Ao falar de cânon bíblico na Igreja Católica Primitiva muito se discute em cima de listas de livros canônicos que alguns padres deixaram, e pouco se fala ou se estuda sobre o uso universal dos livros e os termos e expressões com os quais eles referiam ao livros bíblicos e especialmente aos livros deuterocanônicos. Neste artigo procuraremos tratar o uso e como os padres da Igreja até o final do século III se referiam aos livros deuterocanônicos em seus escritos
A inspiração desses livros até o final do século III são confirmadas pelos termos e expressões como “Escritura”, “Divina Escritura”, “Sagradas Escrituras” e “profeta” que eram utilizados para referir-se a esses livros, mostrando sua importância e reconhecimento dentro da comunidade cristã.
Os padres até o final do século III utilizavam os livros deuterocanônicos de várias maneiras:
- Provar Doutrinas: Eles citavam esses livros para fundamentar ensinamentos teológicos e dogmas cristãos.
- Combater Heresias: Em debates teológicos, os deuterocanônicos serviam como base para refutar ensinamentos heréticos, mostrando a ortodoxia da fé cristã primitiva.
- Estabelecer Regras: Normas e orientações para a vida comunitária e eclesiástica muitas vezes eram extraídas desses textos.
- Transmitir Ensinamentos Morais e Práticos: Conselhos sobre comportamento ético e práticas diárias de vida cristã eram apoiados por citações desses livros, indicando sua relevância na formação moral dos fiéis.
- História Geral: A narrativa histórica dos livros deuterocanônicos era usada para ensinar lições espirituais e morais, bem como para contextualizar eventos e personagens bíblicos.
O uso desses textos até o século III demonstra sua aceitação e autoridade dentro da Igreja primitiva. Em escritos de figuras como os padres apostólicos, Clemente de Roma, Policarpo, Irineu de Lyon, Tertuliano e Orígenes, vemos que os deuterocanônicos eram frequentemente citados como Escritura, colocando-os no mesmo nível dos outros livros bíblicos.
No estudo de listas de livros e no exame do uso prático das Escrituras pelos Padres da Igreja, observamos uma aceitação tácita dos deuterocanônicos. As listas canônicas mais formais e conclusivas surgem posteriormente, mas o uso litúrgico e teológico já estabelecido desde cedo aponta para uma tradição de reconhecimento e reverência a esses textos.
Em estudos futuros, analisaremos como esses livros foram referidos e utilizados nos séculos subsequentes, até a consolidação do cânon bíblico na forma que conhecemos hoje.
PADRES APOSTÓLICOS
Barnabé (+ 74 d.C)
“Eu, humilde servo do amor, vos escrevo com simplicidade, para que compreendais. O que diz ainda o profeta? ‘Uma assembléia de malfeitores me rodeou. Eles me cercaram como abelhas ao favo.’ (Salmos 22, 17; 118, 12) E ‘sobre minhas vestes tiraram sortes.’ (Salmos 22, 19) E como era na sua carne que ele devia revelar-se e sofrer, sua paixão foi revelada de antemão. De fato, o profeta diz a respeito de Israel: ‘Ai da vida deles! Pois conceberam um desejo mau contra si mesmos’, (Isaias. 3, 9), dizendo: ‘Amarremos o justo, porque ele nos incomoda.’ (Sabedoria 2, 12). Que lhes diz Moisés, outro profeta? ‘Eis o que diz o Senhor Deus: ‘Entrai na terra boa, que o Senhor prometeu a Abraão, Isaac e Jacó. Tomai posse dessa terra, onde correm leite e mel.’ (Êxodo. 33, 1, Levítico. 20, 24)” (Epístola de Barnabé, 6 – 74 d.C).
A Epístola de Barnabé, datada da era apostólica, isto é primeiro século, usa a Sabedoria para confirmar que a morte do Senhor foi confirmada de Antemão.
Na tradução dos padres da Igreja do historiador protestante Philip Schaff temos a seguinte nota de rodapé constatando o óbvio, embora negando a inspiração do livro:
“1504 Sabedoria 2. 12. Este livro apócrifo é assim citado como Escritura e entrelaçado com ela.” [link para ver a nota: https://ccel.org/ccel/schaff/anf01.vi.ii.vi.html#fna_vi.ii.vi-p12.2]
O capítulo 2 do livro da Sabedoria é uma profecia a respeito da morte da crucificação de Cristo, um texto mais extenso sobre o tema pode ser lido aqui: [https://apologistascatolicos.com.br/sabedoria-2-12-20-a-profecia-cumprida-em-jesus-cristo-2/]
Clemente Romano (Papa, + 95 d.C)
“Muitas mulheres também, fortalecidas pela graça de Deus, realizaram numerosas façanhas viris. A bem-aventurada Judite, quando sua cidade foi sitiada, pediu permissão aos anciãos para ir ao acampamento dos estrangeiros; e, expondo-se ao perigo, ela saiu por amor à sua pátria e ao seu povo então sitiado; e o Senhor entregou Holofernes nas mãos de uma mulher. [Judite 8, 30] ” (Clemente Romano, Aos Coríntios 55)
“Que nossas almas se apeguem por uma esperança assim Àquele que é fiel em Suas promessas e justo em Seus juízos. Aquele que proibiu a mentira, tampouco haverá de mentir, pois nada junto a Deus é impossível, exceto a mentira. Portanto, que se acenda novamente dentro de nós a fé Nele e reconheçamos que todas as coisas estão próximas Dele. Com apenas uma palavra de sua grandeza, estabeleceu tudo e, com uma só palavra, pode destruir tudo. ‘Quem diria a Ele: ‘O que fizeste?’, e quem resistiria à força do seu poder?’ (Sabedoria 12, 12; 11, 22) Fará tudo quando e como quiser. Nada das coisas que ordenou haverá de passar. Tudo está diante de Seus olhos, nada escapa de Sua determinação. ‘Os céus anunciam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de Suas mãos. O dia comunica a façanha ao dia, a noite transmite seu conhecimento à noite. Não há palavras nem discursos em que suas vozes não são ouvidas.’ (Salmos 19, 1-3)” (Clemente Romano, Aos Coríntios 27, 1-5).
