Sábado, Dezembro 21, 2024

Escritura e Revelação segundo o Concílio Vaticano II (Capítulo 4)

 CAPÍTULO IV

SOBRE O ANTIGO TESTAMENTO (nn. 14-16)

A história da salvação consignada nos livros do A. Testamento (n.14) 14. Deus amantíssimo, planeando e preparando com solicitude a salvação de todo o gênero humano, por uma providência especial escolheu um povo a quem confiasse as suas promessas. Tendo estabelecido uma aliança com Abraão (cf. Gen. 15, 18), de tal modo se revelou junto desse povo como único Deus verdadeiro e vivo, em palavras e obras, que Israel pudesse conhecer por experiência os planos de Deus sobre os homens, os compreendesse cada vez mais profunda e claramente, com a ajuda do mesmo Deus falando por boca dos Profetas, e os difundisse entre os homens (cf. Salm. 21, 28-29; 95, 1-3; Is. 2, 1-4; Ier. 3, 17). Mas a economia da salvação predita narrada e explicada pelos autores sagrados está nos livros do Antigo Testamento com verdadeira palavra de Deus. Por isso, estes livros divinamente inspirados conservam um valor perene: “Tudo quanto foi escrito foi-o para nossa instrução, para que, por meio da paciência e consolação que nos vem da Escritura, tenhamos esperança” (Rom. 15, 4).

Duas razões se dão neste número, que fundamentam uma particular e perene estima dos livros do Antigo Testamento. A primeira razão refere-se ao conteúdo principal destes livros, que manifestam a história da salvação e a sua economia; a segunda é o caráter inspirado destes mesmos livros, que faz com que sejam palavra de Deus.

1) A história da salvação

Se no textus prior, anterior ao texto emendado como epígrafe deste número “História do povo escolhido narrada nos livros inspirados”[1], no texto emendado e no seguinte (depois de 26 de outubro de 1964) aparece como título “História da salvação consignada nos livros do Antigo Testamento”[2]. A razão desta troca era pôr mais em evidência que no Antigo Testamento não se trata unicamente da história do povo escolhido, mas da história da salvação em geral, de forma que assim aparecia manifesto o valor permanente do Antigo Testamento para todos os séculos[3].

Mas esta história da salvação em geral tem uma relação particular com a eleição do povo de Israel.

Porque Deus quis preparar e realizar esta salvação de todo o gênero humano[4], mediante o povo escolhido. Se escolheu para si um Povo e espontaneamente lhe confiou[5] as promessas messiânicas, que eram promessas de salvação para Israel e para todo o gênero humano. O carácter universal destas promessas é manifesto no Antigo Testamento (cf. Gen. 12, 2-3; 17, 6-16; 18, 17-18; 22, 18; 26, 4-5; 28, 14; 49, 10; Ps. 2, 8; 21, 28-30; 71, 8-11; Is. 2, 3-4; 52, 15; 54, 9-11; Dan. 9, 27; Ag. 2, 7; Mal. 1, 11). A história da salvação (depois do plano divino de nos elevar à filiação adotiva, e depois da queda dos nossos primeiros Pais) tem o seu começo concreto, enquanto realizada mediante o povo escolhido, no pacto de Deus com Abraão, de que nos fala o Gen. 15, 18; um pacto que foi posteriormente confirmado por Deus (Gen. c. 17). Se em Abraão se pode ver a promessa de uma Aliança futura com o Povo, a realidade desta Aliança pode ver-se no pacto que Yahvé fez com o povo de Israel por meio de Moisés. Só Moisés subiu até Yahvé… “Veio, pois, Moisés e narrou ao povo todas as palavras de Yahvé e suas leis. E o povo respondeu a uma voz: ‘Todas as coisas que Yahvé disse, as faremos’. E Moisés escreveu todas as palavras de Yahvé. Levantou-se de manhã e ao pé da montanha ergueu um altar, e doze pedras por cada uma das doze tribos de Israel; e encarregou alguns jovens, filhos de Israel, que oferecessem a Yahvé holocaustos e imolassem touros, vítimas pacíficas a Yahvé. E Moisés tomou metade do sangue, e pô-lo em vasilhas; a outra metade derramou-a sobre o altar. Tomando depois o livro da Aliança, leu-o, ouvindo-o o povo que disse: ‘Tudo o que diz Yahvé o cumpriremos e obedeceremos’. Então Moisés, tomando o sangue aspergiu o povo, dizendo: ‘Este é o sangue da Aliança que Yahvé fez conosco sobre todos estes mandamentos’” (Ex. 24, 2-8).

Yahvé revelou-se ao seu povo com palavras e com fatos. Adverte-se que continua o conceito amplo de revelação de que se falou anteriormente no n. 2; não só com as palavras e locução estritamente dita; também mediante os fatos que manifestam no plano de Deus os seus designios e atributos. Yahvé manifestou-se ao seu Povo como o único Deus vivo e verdadeiro. Estas úlltimas palavras, de intenso sabor bíblico (cf. Ps. 41, 3; 83, 3; Sap. 15, 1; 2 Mac. 5, 4; Rom. 9, 26; 1 Tes. 1, 9; 1 Ped. 1, 23) e litúrgico, querem indicar e realçar o fim monoteístico da revelação do Velho Testamento[6].

