O Nordeste brasileiro é um território rico em expressões culturais e religiosas que, embora marcadas pela tradição católica, carregam influências profundas de outras crenças e práticas. Dentre essas, a presença judaica, particularmente a dos criptojudeus – descendentes de judeus que diziam se converter ao cristianismo, mas continuavam a praticar o judaísmo em segredo – deixou marcas indeléveis em costumes, superstições e práticas que ainda hoje são perceptíveis no cotidiano.
Criptojudeus: Uma História de Práticas Ocultas
Durante os séculos XVI e XVII quando os judeus foram expulsos de Portugal e vieram para o Brasil. Por não poderem praticar judaísmo publicamente no Brasil e se estabeleceram no nordeste, especialmente no sertão do norte da Bahia passando pela Paraíba até Piauí. Muitos judeus abandonaram publicamente sua religião e adotaram o catolicismo, enquanto em segredo preservavam práticas e crenças judaicas. Esses criptojudeus, conhecidos também como “novos cristãos”, encontraram refúgio em regiões mais isoladas, como o sertão nordestino, onde sua cultura e religião se mesclaram com o catolicismo predominante.
Costumes e Superstições com Raízes Judaicas
Alguns hábitos do catolicismo popular no Nordeste têm paralelos diretos com tradições judaicas. Embora adaptados às realidades locais, eles revelam a influência de práticas que se manteveram vivas mesmo após muito tempo.
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Não varrer a casa em direção à porta da rua
Este costume, bastante difundido no Nordeste, é associado à ideia de não “expulsar” a sorte ou as bênçãos do lar. Na tradição judaica, a casa é vista como um espaço sagrado que deve ser preservado, e gestos simbólicos relacionados à limpeza e organização muitas vezes refletem cuidado com a espiritualidade.
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Cuidado com o sal
Espalhar sal no chão para afastar o mau-olhado ou evitar derramá-lo são práticas comuns no Nordeste. No judaísmo, o sal tem significados espirituais profundos, sendo usado em rituais religiosos e na preservação de alimentos, simbolizando a aliança com Deus.
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Respeito ao sábado (Shabat)
Embora reinterpretado, o respeito a certos dias da semana, especialmente o sábado, é evidente em algumas tradições nordestinas, como evitar atividades consideradas “pesadas” nesse dia. Isso ecoa a observância do Shabat, um dia sagrado de descanso e reflexão no judaísmo.
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Velas como elemento de proteção
Acender velas para os mortos ou em momentos de necessidade é uma prática frequente no catolicismo popular. No judaísmo, as velas possuem um papel essencial em rituais, como o acendimento das velas de Shabat, e em cerimônias de luto, simbolizando a presença divina e a alma humana.
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Chápeu do Vaqueiro
O chapéu do vaqueiro, no estilo popularizado por Luiz Gonzaga, é frequentemente associado a um símbolo do sertão, mas também carrega uma possível conexão com o judaísmo. Seu formato circular com abas laterais lembra o quipá, o tradicional adorno judaico usado como sinal de reverência e respeito a Deus. Essa semelhança é interpretada por estudiosos como mais uma herança dos criptojudeus, que, ao adaptar suas práticas e símbolos ao contexto local, mantiveram parte de sua identidade cultural de forma discreta.
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Os funerais
No sertão nordestino, o cuidado com os mortos reflete profundas raízes culturais e espirituais. Um exemplo disso é o antigo costume de não enterrar os corpos em caixões, mas sim envolvê-los em panos ou redes, prática que em algumas comunidades remotas ainda perdura. Essa tradição pode estar relacionada à crença judaica de que o corpo deve retornar à terra de forma simples, sem grandes adornos, simbolizando humildade diante de Deus e respeito pelo ciclo natural da vida. Esses rituais reforçam a ideia de uma conexão espiritual entre as tradições judaicas e os costumes populares do Nordeste.
- As Benzedeiras e a Cabala
No Nordeste, as benzedeiras – figuras tradicionais que combinam rezas e gestos simbólicos – muitas vezes recitam orações e realizam práticas que remetem à mística judaica, como o uso de palavras sagradas e a crença na força curativa de letras ou números. Isso se aproxima da tradição cabalística, que valoriza o poder espiritual contido em símbolos e textos.
CONCLUSÃO
Essas são apenas algumas práticas bem difundidas em meio a tantas outras que existem no nordeste com suas origens no judaísmo.