Sexta-feira, Novembro 15, 2024

Escritura e Revelação segundo o Concílio Vaticano II (Capítulo 3)

A INSPIRAÇÃO DIVINA E A INTERPRETAÇÃO DA SAGRADA ESCRITURA (nn. 11-13)

 Conexão com outros capítulos

Após considerar, nos capítulos anteriores, as relações existentes entre a Escritura e a Tradição, dirige, o Concílio, a atenção para a própria Sagrada Escritura, contemplando-a não só sob o prisma doutrinal mas também pastoral. “A ninguém se oculta a grande importância da Sagrada Escritura na vida da Igreja. Embora esta sempre a tivesse tido em grande estima como consta, por exemplo, dos livros litúrgicos, contudo, caiu em desuso a leitura privada da Sagrada Escritura, sobretudo entre os fiéis seculares, estando nós todos de acordo com S. Jerônimo, quando diz que ‘a ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo’[1]. Com as exortações e esforços dos últimos Romanos Pontífices e mediante o “movimento litúrgico”, inaugurado por S. Pio X, a Escritura volta a ocupar o seu lugar na vida da Igreja. Mas ainda há muito caminho a percorrer, pois o desejo de todos nós é que se possa dizer de todo o membro do povo de Deus o que S. Jeronimo dizia numa carta de certo sacerdote falecido na idade juvenil: “com a leitura assídua e meditação prolongada, convertera o seu coração numa biblioteca de Cristo”[2]. Segundo este desejo, os quatro capítulos restantes, sobre a Sagrada Escritura, foram emendados a fim de que o tom pastoral se apoiasse numa doutrina sã e clara…” Deste modo, eram apresentados, pelo Ex.mo Relator João van Dôdewaard, bispo de Haarlem (Holanda), os quatro capítulos restantes do esquema, que tratavam da Sagrada Escritura[3].

 

O fato da inspiração e da verdade da Sagrada Escritura (n. 11)

O fato da inspiração (n. 11, a)

11 a. As coisas reveladas por Deus, que se encontram escritas na Sagrada Escritura, foram inspiradas pelo Espírito Santo. Com efeito, a santa Mãe Igreja, por fé apostólica, considera como sagrados e canônicos os livros inteiros tanto do Antigo como do Novo Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo (cf. Jo. 20, 31; 2 Tim. 3, 16; 2Ped. 1, 19-21; 3, 15-16), têm de Deus por autor e como tais foram confiados à própria Igreja[4]. Todavia, para escrever os Livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens usando das suas faculdades e capacidades [5], para que, agindo Ele neles e por meio deles[6], pusessem por escrito como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele quisesse[7].

 

O Concílio passa a tratar do fato fundamental pelo qual as Escrituras são sagradas e verdadeiras. Trata-se do que costuma chamar, a inspiração e a inerrância das Escrituras, fundamento da estima extraordinária em que são tidas pelos cristãos.

 

Conceito de livro sagrado e canônico

O Concílio usa as expressões de livros sagrados, livros canônicos, Deus autor dos livros. Detenhamo-nos para as esclarecermos um pouco.

Um ser é sagrado quando tem uma relação especial com Deus; falamos de pessoas sagradas, vasos sagrados, de lugares sagrados. Aplicando esta palavra aos livros sagrados, quer designar-se em relação especial, pela qual os livros se referenciam a Deus, como autor deles e autor por antonomásia; não pode ser autor, por exemplo, de alguns livros particularmente piedosos e apostólicos, como a Imitação de Cristo, os Exercícios de Santo Inácio, etc. atendendo ao auxílio especial que prestou para a elaboração deles. Nas Sagradas Escrituras a ação de Deus é absolutamente particular, porque Ele é o verdadeiro autor destes livros sagrados, autor por antonomásia e no sentido de compositor deles.

Quando se diz que Deus é autor destes livros, não se usa a palavra autor no mero sentido, que cabe na palavra latina (auctor), de inspirador ou promotor dum livro ou obra literária. Deus não só despertou nos escritores humanos, que no nosso primário modo de entender fizeram esses livros, a ideia deles, não suscitou apenas, nem quis favorecer ou promover a existência destes livros; Deus é verdadeiro compositor e autor deles, juntamente com os autores humanos[8]. Deus e o homem são coautores destes livros. E, naturalmente, Deus, como causa principal; o homem como causa instrumental, racional. Mais abaixo veremos donde nos consta esta doutrina da Igreja.

De fato os livros sagrados, de que conhecemos ser Deus o autor, são os livros canônicos.

Livros canônicos, são os que se encontram no canon ou regra e catálogo eclesiástico das Escrituras. A admissão dum livro no canon das Sagradas Escrituras supõe a certeza da Igreja, de que se trata dum livro sagrado, e de que é um livro encomendado à guarda da Igreja. Este conceito vem explicitamente ensinado no Vaticano I: “A Igreja tem a estes livros por sagrados e canônicos – diz-se- …porque, tendo sido escritos por inspiração do Espírito Santo, têm a Deus por autor, e como tais foram entregues à mesma Igreja[9].

A razão ontológica, porque Deus é o autor destes livros é a inspiração pelo Espírito Santo: Deus é autor porque o Espírito Santo inspirou. A razão lógica pela qual conhecemos que Deus os inspirou é o sabermos pela fé, que Deus é o autor deles. O conceito de inspiração tem, pois, uma prioridade ontológica com respeito ao autor; e vice versa, o conceito de autor tem uma prioridade lógica com respeito à inspiração. As duas fórmulas, (Deus autor e Deus inspirador), embora insinuem conceitos distintos (autor, diz causa; inspirador insinua moção), são contudo, na linguagem eclesiástica, fórmulas equivalentes[10].

Todo o livro sagrado ou inspirado com inspiração pública, isto é, para ser recebida por toda a Igreja e para o bem público de toda ela, foi entregue ao conhecimento e guarda da Igreja. Por isso todo o livro inspirado (com inspiração pública) está no canon e é livro canônico.

Do mesmo modo, não se encontram livros inspirados que não sejam livros entregues à guarda da Igreja ou livros canônicos.

Por tudo isto, livro inspirado ou sagrado ou livro canônico, são palavras que se usam indistintamente[11]. Mas, examinando os conceitos com cuidado, vê-se que a inspiração toca o caráter interno do livro e é o fundamento para que seja canônico; a canonicidade assinala o caráter externo, de que foi entregue à guarda da Igreja.

 

A fé dos Apóstolos

O texto conciliar afirma expressamente esta fé apostólica. Os Apóstolos transmitiram à Igreja esta fé sobre a existência dos livros inspirados por Deus no Antigo e Novo Testamento, que expressamente falam da inspiração de Deus, no que toca aos livros sagrados.

O Concílio alude à 2 Tim. 3, 16, quando S, Paulo dirigindo-se a Timóteo e exortando-o a que desempenhe o seu ofício de mestre da fé, lhe dizia que tem as Sagradas Escrituras (Antigo Testamento) que havia aprendido desde menino (por ter mãe hebreia), e que toda a Escritura (tudo o que está sob o nome de Escritura) foi inspirada por Deus[12] e é útil para muitas da funções que são próprias dos Mestres e Bispos. Esse texto (2Tim. 3, 16-17) é o mesmo com que fecha este número do Concílio. S. Paulo ensina, pois, nesta passagem, a inspiração divina dos livros do Antigo Testamento.

Também S. Pedro (2Pet. 1, 19-21), é aduzido pelo Concílio. O Apóstolo refere-se à palavra profética que está na Escritura e diz que não deve ser interpretada com uma mera interpretação privada e pessoal. “Porque a profecia (que está na Escritura) não nos veio por vontade de homens (logo, foi por vontade divina); mas os homens que nos falaram (movidos) por Deus, fizeram-nos levados (inspirados, diz a Vulgata) pelo Espírito Santo” (v. 21)[13]. S. Pedro refere-se, também, aqui, às profecias escritas no Antigo Testamento; mas é fácil tornar extensiva a toda a Escritura a sua afirmação.

