Sexta-feira, Novembro 15, 2024

A Doutrina Eucarística de Santo Agostinho

INTRODUÇÃO


Agostinho foi bispo de Hipona (litoral noroeste da África). Nasceu em Tagaste (Numídia) em 13 de Novembro de 354 e morreu em Hipona em 28 de Agosto de 430. Ele é um dos mais proeminentes doutores da Igreja. Em seu ministério combateu fortemente as heresias dos Maniqueus e Pelagianos. (ENCICLOPÉDIA CATÓLICA, 1907).

Neste presente texto desejamos estudar qual o ensinamento agostiniano em relação ao sacramento da ceia do Senhor, afim de elucidar como a fé bi-milenar da Igreja não inova, mas repete sempre o mesmo pensamento, comparando o ensinamento agostiniano e o que ensina o catecismo católica atual.

Já temos um texto anterior que refuta as alegações de hereges e polemistas que querem perverter o pensamento agostiniano para o seu próprio benefício (pode ser lida aqui) portanto não trataremos no escopo do presente texto estas controvérsias.

A DOUTRINA EUCARÍSTICA AGOSTINIANA


Assim define a doutrina Eucarística de Santo Agostinho, o historiador e renomado estudioso protestante JND Kelly:

Há certamente passagens em seus escritos que dão uma justificativa superficial para todas essas interpretações, mas um veredicto equilibrado deve concordar que ele aceitou o realismo atual. Assim, na pregação sobre ‘o sacramento da Ceia do Senhor ‘ para pessoas recém-batizadas, ele comentou [Serm 227] ‘Esse pão que você vê no altar, santificado pela Palavra de Deus, é o corpo de Cristo. Essa taça, ou melhor, o conteúdo dessa taça, santificado pela Palavra de Deus, é sangue de Cristo. Por esses elementos o Senhor Jesus Cristo quis transmitir Seu corpo e sangue, que Ele derramou por nós.’

‘Você sabe’, ele disse em outro sermão [Serm 09:14], 'o que você está comendo e que você está bebendo, ou melhor, a quem você está comendo e quem você está bebendo.’ Comentando sobre licitação do salmista que devemos adorar o escabelo de seus pés, ele apontou [Enarr no Salmo 98:9] que esta deve ser a terra. Mas uma vez que adorar a terra seria uma blasfêmia, ele concluiu que a palavra deve misteriosamente significar a carne que Cristo tomou da terra e que Ele nos deu para comer. Assim era o corpo eucarístico que exigia adoração.

Mais uma vez, ele explicou [Enarr em Salmo 33, 1, 10] a frase: ‘Ele foi levado em suas mãos’ (LXX de 1 Sam 21:13), que no original descreve a tentativa de David de dissipar as suspeitas de Aquis, como referindo-se o sacramento: ‘Cristo foi realizada em suas mãos, quando ele ofereceu seu próprio corpo e disse: ‘Este é o meu corpo’.

Poderíamos multiplicar os textos como estes que mostram Agostinho tomando por garantido a tradicional identificação dos elementos com o sagrado corpo e sangue. Não pode haver nenhuma dúvida de que ele compartilhou o realismo assegurado por quase todos os seus contemporâneos e antecessores.( Kelly, Early Christian Doctrines, pp. 446-47.)

 

1 – A TRANSUBSTANCIAÇÃO

Uma das provas mais explicita que Santo Agostinho cria na transubstanciação é quando ele usa o verbo do latim “fit” (Fazer-se, transforma-se) para indicar a transformação do pão no corpo de Cristo:

Hoc quod videtis, carissimi, in mensa Domini, panis est et vinum; SED ISTE PANIS ET HOC VINUM ACCEDENTE VERBO FIT CORPUS ET SANGUIS VERBI. Ille enim Dominus, qui in principio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum 1, propter misericordiam suam, qua non contempsit quod creavit ad imaginem suam, Verbum caro factum est, et habitavit in nobis , sicut scitis; quia et ipsum Verbum adsumpsit hominem, id est, animam et carnem hominis, et homo factus est, manens Deus.”

