As promessas de Deus contidas nos Textos Sagrados do Primeiro Testamento, revelam-se fielmente cumpridas por Ele. E para todo aquele (a) que, permanecendo fiel – de coração aberto para a Boa Notícia do Reino de Amor, “sabe conviver” sob a graça da paz promovida pela Santíssima Trindade, as de Cristo Jesus têm sido cumpridas integralmente […] E as promessas com sentido escatológico, estas [convertidas em uma só], é pessoal e suscita quando o crente chega aos braços do Senhor para ser transfigurado (a) para Sua Glória Eterna.
As promessas de paz perpassam os dois Testamentos, mas como o Reino de Deus exige envolvimento, se o “cristão moderno” não confiar, entregando-se plenamente ao amor da Trindade Santa, para a partir dele encher de paz a sua alma/coração, poderá enfrentar algum dos inúmeros malefícios que acompanham os povos desde os tempos bíblicos: violência, desânimo, fraqueza espiritual, tristeza, suicídio, rancores e mágoas, fratricídio, rompimentos familiares e fraternais, corrupção, depressão etc. É preciso estar revestido (a) da armadura de Deus (cf. Ef 6,13), pois sem ela o cristão fica mais suscetível às maldades criadas pelos próprios homens.
Deus se manifesta na história do seu povo amado e sempre dá respostas condizentes e laudáveis. Entretanto, é bom ressaltar que há promessas com duas características: uni e bilateral. A promessa da paz é bilateral, por isso, exige comprometimento e resposta, ou seja: Deus propõe e cumpre a parte d’Ele, mas o (a) fiel precisa estar engajado com o Reino – realizando sua parte para poder desfrutar das providências ativas do Senhor (cf. Jó 10,12; Mt 6,33; 1Cor 10,13; 2Cor 9,8-10).
Vamos refletir sobre a paz prometida, conscientes de que pela primazia da graça o crente mantém intensamente sua felicidade/harmonia interior – suficiente para promover o bem comum. Feliz é o homem que confia e traz Deus dentro de si (cf. Sl 33,9).
Semântica
No dicionário bíblico a paz é representada pela palavra shalom da língua hebraica, e tem seu mais expressivo significado no sentido de ser absoluto em comunidade. Isto é, o povo vive e compartilha um bem-estar sustentado pelo Amor de Deus, fonte essencial para gerar respeito, serenidade, dignidade, integridade e prosperidade entre todos. Isto nos mostra o quanto é fundamental reconhecer como a benevolência gerada pela paz é muito ampla; dinâmica e envolvente. É uma comunhão louvável entre “o eu e o próximo”, de modo que, agraciados pelo exuberante Amor originário de Deus-Pai, encarnado no amor do Deus Filho, e revelado no Amor do Deus Espírito Santo [Três Divinos] juntos, partilham plenamente a paz prometida por Jesus (cf. Jo 14,27).
Nos dois Testamentos, com mais alusão ao primeiro, está claro como o povo tem consciência das promessas de Deus – inclusive a da paz. Mas também é notório que em diversas situações o povo não dá respostas adequadas e passa por algumas tribulações.
Os primeiros entendimentos sobre a paz nas escrituras
Na bíblia hebraica a palavra shalom aparece 237 vezes, revelando sua riqueza e seu valor para a vida do povo de Israel, fortalecendo ainda mais a ideia de que assim como nos mandamentos, também através das alianças com seu povo, o desejo eterno de Deus é conduzir uma sociedade digna de viver em paz – repleta de harmonia, partilha e intensa felicidade.
Em diversas passagens do Primeiro Testamento está bem definido como o Amor de Deus é a fonte da paz e da felicidade (cf. Jz 6,23-24; 18,6; 19,20; 1Sm 1,17). Seu desejo é o de que todos vivam em comunhão – repletos de suas graças – animados por uma conversão de paz interior – condição de intimidade/amizade, pois na sua presença há abundância de alegria (cf. Sl 15,11).
Nas Escrituras Sagradas a paz não significa apenas ausência de guerras ou de conflitos. Segundo os profetas e os apóstolos, é a serenidade que o Espírito Santo infunde no coração dos que creem e confiam. Conforme Isaías 26,3 e Filipenses 4,7, a providência divina é “derramada” na vida de todos os que dela tomam posse e correspondem ao compromisso bilateral da promessa da paz.
A paz no mundo
A preocupação com a paz percorre as relações entre as pessoas. Só podemos pensar a paz quando ela é plantada em nosso coração (cf. Ef 2, 13-18) e seus frutos são compartilhados com toda a comunidade. O cristão impregnado pelo Espírito da paz, vive em plena harmonia consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com Deus. “Mas o fruto do espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio. Contra estas coisas não existe lei” (Gl 5,22-23). Estas virtudes são indispensáveis para se manter “intimamente conectado (a)” ao amor da Trindade e, através dele, perenemente dar respostas de amor/paz ao mundo. Papa Francisco proclamou: “a verdadeira paz não pode ser fabricada apenas por nós mesmos, com as nossas forças”.
