo o que os filósofos e poetas disseram sobre a imortalidade da alma e da contemplação das coisas celestes, aproveitaram-se dos profetas, não só para poder entender, mas também para expressar isso. Daí que parece haver em todos algo como germes de verdade. Todavia, demonstra-se que não o entenderam exatamente, pelo fato de que se contradizem uns aos outros.” (Apologia I, 44)

Outras passagens:

Por fim, se há coisas que dizemos de maneira semelhante aos poetas e filósofos que estimais, e outras de modo superior e divinamente, e somos os únicos que apresentamos demonstração, por que se nos odeiam injustamente mais do que a todos os outros? Assim, quando dizemos que tudo foi ordenado e feito por Deus, parecerá apenas que enunciamos um dogma de Platão; ao falar sobre conflagração, outro dogma dos estóicos; ao dizer que são castigadas as almas dos iníquos que, ainda depois da morte, conservarão a consciência, e que as dos bons, livres de todo castigo, serão felizes, parecerá que falamos como vossos poetas e filósofos; que não se devem adorar obras de mãos humanas, não é senão repetir o que disseram Menandro, o poeta cômico, e outros com ele, que afirmaram que o artífice é maior do que aquele que o fabrica.” (I Apologia 21, 1)

Vede o fim que tiveram os imperadores que vos precederam: todos morreram de morte comum. Se a morte terminasse na inconsciência, seria uma boa sorte para todos os malvados. Admitindo, porém, que a consciência permanece em todos os nascidos, não sejais negligentes em convencer-vos e crer que essas coisas são verdade. De fato, a necromancia, o exame das entranhas de crianças inocentes, as evocações das almas humanas e os que são chamados entre os magos de espíritos dos sonhos e espíritos assistentes, os fenômenos que acontecem sob a ação dos que sabem essas coisas devem persuadir-vos de que, mesmo depois da morte, as almas conservam a consciência. Do mesmo modo, poderíamos citar os que são arrebatados e agitados pelas almas dos mortos, aos quais todos chamam de possessos ou loucos; aqueles que entre vós são chamados de oráculos de Anfiloco, de Dodona, de Piton e outros semelhantes; 5as doutrinas de escritores como Empédocles e Pitágoras, Platão e Sócrates, aquela caverna de Homero, a descida de Ulisses para averiguar essas coisas, e outros que disseram coisas parecidas. Recebei-nos, portanto, pelo menos de modo semelhante a esses, pois não cremos menos do que eles em Deus e sim mais do que eles: esperamos recuperar nossos próprios corpos depois de mortos e enterrados, porque dizemos que para Deus não há nada impossível.” (I Apologia 18, 1)

Ele me perguntou: — Qual é a nossa semelhança com Deus? Será QUE A ALMA É DIVINA E IMORTAL, uma partícula daquela soberana inteligência, e como aquela vê a Deus, também é possível para a nossa compreender a divindade e gozar a felicidade que dela provém?

Eu respondi: — SEM DÚVIDA NENHUMA.

Ele continuou: — E todas as almas dos seres vivos têm a mesma capacidade? Ou a alma dos homens é diferente da alma de um cavalo ou de um jumento?

Eu respondi: — Não há nenhuma diferença. Elas são as mesmas em todos.

Então ele concluiu: — Logo, os cavalos e os asnos também vêem a Deus ou já o terão visto!

Repliquei: — Não. Nem mesmo muitos homens o vêem. Para isso, é preciso que se viva com retidão, depois de se purificar com a justiça e todas as outras virtudes.

Ele continuou: — Então o homem não vê a Deus por causa de sua semelhança com ele, nem porque tem inteligência, mas porque é sensato e justo.

Eu respondi: — Exatamente. E porque tem capacidade para entender a Deus.

Então ele perguntou: — Muito bem. Será que as cabras e ovelhas cometem injustiça contra alguém?

Eu contestei: — De modo nenhum.

Ele replicou: — Então, segundo o teu raciocínio, também esses animais verão a Deus.

Eu respondi: — Não. Porque o corpo deles, segundo a sua natureza, os impede.

Ele me interrompeu: — Se esses animais recebessem voz, talvez com muito maior razão prorromperiam em injúrias contra o nosso corpo. Todavia, deixemos esse assunto e aceitemos o que dizes. Dize-me apenas uma coisa: a alma vê a Deus enquanto está no corpo ou quando está separada dele?

Eu respondi: — É possível para ela, mesmo estando na forma humana, chegar a isso por meio da inteligência. Contudo, desligada do corpo e tornada ela mesma, é aí então que ela alcança tudo aquilo que almejou durante todo o tempo.” (Diálogo Com Trifão)

Também é um fato que são Justino admitia que a alma poderia eventualmente morrer no que diz respeito a Deus querer que ela morra, mas isso não era condição geral que todas as almas iriam morrer, dependia de Deus escolher ou não. Como diz o próprio Justino em sua apologia já citada acima, se simplesmente desaparecessem, isso seria um bom alívio para os maus, que praticariam todo o mal e por fim desapareceriam

Para ele a alma não tinha uma natureza imortal per si, mas que dependia de Deus, ao contrário dos gregos que criam que a alma não dependia de Deus para sua imortalidade:

Outros, supondo que a alma é imortal e incorpórea, acham que nem mesmo praticando o mal, sofrerão algum castigo, pois o incorpóreo é impassível e, sendo a alma imortal, não precisam de Deus para nada.(Diálogo Com Trifão 1)

Portanto, esses filósofos nada sabem sobre essas questões, pois não são capazes de dizer

sequer o que é a alma.

— Parece que não sabem.

— Tampouco, se pode dizer que ela seja imortal, porque, se é imortal, é claro que deva ser incriada.

Eu lhe disse:

— De fato alguns, chamados platônicos, a consideram incriada e imortal.

Ele perguntou:

— Tu também consideras o mundo incriado?

— Alguns dizem isso, mas eu não tenho a mesma opinião.

— Fazes muito bem. Com efeito, por qual motivo um corpo tão sólido, resistente, composto e variável e que a cada dia morre e nasce, procederia de algum princípio? Todavia, se o mundo é criado, forçosamente as almas também o serão e haverá um momento em que elas não existirão. De fato, foram feitas por causa dos homens e dos outros seres vivos, ainda que digas que elas foram criadas completamente separadas e não junto com seus próprios corpos.

— Parece que é exatamente assim.

— Então são imortais.

Não, uma vez que o mundo se manifesta como criado. Contudo, eu não afirmo que todas as almas morram. Isso seria uma verdadeira sorte para os maus. Digo, então, que as almas dos justos permanecem num lugar melhor e as injustas e más ficam em outro lugar, esperando o tempo do julgamento. Desse modo, as que se manifestaram dignas de Deus não morrem; as outras são castigadas enquanto Deus quiser que existam e sejam castigadas.(Diálogo Com Trifão 5, 1-2)

Portanto, como se com uma boca e uma língua, eles têm a sucessão, e em harmonia uns com os outros, nos ensinaram tanto a respeito de Deus, a criação do mundo, a formação do homem, acerca da imortalidade da alma do ser humano, o julgamento que é para ser depois desta vida, e acerca de todas as coisas que são necessárias para nós sabermos, e, assim, em várias épocas e lugares nos proporcionaram a instrução divina”. (Exortatório dirigido aos gregos – 8)

Alegações

Uma citação que chama atenção é uma usada por “aniquilacionistas” está no capítulo 80, na qual alegam que ele está dizendo que ninguém vai para o céu após a morte:

Além disso, eu indiquei-lhe que há alguns que se consideram cristãos, mas são ímpios, hereges, ateus, e ensinam doutrinas que são em todos os sentidos blasfemas, ateístas e tolas. Mas, para que saiba que eu não estou sozinho em dizer isso a você, eu elaborarei uma declaração, na medida em que puder, de todos os argumentos que se passaram entre nós, em que eu devo registrá-las, e admitindo as mesmas coisas que eu admito a você. Pois eu opto por não seguir a homens ou a doutrinas humanas, mas a Deus e as doutrinas entregues por Ele. Se vós vos deparais com supostos Cristãos que não façam esta confissão, mas ousem também vituperar o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, e neguem a ressurreição dos mortos, sustentando antes, que no ato de morrer, as suas almas são elevadas ao céu, não os considereis Cristãos. Mas eu e os outros, que somos cristãos de bem em todos os pontos, estamos convictos de que haverá uma ressurreição dos mortos, e mil anos em Jerusalém, que será construída, adornada e alargada, como os profetas Ezequiel e Isaías e outros declaram.” (Diálogo com Trifão, Capitulo 80)

Aqui não há nada em favor de mortalidade da alma. O que parece sugerir para eles é o que são Justino fala:

e neguem a ressurreição dos mortos, sustentando antes, que no ato de morrer, as suas almas são elevadas ao céu, não os considereis Cristãos.

O que Justino escreve é que os pagãos negavam a ressurreição dizendo que as almas iam para o céu imediatamente (sem julgamento), coisa que é uma heresia obviamente, e o fato de irem para o céu não implica que não haverá ressurreição, mas o que é que são Justino rebate? Só que haverá ressurreição:

as eu e os outros, que somos cristãos de bem em todos os pontos, estamos convictos de que haverá uma ressurreição dos mortos, e mil anos em Jerusalém, que será construída, adornada e alargada, como os profetas Ezequiel e Isaías e outros declaram

Justino não rebate absolutamente nada que as almas não vão para os céus, só rebate a afirmação dos gregos de que não haverá ressurreição! Somente. Essa é a comum tática de hereges, comparar uma doutrina cristã ortodoxa com alguma doutrina pagã, para poder desmerecer a doutrina ortodoxa, então pegam o diálogo em que Justino está criticando a forma em que os gregos criam que a alma era imortal para imputar isso na doutrina cristã ortodoxa da imortalidade da alma.