Querido, você está vendo isso em cima da mesa do Senhor é o pão e o vinho. MAS ESTE PÃO E VINHO SE TORNAM O CORPO E O SANGUE DO VERBO AO CHEGAR A PALAVRA. De fato, o Senhor, o Verbo que existia no princípio, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus, porque a sua misericórdia, que o impediu de desprezar o que ele criou a sua imagem, se fez carne e habitou entre nós, como sabeis. Como a própria palavra se fez homem, isto é, a alma e a carne do homem, e se fez homem permanecendo Deus. Por isso, uma vez que ele também sofreu por nós, confiamos este sacramento de seu corpo e sangue, que também transformou a nós mesmos. Na verdade, nós também nos tornamos seu corpo, por sua misericórdia, somos o que recebemos. (Sermão 229, 1) [http://www.augustinus.it/…/discorsi/discorso_302_testo.htm]

Assim como na doutrina católica:

A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, PELAS QUAIS A IGREJA É ELA MESMA, A EUCARISTIA, as significa e as realiza. Nela está o clímax tanto da ação pela qual, em Cristo, Deus santifica o mundo, como do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por ele, ao Pai.(CIC – Parágrafo 1325)

Em seu sermão 234 repete:

Norunt fideles quid dicam: norunt Christum in fractione panis. Non enim omnis panis, sed accipiens benedictionem CHRISTI, FIT CORPUS CHRISTI.”

O Senhor Jesus queria que aqueles cujos olhos foram mantidos para reconhecê-lo, reconhecê-lo no partir do pão [Lucas 24:16,30-35]. Os fiéis sabem o que eu estou dizendo que eles conhecem a Cristo na fração do pão. Pois nem todo pão, mas apenas aquele que recebe a bênção de Cristo, TORNA-SE CORPO DE CRISTO.” (Sermões 234, 2) [http://www.augustinus.it/…/discorsi/discorso_329_testo.htm]

Exatamente como na doutrina católica:

Encontram-se no cerne da celebração da Eucaristia o pão e o vinho, os quais, pelas palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, SE TORNAM O CORPO E O SANGUE DE CRISTO.” (CIC – Parágrafo 1333)

"Pela consagração do pão e do vinho se efetua a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo Nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue. Esta conversão foi com muito acerto e propriedade chamada pela Igreja Católica de TRANSUBSTANCIAÇÃO [cân. 2]."  (Concílio de Trento Sessão 4)

 

2 – A ADORAÇÃO EUCARÍSTICA

Sustenta que devemos adorar a Eucaristia:

Engrandeça o senhor nosso Deus (Salmo 98, 5). Engrandecei-o verdadeiramente, engrandecei-o bem. Vamos louvá-Lo, vamos engrandecer Aquele que forjou a própria justiça que temos; que operou em nós, Ele prórpio. Pois quem, além d’Ele que nos justifica, praticou a justiça em nós? Pois de Cristo é dito, que justifica o ímpio. (Romanos 4, 5)… E, prostre-se diante escabelo de seus pés, porque Ele é santo. Diante do que nós nos protramos? O Escabelo de seus pés. O que está sob os pés é chamado de um escabelo[1], em grego ποπόδιον ὑ, em latim Scabellum ou Suppedaneum. Mas considere, porém, irmãos, que ele nos ordena a prostrar-nos. Em outra passagem das Escrituras é dito, O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. (Isaías 66, 1) Ele, em seguida, manda-nos adorar a terra, já que em outra passagem isto é dito, o que é escabelo de Deus? Como, então, devemos adorar a terra, quando a Escritura diz abertamente, que você deve adorar o Senhor, o seu Deus? (Deuteronômio 6, 13). No entanto, aqui ele diz, prostravam-se diante escabelo de seus pés, e, explicando-nos o escabelo de seus pés é, ele diz: A terra é o meu escabelo. Estou em dúvida, eu temo adorar a terra, pois Aquele que fez o céu e a terra pode me condenar; novamente, tenho medo de não adorar o escabelo do meu Senhor, pois o Salmo me manda, prostravam-se diante escabelo de seus pés. Eu pergunto, o que é escabelo de seus pés? E a Escritura diz-me, a terra é o meu escabelo. Hesitando, eu me viro a Cristo, uma vez que eu estou aqui procurando Ele próprio: e descubro como a Terra pode ser adorada sem impiedade, e como o escabelo de seus pés pode ser adorado sem impiedade. Pois Ele tomou sobre Si terra da terra; porque a carne é da terra, e Ele recebeu a carne da carne de Maria. E PORQUE ELE ANDOU AQUI NA PRÓPRIA CARNE, E QUE DEU A PRÓPRIA CARNE, PARA NOS COMERMOS PARA NOSSA SALVAÇÃO, E NINGUÉM COME ESSA CARNE, A MENOS QUE TENHA ADORADO PRIMEIRO: descobrimos em que sentido tal um escabelo de nosso senhor pode ser adorado, E NÃO SÓ ISSO, NÃO PECAMOS EM ADORAR, MAS QUE PECAMOS EM NÃO ADORAR..” (Sobre o Salmo 98, 8)
[http://www.newadvent.org/fathers/1801099.htm]