Além disso, S. Pedro equipara as epístolas de S. Paulo às demais Escrituras (2Ped. 3, 15-16) e este é outro texto assinalado pelo Concílio.

S. João refere no seu Evangelho uma expressão usual nos livros sagrados para indicar a sua inspiração: “todas estas coisas foram escritas (scripta sunt) para que acrediteis…” (Jo. 20-31); e é outro dos textos aduzidos pelo Concílio para confirmar o ensinamento e fé apostólica acerca da inspiração divina dos livros sagrados.

Poder-se-ia, ainda, apresentar outras provas da mesma Escritura do Novo Testamento para comprovar o pensamento de Jesus Cristo e dos Apóstolos acerca da existência deste fato: a inspiração por Deus dos livros sagrados.

Porque JESUS CRISTO E OS APÓSTOLOS APROVAM A PERSUASÃO DOS JUDEUS, DE QUE DEUS ERA O AUTOR DOS LIVROS SAGRADOS[14]

a) Os testemunhos de Jesus Cristo atribuem à Escritura uma autoridade absoluta, divina e infalível: “a Escritura não pode falhar” (Jo. 10, 35); “têm de cumprir-se todas as coisas que estão escritas… porque assim está escrito e era conveniente…” (Lc. 24, 44-46): “nem um jota nem um til da lei passarão” (Mt. 5, 18). Uma maneira absoluta de falar e com suprema autoridade é a que se faz com esta frase ou outra semelhante: “diz a Escritura” (cf. Mt. 4, 4-7-10; At. 15, 15; Rom. 1, 17…), e que se encontra no Novo Testamento, cerca dumas 150 vezes.

b) Os testemunhos dos Apóstolos e de Jesus Cristo atribuem a Deus ou ao Espírito Santo a causa principal da Escritura; e ao homem a instrumentalidade. “Convinha que se cumprisse a Escritura – dizia S. Pedro no Cenáculo –a que predisse o Espírito Santo pela boca de Davi acerca de Judas…” (At. 1, 16). “Tu, Senhor…, que pelo Espírito Santo por boca de Nosso Pai Davi, teu servo, disseste…” (At. 4, 19-25).

Jesus Cristo diz que Davi, autor do salmo 109, tinha falado em Espírito (Mt. 22, 43; Mc. 12, 36). S. Paulo e S. Pedro referem palavras da Escrituras como ditas pelo Espírito Santo (Heb. 3, 7; 9, 8; 10, 5;  At. 28, 25; 1 Ped. 1, 11…).

c) Jesus apresenta palavras da Escritura como ditas por Deus: “não tendes lido o que Deus vos disse: eu sou o Deus de Abraão…?” (Mt. 22, 31). E o dito pelo autor humano diz-se dito por Deus (Heb. 4, 4) e vice-versa o que Deus disse, di-lo pela Escritura (Rom. 9, 17; Gal. 3, 8).

Esta fé sobre o fato da inspiração divina de alguns livros manifesta-se claramente nos TESTEMUNHOS DOS SANTOS PADRES. Não seria este o momento para repetir a multidão das suas afirmações, acessíveis noutro lugar[15]. Resumindo-as podemos recordar que os Santos Padres dizem que as Escrituras “são oráculos e palavras divinas, cartas enviadas pelo Pai Celestial ao gênero humano que peregrina longe da pátria, transmitidas por meio dos autores sagrados”[16]. Assim chamam ao autor humano lira ou caneta na mão de Deus, correio (carteiro) que nos traz as cartas de Deus.

Por outro lado, o MAGISTÉRIO DA IGREJA não cessou de propor como verdade revelada o fato da inspiração divina das Sagradas Escrituras, sendo Deus o autor delas. E nos Statuta Ecclesiae antiquae (séc. V-VI), como hoje também, pergunta-se ao Bispo eleito, quando é examinado na fé, antes da sagração: “Crês que Deus e Senhor Onipotente é o próprio autor do Novo e Antigo Testamento, da lei, dos Profetas e dos Apóstolos?”[17]. Trata-se, aqui, evidentemente, de Deus autor de livros, uma vez que se fala da lei e dos Profetas, com que se denominavam os escritos do antigo Testamento, e dos Apóstolos com que se designavam os escritos do Novo Testamento, escritos, na sua maioria, por Apóstolos e por discípulos deles (Marcos e Lucas).

Encontra-se a mesma doutrina nos símbolos e profissões de fé: no símbolo de S. Leão IX (a. 1053)[18]; na profissão de fé imposta a Durando de Huesca e aos Valdenses[19]; na profissão de fé proposta a Miguel Paleólogo e oferecida por ele no Concílio de Lyon (a. 1274)[20]; no Decreto para os Jacobitas, no concílio de Florença (a. 1441)[21]. No Concílio de Trento (a. 1546) recebeu de novo e venerou todos os livros tanto do Antigo como do Novo Testamento, uma vez que o mesmo e único Deus é o autor de ambos[22]. O Concílio Vaticano I replica a razão porque a Igreja tem por sagrados e canônicos os livros das Escrituras, proclamando as palavras que neste número, repetiu o Vaticano II: “porque escritos sob inspiração do Espírito Santo, têm a Deus por autor”[23] A mesma doutrina da inspiração destes livros, repete-se noutros documentos dom Magistério da Igreja: na encíclica de Leão XIII Providentissimus Deus(a. 1893)[24]; na de Bento XV, Spiritus Paraclitus, por ocasião do centenário do nascimento de S. Jerônimo (a. 1920)[25]; na de Pio XII, Divino afflante Spiritu (a. 1943)[26]. Contra os erros dos Modernistas, S. Pio X reafirmou esta verdade de fé na encíclica Pascendi (a. 1907)[27], e antes no Decreto Lamentabili (a. 1907) [28]

Como se vê, trata-se duma verdade de fé, professada e explicada de muitas maneiras, e numa multidão de documentos.

Como Deus é o autor dos livros sagrados, as Escrituras contem e manifestam a palavra de Deus; são palavra de Deus (verbum Dei). Isto é o mesmo que dizer – como se expressa o Concílio Vaticano II, que enquadrou as Escrituras dentro do marco da revelação divina – que as coisas reveladas por Deus estão contidas e manifestadas na Sagrada Escritura[29].

 

A inspiração e o autor humano

As sagradas Escrituras aparecem externamente como obra de homens e de muitos livros sagrados conhecemos os autores. A Escritura tem, por conseguinte, duas causas ou autores: um autor divino e outro humano, que usa as próprias faculdades racionais e humanas ao escrever o livro. Os dois autores ou co-autores produzem o mesmo livro: Deus como causa principal, o homem como causa instrumental.

A ação de Deus consistiu, primeiro em escolher estes homens, que chamaremos hagiógrafos (isto é, escritores de coisas sagradas); depois empregou-os de tal modo que usaram as próprias faculdades e forças. Os teólogos católicos – diz Pio XII no Divino afflante– “partindo do fato de que o hagiógrafo ao compor um livro é órgão ou instrumento do Espírito Santo, e instrumento vivo e dotado de razão, notaram que ao ser atuado pela moção divina, de tal modo usa as faculdades e forças, que do seu livro, nascido do próprio trabalho, todos podem deduzir, a índole própria de cada um, e as suas características e notas singulares”[30].

Deus opera neles[31] e por meio deles[32]. A ação de Deus faz com que escreveram como verdadeiros autores todas as coisas e só as coisas que Deus quer que escrevam. “Como uma força sobrenatural – ensinava Leão XIII – de tal modo os moveu Deus a escrever, de tal maneira os assistiu, que todas e unicamente aquelas coisas que Ele queria[33], foram concebidas na mente deles, de modo a quererem escrevê-las com fidelidade, e, finalmente, foram expressas convenientemente com verdade infalível: doutro modo Deus não seria o autor de toda a Sagrada Escritura”[34]. Com este ensinamento de Leão XIII fica descrita a natureza da inspiração no hagiógrafo.

