Quinta-feira, Novembro 21, 2024

O ‘Moderado’ Cardeal Bea sobre a Inerrância na Dei Verbum 11

Um esquema anterior (o terceiro em sucessão) dizia que os livros sagrados ensinam 'sem erro a verdade'. O esquema seguinte, o quarto, inspirado nas palavras de Santo Agostinho, acrescentou o substantivo 'salvação', de modo que o texto afirmava que as Escrituras ensinavam 'com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas Letras'. Na votação que se seguiu, cento e oitenta e quatro padres conciliares pediram que o substantivo 'salvação' fosse removido, porque temiam que isso pudesse levar a mal-entendidos, como se a inerrância das Escrituras se referisse apenas a questões de fé e moralidade, enquanto ali pode haver erro no tratamento de outras questões. O Santo Padre, em certa medida partilhando desta ansiedade, decidiu pedir à Comissão que considerasse se não seria melhor omitir o substantivo, porque poderia levar a algum mal-entendido.

A inerrância afirmada neste documento cobre também o relato desses eventos históricos? […] De minha parte, penso que esta questão deve ser respondida afirmativamente, isto é, que esses eventos 'antecedentes' também são descritos sem erro. Na verdade, declaramos em geral que não há limite estabelecido para essa inerrância, e que se aplica a tudo o que o escritor inspirado e, portanto, tudo o que o Espírito Santo por meio dele, afirma … Este pensamento, que recorre em várias formas nos documentos recentes do Magistério da Igreja (cf. E.B. 124, 279, 450 e segs., 539 e segs., 559) é aqui claramente entendida em um sentido que exclui a possibilidade de as Escrituras conterem qualquer declaração contrária à realidade dos fatos. Em particular, esses documentos do Magistério exigem que reconheçamos que a Escritura dá um relato verdadeiro dos eventos, naturalmente não no sentido de que sempre oferecem um relato completo e cientificamente estudado, mas no sentido de que o que é afirmado nas Escrituras – mesmo que não oferece um quadro completo – nunca contradiz a realidade do fato. Se, portanto, o Concílio quisesse introduzir aqui uma nova concepção, diferente daquela apresentada nestes documentos recentes da autoridade suprema do ensino, que reflete as crenças dos primeiros padres, ele teria que declarar isso clara e explicitamente. Deixe-nos agora perguntar se pode haver alguma indicação para sugerir tal interpretação restrita de inerrância. A resposta é decididamente negativa. Não há o menor sinal de tal indicação. Pelo contrário, tudo aponta contra uma interpretação restritiva.

 

Tirado de Augustin Cardinal Bea, The Word of God and Mankind [i] (Chicago: Franciscan Herald Press, 1967), pp. 188-190.

 

Fonte online Source: Unam Sanctam Catholicamhttp://unamsanctamcatholicam.blogspot.com/2008/11/happy-43rd-anniversary-to-dei-verbum.html

 


[i] N.T.: Em português – A Palavra de Deus e a Humanidade

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