INTRODUÇÃO
Recentemente tive a oportunidade de debater com um amigo protestante (batista) que me afirmou que vários Padres da Igreja, entre eles Orígenes, possuíam “atitudes protestantes”. Alegou que Orígenes interpretava Mateus 16,18-19 ao estilo protestante quando dizia: “E se nós, como Pedro, dissermos: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’, não como se a carne nem o sangue nos revelasse, mas como pela luz do Pai do céu iluminando o nosso coração, nós nos converteremos em um Pedro”.
Quem foi Orígenes?
Foi um importante escritor eclesiástico da Igreja primitiva; era um homem de conduta reta e notável erudição, considerado o Pai da Teologia. Nascido por volta do ano 185, dirigiu entre 203 e 231 a Escola de Alexandria. Seu prestígio chegou a ser tão alto que os bispos da Cesaréia, Jerusalém e outras cidades palestinenses lhe solicitavam para que pregasse sermões e explicasse as Escrituras em suas respectivas comunidades, fato que logo lhe rendeu problemas junto ao seu bispo, Demétrio de Alexandria, vez que não era sacerdote. Orígenes obedeceu e voltou para Alexandria. Para evitar este inconveniente, logo foi ordenado sacerdote por vários bispos, coisa que voltou a lhe trazer problemas com o seu bispo, já que a legislação canônica não permitia que um homem castrado fosse ordenado sacerdote (erro que cometeu em sua juventude, ao interpretar bem literalmente Mateus 19,12); por isso, foi excomungado e deposto do sacerdócio [por Demétrio]. Foi, assim, residir em Cesaréia da Palestina, onde o bispo de Cesaréia fez vistas grossas à censura do bispo de Alexandria e convidou Orígenes a fundar uma escola de teologia em Cesaréia, a qual dirigiu por mais de 20 anos. Morreu em torno do ano 253, como mártir. Embora tenha cometido alguns erros, sempre tentou permanecer fiel à ortodoxia e ao magistério.
Qual a Importância de Orígenes para os Católicos e Protestantes?
As obras de Orígenes (assim como as obras dos Padres da Igreja e outros escritores eclesiásticos) são importantíssimas não apenas para os estudantes de Patrística e Patrologia, pois permitem conhecer a fundo o pensamento da Igreja primitiva e a sua forma de interpretar as Escrituras. Embora os protestantes rejeitem os escritos dos Padres e escritores eclesiásticos, muitos deles (pelo menos aqueles que não são extremamente fundamentalistas) reconhecem que são indispensáveis para o conhecimento da história da Igreja e do desenvolvimento da fé cristã. E ocorre que, apesar de quase nunca citarem os Padres, o fazem quando acham que o que ensinam pode levar “peixes para a sua rede”. Quero aproveitar a oportunidade aqui para estudar os escritos de Orígenes, não apenas nos pontos em que os protestantes costumam a citar, mas em sua totalidade, para desta forma poder fazer uma comparação justa e não descontextualizada do seu pensamento.
Orígenes e o Primado de Pedro
Este é o ponto onde os protestantes mais citam Orígenes e se deve principalmente à sua interpretação de Mateus 16,18:
“E se nós, como Pedro, dissermos: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’, não como se a carne nem o sangue nos revelasse, mas como pela luz do Pai do céu iluminando o nosso coração, nós nos converteremos em um Pedro e a nós nos poderá dizer o mundo: ‘Tu és Pedro’ etc. Porque pedra é todo o discípulo de Cristo de quem aqueles beberam; e quem bebeu da pedra espiritual os sucedeu e sobre cada pedra é edificada cada palavra da Igreja e sua organização segue de acordo com isto. Porque em cada um dos perfeitos, que possui a combinação de palavras, decretos e pensamentos que bendizem, é que a Igreja é edificada por Deus. Porém, se vós supões que é apenas sobre Pedro que Deus edifica a sua Igreja, que dirias de João, o filho do trono, ou de cada um dos Apóstolos? Nos atreveríamos a dizer que somente sobre Pedro em particular as portas do Hades não prevaleceriam e prevalecerão sobre os demais Apóstolos e também sobre os perfeitos? Acaso o comentário expresso anteriormente: ‘As portas do Hades não prevalecerão contra ela’, não se aplica a todos e a cada um deles? E o outro comentário: ‘Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja’, não seria considerado do mesmo modo? Por acaso as chaves do reino são dadas a Pedro somente e mais nenhum dos benditos as receberá? Porém, se esta premissa: ‘E eu te darei as chaves do reino dos céus’ é comum para os outros, por que não seriam também as outras coisas ditas anteriormente? E por que não seriam iguais as outras coisas ditas a Pedro posteriormente? ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’. Se qualquer um declara isto, obterá as coisas sobre as quais se fala no Evangelho sobre Pedro, porém, da forma como o espírito do Evangelho ensina a todo aquele que se converte, tal como Pedro” (Comentário a Mateus 16,18).