Didaqué (+ 80 d.C)
“‘Julgue de forma justa’ (Deuteronômio 1,17; Provérbios 31,9) e corrija as culpas sem distinguir as pessoas. Não hesite sobre o que vai acontecer. Não te pareças com aqueles que ‘abrem a mão para receber e a retiram quando devem dar.’ (Eclesiástico 4, 31)” (Didaqué 4, 3-5).
Policarpo de Esmirna (+ 110 d.C)
“Permaneçam, portanto, nestas coisas, e sigam o exemplo do Senhor, permanecendo firmes e imutáveis na fé, amando o próximo, e permanecendo unidos uns aos outros, gozando juntos da verdade, mostrando a mansidão do Senhor nas suas relações com o próximo, sem desprezar ninguém. Quando puderem fazer o bem, não o posterguem, pois ‘a esmola livra da morte’ (Tobias 4, 10; 12, 9). Todos vocês estão submetidos uns aos outros ‘tendo uma conduta justa entre os gentios’ (I Pedro 5, 5), para que vocês recebam em dobro a recompensa de suas boas obras, e para que o Senhor não seja blasfemado por causa de vocês. Mas coitado é aquele por quem o nome do Senhor é blasfemado! (Isaías 52, 5) Ensinem, portanto, a sobriedade a todos, e a manifestem em sua própria conduta.” (Policarpo aos Filipenses, 10 – 135 d.C).
O Pastor De Hermas (+ 140 d.C)
O pastor de Hermas é uma obra apocalíptica da primeira metade do século II depois de Cristo. Nesta obra temos a seguinte citação:
“Primeiro de tudo, acredite que há um só Deus que criou e terminou tudo, ‘e fez todas as coisas do nada’ (II Macabeus 7, 28)” (Primeiro mandamento, 1).
AS CATACUMBAS PRIMITIVAS
Após a morte de Jesus Cristo, a pregação do evangelho, passou para a mão dos apóstolos, logo se expandiu por diversas áreas principalmente por Roma e pelos territórios dominados por ela. Com o passar do tempo a expansão da Igreja se tornou para os dirigentes romanos, uma afronta aos valores e interesses do império. A crença no Deus único era contrária ao culto das diversas divindades romanas, entre as quais estava o próprio culto ao imperador. Por causa disto, os primeiros cristãos passaram a ser perseguidos das mais variadas formas. Eram torturados, lançados aos leões, empalados, crucificados e queimados vivos. Para redimir e orar pelos mártires, eles passaram a enterrá-los nas chamadas catacumbas. Estas funcionavam como túmulos subterrâneos onde eles poderiam fugir dos soldados romanos, celebrarem a eucaristia e pintar imagens que manifestavam sua fé. As primeiras catacumbas encontradas são datadas do século II d.C
As pinturas feitas no interior das catacumbas eram rodeadas de uma simbologia que indicava a forte discrição do culto cristão naquele momento. O que mostra que desde o cristianismo primitivo as imagens eram utilizadas pra expressão de fé e devoção. As imagens mais frequentes eram o crucifixo, que lembrava o sacrifício de Jesus. A âncora que significava a salvação. O peixe era bastante comum, pois peixe em grego é ICTUS que é eram as mesmas iniciais de: “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador” e diversas passagens bíblicas.
É Interessante notar que os cristãos das catacumbas só registravam em suas paredes relatos de livros bíblicos inspirados ou alguma simbologia tirada deles como acima mostrado. Não há nenhum relato de livros do Antigo Testamento que sejam de livros que não fossem inspirados. Mas o que isso tem a ver com os livros deuterocanônicos? Tem a ver que os relatos dos livros deuterocanônicos eram fartamente ilustrados no interior das catacumbas, evidenciando assim que os cristãos já no século I e II consideravam os livros deuterocanônicos inspirados e demonstravam sua crença neles ao pintarem os nas paredes junto com relatos de todos os outros livros que consideravam inspirados também.
Abaixo estão algumas imagens retiradas das catabumbas que representam passagens dos livros deuterocanônicos:
Esta pintura acima, encontrada na catacumba de Priscila em Roma, se refere ao relato deuterocanônico da História Susana do livro de Daniel, este é o momento em que ela está sendo julgada e sendo acusada pelos 2 anciãos. Pintura datada da metade do século II.