São Justino em toda a sua obra só refuta como os gregos criam que a alma era imortal e que ela não poderia ser destruída de modo algum, e que não dependia de Deus para sobreviver, então ele rebate isso dizendo que se Deus quiser, a alma pode morrer e o homem deixar de existir, ou seja ele não está falando que toda alma deixa de existir quando morre, e sim que Deus pode fazer com que ela deixe de existir, contrariando o ensinamento grego que dizia que a existência da alma independe de Deus e que ela é eterna sem Deus. Vamos ao seu relato, onde ele diferencia a crença cristã da pagã e espirita:

Vede o fim que tiveram os imperadores que vos precederam: todos morreram de morte comum. SE A MORTE TERMINASSE NA INCONSCIÊNCIA, SERIA UMA BOA SORTE PARA TODOS OS MALVADOS. ADMITINDO, PORÉM, QUE A CONSCIÊNCIA PERMANECE EM TODOS OS NASCIDOS, não sejais negligentes em convencer-vos e crer que essas coisas são verdade.” (Apologia I, 18)

Outra citação apresentada por mortalistas está no capítulo 6 de seu diálogo:

De modo semelhante, chegando o momento em que a alma tenha que deixar de existir, o espírito vivificante se afasta dela e a alma deixa de existir, voltando novamente para o lugar de onde tinha sido tomada.” (Diálogo Com Trifão 6, 1)

Não se sabe se é por desonestidade ou mesmo por puro desconhecimento das obras de Justino, mas esta citação não é de dele e sim de Trifão que acreditava na mortalidade da alma, portando a citação que seria “a mais clara opinião sobre a mortalidade da alma”, não é uma frase de São Justino, e sim de Trifão.

A próxima citação é:

Velho: E todas as almas de todos os seres vivos podem compreendê-Lo? Ou são as almas dos homens de um tipo e as almas dos cavalos e de jumentos de outro tipo? Justino: Não. Mas as almas que estão em todos são semelhantes.” (Capítulo 4)

Aqui retiram o diálogo do contexto para lhe favorecer e dizer que ele acreditava que a alma do home era igual a dos animais, porém algumas linhas antes disso, Justino claramente está afirmando que os animais são diferentes, são iguais apenas no quesito sensitivo:

Ele me perguntou: — Qual é a nossa semelhança com Deus? Será QUE A ALMA É DIVINA E IMORTAL, uma partícula daquela soberana inteligência, e como aquela vê a Deus, também é possível para a nossa compreender a divindade e gozar a felicidade que dela provém?

Eu respondi: — SEM DÚVIDA NENHUMA”.

Aqui Trifão pergunta a São Justino se a alma é divina e imortal e uma partícula da inteligência divina e o que ele responde? “Sem Dúvida Nenhuma”. Por que será escondem a parte anterior do texto que citam?

A continuação do versículo é esta:

Ele continuou: — E todas as almas dos seres vivos têm a mesma capacidade? Ou a alma dos homens é diferente da alma de um cavalo ou de um jumento?

Eu respondi: — Não há nenhuma diferença. Elas são as mesmas em todos.

Então ele concluiu: — Logo, os cavalos e os asnos também vêem a Deus ou já o terão visto!

Repliquei: — Não. Nem mesmo muitos homens o vêem. Para isso, é preciso que se viva com retidão, depois de se purificar com a justiça e todas as outras virtudes.

Ele continuou: — Então o homem não vê a Deus por causa de sua semelhança com ele, nem porque tem inteligência, mas porque é sensato e justo.

Eu respondi: — Exatamente. E porque tem capacidade para entender a Deus.

Então ele perguntou: — Muito bem. Será que as cabras e ovelhas cometem injustiça contra alguém?

Eu contestei: — De modo nenhum.

Ele replicou: — Então, segundo o teu raciocínio, também esses animais verão a Deus.

Eu respondi: — Não. Porque o corpo deles, segundo a sua natureza, os impede.

Ele me interrompeu: — Se esses animais recebessem voz, talvez com muito maior razão prorromperiam em injúrias contra o nosso corpo. Todavia, deixemos esse assunto e aceitemos o que dizes. Dize-me apenas uma coisa: a alma vê a Deus enquanto está no corpo ou quando está separada dele?

Eu respondi: — É possível para ela, mesmo estando na forma humana, chegar a isso por meio da inteligência. Contudo, desligada do corpo e tornada ela mesma, é aí então que ela alcança tudo aquilo que almejou durante todo o tempo. (Diálogo Com Trifão)

Por fim, não existe uma citação sequer em todas as obras de Justino que sugiram que ele cria na mortalidade da alma ou algum tipo de aniquilacionismo inerente a alma, todas as citações apresentadas por aniquilacionistas, se resumem em texto fora do contexto, má interpretação das palavras de São Justino e desconhecimento da filosofia desde santo.

São Justino acreditava que a alma criada por Deus era imortal, mas em suma dependia de Deus para a sua eternidade, se Deus quisesse em algum momento mata-la ele faria, em contrapartida dos gregos. Como ele diz em sua apologia, se a alma morresse seria uma boa jogada para os ímpios, fariam tudo de mal e no fim simplesmente desapareceriam, seriam aniquilados e pronto. Isso seria muito conveniente para ateus, homicidas, e todo tipo de sujeito perverso do mundo, não teria porque ser santo, já que não seriamos punidos por sermos perversos, simplesmente desapareceríamos, igual a alguém que se mata para se livrar do tormento da depressão.

Justino mudou de opinião/doutrina?

Alguns mortalistas depois de dizerem que São Justino era “ferrenho defensor” da heresia da mortalidade da alma, vendo-se sem saída e sem como negar suas claras declarações sobre a imortalidade da alma em sua apologia, argumentam que Justino “mudou” de opinião a respeito do destino da alma após a morte, passando de imortalista na sua primeira apologia para mortalista no diálogo com Trifão. Argumentação muito estranha para quem diz que a doutrina da imortalidade da lama, entrou na Igreja no fim do século II, sendo que Justino converteu-se por volta de 130 d.C.

Primeiro de tudo, se Justino mudou de opinião foi justamente ao contrário, já que seu Diálogo com Trifão é anterior as Apologias. J. Tixeront no seu Manual de Patrologia informa quando Justino teve seu Diálogo com Trifão:

O terceiro trabalho de São Justino que possuímos é o Diálogo com Trifão. Neste livro não é mais uma questão de defesa dos cristãos contra os seus perseguidores pagãos; mas para convencer os judeus da messianidade de Jesus Cristo e da verdade da sua religião. Trifão é um rabino erudito, com quem Justino é suposto ter tido uma longa disputa em Éfeso, por volta de 132-135, de tal disputa o Diálogo professa ser uma reprodução exata. Não se pode dizer com certeza se o debate realmente teve o ritmo ou se Justino descreve apenas uma luta imaginária, para expor suas idéias. É evidente, no entanto, que os argumentos e réplicas não eram exatamente aquelas que Justino dá. Nelas encontramos, sumariamente, as diferentes posições tomadas por Justino e as provas que ele faz uso em sua controvérsia com os judeus.” (Manual de Patrologia de J. Tixeront – Página 38)

Isto é o que é confirmado por Eusébio de Cesaréia na História Eclesiástica:

Compôs ainda o Diálogo com os judeus, travado na cidade de Éfeso, com Trifão, o mais famoso dos hebreus daquele tempo. Neste diálogo, revela de que modo a graça divina o impeliu à doutrina da fé, o zelo que anteriormente empregara por conhecer as disciplinas filosóficas, e a busca ardorosa da verdade a que se dera.” (História Eclesiástica – Livro IV, 18, 6)

Assim, o seu diálogo com Trifão aconteceu em Éfeso, antes de ir para Roma e antes de escrever a primeira Apologia. Sua apologia é dedicada ao Imperador Antonino, que governou entre 138-161. Sua a apologia pode ser datada internamente a partir da declaração de Justino no capítulo 6 que “Cristo nasceu 150 anos atrás, sob Quirino”. Uma vez Quirino entrou no escritório no ano 6 d.C segundo Josefo, A apologia pode ser datada do ano de 156 d.C.

O mesmo J. Tixeront afirma que a data de inscrição da I Apologia foi entre 150 e 155, ou seja, se formos por este autor a Apologia foi entre 15 a 20 anos após o Diálogo com Trifão:

A Primeira Apologia é dirigida ao Antonino Pio, Marco Aurélio e Lúcio Vero, ao Senado e todo o povo romano. Antonino Pio reinou de 138 a 161 d.C, mas uma série de indicações no texto do discurso nos levam a concluir que ela foi escrita entre 150 e 155. Ao que tudo indica ele foi escrito em Roma.” (Manual de Patrologia de J. Tixeront – Pagina 37)

É o que também confirma Ramon Trevijano em sua Patrologia:

Nós temos apenas três, embora ouvimos falar de obras perdidas e temos recebido as espúrias. Justino escreveu a Apologia entre 145 e 155, provavelmente após 151. É dirigida aos regentes Antonino Pio, Marco Aurélio, Lúcio Vero, ao Senado e o povo. (Patrologia de Ramon Trevijano – Página 112 – Editora BAC).

Seguindo a lógica aniquilacionista, a Igreja já estava paganizada com Justino em 130 d.C, bem antes da metade do século II, e não havia ninguém ali para avisar Justino até esse momento, passou-se quase 25 anos acreditando em um coisa, que supostamente surgiu depois dele dentro da Igreja. É estranho pensar como Justino se converteu em 130 e passou anos sem que ninguém tenha-o ensinado a doutrina cristã correta, até que de repente, após 155 d.C ele supostamente muda repentinamente de opinião, sem que faça qualquer tipo de comentário sobre sua mudança, mesmo sempre criticando os filósofos gregos. Há realmente quem acredite nisto.