A história do povo escolhido foi para todos os povos circundantes e para todos os povos em geral, que agora a lêem, uma manifestação dos caminhos de Deus. Israel os experimentou e provou que “os caminhos de Yahvé não eram como os nossos”, mas que “assim como os céus estão mais altos do que a terra, assim também estão todos os caminhos acima dos nossos” (Isa. 55, 8-9). Porque todos os caminhos de Yahvé são misericórdia e fidelidade (Ps. 24, 10; 118, 151); são caminhos de retidão e de justiça (cf. Dan. 3, 27); são caminhos inescrutáveis (Rom. 11, 33).

Os profetas serviram para que o povo conhecesse os oráculos do seu Deus e os entendessem cada vez mais com maior clareza e profundidade. E também para que o plano divino de salvar todo o mundo se manifestasse no seu meio. Não se deve descuidar este aspecto da história sagrada, que diz respeito à desejada e profetizada conversão dos gentios[7].

No Salmo messiânico 21 profetizam-se os frutos do sacrifício do Messias: “Acordarão e hão de se converter a Yahvé todos os confins da terra, e prostrar-se-ão diante d’Ele todas as famílias das gentes” (Ps. 21, 28- 29). O salmista considerava todas as nações a cantar a Yahvé: “Cantai a Yahvé – dizia – um cântico novo, cantai a Yhavé terra inteira. Cantai a Yahvé e bendizei o seu nome, anunciai de dia em dia a sua salvação. Cantai a sua glória entre as gentes, em todos os povos as suas maravilhas…” (Ps. 95, 1-3). Isaías, por sua parte, predizendo “o que sucederá no fim dos tempos” viu que “o monte da casa de Yahvé será consolidado como cabeça dos montes e será exaltado sobre os desfiladeiros, correrão para ele todas as gentes e virão multidões de povos dizendo: ‘Vinde e subamos ao monte de Yahvé, à casa de Deus de Jacó, e Ele nos ensinará os seus caminhos e iremos por suas sendas, porque de Sião saiu a Lei, e de Jerusalém a palavra de Yahvé. Ele julgará as gentes e ditará as suas admoestações a numerosos povos…’ (Isa. 2, 2-4). Porque “naquele tempo será chamada Jerusalém como trono de Yahvé, e se congregarão em sua volta todas as gentes no nome de Yahvé, em Jerusalém, e não mais seguirá a obstinação do seu mau coração” (Jer. 3, 17). O leitor poderá ver nestes textos as alusões do Antigo Testamento que o Concílio quis recordar acerca da união universal do povo escolhido em ordem à salvação de todo o gênero humano.

2) A inspiração do A. Testamento

O segundo ponto, que se quer repetir neste número 14 da Constituição Dei Verbum, refere-se ao caráter inspirado com que a “história da salvação” se apresenta nos livros do Antigo Testamento. Porque a economia ou o modo de ser da salvação[8] foi profetizada e prenunciada, foi narrada e explicada nos livros do Velho Testamento, e como verdadeira palavra de Deus, pois que se trata de livros que têm a Deus por autor, isto é, que são inspirados. Daí quer o Concílio deduzir o valor permanente que para sempre conservam estes livros. Por serem livros inspirados por Deus, além de possuírem um conteúdo e argumento (o da história da salvação) que sempre nos interessa são livros que perfeitamente conservarão a sua força e autoridade.

Esta autoridade divina do Antigo Testamento aparece com frequência nas palavras de Jesus Cristo e dos Apóstolos, das quais já falamos ao comentar no nº 11 do Capítulo III o fato de inspiração divina de alguns livros. Os textos referem-se antes de tudo aos livros escritos do Antigo Testamento. Esta inspiração dos livros do Antigo Testamento confirma-se, além das palavras de Jesus Cristo e dos Apóstolos, com a persuasão dos judeus.

A persuasão dos judeus era de que tinham tais livros escritos por Deus. E de tal modo Deus neles se apresenta que a) manda que se escrevam algumas coisas; b) determina o que se deve escrever; e c) o autor humano aparece como instrumento que executa fielmente os mandatos de Deus.

Assim “disse Yahvé a Moisés: Escreve isto para lembrança perpétua num livro e comunica-o aos ouvidos de Josué…” (Ex. 17, 14). E outra vez: “Disse Yahvé a Moisés: ‘Escreve para ti estas palavras com as quais estabeleci um pacto contigo e com Israel’” (Ex. 34, 27).

Isaías diz-nos: “E Yahvé me disse: ‘Toma uma tábua grande e escreve nela com grandes caracteres’” (Isa. 30,8).

Por esta razão não é raro que depois se fale do livro de Yahvé (Isa. 34, 16).

Em Jeremias mostra-se como Deus mandou ao profeta que escreva, e determina o que há que escrever: “Toma num volume de livro e escreve nele todas as palavras que te tenho dito… (Jer. 36, 1-2; cf. v. 4. 6. 17-18). David, o “salmista egrégio de Israel” diz-nos que “o Espírito de Yahvé falou por mim e a sua palavra pela minha língua…” (2 Reg. 23, 2)[9].

Os autores profanos do judaismo referem esta persuasão nacional judia acerca dos livros inspirados por Deus. Filon (nascido no ano 30 antes de Cristo) fala de Moisés e dos profetas, inspirados por influxo divino, “por cuja boca o Pai de todos pronunciou oráculos”[10]. E que o Profeta “diz o que se lhe inspira, como se outro soprasse. Porque os profetas são intérpretes de Deus, que usa os orgãos daqueles para manifestar o que quer”[11]. E Jeremias “muito inspirado disse o oráculo, falando por pessoa de Deus”[12].

