INTRODUÇÃO
O dogma da Assunção, diz respeito ao que aconteceu a Maria ao ‘morrer”, isto é a sua dormição e como após isto ela foi levada aos céus em corpo e alma. A assunção foi proclamada pelo Papa Pio XII em 1º de novembro de 1950. Assim define o Catecismo da Igreja católica:
“Finalmente, a Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E para que mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do universo.” A Assunção da Virgem Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos: Em vosso parto, guardastes a virgindade; em vossa dormição, não deixastes o mundo, ó mãe de Deus: fostes juntar-vos à fonte da vida, vós que concebestes o Deus vivo e, por vossas orações, livrareis nossas almas da morte…” (CIC 966)
A ASSUNÇÃO NA BÍBLIA
Pio XII afirma o dogma se baseia nas Escrituras Sagradas (escritura):
“Todas estas provas e considerações dos Santos Padres e os teólogos são baseadas nas Escrituras Sagradas como seu fundamento último.” (Pio XII, Munificentissimus Deus)
E não é “incrível” se se considera nas Escrituras que Enoque e Elias foram “assumidos” ao céu, de corpo e alma, e talvez Moisés se interpretarmos a menção de Judas com a literatura apócrifa (Assunção ou Testamento de Moisés) como uma “assunção” do corpo de Moisés. Jesus subiu ao céu em seu próprio poder, corpo e alma, e é justo que sua própria mãe, a Santa Mãe de Deus, também não visse corrupção. Todos os verdadeiros cristãos acabarão por ser sem pecado e assumidos corporalmente (ressuscitados e glorificados) ao céu. A Bem Aventurada Virgem Maria, sendo um modelo da Igreja, como todos os Pais ensinam, é um exemplo do cristão aperfeiçoado no céu (cf. a santa Igreja, imaculada, sem culpa mencionada em Efésios 5, 25-33, Hb 12, 22 ss; Ap 21,1 ss). Maria recebeu esse estado aperfeiçoado (em alma e corpo) antes do resto da Igreja de Cristo pela graça de Deus.
“Muitas vezes os teólogos e oradores sagrados, seguindo os passos dos santos Padres,(15) para explicarem a sua fé na assunção, serviram-se com certa liberdade de fatos e textos da Sagrada Escritura. E assim, para mencionar só alguns mais empregados, houve quem citasse a este propósito as palavras do Salmista: “Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca de vossa santificação” (Sl 131, 8); e na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria, descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar a direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16); e recordam a propósito a esposa dos Cantares “que sobe pelo deserto, como uma coluna de mirra e de incenso” para ser coroada (Ct 3,6; cf. 4,8; 6,9). Ambas são propostas como imagens daquela Rainha e Esposa celestial, que sobe ao céu com o seu divino Esposo.
Os doutores escolásticos vislumbram igualmente a assunção da Mãe de Deus não só em várias figuras do Antigo Testamento, mas também naquela mulher, revestida de sol, que o apóstolo s. João contemplou na ilha de Patmos (Ap 12, ls.). Porém, entre os textos do Novo Testamento, consideraram e examinaram com particular cuidado aquelas palavras: “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres” (Lc 1,28), pois viram no mistério da assunção o complemento daquela plenitude de graça, concedida à santíssima Virgem, e uma singular bênção contraposta à maldição de Eva.”(Pio XII, Munificentissimus Deus).