Sobre a data da segunda Apologia Tixeront comenta:

A Segunda Apologia é dirigida ao Senado. É muito mais curta do que a primeiro e deve ter sido escrita logo após a última (c. 155, no máximo), embora não seja de modo algum, uma mera continuação da mesma. Ela foi escrito em Roma na seguinte ocasião. Uma mulher cristã tinha se separado de seu marido pagão, um Debauche, que, para vingar-se, denunciou seu catequista, Ptolomeu, que foi condenado à morte com dois outros cristãos por ordem de Urbicus, prefeito de Roma (144-160). “(Manual de Patrologia de J. Tixeront – Página 38).

A única coisa que poderia sustentar a argumentação aniquilacionista seria o fato de que no capítulo 120 do Diálogo com Trifão, Justino fala de uma carta que escreveu ao imperador, o que alguns autores como Johannes Quasten identificam como sendo a Primeira Apologia, daí conclui que a data de inscrição do Diálogo poder ser em alguma hipótese posterior a Primeira apologia e antes da Segunda. Só que mesmo que admitamos que a data de Inscrição do Diálogo é posterior a primeira apologia, a seu Diálogo real com Trifão foi em no máximo em 135 d.C quando ele ainda estava em Éfeso, antes da Primeira Apologia, portanto somente a reprodução escrita no papel do diálogo poderia ser posterior (se fosse provado), mas o diálogo de fato ocorreu bem antes, o que é a opinião do especialista Ramon Trevijano:

Diálogo com Trifão é uma defesa contra o Judaísmo. Ele compôs a obra antes de160 d.C, na memória de uma discussão original com o judeo helenista professor Trifão logo após 132 d.C. Justino conhecia crenças e práticas do judaísmo pós-bíblico e mostra estar ciente dos métodos judaicos da exegese e interpretação e dá uma lista de seis grupos heréticos judaicos.” (Patrologia de Ramon Trevijano – Página 113)

Justino diz a Trifão que transcreveria fielmente todos os argumentos, então em sua apologia ele reproduz seus argumentos e opinião que tinha em 132 d.C:

Quanto a mim, para que saibais que não digo isso apenas diante de vós, penso compor, conforme a minha possibilidade, um resumo de todos os argumentos que vos apresentei. Nele escreverei que confesso a mesma coisa que digo diante de vós. De fato, eu não me disponho a seguir homens ou ensinamentos humanos, mas a Deus e aos ensinamentos que dele provêm.” (Diálogo Com Trifão – Capítulo 80)

Portanto se Justino tivesse ensinado “mortalidade da alma” em seu Diálogo com Trifão, e tivesse mudado de opinião, sua mudança de opinião seria contrária ao que pensam os mortalistas. Logo a tentativa de escape mortalista por causa de seus ensinamentos claros na I Apologia, são totalmente frágeis.

Para que não reste dúvida sobre a doutrina de São Justino, acrescentamos mais esta citação que comprova nitidamente que para ele a alma sobrevive após a morte corporal.

O Salmo continua: “Tu, porém, Senhor, não afastes de mim a tua ajuda, atende à minha proteção. Livra minha alma da espada e a minha unigênita da pata do cão. Salva-me das fauces do leão e dos chifres dos unicórnios, a minha humilhação”. Tudo isso é ensinamento e anúncio do que nele tem e teve de acontecer. De fato, como já indiquei, tal como aprendemos pelas Memórias, ele é o unigênito do Pai do universo, particularmente nascido deste como Verbo e Potência, e depois nascido da Virgem como homem. Também estava predito que ele morreria crucificado. Com efeito, as palavras: “Livra minha alma da espada e a minha unigênita da pata do cão. Salva-me das fauces do leão e dos chifres dos unicórnios, a minha humilhação”, davam igualmente a entender qual era o suplício pelo qual ele deveria morrer, isto é, pela cruz. Já antes vos interpretei que os chifres do unicórnio somente podem aludir à forma da cruz. Ao pedir que livrasse sua alma da espada, da boca do leão e da pata do cão, estava pedindo que ninguém se apoderasse de sua alma, a fim de que nós, ao chegarmos ao fim de nossa vida, peçamos o mesmo Deus, o qual pode afastar de nós todo anjo impiedoso e mau, para que não se apodere de nossa alma. Já vos demonstrei que as almas sobrevivem através do fato de que a alma de Samuel foi evocada pela pitonisa, como Saul lhe havia predito. Daí se vê que todas as almas de homens tão justos e profetas como Samuel podem cair sob o poder de potências semelhantes àquela que operava na pitonisa e pelos próprios fatos temos que confessar isso. Por isso, Deus nos ensinou por seu próprio Filho a lutar com todas as nossas forças para sermos justos e pedir, ao sair deste mundo, que nossa alma não caia em poder de nenhuma potência semelhante. Assim, no momento de entregar seu espírito sobre a cruz, ele disse: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”, como se sabe pelas Memórias. Ele também exortava seus discípulos a superar a conduta dos fariseus, pois do contrário não se salvariam. Nas Memórias está escrito que ele disse: “Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus”. (Diálogo com Trifão, cap. 105)

A citação é muito clara, não obstante, vale referir o que diz Berthold Altaner sobre a doutrina de São Justino sobre a alma, confirmando a nossa posição:

Doutrina… 5. A Alma humana possui também certa corporeidade; vive ela, não por ser vida (como Deus), mas por participar da Vida (Dial. 6). Depois da morte, as almas todas, excetuando-se as dos mártires, vão ao Hades, onde permanecerão até o fim do mundo; todavia, os bons já estão separados dos maus e cada uma das categorias, na previsão de seu futuro destino, é feliz ou infeliz (Dial. 5). Segundo a teoria expressa de Justino, a crença de que as almas entram no céu imediatamente depois da morte, equivale à negação da ressurreição dos mortos (Dial. 80). Cristo, depois de sua morte, desceu ao Hades, ou seja, para junto das almas dos justos da Antiga Aliança (Dial. 45; 72, 4; 99). Justino era, como Papias, milenarista; confessa, contudo, que certos cristãos ortodoxos não aderem a esta doutrina, tendo-os, porém, “por cristãos não integrais, sob todos os pontos de vista” (Dial. 80s).(Patrologia, Vida, Obras e Doutrina dos Padres da Igreja, Berthold Altaner – Alfred Stuiber, 1972, Edições Paulinas, p. 80)

Basta dizer que alguns protestantes têm problemas sérios com exegese e distorcem as Escrituras, o que acompanha distorções, trucagens dos Padres da Igreja, dos quais nós testemunhamos um bom exemplo acima.

TEÓFILO DE ANTIOQUIA


Sexto bispo de Antioquia, segundo Eusébio de Cesaréia e São Jerônimo. Conservaram-se apenas 3 livros escritos aproximadamente pelo ano de 180 d.A. (A Autólico).

As palavras de Teófilo sobre o tormento eterno no inferno

Para aqueles que, segundo suas forças, buscam a incorruptibilidade através das boas obras, ele dará a vida eterna, a alegria, a paz, o descanso e uma multidão de bens, que nenhum olho viu, nenhum ouvido e nenhum coração humano sentiu; mas aos incrédulos, aos zombadores e aos que desobedecem à verdade e seguem a injustiça, depois de manchar-se com adultérios, fornicações, pederastias, avarezas e sacrílegas idolatrias, para esses, existirá a ira e a indignação, a tribulação e a angústia, e, por fim o fogo eterno se apoderará deles.” (Carta a Autólico Livro I 14)

Sobre imortalidade da alma:

Para mostrar-nos a formação do homem e para que não parecesse um problema insolúvel aos homens Deus ter dito: “Façamos o homem” e não nos ter mostrado sua criação, a Escritura nos ensina, dizendo: “E uma fonte subia da terra e regava toda a face da terra, e Deus formou o homem do pó da terra, e lhe insuflou alento de vida em seu rosto, e o homem foi feito alma vivente. É por isso que a alma é chamada imortal. Depois de ter formado o homem, Deus escolheu um lugar pelas bandas do Oriente, excelente por sua luz, iluminado por um ar mais brilhante, adornado com as mais belas plantas, e aí Deus colocou o homem.” (Carta a Autólico Livro II, 19)

Existem citação de sua obra as quais aniquilacionistas fazem uso para provar sua doutrina herética, são elas

Quando depuseres a mortalidade e te revestires da incorruptibilidade, verás a Deus de maneira digna. Com efeito, Deus ressuscitará a tua carne, imortal, juntamente com tua alma. Então, tornado imortal, verás o imortal, contanto que agora tenhas fé nele. Então reconhecerás que falaste injustamente contra ele.” (Carta a Autólico – Livro I, 7)

E Deus o transportou da terra da qual fora criado para o jardim, dando-lhe ocasião de progresso, para que crescendo e chegando a ser perfeito e até declarado deus, subisse então até o céu, possuindo a imortalidade, pois o homem foi criado como ser intermédio, nem completamente mortal nem absolutamente imortal, mas capaz de uma e outra coisa, assim como seu lugar, o jardim, se considerarmos a sua beleza, é lugar intermédio entre o mundo e o céu.” (Carta a Autólico Livro III, 25)

Poder-se-á dizer: “O homem não foi criado mortal por natureza?” De jeito nenhum. “Então foi criado imortal?” Também não dizemos isso. “Então não foi nada?” Também não dizemos isso. O que afirmamos é que por natureza não foi feito nem mortal, nem imortal. Porque se, desde o princípio, o tivesse criado imortal, o teria feito deus; por outro lado, se o tivesse criado mortal, pareceria que Deus é a causa da morte. Portanto, não o fez mortal, nem imortal, mas, como dissemos antes, capaz de uma coisa e de outra. Assim, se o homem se inclinasse para a imortalidade, guardando o mandamento de Deus, receberia de Deus o galardão da imortalidade e chegaria a ser deus; mas se se voltasse para as coisas da morte, desobedecendo a Deus, seria a causa da morte para si mesmo, porque Deus fez o homem livre e senhor de seus atos.” (Carta a Autólico, Livro II, 27)

Nenhum destas passagens mostra que ele cria que a alma morria ou era aniquilada, o que ele fala como “morrer” da alma, deve ser entendido em conformidade com o que ele ensina sobre o inferno. Para ele a “morte da alma” era como a eterna de condenação, o apartamento total da vida glóriosa com Deus e não uma aniquilação da alma como presumem os “desavisados” que passam ao largo de seu ensinamento sobre o inferno eterno.

