Epifânio foi bispo de Salamina (Ilha de Chipre) 367-402. Ficou muito famoso por ser forte defensor da ortodoxia cristã. Este é mais um dos padres utilizados desonestamente por protestantes para afirmarem que os padres da Igreja rejeitavam os livros deuterocanônicos. Dele, utilizam uma lista de livros que é dada em seu principal tratado contra as heresias, o Panarion (Πανάριον), também conhecido pelo seu nome latino Adversus Haereses (“Contra as Heresias”). Sua lista é:
“Desde o retorno dos cativos da Babilônia esses judeus adquiriram os seguintes livros e profetas, e os seguintes livros dos profetas: 1. Gênesis. 2. Êxodo. 3. Levítico. 4. Números. 5. Deuteronômio. 6. O Livro de Josué, filho de Nun. 7. O Livro dos Juízes. 8. Rute. 9. De trabalho. 10. Saltério. 11. Os Provérbios de Salomão. 12. Eclesiastes. 13. O Cântico dos Cânticos. 14. O Primeiro Livro dos Reis. 15. O Segundo Livro dos Reis. 16. O Terceiro Livro dos Reis. 17. O Quarto Livro dos Reis. 1 18. O Primeiro Livro das Crônicas. 19. O Segundo Livro das Crônicas. 20. O Livro dos Doze Profetas. 21. O profeta Isaías. 22. O profeta Jeremias, com Lamentações e as Epístolas de Jeremias[1] e Baruc. 23. O profeta Ezequiel. 24. O profeta Daniel. 25. I Esdras.[2] 26. II Esdras.[3] 27. Ester. Estes são os livros 27 dados aos judeus por Deus. Eles são contados como 22, no entanto, como as letras do seu alfabeto hebraico, porque dez livros que (os judeus) contar como cinco são duplos. Mas eu já expliquei isso claramente em outro lugar. E eles têm mais dois livros de canonicidade disputada, a Sabedoria de Sirac e a Sabedoria de Salomão, além de alguns outros apócrifos. Todos estes livros sagrados ensinam (a eles) o judaísmo e a observâncias das leis até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Do Panarion. VIII, 6).
E a respeito do novo Testamento ele escreveu:
“Se você foi gerado pelo Espírito Santo e instruído nos profetas e apóstolos, você deve ter passado por (o registro) desde o início da gênese do mundo até os tempos de Ester em 27 livros do Antigo Testamento, que são (também) numerados como 22, e também nos quatro santos Evangelhos, e nas quatorze epístolas do Santo apóstolo Paulo, e nos escritos que vieram antes deles, incluindo os Atos dos Apóstolos nos seus tempos e as epístolas católicas de Tiago, Pedro, João e Judas, e no Apocalipse de João, e nos livros da sabedoria, quero dizer, aqueles de Salomão e do filho de Sirac – em suma, em todos os escritos divinos [. . ].” (Do Panarion. LXXVI , 5).
Após lerem estas palavras de Epifânio, muito embora ele cite Baruc entre eles, afirmam que Epifânio tinha o mesmo cânon protestante, como se fosse possível um cânon protestante contendo Baruc.
Em relação aos outros deuterocanônicos, diz que a Sabedoria e Eclesiásticos são de canonicidade disputada, mas quando menciona o Novo Testamento diz que Sabedoria e Eclesiástico são Escritos divinos. Passaremos então a provar em seus próprios escritos, como Santo Epifânio nunca rejeitou os deuterocanonicos.
A lista de Epifânio não diz respeito à lista cristã dos livros sagrados e sim à lista que figurava entre os judeus, como ele mesmo afirma. Prova disso é que nas outras partes do mesmo Panarion faz largo uso dos deuterocanônicos, tratando-os, sem duvida alguma, como Escrituras, mostrando, assim, que em sua lista prévia, ele não pretendia negar a canonicidade dos deuterocanônicos.
“E assim, o santo Jeremias disse de Israel, porque foi por tantas vezes que eles tiveram que fugir de seus inimigos: “E se tu passares até o Citians, também não terás descanso.”(Isaías 23,12) Agora qualquer um pode ver que Citium significa a ilha de Chipre, pois Rodes e Cipriotas são Citians. Além disso, o armazém cipriota e rodiano se estabeleceu na Macedônia, de onde Alexandre da Macedônia veio. E é por isso que no Livro dos Macabeus está escrito: “Ele saiu da terra do Citians” (I Macabeus. 1, 1); Alexandre da Macedônia era de descendência Citian.” (Do Panarion, Contra os Ebionitas).