Flavio Josefo, por sua parte, concretiza e precisa este caráter de livros inspirados que há no Antigo Testamento. Entre outras coisas diz: “…somente aos profetas que conheceram por inspiração divina as coisas mais antigas e velhas (lhes é permitido escrever histórias)… Assim, entre nós, não há uma inumerável multidão de livros, que se desentendam e pelejam entre si; mas unicamente vinte e dois livros, que abraçam a história de todo o tempo, e que com razão se julga serem livros divinos… E consta pelos fatos com quanta veneração tratamos estes livros. Porque tendo já passado tantos séculos, ninguém todavia se atreveu a jantar-lhes ou a tirar-lhes algo, ou a mudar alguma coisa. A todo o judeu, desde o berço, se lhe gravou esta ideia como conatural: o crer serem estes livros ensinamento de Deus, e a esta doutrina aderimos com constância, e por causa dela, com gosto estamos dispostos a sofrer a morte, se for necessário”[13].

Os Apóstolos aprovaram e transmitiram aos fiéis cristãos o amor dos livros do Antigo Testamento, que com frequência citam debaixo da fórmula “está escrito”. E aos convertidos da gentilidade, em grande parte helenistas, que não conheciam o hebreu, lhes indicaram exemplares alexandrinos em grego, da versão dos LXX, que continham os livros do Antigo Testamento, mesmo aqueles que chamamos deuterocanônicos, quer dizer, aqueles dos quais alguma vez ou em algum sítio se duvidou da sua canonicidade[14]. Mas os Apóstolos deveriam ter tido, e tiveram de fato, sumo cuidado em não induzir em erro a Igreja, sobre quais eram os livros inspirados.

Em virtude desta inspiração da história da salvação contida nos livros sagrados do Velho Testamento, têm valor perene – como dissemos – esses livros; e nós – como termina dizendo o Concílio – podemos ter esperança. “Porque tudo o que foi escrito (nas Escrituras) foi escrito para nosso ensinamento; para que pela paciência e pela consolação das Escrituras tenhamos a firmeza da esperança” (Rom. 15, 4).

Importância do A. Testamento para os cristãos (n. 15)

15. A economia do Antigo Testamento destinava-se sobretudo a preparar, a anunciar profeticamente (cf. Lc. 24, 44; Jo. 5, 39; 1 Ped. 1, 10) e a significar com várias figuras (cfr. 1 Cor. 10, 11) o advento de Cristo, redentor universal e do reino messiânico.
Mas os livros do Antigo Testamento, segundo a condição do gênero humano antes do tempo da salvação instaurada por Cristo, manifestam a todos o conhecimento de Deus e do homem, e o modo com que Deus justo e misericordioso trata os homens. Tais livros, apesar de conterem também imperfeições e coisas relativas a um determinado tempo, revelam, contudo, uma verdadeira pedagogia divina[15]. Por isso, os fiéis devem aceitar com devoção estes livros que exprimem um vivo sentido de Deus, nos quais se encontram sublimes doutrinas a respeito de Deus, uma sabedoria salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis tesouros de preces nos quais, finalmente, se esconde o mistério da nossa salvação.
       
 

OS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO PREPARAVAM E ANUNCIAVAM O REINO MESSIÂNICO DE CRISTO REDENTOR. – A finalidade principal da economia velho-testamentária era preparar o advento de Cristo e do seu Reino. Por esta razão intencionalmente se pôs a palavra potissimum (sobretudo)[16], para relembrar este fim cristológico da antiga Aliança.

Esta vinda de Cristo prepara-se com os fatos e com a história da salvação contida no Antigo Testamento. Profetiza-se, porquanto se anuncia previamente muitas linhas e facetas da vida de Cristo. Jesus Cristo disse que se devia cumprir tudo o que d’Ele estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos (Lc. 24, 44); as Escrituras – dizia – são as que davam testemunho d’Ele (Jo. 5, 39). E, segundo S. Pedro, os Profetas investigaram e escrutaram a futura salvação que se oferecia; os que profetizaram da graça futura (1ped. 1, 10)[17]. Também se significavam no antigo Testamento os fatos de Cristo, enquanto que há fatos do Antigo Testamento que tinham a missão de serem tipos de Cristo ou de significar o seu futuro. A existência do sentido típico no Antigo Testamento, o manifesta S. Paulo em 1 Cor. 10-11, aludindo aos israelitas; já que “todas estas coisas – disse – lhes sucediam em figura; mas foram escritas para correção e aviso dos que alcançaram os fins dos tempos”. O mesmo S. Paulo chama a Adão tipo do futuro (Rom. 5, 14), e fala dos dois filhos de Abraão, nascidos da escrava e da livre… “o qual se disse por alegoria” (Gal. 4, 22 s.). S. João aplica à imolação de Jesus (Jo. 19, 36, o que se escreveu sobre o cordeiro pascal (Ex. 12, 46, Núm. 9, 12). S. Mateus aplica à volta de Jesus do Egito (Mt. 2, 15) o que Oséias escreveu sobre a saída do cativeiro do povo de Israel (Os. 11, 1)… A Escritura se lhe reconhece na Igreja um sentido típico ou literal, que é o sentido que Deus em certas ocasiões pretende significar com as coisas ou fatos que se narram em sentido literal. “As coisas que no Antigo Testamento, foram ditas ou feitas, foram de tal modo ordenadas e dispostas por Deus, que as coisas passadas significaram de antemão e de modo espiritual as coisas que iam suceder na Nova Aliança de graça”[18].

OS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO MANIFESTAM A DEUS E O SEU MODO DE TRATAR COM OS HOMENS. – É outro valor que o Concílio descobre nestes livros.