Contudo, a forma alegórica como Orígenes aqui interpreta Mateus 16,18 não pode ser entendida como uma rejeição do ministério do bispo de Roma a partir da Sé de Pedro. O próprio Orígenes, em outros escritos seus, reconhece explicitamente a sólida Pedra sobre a qual Cristo edificou a sua Igreja:
“Porém, quem é tão feliz a ponto de estar livre do peso das tentações, de modo que nenhum pensamento de dúvida possa surpreender a sua alma? Olha o que o Senhor diz para o grande fundamento da Igreja, aquela pedra solidíssima sobre a qual Cristo fundou a Igreja: ‘Homem de pouca fé, por que duvidaste?‘” (Homilias sobre o Êxodo).
Assim como outros Padres da Igreja, Orígenes considerava Pedro como a pedra, contudo, também considerava o mesmo que nós, católicos, consideramos: que a base da Igreja é a fé em Cristo. Assim, Pedro é chamado pedra em virtude do ministério que lhe foi conferido e em virtude da sua fé.
Como veremos mais adiante, duvida-se que Orígenes interpretava ao estilo protestante, ou seja, que bastaria apenas a fé para sermos a pedra da Igreja e que, por isso, não seria necessário estarmos unidos à Igreja Católica. Pelo contrário, ele ensina que afastado da Igreja não é possível haver verdadeira fé (devemos recordar aqui que Orígenes sempre quis ser obediente ao Magistério).
Orígenes, a Sucessão Apostólica e a Tradição
Para Orígenes, as fontes da doutrina cristã são as Escrituras e a Tradição. Por isso, assinala – da mesma maneira que Tertuliano e muitos outros Padres da Igreja – a existência de uma Regra de Fé que contém o ensino fundamental do Evangelho. Ensina também que este ensinamento só está na posse das Igrejas que por sucessão apostólica procedem dos Apóstolos e que, por isso, só se pode ser aceito como verdade aquelas doutrinas que em nada se afastem desta sucessão apostólica (em resumo: nada de ‘Sola Scriptura’!). Em sua obra ‘De principiis’, escreveu:
“...Mas como entre os que professam crer em Cristo existem muitas divergências, não apenas em detalhes de pequena importância como também em matérias sumamente importantes, (…) parece necessário estabelecer sobre todos esses pontos uma regra de fé fixa e precisa antes de abordar o exame das demais questões… Mas como o ensinamento eclesiástico, transmitido em sucessão ordenada desde os Apóstolos, se conserva e perdura nas Igrejas até o presente, não se deve receber como artigo de fé além daquelas verdades que não se afastam em nada da tradição eclesiástica e apostólica” (De prencipiis, Prefácio 1-2).