Para que o livro seja obra comum de Deus e do homem, Deus concorre no homem com o auxílio sobrenatural para que tudo aquilo que é necessário para que o mesmo homem seja autor dum livro: a) conceber retamente as ideias ou conteúdo dum livro (os juízos de que consta e a disposição deles); b) querer escrever o livro; c) escrevê-lo ou executar o que concebeu e quis escrever[35].

Mas assim como o homem nem sempre tem consciência do auxílio da graça de Deus, quando é movido e atuado por ela, do mesmo modo não é necessário que o hagiógrafo tenha tido consciência desta ação sobrenatural de Deus no momento de escrever ou nos preparativos.

 

A verdade das Escrituras (n. 11, b)

11 b. E assim, como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou os hagiógrafos deve ser considerado como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve acreditar que os Livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas Letras[36]. Por isso, “toda Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para arguir, para corrigir, para instruir na justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas as obras boas” (2Tim. 3, 17-17 gr.).

 

“Tudo o que o hagiógrafo afirma, enuncia, insinua, deve ser tido como afirmado, enunciado, insinuado pelo Espírito Santo”[37]. A razão desta afirmação é que Deus é autor, juntamente com o homem, de cada uma das frases ou juízos contidos nas Escrituras e no mesmo sentido que quis comunicar-lhes o autor humano ou hagiógrafo. Por este motivo as proposições ou juízos do hagiógrafo são também proposições ou juízos que Deus afirma ou nega. Daí que não possam ser falsos; dum modo negativo diríamos que possuem a inerrância. Devem ser e são verdadeiros, se falarmos dum modo positivo.

E é dogma de fé[38] que os livros da Escritura nos ensinam a verdade; não podem errar. Por esta razão, quer se trate de matérias religiosas ou profanas, quer do referido longamente e de propósito, quer do afirmado de passagem, tudo o que se contém na Escritura como afirmação ou negação do hagiógrafo, é afirmação ou negação de Deus e não pode ser falso. Tudo isto pressupõe que a inspiração se estende a todas as partes da Escritura, sejam religiosas ou profanas; sejam grandes trechos ou coisas de menos importância e ditas rapidamente (obiterdicta)[39].

As Escrituras contém “a verdade que Deus quis que nelas se consignasse”; e quis-lo “por causa da nossa salvação”. A finalidade de Deus ao querer que se escrevessem as Escrituras, com os seus temas religiosos e por vezes, com coisas que parecem meramente históricas e profanas (v. gr. Num cc 26 e 33), com o catálogo dos filhos de Israel e sua permanência no deserto), ou com coisas que parecem ditos acidentais e sem relação com a doutrina (v. gr. 2 Tim. 4, 13, o abrigo que S. Paulo deixou em Troia; Judite 1, 5; Tob. 11, 9), era, em última análise, a nossa salvação. Por isso quis que se consignassem todas estas verdades “por causa da nossa salvação”. As Escrituras ensinam esta verdade com firmeza, fidelidade e sem erro.

“O principal cuidado de Leão XIII – dizia Pio XII na Divino afflante – foi expor a doutrina sobre a verdade dos livros sagrados e defendê-la dos seus impugnadores. Disse, com graves palavras, não ter errado, o hagiógrafo, quando, falando dos fenômenos físicos, ‘seguiu aquelas coisas que aparecem sensivelmente’, como diz o Doutor Angélico[40] referindo-se ‘ou a certa maneira de linguagem figurada, ou à linguagem comum de então, e ainda em muitas coisas, de hoje também, mesmo entre homens sapientíssimos’. Porque os próprios escritores sagrados, ou com mais verdade, – são palavras de S. Agostinho[41] – o Espírito de Deus que falava por meio deles, não quis ensinar ao homem estas coisas – a saber, a constituição íntima destes fenômenos visíveis – que não aproveitavam à salvação’[42]; ‘será útil transferir isto mesmo às disciplinas afins, à história principalmente’, isto é, ‘refutando dum modo semelhante às falácias dos adversários e defendendo de suas impugnações a fidelidade histórica da Sagrada Escritura’[43]. Porque não se deve imputar nenhum erro ao escritor sagrado, quando ‘algumas coisas passaram aos copistas dos códices’, ou quando o ‘sentido dalguma passagem permanece ambíguo’. Por último ‘é de todo reprovável’ o estreitar a inspiração somente a algumas partes da Escritura, ou conceder que se equivocou o escritor sagrado, uma vez que a inspiração divina ‘exclui por sim mesma, não só todo o erro, mas tão necessariamente o exclui, quão necessário é que Deus, suma Verdade, não seja autor de nenhum erro. É esta a antiga e constante fé da Igreja’”[44].

O esquema, na sua penúltima redação, imediatamente antes do que foi votado na Aula, dizia neste número que os livros sagrados ensinam a verdade salutar (veritate salutarem)[45]; com o que a Comissão queria significar “os fatos que na Escritura se juntam com a história da salvação”[46]. Contudo, a expressão, de que Deus ensina, na Escritura, sem erro a verdade salutar prestava-sea pensar, ao menos à primeira vista[47] que as partes profanas ou ditas de passagem na Escritura (obiterdicta), não contendo uma verdade salutar, não contendo uma verdade salutar, continham erro.

Esta dificuldade foi apresentada por muitos Padres: 184 Padres propunham a supressão da palavra salutar; 76 queriam substituí-la por outra fórmula; entre as fórmulas propostas encontrava-se a que ficou, definitivamente ficou no texto[48]. A Comissão doutrinal não só admitia, evidentemente o sentido abusivo de que só era inspirado e necessariamente verdadeiro na Bíblia, o que se referisse à fé e costumes; admitia que tudo era inspirado. Mas a última decisão no que respeita à supressão da palavra “salutar”, deveu-se à intervenção do Romano Pontífice, de que antes falamos (cf. “Antecedentes da Constituição” 6; e n. 9), que, por carta da Secretaria de Estado, rogava fosse examinada, de novo, esta questão. Na sessão da Comissão doutrinal, de 19 de Outubro de 1965, com assistência do Cardeal Bea, este explicou o perigo de ambiguidade que continha a fórmula até então admitida de “veritatem salutarem… sine errore docere”. Como resultado da sessão preferiu-se mudar esta fórmula por uma das que tinham sido propostas pelos Padres acima mencionados, que permaneceu definitivamente no texto[49].

As últimas palavras deste número referem-se às vantagens que se encontram na verdade contidas na Escritura. Estas vantagens ou utilidades da Escritura inspirada, são referidas com palavras de S. Paulo a seu discípulo Timóteo. S. Paulo da prisão (2 Tim. 2, 9) e não muito antes da morte (2 Tim. 4, 6), exortava Timóteo a desempenhar o ofício de Doutro que lhe tinha encomendado, contra os que resistiam à verdade, réprobos no tocante à fé (3, 1-9). Timóteo podia contar com a doutrina e exemplo de S. Paulo (3, 10-14); podia também contar com as Sagradas Letras, sem dúvida, as do Antigo Testamento que Timóteo tinha aprendido desde a infância. Ser-lhe-iam úteis para ensinar, convencer e arguir, para corrigir, para educar na justiça, para que o homem de Deus seja perfeito, equipado para toda a obra boa (2 Tim. 3, 16-17).

 

A interpretação da S. Escritura (n. 12)

A intenção do hagiógrafo e o que Deus quis manifestar (n. 12 a)

12 a. Como, porém, Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana[50], o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras.

