Sábado, Dezembro 21, 2024

Existiu um cânon Alexandrino? A Teoria do Cânon Palestino e Alexandrino.

Objeção protestante

 

Os judeus na Palestina falavam hebraico. As leituras dadas nas suas sinagogas eram apenas da Bíblia hebraica e como resultado eles aceitaram apenas as Escrituras que foram compostas em hebraico. Por isso, os judeus na Palestina aceitaram o cânon menor. Os judeus de Alexandria tinham uma perspectiva diferente. Eles eram um povo de língua grega e se sentiam bastantes confortáveis com a Septuaginta grega. Estes judeus aceitaram livremente os escritos gregos em seu cânone, que foi maior do que o da Palestina. Os escritores do Novo Testamento usaram a Septuaginta grega, não porque era a sua Bíblia, mas porque era o texto comumente aceito dos judeus da diáspora, que eram seu campo missionário. Eventualmente, o cristianismo tornou-se predominantemente gentil e muitos aceitaram acriticamente toda a Septuaginta como Escritura. Enquanto isso, os rabinos judeus continuaram a usar a Bíblia hebraica que Jesus e os apóstolos usaram. A Bíblia protestante, portanto, reflete o cânone original e autêntico palestino.

Resposta: A teoria do cânon palestino / Alexandrino foi proposta pelos protestantes, nas primeiras décadas do século XVIII, como uma possível explicação de por que cristãos e judeus detinham dois cânones diferentes[1]. E dada à quantidade do que se sabia sobre o judaísmo na época de Cristo, esta teoria parecia bastante razoável. Tanto é que, não poucos estudiosos católicos também adotaram a teoria do cânon alexandrino como sua própria teoria. Com a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto e outros achados, esta teoria não pode mais se sustentar, uma vez que muitas das suas primissas têm demonstrado ser imprecisas, implausíveis ou não históricas. O crédito para a eventual extinção desta teoria vai para o estudioso bíblico Harvard A.C Sundberg cuja tese de doutorado sobre o assunto expôs várias suposições infundadas da teoria. Por exemplo:

1)      A teoria de Alexandria assume que todos os livros disputados foram originalmente escritos em grego, de modo que os judeus palestinos que falavam hebraico não aceitariam. Foi demonstrado que todos os livros deuterocanônicos, exceto II Macabeus e a Sabedoria, foram escritos originalmente em hebraico. Portanto, eles provavelmente se originaram na Palestina, e não em Alexandria.

2)      A separação estrita do hebraico falando na Palestina e de língua grega de Alexandria demonstrou ser falsa. A arqueologia revelou que a Terra Santa, e particularmente Jerusalém, no primeiro século cristão foi bastante helenizada e um grande número de judeus residentes na Palestina falavam o grego. Alguns estudiosos têm especulado que a Septuaginta também pode ter sido lida em algumas das sinagogas palestinas deste período.[2] Judeus da Palestina eram um povo bilíngüe aramaico (hebraico) e grego.

3)      A teoria do cânon de Alexandria também assume que a Septuaginta grega foi a Bíblia de judeus de Alexandria e não daqueles na Palestina. No entanto, a Septuaginta é conhecida por ter circulado por toda a Palestina, no primeiro século. Fragmentos da Septuaginta (incluindo fragmentos de Tobias e Eclesiástico) foram encontrados em Qumran e Massada. Enquanto nenhuma determinação definitiva pode ser feita como se estes fragmentos foram usados como Escritura, a sua presença demonstra claramente que a Septuaginta era conhecida e usada dentro e ao redor da Palestina durante o século primeiro. Portanto, os escritores do Novo Testamento não pode ter selecionado a LXX somente porque foi aceita em toda a diáspora, mas porque era um texto atualmente aceito na Palestina na época.

4)      Outra prova que merece destaque é a chmada Kaige Recension. A recensão de Kaige é uma cópia grega das Escrituras que foi produzida pelos fariseus no século I a.C. O texto foi ajustado de acordo com uma recensão das Escrituras que existia antes do texto hebraico fixo do Judaísmo Rabínico mais tardio. Apesar de sua origem farisaica, a Kaige Recension incluía o livro deuterocanônico de Baruc, bem como as partes em deuterocanônicas do Livro de Daniel. Isso indica, de acordo com Sundberg, que o cânon do Antigo Testamento (mesmo dos fariseus) não foi fixado no início do primeiro século.[3]

Portanto, já não é mais possível postular dois cânones bem definidos, separados e distintos (Palestina / Alexandria). A Septuaginta (com os livros deuterocanônicos) não é mais vista como propriedade exclusiva dos judeus da dispersão. Os judeus na Palestina usaram-na também.[4] De fato, a Septuaginta parece ter residido na Palestina tempo suficiente para passar por uma distintinta rescenção palestina.[5]

© 2004 por Gary Michuta. Todos os direitos reservados. Este material possui direitos autorais. Nenhuma cópia, distribuição ou reprodução (eletrônico ou não) é permitida sem a autorização expressa do proprietário dos direitos autorais.

 


[1] Sundberg identifica João Salomo Semler (1771), JE Grabe (1884) e T. Lews (1715) entre os primeiros a propor que os judeus de Alexandria possuía um cânon diferente do que a Palestina. “O Antigo Testamento: O Canon cristã”. CBQ 30 (1968) 144

[2] Hengel, 108.

[3] cf. Sundberg, Albert C. Jr., “Antigo Testamento na Igreja Primitiva: Revisited”, o Festschrift em homenagem a Charles Speel, editada por Thomas J. Sienkewicz e E. James Betts (Monmouth College, Illinois) 1997.

[4] Cf. McDonald, 91.

[5] Sundberg, ibid.

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