Na primeira resposta Duns Escoto explica que a Sagrada Escritura contém suficientemente a doutrina necessária à salvação. Explica que aquelas verdades que ela não expressa estão, contudo, virtualmente contidas nela, a semelhança das conclusões contidas nos princípios.
Na segunda resposta explica que há verdades não ensinadas no Evangelho e nem no Novo Testamento em geral, mas que foram transmitidas pelos Apóstolos, conservadas pelo costume da Igreja.
Brilhante e prévia refutação ao uso descabido dos Pais da Igreja pelos protestantes para reivindicar a doutrina da Sola Scriptura. Segue os trechos do Beato Duns Escoto:
“Pergunta-se se na Sagrada Escritura se transmite suficientemente a doutrina sobrenatural necessária ao peregrino. E argumenta-se que não.
[…]
Há muitos atos acerca dos quais não conhecemos com certeza pela Sagrada Escritura se são pecados ou não; mas é necessário conhecer para salvar-se, pois o que ignora que tal ou qual coisa é pecado mortal, não a evitará suficientemente, logo, etc.
[…]
E, por último, enquanto à objeção terceira, temos a mão a autoridade de Orígenes, quem na homilia De arca Noe diz assim: “A Escritura guarda convenientemente silêncio acerca daquelas coisas que a razão deduz como consequência”. Por onde a Escritura não expressa muitas verdades necessárias, embora estas se achem, a modo das conclusões nos princípios, virtualmente contidas nela; e precisamente para investiga-las resulta útil e frutuosa o labor de doutores e expositores”. (Ordinatio, Prologus, II, quaestio única)
“De novo, pelo razoamento dos Gregos: nada deve ser mantido como um artigo de fé, salvo o que está contido no Evangelho (que confusamente contém a fé), ou pelo menos na Escritura do Novo Testamento; mas não se vê expresso no Novo Testamento que o Espírito Santo procede do Filho, portanto, etc”.
[…]
“Para o razoamento, sobre o Evangelho [n. 4], eu digo que a doutrina “Cristo desceu ao inferno”, não é ensinada no Evangelho, e ainda assim deve ser mantida como um artigo de fé, porque isso é colocado no Credo Apostólico. Assim são muitas outras coisas sobre os sacramentos da Igreja não expressadas no Evangelho e, todavia, a Igreja as mantêm, transmitidas com certeza pelos Apóstolos, e seria perigoso errar sobre coisas que não apenas foram transmitidas pelos Apóstolos, mas são além disso mantidas pelo costume da Igreja universal. Nem Cristo no Evangelho ensinou todas as coisas relativas à dispensação dos sacramentos; pois ele disse a seus discípulos (João 16,12-13): “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”. Portanto, o Espírito Santo ensinou-lhes muitas coisas que não estão escritas no Evangelho: e muitas coisas, algumas por escrito, outras pelo costume da Igreja, foram transmitidas”. (Ordinatio, dist. 11, q. 1)
Leia também o artigo: Pais da Igreja e a Tradição Apostólica