Esta outra pintura se refere ao livro de Tobias quando o anjo manda Tobias pegar o peixe no Rio Eufrates.
Esta foto mostra a representação de várias passagens bíblicas, entre elas estão as duas já mencionadas passagens de Tobias (parte central inferior) e o julgamento de Susana (canto direito superior). As outras passagens bíblicas representadas nela são (na parte superior) Moisés batendo na rocha, Cristo Dividindo Pães, a adoração dos reis Magos, Noé, a ressurreição de Lázaro e (na parte inferior) Daniel entre os leões, a cura do paralítico e Jó. Esta Catacumba é do século IV em Roma na Vigna Massimo (Foto: Josef Wilpert, Die Malereien der Katakomben Roms. Freiburgim Breisgau, 1903).
As principais cenas retratadas dos livros deuterocanônicos nas catacumbas, são a Passagem de Susana, a do Profeta Habacuque trazendo o pão a Daniel na prisão, os 3 jovens cantando na fornalha e Tobias e o anjo.
Esta é a mais clara prova do uso constante e livre que os primeiros cristãos faziam dos livros deuterocanônicos, sem fazer qualquer distinção entre eles e o resto dos livros inspirados.
Objeção protestante:
“O fato de que algumas cenas dos Apocrifos estarem retratadas nas paredes das catacumbas não significa que os livros apócrifos são canônicos. Significa simplesmente que alguns dos eventos registrados em livros apócrifos foram significativos o suficiente para algumas pessoas que fizeram desenhos sobre na parede. Desenhos em paredes são dificilmente um teste para a canonicidade…” (Rhodes, pp. 39-40.)
Ninguém diz que os desenhos nas paredes são um “teste” para canonicidade. Isto é apenas outra evidência de que os primeiros cristãos trataram os deuterocanônicos como Escritura. Dentro das catacumbas, símbolos importantes da fé eram colocados. Dentro dos desenhos, há imagens de coisas que estavam no Antigo e no Novo Testamento. E naqueles desenhos, refletem-se símbolos importantes da vida dos crentes. E, claro, isso reflete que os deuterocanônicos são colocados no mesmo nível que o resto do Antigo e Novo Testamento.
Irineu De Lião (+180 d.C)
Irineu nasceu na Ásia Proconsular ou, pelo menos, em alguma província em seus limites, na primeira metade do século II, entre 130 e 142 d.C. Ainda muito jovem, viu e ouviu o santo bispo Policarpo (+ 155 d.C) em Esmirna. Irineu sucedeu ao mártir São Pothino como Bispo de Lião. Dentre o seus usos dos deuterocanônicos pode-se destacar:
“… e eles ouvirão essas palavras, que podem ser encontrados em Daniel o profeta: ‘Ó tu semente de Canaã, e não de Judá, a beleza te enganou, e o desejo perverteu o teu coração’ (Daniel 13, 56).” (Contra as Heresias, IV- 26, 3).
“Ora, quem é o Deus dos vivos a não ser o verdadeiro Deus acima do qual não há outro Deus? Aquele de quem falava o profeta Daniel quando respondeu a Ciro, rei dos persas, que lhe perguntava: ‘Por que não adoras a Bel?’, ‘Porque não adoro ídolos feitos pelas mãos dos homens, mas o Deus vivo que fez o céu e a terra e que tem o poder sobre todos os homens’. E ainda: ‘Adorarei o Senhor, meu Deus, porque ele é o Deus vivo’. (Daniel 14, 5-5.25) Portanto, o Deus vivo adorado pelos profetas é o Deus dos viventes, e o seu Verbo, que falou a Moisés, que refutou os saduceus, que concedeu a ressurreição, demonstrando, a partir da Lei, a estes cegos estas duas coisas, a ressurreição e Deus.” (Conta as Heresias Livro IV – 5, 2)
“Eis como distribuem os profetas: de Jaldabaoth eram Moisés, Jesus, filho de Nave, Amós e Habacuc; de Iao: Samuel, Natã, Jonas e iquéias; de Sabaoth: Elias, Joel e Zacarias; de Adonai: Isaías, Ezequiel, Jeremias e Da:tiel; de Eloim: Tobias e Ageu; de Hor: Miquéiaa e Naum; de Astafeu: Esdras e Sofonias. Cada um deles glorifica o seu Pai e Deus;” (Contra as Heresias Livro I – 30, 11)
“Por todas estas palavras e outras foram sem dúvida ditas em referência à ressurreição dos justos, que acontecerá após a vinda do Anticristo, e a destruição de todas as nações sob seu domínio; em que os justos reinarão na terra, e serão mais forte aos olhos do Senhor: e por meio dele, eles devem se acostumaram a participar da glória de Deus Pai, e gozará no reino, comunicação e comunhão com os santos anjos, e união com os seres espirituais, e aqueles que o Senhor deve encontrar na carne, que o aguardava do céu, e que sofreram tribulação, assim como escaparam das mãos do maligno. Pois é em referência a eles que o profeta diz: ‘E aqueles que são deixados se multiplicarão sobre a terra: ‘E Jeremias, o profeta, apontou que, como Deus tem preparado muitos crentes para este fim, a multiplicar-se aqueles que ficaram sobre a terra, ambos devem estar sob a regra dos santos para ministrar isto a Jerusalém, e este reino será nele, dizendo: ‘Jerusalém, volta o teu olhar para o oriente, vê a alegria que te vem de Deus. Olha! Eis que voltam os filhos que viras partir. Chegam do oriente e do ocidente, à voz do Altíssimo, repletos da alegria que lhes dá a glória de Deus. Tira, Jerusalém, a veste de luto e de miséria; reveste, para sempre, os adornos da glória divina. Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus, e coloca sobre a cabeça o diadema da glória do Eterno. Deus vai mostrar à terra, e sob todos os céus, teu esplendor. Eis o nome que te é dado por Deus, para todo o sempre: Paz da Justiça e Esplendor do temor a Deus! Ergue-te, Jerusalém, galga os cumes e olha para o oriente! Olha: ao chamado do Altíssimo, reúnem-se teus filhos, desde o poente ao levante, felizes por se haver Deus lembrado deles. Quando de ti partiram, caminhavam a pé, arrastados pelos inimigos. Deus, porém, tos devolve, conduzidos com honras, quais príncipes reais, porque Deus dispôs que sejam abaixados os montes e as colinas, e enchidos os vales para que se una o solo, para que Israel caminhe com segurança sob a glória divina. As florestas e as árvores de suave fragrância darão sombra a Israel, por ordem do Senhor. Em verdade, é o próprio Deus quem conduz Israel, pleno de júbilo no esplendor de sua majestade, pela sua justiça, pela sua misericórdia!’ (Baruc 4, 36 – 5, 9)”. (Contra as Heresias V- 35,1).
Tertuliano (+ 197 d.C)
Escritor eclesiástico dos séculos II e III, Tertuliano provavelmente nasceu por volta de 160 d.C em Cartago, sendo filho de um centurião do serviço proconsular. Ele era por profissão, um advogado, e mostra uma estreita familiaridade com o procedimento e termos do direito romano. Converteu-se em 197 e se tornou padre na Igreja de Cartago, contudo caiu na heresia montanista, e, por fim, fundou sua própria seita, os tertulianistas. Apesar disso, porém, seus escritos anteriores à adesão à heresia continuaram a ser lidos na Igreja por sua defesa ardente da Ortodoxia. Entre seus escritos, alguns usos dos deuterocanônicos são explícitos:
“Pois, quando se lê de Deus como sendo ‘o penetrador e testemunha do coração’ (Sabedoria 1, 6), quando Seu profeta é repreendido por Sua descoberta a ele os segredos do coração;” (Sobre a Alma, 15).
“Nossa instrução vem de ‘o pórtico de Salomão’, que ensinou si mesmo que ‘o Senhor deve ser procurado em simplicidade de coração’ (Sabedoria 1, 1).” (Prescrição contra os hereges, 7).
“Pois se lembraram também das palavras de Jeremias escrevendo para aqueles sobre os quais o cativeiro era iminente: ‘E agora, vereis ter sobre os ombros dos homens aos deuses dos babilônios, de ouro e prata e madeira, causando medo aos gentios. Cuidado, portanto, que também vós não sejais totalmente como os estrangeiros, e sejam apreendidos com medo, enquanto multidões vedes adorando esses deuses antes e por trás, mas dizem que em sua mente, nosso dever é Te adoramos, Ó Senhor’ (Baruc 6, 3).” (Scorpiace, 8).
Clemente De Alexandria (+ 202 d.C)
São Clemente (não confundir com o Papa Clemente Romano) foi um teólogo grego antigo e chefe da escola catequética de Alexandria. Nasceu em Atenas, (a data é desconhecida) e morreu por volta do ano 215 d.C. Ele foi também professor de Orígenes. Suas citações dos deuterocanônicos seguem:
“... a Escritura que diz: ‘E aquele que teme ao Senhor voltará ao seu coração’ (Eclesiástico 21, 6), e acima de tudo, esquecidos do Seu amor, nisto por nós, Ele se fez homem. Pois mais adequadamente a Ele, ora profeta nestas palavras: ‘Lembre-se de nós, pois somos pó’ (Salmos 103, 14);” (O instrutor, I, 8).
“Excelentemente, portanto, a Divina Escritura endereçada aos presunçosos e amantes de si mesmo, diz: ‘Onde estão os chefes das nações que domavam os animais da terra, e brincavam com as aves do céu, que entesouravam prata e ouro, em quem os homens confiavam, e cujos bens são inesgotáveis? Onde estão aqueles que trabalham a prata com dificuldade? Nada resta de suas obras. Desapareceram, desceram à habitação dos mortos, e outros subiram ao lugar deles;’ (Baruc 3, 16-19)” (O Instrutor Livro II, 3)
“‘O insensato eleva a voz quando ri’, diz a Escritura, ‘mas um homem sábio sorri discretamente’ (Eclesiástico 21, 20)” (O Instrutor, Livro2, 5)
“Isto as escrituras tem brevemente mostrado, quando diz: ‘jamais fazer a outrem o que não quererias que te fosse feito.’ (Tobias 4, 15)” (Stromata – Livro II, 23)
“Tendo ouvido a Escritura que diz: ‘jejum e oração é uma coisa boa’ (Tobias 12, 8).” (Stromata, 6, 12).