ORÍGENES


Orígenes foi escritor eclesiástico, teólogo e comentarista bíblico. Viveu em Alexandria até o ano 231, passando os últimos 20 anos de sua vida em Cesaréia Marítima (Palestina) e viajando pelo Império Romano. Foi o maior mestre de doutrina cristã de seu tempo e exerceu extraordinária influência como intérprete da Bíblia.

Aquele que é abandonado, o é, pois, em razão de um julgamento divino, e não é sem razão que Deus tem paciência com certos pecadores, porque será para eles um benefício, considerando a imortalidade da alma e a eternidade sem fim, não receber imediatamente o auxílio para sua salvação, mas de lá serem conduzidos mais lentamente depois de terem sofrido muitos males.” (Tratado Sobre os Princípios, 3, 1:13)

Vê se, além do nosso trabalho de busca, não lutamos também para nos conservar piedosos diante de Deus e do seu Cristo, procurando explicar completamente, em matérias tão importantes, a providência variada de Deus, quando se encarrega da alma imortal. A respeito daqueles que são repreendidos, pode-se perguntar se eles não tiraram proveito à vista dos milagres e da audição das palavras divinas (…)” (Tratado Sobre os Princípios, 3, 1:17)

Portanto, pensamos que, como já dissemos muitas vezes, sendo a alma eterna e imortal, lhe é possível, através de muitos e infindáveis espaços de séculos imensos e diversos, ou descer do bem supremo até o mal mais inferior, ou então subir do último dos males até o bem supremo.” (Tratado sobre os Princípios 3, 1 23)

Anos mais tarde outra condenação veio para aqueles que negavam o inferno Eterno no IV Concílio Ecumênico de Constantinopla, no qual também Orígens foi condenado pela doutrina da preexistência da alma.

O CONCÍLIO DE BOSTRA (246 d.C)


Em meados do século III, surgiu uma heresia que acreditava, tal qual os mortalistas atuais, que após a morte do corpo, a alma “morria”, “perecia” ou entraria em uma espécie de “sono” e ressuscitaria com o corpo no fim dos tempos para o julgamento final. O Historiador Thomas Wright em seu livro “Early Christianity in Arabia” em português “Cristandade Primitiva na Arábia”, nos informa de onde surgiu a perigosa heresia do sono da alma:

A Arábia foi notada como a mãe de uma perigosa heresia, que ensinou que as almas expiravam e sofriam corrupção com o corpo, e que na ressurreição geral ambos seriam revividos juntos”. (WRIGHT, Early Christianity in Arabia Pg. 74)

Foi então que reuniu-se na cidade de Bostra na Arábia um concílio com os bispos da região, os quais solicitaram a presença de Orígenes. Eusébio de Cesaréia nos fala desta heresia, e mostra que até então ninguém acreditava nela, e ainda sinaliza que Orígenes conseguiu convencer os hereges de seus erros:

Apareceram ainda, na Arábia, no tempo a que nos referimos, introdutores de uma doutrina alheia à verdade. Asseveravam que a alma humana neste mundo, no momento final provisoriamente morre com o corpo, e com ele se corrompe, mas no futuro, por ocasião da ressurreição, com ele reviverá. Então, foi convocado um importante concílio. Orígenes novamente foi chamado, e após ter discursado perante a assembléia sobre a questão disputada, saiu-se de tal forma que alterou o modo de pensar dos que primeiramente haviam sido iludidos.” (História Eclesiástica Livro VI, 37)

Alguns autores sugerem que o grupo herético não acreditava que a alma morria ou era aniquilada, mas somente que ficava em estado inconsciente e de sono, uma morte temporária entre a morte corporal e o julgamento final, quando então seriam ressuscitadas, o que também é crido por aniquilacionistas, com a diferença que depois da ressurreição pra os últimos a alma dos maus desaparece. Esta heresia é bem comum entre alguns grupos protestantes atuais, que apesar de não acreditarem que a alma morre como os aniquilacionaistas, acreditam na inconsciência temporária ou “sono da alma”.

A enciclopédia Católica também nos fala sobre o ocorrido:

Em 246 e 247 dois concílios foram realizados em Bostra na Arábia contra Beryllus, Bispo da Sé, e outros que mantinham com ele que a alma perececia e ressuscitava novamente com o corpo. Orígenes estava presente nestes sínodos, e convenceu estes hereges de seus erros.” (Enciclopédia Católica – Concílios da Arábia)

Também o famoso historiador protestante Adolf Harnack em seu livro “Mission und Ausbreitung des Christentums” de 1902 nos conta sobre esta heresia. Outra referência é Baronius nos Anais Eclesiásticos seção 6-8.

TACIANO (175 D.C)


Taciano foi um escritor cristão do século II, um ex-discípulo de São Justino e fundador da seita do encratismo. Sua vida e doutrina são conhecidas por escritores posteriores a ele como Irineu, Clemente de Alexandria e Eusébio. Estes denunciam-no como um discípulo do gnóstico Marcião e fundador e inspirador do encratismo. Esta doutrina fundada por Taciano, rejeitava o casamento, condenava o uso da carne de todas as formas e chegou a substituir o vinho pela água na eucaristia. Por isso seus seguidores foram chamados Aquarii.

Mesmo Taciano não podendo ser usado para provar nenhuma doutrina cristã, visto que era declaradamente herege, muitos aniquilacionaistas, também usam seus escritos para “provarem” sua heresia. Não nos importa muito o testemunho de Taciano, porém suas duas obras “Discurso contra os Gregos” e o “Diatessaron” servem para conhecer um pouco da Igreja primitiva. Assim sendo mostraremos qual a doutrina de Taciano e que nem mesmo um herege serve de base para provar a doutrina herética da mortalidade da alma.

O pensamento básico de Taciano pode-se resumir da seguinte maneira:

1 – A alma do homem não é feita mortal nem imortal por natureza.

2 – O termo “morte” não é utilizado para significar “desaparecimento”

3 – Quando o corpo morre a alma também entra em uma espécie de “sono”, tal qual a seita árabe.

4 – Na ressurreição tanto os maus quanto os bons ressuscitarão e receberão a imortalidade para gozo ou punição, isto aqui é o que mata os aniquilacionaistas ao usarem suas obras.

Passemos então a demonstração nas obras de Taciano.

1 – Tanto a alma dos bons quanto a dos maus receberão a imortalidade depois da ressurreição:

É fato que eles não morrem facilmente, pois não têm carne; mas, vivendo, praticam ações de morte, e também eles morrem tantas vezes quantas ensinam a pecar aqueles que os seguem. Portanto, a vantagem que agora têm sobre os homens, isto é, não morrer de modo semelhante a eles, esse mesmo fato lhes será mais amargo quando chegar a hora do castigo, pois não terão parte na vida eterna participando dela, em lugar da morte na imortalidade. E como nós, para quem morrer é agora um acidente tão fácil, receberemos depois a imortalidade junto com o gozo, ou a pena junto com a imortalidade, também os demônios que abusam da vida presente para pecar a todo momento, e que durante a vida estão morrendo, terão depois a mesma imortalidade que os homens que deliberadamente realizaram tudo o que eles lhes impuseram como lei durante o tempo em que viveram. Não digamos nada sobre o fato de que, entre os homens que os seguem, aconteceu menos espécies de pecados por não viverem longo tempo, enquanto nos citados demônios o pecado se prolonga muito mais, em razão do tempo indefinido da sua vida.” (“Discurso contra os Gregos”, XIV)

2 – Para Taciano quando o homem morre a tanto a alma quanto o corpo entram em uma espécie de “sono”, ou melhor se “dissolvem” como ele usa o termo, mas tanto a alma dos bons quanto dos maus ressuscitarão e receberão a imortalidade:

Gregos, a nossa alma não é imortal por si mesma, mas mortal; ela, porém, é também capaz de não morrer. Com efeito, ela morre e se dissolve com o corpo se não conhece a verdade; ressuscita, porém, novamente com o corpo na consumação do tempo, para receber, como castigo, a morte na imortalidade. Por outro lado, não morre, por mais que se dissolva com o corpo, se adquiriu conhecimento de Deus.” (Taciano, o sírio; “Discurso contra os Gregos”, XIII, começo)

Aniquilacionistas costumam citar apenas a primeira frase da citação, que parece apoiar seu ponto de vista, mas ignoram todo o resto onde ele mostra que a alma dos maus receberá imortalidade para “morrer” que é em sua linguagem “sofrer eternamente”

Assim como São Justino, mostra que os gregos também criam na mortalidade da alma, portanto se uma é adotada dos gregos, a outra também o é:

Queres ordenar tua conduta de acordo com Aristóteles, e um discípulo de Demócrito te cobre de injúrias. Pitágoras afirma ter sido Euforbo e é herdeiro da doutrina de Ferecides, enquanto Aristóteles nega a imortalidade da alma.” (“Discurso contra os Gregos”, XXV)

Mostra que a alma se separa do corpo:

Os demônios que dominam os homens não são as almas dos mortos. Com efeito, como podem ser capazes de agir depois de mortos? A não ser que creiamos que, enquanto vive, um homem é ignorante e impotente e, depois que morre, recebe daí para a frente um poder mais eficaz. Isso, porém, não é assim, como já demonstramos em outro lugar, nem é fácil compreender como a alma imortal, impedida pelos membros do corpo, se torne mais inteligente quando se separa dele. Não. São os demônios aqueles que, por sua maldade, se enfurecem contra os homens e, com variadas e enganosas representações, desviam os pensamentos dos homens, já por si inclinados para baixo, a fim de torna-los incapazes de empreender a sua marcha de ascensão para os céus. Mas nem a nós ficam ocultas as coisas do mundo nem a vós será difícil compreender as divinas, contanto que chegue até vós a potência do Verbo que imortaliza a alma.” ( “Discurso contra os Gregos”, XVI)

Embora Taciano pareça dar suporte aos aniquilacionaistas ao falar que “Com efeito, ela morre e se dissolve com o corpo se não conhece a verdade”, isto não é verdade, uma vez que ele mesmo mostra que tanto as almas dos bons quanto dos maus ressuscitarão e receberão imortalidade, tanto para gozo, quanto para punição. Com isso, e em todas as citações apresentadas, nem mesmo o herege Taciano dá qualquer suporte as doutrinas aniquilacionistas.

