Pergunta:
Irmãos, faz pouco tempo que eu li de um site protestante que a Eucaristia era uma invenção de São Tomás de Aquino, que os primeiros cristãos jamais creram nela. Isso é verdade? Podem me mostrar o que a Igreja Católica ensina sobre a transubstanciação e se concorda com a fé primitiva?
Resposta:
Caro irmão, obrigado por nos escrever.
Certamente esta é uma espécie de história alternativa de alguns sites protestante que lhes fazem negar que os primeiros cristãos tiveram a mesma fé da Igreja de hoje. Para citar um exemplo, no “manual de evangelismo da igreja de deus (Israelita)”, eles escrevem:
“Na história dos concílios temos esta nota, resultado do concílio de Trento: ‘No puro e santo sacramento da Eucaristia, depois da consagração do pão e do vinho, Nosso Senhor Jesus Cristo verdadeiramente Deus e Homem está real substancialmente contido na aparência destes elementos visíveis’
Mas nos dias dos primeiros apóstolos e muitos séculos depois, não se pensava na atual doutrina da Missa. Os padres dos primeiros seis séculos ignoraram por completo esta doutrina romana. A doutrina da transubstanciação da hóstia não chegou a ser uma doutrina permanente da Igreja Romana até o IV concílio Laterano, sob o Papa Inocêncio III, no ano de 1215 d.C.”
Penso que primeiro temos que estudar é o que realmente a Igreja ensina sobre a transubstanciação, depois as histórias alternativas que se servem as Igrejas protestantes, e depois, faremos uma analise do que ensinaram os padres apostólicos e padres da Igreja dos 3 primeiros séculos da cristandade. Concordarás comigo que a interpretação das Escrituras de quem escutou o evangelho diretamente dos apóstolos ou seus discípulos, deve ser muito mais exata que a de qualquer “reformador” protestante, 1500 anos depois.
O QUE É TRANSUBSTANCIAÇÃO?
O concílio de Trento ensina a este respeito:
“Mas desde que Jesus Cristo Nosso Redentor, disse que era verdadeiramente seu corpo o que ele oferecia sob a espécie de pão, a Igreja de deus tem crido perpetuamente, e o mesmo declara agora de novo este mesmo Santo concílio, que pela consagração do pão e do vinho, se converte toda a substancia do corpo de nosso Senhor Jesus Cristo, e toda a substância do pão na substância de seu sangue, cuja conversão, a Igreja Católica chama oportuna e apropriadamente de Transubstanciação.” (Concílio de Trento Cap. IV. Da transubstanciação).
A este respeito também diz o catecismo oficial da Igreja católica:
“Os sinais essenciais do Sacramento Eucarístico são o pão de trigo e o vinho de uva, sobre os quais é invocada a bênção do Espírito Santo, e o sacerdote pronuncia as palavras da consagração ditas por Jesus durante a ultima ceia: ‘Isto é o meu Corpo entregue por vós. (…) Este é o cálice do meu Sangue (…)’” (CIC Parágrafo 1412)
“Por meio da consagração opera-se a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo. Sob as espécies consagradas do pão e do vinho, Cristo mesmo, vivo e glorioso está presente de maneira verdadeira, real e substancial, seu Corpo e seu Sangue, com sua alma e sua divindade.” (CIC Parágrafo 1413)
Baseados nisto podemos definir Transubstanciação como a conversão total da hóstia e do vinho no corpo, sangue, alma e divindade de nosso Senhor Jesus Cristo. Apesar de que o pão e o vinho seguem conservando seu aspecto e sabores originais, são realmente Corpo e Sangue do Senhor ocultos sob a aparência de Pão e Vinho.
A “Transubstanciação” se diferencia da “consubstanciação” (posição Luterana), em que a transubstanciação (prefixo “trans”) denota uma mudança, e consubstanciação (prefixo “con”) significa que não há mudança alguma da substancia e que o Senhor vem com o pão e com o vinho, cuja substancia não varia.
O manual de teologia Luterana do Professor Georg Metzger baseado no catecismo de Lutero explica:
“Nosso catecismo nos diz sobre o sacramento do Altar: ‘É o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de nosso Senhor Jesus Cristo sob o pão e vinho’. Logo confessamos que na Santa Ceia o corpo e sangue do Senhor se comem e se bebe sob o pão e o vinho. Em consequência, a Santa Ceia todavia estão presentes pão e vinho. Confessamos isso em oposição a falsa doutrina da Igreja Católica Romana. O papa e seus seguidores ensinam que na Santa Ceia o pão e o vinho se convertem no corpo e no sangue de nosso Senhor Jesus Cristo de modo que depois que o sacerdote abençoa as coisas terrenas, já não existem mais pão e vinho, senão somente o corpo e sangue de Cristo. Contrariado a isto nos ensina a Escritura que na santa ceia comemos também pão e bebemos vinho. I Coríntios 11, 26-28; 10, 16. Assim o pão na Santa ceia é todavia pão, e o vinho é todavia vinho. Mas ao comer o pão na santa Ceia, comemos o verdadeiro corpo do Senhor, e ao beber o vinho, ao mesmo tempo bebemos o verdadeiro sangue do Senhor. Assim de acordo com as palavras de Deus a Santa Ceia é o verdadeiro corpo e o verdadeiro Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.” (Manual de teología Luterana, Prof. Georg Metzger baseado no catecismo de Lutero, VI.d)
Resumindo, embora ambas as posturas, tanto católica quanto luterana afirmem que a eucaristia é o verdadeiro corpo e sangue do Senhor, diferem quanto a questão da transubstanciação que a Igreja afirma que o pão e vinho se transformam em corpo e sangue de Cristo ocultos sob a espécie de pão e vinho, e os luteranos afirmam que são corpo e sangue, porém ainda permanecem pão e vinho.
A grande maioria das igrejas protestantes pelo contrário, tem uma posição muito diferente tanto da Igreja Católica, quando da luterana e afirmam que Cristo não está presente na Eucaristia, e que o pão é só pão e não o corpo de Cristo. E o vinho é só vinho e não o sangue de Cristo. O mesmo manual luterano mencionado anteriormente explica da seguinte maneira:
“c. Nosso catecismo nos diz: ‘É o verdadeiro Corpo e o Verdadeiro Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.’ Quer dizer que é o corpo Real e Natural. Por que enfatiza isso nosso catecismo? O faz por causa dos falsos profetas e igrejas que não querem crer no mistério da Santa Ceia. Especialmente as Igrejas reformadas, as seitas, os pentecostais, os metodistas, em suma, todas as outras igrejas protestantes fora a luterana ensinam assim. Não querem crer nas palavras de Cristo. Não querem crer que estão presentes o corpo e sangue de Cristo na Santa Ceia e que os que vem ao sacramento realmente comem e bebem estas coisas. É verdadeiramente um mistério maravilhoso. Não podemos compreendê-lo por nossa razão. Nos parece impossível. Em consequência, essas igrejas ensinam que se tem que interpretar as palavras de Cristo simbolicamente, e entende-las em outro sentido. Segundo eles, Cristo não queria dizer que a Santa Ceia realmente há seu verdadeiro corpo Natural, senão somente que o pão retrata seu corpo. E que se referia somente ao corpo espiritual de Cristo. Que os cristãos devem receber este corpo espiritual na Santa Ceia, ou seja, Cristo e seus benefícios, com fé, enquanto que o verdadeiro corpo natural do Senhor está no céu. Contra estes falsos profetas, que baseiam em sua própria razão, nosso catecismo fiz: ‘É o Verdadeiro Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.’” (Manual de teología Luterana, Prof. Georg Metzger baseado no catecismo de Lutero, VI.c)
O QUE ENSINAVAM OS SANTOS PADRES?