 

A interpretação da Sagrada Escritura, também chamada Hermenêutica, quer estabelecer o sentido verdadeiro e exato da palavra, de Deus, contida na Bíblia. Para saber o que Deus nos quis significar com a sua palavra escrita, posto que nos quis falar por meio dum homem que escreve e ao modo dos homens, temos de ver o que quiseram dizer os escritores humanos e o que de fato nos manifestaram com as suas palavras.

O primeiro passo é averiguar o sentido literal da Escritura, isito é, “o que significam, imediatamente, as palavras”[51]. “O exegeta católico – dizia Pio XII na Divino afflante – tenha o ofício, que é o principal de todos os que se lhe impuseram, a saber, averiguar e expor o sentido genuíno dos Livros Sagrados. E para desempenharem este labor, tenham e vista os intérpretes, que o que têm de procurar em tudo, é ver com clareza e definir qual o sentido literal das palavras, mediante o conhecimento das línguas, empregando também o contexto e comparando com passagens semelhantes…”[52]. “O professor de exegese, desempenhe o seu ofício de tal maneira que, primeiro exponha com clareza e nitidez o sentido chamado literal, empregando, quando a ocasião o peça, o próprio texto original…”[53].

É denotar que Deus falou-nos, na Escritura, por meio dos homens, e – como diz S. Agostinho – à maneira dos homens. “Deus não procura o homem – diz – como se não soubesse onde ele está, mas sim fala por meio do homem e ao modo dos homens, porque nos procura falando assim”[54].

Se o texto conciliar fala no plural dos hagiógrafos e não do hagiógrafo, esse fato deve-se a uma sugestão de quem recordava que há livros da Escritura considerados obra de vários autores[55].

Acrescentaram-se também as últimas palavras deste parágrafo: “que aprouve a Deus manifestar por meio das palavras do hagiógrafo” para recordar que “além da hermenêutica meramente racional, há que ter presentes os princípios teológicos da hermenêutica (o sentido pretendido por Deus, a analogia da fé, a tradição)”[56].

 

Os gêneros literários (n. 12b, c, d)

12 b. Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem ser tidos também em conta, entre outras coisas, os “gêneros literários”.

12 c. Com efeito, a verdade é proposta e expressa ora dum oura doutro segundo se trata de gêneros históricos, proféticos, poéticos ou outros.

12 d. Importa, por isso, que o intérprete busque o sentido que o hagiógrafo em determinadas circunstâncias, segundo as condições do seu tempo e da sua cultura, pretendeu exprimir e de fato exprimiu com a ajuda dos gêneros literários então usados[57]. Com efeito, para entender retamente o que o autor sagrado quis afirmar, deve atender-se convenientemente, quer aos modos nativos de sentir, dizer ou narrar em uso nos tempos do hagiógrafo, quer aqueles que costumam empregar-se nas relações entre os homens de então[58].

 

O estudo dos chamados “gêneros literários” é necessário para conhecer a intenção do escritor sagrado. Porque uma mesma frase ou expressão devem tomar-se em sentidos diversos conforme o gênero literário usado pelo escritor. As frases ditas em poesia têm um sentido, e outro se se trata de pura história; o que é dito como alegoria ou parábola (v. gr. Juízes 9, 8-15), ou em canto épico (v. gr. Sl. 103) tem um significado diverso do duma narração histórica.

Todos os gêneros literários são compossíveis com a inspiração, a não ser o que sejam imorais por sua natureza (como algum da poesia clássica) ou os que tendem a induzir em erro. “Nenhuma das formas da linguagem dos antigos, sobretudo dos Orientais, é alheia aos Livros sagrados, contanto que o gênero literário não repugne à santidade divina e à sua verdade conforme já, sagazmente advertia o Doutor Angélico: “na Escritura divina são-nos transmitidas as coisas do modo que costumam usar os homens”[59].

O texto conciliar fala de diversas classes de verdade (aliteraliterque) segundo os “diversos modos” nos textos históricos (“os diversos gêneros históricos”); porque, em absoluto, compreende-se que um texto pode ser histórico estritamente e pode sê-lo, amplamente, como uma história romanceada ou um romance histórico, em que os pormenores acidentais não são tomados à letra; não queremos dizer que isto seja o que se dá com a Bíblia. Falamos, unicamente, da possibilidade de expressar diversamente a verdade conforme o gênero seja poético, profético, etc.

Poderão admitir-se na Escritura narrações fictícias ou em parábola, contanto que se conheçam como tais (v. gr. Lc. 10, 30-37, sobre o bom samaritano) e não se atribuam às palavras da narração uma verdade propriamente histórica. Há também um gênero alegórico como o Cântico dos cânticos, que é uma composição poética alegórica em que se descreve a união mística entre Yavé e o seu Povo. Ainda um gênero didático e outro narrativo no qual se entrelaça a narração e a fábula (v. gr. Juízes, 9, 8-15).

Mas os mitos, entendidos como fábulas religiosas falsas, personificações, por exemplo, de fenômenos naturais (fecundidade da terra, etc.) como personagens divinos, não são gênero literário que se possa coadunar com a inspiração das Escrituras. Dizia Pio XII na encíclica Humani generis: “O que se tornou nas narrações populares, nos Livros sagrados, não deve ser assimilado às mitologias e outras coisas deste gênero, que provém, mais duma imaginação descontrolada do que daquele anelo de verdade e simplicidade tanto, nos Livros sagrados, mesmo no Antigo Testamento; temos por isso de concluir que os nossos hagiógrafos ultrapassam abertamente os antigos escritores profanos[60].

Tendo, pois presentes os diversos gêneros literários e, em concreto, os gêneros que se usavam quando o hagiógrafo escreveu determinado livro, será mais fácil fixar o sentido que se quis expressar nas determinadas circunstâncias do tempo e lugar em que viveu o escritor humano. Porque é ofício do interprete das Sagradas Escrituras descobrir o que quis dizer o hagiógrafo, e o que escreveu. Dizia S. Agostinho que “se devia evitar que alguém pensasse que se podia fazer no nosso tempo, aquilo que, vem nas antigas Escrituras e, que em razão daqueles tempos, mesmo entendido em sentido próprio e não figurado não era desonra nem crime”[61].

O que disse o autor inspirado é verdadeiro no sentido em que quis afirmar. Mas este sentido do que afirmou o escritor sagrado, não se capta, muitas vezes[62], retamente, se não se atender às formas originais e vulgares de pensar, dizer e narrar próprias do tempo e região do escritor, assim como ao que se costumava empregar segundo a cultura da época. Nas diversas expressões e gêneros literários manifesta-se a psicologia nacional e do tempo em que viveu o hagiógrafo; deve ter-se em conta tudo isto para compreender o autêntico sentido. Como dissemos deve sobretudo atender-se ao gênero literário.

O critério para conhecer o gênero literário de que se trata, será a forma externa que se costuma usar no respectivo gênero, enquanto não se prove, com certeza, outra coisa; é de ter em conta, também a tradição da Igreja, se se pode aduzir uma tradição universal. Mas disto falaremos mais adiante. Porque seria coisa inaceitável que um livro tido por histórico durante séculos e dum modo constante e universal, não contivesse, em definitivo, senão narrações fictícias. O Cântico dos cânticos, tanto pelo seu exame e notas internas, como pela tradição, consta que é uma composição alegórica.

A doutrina do Vaticano II sobre a interpretação da Escritura e dos gêneros literários é a mesma que expunha Pio XII no Divino afflante e a esta encíclica remete o texto que comentamos. Transcrevemos alguns parágrafos deste documento de Pio XII que servirão para explicar melhor as palavras do Concílio.