A paz terrestre é fruto da paz messiânica de Cristo (cf. Is 9,5). “Ele é a nossa paz” (Ef 2,14). O Evangelho de Mateus 5,9 faz referência aos Bem-Aventurados promotores da paz entre os homens. Paz que ensina como é primordial viver extasiado pelo Amor da Trindade Santa – Caminho libertador para uma vida cheia de contentamento.
As recentes preocupações do Papa Francisco em promover a paz mundial têm motivos muito sustentáveis, pois são constantes as notícias de conflitos e de guerras. Sempre ficamos atônitos com os fatos, mas dificilmente paramos para refletir como também somos passíveis de perder a paz e gerar embates em nossas vidas. Basta permitir que o sentimento de maldade entre em nosso coração e cause destruição em laços familiares e fraternos [lá se foi a paz!].
Deus promete a paz, entretanto, por questões obscuras de sobrevivência [longe da luz divina], o povo se afasta da graça; a fé enfraquece, e com isso os conflitos são constantes (Evangelii Gaudium).
Conversão para a paz
Para a paz perdurar na alma do cristão é preciso viver em comunhão com O Deus-Trindade, acolhendo e exaltando sua providência ativa como fonte de conversão – fonte que renova e sustenta a felicidade no coração.
“Para um cristão o caminho da busca pela paz faz lembrar uma palavra muito cara no vocabulário da espiritualidade: a conversão para a paz. Para tanto é preciso fazer uma escolha; é necessário tomar a paz como um princípio unificador que inspira, modela e/ou freia as minhas reações” (Dom José Antônio Peruzzo).
Como toda conversão passa por um processo de acolhimento, de aceitação e de amadurecimento, com a paz particular não é diferente. Então, para manter a alma em constante estado de paz, é preciso crer que a graça é o segredo desta paz – promovida exclusivamente pelo amor da Trindade Santa (cf. Ef 1,2).
Fortalecido (a) na fé e confiando nas graças derramadas do alto, benevolentemente a paz pode ser desfrutada (cf. Lc 2,14). Mas o cristão está comprometido com a Verdade e dela toma posse, ou está comprometido com as supostas verdades do mundo –, e por elas assume um compromisso de fidelidade, deixando, “se possível”, que somente Deus faça a parte dele?
Com a fé na zona de conforto, a promessa se mantém unilateral e a paz pode ficar comprometida
No mundo criado por Deus, mas desenvolvido pelos homens [cocriadores], indubitavelmente, até mesmo para muitos cristãos as promessas deste mundo são bem mais tentadoras – ao extremo – contrárias às promessas de Deus. Com isso, coloca-se a fé na zona de conforto; comprometendo a paz na alma/coração, criando uma barreira que impede o acolhimento das graças divinas promovidas no Reino terreno. É no ordinário da vida que descobrimos o extraordinário de Deus.
Mesmo diante das tentações, quando há fé, a paz prometida se converte num milagre para o cristão. Porém, é preciso renovar o espírito numa conexão entre o Criador e a criatura, para que a graça possa ser manifestada. A paz recebida do alto estabiliza a sabedoria e protege de decisões errôneas, capazes de destruírem a felicidade. Jesus, O Cristo, cura a vida do fiel – cura sua história, contudo, é preciso identificar os sinais do Reino por Ele anunciados, e corresponder intensamente ao Amor da cruz, tanto na vertical como na horizontal perante os semelhantes.
O fiel pode perder tudo, só não pode perder a paz em virtude de ser uma herança dadivosa de Deus. Entretanto, para dela não se distanciar, deve manter-se em constante comunhão de adoração ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Uma das benevolências do Reino de Deus é a paz prometida por Jesus – conduzida pelo Espírito Santo. Ela é uma paz Única, Verdadeira e Libertadora, mas só é vivida e plenificada quando construída com respostas condizentes de fé e de Amor.
Nosso Deus-Trino não é evasivo – é propositivo. Sua misericórdia não tem fim, e é por ela que vem ao nosso encontro para cumprir, entre outras, sua Promessa de Paz interior e comunitária. Mas como somos “cristãos modernos”, muito atarefados, será que é possível conseguir um tempo disponível em nossas agendas para este louvável encontro – suficiente para sustentar e conduzir nosso compromisso bilateral da paz?
Por Cristo, com Cristo, e em Cristo.
Orlando Polidoro Junior
Teólogo pela PUCPR e Pastoralista