Sem dúvida que a finalidade monoteística da antiga Aliança, isto é, o fim de conservar e estender entre o povo de Israel e os povos vizinhos a idéia de um Deus único e verdadeiro, é uma finalidade que conservam os livros do Antigo Testamento. Mediante eles foi possível que se conhecesse a Deus verdadeiro: Deus inteligente e pessoal, sábio e poderoso, livre e santo, justo e misericordioso; com todos os atributos que importam alguma perfeição não mesclada com imperfeição, criador de tudo o existente e fim de tudo o criado. Deus fidelíssimo, que guarda o pacto e a Aliança.

Também os livros do Antigo Testamento nos descobriram muitas das dimensões do homem: criado e limitado, mas animado com um sopro de vida que Deus lhe infundiu; inteligente, que conhece as coisas criadas e lhes dá um nome; superior a toda a criação sensível, a qual dominará; sujeito à enfermidade, à dor e à morte, mortal por natureza, mas partícipe da amizade divina e herdeiro das promessas divinas com Israel.

O modo de tratar de Deus com os homens e, antes de tudo, a possibilidade de tratar com Ele, é outra das manifestações do Antigo Testamento. Deus aparece falando com os primeiros pais, legislador que impõe preceitos e fins do seu cumprimento, mas que não esquece a sua obra de salvação, depois da queda, e promete um Redentor; um Deus que fala com o Patriarca Noé, com Abraão como com um amigo, com Moisés cara a cara… com os Profetas…; e quando está irado pelas prevaricações do Povo, não se esquece da misericórdia (Hab. 3, 2).

OS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO SÃO PEDAGOGIA DIVINA PARA CRISTO. – No Antigo Testamento encontram-se preceitos de ordem cerimonial, como os tocantes ao culto judio e ao culto em Jerusalém e no seu templo, que evidentemente são de ordem temporal; tinham que cessar e cessaram ao chegar a realidade de Cristo. Cabe também dizer que na antiga economia existiram algumas permissões ou costumes que eram imperfeitos, enquanto que não alcançaram a perfeição evangélica, como aparece no sermão da montanha. Assim, por exemplo: “Ouvistes o que se disse aos antigos: ‘Olho por olho e dente por dente’ [Ex. 21, 24; Deut. 19, 21; Lev. 24, 19-20]. Mas eu vos digo: ‘não resistais ao mal, mas antes se alguém te ferir na face direita, oferece-lhe também a outra’…” (Mt. 5, 38- 39).

Outras leis eram imperfeitas, enquanto que não expressavam todo o alcance do mandato. Assim, por exemplo, o indica Jesus Cristo no mesmo sermão do monte: “Ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não cometerás adultério’ [Ex. 20, 14; Deut. 5, 18]. Pois Eu vos digo o que olhar uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério no seu coração” (Mt. 5, 27-28).

Outras leis, finalmente, eram imperfeitas porquanto eram simples permissão divina, sem chegar a formular toda a perfeição moral. Tal o que se expressa por Cristo em Mt. 5, 31-32: “Foi dito: ‘Todo aquele que repudie sua mulher, dê-lhe certificado de repúdio’. Mas Eu vos digo: ‘Que todo o que repudia sua mulher, exceto por causa de fornicação[19], faz que com ela se cometa adultério; e o que se casa com uma mulher destas comete adultério’”. Quando lhe perguntaram a razão porque Moisés mandou dar libelo de repúdio e deixar a mulher (Deut. 24, 1) responde o Senhor: “Moisés permitiu que deixásseis as vossas mulheres por causa da dureza do vosso coração; mas desde o princípio não foi assim” (Mt. 19,8)[20].

É também claro que no Antigo Testamento há coisas que pedem complemento, o qual se logra com a doutrina mais perfeita do Novo.

Apesar desta índole temporal e imperfeita (nos sentidos explicados) que podem ter os escritos do A. Testamento, contém, sem embargo, uma verdadeira pedagogia divina e são escritos úteis para os cristãos. O formulou e explicou com relativa amplitude o Papa Pio XI, ao defender estes livros contra os que pretendiam retirá-los por suas idéias nazistas. Dizia assim Pio XI:

“Os livros sagrados do Antigo Testamento são plenamente palavra de Deus, uma parte orgânica da sua revelação. Há todavia neles, de acordo com o caráter gradual da Revelação, o alvorecer do tempo de preparação até o pleno dia do sol da Redenção. Como não pode ser de outra maneira nos livros de história e de legislação, são estes livros em algumas particularidades um reflexo da humana imperfeição, debilidade e pecado. Junto a muitas coisas infinitamente grandes e nobres, referem também acerca da superficialidade e mundanização que sempre de novo apareciam no povo da Aliança velho-testamentária, portador da Revelação e das promessas de Deus. Mas para qualquer olhar que não seja cego pelo preconceito e pela paixão, através da debilidade humana, referida pela história bíblica, transparece a luz divina mais resplandecentes, que finalmente nos conduz em triunfo à salvação, por cima de todas as faltas e pecados. Precisamente por este fundo muitas vezes sombrio cresce em perspectivas a pedagogia da salvação eterna, as quais mostram o caminho, avisam, comovem, exaltam e dão a felicidade. Só a cegueira e a soberba podem cerrar a vista ante os tesouros de educação salvadora que encerra o Antigo Testamento. Quem quiser desterrar da Igreja e da escola a história bíblica e a sabedoria docente do Antigo Testamento, blasfema a palavra de Deus, blasfema o plano salvador do Todo-poderoso, põe o estreito e limitado pensar humano como juiz da divina planificação da História”[21].