“O sentido literal – escrevia Pio XII – não aparece, normalmente, tão claro nas palavras e escritos dos autores orientais como nos do nosso tempo. Porque o que eles queriam significar com as palavras não era, unicamente, determinado pelas regras da gramática ou da filologia, e pelo contexto das palavras: é absolutamente necessário que o intérprete como que volte, com a mente, àqueles séculos remotos do Oriente, para que, ajudado convenientemente com os subsídios da história, arqueologia, etnologia e outras disciplinas, consiga determinar os gêneros literários, que se empregaram os escritores daquela antiga idade. Porque os antigos orientais para exprimir o que tinham em mente nem sempre usavam as mesmas formas e modos de dizer que hoje empregamos, mas sim os que eram comuns nos homens do seu tempo e lugar. E o exegeta não pode determinar a priori quais eram estes modos, sem uma cuidadosa investigação das literaturas do Oriente.

Esta investigação, realizada nos últimos decênios com maior cuidado e diligência do que antes, manifestou com maior claridade as formas de expressão empregadas naqueles tempos, tanto para a descrição poética das coisas como para propor normas e leis de vida e, finalmente, para contar os fatos históricos. Esta mesma investigação comprovou lucidamente que o povo de Israel sobrepujou de modo singular as demais antigas nações do Oriente, no escrever a história, tanto na antiguidade como na fiel narração dos fatos; isto procede do carisma da inspiração divina e do fim peculiar da história bíblica, que se refere à religião.

Ninguém, contudo, que entenda bem a inspiração, estranhará que nos escritores sagrados como nos demais escritores antigos, se encontrem certas artes de expor e narrar, certas expressões idiomáticas, próprias, sobretudo, das línguas semíticas; o que se chama, aproximações, e certos modos hiperbólicos de falar, por vezes, paradoxos para melhor fixar…”[63].

 

Outros critérios de interpretação (n. 12 e)

12 e. Mas, como a Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita[64], não menos atenção se deve dar, na investigação do reto sentido dos textos sagrados, ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura, tendo em conta a Tradição viva de toda a Igreja e a analogia da fé. Cabe aos exegetas, de harmonia com estas regras, trabalhar por entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que, mercê deste estudo preparatório, se facilite o juízo da Igreja. Com efeito, tudo quanto diz respeito à interpretação da Escritura, está sujeito ao juízo último da Igreja, que goza do divino mandato e do ministério de guardar e interpretar a palavra de Deus[65].

 

Como norma geral de leitura e interpretação da Bíblia, o Concílio emprega no começo deste parágrafo uma frase preciosa, tomada da encíclica de Bento XV, Spiritus Paraclitus, reproduzida por sua vez de S. Jerônimo: “a Escritura deve ser lida e entendida ‘como o pede o sentido do Espírito Santo, com que foi escrita’”[66]. Vem a ser o que lemos na Imitação de Cristo: “toda a Escritura sagrada deve ser lida com o Espírito com que foi feita…”[67].

A UNIDADE DE TODA A ESCRITURA. – Para interpretar retamente a Sagrada Escritura, deve ter-se em mente que o autor de toda ela é o Espírito Santo, isto é, Deus. Por isso deve atender-se aos lugares paralelos que tratam o mesmo assunto, embora escritos por autores humanos diversos, porque o autor principal é sempre Deus. Portanto, uma passagem bíblica pode, frequentemente, explicar-se com outra passagem bíblica.

Deve-se ainda atender-se à índole progressiva da revelação de Deus e à unidade que, em última análise, tem, na mente divina, unidade essa que se manifesta mais claramente nas revelações sucessivas. S. Boaventura tem umas palavras que vem a propósito: “toda Escritura é como uma cítara, onde a última corda não faz harmonia por si mas sim com as outras; de modo semelhante um lugar da Escritura depende doutro; mais: mil lugares, referem-se a um”[68].

O Concílio atendeu a esta unidade de conteúdo, assinalando este meio de interpretação para averiguar o verdadeiro sentido.

A TRADIÇÃO VIVA DE TODA A IGREJA. – Foi de propósito que a palavra Tradição, foi escrita com maiúscula, admitindo assim um dos “modos” de última hora[69], e não com minúscula como nos esquemas prévios. Porque não se trata aqui de meras tradições eclesiásticas, como critério de interpretação, mas da Tradição da Igreja, em que entram os Santos Padres e o “sensus fidei”[70].

A Tradição viva da Igreja manifesta-nos o sentido que a Igreja deu à Sagrada Escritura. Existe esta Tradição se houver um consenso unânime dos Santos Padres em interpretar os textos dogmáticos ou relativos à Moral. Os Santos Padres foram a parte principal da Igreja docente e, se coincidiram em interpretar de determinada maneira as passagens relativas à fé e costumes, esta interpretação passou à Igreja discente e, portanto, foi a interpretação de toda a Igreja. Por isso, o consenso unânime dos Santos Padres na interpretação da Sagrada Escritura é critério para conhecer o sentido que lhe deu a Igreja. Daí que o Concílio Tridentino proibisse interpretar a Escritura “contra o consenso unânime dos Padres”[71]; o Vaticano I repetiu tal proibição[72].

Compreender-se-á facilmente, que não se requer uma unanimidade física dos Padres, o que seria muito difícil de determinar. Basta a unanimidade moral. Porque, se Padres de grande nome e autoridade, apresentam uma mesma interpretação, Padres esses representando as principais Igrejas, parece que podem representar todos os demais Padres. O que, sim, é necessário, é que não apresentem a sua interpretação como provável apenas, mas como algo certo, relacionado com a fé, ou necessário para conservar a unidade da Igreja.

Os textos meramente científicos ou profanos das Escrituras, não são, enquanto tais, objeto da Tradição dogmática; são-no, unicamente, enquanto afirmações que se encontram na Escritura. Nestes casos, uma vez que se trata de matérias profanas, embora em si não possam ser falsas (por estarem na Escritura e serem palavra de Deus), não são objeto da autêntica interpretação dos Padres, uma vez que o objeto direto do Magistério eclesiástico, não são as matérias profanas, mesmo que estejam na Escritura. É este o pensamento mais comum[73]. Seria mister que os Padres expusessem estes textos científicos como pertencentes à fé; neste caso não se trataria já, de textos meramente científicos.

De qualquer modo a autoridade dos Santos Padres é grande mesmo quando expõem a Bíblia como doutores privados. Dizia Leão XIII na Encíclica Providentissimus:

“Os Santos Padres, que ‘depois dos Apóstolos, implantaram a Igreja, a fertilizaram, a edificaram, a apascentaram, a nutriram e a fizeram crescer’[74], alcançam altíssima autoridade sempre que explicam um testemunho bíblico da mesma maneira, como pertencente à doutrina da fé e doscostumes; porque, por este mesmo consentimento, aparece-nos claramente que desde os Apóstolos se tem transmitido segundo a fé católica. Mas também temos que estimar muito o parecer dos mesmos Padres quando desempenham como privadamente o ofício de outras destas mesma matérias; não só porque os recomenda a ciência da doutrina revelada e a notícia de muitas coisas úteis para o conhecimento dos livros apostólicos, mas também porque Deus ajudou com mais abundantes auxílios da sua luz estes homens insignes pela santidade de vida e pelo desejo de verdade. Por esta razão, saiba o interprete, que o seu ofício é seguir reverentemente as pisadas dos Padres e aproveitar-se dos seus trabalhos com sábia seleção”[75].

Mas nem tudo temos que receber da mesma maneira:

“Porque se deve defender com todas as forças a Sagrada Escritura – dizia Leão XIII – não porque se haja de defender igualmente todos os pareceres que cada um dos Padres ou dos interpretes posteriores tenham manifestado ao declará-la; porque, segundo as opiniões do seu tempo, talvez nem sempre tenham julgado segundo a verdade na exposição daquelas passagens que tratam das coisas físicas, de sorte que hoje se acerta menos o que expuseram. Por isso, temos que reparar com cuidado nas suas interpretações o que é que propõem como pertencente à fé ou muito unido com ela, e o que é que expõem como unânime consentimento; porque nas coisas que não são necessárias para a fé, puderam os santos opinar de diversas maneiras, da mesma maneira que nós, como é sentença de Santo Tomás”[76].

