Tendo em vista o fato de que há mais de 20 anos, o falecido arcebispo Marcel Lefebvre denunciava constantemente a Declaração do Concílio Vaticano II sobre a Liberdade Religiosa, Dignitatis Humanae, como inconciliável com a doutrina católica ortodoxa, é curioso, para dizer o mínimo, descobrir que ele mesmo, juntamente com o Papa Paulo VI e a maioria dos outros Padres do Concílio Vaticano II, era, na verdade, um dos signatários do documento. Demonstrou-se a partir dos arquivos originais do Vaticano II que o seu nome (assim como a do companheiro tradicionalista, o brasileiro Dom Antonio de Castro Mayer dos Campos) aparecem na lista de assinaturas para este e os outros três documentos promulgados no último dia do Concílio Vaticano II, 07 de dezembro de 1965.
Em certo sentido, isso não é exatamente uma notícia de primeira mão. Na verdade, a lista de assinaturas foi divulgada pela primeira vez há 16 anos, quando a Imprensa do Vaticano finalmente deu por encerrada a sua laboriosa publicação dos documentos conciliares completos: dezenas de enormes tomos em latim conhecidos como Acta Synodalia, que contêm todos os debates, intervenções escritas, os primeiros esboços dos documentos conciliares, e assim por diante. Elas incluem as listas completas dos nomes dos Padres que assinaram cada documento logo após o Papa.
No entanto, uma vez que apenas as grandes bibliotecas católicas possuem a Acta Synodalia (que custa mais de US $ 2.000 por conjunto), e uma vez que os milhares de nomes não estão em ordem alfabética, a chance de alguém notar os nomes dos dois prelados tradicionalistas registrados na Dignitatis Humanae era, digamos assim, limitada. Sem dúvida há quem tenha interesse vibrante em passar página após página de nomes episcopais e títulos em latim; assim como há, sem dúvida, aqueles que escolhem a lista telefônica local para leitura de cabeceira – talvez como uma cura para a insônia. Em qualquer caso, ninguém, até onde se saiba, nunca havia se deparado com esses dois muito improváveis promotores da liberdade religiosa nas listas oficiais por mais de uma década após a sua publicação em 1978.
Quando foram descobertos em 1990 por alguns franceses pesquisando nos arquivos do Vaticano II, uma tempestade em copo d’água estourou nos círculos tradicionalistas europeus. No entanto, até hoje, a maioria dos católicos de língua inglesa nunca tiveram a oportunidade de conhecer os fatos. Os principais periódicos aparentemente não consideram o assunto como sendo de importância suficiente para valer a pena o esforço para investigar e relatar. Contudo, a Sociedade de São Pio X, que, evidentemente considerou o relatório importante, negou veementemente a sua veracidade no The Angelus, publicação norte-americana da sociedade, e em seu primo australiano, um jornal mensal intitulado apenas de Catholic. O resultado foi que relativamente poucos católicos de língua inglesa é que estavam cientes das notícias sobre essas assinaturas, e que permaneceram na incerteza quanto à veracidade de seu conteúdo.
Em si mesma, é claro, a questão é de importância menor. No entanto, publicar um artigo em Inglês sobre essas assinaturas é válido por várias razões. Em primeiro lugar, apenas para esclarecer um ponto da história. Em segundo lugar, porque Marcel Lefebvre – o que quer que se pense sobre ele – tem sido uma figura de grande importância no catolicismo pós-Conciliar, e detalhes como este vai ajudar a construir uma imagem global mais precisa de seu caráter para os historiadores e biógrafos futuros. (Em menor medida, o mesmo acontece com o Bispo de Castro Meyer.) Finalmente, porque a polêmica que explodiu quando as assinaturas foram descobertas nos mostra algo sobre as atitudes em vigor dentro da Fraternidade São Pio X e os seus partidários.
O que se segue, então, é a minha tentativa de expor claramente esta questão, ao citar parte de meu próprio material que um jornal lefebvrista se recusou a publicar.
Subsistem ainda hoje dúvidas – ou até mesmo polêmica – sobre o fato de que o Arcebispo Marcel Lefebvre votou contra o esquema sobre a liberdade religiosa com um decidido non placet para todos os seus cinco sucessivos projetos durante o Concílio Vaticano II. Durante algumas das sessões de votação, foi possível dar um voto entre o “sim” e o “não”, ou seja, placet iuxta modum, que significa a aprovação condicionada às alterações solicitadas, mas Lefebvre nunca se valeu dessa opção. Assim, durante a votação final na manhã do dia 07 de dezembro (quando os Padres tinham que escolher entre uma simples aprovação ou reprovação do último projeto), ele foi um dos 70 – cerca de 3 por cento do total – que votou contra o esquema.
