Sexta-feira, Março 14, 2025

O Marquês de Pombal e a expulsão dos jesuítas do Brasil

Quanto se fala sobre a relação entre Igreja e estado no passado, muitas pessoas acreditam que a Igreja tinha um papel influenciador no estado e que poderia ditar regras aos governantes que esses obedeceriam ou que não fariam nada contra a vontade da Igreja. A verdade, porém, é que apesar da Igreja no passado ter tido uma voz forte, não tinha nenhum poder sobre o estado. A expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759 é um dos fatos que provam isto.

A expulsão dos jesuítas do Brasil foi um dos eventos mais marcantes da história colonial portuguesa, promovido pelo então ministro do rei Dom José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. Esse episódio não foi apenas uma decisão religiosa, mas envolveu profundas questões políticas, econômicas e sociais, refletindo o desejo de Pombal de centralizar o poder e reformular as estruturas coloniais e metropolitanas.

O Papel dos Jesuítas no Brasil

Desde o início da colonização, os jesuítas desempenharam um papel fundamental na sociedade brasileira, especialmente na educação e na proteção de indígenas e negros escravizados. Criaram colégios e missões, conhecidas como “reduções”, onde os nativos eram instruídos na fé católica e aprendiam atividades agrícolas e artesanais.

Ao longo dos séculos XVI e XVII, os jesuítas se tornaram os principais defensores dos povos indígenas contra a escravização promovida por colonos portugueses. Eles frequentemente entravam em conflito com os senhores de engenho e comerciantes de escravos, que viam suas atividades como um obstáculo ao crescimento econômico baseado no trabalho compulsório. Além disso, os padres da Companhia de Jesus foram responsáveis por missões que abrigavam e protegiam negros fugidos da escravidão.

A Tomada do Controle do Tribunal da Inquisição Portuguesa

O Marquês de Pombal não apenas combateu os jesuítas, mas também buscou consolidar sua autoridade sobre a Igreja em Portugal. Para isso, ele tomou o controle do Tribunal da Inquisição portuguesa, enfraquecendo seu poder e direcionando suas atividades de acordo com os interesses do Estado. Diferente de outros tempos, em que a Inquisição perseguia majoritariamente judeus e “hereges”, sob o comando de Pombal, a instituição passou a ser utilizada como um instrumento político contra adversários, incluindo os jesuítas, que foram acusados de conspirar contra a Coroa. Também julgou e condenou outros padres adversários.

Os Interesses de Pombal na Expulsão dos Jesuítas

A expulsão dos jesuítas serviu diretamente aos interesses do Marquês de Pombal, que desejava reformar o sistema colonial, fortalecer a autoridade da Coroa e eliminar qualquer obstáculo ao seu projeto político. Alguns dos principais motivos para essa medida incluem:

  1. Centralização do Poder Real: Os jesuítas tinham grande autonomia e influência política, sendo muitas vezes mais leais ao papa do que ao rei. Pombal, em sua busca por um Estado forte e centralizado, viu essa independência como uma ameaça.

  2. Controle sobre a Economia: Os jesuítas administravam vastas terras e recursos, especialmente nas reduções, o que os tornava concorrentes de grandes proprietários e comerciantes portugueses. Sua expulsão permitiu a redistribuição dessas terras e a exploração da mão de obra indígena sem restrições.

  3. Expansão da Escravidão: Com a ausência dos jesuítas, que protegiam os indígenas, tornou-se mais fácil para os colonos explorarem a mão de obra nativa sem oposição religiosa. Isso favoreceu os interesses econômicos das elites locais.

  4. Aproximação com Outras Potências Europeias: No contexto do Iluminismo, a influência dos jesuítas era vista como retrógrada e obstrutiva ao progresso. A expulsão ajudou Portugal a estreitar laços com outras nações europeias que já haviam tomado medidas semelhantes contra a Companhia de Jesus, como a França e a Espanha.

Consequências da Expulsão

A retirada dos jesuítas do Brasil e de outras colônias portuguesas gerou um vácuo educacional e religioso, pois eles eram os principais responsáveis pelo ensino e pela catequese. O fechamento dos colégios jesuítas impactou diretamente a formação intelectual da elite colonial. Além disso, muitas aldeias indígenas protegidas foram destruídas ou incorporadas às propriedades de colonos.

Pombal, porém, não conseguiu consolidar sua política a longo prazo. Após a morte de Dom José I em 1777, sua influência declinou, e a rainha Dona Maria I revogou muitas de suas medidas, restaurando a Companhia de Jesus em outras partes do mundo (embora apenas em 1814 fossem completamente reabilitados pela Igreja).

Conclusão

A expulsão dos jesuítas do Brasil foi um episódio que marcou a história colonial, refletindo os interesses políticos e econômicos do Marquês de Pombal, que sequer se importou com a opinião ou influência da Igreja. Embora tenha sido apresentada como uma medida para modernizar o Estado, na prática serviu para reforçar o poder da Coroa e dos colonos, às custas da educação e da proteção dos povos indígenas. Assim, a queda dos jesuítas contribuiu para a consolidação do modelo econômico baseado na escravidão e na exploração intensiva dos recursos coloniais, beneficiando as elites portuguesas e locais.

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