Sexta-feira, Novembro 15, 2024

O Cardeal Siri e o Arcebispo Marcel Lefebvre

 

Eventos recentes em torno da Sociedade de São Pio X anteciparam algumas considerações da história geral da era conciliar e pós-conciliar, porém, mais particularmente a história como se relaciona à SSPX e à própria pessoa do Arcebispo Marcel Lefebvre. Tal consideração mencionou recentemente a relação do Cardeal Guiseppe Siri, o famoso Arcebispo de Genoa e Lefebvre.

A pessoa de Siri tem sido um frequente interesse agora, e seus próprios esforços para realizar a interpretação do Concílio sobre a luz da continuidade é algo que pode encontrar algum interesse renovado em nossos dias, particularmente na luz do “projeto beneditino” de reafirmar essa hermenêutica adequada e implementação dos decretos do Concílio.

Foi a combinação desses ângulos que sugeriu para mim que poderia existir algum interesse no artigo recente no qual se discutiu a relação de trabalho entre Siri e Lefebvre durante o período conciliar e pós conciliar, inclusive suas tentativas para trazer alguma reaproximação entre Lefebvre e a Santa Sé.

A avaliação foi escrita em Italiano por Gianteo Bordero para Ragionpolitica e pode fornecer algum contexto histórico interessante para a situação presentemente sendo abordada em Roma.

Eu deveria anotar que a história dessa relação não é algo que eu, pessoalmente, tenha muito conhecimento. O que as pesquisas que eu tenho sido capaz de procurar confirmam é que certos detalhes levantados aqui são verdadeiros, mas se alguém mais familiar com esta história deseja fazer alguma nota de alguma ressalva, ou sente que há alguma má-interpretação dos fatos no artigo, por favor, faça uma observação.

Segue aqui uma tradução do Novo Movimento Litúrgico (NML):

Como o Cardeal Siri tentou evitar o Cisma de Lefebvre Por Gianteo Bordero

Uma atrevida e corajosa tentativa, conduzida por um espírito verdadeiramente Católico, que visa a unidade da Igreja. Isso foi o que o Cardeal Giuseppe Siri, Arcebispo de Genoa desde 1946 até 1987, decidiu tomar em conjunto com o Arcebispo Marcel Lefebvre antes do último que foi sujeito à excomunhão (latae sententiae), seguindo a ordenação de quatro bispos consagrados sem a autorização necessária do Papa em 1988.

A relação entre o Siri e Lefebre começou durante os anos do Vaticano II, quando em torno do Arcebispo da capital da Liguria, o então Presidente do CEI [NML: A Conferência Episcopal Italiana], lá se reuniu com um grupo significante de membros do Episcopado que foram contra a flexão do Concílio em uma assembléia para uma ruptura radical com a Tradição da Igreja. Na tarde de 22 Outubro de 1963, no meio do debate sobre os documentos do concílio na Igreja (que causou a declaração retumbante da posição do Papa Paulo VI na Nota Praevia de 16 de Novembro de 1964 no significado da palavra “colegialidade”) os dois encontraram na primeira reunião o que se tornaria depois o Coetus Internationalis Patrum, um grupo que originalmente coletou trinta padres preocupados e insatisfeitos com o trabalho do andar do Concílio” (Benny Lai, Il Papa non eletto, Laterza 1993) coordenado pelo Bispo Brasileiro Gerardo de Proença Sigaud e pelo mesmo Arcebispo Lefebvre.

Nos meses a seguir, durante um intervalo das deliberações do Concílio, Lefebvre decidiu enviar o Padre Christian Charlot para Genoa, em seguida, um seminarista e o seu assessor, para se encontrarem com o Cardeal Siri e sugerir a criação de um seminário internacional em que homens jovens destinados ao sacerdócio poderiam receber treinamentos em harmonia com a tradição Católica, em oposição ao curso progressivo de muita teologia. Charlot, que depois se tornou um padre da Fraternidade de Maria e depois um colaborador confiável de Siri, foi entrevistado pelo Padre Raymond Spiazzi no livro “Cardeal Giuseppe Siri” (Edizioni Studio Domenicano, 1990): “Sobre a questão do seminário, ele [Siri] disse: ‘É uma coisa excelente, isso deve ser bem organizado, mas sempre no espírito da Igreja, em obediência”. Sobre o Coetus Internationalis Patrum: “Siri disse que nossos encontros não deveriam destruir o que a Igreja estabeleceu. Ele não quis uma união dos Padres do Concílio, independentemente do cargo, ser um grupo de pressão. Se a Igreja o queria como Cardeal, tinha uma razão; Cardeais devem ter um olho na Igreja Universal e ajudar o Papa nisto.”