“E novamente ele diz: ‘Vinde todos a Mim, os que trabalham, e estão cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei’ (Mateus 11, 28); E o que é adicionado, o Senhor fala em sua própria pessoa e de forma muito clara ele chama a bondade de Salomão, quando ele diz: ‘bem-aventurado o homem que tem sabedoria encontrada, e os mortais que tem achado compreensão’ (Provérbios 3, 13). ‘Pois o bem é encontrado por aquele que procura, e é costuma ser visto por quem o encontrou’ (Provérbios 2, 4-5; 3, 15). Por Jeremias, também, Ele estabelece prudência, quando ele diz: ‘Felizes somos nós, Israel, pois o que é agradável a Deus é conhecido por nós’ (Baruc 4, 4). e é conhecida pela Palavra, por quem nós somos abençoados e sábios. Pois sabedoria e conhecimento são mencionadas pelo mesmo profeta, quando ele diz: ‘Ouve, ó Israel , os mandamentos da vida, e dá ouvidos para conhecerdes o entendimento’ (Baruc 3, 9). Por Moisés, também, em razão do amor que Ele tem para o homem, Ele promete um presente para aqueles que se apressam a salvação. Pois Ele diz: ‘E eu vos trarei para a boa terra que o Senhor jurou a teus pais’ (Deuteronômio 31, 20).” (O Instrutor, I, 10).
Hipólito (+ 236 d.C)
Presbítero Mártir na Igreja de Roma, a data de nascimento é desconhecida. Morreu por volta de 236 d.C. Até a publicação, em 1851, do descoberto “Philosophumena”, era impossível obter quaisquer fatos autênticos relativos a ele, porém, dos seus escritos se destacam:
“Mas eles disseram: ‘Nós não iremos: nem vamos fazer a ordem do rei, vamos morrer na nossa inocência, e ele matou deles mil almas” (I Macabeus 2, 33). As coisas, portanto, que foram ditas para o bem-aventurado Daniel são cumpridas: ‘e os meus servos serão atormentados, e devem cair pela fome e pela espada, e pelo cativeiro’ (Daniel 11, 33).” (Comentário sobre Daniel, 2, 32).
“Porque até agora o anjo de Deus. ‘Ele mostra também que, quando Susanna orou a Deus e foi ouvida, o anjo foi enviado, então, para ajudá-la, assim como foi o caso na instância de Tobias e Sara (Tobias 3, 17). Pois quando rezavam, a súplica de ambos foi ouvida no mesmo dia e mesma hora, e o anjo Rafael foi enviado para curar a ambos.” (Comentário sobre Daniel 6, 55).
“O profeta diz: ‘Os ímpios disseram, com efeito, nos seus falsos raciocínios’, isto é, sobre Cristo: ‘Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação. Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor!’ (Sabedoria 2, 1 . 12 – 13).” (Contra os Judeus, 65).
“Mas o caso não fica assim; pois as Escrituras não estabelecem o assunto dessa maneira Mas eles fazem uso também de outros testemunhos, e diz: Assim está escrito: ‘Este é o nosso Deus, e nenhum outro dele ser comparado a ele. Ele encontrou todo o caminho do conhecimento, e tem deu a Jacó, seu servo (filho), e Israel o seu amado. Depois que Ele mostrar-se sobre a terra, e conversou com os homens’ (Baruc 3, 25-38).” (Contra a Noetus, 2).