ATENÁGORAS (180 D.C)


A teologia de Atenágoras é que o homem é composto de corpo mortal e alma imortal, embora criada. Na ressurreição, o corpo se conjuga novamente com a alma, que no período que vai entre a morte e a ressurreição, estivera num estado de torpor. A ressurreição reconstrói, portanto, aquela unidade que constitui o verdadeiro homem.

Sei que com o que eu disse estou defendido diante de vós. De fato, superando a todos por vossa inteligência, sabeis que aqueles que tomam a Deus como regra de vida, para que cada um de nós esteja sem culpa e sem mancha em sua presença, não podem ter, em pensamento, o mais leve pecado, e acreditássemos que nada existe além desta vida presente, poder-se-ia suspeitar que pecássemos, submetendo-nos à servidão da carne e do sangue ou sendo dominados pelo lucro e pelo desejo. Sabendo, porém, como sabemos, que Deus vigia nossos pensamentos e nossas palavras, tanto de dia como de noite, e que ele é todo luz e vê até dentro do nosso coração; acreditando, como cremos, que, ao sair desta vida, viveremos outra melhor, contando que permaneçamos com Deus e por Deus inquebrantáveis e superiores às paixões, com alma não carnal, mas com espírito celeste, embora na carne; ou acreditando que, se cairmos como os demais, espera-nos uma vida pior no fogo (porque Deus não nos criou como rebanhos ou bestas de carga, de passagem, só para morrer e desaparecer); crendo nisso, dizíamos, não é lógico que nos entreguemos voluntariamente ao mal e nos joguemos a nós mesmos nas mãos do grande juiz para sermos castigados.” (Atenágoras, Petição a favor dos Cristãos, 31)

Esses movimentos irracionais e fantásticos da alma geram imagens de frenética idolatria; e quando a alma, delicada e fácil de conduzir, que não ouviu nem tem experiência de sólidas doutrinas, que não contemplou a verdade nem compreendeu o Pai e Criador do universo, se imprime em si essas falsas opiniões sobre si mesma, os demônios que rondam a matéria, gulosos como são de gordura e sangue das vítimas e enganadores dos homens, apoderando-se desses movimentos de falsa opinião das almas do vulgo, fazem que fantasias se infiltrem neles, como se viessem das imagens cujos nomes usurpam, e são eles que colhem a glória do que a alma por si mesma, imortal como é, e se move racionalmente, ora para predizer o futuro, ora para curar o presente.” (Petição a Favor dos Cristãos XXVII)

E esta não a tomamos de modo vão, da fantasia dos homens, iludindo-nos com esperanças mentirosas, mas cremos em quem nô-la garante de modo absolutamente infalível no desígnio de nosso Criador, segundo o qual fez o homem de alma imortal e de corpo, dotou-o de inteligência e lei ingênita para a sua salvação e para a guarda dos preceitos que ele lhe dera, convenientes com uma vida moderada e razoável.” (A ressurreição dos mortos – Capítulo XIII)

Antes de tudo, a natureza dos homens, que nos leva à mesma conclusão e tem a mesma força para esta estabelecer a fé na ressurreição. Agora, como universalmente toda a natureza consta de alma imortal e de corpo que foi adaptado a essa alma no momento da criação; como Deus não destinou tal criação, tal vida e toda a existência à alma por si só ou ao corpo separadamente, mas aos homens, compostos de alma e corpo, a fim de que pelos mesmos elementos dos quais se geram e vivem, cheguem, terminada a sua vida, a um só e comum termo;” (A ressurreição dos mortos – Capítulo XV)

Portanto, nem aquela famosa insensibilidade à dor pode ser fim próprio do homem, pois participariam dela até os que não sentem absolutamente nada, tampouco o gozo daquilo que alimenta ou deleita o corpo com toda a multidão dos prazeres, a não ser que demos a primazia à vida dos animais e sintamos que a virtude não tem nenhum fim. Com efeito, penso que este é o fim próprio dos animais e rebanhos, não, porém, de homens dotados de alma imortal e juízo racional.” (A ressurreição dos mortos – Capítulo XX)

Essa antropologia de Atenágoras é independente e diferente do platonismo, então como poderia os padres terem herdado a imortalidade dos Gregos? Platão acreditava que a alma era imortal e incriada e não dependia de Deus para nada.

IRINEU DE LION (180 d.C)


Santo Ireneu, bispo e mártir. Foi discípulo de São Policarpo que, por sua vez, foi discípulo do Apóstolo São João. Célebre por seu tratado “Contra as Heresias”, onde combate as heresias de seu tempo, em especial as dos gnósticos. Nasceu por volta do ano 130 d.C. e morreu no ano 202 d.C.

Inferno Eterno

a fim de que, segundo o beneplácito do Pai invisível, diante do Cristo Jesus, nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei, todo joelho se dobre nos céus, na terra e nos infernos e toda língua o confesse; e execute o justo juízo de todos: enviando para o fogo eterno os espíritos do mal, os anjos prevaricadores e apóstatas, assim como os homens ímpios, injustos, iníquos e blasfemadores;” (Contra As Heresias Livro I, 10, 1).

E devem dizer de qual dos Éões é imagem aquele fogo eterno que o Pai preparou para o diabo e os seus anjos, porque ele também pertence às coisas criadas.” (Contra as Heresias – Livro II, 7,3)

Para os pecadores está preparado o fogo eterno: Deus o diz expressamente e todas as Escrituras o demonstram. Como demonstram que Deus sabia que isso aconteceria e que desde o princípio o preparou para os transgressores.” (Contra as Heresias Livro II 28, 7)

Se não existissem o mal e o bem, mas fosse somente opinião humana que algumas coisas são justas e outras injustas, nunca teria declarado no seu ensinamento: “Os justos brilharão como o sol no reino de seu Pai”; e os injustos e os que não fazem obras de justiça enviá-los-á ao fogo eterno “onde o seu verme nunca morrerá e o fogo não se apagará”.” (Contra as Heresias Livro II, 31, 1)

Aquele rico que estava no inferno disse que tinha cinco irmãos e pedia que alguém ressuscitado dos mortos fosse avisá-los.” (Contra as Heresias Livro II, 24, 4)

No Novo Testamento, cresceu fé dos homens em Deus, ao receberem o Filho de Deus como um bem adicionado a fim de que os homens tivessem a participação de Deus. Da mesma forma aumentou a perfeição do comportamento humano, pois somos instruídos a abster-se não só d e más ações, mas também dos maus pensamentos (Mt 15,19) de palavras ociosas, expressões vãs (Mt 12, 36) e licenciosos discursos (Ef 5, 04): deste modo também ampliou a punição daqueles que não acreditam na Palavra de Deus, que desprezam sua vinda e recusam, porque não vai ser mais temporária, mas eterna. Para tais pessoas, o Senhor dirá: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno’ (Mateus 25:41), e será para sempre condenado. Mas aos outros vai dizer: ‘Vinde, benditos de meu Pai, recebam por herança o reino preparado para vós desde sempre’(Mt 25, 34), e receberão o reino onde eles terão um progresso perpétuo. Isso mostra que um e o mesmo Deus, o Pai, e que a Sua Palavra está sempre do lado da humanidade, com economias diferentes, realizando vários trabalhos, poupando aqueles que foram salvos desde o início, isto é, para aqueles que amam a Deus e de acordo coma sua capacidade de seguir a sua palavra e, a julgar aqueles que estão condenados, ou que se esquecem de Deus, blasfema me violam a sua palavra.” (Santo Ireneu, contra as heresias IV, 28,2)

Imortalidade da Alma

Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, aquele que ressuscitou o Cristo dos mortos vivificará os vossos corpos mortais”. O que são os corpos mortais? Serão as almas? Mas as almas são incorporais em comparação aos corpos mortais. Com efeito, Deus soprou no rosto do homem “o sopro da vida e o homem se tornou uma alma vivente”: o sopro de vida é incorporal. Assim como não podem dizer que a alma é mortal porque o sopro de vida permanece – com efeito, Davi diz: “E a minha alma viverá para ele”, visto ser a sua substância imortal -, assim não podem dizer que o Espírito é corpo mortal. O que fica então para ser denominado corpo mortal a não ser a obra modelada por Deus, isto é, a carne, aquilo que o Apóstolo declara que Deus vivificará? É esta que morre e se decompõe e não a alma ou o Espírito.” (Contra as Heresias, 5,7:1)