Santo Epifânio, apesar de não mencionar I Macabeus em sua lista inicial, faz o uso dele juntamente com Isaías, e outros livros no contexto, sem fazer distinção alguma entre eles e usando o termo de autoridade “está escrito”.
“… Como a Escritura testemunha: ‘Não pratiques o mal, e o mal não te iludirá. (Eclesiástico 7, 1)” (Contra as Heresias, Livro I- 24,6).
“Sobre isso o Espírito Santo em outro lugar… profetizou assim: “Feliz o eunuco cuja mão não cometeu o mal, que não concebeu iniquidade contra o Senhor, porque ele receberá pela sua fidelidade uma graça de escol, e no templo do Senhor uma parte muito honrosa” (Sabedoria 3, 14) (Contra as Heresias, Livro I – 24 , 15).
“Porque Deus sabe todas as coisas antes que elas aconteçam’, como está escrito. (Susana – Daniel 13, 42)” (Contra as Heresias, Livro 1, 31).
“‘Todo animal se une com os de sua espécie, o homem se associa ao seu semelhante.’, diz a Escritura”. (Eclesiástico 13, 20) (Contra as Heresias, Livro 1, 32,8).
“… Para que esta frase da Escritura seja verdade em nós: ‘Os que percorrem o mar contam os seus perigos. (Eclesiástico 43, 26)” (Contra as Heresias, livro I, 42, 9).
“Quem anda por locais íngremes, cumpre como está escrito: ‘Aquele que é mau para si mesmo, a quem ele vai ser bom?’ (Eclesiástico 14, 5)” (Contra as Heresias, livro 1, 42, 70 de refúgio.).
“… A Escritura afirma que: ‘É ele o nosso Deus, com ele nenhum outro se compara. Conhece a fundo os caminhos que conduzem à sabedoria, galardoando com ela Jacó, seu servo, e Israel, seu favorecido. Foi então que ela apareceu sobre a terra, onde permanece entre os homens.’ (Baruc 3, 36-38)” (Contra as Heresias Livro II – 57, 2).
“Está escrito que: ‘É ele o nosso Deus, com ele nenhum outro se compara.’ (Baruc 3, 36)” (Contra as Heresias Livro, 2, 57,9).
“Pois a Escritura é cumprida, dizendo: ‘pois o fascínio do mal obscurece o bem e a vertigem da paixão perverte um espírito sem maldade.’ (Sabedoria 4,12)” (Adv. herdeiro Livro 2, 65,1).
“Aquele que descobriu todo o caminho da ciência. Não existe nenhuma dúvida divina da Escritura. Pois fez isto antes de ter sido declarado. Deu a conhecer todo o caminho da ciência e andou sobre a terra. (Baruc 3, 37-38)” (Contra as Heresias, Livro III – 74, 3).
Fica evidenciado, portanto, que a lista de Santo Epifânio de Salamina nunca pretendeu estipular quais eram os únicos Livros Sagrados considerados pela Igreja de Cristo, excluindo, assim os outros 6 livros, mas sim falar daqueles livros tidos pelos judeus como inspirados, pois nessa mesma obra, ele cita todos os deuterocanônicos como Escrituras Inspiradas, provando assim seu real pensamento em detrimento das interpretações dos hereges aproveitadores do seu texto para atacar os livros.
Para qualquer pessoa honesta seria muito claro a opinião de Santo Epifânio sobre o deuterocanônicos ao afirmar na mesma obra que estes livros são de obra divina, que são escritura e que o que contém neles é a verdade, mas alguns protestantes mesmo diante de tantas provas não ficam satisfeitos, porque é claro, ninguém é convencido se não deseja ser.
[1] Baruc capítulo 6
[2] Esdras
[3] Neemias
BIBLIOGRAFIA
RODRIGUES, Rafael. Manual de Defesa dos Livros Deuterocanônicos. 1a edição. Salvador. BA: Clube dos Autores, 2012.
BREEN A. E. A General and Critical Introduction to the Holly Scripture. New York: John P. Smith Printing, 1897.
PARA CITAR
RODRIGUES, Rafael. Epifânio de Salamina rejeitou os deuterocanônicos? Disponível em: <http://apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/797-epifanio-de-salamina-rejeitou-os-deuterocanonicos> Desde: 07/06/2015