Acrescenta, entretando, que um bom número de questões ficou sem resposta e que a missão da Teologia consiste precisamente em aprofundar e explicitar essas verdades de fé (é o que o Cardeal Newman – notável presbítero anglicano convertido à Igreja Católica – explicaria, mais de um milênio depois, como “desenvolvimento e evolução da doutrina cristã”):
“Convém saber que os santos Apóstolos, ao pregar a fé de Cristo, manifestaram clarissimamente aqueles pontos que entendiam necessários a todos os crentes, inclusive aqueles que pareciam menos diligentes na investigação da ciência divina, deixando a tarefa de indagar as razões dessas afirmações àqueles que mereceram os dons superiores do Espírito, sobretudo àqueles que, por intermédio do mesmo Espírito Santo, obtiveram o dom de línguas, de sabedoria e de ciência. Quanto ao resto, se contentaram em afirmar o fato, sem explicar o porquê, nem o como, nem a origem, sem dúvida para que, com o passar o tempo, os amigos apaixonados pelo estudo e sabedoria tivessem que exercitar o seu ingênio proveitosamente; me refiro àquelas pessoas que se preparam para ser dignos receptáculos da sabedoria” (De prencipiis, Prefácio 3).
Orígenes e a Trindade
Orígenes empregou com freqüência o termo “Trindade”[1] e, embora tenha se tornado suspeito de subordinacionismo em razão de vários de seus textos, outros textos parecem indicar justamente o contrário. Assim era a opinião de São Jerônimo, enquanto Santo Atanásio e São Gregório Taumaturgo pensem de forma diversa.
Seja como for, nos textos de Orígenes se faz patente que ele pensa que o Filho procede do Pai desde a eternidade (diferentemente das heresias que logo surgiram, como o Arianismo, que hoje é revivido nas doutrinas dos Testemunhas de Jeová). Em razão disso, o Filho não teve princípio e não houve um tempo em que Ele não existia (refuta, assim, o princípio ariano)[2]. Ensinou também que o Filho possuía a mesma substância do Pai:
“Que outra coisa podemos supor que é a luz eterna sem Deus Pai, de quem nunca se pôde dizer que, sendo luz, seu Esplendor não estivera presente com Ele? Não se pode conceber luz sem resplendor. E se isto é verdade, nunca houve um tempo em que o Filho não fosse o Filho. No entanto, não será sem nascimento – como dissemos da luz eterna, pois pareceria que introduzimos dois princípios de luz – mas que – por assim dizê-lo – é resplendor da luz ingênita, possuindo esta mesma luz como princípio e fonte, verdadeiramente nascido dela. Não obstante, não houve um tempo em que não foi. A Sabedoria, por proceder de Deus, é gerada também da mesma substância divina…” (In Hebr. Frag. 24,359).
Orígenes e a Virgem Maria
Orígenes aplicou o título “Mãe de Deus”[3] a Maria e ensinava ainda a maternidade universal de Maria sobre a Igreja:
– “Ninguém pode compreender o Evangelho se não reclinou sua cabeça sobre o peito de Jesus e não recebeu dele Maria como mãe” (In Ioh. 1,6).
Da mesma forma que os demais Padres da Igreja, afirmava a virgindade de Maria após o parto. Ensinava que os filhos atribuídos a José não nasceram de Maria, inexistindo qualquer Escritura que prove o contrário[4]. Escreveu também:
“Maria conservou a sua virgindade até o fim [da vida], para que o corpo que estava destinado a servir à Palavra não conhecesse relação sexual com um homem, vez que sobre ela tinha baixado o Espírito Santo e a força do Altíssimo como sombra. Creio que é bem fundamentado dizer que Jesus se constituiu para os homens a primícia da pureza que consiste na castidade e Maria, por sua vez, para as mulheres. Não seria bom atribuir a outra [mulher] a primícia da virgindade” (In Matt. Comm. 10,17: GCS 10,21).
Curiosamente, quase todos os protestantes opinam que Maria não foi Virgem após o parto, não foi Mãe de Deus e não é Mãe da Igreja (e, por isso mesmo, nunca citam Orígens nem os Padres da Igreja quando tratam deste assunto, não podendo “levar água para o seu moinho”).
Orígenes e a Igreja
Para Orígenes, a Igreja é a cidade de Deus sobre a Terra[5] e fora dela não há salvação: “Extra hanc domum, id est Ecclesiam, nemo salvatur” (6). Para Orígenes, não pode haver fé fora da Igreja; a fé dos hereges não é uma fé verdadeira, mas uma “credulitas arbitraria” (=crença arbitrária)[7].