O Senhor ensinou clarissimamente que as almas não só perduram sem passar de corpo em corpo, mas conservam imutadas as características dos corpos em que foram colocadas e se lembram das ações que fizeram aqui na terra e das que deixaram de fazer. É o que está escrito na história do rico e de Lázaro que repousava no seio de Abraão. Nela se diz que o rico, depois da morte, conhecia tanto Lázaro como Abraão e que cada um estava no lugar a ele destinado. O rico pedia a Lázaro, ao qual tinha recusado até as migalhas que caíam de sua mesa, que o socorresse; com a sua resposta, Abraão mostrava conhecer não somente Lázaro, mas também o rico e ordenava que os que não quisessem ir para aquele lugar de tormentos escutassem Moisés e os profetas antes de esperar o anúncio de alguém ressuscitado dos mortos. Tudo isso supõe clarissimamente que as almas permanecem, sem passar de corpo em corpo, que possuem as características do ser humano, de sorte que podem ser reconhecidas e que se recordam das coisas daqui de baixo; que também Abraão possuía o dom da profecia e que cada alma recebe o lugar merecido mesmo antes do dia do juízo.” (Contra as Heresias Livro II, 34,1)

Aqui alguns poderão dizer que as almas que tiveram há pouco tempo o início da sua existência não podem durar indefinidamente e que, ou devem ser incriadas para ser imortais, ou se receberam o início da existência necessariamente morrem com o seu corpo. Ora, estes devem saber que somente Deus, o Senhor de todas as coisas, é sem princípio e sem fim, e se mantém verdadeiramente e sempre idêntico a si mesmo. Que todas as coisas por ele criadas no passado e no presente, sejam quais forem, recebem o princípio da existência e por isso são inferiores ao seu criador, justamente por serem criadas. Que, não obstante isso, perduram e prolongam a sua existência na amplidão dos séculos, segundo a vontade de Deus Criador, o qual lhes dá, inicialmente, o devir e depois o ser.”(Contra as Heresias Livro II, 34,2)

Como o corpo animado pela alma não é a alma, mas comunica com a alma até que Deus quiser, assim a alma não é ela própria a vida, mas participa da vida que Deus lhe deu. Por isso a palavra inspirada diz do primeiro homem: “Ele foi feito alma vivente”, ensinando-nos que a alma é vivente por participação da vida, de forma que uma coisa é a alma e outra é a vida que está nela. Se, portanto, é Deus que dá a vida e a sua duração perpétua, não é impossível que as almas que antes não existiam, depois que Deus quis que existissem, perdurem nesta existência. O que deve mandar e dominar em tudo é a vontade de Deus; tudo o resto deve ceder diante dela, subordinar-se e pôr-se a seu serviço. Quanto à criação e à perpetuidade da alma é suficiente o que foi dito até aqui.” (Contra as Heresias Livro II, 34,4)

PADRES PRÉ NICENOS

CLEMENTE DE ALEXANDRIA (210 D.C)


Nasceu em torno do ano 150, provavelmente em Atenas, de pais pagãos. Após tornar-se cristão, viajou pelo sul da Itália e pela Síria e Palestina em busca de mestres cristãos, até que chegou em Alexandria. Os ensinamentos de Panteno (chefe da escola catequética de Alexandria, no Egito) fizeram com que se estabelecesse ali até o ano 202, quando a perseguição de Sétimo Severo o obrigou a deixar o Egito e se refugiar na Capadócia, onde faleceu pouco antes do ano 215.

Seu conhecimento dos escritos pagãos e da literatura cristã é notável. Segundo Quasten, encontram-se em suas obras cerca de 360 citações dos clássicos, 1500 do Antigo Testamento e 2000 do Novo; portanto, é considerado cronologicamente como o primeiro sábio cristão conhecedor não apenas da Sagrada Escritura como ainda das obras cristãs anteriores a ele e, inclusive, de obras de literatura pagã. Clemente considerava o Cristianismo como a realização mais bela e o coroamento de todos os elementos de verdade dispersos na filosofia.

Sendo batizado, somos iluminados; iluminados, tornamo-nos filhos; sendo feitos filhos, somos aperfeiçoados; Tendo chegado à perfeição, somos feitos imortais. “Eu”, diz ele, “ter dito que sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo.” Este trabalho é variadamente chamado graça e iluminação, e perfeição, e lavagem: lavar roupa, porque nos limpamos os nossos pecados; graça, pela qual as penalidades resultantes, para transgressões sejam remetidas; e iluminação, porque aquela santa luz da salvação é contemplada, ou seja, pelo qual vemos Deus claramente. Agora chamamos isso perfeito que não quer nada.” (O Instrutor livro I Cap. 6)

Todas as almas são imortais, mesmo aquelas dos ímpios, para os quais seria melhor que elas não fossem imortais. Pois, punidas com a vingança infinita no fogo inextinguível, e não morrerão, é impossível para eles ter um período colocado a sua miséria.” (Fragmentos VI – Do livro sobre a Alma -. O Barocc ms.).

TERTULIANO (212 D.C)


Se, portanto, alguém supor violentamente que a destruição da alma e da carne no inferno leva uma aniquilação final das duas substâncias, e não ao seu tratamento penal (como se fossem para ser consumidos, não castigados), que lembrar-se de que o fogo do inferno é eterno – expressamente anunciado como uma pena eterna; e que ele admita que é a partir dessa circunstância que esta “morte” interminável é mais formidável do que um assassinato meramente humano, que é apenas temporal.” (Sobre a ressurreição da carne – Capítulo 35)

A alma, então, definimos a ser suspensa a partir do sopro de Deus, imortal…” (Tratado sobre a Alma 22, 2)

Mas se este for o caso, elas devem precisar ser também mortal, de acordo com a condição da natureza animada; pois, embora a alma seja imortal, evidentemente, esse atributo é limitado exclusivamente a ela: não é estendido para aquilo, com o qual está associada, ou seja, o corpo.” (Ad Nationes – Livro 2. Cap 3)

GREGÓRIO TAUMATURGO


Segue-se, na minha opinião, como consequência necessária, de que o que é simples é imortal. E quanto à forma que segue, ouça a minha explicação: Nada que existe é o seu próprio corruptor, senão ele nunca poderia ter tido qualquer consistência profunda, mesmo desde o início. Pois as coisas que estão sujeitas a corrupção são corrompidas por contrários: por isso tudo o que está corrompido está sujeito à dissolução; e que está sujeito à dissolução é composto; e o que é o composto é composto de muitas partes; e o que é feito de partes manifestamente é composto de diversas partes; e o diversificado não é o idêntico: consequentemente, a alma, é simples, e não sendo constituída por diversas partes, mas sendo incomposta e indissolúvel, deve ser, em virtude disso, incorruptível e imortal.

Além disso, tudo o que é colocado em ação por outra coisa, e que não possui o princípio da vida em si, mas recebe-a do que o que o coloca em ação, dura apenas enquanto ele é mantido pelo poder que opera nele; e sempre que o poder operativo cessa, isso também vai para uma posição que tem a sua capacidade de ação a partir dele. Mas a alma, sendo auto-ativa, não tem cessação do seu ser. Pois segue-se que o que é auto-agir é sempre agir; e o que é sempre ativo é incessante; e o que é incessante é sem fim; e o que é sem fim é incorruptível; e o que é incorruptível é imortal. Por conseguinte, se a alma é a auto-ativa, como foi mostrado acima, conclui-se que é incorruptível e imortal, de acordo com o modo de raciocínio já expresso.

E, além disso, tudo o que não é corrompido pelo mal adequado a si mesmo, é incorruptível; e o mal se opõe ao bem, e é, por conseguinte, a seu corruptor. Pois o mal do corpo nada mais é do que o sofrimento e doença, e morte; assim como, por outro lado, sua excelência é a beleza, vida, saúde e vigor. Se, portanto, a alma não é corrompida pelo mal adequado a si mesmo, e o mal da alma é covardia, a intemperança, a inveja, e assim por diante, e todas estas coisas não depõe-a dos seus poderes de vida e de ação, segue-se que ela é imortal.(Sobre a Alma, VI)

CIPRIANO DE CARTAGO


São Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de família rica e culta. Dedicou-se em sua juventude à retórica. O desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes pagãos contrastado com a pureza de costumes dos cristãos, o induziu a abraçar o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi eleito bispo de Cartago. Ao iniciar a perseguição de Décio, em 250, julgou melhor retirar-se para um lugar à parte, para poder continuar a se ocupar com seu rebanho.

Que glória para os fiéis haverá então, que castigo para os não crentes, que dor para os infiéis por não haver querido crer em outro tempo neste mundo e não poder agora voltar atrás e crer. A gena sempre em chamas e um fogo devorador abrasará aos que ali irem, e não terão descanso seus tormentos nem fim em nenhum momento. Serão conservadas as almas com os corpos para sofrer com inacabáveis suplícios. Ali veremos sempre ao que aqui não olhamos por um tempo, e o breve prazer que tiveram os olhos cruéis nas perseguições será contrapesado pelo espetáculo sem fim, segundo o testemunho da Sagrada Escritura, quando disse “Seu verme não morrerá, e seu fogo não se extinguirá, e servirão de espetáculo a todos os homens… Então será em vazio o arrependimento, vãos os gemidos e sem eficácia os rogos. Tarde crêem na pena eterna os que não quiseram crer na vida eterna.(Carta A Demetriano, 24)

Acredite n’ Ele que dará a todos os que acreditam a recompensa da vida eterna. Acredite n’Ele, que irá chamar para os que não acreditam, punições eternas no fogo do inferno. … Um inferno sempre-ardente vai queimar o condenado, e uma punição com chamas devorando-o vivo; nem haverá qualquer fonte de onde a qualquer momento para eles possam ter qualquer pausa ou fim de seus tormentos. Almas com seus corpos serão colocadas em torturas infinitas para o sofrimento… A dor da punição será sem o fruto de arrependimento; choro será inútil, e oração ineficaz. Demasiado tarde eles vão acreditar no castigo eterno, que não acreditou na vida eterna. … Quando você tiver partido para lá, já não há qualquer lugar de arrependimento, e não há possibilidade de fazer penitência. Aqui a vida é perdida ou salva [….]”. (Tratado 5 Secções 23,24,25)

HIPÓLITO DE ROMA (236 d.C)


O lugar e a data do seu nascimento são desconhecidos, embora saiba-se que foi discípulo de Santo Ireneu de Lião. Seu grande conhecimento da filosofia e dos mistérios gregos, e sua própria psicologia, indicam que procedia do Oriente. Até o ano 212 era presbítero em Roma, onde Orígenes – durante sua viagem à capital do Império – o ouviu pronunciar um sermão.