Quanto à evidência bíblica para a crença, Pio XII refere-se a vários tipos de textos: a sagrada Arca da Aliança, Salmo 132 (131), 8; Salmo 45 (44), 10-14; Cântico dos Cânticos 3, 6; 4, 8; 6, 9; Rev 12, 1 ff (cf. 11, 19), Lucas 1, 28. Se a “Arca” do Salmo 132, 8 ou a “mulher” de Apocalipse 12 é Maria Santíssima, então as Escrituras diretamente provam a Assunção. Mas estudiosos interpretam esses textos de diferentes maneiras. Como Pio XII explicou, os Padres da Igreja eram “mais livre em seu uso de eventos e expressões” tiradas da Escritura. Mas nem Pio XII, nem os Padres ignoraram as Escrituras quando se fala da Assunção de Maria ao céu:
“Esta [a escritura] nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo. O nosso Redentor é também filho de Maria; e como observador perfeitíssimo da lei divina não podia deixar de honrar a sua Mãe amantíssima logo depois do Eterno Pai. E podendo ele adorná-la com tamanha honra, preservando-a da corrupção do sepulcro, deve crer-se que realmente o fez.” (Pio XII, Munificentissimus Deus)
Vários são os testemunhos das Escritura que corroboram e ajudam a entender que Maria foi assuntada aos céus
Enoque foi Levado aos céus de corpo e Alma:
“Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus.” (Hebreus 11, 5 – Gênesis 5, 24)
Em II Reis 2, 11-12 Elias foi levado aos céus em uma carruagem de fogo. Em Mateus 27, 52-53 – quando Jesus morreu e ressuscitou, os corpos dos santos foram levantados. Nada na Bíblia impede Assunção de Maria ao céu.
E o Livro do Apocalipse demonstra como Maria foi vista no céu por João
“Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.” (Apocalipse 12, 1).
Muito embora se interprete também a mulher como a Igreja, é fato irrefutável que as características da Mulher do Apocalipse 12 se refira a Maria, como mostra o versículo 5:
“Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono” (Apocalipse 12, 5).
Foi exatamente o que ocorreu com Maria, deu a luz a Jesus, que morreu ressuscitou e subiu aos céus.
A ASSUNÇÃO NA IGREJA PRIMITIVA
PSEUDO – MELITO DE SARDES (300 d.C)
“Se, portanto, pode vir a passar pelo poder da sua graça, apereceu direito a nos seus servos, que, como você, depois de vencer a morte, reinam em glória, por isso você deve assuntar o corpo de sua mãe e levá-la com você, regozijando-se, no céu. Então disse o Senhor [Jesus]: ‘Seja feito segundo a tua vontade’” (A Passagem da Virgem 16, 2-17).
EPIFÂNIO DE SALAMISSA (377 d.C)
“Se a Santíssima Virgem morresse e fosse sepultada, morte dela teria sido cercada com honra, a morte teria encontrado sua puresa, e sua coroa teria sido uma virginal… Teria sido martirizada de acordo com o que está escrito: ‘a tua alma uma espada traspassará’, então ela iria brilhar gloriosamente entre os mártires, e seu santo corpo teria sido declarado bem-aventurado; pois por meio dela, a luz veio ao mundo.” (Panarion 78, 23)
TIMÓTEO DE JERUSALÉM
“Por isso, a Virgem é imortal até hoje, vendo que ele que habitou nela, transportou para as regiões de sua assumção” (Homilia sobre Simeão e Ana 400 d.C).
JOÃO O TEÓLOGO (400 d.C)
“O Senhor disse à sua Mãe: ‘Que o seu coração se alegre e seja feliz. Pois cada favor e todo o dom foi dado a você do meu Pai no céu e de mim e do Espírito Santo. Toda alma que clama o seu nome não deve se envergonhar, mas deve encontrar misericórdia e conforto, apoio e confiança, tanto no mundo que agora está quanto no que está por vir, na presença do meu Pai que está nos céus’. . . E a partir desse momento em diante todos sabiam que o corpo impecável e precioso foi transferido para o paraíso.” (A Dormição de Maria)
GREGÓRIO DE TOURS (575 d.C)
“Os Apóstolos levaram seu corpo em um caixão e colocaram num sepulcro, e eles o guardavam, esperando a vinda do Senhor. E eis que, mais uma vez o Senhor apareceu-lhes; e o corpo santo tendo sido recebido, Ele ordenou que fosse levado em uma nuvem para o paraíso: onde, agora, voltada à alma, se alegra com os escolhidos do Senhor...” (Oito livros de Milagres 1, 4).
TEOTEKNOS DE LIVIAS (600 d.C)
“Convinha… que o santíssimo corpo de Maria, o corpo que deu a luz a Deus, receptáculo de Deus, divinizado, incorruptível, iluminado pela graça divina e cheio de glória … fosse confiado à terra por um tempo e elevado ao céu, em glória, com sua alma agradável a Deus.” (Homilia sobre a Assunção).