Agora que vimos a diferença entre todos os pontos de vista encontrados, podemos através da nossa pesquisa sobre os escritos dos Padres Apostólicos (aqueles que conheceram os apóstolos e receberam seu ensino diretamente deles) ou a partir dos escritos dos Santos Padres e Doutores da Igreja, que viveram antes de Aquino, indagar se esta doutrina foi realmente acreditava pela Igreja Cristã ou é uma nova doutrina que surgiu a partir de São Tomas. (De acordo com o artigo da igreja de deus (israelita) os pais do ignoraram-na completamente durante os primeiros seis séculos, vejamos se eles dizem a verdade).
Para nossa pesquisa utilizaremos as traduções apresentadas no livro “Textos Eucarísticos Primitivos, Volumes I e II por Jesus Solano, BAC”, “Padres Apostólicos, por Daniel Ruiz Bem, BAC” e “Padres apologistas gregos, Daniel Ruiz Bem, BAC” e aprofundar os comentários dos autores sobre as suas obras, tentando resumir em poucas linhas, o que os esses grandes volumes desenvolvem.
SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA (110 D.C)
Discípulo de Pedro e Paulo, segundo bispo de Antioquia e mártir durante o reinado de Trajano por volta de 107 d.C. Quando ele foi condenado à morte foi ordenado ir da Síria para Roma para ser martirizado. No caminho de Roma escreveu sete epístolas às igrejas de Éfeso, Magnésia, Trália, Filadélfia, Esmirna, Roma e uma carta a São Policarpo.
Em relação à Eucaristia Santo Inácio é sempre apresentada muito clara e nítida. Chama a Eucaristia de “remédio da imortalidade” e afirma categoricamente: “A Eucaristia é a carne e nosso Salvador Jesus Cristo”. Condena firmemente as Docetistas que afirmavam que Jesus não tinha um corpo real, mas apenas aparente, e por este erro, diz Santo Inácio, não queriam fazer parte da Eucaristia e morriam espiritualmente por se afastarem do dom de Deus.
“… para obedecermos ao bispo e ao presbitério numa concórdia indivisível, partindo um mesmo pão, que é o remédio da imortalidade, antídoto contra a morte, mas vida em Jesus Cristo para sempre.” (Epístola aos Efésios IX, 20)
“Sede solícitos em tomar parte numa só Eucaristia, porquanto uma é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, um o cálice para a união com Seu sangue; um o altar, assim como também um é o Bispo, junto com seu presbitério e diáconos, aliás meus colegas de serviço. E isso, para fazerdes segundo Deus o que fizerdes.” (Epístola aos Filadelfios III)
“Não me agradam comida passageira, nem prazeres desta vida. Quero pão de Deus que é carne de Jesus Cristo, da descendência de Davi, e como bebida quero o sangue d’Ele, que é Amor incorruptível.” (Epístola aos Romanos VI )
“Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, porque não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nossos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou. Os que recusam o dom de Deus, morrem disputando. Ser-lhes-ia bem mais útil praticarem a caridade, para também ressuscitarem.” (Epístola aos Esmirniotas VII)
“Por legítima seja tida tão-somente a Eucaristia, feita sob a presidência do bispo ou por delegado seu. Onde quer que se apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da Igreja Católica. Sem o bispo, não é permitido nem batizar nem celebrar o ágape. Tudo, porém, o que ele aprovar será também agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer seja seguro e legítimo.” (Epístola aos Esmirniotas)
Apesar das evidências, alguns protestantes têm colocado a reparação de que Santo Inácio, também chama de “carne” de Jesus Cristo as coisas que não eram no sentido próprio. Por exemplo, na carta à Filadélfia diz: “buscando refúgio no Evangelho, como na carne de Jesus” (c.5). No entanto, não é possível interpretar essa frase para induzir Santo Inácio pensava que o Evangelho é a carne de Jesus, mas sim eles iriam aderir ao evangelho como aderem à carne de Cristo. Duas coisas distintas.
Na carta ao filedelfios escreve, “A [Igreja] que eu saúdo no sangue de Jesus Cristo, que é a minha alegria eterna e inabalável”. Mas aqui tampouco é possível dizer que tem um sentido simbólico, mas sim simplesmente uma metáfora. Então, quando você diz “O sangue de Cristo é a minha alegria”, ninguém interpreta que queremos dizer que “O sangue de Cristo significa alegria”.
Na carta aos Tralianos escreve: “Adotai, pois a mansidão e renovai-vos na fé, que é a carne do Senhor, e na caridade, que é o sangue de Jesus Cristo.” (c.8). Mas Jesús Solano nos diz que às vezes um autor usar uma palavra em um sentido simbólico, não quer dizer que sempre tem que usar simbólicamente. Nada menos do que 37 vezes Santo Inácio usa a palavra “carne” ou “sangue” e somente aqui usa no sentido simbólico. Neste caso, o contexto é claro. Sabe-se também que as fontes literárias Docetistas negaram a realidade da carne do Senhor, por isso é ilógico pensar que Santo Inácio, depois de condenar a doutrina deles, entendia igual a eles que compreendiam a carne no sentido simbólico, porque, neste sentido, os Docetistas nunca negaram, então não tinha por que combatê-los se ele tinha o mesmo pensamento deles.
A DIDAQUÉ OU DOUTRINA DOS APÓSTOLOS (60-160 D.C)
É um dos mais antigos escritos cristãos não canônicos do grupo dos padres apostólicos, considerado anterior a muitos escritos do Novo Testamento. Foi Escrito entre o ano 65 e 80 da era cristã. É um excelente testemunho do pensamento da Igreja Primitiva.
A Didaquê é muito taxativa ao afirmar que nem todos podem participar da Eucaristia, já que não se pode “dá o que é santo aos cães”. Antes de participar exige confessar os pecados para que o sacrifício seja puro. É um testemunho claro também de que a Igreja primitiva já conhecia na Eucaristia o sacrifício sem mancha e perfeito apresentado ao pai em Malaquias 1,11: “Porque, do nascente ao poente, meu nome é grande entre as nações e em todo lugar se oferecem ao meu nome o incenso, sacrifícios e oblações puras. Sim, grande é o meu nome entre as nações – diz o Senhor dos exércitos.”.
“Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor, pois sobre isso o Senhor disse: ‘Não deem as coisas santas aos cães’.” (Didaqué IX, 5)
“Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro.
Aquele que está brigado com seu companheiro não pode juntar-se antes de se reconciliar, para que o sacrifício oferecido não seja profanado [Cf Mt 5,23-25].
Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: “Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei – diz o Senhor – e o meu nome é admirável entre as nações“.(Malaquías 1,11)” (Didaqué XIV 1-3)
SÃO JUSTINO (165 D.C)
Mártir da fé cristã por volta do ano 165 foi decapitado, é considerado o maior apologista do século II. Justino continua a ser o testemunho unânime da Igreja ao confessar que a Eucaristia não é um alimento como muitos, mas é a “carne e sangue de Jesus que se fez carne”. Embora Justino tivesse que lutar contra as acusações que foram feitas aos cristãos primitivos de comer carne humana, ao se defender dessas acusações ele poderia argumentar que a Eucaristia era um “símbolo”, mas não faz isso, ao invés, professa realismo com absoluta clareza que a carne e o sangue de Jesus Cristo para os cristãos são alimentos.
Um das obras célebres de São Justino é o “Diálogo com Trifão”, que era um judeu do tempo. Nesta, São Justino deixa o testemunho da interpretação que a Igreja Primitiva tinha, como o sacrifício que falava o profeta em Malaquias 1, 11, é uma interpretação completamente contrária à visão protestante que nega o caráter sacrificial da Eucaristia e diz que a Ceia do Senhor é uma simples lembrança.