Convém, a este respeito, ter presente que – como dizia Pio XII na Divino afflante – “…entre as muitas coisas que se propõem nos Sagrados Livros, legais, históricos, sapienciais e proféticos, são poucas aquelas cujo sentido foi declarado pela autoridade da Igreja, nem são muitas aquelas em que existe unânime consentimentos dos Santos Padres. São muitas, pois, as coisas, e de grande importância, em cuja declaração e expansão pode e deve exercitar-se livremente o acumen e engenho dos católicos…[77].

A ANALOGIA DA FÉ. – Esta palavra, tomada de Rom. 12, 6[78], indica a consonância de uma doutrina com as demais doutrinas reveladas. É evidente que, para explicar uma passagem da Escritura, convém ter presente a doutrina das outras passagens, para não se cair em contradições e para se evitar interpretações que mutuamente se oponham. Porque – como explicava Leão XIII na Providentissimus – “posto que Deus é o mesmo autor dos Livros Sagrados e da doutrina depositada na Igreja, em verdade não pode suceder que se deduza daqueles livros com legitima interpretação um sentido que de qualquer maneira se aparte desta doutrina. Por onde se vê que se tem   que rechaçar como inadequada e falsa aquela interpretação que propunha os autores inspirados como contradizendo-se mutuamente ou que se oponha à doutrina da Igreja”[79]. Santo Agostinho a este propósito expressava-se da seguinte maneira: “Quando as próprias palavras deixam ambígua a Escritura, primeiro temos de ver se nós as temos distinguido ou pronunciado mal. E se todavia virmos, depois de examinarmos, que permanece incerto como temos de distinguir ou de pronunciar, consulte-se a regra da fé, que se haja tirado de lugares mais fáceis das Escrituras e da autoridade da Igreja…”[80].

O TRABALHO DOS EXEGETAS. – A eles lhes toca trabalhar e estudar segundo as normas anteriores[81] para chegar ao conhecimento mais profundo das passagens da Escritura e para o expor[82]. Assim farão “amadurecer” o juízo da Igreja, como diz o Concílio. E “porque os estudos da Bíblia têm tido um contínuo progresso na Igreja, há que tributar a devida honra aos comentários dos intérpretes católicos, donde muito se poderá tirar para rebater o adverso e contrário à fé e para aclarar o mais difícil…” [83]. Mas seria inconveniente que, ignorando ou desprezando as obras dos católicos, se prefiram os comentários heterodoxos…[84].

O JUÍZO DO MAGISTÉRIO ECLESIÁSTICO. – As maneiras antes expostas de interpretação hão de ser submetidas ao Juízo da Igreja. Porque, “cabe à Igreja julgar do verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Escrituras”. O Vaticano II a este propósito remete em nota para o Vaticano I, que dizia assim: “Renovando o decreto do Concílio Tridentino[85] declaramos ser esta a sua mente: que nas coisas da fé e dos costumes, concernentes à edificação da doutrina cristã, há de se ter por verdadeiro sentido da Sagrada Escritura o que teve e tem a Santa Madre Igreja, a quem cabe julgar o verdadeiro sentido e interpretação das Escrituras santas; e que, portanto, a ninguém é lícito interpretar a mesma Sagrada Escritura contra este sentido da Igreja ou contra o unânime consentimento dos Padres”[86].

As matérias de fé e costumes, concernentes à edificação da doutrina cristã, são aquelas que por sua natureza são religiosas, não profanas; isto é, aquelas coisas que nas Escrituras foram reveladas por si mesmas, porque por razão delas mesmas as pretendia Deus na revelação, não por razão de outras; (que) são as coisas de si profanas, que se põe por razão das que se pretende revelar diretamente[87]. São os dogmas, ou questões doutrinais que se conectam com eles por razão de si mesmos e são somente porque estão contidos nos livros sagrados.

Pio XII lamentava-se na encíclica Humani generis de que “não poucos dos que conhecem a Escritura como palavra de Deus, para aderirem mais firmemente à palavra de Deus apoiam-se na razão humana, e para exaltar com mais gosto a autoridade de Deus revelante, desprezam com mais acuidade o Magistério da Igreja instituído por Cristo Senhor para que guarde e interprete as verdades reveladas por Deus. O que não só contradiz atentamente as Sagradas Letras, mas também pela própria experiência se manifesta falso…” (D 2307).

Paulo VI explicava da seguinte maneira a necessidade do Magistério eclesiástico para a interpretação autêntica da Sagrada Escritura: “Hoje, por parte de alguns, queria-se reconhecer ao Magistério eclesiástico, mais de que outra coisa, o ofício de confirmar a ‘crença infalível da comunidade dos fiéis’; e por parte de outros, que professam doutrinas negadoras do Magistério eclesiástico, se queria reconhecer aos mesmos fiéis, a capacidade de livremente interpretarem segundo a própria intuição, que com facilidade pretende ser inspirada, a Sagrada Escritura. Assim a fé chega a ser aparentemente fácil, porque cada um a modela como melhor lhe parece; mas perde a autenticidade, a segurança, a verdadeira verdade, e por isso e urgência ser comunicada a outros; chega a ser uma opinião pessoal”[88].

Não cabe, por conseguinte, o subjetivismo na interpretação da Sagrada Escritura. Não pode estar a interpretação da Sagrada Escritura nas nãos de qualquer, mas nas mãos de toda a Igreja. A ela e para ela foram dadas as Escrituras. Mas dentro da Igreja há mestres constituídos por Jesus Cristo para, em seu nome, ensinar e guiar a Igreja. A estes pertence a interpretação autêntica das Sagradas Escrituras.

 

Condescendência de Deus (n. 13)

13. Portanto, manifesta-se na Sagrada Escritura, salvas sempre a verdade e a santidade de Deus, a admirável “condescendência” da eterna sabedoria, “para conhecermos a inefável benignidade de Deus e com quanta acomodação Ele falou, tomando providência e cuidado da nossa natureza”[89]. As palavras de Deus, com efeito, expressas por línguas humanas, tornam-se intimamente semelhantes à linguagem humana, como outrora o Verbo do eterno Pai, tomando a carne da fraqueza humana, se tronou semelhante aos homens.

 

Quis-se recordar e expressar uma norma constante da ação divina a respeito dos homens, que é o abaixar-se e acomodar-se a eles. Tem-la na Igreja, composta por membros que são frágeis e pecadores, e é atuada, apesar disso, pelo Espírito de santidade e de fortaleza. Temo-la nas Sagradas Escrituras, nas quais a palavra divina se manifesta e expressa com as imperfeições da palavra humana, exceto o erro[90].

E para explicar essa condescendência, pediu-se que se ajuntasse alguma citação em que se encontrasse este pensamento. Foi fácil encontra-la em S. João Crisóstomo, de quem se tomou a ideia do abaixar-se de Deus para o homem e com o homem; é um descer conjuntamente, como expressa literalmente a palavra grega synkatábasis: “para que aprendais a benignidade inefável de Deus e de quanta acomodação (ou condescendência) de linguagem usou, tendo providência e cuidado da nossa natureza”[91]. Outra palavra que pode expressar esta “condescendência” é a palavra dignatio(dignação de Deus), que ocorre em Tertuliano, em S. Cipriano e na Liturgia[92]. Mas preferiu-se a palavra synkatábasis que já ocorre na Divino afflante[93]. Com efeito, na encíclica Divino afflante pondera-se belamente esta condescendência divina. “Porque – dizia – assim como o Verbo substancial de Deus se fez semelhante aos homens em todas as coisas ‘exceto no pecado’[94]; assim também as palavras de Deus, expressas em linguagem humana, se fizeram em tudo semelhantes à palavra humana, exceto no erro; fato que já S. João Crisóstomo exaltou com sumo louvor, como sendo uma synkatábasis ou “condescendência” de Deus providente, várias vezes afirmou que se encontrava nos Livros sagrados”[95].