No entanto, quando o Sumo Pontífice colocou a sua assinatura na declaração controversa mais ou menos uma hora depois, o prelado tradicionalista francês seguiu o exemplo, presumivelmente como um ato de submissão do seu juízo particular ao do Vigário de Cristo. O mesmo aconteceu com seu colega brasileiro. (Curiosamente, houve alguns outros padres presentes – nenhum deles publicamente associados com a crítica ao documento tal como estava – que não o assinaram)
A história subseqüente mostra que a atitude de Lefebvre, naquele momento, não durou muito tempo. Ele chegou a falar cada vez mais de forma firme contra a suposta ortodoxia da Dignitatis Humanae, e parece que, com o passar dos anos a memória dos acontecimentos daquele dia, em 1965, tornou-se um pouco turva. O resultado foi que, quando a descoberta de sua assinatura no documento foi relatada para o prelado de 85 anos de idade em novembro de 1990, exato um quarto de século após o evento, ele negou vigorosamente a verdade do relatório.
A situação não foi ajudada pelo fato de que a descoberta foi feita por um homem a quem o arcebispo já via sob uma luz muito negativa: um jovem padre francês chamado Louis-Marie de Blignieres. Pe. de Blignieres tinha sido ordenado por Lefebvre para a FSSPX, mas depois de alguns anos partiu com vários outros para formar uma nova comunidade que seguia regra tradicional Dominicana de vida. Se tal é possível, eles se opunham ainda mais radicalmente aos desenvolvimentos conciliares e pós-conciliares do que a FSSPX – especialmente por conta da Declaração sobre a Liberdade Religiosa. No entanto, durante o período de 1987-1988, um estudo e reflexão mais aprofundados – que levaram em conta, entre outras coisas, o meu próprio livro sobre o assunto – convenceu Pe. de Blignieres e sua dúzia de confrades que, quaisquer que sejam as insuficiências da sua formulação, a Dignitatis Humanae na verdade não contradiz a doutrina católica tradicional. Eles traduziram o meu livro para ser publicado em francês, e se reconciliaram plenamente com a Santa Sé no final de 1988 por meio da Comissão Ecclesia Dei do Vaticano, tomando o nome de Sociedade de São Vicente Ferrer. Eu visitei esses homens em seu mosteiro rural francês, e os conto entre meus amigos. Usando unicamente a liturgia tradicional Dominicana, eles continuaram a trabalhar tranqüilamente em harmonia com a Igreja local e Universal, produzindo uma crítica de qualidade da teologia e da espiritualidade, bem como a realização de um apostolado pastoral eficaz com os jovens.
Aos olhos da SSPX, entretanto, sua reviravolta, juntamente com a de outros grupos tradicionais que optaram pela obediência ao Papa nos termos da Ecclesia Dei os transformou em algo como vira-casacas. A sua própria sinceridade foi posta em xeque quando aceitaram a Dignitatis Humanae, e quando, dois anos depois, eles anunciaram a descoberta da assinatura do Arcebispo Lefebvre no documento nos arquivos do Vaticano II, a sua honestidade foi impugnada.
Em novembro de 1990 (a entrevista foi publicada no The Angelus em janeiro de 1991), Lefebvre denunciou Pe. de Blignieres como “mal intencionado”. “Com a permissão da Santa Sé, este último publicou em sua revista (Sedes Sapientiae, Inverno de 1990), uma reprodução fotográfica da página original dos arquivos do Vaticano com a assinatura de Lefebvre próximo à parte inferior, e o título Declaratio de Libertate Religiosa (acompanhada pelos títulos dos outros três documentos) no topo. Estamos falando aqui do original escrito à mão, não a lista publicada anos antes na Acta Synodalia. (Uma cópia acompanha este artigo, com agradecimentos a Sedes Sapientiae.)
Na entrevista The Angelus, no entanto, o Arcebispo Lefebvre insistiu que a página publicada mostrando a sua assinatura era meramente “uma grande folha… passada de mão em mão entre os Padres do Concílio… Sobre o qual todo mundo colocou a sua assinatura”. Esta folha, o arcebispo continuou, “não tinha significado de um voto a favor ou contra, mas significava simplesmente a nossa presença na reunião para votar em quatro documentos”. A fim de enfatizar o que ele via como o absurdo da reivindicação do Pe. de Blignieres, Lefebvre salientou que “a aprovação ou recusa dos documentos foi obviamente feita para cada documento separadamente, a votação foi em segredo, realizada em cartões individuais, e feito com um lápis especial, o que permitia o cálculo eletrônico dos votos”.