MODESTO DE JERUSALÉM
“Como a gloriosíssima mãe de Cristo, nosso Salvador, Deus, o doador da vida e imortalidade, foi dotada com a vida por ele, ela recebeu uma eterna incorruptibilidade do corpo junto com ele que levantou-a do túmulo e tomou-a para si mesmo de uma forma que só é conhecida a dele.” (Encomium in dormitionnem Sanctissimae Dominae nostrae Deiparae semperque Virginis Mariae (PG 86-II,3306))
GERMANO DE CONSTANTINOPLA (683 d.C)
“Você é aquela que, como está escrito, aparece em beleza, e seu corpo virginal é totalmente santo, todo casto, inteiramente o lugar que habita Deus, de modo que é doravante completamente isenta de dissolução em pó. Apesar de ainda ser humana, é alterado para a vida celestial de incorruptibilidade, verdadeiramente viva e gloriosa, sem danos e partilhando a vida perfeita.” (Sermão I (PG 98,346)).
SÃO JOÃO DAMASCENO
“Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus”. (Sermão sobre a Assunção de Maria)
“São Juvenal, bispo de Jerusalém, no Concílio de Calcedônia (451), levou ao conhecimento do Imperador Marciano e Pulquéria, que desejavam possuir o corpo da Mãe de Deus, que Maria morreu na presença de todos os Apóstolos, mas que o seu túmulo, quando aberto a pedido de São Tomé, foi encontrado vazio; portanto os Apóstolos concluiram que o corpo foi levado ao céu.” (PG (96:1))
“Como, então, foi que ela assumiu às cortes celestiais? Deste modo. Quais foram as honras então conferidas a ela por Deus, que nos ordena a honrar nossos pais?” (Sermão II sobre a Assunção de Maria)
“E , assim, o corpo imaculado (panagion) foi colocado no túmulo. Então foi assuntado, após três dias para as mansões celestiais. O seio da terra não era receptáculo apropriado para morada do Senhor, a fonte viva de água de limpeza, o milho do pão celestial, a videira sagrada de vinho divino, o sempre-vivo e fecundo ramo de oliveira da misericórdia de Deus . E assim como o todo o corpo sagrado do Filho de Deus, que foi tirado dela, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, deveria que ela fosse arrancado do túmulo, essa mãe deve estar unida ao seu Filho, e como Ele descera por ela, então ela deveria ser assuntada por Ele, para a mais perfeita morada, o próprio céu.” (Sermão II sobre a Assunção de Maria)
“Vamos então também guardar a festa solene de hoje para homenagear a partida alegre da Mãe de Deus” (Sermão II sobre a Assunção de Maria)
“Regozije-se o ar na Assunção. Deixe uma brisa suave flutuar na graça. Deixe toda a natureza celebrar a festa da Assunção da Mãe de Deus.” (Sermão III sobre a Assunção de Maria).
OBRAS PRIMITIVAS SOBRE A ASSUNÇÃO DE MARIA
Os seis livros apócrifos do século IV (pdf – 2 MB)
(Ps.-) João o teólogo – A Dormição da Santa mãe de Deus
(Ps.-) Melito de Sardis – A passagem da abençoada virgem Maria
(Ps.-) José de Arimatéia – A passagem da abençoada virgem Maria
(Ps.-) Cirílo de Jerusalém – Homilia sobre a Dormição
(Ps.-) Evódio de Roma – Homilia sobre a Dormição
Teodósio de Alexandria – Homilia sobre a Dormição
João Damasceno – Homilias sobre a Dormição da virgem
CONCLUSÃO
Tanto as escrituras quanto a tradição da Igreja atestam para a assunção de Maria aos céus, Pio XII não proclamou algo novo, inventado em 1950, ele apenas dogmatizou aquilo que já era da fé e da crença da Igreja.
PARA CITAR
RODRIGUES, Rafael. Pais da Igreja e a Assunção de Maria aos Céus. Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/626-pais-da-igreja-e-a-assuncao-de-maria-aos-ceus>. Desde 25/11/2013.