Orígenes e o Batismo
Este é outro ponto onde os escritos de Orígenes não apenas apresentam uma atitude oposta à maioria dos protestantes, sobretudo aqueles de tendências anabatistas. Orígenes ensina a doutrina do pecado original e a necessidade do batismo das crianças; e adicionalmente traz uma evidência sólida de como tal batismo já era praticano nos tempos dos Apóstolos:
“Se aprecias ouvir o que outros santos disseram acerca do nascimento físico, escuta a Davi quando diz: ‘Fui formado’ – assim atesta o texto – ‘na maldade e minha mãe me concebeu em pecado’. Demonstra que toda alma que nasce na carne carrega a mancha da iniqüidade e do pecado. Esta é a razão daquela sentença que citamos mais acima: ninguém está limpo do pecado, nem sequer a criança por um só dia. A tudo isto se pode acrescentar uma consideração sobre o motivo que leva a Igreja costumeiramente batizar as crianças, pois este sacramento da Igreja serve para a remissão dos pecados. Certamente que, se não houvesse nas crianças nada que exigisse a remissão e o perdão, a graça do batismo lhes pareceria desnecessária” (In Lev. Hom. 8,3).
– “A Igreja recebeu dos Apóstolos o costume de administrar o batismo inclusive às crianças, pois aqueles a quem foram confiados os segredos dos mistérios divinos sabiam muito bem que todos carregam a mancha do pecado original, que deve ser lavada pela água e pelo Espírito” (In Rom. Com. 5,9: EH 249).
Orígenes e a Penitência
Orígenes reconhece que os pecados cometidos após o batismo podem ser perdoados através da penitência e da confissão dos pecados perante um sacerdote (cabendo a este dizer se será necessária a confissão pública do pecado ou não):
“Observa com cuidado a quem confessas os teus pecados; põe à prova o médico para saber se é doente com os doentes e se chora com os que choram. Se ele entender -necessário que o teu mal seja conhecido e curado na presença da assembléia reunida, segue o conselho do médico especialista” (In Ps. Hom. 37,2,5).
Evidentemente, para Orígenes não valia a desculpa [protestante]: “Eu me confesso diretamente com Deus e isso basta!”.
Orígenes e a Eucaristia
Comenta Jesús Solano que Orígenes possui um texto muito debatido, no qual – embora não seja propriamente um texto eucarístico – emprega a terminologia eucarística em sentido alegórico. Para quem conhece a paixão de Orígenes em relacionar entre si os textos da Sagrada Escritura e encontrar alegorias no ambiente de “gnose” então prevalente em Alexandria, não há qualquer sério problema para a sua ortodoxia ao se expressar com tais alegorias. Seria injusto para com o escritor e anticientífico deduzir o pensamento eucarístico de Orígenes de uma ou outra passagem e não do conjunto de todas elas. Apesar de Orígenes ter tido numerosos adversários, não temos notícia de que alguém tenha impugnado a sua doutrina eucarística.
“Este pão que o Deus Verbo confessa ser o seu corpo é a palavra que alimenta as almas, palavra procedente do Deus Verbo e pão do pão celestial que tem sido posto sobre a mesa, sobre a qual foi escrito: ‘Preparaste diante de mim uma mesa a vista dos meus perseguidores’. E esta bebida que o Deus Verbo confessa ser o seu sangue é a palavra que apaga a sede e embriaga prodigiosamente os corações daqueles que o bebem, bebida que está no cálice, sobre o qual foi escrito: ‘E quão excelente é o teu cálice que embriaga’. E esta bebida é fruto da verdadeira Videira, que diz: ‘Eu sou a verdadeira videira’ e este é o sangue daquela uva que, lançada no lagar da Paixão, produziu esta bebida. Como também o pão é a palavra de Cristo, feito daquele trigo que, caindo na terra, deu muito fruto. Porque não àquele pão visível que tinha nas mãos dizia o Deus Verbo [ser o] seu corpo, senão à palavra em cujo mistério deveria ser partido aquele pão; nem àquela bebida visível dizia [ser o] seu sangue, senão à palavra em cujo mistério deveria ser derramado. Porque o corpo ou sangue do Deus Verbo que outra coisa pode ser senão a palavra que alimenta e a palavra que alegra o coração” (Orígenes. Série de comentários. 85; KLOSTERMANN, 196s; MG 13,1734 A – 1735 A).