A profecia do Capítulo 2 do Livro da Sabedoria:
“Agora apresento a profecia de Salomão, que fala de Cristo e anuncia clara e perspicuamente coisas concernentes aos judeus; e aquelas que não apenas estão acontecendo com eles no momento, mas também aquelas que lhes acontecerão na era futura, por causa da obstinação e audácia que exibiram em relação ao Príncipe da Vida; pois o profeta diz: “Os ímpios disseram, raciocinando entre si, mas não corretamente”, ou seja, sobre Cristo, “Vamos emboscar o justo, porque ele não está do nosso lado, e é completamente contrário aos nossos atos e palavras, e nos reprova por ofendermos a lei, e afirma ter conhecimento de Deus; e ele se chama Filho de Deus.” [Sabedoria 2. 1, 12, 13]. E então ele diz: “Ele é penoso para nós até mesmo de olhar; pois sua vida não é como a dos outros homens, e seus caminhos são de outro tipo. Somos estimados por ele como falsos, e ele se abstém de nossos caminhos como de imundície, e proclama que o fim dos justos é abençoado.” [Sabedoria 2. 15, 16]. E novamente, ouça isso, ó judeu! Nenhum dos justos ou profetas chamou a si mesmo de Filho de Deus. E, portanto, como na pessoa dos judeus, Salomão fala novamente deste justo, que é Cristo, assim: “Ele foi feito para repreender nossos pensamentos, e se vangloria de que Deus é seu Pai. Vamos ver, então, se suas palavras são verdadeiras, e vamos provar o que acontecerá no fim dele; pois se o homem justo for Filho de Deus, Ele o ajudará e o livrará da mão de seus inimigos. Vamos condená-lo a uma morte vergonhosa, pois por sua própria palavra ele será respeitado.” [Sabedoria 2, 14, 16, 17, 20. ]” (Hipólito de Roma – Tratado Expositivo Contra os Judeus – Parte II)
Cipriano De Cartago (+ 248 d.C)
São Cipriano foi bispo e mártir. Sobre a data de nascimento e toda sua juventude, nada é conhecido. Na época de sua conversão ao Cristianismo ele tinha, talvez, meia-idade. Era famoso como orador e advogado, tinha uma riqueza considerável e tinha, sem dúvida, uma ótima posição na metrópole da África. Seu dom da eloquência é evidente em seus escritos e sua conversão se deve a um padre idoso chamado Caecilianus, com quem ele parece ter vivido. Suas principais citações dos deuterocanônicos podem ser destacadas:
“E mais uma vez, onde a Sagrada Escritura fala das torturas que consagram mártires de Deus, e santificá-los no próprio julgamento do sofrimento: ‘Ainda que por algum tempo estenda seus ramos, estando instavelmente assentada, será abalada pelo vento e, pela violência da tempestade, será desarraigada. Os galhos serão quebrados antes do desenvolvimento, o fruto deles será inútil, verde demais para ser comido, e impróprio para qualquer uso, porque os filhos nascidos de uniões ilícitas serão no dia do juízo testemunhas a deporem contra seus pais. Quanto ao justo, mesmo que morra antes da idade, gozará de repouso. A honra da velhice não provém de uma longa vida, e não se mede pelo número dos anos.’ (Sabedoria 3, 4-8)” (Epístola 80, 2)
“… uma vez que A Sagrada Escritura nos encontra e nos avisa, dizendo: ‘o homem arrogante não tem repouso, dilata a goela como a voragem da habitação dos mortos, e se mostra tão insaciável como a morte;’ (Habacuque 2, 5) E ainda: ‘Não receeis as ameaças do pecador, porque sua glória chega à lama e aos vermes: hoje ele se eleva e amanhã desaparece, porque tornará ao pó, e seus planos são frustrados.’ (1 Macabeus 2, 62-63)” (Carta 54, 3)
“Você diz que você é abastado e rico; mas não se torna uma virgem para se vangloriar de suas riquezas, uma vez que a Sagrada Escritura diz: ‘O que ganhamos com nosso orgulho, e que nos trouxe a riqueza unida à arrogância? Tudo isso desapareceu como sombra, como notícia que passa;’ (Sabedoria 5, 8)” (Tratado II, 10)
“Esta fé da Sagrada Escritura nos assegura e nos diz como estes oravam, dá um exemplo que devemos seguir em nossas orações, a fim de que sejamos como eles eram: ‘Então estes três’, ele diz, ‘como se de uma boca cantaram um hino, e bendisseram o Senhor’ (Daniel 3, 51).” (Tratado 4, 8).
“E, assim, a Sagrada Escritura nos ensina, dizendo: ‘A oração é boa com o jejum e esmola’ (Tobias 12, 8).” (Tratado 4, 32).
“A Sagrada Escritura ensina e avisa, dizendo: ‘Meu filho, quando vieres ao serviço de Deus, fique em retidão e temor, e prepara a tua alma para a tentação’ (Eclesiástico 2, 1-4) E ainda: ‘Na dor suporte, e na tua humildade tenha paciência, pois o ouro e a prata são provados no fogo, mas os homens aceitáveis na fornalha da humilhação’ (Eclesiástico 2, 5).” (Tratado 7, 9). 2
“…uma vez que o Senhor fala, dizendo: ‘Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com inteligência e sabedoria.’ (Jeremias 3, 15) E mais uma vez, está escrito: ‘e desgraçado é aquele que rejeita a sabedoria e a disciplina!’ (Sabedoria 3, 10) e nos Salmos, também Espírito Santo admoesta e nos instrui…”. (Epístola 61, 1)
“No Evangelho de João: ‘Ninguém pode receber nada, exceto que foram lhe dado do céu’ (João 3, 27). Também na primeira Epístola de Paulo aos Coríntios: ‘Que é que possuis que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se o não tivesses recebido?’ (I Coríntios 4, 7). Também no primeiro dos Reis: ‘não se gabe, nem fale coisas grandiosas, e não deixe que grandes discursos saiam da sua boca, pois o Senhor é um Deus de conhecimento’ (I Samuel 2, 3-4). Também no mesmo lugar: ‘o arco dos valentes foi feito fraco, e os fracos, são cingidos de força’ (I Samuel 2, 4-5). E desta mesma coisa em Macabeus: ‘É justo, dizia ele, submeter-se a Deus, e, como simples mortal, não se querer igualar a ele.’ (II Macabeus 9, 12). Também no mesmo lugar: ‘E não tema as palavras de um homem que é um pecador, porque sua glória será sujeira e vermes. Hoje ele deve ser levantado, e amanhã, ele não será encontrado, porque ele é levado para sua terra, e seu pensamento desaparece’ (I Macabeus 2, 62-63).” (Tratados, 12, 3-4).