[…]

Era justamente por causa do seu amor pela Igreja Católica e sua unidade que o Cardeal Siri, nos anos que antecederam à excomunhão, tentou de todas as maneiras prevenir o que já parecia um possível e doloroso cisma, sem a Igreja. Com o Padre Charlot, que, no entanto, havia se tornado parte da “Fraternidade da Bem-Aventurada Virgem Maria,” [Siri] respondeu positivamente o convite do Arcebispo Lefebvre por sua colaboração ao seminário. Charllot recorda: Nós dissemos sim, desde que eles aceitassem nosso carisma: entrar positivamente na visão mística da Igreja, aprender as reformas conciliares e tentar avivá-las com o espírito da Igreja eterna. Lefebvre não estava fechado [para isto].

Os esforços do Cardeal Genovês para consertar as relações entre Rome e Écône permaneceram vivos e foram maiores nos anos seguintes, após a suspensão da divinis do Monsenhor Lefebvre, que ocorreu em 1976, devido à ordenação de sacerdotes, apesar da proibição imposta pelo Vaticano. Siri foi muito ativo nesse assunto de 1977 até 1978. Nos últimos meses daquele ano, depois de segundas intenções de Lefebvre e palavras públicas de apreciação à Lefebvre para o Cardeal durante o segundo conclave daquele ano, [Siri] o convidou para ir até Genoa, propondo um plano de acordo: “Total submissão à autoridade do Papa e também total adesão às normas do Concílio. O único pedido de Lefebvre foi de que fosse permitida a celebração da Missa em Latim, de acordo com o Rito de São Pio V. (B. Lai , Il Papa non eletto)

O Cardeal foi recebido numa audiência pelo Papa João Paulo II no dia 13 de Novembro de 1978 e depois enviou ao papa um esboço do acordo que Lefebvre pareceu disposto a aceitar. O papa Wojtyla deu seu consentimento e ele aceitou receber o fundador da São Pio X no Vaticano no dia 18 de Novembro. Siri avisou a João Paulo II para informar a visita de Lefebvre ao Cardeal Franjo Saper , presidente do Ofício Divino, só pessoalmente. E ele sugeriu que publicasse somente depois do fato um breve relatório no L’osservatore Romano onde foi anunciado que o Monsenhor tinha “estabelecido suas dificuldades com a Santa Sé”. Mas algo não ocorreu bem, e depois do encontro entre o Papa e Lefebvre não existia anúncio de paz feito entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X.

[…]

E assim a tentativa de Siri falhou. Se tivesse sido bem sucedida, é quase certo que a ruptura final de 1988 não teria ocorrido, culminando numa excomunhão e cisma. No dia 22 de Junho daquele ano, quando Lefebvre anunciou sua intenção de ordenar 4 bispos, o Cardeal Genovês escreveu para Lefebvre: “Monsenhor, eu vos suplico de joelhos que não se separe da Igreja! Você tem sido um apóstolo, um bispo! Você deve permanecer no seu lugar. Na nossa idade nós estamos à porta da eternidade. Pense! Eu estou sempre esperando por você aqui na Igreja e depois lá no Paraíso.” Foi ainda outro doloroso depoimento do que era essencial para Siri: amor pela Igreja e a unidade entre seus membros antes de tudo.

© Copyright Ragionpolitica, February 3, 2009

 

FONTE


TRIBE, Shawn. Cardinal Siri and Archbishop Marcel Lefebvre <http://www.newliturgicalmovement.org/2009/02/cardinal-siri-and-archbishop-marcel.html>

 

PARA CITAR 


TRIBE, Shawn. O Cardeal Siri e o Arcebispo Marcel Lefebvre – Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/concilio-vaticano-ii/diversos/751-o-cardeal-siri-e-o-arcebispo-marcel-lefebvre>. Desde: 22/12/2014. Tradução: Tharcísio Souza.

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