Segundo o Concílio, na Bíblia do Antigo Testamento expressa-se: A) um sentimento vivo de Deus; B) uma sabedoria de vida para o homem; C) tesouros de oração; D) o mistério da nossa salvação. Tudo isto fundamenta a devoção com que nós, cristãos, temos de receber estes livros.

A) OS SENTIMENTOS RELIGIOSOS DA BÍBLIA os manifestou magnificamente o célebre filósofo e literato espanhol Donoso Cortés no seu famoso Discurso de recepção na Real Academia Espanhola (a. 1848). São deste discurso os seguintes parágrafos:

“Livro prodigioso aquele (a Bíblia) que tudo vê e sabe; que sabe os pensamentos que se levantam no coração do homem e os que estão presentes na mente de Deus; que vê o que se passa nos abismos do mar e o que sucede nos abismos da terra; que conta ou prediz todas as catástrofes das gentes, e onde se encerram todos os tesouros da misericórdia, todos os tesouros da justiça e todos os tesouros da vingança. Livro enfim, senhores, que quando os céus se dobrarem sobre si mesmos como um leque gigantesco, e quando a terra padecer desmaios, e o sol recolher a sua luz e se apagarem as estrelas, permanecerá com Deus, porque é a sua eterna palavra ressoando eternamente nas alturas.

Único sobre todos os povos, escolhido e governado por Deus, o povo hebreu é também o único cuja história é um livro sem fim em louvor a Deus que o conduz e o governa. Apartado de todas as sociedades humanas, está só, só com Jehová, que lhe fala com a voz dos profetas e com a dos seus sacerdotes, e a quem responde com cânticos de adoração, que estão ressoando sempre nas cordas de sua lira.

Os cânticos hebraicos receberam da unidade majestosa do seu Deus a sua límpida simplicidade, a sua nobre majestade e a sua incomparável beleza. Que vem a ser a simplicidade dos gregos, milagre do artifício, quando se põem os olhos na simplicidade hebraica, na simplicidade do povo predestinado, que viu no céu um só Deus, na humanidade um só homem e na terra um só templo? Como não havia de ser maravilhosamente simples um povo para quem toda a sabedoria estava numa só palavra, que a terra pronunciava com a voz dos seus furacões, o mar com a rouca voz dos seus magníficos estrondos, as aves com a voz do seu canto, os ventos com a voz dos seus gemidos?

O que caracteriza o povo hebreu, o que o distingue de todos os povos da terra, é a negação de si mesmo, o seu aniquilamento diante do seu Deus. Para o povo hebreu, tudo o que tem movimento e vida é rasto e pegadas de sua Majestade Onipotente, que tanto resplandece no cedro das montanhas como no lírio dos vales…”[22].

B) A SABEDORIA DE VIDA CONTIDA NA BÍBLIA DO ANTIGO TESTAMENTO aparece, sobretudo, nos chamados livros sapienciais. O Eclesiastes propõe a experiência e as regras para lograr a autêntica felicidade, a qual se encontra na verdadeira sabedoria. E, com efeito, o livro da Sabedoria mostra a sabedoria como fonte de felicidade e de imortalidade; a sabedoria é que rege e governa a nossa vida; a qual obrou maravilhas desde o princípio do mundo até Moisés; a qual lutou contra os inimigos de Deus. No livro do Eclesiástico encontram-se avisos e preceitos de sabedoria prática, sobre a maneira de se conduzir com todas as virtudes e em todos os deveres da sociedade. Ali se encontra também um largo louvor do Criador e o panegírico dos homens santos do Antigo Testamento. São, do mesmo modo, normas que refletem larga experiência do viver as que se lêem no livro de para se saber apreciar o valor caduco dos bens materiais e o valor eterno da tribulação levada com submissão ao plano divino.

Na história dos personagens bíblicos encontraremos o modelo das virtudes primitivas, opostas à complicação. “O patriarca é o tipo da simplicidade e da inocência. Mais do que varão incorruptível e justo, é o menino sem mancha de pecado; por isso ouve a miúdo aquela fala suavíssima e deleitosa com que Deus o chama para si; por isso recebe visitas dos anjos. Mais do que o homem reto, que anda gozoso pelos caminhos do Senhor, é o habitante do céu que anda triste pelo mundo, porque perdeu o caminho e recorda a sua pátria. O único pai é o seu Deus, os anjos são irmãos. Os patriarcas eram então, o que os apóstolos foram depois o sal da terra. Em vão buscareis pelo mundo, naqueles remotíssimos tempos, o homem pobre de espírito, rico de fé, manso e simples de coração, modesto nas prosperidades, resignado nas tribulações, de vida inocente e de honestos e pacíficos costumes. O tesouro dessas virtudes aprazíveis resplandeceu somente nas solitárias tendas dos patriarcas bíblicos”[23].

C) AS ORAÇÕES DO ANTIGO TESTAMENTO. Temos um livro excepcional de oração, que é o livro dos salmos. “Os salmos – lemos na encíclica Mediator Dei – recordam as verdades reveladas por Deus ao povo escolhido, às vezes terríveis, por vozes penetradas de suavíssima doçura; repetem e despertam a esperança no Libertados prometido, animado com cânticos em volta do lugar doméstico e na mesma majestade do Templo; põem debaixo duma luz maravilhosa a profetizada glória de Jesus Cristo e o seu supremo e eterno poder, sua vinda e humildade neste desterro terrestre, a régia dignidade e seu poder sacerdotal, as benéficas fadigas e o sangue derramado por nossa Redenção. Expressam igualmente a alegria das nossas almas, a tristeza, a esperança, o temor, o intercâmbio de amor e o abandono em Deus, assim como a mística ascensão para os divinos Tabernáculos.