“Em Gênesis: ‘E Deus, provou Abraão, e disse-lhe: Toma teu único filho a quem amas, Isaac, e vai para a terra alta, e oferece-o ali em holocausto sobre um dos montes que eu te direi’ (Gênesis 22, 1-2). Desta mesma coisa em Deuteronômio: ‘O Senhor vosso Deus vos prova, para que Ele possa saber se amais o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma’ (Deuteronômio 13, 3). Da mesma coisa na Sabedoria de Salomão: ‘Embora aos olhos dos homens, eles sofreram tormentos, sua esperança é cheia de imortalidade, e tendo sido em algumas coisas angustiados, mas em muitas coisas devem ser felizmente ordenados, porque Deus os testou, e achou-os dignos de si mesmo. Como ouro na fornalha Ele os provou, e como um holocausto Ele os recebeu. E em seu tempo haverá respeito a eles; Eles julgarão as nações, e regularão sobre as pessoas, e seu Senhor reinará para sempre’ (Sabedoria 3, 4-8). Da mesma coisa em Macabeus: ‘Abraão não foi encontrado fiel em tentação, e isso não foi contabilizado com ele em justiça ?’ (I Macabeus 2, 52).” (Tratados 3, 5).
“Pois está escrito: ‘Deus não fez a morte, nem tem prazer na destruição da vida’ (Sabedoria 1, 13).” (Epístola 51/55, 22).
Orígenes De Alexandria (+ 254 d.C)
Orígenes de Alexandria ou Orígenes Adamantio (185-254) foi mestre de famosa Escola de Teologia em Alexandria (Egito) no século III. Ele foi um dos mais modestos dos escritores primitivos; quase nunca faz alusão a si mesmo em suas próprias obras
Sobre os trechos de Daniel, em sua carta dirigida a Júlio Africano, diz ele:
“Você começa dizendo que quando em minha discussão com o nosso amigo Bassus, eu usei a Escritura que contém a profecia de Daniel quando ainda jovem na questão de Susana, e que eu fiz isso como se tivesse me passado que esta parte do livro era espúria […] Você alega que tais escritos são falsos porque só se encontram no grego e não no hebraico […] Em resposta a isso, digo que há muitas outras passagens, que como a História de Susana – que é recebida por toda a Igreja de Cristo – subsistem apenas no grego e não no hebraico[…] ademais todas podem ser encontradas em Áquila e Teodósio.” (Carta a Africano, parágrafo 2).
Por que os judeus os retiraram de suas Escrituras? Orígenes comentou sobre qual foi o motivo da passagem de Susana ser removida. Os judeus não queriam passagens mostrando anciãos sendo condenados. Na história de Susanna, ela é desejada por dois anciãos, que tentam abusá-la sexualmente, mas Daniel vem em sua defesa e condena os anciãos. Aqui está o motivo por que, segundo Orígenes, os judeus mutilaram o livro de Daniel:
“Vejamos agora, se nestes casos, não somos forçados a concluir, que enquanto o Salvador dá um relato verdadeiro deles, nenhuma das Escrituras, que poderia provar o que Ele diz, é encontrada. Pois eles que constroem os túmulos dos profetas e decoram os túmulos dos justos, condenando os crimes cometidos por seus pais contra os justos e os profetas, dizendo: ‘Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices com eles no sangue dos profetas’ (Mateus 23, 30). No sangue de qual dos profetas, alguém pode me dizer? Pois, onde é que vamos encontrar algo assim escrito em Isaías, ou Jeremias, ou qualquer um dos doze, ou Daniel? Então, cerca de Zacarias, filho de Baraquias, que foi morto entre o santuário e o altar, aprendemos só com Jesus, não sabendo de outra forma a partir de qualquer Escritura. Portanto eu acho que não é possível outra suposição, além do que o que tinha a reputação de sabedoria, e os governantes e os anciãos, tiraram do povo cada passagem que poderia levá-los a descrédito entre o povo. Não precisamos nos admirar, então, que essa história do artifício maligno dos anciãos licenciosos contra Susanna é verdadeira, mas foi escondida e retirada das Escrituras pelos próprios homens não obstante pelo conselho desses anciãos”. (Orígenes a Africano, 9).
Assim, Orígenes fala da validade e do verdadeiro status de Escritura da parte deuterocanônica de Daniel. Ele diz que os cristãos não têm por que duvidar da sua veracidade. Afirma que os judeus que a esconderam e a retiraram de suas Escrituras o fizeram para “proteger” os anciãos do descrédito do povo. A Igreja não participou dessa dissimulação, como Orígenes indica, pois essa parte é verdadeiramente Escritura.
Sobre o livro do Eclesiástico
“pelo menos é o que a Escritura Divina declara: ‘Qual raça é digna de honra? A raça dos homens? Qual raça é digna de desprezo? A raça dos homens?’ (Eclesiástico 10, 19)” (Contra Celso LVIII, 50).
Poderão haver palavras mais claras: “Escritura Divina”?