A “condescendência” de Deus nos Livros sagrados é, por conseguinte, no erro; mas sim, excluído o erro, consiste em que ao falar aos homens usa de antropomorfismos, teofanias, figuras retóricas e tropos de linguagem, e além disso fala segundo a aparência sensível dos fenômenos físicos. É, pois, uma “condescendência” que se refere ao estilo e ao modo de falar, e não a um presumível abuso de lendas populares, em que o falso misturar-se-ia com o verdadeiro sem critério possível de discernimento[96].

Por isso facilmente se entende o que expressamente se pôs, como consequência de um “modo” de última hora: esta condescendência entende-se “salva sempre a verdade e a santidade de Deus”[97]. Por isso, as palavras finais, de que “o Verbo assumiu a carne da enfermidade humana, é evidente que não se entende de uma enfermidade moral”[98], mas das penas e fadigas da nossa natureza humana.

 

 


[1] Comment. in Isa., Prólog.: ML 24, 17.

[2] Epist. 60 (alias 3) ad Heliodorum, Epitaphium Nepotiani; ML 22, 595.

[3] Relatio super capita III-VI Schematis Constitutionis de divina revelatione, Typis polyglottis Vaticanis 1964, p. 14.

[4] Cf. Conc. Vat. I, Const. Dei Filius cap. 2, Denz, 1787 (3006). Decr. da Comissão Bíblica, 18. jun. 1915: Denz. 2180 (3629); E.B. 420; S.S.C.S. Officci, Epist. 22. dez. 1923: E.B. 499.

[5] Cf. Pio XII, carta enc. Divino afflanteSpiritu, 30. Set. 1943: AAS 35, 1943, p. 314; EB 556.

[6]Para e pelo homem; cf. Hebr, 1, 1 e 4, 7 (para); 2 Sam. 23, 2; Mt. 1, 22 e frequentemente (pelo) Conc. Vat. I: schema de doctr. cath.,nota 9: Coll. Lac. VII, 522.

[7] LEÃO XIII, carta enc. Providentissimus Deus, 18. Nov. 1893: Denz. 1952 (3293); EB 125.

[8] Sobre o histórico e autêntico sentido da fórmula “Deus autor da Escritura” pode ver-se A. BEA. Deus Auctor Scriturae. Herkunftund Bedeuntung der Formel: Angelicum 20 (1943) 16-31; onde se demonstra abundantemente que se trata de “autor dum livro” ou autor em sentido literário. Cf. também D 783m 1787.

[9] Constitutio dogmatica de fide catholica Dei Filius, c. 2: D 1787.

[10] Cf., v. gr., Concílio Vaticano I: “Eos vero Ecclesia pro sacris et canonicis habet… propterea quod, Sancto inspirante conscripti, Deus habent auctorem atque ut tales ipsi Ecclesiae traditi sunt” D 1787.

[11] Cf. as palavras do Relator V. Gasser no Concílio Vaticano I: Col. Lacensis 7, 138-141, 239 ad exceptionem 59. Sobre a possibilidade de livros inspirados que se tenham perdido, cf. 1 Cor. 5, 9: Col. 4, 16, que constituem um argumento provável, tratando-se de livros não canônicos, isto é, não entregues à guarda da Igreja. Para maior ampliação e discussão cf. M. NICOLAU, De Sacra Scriptura, n. 56.

[12] Embora a palavra divinus inspirata fosse tomada, não como atributo (toda a Escritura inspirada por Deus é útil) não variaria o sentido que agora nos interessa, de que a Escritura é termo da ação divina. Sobre este sentido passivo da palavra grega theopneustos no texto original de S. Paulo, cf. De Sacra Scriptura, n. 30.

[13] Embora a Vulgata diga “locuti sunt sancti Dei homines”, é criticamente, preferível a leitura mais difícil “locuti sunt a Deo homines” Cf. ibid., n.32.

[14] recolhemos os textos que manifestam esta persuasão em De Sacra Scriptura, n. 25 (autores dos livros sagrados) e n. 26 (autores profanos: Filón, Flávio, Josefo).

[15] De Sacra Scriptura. n 33-41.

[16] LEÃO XIII, Encíclica Providentissimus: Ench. Biblicum (EB) 81.

[17] Cf. EB 30; e no Pontifical Romano: “De consecratione electi in episcopum”.

[18] D 348; EB 38.

[19] D 421; EB 39.

[20] D 464; EB 40.

[21] D 706; EB 47.

[22] D 783; EB 57.

[23] D 1787; EB 77.

[24] Toda ela é de caráter bíblico e em diferentes passagens o afirma: v. gr., D 1952.

[25] D 2186; EB 448.

[26] EB 538; 556.

[27] D 2090, 2102; EB 257-258, 265.

[28] D 2009-2010; EB 200-201.

[29] Preferiu-se a fórmula “Divinitus revelata”, no começo do n. 11, já desde o esquema de Julho de 1964, em lugar de “Divina revelatio” para fugir à questão então debatida, das relações entre Escritura e Tradição. Cf. Schema (Iulii 1964), Relatio n. 11, B, p. 30.

[30] EB 556.

[31] Esta fórmula encontra-se, v. gr. em Heb. 1, 1: loquensPatribusin prophetis, novissime… in Filio; cf. 4, 7.

[32] Exemplo desta fórmula em Mt. 1, 22: “quod dictum est a Domino per profetamdicentem…”, etc.

[33] A palavra latina que usava aqui Leão XIII é inberet, que pode traduzir-se por mandara, sem que isso se suponha necessariamente consciente no hagiógrafo; o iuberet, expressa, sim, a vontade de Deus, Mas mudou-se no esquema de Julho de 1964 para vellet, a pedido de muitos Padres. Cf. Schema(Iulii 1964), Relatio n. 11, F, p. 30.

[34] LEÃO XIII, Providentíssimus: D 952; EB 125.

[35] Ulteriores questões e determinações dos teólogos em De Sacra Scriptura, nn. 85-104.

[36] Cf. S. AGOSTINHO, De Gen. ad litt. 2, 920: PL 34, 2, 354. – S. TOMÁS, De Ver. 9, 12, a. 2, c – Conc. de Trento, Decret. IV, De canonicis Scripturis: Denz. 783 (1501) – LEÃO XIII, Enc. Providentissimus Deus: EB 121, 124, 126-127 – PIO XII, Enc. Divino afflantespiritu. EB 539.

[37] Resposta da Comissão Bíblica de 13 de Junho de 1915 II: D 2180; EB 415.

[38] Scripturae libri veritatem… docere profitendi sunt”. A palavra está cuidadosamente escolhida.

[39] De Sacra Scriptura, nn. 105-122.

[40] Cf. 1, q. 10, a. 1, ad 3.

[41] De Gen. ad litt. 2, 9: CSEL 28, 46, ML 34, 270 s.

[42] LEÃO XIII, Acta 13, 355; EB 121.

[43] Cf. BENEDICTO XV, encícl. Spiritus Paraclitus: AAS 12 (1920) 396; 458.

[44] LEÃO XIII, Acta 13, 357 s.; EB 124 s. Toda a passagem de Pio XII em EB 539.

[45] A frase inteira estava como segue: “Scripturae libri integri cum omnibus suis partibus veritatem salutarem inconcusse et fideliter, integre et sine errore docere profitendi sunt.”

[46] Schema c. I-IV (Oct. 1964), Relatio n. 11, F, p. 25.

[47] Dizemos à primeira vista, porque no contexto do penúltimo esquema (“libri integri cum omnibus suis partibus veritatem salutarem… sine errore docere”) era excluído que só algumas partes não tivessem erro.