O salmo – continua a Mediator Dei com palavras de Santo Ambrósio – é a benção do povo, o louvor de Deus, o elogio do povo, o aplauso de todos, a linguagem geral, a voz da Igreja, a profissão de fé com cantos, a plena devoção à autoridade, a alegria da liberdade, o grito de júbilo, o eco do gozo”[24].

Não haverá melhores ideias e palavras para louvar a Deus, nem melhores sentimentos que os dos salmos inspirados por Deus. Como disse S. Agostinho: “Para o próprio Deus se louvou a si mesmo; e porque Ele se dignou louvar-se, o homem encontrou a maneira de o louvar”[25].

Ainda que mais atento à forma literária, o poeta do século passado Gaspar Núñez de Arce (1832-1903), a considerar a variedade de sentimentos que povoam o saltério e sua copiosa diversidade, exaltou seus valores literários e sentimentais com as seguintes estrofes:

“Los salmos de Davis son como el viento,

que apacible y sutil el campo orea,

grana la mies, y en melosiosas arpas

los corpulentos árboles convierte.

Mas luego fiero y desatado troncha

los más robustos troncos, las campiñas

y los poblados tala, hincha los mares

revolviendo las olas, y el espacio

con sus bramidos espantosos llena.

Taambién el canto del salterio enjuga

el lloro acerbo, vierte en las heridas

consoladores bálsamos, conforta

al débil, da vigor al oprimido,

y al enfermo, salud. Mas ay, si estalla

en sus tremendas notas el enojo!

Ay,, si el céfiro blado se transforma

en huracán desenfrenado! Entonces

abate a los soberbios, aniquila

la maldad orgullosa, y hasta avienta

el olvidado polvo de las tumbas.

Oh canto de piedade y de castigo!

Por tus sacros versiculos parece

como que escucha el ánimo suspenso

rodar todo el estrépito del mundo:

troncos que se desploman, muchedumbres

que arrasta la pasión, sordo rugido

de la plebe sin Dios, desesperadas

blasfemias, esterrores de la muerte,

todo en el arpa del Profeta vibra”.

Temos salmos de louvor desinteressado a Deus, individual e social; eucarísticos, em que a oração de ação de graças levanta repetidos e veementes acentos; de súplica e impetração, impregnados de confiança inextinguível na misericórdia e fidelidade de Deus; de imprecação e maldição que muitas vezes expressam os sentimentos da justiça e, mais do que operativos, são e devem entender-se como predições do futuro. Há salmos que falam do futuro Messias e o descrevem como Rei (Ps. 2, 44, 71, 109) ou como Sacerdote (Ps. 109) ou como varão de dores (Ps. 21, 68…) ou como vencedor da morte (Ps. 15). Há salmos de peregrinação a Jerusalém e outros de procissão e entronização. Toda a vida social e individual fica santificada com a oração do saltério.

Mas, além dos salmos, há outras preciosas orações espalhadas por todos os livros do Antigo Testamento; como a oração para adquirir sabedoria, que lemos em Sap. 9; a de ação de graças por ter Deus libertado dos perigos e dos inimigos e por ter concedido o dom da sabedoria em Ecl. 51, 1-17; a de ação de graças, proclamada por David no final dos seus dias em 1 Par. 29, 10-19; o cântico de Moisés: Ex. 15, 1-19; assim como o cântico de Tobias: Tob. 13, 1-10; o de -Judite: Jdt. 16, 15-21, etc.

É inesgotável o tema da oração no Antigo Testamento.

D) O MISTÉRIO DA SALVAÇÃO é o que aparece em todas as páginas da Bíblia do Antigo Testamento. Explicar este mistério no Antigo Testamento equivaleria a repetir toda a História Sagrada. 

A unidade dos dois Testamentos (n.16)

16. Foi por isso que Deus, inspirador e autor dos livros dos dois Testamentos, dispõe sabiamente que o Novo Testamento estivesse escondido no Antigo, e o Antigo se tornasse claro no Novo[26]. Pois apesar, de Cristo ter alicerçado a nova aliança no seu sangue (cf. Lc. 22, 20; 1 Cor. 11, 25), os livros do Antigo Testamento, integralmente assumidos na pregação evangélica[27], adquirem e manifestam a sua significação completa no Novo Testamento (cf. Mt. 5, 17; Lc. 24, 27; Rom. 16, 25-26; 2 Cor. 3, 14-16), que iluminam e explicam.

 

Este número começa com a afirmação de que o mesmo Deus é o autor dos livros de ambos os Testamentos. E é autor dos livros precisamente porque é o seu inspirador. Ele os inspirou. Já tivemos ocasião de dizer, ao estudar a natureza da inspiração bíblica (n. 11, a), que os conceitos de inspirador e de autor dos livros são na realidade equivalentes, e no sentido objetivo e eclesiástico designam o mesmo fato da inspiração bíblica[28]. Mas o valor formal de cada um destes conceitos é algo diferente, como também indicamos (n. 11, a). Porque inspirar diz dar o impulso e a moção; ser autor diz plena causalidade eficiente e, de si, causalidade principal. Por esta razão, poderá algum ser inspirador dum livro sem ser autor; e vice-versa, poder um ser o autor de um livro, e outro inspirador. Com razão, pois, o Concílio põe primeiro o termo inspirador; porque a inspiração tem prioridade ontológica relativamente a “ser autor”, já que a razão porque Deus é autor dos livros sagrados é porque os inspirou[29].