Uma observação importante para a questão que nos mostra Jesús Solano em seu livro “Textos eucarísticos primitivos”, onde diz claramente que Justino exclui a permanência do pão junto com a carne do Senhor rechaçando assim consubstanciação. O paralelismo de ideias e de sentenças lhe levam a dizer que assim como Jesus Cristo se fez carne e sangue, assim o alimento eucarístico é a carne e o sangue de Jesus, no entanto, não diz isso, senão mudando a construção, escreve que alimento eucarístico é a carne e o sangue de Jesus (transubstanciação). Este termo exclui a permanência do pão e em sentido óbvio indica a mudança, a conversão do pão na carne do Senhor. Confirma o emprego que Justino cria para a palavra “dar graças”: Até ele havia tido o sentido intransitivo; ele usa passivamente “alimento eucaristizado”, que se traduz literalmente: “comida feito de Ação de Graças”. Este passivo tão resistente criado por São Justino, unida a mudança de construção que acabamos de mostrar, enfatiza a nota de uma mudança operada no alimentação normal em virtude da qual o pão é agora carne de Cristo.
“66. Este alimento se chama entre nós, Εὐχαριστία[Eucaristia], da qual a nenhum outro é lícito participar, senão ao que crer que nossa doutrina é verdadeira, e que foi purificado com o batismo para o perdão dos pecados e para a regeneração, e que vive como Cristo ensinou. Por que estas coisas não as tomamos como pão comum nem bebida comum, mas ao contrário assim como o Verbo de Deus, havendo de encarnado em Jesus Cristo nosso Salvador, se tornou carne e sangue para a nossa Salvação, assim também nos é ensinado que o alimento eucaristizado, mediante a palavra (verbo) de nosso oração precedente d’Ele – O alimento de que nossa carne e nosso sangue, se nutrem com arranjo para nossa transformação – é a carne e o sangue daquele que Jesus que se encarnou. Pois os apóstolos, nos comentários por eles compostos, chamamos evangelhos, nos transmitiram o que assim lhes havia sido transmitido: Que Jesus, tendo tomado o pão e dando graças, dizendo: Façam isso em memória de mim; este é meu corpo, e somente fez eles participantes. A mesma coisa também nos mistérios de Mitra tem sido ensinada pelos malvados demônios, tomando por imitação. Por que sabeis, ou podem saber, que quando alguém é iniciado neles, se oferecem um pão e um cálice de água e se dizem certos versos.
67. Nós, portanto, após isso recordamos agora e para sempre destas coisas entre nós; e o que temos, socorremos a todos os abandonados, e sempre estamos unidos uns aos outros. E por todas as coisas das quais nos alimentamos e bendizemos ao criador de tudo, por meio de seu filho Jesus Cristo e do Espírito Santo. E no dia chamado do sol se reúnem em um mesmo lugar todos os que habitam nas cidades e nos campos, e leem os comentários dos apóstolos ou as escrituras dos profetas, enquanto o tempo permite. Depois, quando o leitor acaba, o que preside exorta e ínsita a imitação dessas coisas excelsas. Depois nos levantamos todos e recitamos orações; e, como antes dissemos, quando terminamos de orar, se apresenta o pão, vinho e água, e o que preside eleva, segundo o poder que nele há, orações e igualmente ações de graças, e o povo aclama dizendo, amém. E se se dá e fazem participantes cada um das coisas eucaristizadas, e aos ausentes se envia por meio dos diáconos. Os ricos que querem, cada um segundo a sua vontade, dão o que lhes convém, e o que reunem poem a disposição do que preside e ele socorre os órfãos e as viúvas e os que por motivo de doença ou qualquer outra causa estão abandonados, e aos presos, aos peregrinos, e em uma palavra, ele cuida daqueles que estão em necessidade. E nós encontramos todos os dias do sol, uma vez que é o primeiro dia em que Deus, mudando trevas e a matéria, fez o mundo, e Jesus Cristo, nosso Salvador, no mesmo dia ressuscitou dos mortos. Bem, um dia antes do sábado o crucificaram, e um dia depois do sábado, que é o dia o sol apareceu aos apóstolos e discípulos e ensinou-lhes estas coisas que propus para sua consideração. (São Justino, Primeira Apologia 66 – 67)
“2. Onde Deus fala, como eu disse, pelo Malaquias um dos 12, sobre os sacrifícios, que então eram oferecidos por vós: Minha vontade não está em vós, diz o Senhor, e não vou aceitar as ofertas de suas mãos. Por que desde o nascente do sol até o poente meu nome é glorificado entre as nações, e em todo lugar se oferece incenso ao meu nome e uma oferta pura, para o meu nome é grande entre as nações, diz o Senhor, mas vocês o profanam.
3. Desde então prevê sobre os sacrifício que em todo lugar Lhe são oferecidos por nós gentios, isto é, o pão da Eucaristia e também o cálice da Eucaristia, acrescentando que nós glorificamos seu nome, e vocês, por sua vez, o profanam.” (Justino, Diálogo Trifão 41, 2-3)
“116, 1. Mas, a fim de explicar a revelação de Jesus Cristo, o Santo, voltou a tomar a palavra [de Zacarias] e digo que também aquela revelação foi feita por nós que acreditamos em Cristo, neste Pontífice, que foi crucificado…
3. Pois como aquele Jesus, que é chamado sacerdote pelo profeta, apareceu carregando vestes manchadas…, assim nós, os que pelo nome de Jesus como um só homem temos crido no Deus Criador de todas as coisas, nos despojando, pelo nome de seu filho primogênito, das vestes manchadas…, assim nós, os que pelo nome de Jesus como um só homem temos crido no Deus criador de todas as coisas, nos despojando, pelo nome de seu filho primogênito, das vestes velhas, isto é, dos pecados, inflamados pela palavra de sei lamento, somos a verdadeira raça sacerdotal de Deus; segundo atesta o mesmo Deus ao dizer que em todo o lugar entre os gentios há quem lhe oferece e Ele sacrifícios agradáveis e puros [cf. Mal 1, 11]
117,1. Para todos os sacrifícios por este nome, os quais Jesus ordenou serem feitos, ou seja, na Eucaristia do pão e do cálice, sacrifícios feitos pelos cristãos em todos os lugares da terra como Deus testifica de antemão que lhe são agradáveis. Em vez disso rejeita o que vocês fazem, e aqueles que utilizam seus sacerdotes, dizendo: E eu não vou aceitar os sacrifícios em suas mãos, porque desde o nascer do sol até o poente, meu nome é glorificado, diz, entre as nações, e vós profanais [Mal 1,10 ss]” (São Justino, Diálogo com Trifão. C.116s)
SANTO IRINEU DE LIÃO (130 D.C – 202 D.C)
Santo Irineu (bispo e Mártir). Foi discípulo de São Policarpo que por sua vez foi discípulo do apóstolo São João. Conhecido por seu tratado “Contra as Heresias” onde combate as heresias de seu tempo, em especial a dos gnósticos.
Na teologia por Santo Irineu acontece o mesmo com Justino, a certeza de que o pão e o vinho consagrados são o corpo e o sangue de Cristo é clara, e afirma explicitamente que “o cálice está seu próprio sangue” ( o de Cristo) e “o pão não é mais pão comum, mas Eucaristia constituída por dois elementos de terreno e celestes” (Jesus Solano comenta que Santo Irineu não se refere aqui para como a Eucaristia é constituída, mas como se trata de ser constituída: o elemento terreno é “pão” e o elemento celestial é “a invocação (epiclese) de Deus”)
Santo Irineu também deixa o testemunho de que alguns grupos de hereges também compartilhavam a fé da Igreja que o pão eo vinho tornam-se realmente o corpo e o sangue de Cristo, mas para eles pode-se afirmar que o pão consagrado por eles (os hereges) não é realmente, porque eles desconhecem que Cristo é a Palavra, o filho do criador do mundo. Ele exorta-os ou mudar sua mente ou parar de oferecer o sacrifício.