[48] “…Veritatem exprimere quam Deus, nostrae salutis causa, libris sacris consignari voluit”. Modi c. III, n. 8, p. 33.

[49] Cf. Modi c. III, n. 8, pp. 33-34.

[50] S. AGOSTINHO, De civ. Dei, XVII, 6, 2; PL 41, 537; CSEL, 40, 2, 228.

[51] Outros sentidos são, o sentido típico ou real, que é o que significa por sua vez a coisa significada pelas palavras. Por exemplo, a imolação do cordeiro pascal, significado pela narração histórica de Ex. 12, 46-47; Num. 9, 12, por sua vez significava a morte de Cristo, segundo João 19, 36. O Concílio não fala direta ou expressamente deste sentido típico, admitido na Igreja (cf. De Sacra Scriptura,nn. 210-217); nem também do chamado sentido plenior, que, na mesma linha do sentido literal, é mais profundo e mais especificado, mais pleno, contido nas mesmas palavras; sentido que o hagiógrafo pode perceber, somente, talvez, de modo confuso ou vago, enquanto se pode expressar com as suas mesmas palavras. Sobre toda esta questão do sentido plenior, não dirimida pelo Concílio (cf. Schema, iulii 1964, Relatio n. 12, D, p. 31), Schema C, I-IV oct. 1964, Relatio n. 12 B p. 25, pode ver-se M. NICOLAU, De Sacra Scriptura, nn. 218-220; e Sentido plenior da S. Escritura: Estudos Eclesiásticos 34 (1960) 349-359, donde se estuda como o sentido plenior corresponde à filosofia da linguagem e à filosofia da causa instrumental.

[52] PIO XII, divino afflante: D 2293; EB 550. Cf. Spiritus Paraclitus(EB 485) e Humani generis (D 2316; EB 613).

[53] Da instrução da Comissão Bíblica; 13 de Maio de 1950: AAS 42 (1950) 501; EB 598.

[54] De Civitate Dei, 17, 6, 2: Corpus Christianorum 48, 567, 58-59; CSEL 40, 2, 228; ML 41, 537.

[55] Cf. Schema (iulii 1964), Relatio n. 12 C, p. 31.

[56] Cf. Schema (iulii 1964), Relatio n. 12 D, p. 31.

[57] S. AGOSTINHO, De doct. crist., III, 18, 26; PL 34, 75-76. CSEL 80, 95.

[58] PIO XII, l. c.: Denz. 2294 (3829-3830); EB 557-562.

[59] Comm. Ad Heb. c. 1, lect. 4; PIO XII, Divino afflante: D 2294; EB 559.

[60] D 2330; EB 618.

[61] De doctrina christiana 3, 18, 26; ML 34, 75-76.

[62] Cf. Modi c. III, n. 24, p. 36, onde se pedia que se dissesse: “… saepe  non recte intelligitur…”. Por isso pôs-se no positivo: “Ad recte enim intelligendum id quod sacer auctor scripto asserere voluerit…”

[63] Divino afflante: D 2294; EB 558-559.

[64] Cf. BENTO XV, Enc. Spiritus Paraclitus, 15. Set. 1920: EB 469. – SÃO JERÔNIMO, In. Gal., 5, 19-21: PL 26, 417 A.

[65] Cf. Conc. Vat. I, Const. dogm. de fide catholica Dei Filius, cap. 2 de Denz, 1788 (3007).

[66] S. JERÔNIMO, In Gal. 5, 19-21; ML 26, 445 A; BENEDICTO XV, Spiritus Paraclitus: EB 469.

[67] Lib 1, c. 5.

[68] In Hexaemeron coll. 19, n. 7: Opera (Quaracchi) 6, 421.

[69] Modi, c. III, n. 30, p. 37.

[70] Cf. ibid., onde a Comissão doutrinal dá também razão porque não cita expressamente os “Padres” e o “sensus fidei”.

[71] Sessão IV, Recipitur Vulgata praescribiturque modus interpretandi Sacram Scripturam: D 786.

[72] Constitutio dogmatica de fide catholica Dei Filius, c. 2: D 1788.

[73] Em que sentido são objeto indireto deste Magistério as matérias profanas que estão na Escritura, isto é, enquanto a Igreja tem o direito negativo de rejeitar qualquer interpretação que contradiga o dogma ou que suponha erro no hagiógrafo, expômo-lo em De Sacra Scripturann. 239-243.

[74] S. AGOSTINHO, Contra Iulianum 2, 10, 37; ML 44, 700.

[75] EB 111; cf. também Divino afflante: EB 554. 

[76] In 2 Sent. d. 2, q. 1, a. 3; Providentissimus EB 122.

[77] Divino afflante: EB 565.

[78] “…sive prophetiam secundum rationem (analogian, em grego) fidei”. São Paulo fala do carisma profético, que consta em falar por instinto divino; mas deve ser em harmonia com as doutrinas de fé.

[79] Providentissimus: D 1943; EB 109.

[80] De doctrina christiana 3, 2: ML 34, 65.

[81] Não fazia falta repetir aqui o que já estava dito antes. Referimo-nos a que os exegetas não podem contradizer o sentido da Igreja e o consentimento unânime dos Padres. Cf. Modi c. III, n. 32, p. 38.

[82] Admitiu-se e pôs-se no fim esta última palavra (exponer) para explicar melhor o ofício dos exegetas. Cf. Modic. III, n. 31, p. 38.

[83] LEÃO XIII, Providentissimus: EB 113.

[84] Ibid.

[85] Sessão IV, Recipitur Vulgata editio Bibliae praescribiturque modus interpretandi S. Scripturam: D 786.

[86] Constitutiodogmatica de fide catholica Dei Filius, c. 2: D 1788.

[87] Propter se revelata, non propter aliud. Cf. De Sacra Scripture, n. 235.

[88] L’Osservatore Romano, 12 de janeiro de 1967 p.1.

[89] S. JOÃO CRISÓSTOMO In. gen. 3, 8 (hom. 17, 1): P.G. 53, 134. “Adaptação”, em grego diz- sesynkatábasis.

[90] Cf. Schema c. I-VI (Outubro 1964), Relatio n. 13, A, p. 26.

[91] S. JOÃO CRISÓSTOMO, In Gen. 3, 8 (homil. 17, 1): MG 53, 134.

[92] No Exsulte tda vigília de Ressurreição: “o mira… tuae pietatis dignatio”.

[93] Cf. Modi c. III, n. 36, p. 38.

[94] Heb. 4, 5.

[95] Cf., ex. gr., In Gen. 1, 4 (MG 53, 35); In Gen. 2, 21 (ibid, 121); In Gen. 3, 8(ibid., 135); Hom. 15 in Ioan.ad I, 18 (MG 59, 97 s.).

[96] Sobre esta “condescendência” pode ver-se F. FABRI, La “condiscendenza” divina nell’ispirazionebiblicascondo S. Giovanni Crisostomo: Biblica 14 (1933) 330-347; P. MORO, La “condiscendenza” divina in S. Giovanni Crisostomo: Euntesdocete 11 (1958) 109-123.

[97] Cf. Modi, c. III, nn. 35-38, pp. 38-39.

[98] Cf. Modi c. III, n. 37, PP. 38-39.

 

FONTE


NICOLAU, Pe. Miguel. ESCRITURA E REVELAÇÃO SEGUNDO O CONCÍLIO VATICANO II. Texto e comentário da constituição dogmática "Dei Verbum", pp. 91-121.

 

PARA CITAR


NICOLAU, Pe. Miguel. Escritura e Revelação segundo o Concílio Vaticano II (Capítulo 3) <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/concilio-vaticano-ii/revelacao/886-escritura-e-revelacao-segundo-o-concilio-vaticano-ii-capitulo-3> Desde 27/05/2016. Transcrição: Katia Cethamos.

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