Sábado, Dezembro 21, 2024

A CONVERSÃO DE CLÓVIS: UMA LUZ EM MEIO À BARBÁRIE

Muitos alegam que vivemos em uma era iluminada. O conhecimento borbulha e o ser humano atingiu o ápice da sua intelectualidade. As pessoas julgam-se aptas para debater qualquer assunto, pois na mentalidade vigente; a verdade é relativa. Ora, se a verdade é relativizada -ou por muitas vezes, em nossas universidades, negada- a busca pelo real conhecimento não faz sentido. Sem esse parâmetro a educação dá lugar à doutrinação. A mentira passa a ser verdade. Talvez, a idade média seja a maior vítima desse triste quadro. Diversos historiadores apontam, que dentre vários motivos que levaram á essa visão completamente errônea sobre o medievo, um deles se sobressai; O ódio para com a Igreja Católica. Não é de hoje que os inimigos da igreja tentam destruí-la. E logicamente, a medievalidade, sendo a época em que tal instituição conseguiu um domínio maior no Ocidente, não foi, e não será poupado. Há mais de meio século diversos especialistas vem refutando um a um, todos os mitos ligados à esse período. O historiador americano Thomas Woods, Ph.D pela Columbia University, em seu esplendoroso livro “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental” diz que:

(…) A questão é que, no ambiente cultural da atualidade, é fácil esquecer – ou não tomar conhecimento sequer – tudo aquilo que a nossa civilização deve á Igreja Católica.(…)” (1)

E como deve! Talvez, um exemplo mais grandioso e inconstestável: As universidades. Hoje, utilizadas justamente para criar mentiras absurdas sobre tal instituição. O meu objetivo nesse espaço, a partir de hoje, é mostrar uma idade média como ela realmente foi. Longe do que hollywood, globo, associações de ateus apontam. Tomaremos como companheiros, os mais renomados medievalistas que conhecemos. Prontos? Em 476 d.C cai o grandioso império romano. Vários são os motivos e debates à respeito do tema. Os séculos seguintes à queda, foram marcados por um intenso declínio. Mas, será que foi culpa da Igreja? Vamos ver o que Woods disse:

(…) Quanto aos séculos VI e VII, porém, restam poucas dúvidas de que foram marcados por um retrocesso cultural e intelectual. Teria sido culpa da Igreja? Já há décadas, o historiador Will Durant, um agnóstico, defendeu a Igreja desta acusação, atribuindo a causa do declínio, não à ela – que fez de tudo para impedí-lo, mas as invasões bárbaras do fim da Antiguidade.(…)” (2)

 

Pois bem, quem eram os bárbaros? Eram diversos povos, que, na maioria das vezes não possuíam uma ligação entre si. Os romanos colocaram tal alcunha, à todos àqueles povos que não falavam o idioma do império. O som proferido por tais povos, ao ouvido de um romano, remetia à “ba …ba…ba”.Também, devido à falta de civilidade de tais povos. As séries e filmes de televisão, costumam mostrar esses povos como civilizados, e pacíficos. Nada mais distante da realidade. Hoje, quando queremos explicar algum ato terrível, que foge dos padrões morais, podemos atribuir o termo “barbárie”, e não o fazemos sem motivo. Muitos dos terríveis rituais de tortura, que erroneamente são atribuídos aos inquisidores, vieram, na verdade, destas tribos. Muitas, acreditavam que a morte de seus inimigos, lhes trariam recompensas pós vida. Como foi o caso dos Vikings. Também estava presente na Europa, a heresia dos cristãos arianos. As guerras agora, já não eram mais contra Roma; mas sim entre reinos bárbaros. A selvageria tomou conta do velho mundo. A Igreja, como instituição, ainda continuava, tentando de todas as maneiras, trazer a paz em meio à tanta nebulosidade. Os cristãos católicos ainda não possuíam um reino. Em meio a esse ambiente, a ação de alguns santos, mudou a história da humanidade.

Remígio nasceu na cidade de Laon, possivelmente no ano de 437 d.C. Vindo de uma família nobre, o rapaz desde muito jovem, impressionava a todos por sua grande inteligência e no perfeito uso das palavras. Além de muito instruído e estudioso na ciência, seus biógrafos apontam o seu espírito caridoso :

‘largo em suas esmolas, profundamente humano, assíduo em velar, constante e devoto em rezar, perfeito na caridade, insigne na doutrina, sempre preparado para falar das coisas mais altas e divinas” (3).