Pe. de Blignieres e sua comunidade imediatamente reavaliaram esta explicação das assinaturas que tinham publicado. No entanto, longe de acusar Lefebvre de mentir, eles deixaram claro de forma impressa de que eles não interpretam a sua negação sob este ângulo, porém existiram alguns nos círculos da FSSPX que se apressaram para denunciá-los por “difamar” o arcebispo como um mentiroso quando ele se recusou em aceitá-los. É um fenômeno comum que – especialmente após um lapso de alguns anos – nossa memória venha apagar ou ocultar certas coisas que prefere não lembrar. Isto não envolve necessáriamente desonestidade pessoal.
Eu também não vejo nenhuma razão para pensar que Lefebvre estivesse mentindo. Isso, creio eu, seria estranho a seu caráter. Com efeito, ao se defender, o idoso prelado involuntariamente deixou claro, parece-me, que a confusão que agora existia em sua memória sobre os vários documentos que assinou ou celebrados naquele dia em 1965. Ao insistir que ele nunca votou na Dignitatis Humanae, e ridicularizando a idéia de que seu “voto” é o que aparece em uma página referente a quatro documentos amontoados, o arcebispo estava batendo em nada. Pe de Blignieres nunca alegou que ele havia “votado” em favor da DH, ou que a página que ele publicou foi uma lista de “votos”.
O que aconteceu foi que, após a votação individual em todos estes últimos quatro documentos, eles foram promulgados em bloco e assinados juntos, pelo papa e mais de 2.000 padres conciliares. As muitas páginas necessárias para todas as assinaturas em todos os quatro documentos (os outros três sendo a Constituição sobre a Igreja no Mundo Moderno, que foi também frequentemente denunciado nos anos seguintes por Lefebvre), o Decreto sobre a Atividade Missionária e o Decreto sobre o Ministério e a Vida dos Sacerdotes). É entre estas páginas que as assinaturas do Arcebispo Lefebvre e Dom Castro Mayer são encontradas, e não apenas sobre a folha de presença relativamente de pouca importância que Lefebvre lembrou em sua entrevista
O fato de que os quatro documentos foram assinados em conjunto não significa que os bispos foram confrontados com a alternativa de assinar tudo ou nada. Os padres foram informados de que se quisessem assinar um ou mais documentos, mas não todos eles, eles poderiam fazer uma nota na margem ao lado de seu nome, especificando quais os documentos que assinaram ou não quiseram assinar. Tal nota não é encontrado ao lado dos nomes de ambos Lefebvre ou de Castro Mayer, o que prova que eles estavam dispostos a compartilhar com a promulgação oficial de que a Declaração sobre a Liberdade Religiosa que rejeitaram publicamente mais tarde.
A reação da Fraternidade São Pio X e outros que apoiavam o Arcebispo Lefebvre a esta descoberta não foi exatamente edificante. Embora normalmente apresentando-se como os fiéis “remanescentes” – campeões da verdade em uma igreja dominada por falsidade – eles mostraram-se, neste caso, dispostos a enfrentar uma verdade que (para eles) foi claramente muito embaraçosa. Na verdade, eles fizeram todos os esforços para ofuscar, encobrir e negar este fato histórico comprovado. Na França, uma publicação ligada à Fraternidade São Pio X vilipendiou o Pe de Blignieres como um mercenário desonesto que recebera “trinta moedas de prata” do Cardeal Ratzinger, a fim de deturpar os arquivos do Concílio e, em seguida, se recusou a publicar sua carta respondendo a esta acusação!
Troquei correspondência com o australiano mensal Catholics há vários anos atrás a respeito deste assunto, na esperança que o senso australianos de fair play pudesse produzir uma abordagem mais aberta. Catholics, creio eu, não é um órgão oficial da Fraternidade São Pio X, na Austrália, mas certamente é de fato um porta-voz, apoiando Lefebvre e a Sociedade em tudo. Minhas esperanças cresceram especialmente pelo fato de que eu enviei ao editor, o Sr. Donald McLean, uma cópia de uma carta que recebi – em papel oficial timbrado do Vaticano – do Monsenhor Vincenzo Carbone, um padre respeitado de muitos anos de experiência junto à Santa Sé que está no comando dos arquivos do Vaticano II. A carta, datada de 17 de Janeiro de 1991, afirma que a reivindicação Pe. de Blignieres está correta: Arcebispo Lefebvre assinou a Dignitatis Humanae.