Que Deus seja autor de ambos os Testamentos é uma fórmula que encontramos em não poucas definições do Magistério da Igreja, que vão primeiramente dirigidas contra os maniqueus, que estabeleciam um duplo princípio, um bom para o Novo Testamento, e outro mau para o Antigo. A primeira destas definições da Igreja a encontramos nos Estatutos da Igreja antiga, com o exame dos candidatos ao episcopado, cuja fórmula ainda hoje se repete: “Credes também que é único o autor do Novo e do Velho Testamento, da Lei e dos Profetas e dos Apóstolos [livros apostólicos], o Deus e Senhor onipotente?[30] Esta formulação repete-se em vários símbolos ou profissões da fé[31]. No Concílio de Florença se disse (Decreto para os Jacobitas) que Deus é autor do Novo e do Velho Testamento, porque “os santos de ambos os Testamentos falaram movidos do mesmo Espírito inspirador”[32]. E o Concílio Tridentino na sessão IV (a. 1546) expressou que recebia com igual afeto e reverência todos os livros do Antigo como do Novo Testamento, já que o mesmo Deus é autor dos dois[33].

A primeira razão de unidade entre ambos os Testamentos está, por conseguinte, no seu autor, que é o mesmo Deus.

A segunda razão da unidade, que indica o Concílio neste número, é que um Testamento se ordena ao outro: No plano de Deus o Novo Testamento está latente no Antigo; e o Antigo está patente no Novo. Esta frase que é de S. Agostinho[34], indica a mútua relação de ambos os Testamentos.

Como o Antigo Testamento, com as suas profecias e vaticínios messiânicos tão pormenorizados, contém em certo modo uma vida prévia de Cristo Jesus, e uma previsão de muitos dos acontecimentos da História da Salvação, que vem a ser a substância do Novo Testamento, com razão se pode dizer que o Novo Testamento está latente no Velho[35]. E, por outra parte, o conteúdo íntimo do Antigo se descobre e se faz patente no Novo.

É verdade que Cristo fundou a Nova Aliança, que era definitiva e única e eterna (cf. Lc. 22,20; 1 Cor. 11, 25); e, portanto, a Antiga Aliança envelheceu (cf. Heb. 8, 13) e foi abrogada nos seus valores e prescrições temporais. Mas os livros do Antigo Testamento, não. Os Apóstolos os incorporaram na sua pregação, os citaram em seus escritos, como inspirados por Deus, e como tais os transmitiram aos cristãos, segundo antes dissemos[36].

No Novo Testamento está o complemento do Antigo e a sua perfeição. Foi Jesus Cristo quem disse que não veio abolir a Lei ou os Profetas; não veio a abolir mas a aperfeiçoar (Mt. 5, 17). Por Lei e Profetas se entendia todo o Antigo Testamento. E Jesus Cristo não veio a destruir o que o próprio Deus tinha fixado com caráter permanente nos livros sagrados. Os preceitos cerimoniais e meramente temporais ficaram superados pela lei da graça com o seu novo sacrifício, com os novos sacramentos, com a nova Hierarquia. O que era sombra do futuro (1 Cor. 10, 6.11) cessou ao aparecer a realidade. Algumas ordenações morais foram elevadas a maior perfeição (cf. Mt. 5, 17-48). Mas o mesmo Jesus se submeteu à Lei (Gal. 4, 4). O mesmo Jesus explicou a seus discípulos, em concreto aos dois que se dirigiam a Emaús, o que dele disseram os Profetas, e que era necessário que o Cristo padecesse estas coisas e assim entrasse na glória. “E começando por Moisés e por todos os Profetas, lhes explicou o que d’Ele havia em todas as Escrituras” (Lc. 24, 25-27). O véu que existe para alguns na leitura do Velho Testamento (cf. 2 Cor. 3, 14-16) fica a descoberto pela realidade de Cristo, que deu cumprimento aos vaticínios. Porque, segundo S. Paulo, pela pregação do Evangelho, que é pregar a Jesus Cristo, se descobriu e revelou o mistério escondido e calado por tempos eternos, devendo aparecer no tempo oportuno, e ser conhecido por todos os povos por meio das Escrituras proféticas segundo a disposição do Deus eterno (cf. Rom. 15, 25-26).

Por tudo isto pode, com razão, dizer o Concílio que, se os livros do Antigo Testamento adquirem e mostram no Novo Testamento o seu completo significado, também por sua vez iluminam e explicam este Novo Testamento.

Em Cristo, como no seu centro, convergem todas as páginas de ambos os Testamentos – escrevia Bento XV na encíclica do centenário de S. Jerônimo – ; e S. Jerônimo, ao explicar as palavras do Apocalipse sobre o rio e a árvore da vida, diz, entre outras coisas, o seguinte: ‘Um rio sai do trono de Deus, isto é, a graça do Espírito Santo; e esta graça do Espírito Santo está nas Sagradas Escrituras, isto é, neste rio das Escrituras. Mas este rio tem duas margens, o Velho e o Novo Testamento, e a árvore que está plantada dum e doutro lado é Cristo’[37].

 


[1] “Historia populi electi in libris inspiratis enarrata”. Schema (julho 1964), Relatio n. 14, A, p. 35.

[2] “Historia salutis in libris Veteris Testamenti consignata”. Schema c. IVI (outubro 1964), n. 14, p. 28.

[3] Cf. Relatio, super capita III-VI Schematis Constitutionis De divina revelatione, por Mons. van Dodewaard, 1964, p. 15; Schema (julho 1964), Relatio c. IV, A, p. 30.