Com o seu espírito bondoso, e seu interesse pelo estudo de grandes áreas do conhecimento, o clero e o povo lhe colocaram como arcebispo de Reims, com apenas vinte e dois anos de idade. Em um mundo que a barbárie reinava, Remígio percebeu que era mais fácil a conversão de um pagão, do que um herege. O arcebispo então, começa a se aproximar do povo Franco, que em algumas épocas, constituiu uma relação pacífica com o império romano. Apesar do paganismo, este povo não atentava contra a Igreja Católica. Por anos, Remígio tentou a conversão, sem sucesso, do Rei Childerico. Quando este ultimo morreu, o seu filho Clóvis, de apenas quinze anos, subiu ao poder. Era a chance que Remígio esperava; tratou logo de se aproximar do jovem. Constituiu uma relação de profundo respeito e companheirismo. Porém, o Rei, ainda seguia fiel ao paganismo. Mesmo assim, o arcebispo constantemente fornecia diversos conselhos à Clóvis; instruia-o à governar com firmeza, olhando para seu povo com bondade, colocando a justiça acima de todas as coisas. Porém, no passado, Remígio havia enfrentado um grande obstáculo para conseguir a conversão de Childerico: A sua esposa. Ela, de origem pagã, fora um entrave a todas as tentativas de trazê-lo ao cristianismo. Vendo que esta história poderia se repetir; O arcebispo de Reims em combinação com Avito, Bispo de Vienne, Remígio propôs ao rei franco casar-se com Clotilde, filha do rei dos burgúndios, que era cristã e fora, desde a infância, educada pelo próprio Avito. Clóvis, demonstrando a profunda relação que tinha com Remígio, aceita a indicação e se casa com Clotilde — hoje santa.A história nos mostra, que uma grande força que moveu as conversões de centenas de tribos pagãs, foi justamente as esposas, com a constante tentativa de converter seus maridos. Elas que, em suas sociedades eram colocadas em um plano inferior, viam no catolicismo, e no acordo que representa o matrimônio, a chance de conseguir espaço e obter uma visível melhora na qualidade de vida. E claro, a real devoção à Cristo que elas nutriam.

Clóvis, surpreendentemente, em momento algum impediu sua esposa de professar a sua fé. Realizou até, diversas concessões; como a construção de uma pequena capela para Clotilde. Nela, a Santa rezava todos os dias pela conversão do marido. Autorizou também, o batismo de seus dois filhos. Apesar de que o primeiro, morreu pouco tempo depois de seu nascimento. Porém, mesmo com todos os sacrifícios de Matilde e de Remígio, o rei ainda se mantinha firme às suas tradições e crenças. Clóvis, que nutria o desejo de expandir o seu reino, parte para a batalha contra os Alamanos. Diante de um difícil e sangrento cenário; o rei invoca, sem resultado, os seus deuses. A situação era complicada para o rei dos francos. Em uma atitude desesperada, ele clama pelo Deus de Matilde; disse que se obtivesse ajuda, aceitaria o Deus cristão. Acreditando ou não nessa parte mística, a história nos conta que Clóvis vence a guerra, e aceita; Jesus Cristo como o seu senhor. Clóvis então, é batizado. São Remígio, na sua famosa frase, ordena “Adora o que queimaste. Queimas o que adorastes”. Nasce, o primeiro reino Católico na medievalidade. Os caminhos para a construção de uma civilização ocidental, partem deste episódio.

NOTAS


(1) – WOODS. Thomas. How The Catholic Church Buil Western Civilization. p.5

(2)- WOODS. Thomas. How The Catholic Church Buil Western Civilization. p.12

(3)- Apud Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo IV, p. 8.

BIBLIOGRAFIA


ROPS, Daniel. A Igreja dos Tempos Bárbaros. 

PERNOUD, Régine. Luz sob a Idade Média.

PARA CITAR


GALZERANO, Felipe Z. A CONVERSÃO DE CLÓVIS: UMA LUZ EM MEIO À BARBÁRIE Disponível em: <http://apologistascatolicos.com.br/index.php/idade-media/744-a-conversao-de-clovis-uma-luz-em-meio-a-barbarie> Desde: 26/11/2014

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