No entanto, a Catholic, quando publicou minha carta anexada, respondeu na mesma página, distorceu os fatos e interpretou a afirmação do Mons. Carbone em nome da Santa Sé, como sendo uma mentira, menosprezando a minha posição como “ridícula”. O editor por sua vez se recusou a publicar a minha carta subsequente em que eu refutava essa caricatura vergonhosa da verdade.
A maneira mais simples para limpar a desinformação – pelo menos para aqueles que estão dispostos a aceitar os fatos – será para mim reproduzir aqui o que a Catholic não permitiria que seus leitores vissem. Vou começar, no entanto, com o seguinte excerto da carta anexada acima citada, ela realmente publicou:
“É um fato histórico incontestável que [Lefebvre e de Castro Mayer] assinaram a Declaração final, oficialmente promulgada sobre a Liberdade Religiosa. Suas assinaturas (em seguida a do papa) foram publicadas já em 1978, nos autos completos do Concílio da Acta Synodalia (Vol. IV. Parte VII, pp. 809, 823) …. para pôr fim à discussão, estou anexando uma cópia de uma carta recém recebida de receber do funcionário encarregado dos arquivos do Vaticano II, Mons. Vincenzo Carbone. Ele declara que as assinaturas publicadas pelo Pe. de Blignieres são autênticas, e que “com relação aos documentos finais aprovados e promulgados pelo Concílio nas sessões públicas (Catholic, abril de 1991, p. 8. O original italiano da carta diz que “‘le firme pubblicate corrispondone agli originali,’ and that ‘si riferiscono ai Documenti finali, approvati e promulgati dal Concilio nelle Session(i) publiche.’)“
Eu comuniquei ao Mons. Carbone que a argumentação do Arcebispo Lefebvre que as assinaturas publicadas eram apenas uma folha de registro de sua presença na sessão de votação, ao que ele afirmou ser um erro por parte do arcebispo.
No entanto, na mesma página da minha carta o editor da Catholic insistiu que as assinaturas indicavam nada mais do que “a presença de Lefebvre em uma votação para quatro documentos do Concílio.” Abaixo da minha carta ele publicou um comentário de autoria de um seminarista autraliano de vocação tardia da FSSPX (que mais tarde se retirou do seu seminário), Sr. D. J. McDonnell, que também chamou Mons. Carbone de mentiroso. Referindo-se com desdém para as “assinaturas fantasmas”, ele disse, “Bem, deixe o Padre [Harrison] acreditar em seus burocratas. Eu prefiro, ao invés disso, acreditar no mais fiel, corajoso e lúcido e presequido na Igreja de hoje.” Por fim (ainda na p. 8), o editor reproduziu a entrevista da The Angelus com o Arcebispo Lefebvre, expressando a esperança de que isso “finalmente abortasse (sic) a afirmação ridícula [do Padre Harrison].” Ao mesmo tempo. ele expressou sua desqualificada preocupação pela honestidade em relação às assinaturas: “Este assunto precisa ser esclarecido de uma vez por todas. Como Pe. Harrison diz, não devemos tentar encobrir a verdade a respeito dessas assinaturas.“.
De certo modo, poderia se dizer que a última frase da carta mostra com precisão a realidade. Dado o ar de autoridade e o caráter definitivo de suas observações, parece que o Sr. McLean não estava realmente tentando “encobrir” o que por um acaso era a verdade; ele estava tentando enterrá-lo para sempre. O que se segue é a parte relevante da minha resposta, em uma carta datada de 29 de abril de 1991. O editor que tinha terminado de proclamar piamente seu zelo pela verdade nua e crua recusou-se a publicar qualquer parte dela na Catholic.