Santo Hipólito, da mesma maneira que os demais Padres, reconhece que a alma do homem mal vai ser punida por toda a eternidade:

Aos amantes da iniqüidade será dado o castigo eterno. E o fogo que é insaciável e sem fim aguarda estes últimos, e um certo verme de fogo, que não morre, e o que não acaba o corpo, mas continua explodindo o corpo com a dor sem fim. Nenhum sono lhes dará descanso; nenhuma noite vai acalmá-los; nenhuma morte irá livrá-los da punição; nenhuma voz de amigos intercedendo vai beneficiá-los.” (Contra Platão, sobre a causa do Universo – Sessão 3)

Também nos fala como o corpo dos bons será tornado imortal igual a alma já é imortal por natureza:

E tu deve possuir um corpo imortal, até mesmo um colocado além da possibilidade de corrupção, assim como a alma.” (Refutação de todas as heresias livro 10 Cap. 30)

EUSÉBIO DE CESARÉIA (340 d.C)


Eusébio foi bispo de Cesaéria e é um dos mais importantes historiadores dentro do cristianismo primitivo. Segundo Eusébio a doutrina do “sono da alma” foi um heresia surgida na Arábia, a qual foi refutada por um concílio, no qual Orígenes estava presente:

Apareceram ainda, na Arábia, no tempo a que nos referimos, introdutores de uma doutrina alheia à verdade. Asseveravam que a alma humana neste mundo, no momento final provisoriamente morre com o corpo, e com ele se corrompe, mas no futuro, por ocasião da ressurreição, com ele reviverá. Então, foi convocado um importante concílio. Orígenes novamente foi chamado, e após ter discursado perante a assembléia sobre a questão disputada, saiu-se de tal forma que alterou o modo de pensar dos que primeiramente haviam sido iludidos.” (História Eclesiástica – Livro VI, 37)

Da mesma forma atesta que em sua época a doutrina da imortalidade da Alma já era um dogma:

Ação diabólica era, certamente, aquele empenho em caluniar por meio desses mágicos, encobertos com o nome de cristãos, o grande mistério da piedade (1Tm 3,16), declarando-o magia, e dilacerar, por meio deles, os dogmas da Igreja sobre a imortalidade da alma e a ressurreição dos mortos. Mas, subscrever os ditos desses salvadores é decair, perder a verdadeira esperança.” (História Eclesiástica – Livro III, 26, 4)

É bastante interessante como um historiador da Igreja primitiva, que viveu pouco tempo depois da “doutrina pagã” suspostamente ter entrado na Igreja, não fazer qualquer ideia de que esta era um doutrina pagã, nem saber de qualquer relato histórico que esta doutrina não era aceita pelos primeiros padres e que foi advinda de Platão, e ainda assim relatar que o aniquilacionismo foi condenado por um concílio já no terceiro século.

Em outros escritos também relata sobre a alma imortal:

Quem tem bárbaros instruídos e camponeses, sim, as mulheres fracas, escravos e crianças, em suma, inumeráveis multidões de homens de todas as nações, a viver no desprezo da morte; persuadidos da imortalidade de suas almas.” (Oração no Louvor de Constantino)

Todos estes realmente são perecíveis, e consumidos pelo lapso de tempo, sendo representações do corpo corruptível, e não expressam a imagem da alma imortal”. (Vida de Constantino Livro I, Cap. 3)

CONSTITUIÇÕES APOSTÓLICAS


Pois mesmo a nação judaica tinha heresias perversas; porque eles eram os saduceus, os quais não confessam a ressurreição dos mortos; e os fariseus, que atribuem a prática de pecadores a fortuna e destino; e os Basmoteanos, que negam a providência, e dizem que o mundo é feito pelo movimento espontâneo, e tiram a imortalidade da alma. (Constituições Apostólicas VI)

Agora, todos eles tinham uma única e mesma concepção de ateísmo, blasfemar contra Deus Todo-Poderoso, para espalhar a sua doutrina de que Ele é um ser desconhecido, e não o Pai de Cristo, nem o Criador do mundo; mas aquele que não pode ser falado, inefável, não identificado, e gerado por ele mesmo; que não estamos a fazer uso da lei e os profetas; que não há nenhuma providência e não há ressurreição a ser acreditada; que não há julgamento nem retribuição; que a alma não é imortal; que só deve gozer de nossos prazeres, e voltar-se para qualquer tipo de culto, sem distinção.” (Constituições Apostólicas X)

Nós reconhecemos com nós uma alma que é incorpórea e imortal, não corruptível como os corpos são, mas imortal, sendo racional e livre.” (Constituições Apostólicas, XI)

 

PADRES NICENOS E PÓS NICÉIA

SANTO ATANÁSIO


Nascido no final do século III ou início do IV. Por volta do ano 320, quando foi ordenado diácono, assistiu ao Concílio de Nicéia. Em 328 foi ordenado bispo antes de atingir os 30 anos. É reconhecido como doutor da Igreja e campeão da ortodoxia por sua defesa à fé nicena.

A alma imortal. Provada por (I) que é distinta do corpo, (2) que é a fonte de movimento, (3) o seu poder de ir além do corpo na imaginação e pensamento. Mas que a alma é feita imortal é mais um ponto a doutrina da Igreja que você deve saber, para mostrar como os ídolos devem ser derrubados. Mas vamos chegar mais diretamente a um conhecimento disto, pelo que sabemos do corpo, e da diferença entre o corpo e a alma. Pois, se o nosso argumento provou que ela é distinta do corpo, enquanto o corpo é, por natureza mortal, segue-se que a alma é imortal, porque não é como o corpo.” (Contra os Pagãos – Parte 33)

AFRAATES


Pois no primeiro nascimento nascem com as almas de animais que é criado dentro do homem e não é posteriormente sujeito à morte…” (Demonstrações Seletas 6, 14)

ARNOBIO DE SICCA


O único escritor primitivo que temos conhecimento que adotou como doutrina do destino da alma, o aniquilacionismo, foi Arnóbio de Sicca, este autor é comumente citado por aniquilacionistas para tentarem rastrear sua heresia dentro da Igreja primitiva. Anóbio de Sica não é Pai da Igreja.

Sabemos por São Jerônimo (Chron. ad ann. 253-257) que Arnóbio foi professor de retórica em Sicca (África) e teve Lactancio entre os seus discípulos (De vir ill.’SQ;. Epistola 70. 5.). Foi pagão e por muito tempo foi forte adversário do cristianismo, até que, finalmente, foi advertido em um sonho, e converteu-se a nova religião (Cron., 1.c). Ele, no entanto, não mencionou o motivo de sua conversão, quando ele fala dela (Contra os Pagãos 1,39, 3, 24). Seu trabalho, em sete livros, tem o título de “Adversus nationes” ou “Contra os Pagãos”.

Uma das passagens comumente usadas de Arnóbio para justificar a mortalidade da alma é:

Não há motivo, portanto, que nos engane, não há motivo que nos faça conceber esperanças infundadas aquele que se diz por alguns pensadores recentes e fanáticos pela excessiva estima de si mesmos que, as almas são imortais” (Contra os Pagãos Livro II, 14-15)

Apesar disso, Arnóbio não diz em nenhum lugar de sua obra que a doutrina da imortalidade da alma é de origem pagã, mesmo ele falando sobre diversas seitas pagãs de sua época, não atribui isso a algo adotado do paganismo para dentro da Igreja. No máximo questiona Platão por acreditar nisto também.

Quando Arnóbio escreveu esta obra, ele não tinha qualquer conhecimento das doutrinas cristãs, escreveu por impulso e de forma pobre, assim diz Johannes Quasten, especialista em Patrística:

Jerônimo (Os Homens Ilustres 79) intitula o tratado como Adversus fienles, enquanto o único manuscrito (Codex Paris. 1661 SAEC. IX) chama de Adversus nationes. Este parece ser o título correto. Todas as indicações são de que o autor escreveu às pressas, quando ele ainda tinha pouco conhecimento das coisas da fé. McCracken definido com confiança “o contra-ataque mais vivo e nítidas que permanece contra cultos pagãos contemporâneos” (p.4). Como fonte para o conhecimento da doutrina cristã é de péssimo valor, mas é uma rica mina de informações sobre as religiões pagãs contemporâneas.” (Johannes Quasten – Patrologia Volume II Pg. 67)

Também o historiador protestante Philip Schaff, mostra que Arnóbio era completamente ignorante das Escrituras:

Frágil e insatisfatório. Arnóbio parece ser tão ignorante sobre a Bíblia quanto Minucius Felix. Ele nunca cita o Antigo Testamento e o Novo Testamento apenas uma vez. Ele não sabe nada sobre a história dos judeus e o culto Mosaico e confunde os fariseus e saduceus ….