Uma análise do restante de seus textos comprova a afinidade de Orígines pela mais tradicional ortodoxia a respeito da Eucaristia, seguindo a mesma linha dos demais Padres. Do mesmo modo que Tertuliano, mostra preocupação para que o pão e o vinho consagrados não caiam no chão. Afirma que “assim como o maná era alimento em forma de enigma, agora claramente a carne do Verbo de Deus é verdadeiro alimento, como Ele mesmo diz: ‘Minha carne é verdadeira comida e meu sangue verdadeira bebida'”. Em todos os casos, Orígenes se refere ao “verdadeiro alimento” não como pão, mas como “a carne do Verbo de Deus”. Afirma também que receber o corpo indignamente gera ruína para quem o recebe e se refere à celebração eucarística como “a mesa do corpo de Cristo e do próprio cálice de seu sangue”.
“Conheceis a vós que assistis aos divinos mistérios, como quando recebeis o corpo do Senhor o guardais com toda cautela e veneração, para que não caia nem um pouco dele, nem desapareça algo do dom consagrado. Porque – corretamente – crês que sereis réus se perderdes algo dele por negligência. E se empregais – corretamente – tanta cautela para conservar o seu corpo, como julgais ser coisa menos ímpia se descuidar de sua palavra que ao seu corpo?” (Sobre o Êxodo. Homilía 13,3; W.A. BAEHRENS: GChS 29, Orígenes Werke 6,274; MG 12,391 A-B).
“Antes, o batismo estava oculto na nuvem e no mar; agora, a regeneração está claramente na água e no Espírito Santo. Então o maná era alimento em enigma; agora claramente a carne do Verbo de Deus é verdadeiro alimento, como Ele mesmo diz: ‘Minha carne verdadeiramente é comida e meu sangue é verdadeiramente bebida‘” (Sobre los Números. Homilía 7,2; BAEHRENS: GChS 30, Origenes Werke 7,39s; MG 12,613 C).
“...Se sobes, pois, para celebrar com Ele a Páscoa, te dará o cálice do Novo Testamento e te dará também o pão da bênção; te concederá seu corpo e sangue” (Sobre Jeremias. Homilia 19,13; E. KLOSTERMANN: GChS, Origenes Werke 3,169,30-33: MG 13,489 C.; aqui encontra-se como Homilía 18).
“E entrarão nelas [as coisas escolhidas do mundo] sem consideração {Ez 7,22 LXX; cfr. v.20 LXX} …Assim, deve-se dizer que entra sem consideração nas coisas santas da Igreja aquele que, após o ato conjugal, indiferente à impureza que contraiu, consente em orar sobre o pão da Eucaristia; esta pessoa profana as coisas santas e pratica uma ação descomposta” (Sobre Ezequiel 7,22; MG 13,793 B).
“Não temes comungar o corpo de Cristo ao te aproximares da Eucaristia como se fosses limpo e puro? Como podereis fugir ao juízo de Deus? Não recordas daquilo que está escrito: ‘Por isso há entre vós muitos debilitados e doentes e muitos que morrem’? Por que muitos debilitados? Porque não julgam a si mesmos, não se autoexaminam, não entendem o que é participar da Igreja, nem o que é aproximar-se de tantos e tão exímios sacramentos. Padecem daquilo que costumam a padecer os febris quando se atrevem a comer dos manjares dos sãos; ou seja, trazem para si a própria ruína” (Sobre el Salmo 37. Homilía 2,6; MG 12,1386 D).