Agostinho explica que quando a bíblia fala sobre "adorar o escabelo (estrado)" de Deus, está dizendo que se deve adorar a Terra, por que a Terra é o Escabelo de Deus conforme diz o Salmo, e Agostinho diz que tem medo de adorar a Terra por que é idolatria e Deus poderia puni-lo, mas descobre que a "Terra" é a Carne de Cristo, por que ele recebeu esta carne da terra, então ele entende em que sentido se pode adorar o escabelo de Deus.

Isto é o que também ensina a doutrina católica:

VISTO QUE CRISTO MESMO ESTÁ PRESENTE NO SACRAMENTO DO ALTAR, É PRECISO HONRÁ-LO COM UM CULTO DE ADORAÇÃO. ‘A visita ao Santíssimo Sacramento é uma prova de gratidão, um sinal de amor E UM DEVER DE ADORAÇÃO PARA COM CRISTO, nosso Senhor.’(CIC – Parágrafo 1418)

Outra vez em seu comentário ao Salmo 21 explica:

COMERAM E ADORARAM-NO TODOS OS RICOS DA TERRA, MESMO OS RICOS DA TERRA COMERAM O CORPO HUMILDE DE SEU SENHOR, mas não se portaram como os pobres até chegar a imitação; contudo o adoraram. Diante dele, tudo o que se prostraram todos os que vem a terra…(Salmo 21, explicação I, 30) [ http://www.augustinus.it/spagnolo/esposizioni_salmi/esposizione_salmo_022_testo.htm]

 

3 – A CELEBRAÇÃO SACRIFICIAL EUCARÍSTICA EM BENEFÍCIO DOS MORTOS

Santo Agostinho sustenta que a ceia que é sacrifício do Senhor é benéfica às almas dos mortos:

Também não se pode negar que as almas dos mortos encontram alívio com a piedade de seus amigos e parentes que ainda estão vivos, quando O SACRIFÍCIO MEDIADOR É OFERECIDO POR ELES, ou quando a esmola é dada na igreja.” (Manual de Fé, esperança e amor 110) [http://www.newadvent.org/fathers/1302.htm]

Mas, pelas orações da Santa Igreja, E PELO SACRIFÍCIO SALVÍFICO, E PELAS ESMOLAS QUE SÃO DADAS PARA SEUS ESPÍRITOS, NÃO HÁ DÚVIDA DE QUE OS MORTOS SÃO AJUDADOS, PARA QUE O SENHOR POSSA LIDAR MAIS MISERICORDIOSAMENTE COM ELES DO QUE SEUS PECADOS MERECERIAM. POIS TODA A IGREJA OBSERVA ESTA PRÁTICA QUE FOI TRANSMITIDO PELOS PAIS que reza por aqueles que morreram na comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, quando são comemorados em seu próprio lugar no próprio sacrifício; e o Sacrifício é oferecido também na memória deles, em seu nome. Se, as obras de misericórdia são celebradas para o bem daqueles que estão sendo lembrados, quem hesitaria em recomendar-lhes, em cujo nome orações a Deus não são oferecidos em vão? Não tem nada para se duvidar de que essas orações são de lucro para os mortos; mas para, dentre eles, os que viveram antes de sua morte, de uma forma que torna possível para essas coisas para serem úteis para eles depois da morte.”(Sermões 172, 2) [http://www.augustinus.it/…/discorsi/discorso_223_testo.htm]

Novamente, isto é exatamente o que ensina o catecismo da Igreja católica, que ainda cita Agostinho como referencia a esta doutrina:

O SACRIFÍCIO EUCARÍSTICO É TAMBÉM OFERECIDO PELOS FIÉIS DEFUNTOS “que morreram em Cristo e não estão ainda plenamente purificados”, para que possam entrar na luz e na paz de Cristo: Enterrai este corpo onde quer que seja! Não tenhais nenhuma preocupação por ele! Tudo o que vos peço é que vos lembreis de mim no altar do Senhor onde quer que estejais. Em seguida, oramos [na anáfora] pelos santos padres e Bispos que faleceram, e em geral por todos os que adormeceram antes de nós acreditando que haverá muito grande benefício para as almas, em favor das quais a súplica é oferecida, enquanto se encontra presente a santa e tão temível vítima. (…) Ao apresentarmos a Deus nossas súplicas pelos que adormeceram, ainda que fossem pecadores, nós (…) apresentamos o Cristo imolado por nossos pecados, tomando propício, para eles e para nós, o Deus amigo dos homens.

SANTO AGOSTINHO RESUMIU ADMIRAVELMENTE ESTA DOUTRINA QUE NOS INCITA A UMA PARTICIPAÇÃO CADA VEZ MAIS COMPLETA NO SACRIFÍCIO DE NOSSO REDENTOR, QUE CELEBRAMOS NA EUCARISTIA: Esta cidade remida toda inteira, isto é, a assembléia e a sociedade dos santos, é oferecida a Deus como um sacrifício universal pelo Sumo Sacerdote que, sob a forma de escravo, chegou a ponto de oferecer-se por nós em sua paixão, para fazer de nós o corpo de uma Cabeça tão grande. (…) Este é o sacrifício dos cristãos: “Em muitos, ser um só corpo em Cristo” (Rm 12,5). E este sacrifício, a Igreja não cessa de reproduzi-lo no sacramento do altar bem conhecido pelos fiéis, onde se vê que naquilo que oferece, se oferece a si mesma.” (CIC – Parágrafo 1371 à 1372)

 

4 – A VIDA RECEBIDA ATRAVÉS DA EUCARISTIA:

Para Agostinho na Eucaristia temos vida:

Por esses sacrifícios da Antiga Lei, este sacrifício é representado, no qual há uma verdadeira remissão dos pecados; MAS NINGUÉM É SOMENTE PROIBIDO DE LEVAR COMO COMIDA O SANGUE DESTE SACRIFÍCIO, PELO CONTRÁRIO, TODOS OS QUE DESEJAM POSSUIR VIDA SÃO EXORTADOS A BEBER DO MESMO. (Perguntas sobre o Heptateuco 3, 57)

 

5 – PARA SE TORNAR O CORPO DE CRISTO É NECESSÁRIO A CONSAGRAÇÃO

Em sua obra contra fausto que acreditava que Cristo estava presente desde a uva, ele evidencia que tem que haver consagração do pão para se tornar corpo do Senhor, ou seja, apenas após a consagração temos o Corpo de Cristo, nestas palavras se torna evidente que ocorre uma mudança do que era pão para o que é o corpo de Cristo:

Fausto pensa que temos prática religiosa idêntica a eles sobre o pão e o vinho, seja para o maniqueísta tomar o vinho não é uma prática religiosa, mas um sacrilégio. Eles que reconhecem na uva o seu Deus e não querem reconhecê-lo na cuba, como se lhes incomodasse o que algo foi pisado e se algo foi introduzido nela. EM VEZ DISSO, O NOSSO PÃO E O NOSSO CÁLICE, NÃO QUALQUER UM, como, segundo seus delírios, pensavam que Cristo é um prisioneiro nas espigas e nos ramos, MAS APENAS AQUELE QUE POR UMA CERTA FÓRMULA DE CONSAGRAÇÃO SE TORNA MÍSTICO PARA NÓS, NÃO NASCE. Portanto, QUANDO A CONSAGRAÇÃO NÃO É DADA, embora haja pão e o cálice são apenas alimento para reflexão, NÃO É SACRAMENTO RELIGIOSO, pondo de lado o que  abençoamos e agradecemos ao Senhor pelo seu dom, não apenas espiritual, mas também corporal.(Contra Fausto XX, 13) [http://www.augustinus.it/spagnolo/contro_fausto/libro_20_testo.htm]

