INTRODUÇÃO
É comum vermos protestantes afirmando que seguem o mesmo cânon que os judeus porque os livros pararam de ser escritos 400 anos antes de Cristo e que desde então os judeus sabiam exatamente quais livros possuíam, mesmo não havendo nada que prove quais e quantos livros eram estes. Diferentemente dos protestantes, os próprios judeus confirmam que não havia qualquer cânon ou lista de livros fechados que fossem tidos como inspirados definitivamente até meados do século II d.C, as provas serão dadas a seguir.
ENCICLOPÉDIA JUDAICA
Uma das fontes judaicas que confirmam a inexistência de uma lista fechada de livros para os judeus até depois de Cristo é Enciclopédia Judaica de 2007, a qual fala que existem “Fartas Evidências” que a terceira parte (“ketuvim”) dos livros da bíblia hebraica não havia sido definida até meados do segundo século e assim explica:
A parte grifada diz:
“Por outro lado, existem fartas evidências que mostram que a coleção do Ketuvim como um todo, bem como alguns livros individuais dentro dele, não foram aceitos como sendo finalmente fechados até meados do século II d.C. Como mencionado acima, a prática de invocar todas as Escrituras a “Torá e dos profetas” pressupõe um lapso de tempo considerável entre a canonização da segunda e a terceira parte da Bíblia. O fato da última divisão não ter um nome fixo aponta para a mesma direção. Mesmo a designação definitivamente aprovada de “Ketuvim” é indeterminada, uma vez que também é usada em hebraico rabínico nos dois sentidos das Escrituras em geral e em textos individuais, em particular.” (Enciclopédia Judaica, Vol. 3, página 578)
Será que a Enciclopédia Judaica foi influenciada por algum católico, a ponto de dizer que os próprios judeus não tinham um cânon definido até o segundo século? Muito pouco provável.
A mesma Enciclopédia Judaica afirma o mesmo sobre eclesiástico:
“Embora a Sabedoria de Ben Sira [Eclesiástico] é citado na literatura talmúdica com a frase introdutória, “como está escrito”, normalmente reservada a citações bíblicas, e é uma vez explicitamente mencionado entre os livros Hagiógrafos (Livro 92b; cf. Eclo 27, 9), ele não foi incluído no cânon.” (Enciclopédia Judaica, Vol 3, Página 377)
Assim, uma fonte judaica confirma que Eclesiástico era citado como escritura por judeus no Talmude, que foi escrito por volta do terceiro século, embora depois tenham negado a sua inclusão no cânon.
TALMUDE JUDÁICO
A verdade dos fatos testifica que mesmo se houvesse um concílio de Jâmnia em 90 d.C, os judeus não se deram por satisfeitos e não aceitaram os seus decretos ou, no mínimo, eles não foram suficientes para fechar o cânon hebraico. O próprio Talmude judaico (Séculos II e III) referenda isso na conhecida passagem de Yaddym III, 05:
“Foi dito na assembleia dos sábios: Todas as escrituras sagradas contaminam as mãos, logo Cantares e Eclesiastes contaminam as mãos. Rabi Judas, no entanto, respondeu: Cantares certamente contamina as mãos, mas Eclesiastes é disputado… Rabi Akiba respondeu: Não pode haver duvida alguma sobre Cantares. É indubitável que ele contamina as mãos… portanto, se há alguma dúvida é sobre o Eclesiastes.”
A expressão “não contaminar a mão”indica que o livro não é inspirado, o uso é contrário, se contamina as mãos, é inspirado e vice e versa.
Como essa passagem, podem-se encontrar diversas outras espalhadas por todo o Talmude. No Shabbat XXX, por exemplo, encontra-se a seguinte passagem, indicando uma desaprovação rabínica dos livros de Eclesiastes e de Provérbios:
“Os sábios quiseram retirar (lignoz), o livro de Eclesiastes, porque suas palavras são autocontraditórias, ainda por que não o retiraram? Porque ele começa e termina com as palavras da Torá […] Eles também queriam retirar (lignoz) o livro de Provérbios, porque suas palavras são autocontraditórias. No entanto, por que não o retiraram? Eles disseram: ‘Não examinamos o livro de Eclesiastes e encontramos uma reconciliação? Aqui também vamos pesquisar.’”
Também sobre Ezequiel o Talmude em Shabbat XIII relata:
“Hananias b. Ezequias impediu que Ezequiel fosse retirado.”
Da mesma maneira, sobre o Eclesiástico em Sanhedrin 100b:
“Apesar da oposição de nossos mestres este livro foi retirado.”
Se Eclesiástico foi retirado, isso significa que ele estava contido no cânon das Escrituras; portanto, séculos após a vinda de Cristo e, após o suposto concílio de Jâmnia, os judeus ainda tinham dúvidas sobre quais eram os livros inspirados das Escrituras.
UM TEÓLOGO PROTESTANTE E ECLESIÁSTICO COMO ESCRITURA
Albert C. Sundberg, Jr, estudioso protestante,dá mais provas de que os judeus não estavam resolvidos a respeito do cânon, e que consideravam Eclesiástico, por exemplo, como Escritura:
“Há evidências de um uso continuo dessa literatura apócrifa na literatura rabínica de épocas posteriores. Siraque [Livro de Eclesiástico] é citado três vezes no Talmude como Escritura. É duas vezes citado com a fórmula introdutória, “pois assim está escrito no livro de Ben Sira”. Ben Sira, às vezes, também é citado como ‘Escritos’, quando os rabinos estavam provando por textos, por exemplo: ‘Este assunto está escrito tanto no Pentateuco como escrito […], repetido nos profetas, como escrito […], mencionado pela terceira vez no Hagiógrafo, como está escrito, (aqui Eclesiástico 12,15 é citado), isto foi aprendido no Mishná, […]”. (The Old Testament of the Early Church).
Também, em algumas passagens, é precedido como ”é ensinado”, (Bava Metzia 112ª); em outras, diretamente como um versículo bíblico, por exemplo: “está escritono livro deBenSira” (Bereshit Rabá 91, 3). Assim, mesmo bem depois de Jâmnia, no segundo século, o Talmude refere-se ao livro do Eclesiástico como Escritura.
Será que Albert C. Sundberg, Jr, um dos melhores teólogos protestantes sobre o assunto, foi influenciado por algum católico, a ponto de dizer que os próprios judeus citavam Eclesiástico como escritura e incluíam nos Hagiógrafos? Muito pouco provável.
CONCLUSÃO
Dessa forma, os principais pressupostos que alguns têm em referência ao cânon judaico do Antigo Testamento preestabelecido são falsos. O Antigo Testamento dos judeus não foi resolvido antes ou, mesmo depois do suposto Concílio de Jâmnia, cerca de 90 d.C, 60 anos depois de Jesus ter estabelecido a autoridade da Igreja.
BIBLIOGRAFIA
Enciclopedia judaica Online < https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/judaica/ejud_0002_0003_0_02930.htm l>
PARA CITAR
RODRIGUES, Rafael. Enciclopédia Judaica confirma que não havia “cânon judaico” fechado até o Século II d.C. Disponível em: <http://apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/825-enciclopedia-judaica-confirma-que-nao-havia-canon-judaico-fechado-ate-o-seculo-ii-d-c> Desde 24/10/2015.