“E Celso, por essa razão, como homem que desconhece a Deus, oferece suas obras de graças aos demônios. Nós, ao contrário, dando graças ao Criador de tudo, comemos dos pães oferecidos com a ação de graças e a oração sobre os dons recebidos, constituídos pela oração em um corpo santo e santificador dos que se servem dele com são propósito” (Contra Celso. L.8. c33; P. LOETSCHAU: GChS Origenes Werke 2,249,4-9; MG 11,1566 C).
“[Mat. 26,23]… E se podes entender a mesa espiritual e o alimento espiritual e a ceia do Senhor, de tudo isto tinha se dignado Cristo fazer participar [a Judas]; mas verás que pela grandeza de sua maldade – eis que entregou o Salvador, mestre e também alimento da divina mesa e do cálice (e isto no dia da Páscoa) – sem dar atenção aos bens corporais do amor do mestre, nem dos [bens] espirituais de sua doutrina, repartida sempre sem inveja. Como este [Judas] são na Igreja todos aqueles que levantam azedumes contra os seus irmãos, com os quais freqüentemente estiveram juntos na mesma mesa do corpo de Cristo e no mesmo cálice de seu sangue” (Orígenes. Serie de comentarios. 82; KLOSERMANN: GChS 38, Orígenes Werke 1,194, MG 13,1732 B).
CONCLUSÃO
Orígenes era protestante? Responda a apenas estas perguntas:
1. Os protestantes crêem na sucessão apostólica e que Pedro era “a pedra solidíssima” sobre a qual foi edificada a Igreja [de Cristo]?
2. Os protestantes crêem que as fontes da doutrina cristã são as Escrituras e a Tradição, a qual é trasmitida por sucessão ordenada desde os Apóstolos e que não se deve aceitar como verdade senão aquilo que em nada se afasta da Tradição apostólica e eclesiástica?
3. Os protestantes crêem que a Igreja Católica é a cidade de Deus sobre a terra, que fora dela não há salvação e que a fé dos que se separam dela não é verdadeira, mas “credulitas arbitraria” (=crença arbitrária)?
4. Os protestantes crêem que Maria é Mãe de Deus (=Theotokos), mãe da Igreja e Virgem até o fim [de sua vida] e que não é possível entender o Evangelho quem não a aceita como mãe?
5. Os protestantes crêem que a Eucaristia é o Corpo e Sangue do Senhor, que não pode aproximar-se dela quem está em pecado e que deve ser guardada com todo o cuidado para que não caia no chão algo do dom consagrado?
6. Os protestantes crêem que devemos batizar as crianças para que sejam limpas do pecado original, no qual todas nascem, e que o referido batismo foi prática da Igreja desde a sua origem?
7. Os protestantes crêem que devem confessar os pecados ao sacerdote?
Se a todas essas perguntas você responder “sim”, então Orígenes era protestante (e que bom seria que tívessemos outros protestantes assim!).
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NOTAS
(1) In Ioh. 10,39,270; 6,33,166; In Ies. Hom. 1,4,1 * (2) Deus é eterno, por isso o Filho também é: “aeterna ac sempiterna generatio” (In Ier. 9,4; De Princ.. 1,2,3), y no tuvo principio (De Eric. 1,2,9s; 2; 4,4,1; In Rom. 1,5) * (3) Segundo o historiador Sozomeno (Hist. Eccl. 7,32: EG 866) * (4) Orígenes, In Lc. 7: GCS 9,45 * (5) In Ier. hom. 9,2; In Ios. hom. 8,7 * (6) In Ios. hom. 3,5 * (7) In Rom. 10,5
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BIBLIOGRAFIA
– BAC 206. Patrología I, Johannes Quasten
– BAC 88. Textos Eucaristicos primitivos I, Jesús Solano
– Mariología, José C.R. García Paredez
FONTE
Católico Por que: Orígenes Interpretava as Escrituras como um protestante? Disponível em: <http://www.catolicoporque.com.br/index.php/colaboradores/parceiros/jose-miguel-arraiz/3254-biblia-origenes-interpretava-as-escrituras-como-um-protestante> Desde 20/02/2013. Tradução Carlos Martin Nabeto.