Sábado, Dezembro 21, 2024

A oração pelos mortos

O Catecismo da Igreja diz que “os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu.” (nº 1030). Por isso, a Igreja sempre julgou salutar a oração pelos mortos para a satisfação das penas de seus pecados, bem como para que alcançassem o perdão de Deus. Além disso, as orações transmitem uma nova alegria aos mortos, que se regozijam pelas orações que lhe são oferecidas.
 
As Sagradas Escrituras são claras de que esse costume é valioso.
 
Lemos no segundo livro de Macabeus: “(Judas Macabeu) tendo feito uma coleta mandou duas mil dracmas de prata a Jerusalém para se oferecer um sacrifício pelo pecado. Obra bela e santa, inspirada pela crença na ressurreição, porque se ele não esperasse que os mortos haviam de ressuscitar, seria coisa supérflua e vã orar pelos defuntos. Ele considerava que aos falecidos na piedade está reservada uma grandíssima recompensa. SANTO E SALUTAR ESSE PENSAMENTO DE ORAR PELOS MORTOS, para que sejam livres dos seus pecados”. (12, 43-46)
 
No livro de Tobias também lemos: “Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepulta-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor” (12,12)
 
Também São Paulo, na 2ª Epístola a Timóteo, cap.1, vers.18, assim ora a Deus pelo amigo Onesíforo, já morto: “Que o Senhor lhe conceda a graça de obter misericórdia do Senhor naquele dia”(2 Tm 1,18)
 
São Paulo, na 1ª Coríntios, também diz: “Doutra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam eles então pelos mortos?” (1 Coríntios 15,29). Embora essa passagem tenha outras interpretações, em uma obra chamada Testamento, atribuída a Santo Efrem (os estudiosos disputam se a autoria é verdadeira), interpreta-se que se refere as orações e ao santo sacrifício do culto pelos mortos
 
Nosso Senhor também diz: “Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos”. (Lucas 16,9). Santo Agostinho explica que por “amigos” se deve entender os santos que reinam com Cristo que nos ajudarão com suas orações quando morrermos (A Cidade de Deus, L. 21, c. 27).

Os Padres da Igreja também noticiam esse costume da Igreja.
 
Santo Agostinho apresenta a negação de Ário dos oferecimentos pelos mortos como uma de suas heresias, em sua obra As Heresias. Em sua obra “Do cuidado devido aos mortos”, diz: “a autoridade da Igreja universal que se reflete nesse costume não é pequena”. E mais: “não há dúvida que eles (os mortos) são beneficiados pelas devoções que os fiéis manifestam”. Santo Epifânio apresenta o costume de orar pelos mortos como um dever imposto pela tradição (Adv. Haer., III, lxxx, P.G., XLII, 504 sq.), inclusive diz que Ário era um herege também porque negou esse ponto, em haeresi 75. Está claro, portanto, que esse ponto não era trivial para os Padres da Igreja, mas um ponto de fé.
 
A oração pelos mortos para os Padres da Igreja sempre esteve vinculada com o caráter de satisfação dos pecados dos mortos e o perdão de Deus. Isso se torna uma prova, inclusive, do purgatório e de que este já era considerado dogma pelos Padres da Igreja. Algumas passagens nesse sentido:
 
São João Crisóstomo diz (hom. 33 em Mat.), exortando os homens a dar esmolas por seus filhos mortos: “Você acha que ele é puro do pecado? Dê suas posses a outros para que ele se purifique dessas manchas; você acha que ele morreu na justiça? Ofereça o seu para ele aumentar a recompensa e o pagamento”.
 

Dionísio (de Eclesiast. Hierarch, c. 7, par. 3) disse: “Então o venerável bispo que se aproxima realiza a sagrada oração pelos mortos; essa oração pede misericórdia divina para que ele possa perdoar todos os pecados cometidos pelo morto através da fragilidade humana, e colocá-lo na luz e na terra dos vivos”.
 
São Jerônimo, em uma epístola a Pammachius, com a morte de sua esposa Paulina, diz: “Outros maridos espalham violetas, rosas, lírios e flores roxas sobre os túmulos de suas esposas; nosso Pammachius rega suas cinzas sagradas e ossos veneráveis ​​com o doce bálsamo da ação de esmolas. Com essas especiarias e perfumes, ele mantém as cinzas em repouso, sabendo que está escrito: assim como a água extingue o fogo, também esmola o pecado”.
 
São Paulino de Nola, em uma epístola ao mesmo Pammachius, o elogia porque ele havia satisfeito tanto o corpo como a alma de sua falecida esposa, o corpo dela pelas lágrimas, a alma pela esmola. O mesmo santo diz na epístola 5 a um bispo chamado Delphinus, elogiando-lhe a alma de seu irmão: “Cuide para que, com suas orações, ele possa receber perdão, e do menor dedo de sua santidade as gotas escorregadias de descanso eterno possam borrifar sua alma”.
 
Santo Isidoro (lib. 1 de oficiis divinis, c. 18) diz: “A menos que a Igreja Católica acreditasse que os pecados são remidos aos fiéis falecidos, ela não daria esmolas nem ofereceria missa a Deus por seus espíritos”.
 

Santo Agostinho (Do cuidado devido aos mortos) diz: “Esta resposta seria suficiente para a pergunta que me fizeste, mas creio que ela acaba gerando outras questões que preciso também abordar. Peço-te, assim, atenção! Lemos, no livro dos Macabeus2, que foi oferecido um sacrifício pelos mortos. Ainda que não encontremos em qualquer outra parte do Antigo Testamento uma outra referência a esse respeito, não podemos subestimar a autoridade da Igreja universal, que manifesta esse costume, pois, nas preces que o sacerdote dirige ao Senhor Deus junto ao altar, existe espaço especialmente reservado para a encomendação dos falecidos”.
 
 

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