“Mas dando também aos discípulos o conselho de oferecer as primeiras de suas criaturas a Deus, não como se ele as necessitasse, mas para que eles mesmos não fossem infrutuosos ou ingratos, tomou o pão que é algo da criação, e deu graças dizendo: ‘este é o meu corpo’. E da mesma maneira afirmou que o cálice, que é de nossa criação terrena, era seu sangue; e ensinou a nova oblação do novo testamento, a qual a Igreja recebendo dos apóstolos, oferece em todo o mundo a Deus, que nos dar alimento primário de seus dons no Novo Testamento; sobre qual Malaquias, um dos 12 profetas [menores], profetizou assim: ‘Não tenho nenhuma complacência convosco – diz o Senhor dos exércitos – e nenhuma oferta de vossas mãos me é agradável. Porque, do nascente ao poente, meu nome é grande entre as nações e em todo lugar se oferecem ao meu nome o incenso, sacrifícios e oblações puras. Sim, grande é o meu nome entre as nações – diz o Senhor dos exércitos.’ Significando claramente por isto que o povo anterior cessará de oferecer a Deus; por que em todo Lugar se oferecerá sacrifícios a Ele, e este será puro; e seu nome é glorificado entre os povos
4. Como pois, lhe constará que esse pão, nele que são dadas as graças, é o corpo de seu Senhor e o cálice do seu Sangue, se não dizem que Ele é o Filho do Criador do mundo, isto é, o verbo, pelo qual a madeira frutifica, e as fontes emanam, e a terra dá o primeiro broto, depois espiga e finalmente trigo cheio na espiga?”(Santo Irineu – Contra as heresias Livro IV c.17 n.5)
“E como dizem também que a carne se corrompe e não participa da vida, que é alimentada pelo corpo e sangue do Senhor? Portanto, ou mudam de opinião ou deixem de oferecer as coisas ditas. Para nós ao contrário, a crença concorda com a eucaristia, e eucaristia por sua vez confirma a crença. Pois oferecemos a Ele suas próprias cosias, proclamando harmoniosamente a comunhão e união da carne e do Espírito. Por que assim como o pão que é da terra, recebendo a invocação de Deus já não é pão propriamente e sim eucaristia, constituída pelos elementos terrenos e celestiais, assim também nossos corpos recebendo a Eucaristia, não são corruptíveis, mas possuem a esperança da ressurreição eterna.” (Santo Irineu – Contra as heresias. Livro IV c.18 n4s)
“E examinará [o discípulo verdadeiramente espiritual] verdadeiramente a doutrina de Macião, como ele entende que existem dois deuses, separados entre si por uma infinita distância… E como se o Senhor fosse filho de outro pai [distinto do criador], vindo justamente quando, tomando o pão desta nossa criação, confessava seu corpo, e da mistura afirmou ser seu sangue?” (Santo Irineu – Contra as Heresias Livro IV c.33 n.2).
“2. E são vãos por completo os que depreciam toda a ordem divina e negam a salvação da carne e desdenham de sua regeneração, dizendo que não é capaz de revestir-se da incorruptibilidade. Mas si esta [a carne] não se salva, então nem o Senhor nos redimiu com seu sangue, se o cálice da eucaristia é a participação do seu sangue; nem o pão que partimos é a participação do seu corpo. Por que o sangue não procede senão das veias e a carne e do resto da substância humana, da qual verdadeiramente se fez o verbo de Deus, nos redimindo com seu sangue. Como disse também seu apóstolo: no qual temos por seu sangue, redenção, a remissão dos pecados.
Por que somos membros seus e alimentados por meio da criação, e nos brinda a criação, fazendo sair seu sol e chover, como ele quer, assegurou que aquele cálice da criação é seu próprio sangue, com o qual aumenta nosso sangue, e reafirmou que aquele pão da criação é seu corpo com o qual incrementa nossos corpos.
3. Quando, pois, o cálice misturado e o que chegou a ser pão recebem o verbo de Deus e se fazem Eucaristia, corpo de Cristo, com as quais a substância de nossa carne aumenta e se vai constituindo, como dizem que a carne não é capaz do dom de Deus que é a vida eterna, a carne alimentada com o corpo e sangue do Senhor, que se faz membro dele?
Como disse o bem aventurado Apóstolo em sua carta aos Efésios: Por que somos membros de seu corpo, de sua carne e de seus ossos; e isto não disse de um homem pneumático [espiritual] e invisível, por que o espírito não tem ossos nem carne, mas de um organismo verdadeiramente humano que é composto de carne, nervos e ossos, e o qual se alimenta de seu cálice, que é seu sangue, e aumenta com o pão, que é seu corpo. E a maneira que brotou da vinha colocada na terra, produziu frutos a seu tempo, e o estoque de grãos de trigos no chão e se desfez, levantou da terra multiplicando pelo Espírito de Deus que todo o contém; e depois da Sabedoria de Deus se tornou útil para os homens, e recebendo a palavra de Deus chegaram a ser Eucaristia, que é o corpo de Sangue de Cristo, assim também nossos corpos, alimentados com ele e colocados na terra e despostos nela ressuscitarão a seu tempo, concedendo-lhes a ressurreição do Verbo de Deus para a Glória de Deus Pai.” (Santo Irineu Contra as heresias Livro V c.2 n.2s)
TERTULIANO (160 D.C – 220 D.C)
Tertuliano não é considerado um padre da Igreja, mas um apologista, que no final de sua vida caiu em heresia abraçando o montanismo, foi muito lido antes de abandonar a Igreja Católica.
Considero também importante olhar para os escritos de Tertuliano já que entre alguns protestantes são manipulados e truncados alguns fragmentos fora de contexto de seus escritos para que possam sugerir que Tertuliano acreditava que o pão e o vinho consagrados não eram o corpo de Cristo, mas apenas “símbolos”. Um exemplo da manipulação de textos se encontra no site anti-católico argentino que é administrado por Daniel Sapia, em um trabalho desenvolvido por Guillermo Hernandez Agüero. Colocarei a citação usada pelo Guillermo, e a citação no contexto colocando em vermelho o que o autor não “conseguiu” colocar.
No extrato do artigo em questão, lemos:
“Podemos aprofundar mais sobre os padres, mas nosso tema neste caso é a Santa Ceia. Muito Embora existam alguns Pais que nos podem dizer algo sobre nosso tema: ‘tendo tomado o pão e distribuiu para os discípulos o fez seu corpo, ao dizer: Isto é o meu corpo, a saber, ‘figura do meu corpo’’ (Tertuliano, contra Marcião 4, 40). Tertuliano nos dá a entender que não há nenhum Transubstanciação com o pão; ao contrário nos ensina que é simbólico.”