Não basta dizer que esta é apenas uma mudança moral, como a que ocorre nos outros Sacramentos. Pois, no De Trinitate, ele representa a consagração misteriosa da Eucaristia como um milagre transcendente, ao lado da qual os outros milagres de Deus não tem nada surpreendente. O homem pode fazer o pão e vinho, mas para transformá-las em tão grande Sacramento, o Espírito Santo deve operar:

Eu chamo o corpo e o sangue de Cristo, não a linguagem do Apóstolo, ou o pergaminho e tinta utilizada, ou o som expresso, ou alfabetos impressos nas membranas, mas o fruto da terra formado pela semente, consagrado pela oração mística, recebemos segundo o rito para a saúde da alma em memória da Paixão do Senhor. SACRAMENTO FEITO VISÍVEL PELA INTERVENÇÃO DOS HOMENS, MAS SANTIFICADO PELA AÇÃO INVISÍVEL DO ESPÍRITO SANTO; ao Deus agir através de todos aqueles movimentos temporários que acontecem neste mistério, movendo antes as formas visíveis dos ministros, seja atuando sobre a vontade dos homens, ora sobre as virtudes de espíritos invisíveis sujeitos a Ele.(Sobre a Trindade III, 4, 10) [http://www.augustinus.it/spagnolo/trinita/trinita_03_libro.htm]

Assim o Espírito Santo Atua invisivelmente no pão e no vinho, isso é exatamente o que diz a doutrina católica. Embora as partes visíveis mantenham suas aparências, sua substancia ou parte invisível é feita corpo de Cristo pela ação do Espírito Santo.  Confirma isto novamente em seu sermão 272:

Sendo pequeno, tomou o peito, se alimentou, cresceu, atingiu a idade adulta, os judeus o perseguiram, penduraram-o no madeiro, ele morreu, o removeram, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, quando quis, subiu ao céu, levando o seu corpo; dali virá para julgar os vivos e os mortos, e agora lá está sentado à direita de Deus, “como pode este pão ser o seu corpo e o cálice, ou melhor, o que ele contém, ser o seu sangue? As realidades indicado, meus irmãos, são chamadas “sacramentos”, porque uma coisa é o que vemos e outra o que entendemos. O QUE VEMOS TEM ASPECTO CORPORAL; O QUE ENTENDEMOS FRUTO ESPIRITUAL.”. (Sermão 272) [http://www.augustinus.it/spagnolo/discorsi/discorso_383_testo.htm]

Esta é a mesma doutrina católica conforme o catecismo:

NA EPICLESE ELA PEDE AO PAI QUE ENVIE SEU ESPÍRITO SANTO (OU O PODER DE SUA BÊNÇÃO SOBRE O PÃO E O VINHO, PARA QUE SE TORNEM, POR SEU PODER, O CORPO E O SANGUE DE JESUS CRISTO, e para que aqueles que tomam parte na Eucaristia sejam um só corpo e um só espírito (certas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da anamnese). No relato da instituição, a força das palavras e da ação de Cristo e o poder do Espírito Santo tornam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo, SEU SACRIFÍCIO OFERECIDO NA CRUZ UMA VEZ POR TODAS.(CIC – Prágrafo 1353)

 

6 – O CARÁTER SACRIFICIAL DA EUCARISTIA

Para Agostinho Cristo é sacerdote e vítima e se oferece na ceia:

Cristo é tanto do Sacerdote, oferecendo a se mesmo, quanto a própria vítima Ele quis que o SINAL SACRAMENTAL disto devesse ser a oferta diária da Igreja, que, desde que a Igreja é seu corpo e Ele a cabeça, ela aprende a oferecer -se por meio dele.” (Cidade de Deus 10, 20)

Para Agostinho Cristo ao celebrar a ceia carregava seu próprio corpo em suas mãos:

Cristo foi carregado na sua própria mão a seguinte descrição, quando REFERINDO-SE AO SEU PRÓPRIO CORPO, ELE DISSE: ‘ESTE É O MEU CORPO’ (MATEUS. 26, 26). POIS ELE CARREGAVA AQUELE CORPO EM SUAS MÃOS.” (Explicação dos Salmos 33, I : 11). [http://www.augustinus.it/…/esposizione_salmo_044_testo.htm]

