Bernardo Strozzi. Tobias cura seu pai cego, Tobit. Museu Metropolitano de Arte.
INTRODUÇÃO
Quem nunca ouviu algum protestante falar que a história de Tobias era fictícia, falsa, cheia de superstições e feitiçaria? Pois bem, mais uma vez assim como no caso do livro de Macabeus mostrando algum tempo atrás aqui no site, mais uma falsa acusação contra os deuterocanônicos cai por terra refutada por autoridades científicas.
Desta vez, a autoridade é o Jornal da Real Sociedade de Medicina Americana, o qual mostra que o fel (bile) do peixe que o anjo Rafael recomendou a Tobias para curar a cegueira do seu pai, e que protestantes diziam se tratar de “feitiçaria”, na realidade é um processo medicinal eficaz e bem conhecido desde a antiguidade e até poucas décadas, utilizado para curar o Tracoma, que ao que tudo indica era o mesmo problema que o pai de Tobias enfrentava.
Vale ressaltar que para nós não é necessário que algum cientista confirme algo nestes livros, nem este fato é alguma prova de inspiração do livro, pois cremos na autoridade instituída por Jesus Cristo e dada a Igreja para nos revelar quais são os livros inspirados, mas isto serve para refutar as acusações levianas de pessoas que não estão interessadas na verdade e não estão predispostas a compreender o que os livros estão dizendo. Querem apenas “refutar” o que o livro ensina sem nenhuma caridade hermenêutica. Como se já não fosse suficiente não saberem ler um texto, querem sempre interpretar tudo da pior maneira possível, projetando a sua própria ardileza no livro e não se importando se outros livros que eles mesmos aceitam, falam a mesma coisa. Essa é a mentalidade deste tipo de gente: eles são incapazes de ver a verdade nestes livros porque sempre haverá uma vontade de denegri-los por trás de tudo, uma má-fé, uma dissimulação buscando algum interesse oculto.
Abaixo segue o trecho do artigo médico Horton A Johnson publicado no Jornal em inglês, que traduzimos para o português:
BILE DE PEIXES E CAUTÉRIO: O TRATAMENTO DO TRACOMA NA ARTE
A história bíblica de Tobias, que curou seu pai cego Tobit com a bile de um peixe, foi um tema popular entre os pintores europeus dos séculos 16 e 17. O conto, com a sua mensagem de fé religiosa, a devoção filial, drama, e milagre, inspirou Rembrandt, Jan Massys, de Vos, van Hemessen, Carracci, Carlone, Assereto, Feti, Guardi e Strozzi. Uma antiga representação é uma xilogravura na “Biblia de Zurique” de 1536.
A “membrana branca” que “saiu dos cantos dos olhos” corresponde ao exsudato de conjuntivite purulenta. Nos tempos antigos, bem como recentes, a conjuntivite ofuscante prevalente no Oriente Médio foi devido a Chlamydia trachomatis. Na fase inflamatória do tracoma, a cegueira é devido à formação de panos, o crescimento excessivo da córnea por vasos da borda. No caso de Tobit, a rapidez da cura foi milagrosa, mas o uso de fel (bile) de peixes provavelmente foi baseado em uma prática comum na época, uma prática que pode de fato ter ajudado na resolução do pannus e da restauração da visão.
A Bile, irritante, como ela é para o olho, era, evidentemente, um remédio tradicional contra o tracoma que tinha algum sucesso, porque ela permaneceu em uso por mais de dois mil anos. Ela era recomendadoa no primeiro século d.C pelo enciclopedista romano Celsus, que escreveu que “bile de cabra … é adequada o suficiente para o tratamento de trachoma” [1] (Ele usou a palavra aspritudo [ocularum] que, como o tracoma grego, descreve a rugosidade das tampas interiores causadas por folículos linfóides hiperplásicos). Mesmo depois de Paracelso haver rejeitado quase toda a medicina romana galena no século 16, seus seguidores ainda persistiam em usar bile para o tratamento do tracoma. No século 17 o holandês Van Foreest, o alemão Sennert, e o sírio Ibn Sallum, prescreviam para pannus tracomatoso uma mistura que incluía bile de enguia e bile de boi. [2]
Até a descoberta da causa bacteriana de tracoma e seu tratamento com antibióticos em meados do século 20, o tratamento aceito foi mudado pouco. Em 1949, um dos mais utilizados livros didáticos de oftalmologia, “Manual das Doenças do Olho” de May [3] afirmava que a fase inflamatória do tracoma, que era “devido a um vírus filtrável”, deve ser tratado com “aplicações irritantes” evidentemente seguindo o princípio homeopático para o tratamento de uma inflamação, com um agente inflamatório. O texto afirmava que com a ajuda de tais “aplicações irritantes” o pannus da cegueira poderia regredir completamente, fazendo com que a córnea ficasse transparente novamente. À luz disto, a história de Tobit torna-se plausível. O Manual de May, que preferiu sulfato de cobre entre um número de aplicativos irritantes sugeridos, não mencionou especificamente bile, mas não parece uma ideia totalmente incompatível.
O JORNAL NO ORIGINAL
REFERÊNCIAS
[1] Celsus AC. De Medicina. Loeb Classical Library (trans. WG Spencer). Cambridge, MA: Harvard University Press, 1935
[2]. Savage-Smith E. Drug therapy of eye diseases in seventeenth century Islamic medicine—the influence of the “new chemistry” of the Paracelsians. Pharmacy in History 1987;29: 3-28 [PubMed]
[3] Perera CA. May’s Manual of the Diseases of the Eye. 20th edn. Baltimore: Williams & Wilkins, 1949: 124-7
PARA CITAR
RODRIGUES, Rafael. Jornal da Real Sociedade de Medicina Americana Confirma o Livro de Tobias. Disponível em: <http://apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/838-jornal-da-real-sociedade-de-medicina-americana-confirma-o-livro-de-tobias> Desde: 09/12/2015.