Observe agora o texto em seu contexto:
“…Com grande desejo tenho querido comer a páscoa convosco antes de padecer, ó destruidor da lei que ainda aspirava observar a páscoa, tão seguro de que deleitaria pela carne do cordeiro judeu. Ou será que era Ele, aquele que tendo que ser levado ao sacrifício como uma ovelha e que, como uma ovelha perante o tosquiador, não deveria de abrir sua boca, desejava realizar a figura de seu sangue salvífico? Poderia também ter sido entregue por qualquer estranho para que não dissesse eu que também neste Salmo estava sendo cumprido: ‘Aquele que come pão comigo levantará seu pé contra mim’… Porém, isto teria sido próprio de outro Cristo, não daquele que cumpria as profecias…
Tendo declarado, pois, que Ele, com grande desejo, teria desejado comer a sua própria páscoa, pois seria indigno que Deus desejasse algo alheio, tendo tomado o pão e distribuído aos discípulos, fê-lo seu corpo, dizendo: ‘Este é o meu corpo’, isto é, ‘figura de meu corpo’. Porém não teria sido figura, mas sim corpo verdadeiro. Ademais, uma coisa vã como é um fantasma não poderia conter a figura. Ou se por isto ao pão fez seu corpo, porque carecia de corpo verdadeiro, logo deveria entregar por nós o pão. Fazia – para o vazio de Marcião – que fosse crucificado o pão e nada mais para o melão que Marcião teve ao invés do coração?Não entendeu que é antiga esta figura do corpo de Cristo, que diz por Jeremias: ‘Urgiam tramas contra mim, dizendo: Venham! Lancemos uma lasca em seu pão’, isto é, a cruz em seu corpo. Assim portanto, aquele que ilumina as antigas figuras, ao chamar de pão ao seu corpo, declarou suficientemente o que queria significar então o pão. E, assim, na comemoração do cálice, constituindo o testamento selado com o seu sangue, confirmou a substância de seu corpo. Porque o sangue não pode ser de corpo algum que não seja de carne. Porque se alguma propriedade não-carnal do corpo se nos opõe, certamente se não for carnal não terá sangue. Assim a prova da realidade do corpo se confirmará pelo testemunho da carne e a prova da realidade da carne pelo testemunho do sangue. E para que reconheças a antiga figura do sangue no vinho, diz Isaías… Muito mais manifestamente o Gênesis, na bênção de Judá, de cuja tribo deveria provir a origem da carne de Cristo, já então esboçava a Cristo em Judá: ‘Lavará – disse – em vinho as suas vestes e em sangue de uvas o seu manto’, significando a estola e o manto a carne, e o vinho o sangue. Assim agora consagrou seu sangue no vinho aquele que então fez o vinho figura de seu sangue…” (Tertuliano, Contra Marcião L.4 C.40)
Para entender as palavras de Tertuliano, devemos conhecer o contexto. Marcião negava que Cristo tivesse corpo verdadeiro. A força do argumento de Tertuliano contra Macião consistia em que o pão não poderia ser corpo verdadeiro de Cristo, se Cristo não tivesse corpo verdadeiro. Como poderia a Igreja crer na de forma unanime que o pão consagrado era o corpo de Cristo, se Cristo não tinha corpo? E ainda quando disse: “Ao pão fez seu corpo” denota uma mudança de substância. A realidade da Eucaristia e a fé da Igreja demonstravam a realidade física do corpo de Cristo.
Tertuliano utiliza a expressão “figura de seu corpo” para se referir ao corpo real. Tertuliano fala do pão eucarístico como “figura” do corpo de Cristo, por que o verdadeiro corpo de Cristo havia sido no AT anunciado por todos os profetas sob a figura do pão, como o verdadeiro sangue havia sido prefigurado no vinho.
Tertuliano termina mais adiante afirmando a realidade do corpo de Cristo na eucaristia, e fala dela como um “sacramento”. Logo veremos outros escritos onde Tertuliano na eucaristia se pode verificar de forma diáfana. Chama a atenção especialmente quando afirma que sofrem de ansiedade se caem ao chão algo do cálice ou do pão, coisa que não teria sentido se pensar se fossem apenas símbolos.
“Portanto, pelo sacramento do pão e do cálice, já temos provado no evangelho a verdade do corpo e do sangue do Senhor contra do fantasma defendido por Marcião…” (Contra Marcião L.5 c.8)
“O sacramento da Eucaristia confiada pelo Senhor na hora da ceia, e todos, ele também teve reuniões antes do amanhecer, e não nas mãos dos outros, mas de quem presidirá;… sofremos ansiedade, se algo cai no chão do nosso cálice ou então de nosso pão.” (Sobre a coroa C.3)
“O zelo da fé falará chorando neste ponto: é possível para um cristão vem dos ídolos para a Igreja, da oficina do adversário para a casa de Deus, para levantar as mãos mães dos ídolos a Deus Pai; que ore com aquelas mãos para quais foram orar contra Deus, e trazer o corpo do Senhor aquelas mãos que levam corpos aos demônios? …” (Sobre a idolatria (C.7 (A. REIFFERSCHEID – G. WISSOWA; CSEL 20,1 (1890)36; OEHLER, 1,74 s; ML 1,669 A-B))
“….recebe também então o primeiro anel, com o qual, depois de questionar, sela o compromisso da fé, e assim então é alimentado com as delícias do corpo do Senhor, ou seja, a Eucaristia.” (Sobre a honestidade. C.9 (G. RAUSCHEN: FP (1915) 53s; OEHLER, 1,810 s, ML 2,997 D – 998 C))
Participando de um fórum protestante tive a oportunidade de conversar com o administrador do site anticatólico em questão (Daniel Sapia), e lhe comentei sobre a descontextualização que se havia feito em seu site dos escritos de Tertuliano. Mostrei-lhe este conjunto de textos de Tertuliano que se faz impossível pensar que este apologista pensava que o pão e o vinho consagrados eram simplesmente símbolos, contudo na exceção de um breve comentário em seu site onde se afirma uma posição contrária, e ignora de mencionar estes textos, não foi feita nenhuma correção. Isto já era de se esperar de alguém com tão pouca ética, já que este indivíduo se fez conhecido por publicar artigos sensacionalistas acusando o Papa João Paulo II de ser a mão da obra do Anticristo, de modo que mais essa mentira seria somente mais uma fichinha para ele.
CLEMENTE DE ALEXANDRIA (MEADOS DO SÉCULO II – ANTES DE 215)
Nasceu por volta de 150, provavelmente em Atenas, de pais pagãos; depois de se tornar um cristão, viajou pelo sul da Itália, Síria e Palestina, em busca de mestres cristãos, até que ele chegou a Alexandria; os ensinamentos de Panteno (chefe escola catequética de Alexandria, no Egito) fizeram que se estabelecesse ali. Por volta do ano 202, a perseguição de Septímio Severo o obrigou a deixar o Egito, e se refugiou na Capadócia, onde morreu pouco antes de 215.
Seu conhecimento dos escritos de literatura pagã e cristã é notável, segundo Quasten, seus trabalhos incluem cerca de 360 citações dos clássicos, 1500 do Antigo Testamento e 2000 do Novo, por isso é considerado cronologicamente como o primeiro estudioso cristão, conhecedor profundo não só das Escrituras, mas das obras cristãs anteriores a ele, e até mesmo das obras de literatura profana. Clemente considerava o cristianismo a realização mais bela e a coroação de todos os elementos dispersos da verdade na filosofia.
Clemente de Alexandria é testemunha da prática litúrgica “eucaristizar” e segundo uma regra fixa da Igreja, o pão, e a mistura de vinho e água, mas combate os hereges encratitas que “eucaristizavam” somente com água. Chama a Eucaristia de “oblação”, diz foi figurada no alimento santificado do vinho e pão consagrados que deu a Melquisedeque. Ele afirma que não é um alimento do pão que é o próprio Jesus, e aquele que come deste pão não vai morrer. Ele afirma que Jesus também se dá na bebida da imortalidade.