“Ao dizer que a minha posição é ‘ridícula’, o senhor claramente insinua não só que o arquivista oficial do Vaticano II, Mons Carbone, é mentiroso, mas que ele é, obviamente, um mentiroso – uma calúnia mais que grosseira. Pois no caso dele, em contraste com o do Arcebispo Lefebvre, não poderia haver qualquer dúvida de um erro honesto ou um lapso de memória muitos anos após o evento, porque Mons. Carbone tem os documentos originais em suas mãos e os conhece melhor do que qualquer homem no mundo. Mas mesmo supondo ser ele um indivíduo moralmente corrupto – que o senhor presume que ele seja – por que ele seria tão estúpido a ponto de publicar a falsa afirmação de que a assinatura do arcebispo está no texto final oficial (e não apenas em “um documento que indica a sua presença em uma votação”), quando ele sabe que todos os outros estudiosos que consultarem os arquivos poderiam facilmente expor sua mentira? É necessário lembrar que não há nada muito “secreto” sobre esta lista de assinaturas, que foram publicadas pelo Vaticano lá em 1978 (ver referência na minha carta anterior). O senhor deseja afirmar que os editores de 1978 também agiram de forma desonesta, acrescentando os nomes do Arcebispo Lefebvre e Dom Castro Mayer à lista após a assinatura do papa?
Bem, mesmo se o senhor fizer isso, o meu caso não depende exclusivamente da credibilidade nem do Mons. Carbone nem dos editores de 1978 da Acta Synodalia. Tanto o senhor como o Sr. McDonnell simplesmente ignoraram a seguinte declaração de minha carta anterior. Ao repeti-la, eu lhes convido a refutá-la,ou admitir o erro dos senhores. As fotocópias das páginas assinadas publicadas pelo Pe. de Blignieres são realmente provas em si mesmas, porque os títulos no topo dessas páginas (Decretum, Declaratio, etc) nunca foram usados para as versões anteriores, ou para as listas de votos, etc, apenas para os documentos finais aprovados pelo Papa. Na verdade, qualquer um que fizer uma pesquisa na Acta Synodalia do Concílio como eu, sabe que isso é verdade. Aqueles que tentam colocá-la em questão simplesmente expõem sua própria ignorância.
Na última edição da revista do Pe. de Blignieres Sedes Sapientiae (Inverno de1991) há um artigo de 12 páginas que refutam conclusivamente e nos mínimos detalhes as tentativas fúteis para negar que o Arcebispo Lefebvre assinou o documento final sobre a liberdade religiosa. Torna-se mais claro do que nunca que na entrevista na The Angelus (Janeiro de 1991) que o senhor cita, a memória do arcebispo, um quarto de século depois do evento, tinha falhado um pouco. Como o Pe. de Blignieres mostra a partir de fontes originais do arquivo, houve de fato outras folhas que os padres assinaram simplesmente para registrar a sua presença naquele dia na sessão de votação. Mas essas não foram as folhas fotocopiadas e publicadas pelo Pe. de Blignieres! Estas últimas, que as enviei para o senhor no ano passado, Sr. Editor, aparecem na linha abaixo da assinatura do Arcebispo Lefebvre, em sua própria e idêntica caligrafia, a expressão Ego procurator pro… Augustinus Grimault”. O Arcebispo Lefebvre também assinou o documento final por procuração, em nome de um amigo ausente, Bispo Auguste Grimault – prova positiva de que essas assinaturas fotocopiadas não pertencem a uma lista dos que estavam presentes naquele dia para a votação. Na verdade, as regras do Concílio proibiam qualquer votação por procuração ou delegação: elas permitiam somente a assinatura por procuração no documento final oficial após o papa ter aprovado e assinado (Ver A. S. Vol III, Parte VIII, p. 184)
Não é verdade que se um determinado número de padres (não apenas o Arcebispo Lefebvre) votassem contra o texto final, mas assinasse meia hora depois, eles assim seriam culpados de “mudar com o vento.” [Eu fiz este comentário, porque o The Angelus, janeiro de 1991, argumentou que tendo em vista que os dois prelados certamente não eram os homens que “mudavam com o vento”, era improvável ‘fazer crer que teriam aprovado o que eles se recusaram, meia hora antes’]. Deve-se lembrar que até e incluindo a votação final, o esquema conciliar sobre a liberdade religiosa não tinha qualquer autoridade magisterial que fosse -.que era apenas uma proposta para a avaliação livre dos bispos. Uma vez o Papa tendo colocada sua assinatura no texto, no entanto (agora com o novo título Declaratio de Libertate Religiosa, o documento publicado pelo Pe. de Blignieres), tornou-se um documento formal e solenemente aprovado pelo Vigário de Cristo. Para um bispo assiná-lo então, após ter acabado de votar contra ele, não significa fraqueza de caráter. Ele simplesmente mostra que (pelo menos naquele momento), ele sentiu que a fidelidade ao magistério exigia que ele subordinasse o seu próprio julgamento privado ao do Romano Pontífice “.