[4] Para ter mais força a expressão, introduziu-se a palavra totius (Generis humani). Cf. Schema c. I-VI (outubro 1964, Relatio c. IV, A, p.30.

[5] Cf. Schema c. I-VI (outubro 1964), Relatio c. CI, B, p. 30.

[6] Cf. Schema (julho 1964), Relatio n. 14, A, p. 35.

[7] Cf. Schema (julho 1964), Relatio n. 14, F, p.35.

[8] Fala-se expressamente de economia da salvação para assinalar de propósito e claramente o segundo fim (o primeiro era o monoteísmo) de revelação velho-testamentária; isto é, a história da salvação. Cf. Schema (julho de 1964), Relatio n. 14, G, p.35.

[9] Veja-se também Isa. 30-2; Jere. 15, 19; Ez. 11, 5; 24, 2; Hab. 2, 2-3; Dan. 8, 26; e com frequência a frase dos profetas: “Isto diz Yahvé”.

[10] De fuga, § 36, n.97; PESCH, De inspiratione, n. 14, p. 18.

[11] De monarchia, § 9; PESCH, De inspiratione, n. 15; p. 19.

[12] De cherubim, § 14, n. 49; PESCH, De inspiratione, n. 14, p. 18.

[13] Contra Apionem 1, 7-8: Opera Flavii Iosephi (edit. F. Didot) 2, 340- 341.

[14] Sobre a história do cânon do A.T. pode ver-se, brevemente, M. NICOLAU, De Sacra Scripture, nn. 57-67.

[15] PIO XI, Enc. Mit brennender Sorge, 14. Mar. 1937: AAS 29, 1937, p. 151.

[16] Cf. Schema c. I-VI (Outubro 1964), Relatio c. IV, p. 31.

[17] É impossível reproduzir agora toas as profecias messiânicas. Remetemo-nos ao nosso tratado De revelatione christiana (“Sacrae Theologiae Summa”, vol. I, Matriti 1962), nn. 572-646

[18] Pio XII, Divino afflante: D 2293; EB 552.

[19] Pode-se interpretar provavelmente: exceto se vive em concubinato e fornicação; o que dá causa à separação quoad torum et habitationem, permanecendo o vínculo matrimonial. Outras interpretações podem ver-se em S. DEL PÁRAMO, La S. Escritura N.T., Comentário Mt 5 31-32.

[20] Cf. Modi c . IV, n. 10, pp. 44-45.

[21] Encíclica Mit brennender Sorge (14 de março de 1937) AAS 29 (1937) 150-151.

[22] Obras completas, Madrid, 1946, II, pp. 162, 164.

[23] DONOSO CORTÊS, Discurso acadêmico sobre a Bíblia (16 de abril de 1948); Obras completas, Madrid 1946, II, 165-166.

[24] S. AMBRÓSIO, Enarrat. in Ps. 1, n. 9; Mediator Dei: AAS 39 (1947) 575.

[25] Enarrat. in Ps. 144, 1; ML 37, 1869.

[26] S. AGOSTINHO, Quaest in Hept. 2, 73; PL 34, 623.

[27] S. IRINEU, Adv, Haer. III, 21, 3: PG 7, 950: (= 25, 1: Harvey 2, p. 115). CIRILO DE JERUSALÉM, Catech. 4, 35: PG 33, 497. TEODORO DE MOPS, In Soph. 1, 4-6: PG 66, 452 D- 453 A.

[28] “Eos vero Ecclesia pro sacris et canonicis habet… propterea quod Spiritu Sancto inspirante conscripti Deum habent auctorem…” Constitutio dogmatica de fide catholica Dei Filius c. 2: D 1787.

[29] É verdade, não obstante, que o ser autor de livros sagrados pode ter prioridade lógica (isto é, na ordem do nosso conhecimento) no respeitante à inspiração; porque do conhecimento de que existem livros dos quais Deus é autor, podemos concluir que Ele os inspirou.

[30] No Pontifical Romano; esta fórmula não difere substancialmente da que antigamente se prescrevia. Cf. EB 30.

[31] Um proposto por S. LEÃO IX (a. 1053): D 343: outro por INOCÊNCIO III (a. 1208): D 421; na profissão de MIGUEL PALEÓLOGO (a. 1274): D 464; no Decreto para os Jacobinos, do Concílio de Florência (a. 1441): D 706; no Concílio Tridentino: D 783.

[32] D 706; EB 47.

[33] D 783; EB 57.

[34] Quaest. in Hept. 2, 73: ML 34, 623.

[35] Entre estas profecias cf., v. gr. Act. 2, 25-36, e De revelatione christiana, nn. 582 segs.

[36] Cf. n. 11, a; n. 22.

[37] Tract in Ps. 1: Corppus Christianorum 78, 8; Aneed. Mared 3, 2, 6; BENEDITO XV, Spiritus Paraclitus: EB 493.
 

FONTE

NICOLAU, Pe. Miguel. ESCRITURA E REVELAÇÃO SEGUNDO O CONCÍLIO VATICANO II. Texto e comentário da constituição dogmática “Dei Verbum”, pp. 122-142.
  

PARA CITAR

NICOLAU, Pe. Miguel. Escritura e Revelação segundo o Concílio Vaticano II (Capítulo 1) <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/concilio-vaticano-ii/revelacao/948-escritura-e-revelacao-segundo-o-concilio-vaticano-ii-capitulo-4> Desde 24/02/2017. Transcrição: Katia Cethamos.

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