O texto mais escuro de Clemente sobre a Eucaristia é, em sua obra o “Pedagogo”. Ele afirma aqui que a Eucaristia é por si mesma vivificante e dá a imortalidade, o Espírito que produz essa aceleração, e esse Espírito é para Clemente o Espírito, que é o poder da Palavra, isto é, a natureza divina do Verbo. No entanto, além de sangue carnal do Senhor com o qual nos redimiu, do sangue espiritual (pneumático) “com o qual temos sido ungidos”, e que nos faz participantes da incorruptibilidade. A partir do contexto, vemos que esse “sangue espiritual” é o Espírito que dá vida, e não insinua a ideia de que Clemente fala que a Eucaristia não é o verdadeiro sangue do Senhor. Em segundo lugar, Clemente fala da Eucaristia como bebida mista (vinho e água) e do Verbo. A expressão não diz nada sobre a presença real do Senhor na Eucaristia, mas aponta as causas envolvidas na preparação da Eucaristia.
“É, pois, necessário que ambos se provem a si mesmos: um para ver se é digno de dizer e deixar comentários, o outro para ver se é tão justo que pode escutar e ler; assim como também os que, segundo o costume, repartem a Eucaristia, vão permitindo a cada um do povo tomar a parte correspondente.” (Clemente de Alexandria – Stromata Livro I C. I)
“E aos privados de inteligência, recomendo dizendo, assim fala a sabedoria claramente referindo-se aos que andam entre as heresias, o pão tomado às escondidas é mais delicioso e as águas furtivas mais doces; designando com claridade o pão e a água, não em outras heresias, mas naquelas que, contra a regra da Igreja, usam pão e água na oblação; pois há também quem eucatistize somente água.” (Clemente de Alexandria – Stromata Livro I, 19)
“Depois Salém fica em paz, paz da qual está descrita como rei nosso Salvador, de quem Moisés disse: Malquisedeque, rei de Salém, o sacerdote do Deus Altíssimo [Gen 14, 18]; este deu ao pão e o vinho como alimento santificado na figura da Eucaristia.” (Clemente de Alexandria – Stromata Livro IV, 25)
“Eu [o salvador] sou teu apoio, que me dou-me a mim mesmo [como] pão, do qual quem degusta jamais experimenta a morte, e que me dou a mim mesmo [como] bebida de imortalidade.” (Clemente de Alexandria – Qual Rico se salvará, n.23)
SANTO HIPÓLITO (235 D.C)
É desconhecido a data e local de nascimento, embora se saiba que ele era um discípulo de Santo Irineu de Lião. Seu vasto conhecimento da filosofia e dos mistérios gregos, sua própria psicologia, indica que veio do Oriente. Por volta do ano 212 e era um padre em Roma, onde Origines – durante a sua viagem para a capital do Império – lhe ouviu dar um sermão.
Por ocasião da questão da reintegração na igreja daqueles que haviam apostatado durante alguma perseguição se instalou um grave conflito que o fez se opôs ao papa Calisto, pois Hipólito mostrava defensor neste assunto, mas não negou que a Igreja tem o poder de perdoar pecados. Tão forte era o contraste que se separou da Igreja e foi eleito bispo de Roma por um pequeno círculo de seus apoiadores, foi assim o primeiro antipapa da história. O cisma continuou após a morte de Calisto, durante o pontificado de sucessores Urbano e Ponciano. Terminou em 235, com a perseguição de Maximiano, que baniu o papa legítimo (Ponciano) e a Hipólito para minas da Sardenha, onde se reconciliaram. Os dois renunciaram ao papado, para facilitar a pacificação da comunidade romana, que, portanto, poderia eleger um novo papa e para encerrar o cisma. Ponciano e Hipólito ambos morreram em 235. O Papa Fabiano levou seus corpos solenemente a Roma e são honrados como mártires.
Santo Hipólito é enfático em afirmar que se evite diligentemente que o infiel coma a Eucaristia, já que “é o corpo de Cristo, do qual todos os fiéis são alimentados e não deve ser desprezado.”
“Depois que Judá esteve com ela [Genesis 38, 16), lhe deu uma vestimenta, a saber: três coisas, o anel de selar, o cordão e o báculo que levava o manto: estas eram as vestimentas de que ele esteve com ela. Da mesma maneira Cristo deu a sua Igreja três coisas, a saber, seu corpo, seu sangue e o batismo. E se Tamar foi salva por três coisas, a saber, pelo anel, pelo cordão, e pelo báculo, assim a santa Igreja por três coisas, pela profissão de fé, pelo corpo e pelo sangue foi igualmente salva da idolatria, e elegeu a si mesmo para seus filhos a Salvação da humanidade por meio de Cristo: e nós recebemos seu corpo e seu sangue, pois Ele é a vestimenta da vida eterna para todo aquele que com humildada se aproxima d’Ele.” (Santo Hipólito – Seguimento exegéticos. Gem 38, 19)
“… Depois disse: depois das sessenta e duas semanas havendo passado os tempos… Ele fará o Testamento para muitos durante uma semana; e no meio de uma semana será quitado o sacrifício e a libação sacrificial; e sobre o santuário, uma abominação desoladora [cf. Dan 9, 26]. Assim, pois, uma vez cumpridas as sessenta e duas semanas e uma vez vindo Cristo e pregado o evangelho em todas as partes, quando os tempos estiverem cumpridos, será deixada uma semana, a última; na qual aparecerá Elias e Enoc. E no meio dela virá a abominação desoladora [Dan 9, 27], o anticristo, que anunciará ao mundo a devastação. Depois que ele vier, será quitado o sacrifício e a libação sacrificial, os quais são agora oferecidos a Deus pelos povos em todas as partes [cf. Mal 1, 11].” (Santo Hipólito – Comentário a Daniel, IV, 35)
“Ambas as coisas proporcionam ao mundo o corpo do Senhor, Sangue sagrado e água Santa”(Santo Hipólito – Sobre os Ladrões (ACHELIS: GChS 211; MG 83,285 A: TEODORETO, Eranistes, diálogo 3))
“Cada fiel procure tomar a eucaristia, antes que haja provado qualquer outra coisa. Pois se é fiel em toma-la, embora lhe dê veneno mortal, não terá poder sobre ele [o veneno]. Todos evitem como diligência que o infiel coma da Eucaristia ou que os ratos ou algum outro animal, nenhuma outra coisa em absoluto caia na Eucaristia e que algo pereça. É o corpo de Cristo, do qual todos os fieis se alimentam, e não deve ser desprezado.” (Santo Hipólito – Tradição Apostólica)
ORÍGENES (185 D.C – 254 D.C)
Orígenes não foi Padre da Igreja, mas teólogo e comentarista bíblico. Viveu em Alexandria até 231, passou os últimos 20 anos de sua vida em Cesaréia do Mar, Palestina e viajando pelo Império Romano. Foi o maior mestre da doutrina cristã em sua época e exerceu uma extraordinária influência como intérprete da Bíblia. Orígenes foi profundamente afetado pelo martírio de seu pai, Leonides, durante a perseguição do imperador Severo em 201. Ele completou sua educação em Alexandria, onde ele estava em contato com os gnósticos valentinianos. Alguns anos mais tarde, esteve sob a influência de platônicos de Alexandria como Amônio Sacas.
Orígenes ensinou que Deus, Todo-Poderoso, providente e salvador, só é conhecido através de Jesus Cristo, conforme anunciado pelas escrituras judaicas e testemunhado no Novo Testamento. Jesus preexistia como o Verbo (Logos) eterno e é a origem da criação universal.
Os ensinamentos de Orígenes também contêm muitas especulações sobre assuntos em que a Igreja de seu tempo não definiu. Algumas de suas ideias eram errôneas, à luz do desenvolvimento posterior da doutrina católica. Mas não é por isso que se deve negar a validade do restante dos seus ensinamentos.