“Aqueles que desejam viver segundo as Escrituras aprenderam que: ‘A ciência do tolo é um discurso incoerente’ (Eclesiástico 21, 18)” (ibidem LVII, 12).
“E, como um princípio geral observar a expressão ‘atrás’, porque é uma coisa boa quando alguém vai atrás do Senhor Deus e está atrás do Cristo; mas é o contrário, quando alguém lança as palavras de Deus para trás, ou quando ele transgride o mandamento que diz: ‘não ande atrás das tuas paixões.’ (Eclesiástico 18, 30) E Elias também no terceiro Livro dos Reis, diz ao povo ‘Até quando andareis mancando de um lado e de outro? Se o SENHOR é o verdadeiro Deus, segui-o; mas, se é Baal, segui a ele.’(1 Reis 18:21)” (Orígenes, Comentário sobre Mateus 23. Livro XII, 22).
Orígenes aqui declara a passagem do Eclesiástico como “mandamento”.
Sobre o livro da Sabedoria
“Ora, aprendemos que o Filho de Deus é “A expressão de sua glória e a expressão de seu ser” (Filipenses 1,3) “Eflúvio do poder de Deus, emanação puríssima da glória do Onipotente, um reflexo da luz perpétua, um nítido espelho da atividade divina e imagem de sua bondade.” (Sabedoria 7,25)” (Contra Celso LVIII , 14).
Ousaria Orígenes fazer combinação entre Filipenses e a Sabedoria, caso não admitisse o caráter inspirado de qualquer um dos dois livros? Ousaria associar um livro inspirado a um livro semi-inspirado ou, o que é pior, um trecho extraído de um livro canônico com um trecho pertencente a uma obra puramente humana? Certamente que não. Devemos, então, concluir que para Orígenes o livro da Sabedoria era tão inspirado quanto a Carta de Paulo aos Filipenses.
“Como é definido pela palavra de Deus: ‘Emanação do poder de Deus, eflúvio de sua Onipotente Glória… (Sabedoria 7, 25)” (Contra Celso Livro III,72).
Poderá haver palavras mais claras que essas?
Sobre o livro de Tobias
“Mas estes oram juntos com aqueles que realmente oram, não só o sumo sacerdote, mas também os anjos que ‘alegrar-se no céu por um pecador arrependido do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento’, (Mateus 15, 7) e também as almas dos santos já descansam. Duas instâncias deixar isto claro. A primeira é quando Rafael oferece seu serviço a Deus por Tobit e Sara. Depois de tanto orado, a Escritura diz: ‘A oração de ambos foi ouvida ante a presença do grande Rafael e ele foi enviado para curar os dois’(Tobias 3, 16-17)…” (Sobre a Oração VI).
Quanto a esse trecho, nenhum comentário é necessário, pois ele fala por si só.
Sobre os Livros dos Macabeus
“Mas para que possamos crer na autoridade das Sagradas Escrituras que tal é o caso, ouça como no livro de Macabeus, onde a mãe dos sete mártires exorta seu filho a suportar a tortura, esta verdade é confirmada, pois ela diz, ‘peço a ti, meu filho, para observar o céu e a terra, e em todas as coisas que neles há, e vendo estas, saber que Deus fez todas essas coisas quando elas não existiam. ’ (II Macabeus 7, 28)” (Dos Princípios 2,5).
Na obra Exortação Ao Martírio, após haver citado e comentado o episódio do martírio dos sete irmãos, descrito em II Macabeus, ele diz:
“Penso ter escolhido o que há de mais útil na Escritura para predispor os ânimos...” (Exortação ao martírio 23 – 27).
Sobre o livro de Baruc
“A Escritura Ensina: ‘Ouve oh Israel os preceitos da vida e as normas da prudência’ (Baruc 3,9).” (Homilia VII).
Dionísio, O Grande (+ 265 d.C)
Dionísio foi Papa e morreu por volta da do ano 268 d.C. Quando era presbítero da Igreja Romana, participou da controvérsia sobre a validade do batismo dos hereges e entre seus escritos podem-se evidenciar as seguintes citações:
“Mas ouçam os oráculos divinos: ‘As obras do Senhor estão em julgamento, desde o princípio, e desde sua criação delas, Ele distinguiu as partes. Ele acompanha suas obras para sempre, e seus princípios até suas gerações.’ (Eclesiástico 16, 24-25).” (Sobre a natureza, 3).
“Ele é um Espírito – pois diz Ele, ‘Deus é um Espírito’ (João 4, 24) – apropriadamente novamente Cristo é chamado de Sopro, pois ‘Ele’, disse, ‘é o sopro do poder de Deus’ (Sabedoria 7, 25).” (Para Dionísio de Roma, 4).
CONCLUSÃO
Existem outras centenas de citações dos mesmos padres aos livros deutercanoncos, como a imensa quantidade de citações de Clemente de Alexandria ao livro da Sabedoria e Eclesiástico, porém recolhemos aqui apenas algumas para demonstrar brevemente qual a utilização e a aceitação universal desses livros como escritura desde a era apostólica até o final do século III. Diante de todas essas evidências resta apenas ignorar quem deseja negar o óbvio.
Parabéns Rafael Rodrigues mais um excelente artigo.