Quanto ao homem, Arnóbio …. nega a sua imortalidade. A alma sobrevive ao corpo, mas depende unicamente a Deus pelo dom de duração eterna. Os ímpios vão para o fogo do inferno, e acabarão por serem consumidos ou aniquiladas.” (Philip Schaff – History of the Christian Church – Volume 2, page 858ff)

Ao contrário do que alguns pensam, ele mesmo acreditava em doutrinas platônicas que contrariavam as doutrinas cristãs. Ele sustentava que a verdadeira doutrina de Cristo é que as almas são obras de um ser inferior, por isso cria que elas “morriam”.

Ouvir e aprender com quem sabe e tem pregado a todo o mundo, de Cristo, isto é, que as almas não são filhas do Grande Rei, e, embora ele diz que Ele se engendrou não ter dito a verdade sobre si mesmo ou ter falado de si mesmo em termos de sua origem essencial. Tem algum outro criador, abaixo do Ser Supremo em dignidade e poder, mas pertence à sua corte e é enobrecido pela glória do lugar elevado que ocupa (Contra os Pagãos Livro II, 36).

Arnóbio já acreditava que alma era aniquilada desde quando ainda era pagão, esse foi o motivo da sua “conversão” ao Cristianismo, o medo de ser “aniquilado”, como ele mesmo atesta:

A medida que o medo da morte, ou a destruição de nossas almas, que nos persegue, não é verdade que agimos movidos pelo instinto do que é bom para nós …, abraçando as promessas que nos livre de tal perigo?” (Contra os Pagãos Livro II, 33).

Não existe qualquer consciência doutrinária lógica nos escritos de Arnóbio para que alguém possa usá-lo como testemunha de alguma doutrina Cristã primitiva.

Como pode alguém ignorante das Escrituras e nunca citar as Escrituras em seus Escritos ser usado como suposta testemunha de uma doutrina supostamente “bíblica”?

Arnóbio também implicitamente rejeita a crença bíblica na criação e adota como ensinamento de Cristo, o mito do Timeu de Platão. Se por acaso, como alguns dizem, Arnóbio estivesse se esquivando das doutrinas platõnicas e pagãs gregas ao ir contra a imortalidade da alma, por que não foi contra as doutrinas pagãs ao adotar que as almas não são criadas por Deus e adotar o Mito de Timeu de Platão como doutrina da existência do universo?

A total inconsistência argumentativa das opiniões dos aniquilacionaistas frente as obras de Arnóbio depõem muito mais contra eles, do que a favor.

METÓDIO


Mas é a carne que morre; a alma é imortal.” (Discurso sobre a Ressurreição – XII)

CIRÍLO DE JERUSALÉM (350 d.C)


Nasceu em Jerusalém ou em suas proximidades, por volta do ano 313 ou 315; em 348 já era bispo. Morreu aproximadamente no ano 386.

Avançar para o conhecimento desta venerável e gloriosa e toda santa Fé, aprenda ainda mais o que tu mesmo é: que como homem tu és de uma natureza dupla, composta de corpo e alma, e que, como foi dito um curto espaço de tempo atrás, o mesmo Deus é o Criador tanto da alma quanto do corpo. Saiba também que tens uma alma auto-governada, a obra mais nobre de Deus, feita à imagem do seu Criador: imortal por causa de Deus que lhe dá a imortalidade; a vida sendo, racional, imperecível, por causa Dele que concedeu esses dons: ter poder livre para fazer o que o quer.” ( Leituras Catequéticas 4, 18)

SÃO GREGÓRIO DE NISSA


Nascido entre 331 e 335 d.C. Foi consagrado bispo em 371 e faleceu em 394.

De fato, afirmei que as palavras divinas assemelhavam-se às injunções, nos impelindo a acreditar que a alma deve subsistir para sempre” (Sobre a Alma e a Ressurreição – Prólogo)

SÃO JOÃO CRISÓSTOMO


Considerado um dos quatro grandes Padres da Igreja oriental, nasceu na Síria por volta do ano 347. Foi Patriarca de Constantinopla e morreu em 404 d.C.

Esse tipo de soberania Deus derramou sobre nós desde o início, e nos colocou sobre todas as coisas. E não só a este respeito que Ele confere honra a nossa natureza, mas também, pela própria eminência do local em que fomos colocados, fixando-nos no Paraíso como a nossa habitação de escolha, e conferiu o dom da razão, e uma alma imortal.” (Sobre as Estátuas, 7, 3)

As coisas irracionais só são úteis para a vida presente; mas nós temos uma alma imortal, para que possamos usar todos os meios para nos prepararmos para essa outra vida.” (Homilia 31 sobre o evangelho de João)

“(…) Deviam aprender, de certo modo retirando de grande profundidade, que apenas o Senhor do universo é Deus, que somente a ele importa adorar, que constitui coisa excelente um admirável estilo de vida, QUE A MORTE CORPORAL NÃO É PROPRIAMENTE MORTE, que a vida corporal não é propriamente vida. (…)” (São João Crisóstomo – Comentário à Carta aos Colossenses 1,28).

(…) Assim sucede aqui na terra. Quando, porém, PARTIMOS DAQUI, ouve o que pede o rico, dono de imensas riquezas, na tua opinião; quanto a mim, não consigo denominá-las um bem, mas considero-as indiferentes. Escuta o que diz este dono de inúmeras riquezas, e em que necessidade se encontra. Pede: “Pai Abraão, manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama” (Lc 16,24). Se, portanto, aquele rico nada sofreu do que referi, se passou sem temores nem cuidados toda a vida – por que toda a vida? -, digo melhor, aquele único momento – na realidade é um momento, pois não passa de um momento o tempo todo em comparação COM OS SÉCULOS INFINITOS -, se tudo correu de acordo com os seus desejos, não merecem compaixão suas palavras ou antes seu estado? O vinho não correu em abundância em tua mesa? Agora, contudo, não és dono nem de uma gota d’água, e dela tanto precisas! (…)” (São João Crisóstomo – Comentário Sobre a Carta aos Filipenses 1,19)

SÃO JERÔNIMO


Reconhecido como um dos quatros doutores originais da Igreja latina. Padre das ciências bíblicas e tradutor da Bíblia para o latim. Presbítero, homem de vida ascética, eminente literato. Nasceu no ano 347 e morreu no ano 420.

A imortalidade da alma e sua continuidade após a dissolução do corpo – as verdades de que Pitágoras sonhou…” (Carta a Heliodoro, Epístola 60, 4)

SANTO AGOSTINHO


Bispo de Hipona e doutor da Igreja, é reconhecido como um dos quatro doutores mais distintos da Igreja latina. Nasceu em 354 e chegou a ser bispo de Hipona durante 34 anos. Combateu duramente todas as heresias de sua época e morreu no ano 430.

Mas porque a alma de sua própria natureza, sendo criada imortal, não pode ficar sem algum tipo de vida, a sua extrema morte é a alienação da vida de Deus em uma eternidade de castigo. Assim, então, Ele só quem dá a verdadeira felicidade dá eterna vida, isto é, uma vida infinitamente feliz.” (Cidade de Deus, 6, 12)

SÃO JOÃO DAMASCENO


A alma, portanto, é uma essência viva, simples, incorpórea, invisível em sua própria natureza para olhos corporais, imortal, racional e inteligente, sem forma, fazendo uso de um corpo organizado, e sendo a fonte de seus poderes de vida, crescimento, sensação, geração, a mente sendo somente seu lado mais puro e não em qualquer estranho sábio para ela; (pois como os olhos são para o corpo, assim é a mente para a alma); ainda goza de liberdade, vontade e energia, e é mutável, isto é, é dado a mudar, porque é criada.” (Fé Ortodoxa, 2, 12)

CONCLUSÃO


Diante de todos estes testemunhos de séculos seguidos, qual a probabilidade de todos estes padres, dos mais altos níveis teológicos, terem se enganado em conjunto sobre a alma ser imortal, e terem adotado do “paganismo grego” esta doutrina sem se darem conta que esta doutrina não era bíblica? É possível imaginar como “alguém” teria adotado isso do “paganismo grego” e já no século II ter introduzido no meio cristão (a ponto de Tertuliano escrever um tratado só para a imortalidade da alma) e nenhum dos mais eruditos padres subsequentes terem notado isso e deixado passar ao largo esta doutrina “pagã” dentro da Igreja? Como é possível apologias, tratados, cartas e dezenas de outros escritos dos padres da Igreja falando sobre diversas heresias que surgiram desde a era apostólica, não terem falado absolutamente nada sobre a imortalidade da alma ser trazida do “paganismo”?

Assim como há quem acredite que Constantino paganizou a Igreja, sem demonstrar qualquer testemunho de contemporâneos e/ou historiadores da época e/ou subsequentes, há também quem acredite que todos os teólogos e padres da Igreja de todas as eras até os “iluminados” nascerem, foram paganizados e não notaram que Platão conseguiu introduzir sua doutrina na Igreja, de maneira mágica, para se rebelarem contra isso.

Em todos os textos, repetimos que Internet existem seres “iluminados” que por desespero, desconhecimento ou desonestidade, propagam muita informação e citações falsas, adulteradas e, muitas vezes, fora de contexto, e muitas pessoas frequentemente cometem o erro de se assumi-las por verdade. O problema costuma aumentar quando outras pessoas tomam essas citações e as incorporam em novos “estudos”, “interpretações”, sem antes verificar sua precisão, criando assim um círculo vicioso distorcido da História e de escritos que não lhes competem nenhuma interpretação.

PARA CITAR


RODRIGUES, Rafael. Pais da Igreja e a Imortalidade da alma. Disponível em: <http://apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/794-pais-da-igreja-e-a-imortalidade-da-alma> Desde: 11/05/15.

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