No que diz respeito aos escritos de Orígenes a Eucaristia segue a mesma linha que o resto dos pais. Como Tertuliano expressa preocupação de que o pão e o vinho consagrados caiam ao chão. Ele afirma que “assim como o maná era a comida em enigma, agora claramente a carne do Verbo de Deus é verdadeiro alimento, como ele mesmo diz, a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida.” Em todos esses casos, Orígenes se refere a “verdadeiro alimento” não como pão, mas como “a carne do Verbo de Deus”. Ele também afirma que receber o corpo indignamente traz a ruína para si e refere-se a Eucaristia como “mesa do Corpo de Cristo e do próprio cálice de seu sangue”.
“Conheceis a vós que assistis aos divinos mistérios, como quando recebeis o corpo do Senhor o guardais com toda cautela e veneração, para que não caia nem um pouco dele, nem desapareça algo do dom consagrado. Porque – corretamente – crês que sereis réus se perderdes algo dele por negligência. E se empregais – corretamente – tanta cautela para conservar o seu corpo, como julgais ser coisa menos ímpia se descuidar de sua palavra que ao seu corpo?” (Sobre o Êxodo. Homilía 13,3;)
“Antes, o batismo estava oculto na nuvem e no mar; agora, a regeneração está claramente na água e no Espírito Santo. Então o maná era alimento em enigma; agora claramente a carne do Verbo de Deus é verdadeiro alimento, como Ele mesmo diz: ‘Minha carne verdadeiramente é comida e meu sangue é verdadeiramente bebida‘” (Sobre Números. Homilía 7,2).
“…Se sobes, pois, para celebrar com Ele a Páscoa, te dará o cálice do Novo Testamento e te dará também o pão da bênção; te concederá seu corpo e sangue” (Sobre Jeremias. Homilia 19,13).
“E entrarão nelas [as coisas escolhidas do mundo] sem consideração {Ez 7,22 LXX; cfr. v.20 LXX} …Assim, deve-se dizer que entra sem consideração nas coisas santas da Igreja aquele que, após o ato conjugal, indiferente à impureza que contraiu, consente em orar sobre o pão da Eucaristia; esta pessoa profana as coisas santas e pratica uma ação descomposta” (Sobre Ezequiel 7,22;).
“Não temes comungar o corpo de Cristo ao te aproximares da Eucaristia como se fosses limpo e puro? Como podereis fugir ao juízo de Deus? Não recordas daquilo que está escrito: ‘Por isso há entre vós muitos debilitados e doentes e muitos que morrem’? Por que muitos debilitados? Porque não julgam a si mesmos, não se auto examinam, não entendem o que é participar da Igreja, nem o que é aproximar-se de tantos e tão exímios sacramentos. Padecem daquilo que costumam a padecer os febris quando se atrevem a comer dos manjares dos sãos; ou seja, trazem para si a própria ruína” (Sobre o Salmo 37. Homilía 2,6;).
“E Celso, por essa razão, como homem que desconhece a Deus, oferece suas obras de graças aos demônios. Nós, ao contrário, dando graças ao Criador de tudo, comemos dos pães oferecidos com a ação de graças e a oração sobre os dons recebidos, constituídos pela oração em um corpo santo e santificador dos que se servem dele com são propósito” (Contra Celso. L.8. c33;).
“[Mat. 26,23]… E se podes entender a mesa espiritual e o alimento espiritual e a ceia do Senhor, de tudo isto tinha se dignado Cristo fazer participar [a Judas]; mas verás que pela grandeza de sua maldade – eis que entregou o Salvador, mestre e também alimento da divina mesa e do cálice (e isto no dia da Páscoa) – sem dar atenção aos bens corporais do amor do mestre, nem dos [bens] espirituais de sua doutrina, repartida sempre sem inveja. Como este [Judas] são na Igreja todos aqueles que levantam azedumes contra os seus irmãos, com os quais frequentemente estiveram juntos na mesma mesa do corpo de Cristo e no mesmo cálice de seu sangue” (Orígenes. Serie de comentários. 82).
No entanto, Jesús Solano comenta, que Orígenes tem um texto muito discutido que reproduziremos abaixo, embora não seja em si um texto eucarístico, ele usa em sentido alegórico a terminologia eucarística. Para quem conhece a paixão de Origines de inter-relacionar entre si textos da Sagrada Escritura e de procurar alegorias em naquela atmosfera de “gnose”, em Alexandria, não oferece problema sério sobre a ortodoxia de Orígenes se expressar com tais alegorias. Seria injusto para com o escritor e anticientífico deduzir o pensamento eucarístico de Orígenes de uma ou outra passagem e não todas elas. Apesar de Orígenes ter tido vários oponentes não há notícia de que ninguém que o impugnasse por sua doutrina eucarística menos pura.
“Este pão que o Deus Verbo confessa ser o seu corpo é a palavra que alimenta as almas, palavra procedente do Deus Verbo e pão do pão celestial que tem sido posto sobre a mesa, sobre a qual foi escrito: ‘Preparaste diante de mim uma mesa a vista dos meus perseguidores’. E esta bebida que o Deus Verbo confessa ser o seu sangue é a palavra que apaga a sede e embriaga prodigiosamente os corações daqueles que o bebem, bebida que está no cálice, sobre o qual foi escrito: ‘E quão excelente é o teu cálice que embriaga’. E esta bebida é fruto da verdadeira Videira, que diz: ‘Eu sou a verdadeira videira’ e este é o sangue daquela uva que, lançada no lagar da Paixão, produziu esta bebida. Como também o pão é a palavra de Cristo, feito daquele trigo que, caindo na terra, deu muito fruto. Porque não àquele pão visível que tinha nas mãos dizia o Deus Verbo [ser o] seu corpo, senão à palavra em cujo mistério deveria ser partido aquele pão; nem àquela bebida visível dizia [ser o] seu sangue, senão à palavra em cujo mistério deveria ser derramado. Porque o corpo ou sangue do Deus Verbo que outra coisa pode ser senão a palavra que alimenta e a palavra que alegra o coração?” (Orígenes. Série de comentários. 85).
SÃO CIPRIANO DE CARTAGO (258 D.C)
São Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de família rica e culta. Dedicou-se em sua juventude à retórica. O desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes pagãos contrastado com a pureza de costumes dos cristãos, o induziu a abraçar o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi eleito bispo de Cartago.
Dele se conservam uma grade variedade de escritos (uma dezena de opúsculos e 81 cartas). Sobre sua vida se conserva Vita Cypriani (Um conjunto de manuscritos atribuídos a seus diácono Poncio) e sobre seu martírio se conservam as Acta proconsularia Cypriani, baseada em documentos oficiais. Na antiguidade Cristã e em sua idade média foi um dos autores mais populares. Sua doutrina coincide substancialmente com a de Tertuliano, do qual era leitor assíduo e o considerava como “mestre”.
Um dos problemas que chamou sua atenção foi a atitude que teria que tomar com os que haviam apostatado durante a perseguição, oferecendo sacrifícios a ídolos. Muitos deles quiseram logo voltar a Igreja e serem participantes da Eucaristia.
Os textos eucarísticos de São Cipriano são muitos para comentar todos.