A EUCARISTIA COMO A RENOVAÇÃO DO SACRIFÍCIO DA CRUZ

Santo Agostinho cria totalmente no caráter Sacrificial da Eucaristia, como já foi demonstrado em várias passagens, porém deixa isso ainda mais claro em sua obra sobre 83 questões diversas:

Cristo, Sacerdote. Ele também é o nosso sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec, que se ofereceu como sacrifício pelos nossos pecados, E NOS INSTRUIU PARA CELEBRAR A RENOVAÇÃO DE SEU SACRIFÍCIO EM MEMÓRIA DE SUA PAIXÃO, de modo que O QUE MELQUISEDEQUE OFERECEU A DEUS VAMOS VER AGORA OFERECIDO NA IGREJA DE CRISTO POR TODA A TERRA.(Sobre 83 Questões Diversas – LXI, 2) [http://www.augustinus.it/spagnolo/ottantatre_questioni/ottantatre_questioni_libro.htm]

Agostinho aqui deixa claro que o Sacrifício do Culto Cristo é a renovação do Sacrifício da Cruz, tal qual a doutrina católica ensina:

A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, A ATUALIZAÇÃO e a oferta sacramental de seu único sacrifício na liturgia da Igreja, que é o corpo dele.” (CIC – Parágrafo 1362)

A Eucaristia é, portanto, um sacrifício PORQUE REPRESENTA (TOMA PRESENTE) o Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica seus frutos: [Cristo] nosso Deus e Senhor ofereceu-se a si mesmo a Deus Pai uma única vez, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, a fim de realizar por eles (os homens) uma redenção eterna.” (CIC – Parágrafo1366)

A apresentação das oferendas ao altar assume o gesto de Melquisedec e entrega os dons do Criador nas mãos de Cristo. E ele que, em seu sacrifício, leva à perfeição todos os intentos humanos de oferecer sacrifícios.” (CIC – parágrafo 1350)

E compara isto ao sacrifício que Melquisedeque oferecia, ora, o que Melquisedeque oferecia, não era algo “simbólico”, não era algo “representativo”, não era algo “com certa presença”, era um sacrifício real.

 

CONCLUSÃO


Como visto, a doutrina católica é a mesma agostiniana, tudo o que vimos nos escritos de Agostinho pudemos também encontrar no catecismo da Igreja Católica, são os mesmos ensinamentos em grau, número e gênero.  Por fim, conforme as obras de Santo Agostinho citadas tiramos as seguintes conclusões:

(1) O pão santificado "é o corpo de Cristo"

(2) O vinho santificado "é o sangue de Cristo"

(3) Sabemos que Cristo, no partir do pão, e não todo o pão, mas apenas aquele que recebe a bênção de Cristo "SE TORNA CORPO DE CRISTO."

(4) Quando Cristo disse: "Este é meu corpo". Ele carregou "seu próprio corpo" em "suas próprias mãos".

(5) Cristo é "imolado".

(6) Cristo é Sacerdote e Vítima e oferecendo-se no cotidiano sacrificar o seu Corpo, a Igreja oferece-se através de/com Ele.

(7) Todos os que desejarem ter a vida eterna deve tomar como alimento e beber o sangue do sacrifício de Cristo na Santa Comunhão.

(8) As almas dos mortos em Cristo encontrar alívio por meio do sacrifício do Mediador oferecido por eles e através das orações do Corpo vivo de Cristo na terra.

(9) Toda a Igreja observa essa prática transmitida dos pais – as orações da Santa Igreja, o sacrifício salvífico, esmolas, obras de piedade e misericórdia são oferecidos por aqueles que já morreram "na comunhão do Corpo e Sangue de Cristo", para que o Senhor possa lidar mais misericordiosamente com os seus pecados.

(10) Cristo nos deu a Sua própria carne "para ser comido para a salvação" e ninguém come essa carne, a menos que adore.

 

PARA CITAR


RODRIGUES, Rafael. A Doutrina Eucarística de Santo Agostinho. Disponível em: <http://apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/639-a-doutrina-eucaristica-de-santo-agostinho> Desde: 27/04/2014

 


[1] Um escabelo é um banco pequeno que serve de apoio aos pés por vezes utilizado por pedicures.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Artigos mais populares