“Se a Fraternidade São Pio X”, eu continuei, “for de boa-fé, deve ou cessar as suas negações acerca da verdade trazida à luz pelo Pe. de Bhgnieres, ou então enviar uma delegação à Roma para inspecionar o original, os documentos originais intactos nos arquivos do Vaticano II. Estou certo que a Santa Sé ficará mais do que feliz em mostrá-los para a Sociedade, como foram mostrados ao Pe. de Blignieres. Por ser claramente um sinal de desonestidade e covardia em acusar alguém de mentir enquanto recusa-se a examinar a evidência que prova a sua veracidade”.
Não só o editor do Catholic se recusou de imprimir esta carta (alegando apenas que o debate tinha se estendido por tempo suficiente “e, agora, deve cessar”): muito pior, ele tentou desacreditá-la aos olhos de seus leitores ao falsificar descaradamente o seu conteúdo . Na edição da Catholic de Setembro de 1991, o Sr. McLean disse a seus leitores que havia recebido esta minha carta, acrescentando a espantosa afirmação de que o Pe. Harrison parece querer provar que o Arcebispo Lefebvre declarou seu voto a favor do esquema (p. 10) – Uma tese obviamente indefensável que, é claro, eu nunca tinha sustentado. Na verdade, eu tinha duas vezes dito exatamente o oposto ao Sr. McLean, tanto na carta que ele estava agora “descrevendo” a seus leitores, e naquela na qual ele havia publicado cinco meses antes!
Eu, de fato, consegui fazer publicar uma breve correção desta distorção e um pedido de desculpas indiferente do editor. Mas em suma, aos leitores não foi até o momento mostrada a evidência por inteiro e a Catholic nunca admitiu que Lefebvre e de Castro Mayer, de fato assinaram a DH, compartilhando, assim, da sua promulgação.
O máximo que este jornal fez, fazendo pouco, foi falar de forma ambígua sobre a possibilidade das assinaturas dos dois prelados “estarem em um documento anexado a Dignitatis Humanae” (Catholic, setembro de 1991), que poderia simplesmente indicar que ambos o reconheciam como um documento da Igreja” (e caso fosse, por que todo o barulho”? [novembro 1991]). É como se fosse um documento um documento hipotético que não a DH, que foi de alguma forma “apensado”, e que os padres foram convidados a assinar, além da própria declaração. Sua finalidade seria, supostamente, o de simplesmente reconhecer o fato independente da promulgação do documento Conciliar, sem assumir qualquer responsabilidade por isso. Isso, é claro, seria um absurdo, uma vez que não houve tais listas independentes de assinaturas “ligadas” aos documentos conciliares. As páginas assinadas são partes integrantes dos próprios documentos originais, como os títulos na parte superior de cada página dão testemunho.
O mesmo para a Catholic, que não disse sequer uma palavra sobre as assinaturas em mais de dois anos. Uma vez que eu não concordo com a The Angelus, ou qualquer outra revista da Fraternidade São Pio X, eu não sei se a Sociedade e suas publicações já reconheceram seu erro anterior em negar a autenticidade das assinaturas, e se fizeram um pedido público de desculpas devido ao Pe. de Blignieres. Se já o fizeram, talvez alguém irá escrever para informar a Fidelity. Se não, tenho a honra de convidar a FSSPX e seus órgãos (bem como a Catholic) de publicar as declarações que a verdade e a justiça exigem.
O que eles dizem – ou deixam de dizer – vai continuar a nos fornecer indicações de quão seriamente podemos considerar as reivindicações da Sociedade de serem campeões desinteressados da verdade.
Rev. Brian Harrison, O.S. leciona teologia na Pontifícia Universidade Católica de Porto Rico em Ponce, Porto Rico e é um colaborador freqüente da Fidelity.
Abaixo, as setas indicam as assinaturas de Lefebvre e De Castro Mayer (N.do.T.: Na verdade, há duas assinaturas: de Lefebvre, em nome próprio, e assinatura dele por procuração, em nome de um amigo ausente, Bispo Auguste Grimault).
FONTE
HARRISON, Rev. Brian. Marcel Lefebvre: Signatory to Dignitatis Humanae – Disponível em: http://www.culturewars.com/CultureWars/Archives/Fidelity_archives/SSPX8.htm
PARA CITAR
HARRISON, Pe. Brian. Marcel Lefebvre: Signatário da Dignitatis Humanae – Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/concilio-vaticano-ii/diversos/715-marcel-lefebvre-signatario-da-dignitatis-humanae>. Desde: 14/08/2014. Tradução: JBF.