“… Mãos esclarecidas, que não estavam feitas senão obras divinas, resistiram aos sacrifícios sacrílegos; as bocas santificadas com os manjares celestiais depois do corpo e o sangue do Senhor rejeitaram o contágio do profano e os restos de seus ídolos.” (São Cipriano Sobre os que caíram em Idolatria, II)
“Voltando dos altares do diabo se cercaram ao santo do Senhor com mãos sódidas e infectadas pelo fedor; arrotando porém quase toda via os mortíferos alimentos dos ídolos, assaltaram o corpo do Senhor com as mandíbulas que exalavam ainda seu crime e fedendo os funestos contágios, descumprindo assim a Escritura Divina, que clama e diz: [Lev 7,20; 1 Cor 10,21; 11,27]… ” (São Cipriano Sobre os que caíram em Idolatria, XV)
“... Armemos também a destra com a espada espiritual, para que rejeitem com força os funestos sacrifícios, para que se lembrem da Eucaristia, a [destra] que recebe o corpo do Senhor, se a feche, ela que em breve há de receber do Senhor o prêmio das coroas celestiais.” (Carta 58 n.9 (HARTEL, 665, BAYARD, ML 4,357 A).)
“…Ameaça agora uma luta mais dura e mais feroz, a qual se deve preparar os soldados de Cristo com uma fé incorrupta e uma virtude robusta, considerando que por isso bebem todos os dias o cálice do sangue de Cristo para poder derramar seus próprios sangues por Cristo”. (Carta 58 n.1 (HARTEL, 656s, BAYARD, ML 4,350 A: epist 56).)
“Pois é a Eucaristia onde são ungidos os batizados, o óleo santificado no altar, mas não pude santificar a criatura do óleo quem não tem nem altar nem Igreja. Nem tampouco a unção espiritual, pois não pode haver entre os hereges, posto que entre eles é absolutamente impossível consagrar o óleo e fazer a Eucaristia.” (Carta 70 n.2 (HARTEL 768, BAYARD, ML 3,1040 A – 1041 A: epist. Synod. Conc. Carthag).)
“3. Antes de se extinguir o medo da perseguição, antes de nosso regresso, antes quase no mesmo trânsito dos mártires, têm comunhão com os mortos, oferecem e entregam a Eucaristia.“(Carta 16. n.2ss (HARTEL, 518ss; Bayard; ML 4,251 A – 253 B epist. 9))
“Oferecemos por eles Sacrifícios, como os lembrais, sempre que na comemoração atual os dias da paixão dos mártires.” (Carta 39 n.3 (HARTEL, 583, BAYARD, ML 4,323 A: epist. 34)).
“... Em primeiro lugar, você não está apto ao martírio a quem a Igreja não armou para a luta, e dá o espírito ao que não levanta e inflama a Eucaristia recebida.” (Carta 57 n.4 (HARTEL, 651ss, BAYARD, ML 3,856 A – 858 A: epist synod. Conc. Carthag).)
FIRMILIANO, BISPO DE CESÁREA (268 D.C)
“… Caso contrário, quão grande crime é daqueles que são admitidos ou aqueles que admitiram tocar o corpo e sangue do Senhor, não havendo lavado as suas manchas através do batismo da Igreja, e havendo deposto seus pecados, havendo usurpado temerariamente comunhão, ao passo que está escrito: Quem quer comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor.” (Firmiliano Extratos Carta 75, 10, 21)
NOVACIANO (MEADOS DO SÉCULO III)
Era homem erudito e inteligente, formado na filosofia estoica, professor de retórica, e com uma grande reputação em Roma. Seus adversários, que são quase a única fonte de informação. O primeiro teólogo romano que escreve em latim com grande elegância, e através de seus escritos reflete um caráter parecido com o de Tertuliano.
Recebemos quatro de suas obras. Sabemos o nome de sete outros escritos, e que escreveu muitos mais. Felizmente preserva o mais importante de tudo que escreveu, Sobre a Trindade; Na qualquer ele na qual ele recorre a doutrina tradicional, expressa por autores anteriores, mas com maior precisão e ordem, e também mais extensa e completa, ele deve ter escrito antes de sua ruptura com a Igreja. As outras três obras convervadas tratam de temas morais, expostos com certa extensão, e são sobre os alimentos dos judeus, e sobre os espetáculos e sobre as vantagens da castidade.
O extrato da carta reproduzida abaixo, questiona o absurdo de cristão irem a espetáculos pagãos. Lhe parece altamente reprovável a atitude de um cristão que se atreve a entrar nos locais indignos com a Eucaristia.
“Atrevendo-se a levar consigo ao bordel o santo, se havia possuído, o que apressando-se a ir ao espetáculo, despedindo do sacrifício do Senhor e levando consigo, como é de costume, a eucaristia, levou este infiel, por entre os corpos obscenos das meretrizes, o santos corpo de Cristo, merecendo amis castigo por este caminho que por comparecer ao espetáculo.” (Novaciano. Sobre os espetáculos. C.5)
CONCLUSÃO
Com isso eu vou acabar com esse breve resumo do que a Igreja ensinou durante os três primeiros séculos, abranger os primeiros seis séculos seria muito mais extenso, mas a evidência é ainda mais abundante. Eu sugiro se aprofundar nas obras mencionadas na bibliografia para obter mais informações.
Agora, se a São Tomás de Aquino viveu 1225-1274 d.C é atribuída a invenção da transubstanciação é quase uma piada, oq ue Aquino fez foi, usando essa terminologia, explicar a conversão do pão eucarístico e do vinho, que apoia a presença real de Cristo. Muito mais absurdo é afirmar como faz a Igreja de Deus de Israel que os pais ignoraram essa doutrina durante os primeiros seis séculos, uma vez que existem referências históricas tão abundantes. Isso só pode ser feito para tirar proveito da ignorância de seus membros.
Voltando a São Tomás, o que ele tenta responder é uma questão central na teologia eucarística: Como aderir de modo claro a realidade visível significante (o pão e o vinho) e a realidade invisível significada (o corpo e o sangue de Cristo)? De acordo com São Tomás, os dois são preservados no ensino da transubstanciação: Por um lado, os acidentes de pão e vinho são símbolos que significam verdadeira paixão e ressurreição de Cristo: o que você vê é o fato significativo. Além disso, o que é invisível aos sentidos, a conversão do pão e do vinho no corpo e sangue de Cristo, serve para levar os fiéis à realidade significada, a presença real da pessoa do Salvador.
São Tomás entende por substância uma coisa ou uma pessoa examinada em seu ser intrínseco, dotada de uma unidade e consistência própria, feita a abstração de suas várias qualidades e propriedades. Um homem, composto de muitas substâncias diferentes (sangue, ossos, tecidos…) é sempre uma única substância. Por isso São Tomás quis dizer que na Eucaristia há uma mudança de substância no sentido de que o ser intrínseco do pão e do vinho, uma realidade metafísica, não pode ser experimentada pelos sentidos é invisível, torna-se o ser intrínseca do corpo e do sangue de Cristo. O corpo de Cristo não pode ser tocado ou comido em sua própria espécie, mas apenas nas espécies sacramentais que escondem dos nossos olhos e de nossa experiência sensorial.
Em resumo, embora a igreja primitiva não usou a palavra “Transubstaciação”, acreditou a mesma coisa que ela diz: “que o pão e o vinho consagrados são o corpo e sangue do Senhor.”
BIBLIOGRAFIA
Textos Eucarísticos Primitivos, Tomo I por Jesús Solano, B.A.C.
Padres apostólicos, por Daniel Ruiz Bueno, B.A.C.
Padres apologistas gregos, Daniel Ruiz Bueno, B.A.C.
A Eucaristia em Santo Tomás de Aquino, por elescoliasta.org
A biografias dos santos padres e apologistas primitivos foram tomadas de mercaba.org
PARA CITAR
ARRAIZ, José Miguel. A transubstanciação (Eucaristia) e a Igreja Primitiva. Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/586-a-transubstanciacao-eucaristia-e-a-igreja-primitiva >. Desde 19/04/2013. Tradução: Rafael Rodrigues